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Cabrito orgânico da Caatinga.

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Academic year: 2021

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Texto

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Conjuntura

cio nados, em sistema semi-extensivo, asso-ciando o uso da caatin-ga a pastos tolerantes a seca e a forragens con-servadas sob diversas formas.

Os animais seriam abatidos com idade va-riável entre 210 e 300 dias de idade, em função do nível deintensificação tecnológica utilizado.

Não importaria muito competir com ascriações mais "artificializadas" com relação à idade de abate, pois o produto ge-rado

é

diferente, com

Subsídios

à

implantação e um projeto

de produção por produtores de base familiar

Apesar de o merca-do atual ser francamen-te favorável ao ovino,

é

no caprino que residem as maiores possibilida-des futuras de a região sem i-árida competir com umproduto realmente di-ferenciado, inimitável por outras regiões ou países. Uma dessas alternativas seria representada pelo "cabrito orgânico da caa-tinga", uma forma de pro-duto ecológico estreita-mente vinculado ao am-biente natural da região.

Clóvis Guimarães Filho

A atual caprinocultu-ra extensiva pcaprinocultu-raticada no nosso semi-árido, ao contrário do que muitos pensam, pela sua ação espoliativa sobre a caa-tinga e pelo uso genera-lizado de vermífugos, piolhicidas, mata-bichei-ras e outros alopáticos, está distante de atender às exigências mínimas para certificação orgâni-ca. O atendimento a es-sas exigências poderia ser feito, mais facilmen-te, a partir da criação de genótipos nativos

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sele-maior valor agregado e, muito provavelmente, menores custos de pro-dução.

A carne orgânica as-sim produzida incorpora-ria, como qualidades mercadológicas, o uso nulo de agroquímicos, o rigoroso controle higiêni-co-sanitário na produ-ção, no processamento e na distribuição, com um sabor característico as-sociado ao pasto natural ("sabor caatinga"). A co-mercialização dar-se-ia em cortes especiais (in-cluindo cabrito-mamão) resfriados ou congela-dos, podendo-se ainda incorporar na "marca" do produto, o nome da mi-crorregião, território ou espaço geográfico delimitado pelas ações da associa-ção (exemplo: "cabrito orgânico do Cariri"). Procedimentos de implantação Para as associa-ções, a estratégia mais recomendável seria ini-ciar o processo através de um projeto-piloto de produção e comercializa-ção do cabrito orgânico, envolvendo um número limitado de associados. A certificação como produ-to orgânico seria do tipo grupal, que certifica a or-ganização e a credencia como co-responsável pe-lo monitoramento regular

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da qualidade do produto e pelo atendimento às exigências de certifica-ção. Para isso, a asso-ciação tem que estar for-malmente constituída e possuir um sistema de controle interno.

O projeto-piloto de-ve incluir a formação de uma rede de articulação produtor-processador-distribuidor, incorporan-do - em um modelo de in-tegração de pequena

es-cala - as ações de finan-ciamento, assistência técnica, promoção e co-mercialização do produ-to. As etapas de implan-tação do projeto com-preenderiam especifica-mente:

• Sensibilização/ mobilização dos associa-dos e seleção das unida-des-piloto iniciais;

• Definição da 'enti-dade certificadora e iní-cio de articulações para certificação do produto -articulação com outros parceiros comerciais

(processadores, distri-buidores e clientes dire-tos) e de apoio técnico e financeiro;

• Criação (e capaci-tação) deum Comitê Re-gulador de controle inter-no do processo, aten-dendo à exigência das certificadoras para o mo-delo grupal; • Elaboração do manual de proce-dimentos

téc-f

i

'

nicos (normas ~ a serem aten-didas na cria-ção, processa-mento e comercia-lização); • Capacitação técnica e gerencial dos produtores selecionados em produção orgânica;

• Implanta-ção dos

siste-mas de produ-ção nas uni-dades-piloto através de fi-nanciamento pelas fontes oficiais de crédito (Pronaf principal-mente) e/ou de acordos de cooperação com ou-tros parceiros engajados direta (abatedores, distri-buidores ou consumido-res) ou indiretamente

(MOA, MOS, Projeto

Dom Hélder Câmara,

etc.);

• Monitoramento e avaliação técnica (pelo Comitê Interno), econô-mica e ambiental dos sis-temas de produção im-plantados nas unidades-piloto, visando, de forma

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participativa, proceder os necessários ajustes e correções; • Abate e processa-mento experimental da produção de-cabritos o-riundos das unidades se-lecionadas (abate, fri-gorificação, cortes especiais, formas de acondiciona-mento); • Promoção e comercialização experimental do produto processa-do e certificado (pleno ou em con-versão) com clien-tes previamente ar-ticulados (redes de supermercado, progra-mas governamentais,

restaurantes e casas es-pecializadas) e/ou em pontos de venda direta-mente da associação. . Todo esse processo deve ter o acompanha-mento da entidade certi-ficadora. O Comitê Re-gulador deve monitorar e avaliar periodicamente diversos parâmetros, en-tre eles: o desempenho produtivo dos rebanhos; a capacidade de atendi-mento às normas de cer-tificação orgânica; as qualidades mercadológi -cas dos produtos; a eco-nomicidade do empreen-dimento e a aceitabilida-de do produto pelo con-sumidor. Atendidos satis-fatoriamente esses as-pectos, o empreendi-mento estaria apto então para a fase seguinte, que

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trataria da mudança de escala, na qual seriam incorporados e capacita-dos novos capri noculto-res associados e busca da expansão do seu mer-cado.

Principais aspectos

tecnológicos do

sistema de produção

O

cabrito orgânico da caatinga poderia ser produzido a partir de prá-ticas inspiradas em al-guns trabalhos iniciais da Embrapa Semi-Árido,

Embrapa Caprinos, uni-versidades e na expe-riência de alguns produ-tores. Algumas dessas práticas, descritas sucin-tamente a seguir, neces-sitariam ainda ser adap-tadas à realidade de cada uma das distintas situações agro-ecológi-cas e sócio-econômiagro-ecológi-cas,

sob as quais operam as unidades de base

fami-liar do sem i-árido: Genótipos: matri-zes puras de raças nati-vas ou mestiças (mínimo de 50% do sangue na-tivo), cobertas por r epro-dutores puros de raças nativas, visando a

obten-ção de machos e fêmeas para abate com idade va-riável entre os 21 O e 300 dias de idade. Alternati-vamente, essas matrizes poderiam ser cruzadas com reprodutores de ra-ças ditas especializadas, para abates a menor ida

-de, implicando tal opção,

todavia, em maiores limi-tações de adaptação desses genótipos às "tecnologias orgânicas" e de associar ao produto fi-nal,como qualidade mer

-cadológica, os fatores naturais e culturais do bioma caatinga;

Manejo alimentar do rebanho: base ali-mentar das matrizes no

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pastejo rotacionado na caatinga e em pastos de capim Buffel (ou similar),

complementado no

pe-riodo seco, com algumas

das seguintes

alternati-vas:

*

forragem

conser-vada (feno e/ou silagem

de leucena, gliricídia,

guandu, maniçoba, etc.);

*

pastos diferidos

(caatinga, capins Buffel,

Corrente, etc.);

*

forrageiras para

corte ou apanha

(palma-forrageira, algaroba, me

-lancia-forrageira);

*

palhadas puras,

ou hidrolizadas a pres

-são de vapor ou a cal vir

-gem;

*

concentrados in

-dustriais (farelos de alga

-roba, de babaçu, de

licu-ri e de outros produtos,

desde que produzidos

sem uso de solventes

químicos);

*

grãos e outros

pro-o

Berro -n"75

dutos cultivados organi

-camente (sorgo, milheto,

raspa de mandioca);

*

misturas múltiplas

compostas de minerais

emmescla com algumas

das alternativas acima.

Após uma fase ini

-cial de amamentação

ex-clusiva junto às mães, as

crias passariam a ter

acesso, também, a uma

mistura especial (cocho

privativo) e a alguma f

or-made pastejo, até o

des-mame completo.

Manejo dos pastos naturais e cultivados:

pastos, na medida do

possível, subdivididos

para uso de forma rota

-cionada e devidamente

arborizados (plantio das

árvores em distribuição

uniforme, em bosquetes

ou em faixas). A manipu

-lação da vegetação nat

i-va(enriquecimento, ral

e-amento erebaixamento),

onde recomendada,

pode constituir outro

va-lioso instrumento de

ma-nejo. A adubação dos

pastos cultivados deve

utilizar adubos de baixa

solubilidade, privileg

ian-do-se ainda o apro

veita-mento damatéria orgâni

-ca produzida na proprie

-dade (esterco na forma

de composto e adubação

verde).

Manejo

reproduti-vo: neste aspecto não

haveria qualquer limita-ção com relalimita-ção às prá-ticas normalmente

reco-mendadas nos sistemas

convencionais, mesmo o uso da inseminação

arti-ficial, permitido pelas normas de certificação (apenas a transferência de embriões não é per -mitida);

Manejo sanitário: vacinações contra elos -tridioses e controle de

ecto e endoparasitoses (piolhos e vermínoses controlados pelo uso combinado de

homeopa-tia, fitoterapia, descanso

de pastos e desinfecção

periódica das instal

a-ções. Uma série de pr o-dutos homeopáticos e f i-toterápicos (Nim, alh o-em-pó, babosa, bata ta-de-purga, etc.) já se en-contram disponibilizados

para uso nesses

siste-mas, embora, para

al-guns deles, ainda faltem estudos de maior rigor científico que

(5)

Sistema Tradicional Extensivo Sistema Orgânico Indicadores

1,0 - 1,2 1,3- 1,5 Crias nascidas/ME(1)/ano

0,8 - 1,0 1,2 - 1,4

Crias desmamadas/ME/ano

20 -25 5 - 10 Mortalidade pré-desmame (%) 5-10 1-3 Mortalidade pós-desmame (%) 0,7-0,9 1,1-1,3 Unidades comercializadas/ME/ano 14-17 7-10

Idade aos 28kg Peso vivo (meses)

12 - 20 30 - 38

Peso vivo comercializável/ME/ano (kg) (1)matriz exposta ao reprodutor

o

modelo proposto procura, portanto, con-templar as principais prá-ticas de convivência com a seca e de preservação ambiental recomenda-das pela Embrapa e por outras instituições, para zonas semi-áridas, siste-matizadas no uso prefe-rencial de raças autócto-nes,de pastos cultivados tolerantes

à

seca, de mé-todos racionais de uso da vegetação nativa (pastejo em rotação, lo-tação adequada), de ar-borização dos pastos cultivados, de suplemen-tação alimentar nos

pe-ríodos secos com bancos de proteína/energia, de estabelecimento de re

-vem seus níveis de efi-ciência e de segurança com relação a possíveis efeitos colaterais. Outras medidas recomendadas incluem o uso de quaren-tenário, de pedilúvios, de esterqueira e exames pe-ríódicos de artrite-ence-falite e linfadenite caseo-sa.

Com o uso racional dessas práticas seria possível obter os seguin-tes índices de desempe-nho zootécnico, compa-rativamente aos obser-vados nos sistemas ex-tensivos tradicionais pra-ticados nos sertões bala-no e pernambucabala-no do São Francisco. (Veja quadro)

servas estratégicas ali -mentares para períodos de estiagem prolongada,

de captação de água da chuva "in situ" nas áreas de cultivos forrageiros,

de preservação de áreas de reservas legal e per-manente, de uso maxi -mizado de matéria orgâ

-nica

e

de adubos não sintéticos, de sistemas produtivos diversificados (interação com agri cultu-ra, extrativismo e outros subsistemas da propri e-dade, etc.) e de uso mí-nimo de insumos e xter-nos.

Clóvis Guimarães Filho -é médico-veterinário,

consultor em caprino e ovinocultura

Referências

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