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Perspectivas para a Utilização do Meme na Elaboração de Materiais Didáticos para EaD

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ISSN 2177-8310

DOI: 10.18264/eadf.v10i2.957

Recebido 31/01/2020 Aceito 17/08/2020 Publicado 19/08/2020

COMO CITAR ESTE ARTIGO

ABNT: JORGE, R. G. Perspectivas para a Utilização do Meme na Elaboração de Materiais Didáticos para EaD. EaD em Foco, v. 10, n. 2, e957, 2020. doi: https://doi.org/10.18264/eadf. v10i2.957

Resumo

O desenvolvimento tecnológico e a integração global através da internet transformaram a comunicação, demandando uma reflexão sobre a utiliza-ção da linguagem na elaborautiliza-ção de materiais didáticos. Nesse contexto, o presente trabalho se propôs a discutir os principais aspectos que devem ser considerados na utilização do meme no material didático para EaD. Para alcançar os objetivos, propôs-se a elaboração de mapas cognitivos que re-presentassem possíveis padrões de relações entre os principais aspectos da linguagem textual do gênero “meme”, da comunicação em ambientes digitais e da compreensão do material didático como principal elemento de mediação na educação a distância. Longe de ser uma conclusão definitiva sobre a temática, o presente estudo revelou-se uma reflexão aberta que oferece vários ângulos de observação.

Palavras-chave:Educação a distância. Material didático. Meme.

Rute Grael Jorge

Universidade Cruzeiro do Sul/UNICSUL – Campus Niterói. Av. Ernani do Amaral Peixoto, 55. Niterói – RJ, Brasil. *melgrael@gmail.com

*orcid.org/0000-0002-4840-3824

na Elaboração de Materiais Didáticos para EaD

Perspectives for the Use of Meme in the Development

of Teaching Materials for Distance Education

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Perspectives for the Use of Meme in the Development of

Teaching Materials for Distance Education

Abstract

Technological development and global integration through the internet transformed communication, demanding a reflection on the use of language in the elaboration of teaching materials. In this context, the present work proposed to discuss the main aspects that should be considered when using the meme in the didactic material for distance education. To achieve the objectives, it was proposed to develop cognitive maps that represent possible patterns of relationships between the main aspects of the textual language of the “meme” genre, communication in digital environments and the understanding of didactic material as the main element of mediation in education the distance. Far from being a definitive conclusion on the subject, the present study proved to be an open reflection that offers several angles of observation.

Keywords: Distance education. Teaching materials. Meme.

1.

Introdução

Ao longo das últimas décadas, o desenvolvimento tecnológico e a integração global através da internet transformaram a linguagem e a comunicação. As perspectivas envolvem avanços no desenvolvimento da abordagem digital nos processos de ensino-aprendizagem. As tecnologias digitais têm colaborado para a criação de novas metodologias de ensino, através da exploração de dispositivos para a EAD ativa, como realidade virtual e aumentada, simulações, animações e criações gráficas por computador, jogos didáti-cos que promovem engajamento com o conteúdo, interatividade na solução de problemas e emprego de recursos educacionais abertos, entre outras possibilidades.

Em um tempo marcado por uma convergência de plataformas de mídia onde o conteúdo flui rapida-mente de um meio para outro, os memes se apresentam como um novo gênero textual, mensagens com fundo humorístico que se espalham por meio de sua replicação de forma viral (CASTRO, 2017). Pode também ser compreendido como um produto cultural da internet, percebidos nas narrativas con-temporâneas e apresentados em diversas mídias. Utilizado como forma de comunicação e expressão em relações de comunicação estabelecidas a partir da web, destaca-se sua relevância“(...) como um produto da cultura contemporânea que conecta os conteúdos e saberes de diferentes campos, exigindo múltiplos letramentos dos usuários” (ESCALANTE, 2016).

As mudanças na linguagem impactam os materiais didáticos produzidos, especialmente os elaborados para o ensino a distância. No ambiente educacional, a comunicação depende de maneira ainda mais efe-tiva do conhecimento dos códigos e das estruturas narraefe-tivas e de linguagem. Percebe-se, além disso, a necessidade de se estabelecer estratégias que ampliem a participação e o envolvimento do aluno com o conteúdo e com o próprio processo de aprendizagem, o que demanda uma reflexão sobre a utilização da linguagem como elemento facilitador da interação.

Esta pesquisa dispõe-se a conceituar a linguagem textual do gênero “meme”, tratando de suas princi-pais características e estruturas textuais. Em seguida, busca-se uma maior compreensão dos processos subjetivos da comunicação no contexto da cibercultura e as possibilidades de uso educacional do gê-nero em questão. Por fim, procura-se expandir a compreensão do material didático como ferramenta

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pedagógica que colabora para a mediação do conteúdo, pressupondo um planejamento na escolha de recursos textuais que priorizem o diálogo com o aluno.

A partir destas reflexões, abordamos a utilização desse novo gênero textual nos materiais elaborados para o ensino a distância e as perspectivas que envolvem o planejamento e a escolha do meme. Este es-tudo se propõe, então, a responder ao seguinte problema de pesquisa: Quais os principais aspectos que devem ser considerados na utilização do meme na elaboração do material didático para EaD?

2

. Metodologia

A respeito da metodologia utilizada no estudo em questão, quanto aos seus objetivos, define-se como exploratória, uma vez que investiga a utilização de memes na elaboração do material didático a partir dos novos paradigmas sociais e de comunicação que influenciam a linguagem contemporânea. O levantamen-to bibliográfico foi inicialmente realizado a partir das referências da base de dados do “Museu dos Me-mes”, composta por livros, capítulos de livro, artigos publicados em periódicos ou em anais de congressos científicos, teses, dissertações ou monografias sobre o tema.

Com o intuito de alcançar os objetivos propostos, foi usado o recorte conceitual que estabelece o meme como um novo gênero midiático (SHIFMAN, 2013; CASTRO, 2017; HORTA,2015). Além de estudos que analisam o meme a partir da compreensão de certas condições da cultura contemporânea, a partir de uma perspectiva orientada à comunicação (SILVA, 2016; SOUZA,2019), a pesquisa também explora ar-tigos que reconhecem uma expertise cultural e uma semântica social incutidas na prática do diálogo em novos ambientes simbólicos, que resultam em modificações na construção e compreensão da linguagem (MARCUSCHI, 2003), e a utilização de referências populares no desenvolvimento de materiais didáticos produzidos para o ensino a distância (BANDEIRA, 2003; MASETTO, 2000; ZANETTI, 2015).

Para fins de procedimentos de análise do material bibliográfico, foram elaborados mapas cognitivos para representarem possíveis padrões de relações entre os conceitos (BASTOS, 2000). Neste sentido, este método ajuda a compreender “(...)as representações gráficas de um conjunto de representações discur-sivas elaboradas por um indivíduo, relacionadas a um objeto em um contexto particular de interação” (AUDET et al, 1992, p. 327). Dessa forma, os mapas cognitivos podem revelar vários tipos de en-cadeamento entre conceitos, possibilitando a relação de alguns aspectos que tornem viável, ou que, ao menos, permitam algum entendimento do uso do gênero meme em materiais didáticos produzidos para EaD.

3

. Desenvolvimento

3.1

. Memes: elementos textuais e discursivos

O tempo moderno é marcado por inúmeras inovações, que alteraram, entre muitos outros aspectos, as formas como nos comunicamos. A linguagem contemporânea extrapola os textos verbais e incluem “(...) cores, recursos visuais e até movimentos, onde a imagem tem tido papel de destaque” (AMOEDO e SOARES, 2018). Como resultado, estruturam-se novas organizações textuais, gêneros que se apresentam a partir de modelos de comunicação existentes, mas que se adaptaram às características do meio, “(...) como o e-mail, o post, a mensagem eletrônica, dentre outros, surgiram e passaram a institucionalizar di-versas práticas discursivas no espaço virtual” (SILVA, 2016).

O meme não surgiu com o ciberespaço, nem é exclusivo dele, tendo sido identificado em momentos diferentes da história, por meio de outros meios comunicacionais, unidades de ideias organizadas que

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podem ser facilmente replicadas, como jargões e jingles cotidianamente usados. No ambiente digital, apresentam-se em diversas formas e possuem teor variável, podendo ser formados por palavras, ima-gens, vídeos, hashtags, frases, imagens associadas a uma legenda; e em diferentes contextos, como na publicidade ou nas redes sociais (COSTA e ARAÚJO, 2017). Contudo, verifica-se como característica con-temporânea do gênero a linguagem curta, autoexplicativa, de rápida compreensão, que atende a uma demanda da sociedade ao facilitar o diálogo nos ambientes virtuais de forma criativa e crítica (AMOEDO e SOARES, 2018, p. 150; SOUZA, 2019; PORTO, 2018; CASTRO, 2017).

Shifman (2014), uma das autoras mais proeminentes nos estudos de comunicação e linguagem da internet, escreveu artigos sobre comunicação através de memes em que discute três dimensões culturais que permitem às pessoas interagirem por meio destes. A primeira é o conteúdo, que diz respeito ao mote específico e às ideias transmitidas pelo meme. Também a forma, que identifica a materialização física da mensagem (imagem, texto, vídeo, gif), e, por fim, a postura que os usuários assumem ao compartilhar um texto ou se abster de compartilhar ou, ainda, posicionando-se contrário a ele. A postura é potencial-mente replicável; ao recriar um texto, os usuários podem decidir imitar uma determinada posição que considerem atraente ou usar uma orientação discursiva totalmente diferente (SHIFMAN, 2014). A autora ainda os classifica quanto à intenção comunicativa, podendo ser persuasivos, ao incorporar o discurso do convencimento; de ação popular, que traduzem comportamentos ou situações que se replicam em diferentes cenários; e de discussão pública, que tratam de assuntos sociais e políticos através de piadas situacionistas, e costumam surgir a partir de temas de envolvimento coletivo.

A intenção humorística pode ser percebida como parte essencial da estrutura dos memes, no texto, no contexto ou na imagem, em colocações sutis ou diretas adaptadas a diversas situações, alteradas ou apro-priadas de forma lúdica, com o objetivo de gerar novos significados. Por mais que o conteúdo, a forma e os aspectos textuais do meme sejam variados, podemos dizer que compreendem estruturas que são mar-cadas por características constantes, que “(...) correspondem à organização de informação, referenciação, formulação e “balanceamento” entre explícito e implícito” (PORTO, 2018).Os fatores culturais que permi-tem a identificação de conhecimentos comuns são fundamentais para a compreensão do meme e do seu aspecto satírico; por isso, dependem da interpretação e interação constante entre os interlocutores, para que se perceba a intenção do emissor, já que“(...)os leitores que não estiverem integrados ou afins dessas informações não serão capazes de entender o texto (...)” (CASTRO, 2017).

A utilização de referências que não estão explícitas é especialmente relevante quando consideramos que a intenção do material didático é, justamente, que o leitor consiga compreender o conteúdo em sua totalidade. O uso da linguagem pelo enunciador exige decisões importantes em relação à escolha do meme mais adequado para a situação, além de outras relativas à constituição dos mundos discursivos, à organização da temática, à seleção de mecanismos de textualização e de mecanismos enunciativos. Todas essas decisões exigem um domínio da estrutura da gramática da língua, mas também um conhecimento de mundo do leitor e de aspectos cognitivos relacionados à compreensão do texto.

3.2.

Novos gêneros textuais para uma comunicação digital

A internet ganhou espaço nos últimos tempos como um meio de comunicação amplamente utilizado; seus recursos permitem acesso e transmissão de dados quase que em tempo real, e a integração das pes-soas que, mesmo separadas fisicamente, podem estabelecer contato. Na adaptação a esse novo modo de se comunicar, observa-se a construção de uma linguagem que busca simplificar o diálogo, com uso de ferramentas como figuras, emojis, e abreviações diversas.

A integração entre diferentes mídias e expressões culturais, constrói um novo ambiente simbólico que, embora virtual, afeta diretamente o cotidiano. Os meios digitais reconfiguram a leitura e a própria noção tradicional de texto, seja pela velocidade das informações ou pelo destaque dado aos textos curtos, ou

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ainda pela forma com que os dados são ligados. Neste contexto, a comunicação vai-se adaptando e os gê-neros textuais passam por transformações, a fim de atender às exigências comunicativas mais atuais. Ajus-tam-se às mudanças da vida cultural e social, estruturando-se a partir da coletividade (MARCUSCHI, 2003).

Quando a comunicação é estabelecida através de equipamentos tecnológicos, a linguagem e sua inter-pretação se adequam às especificidades do meio virtual. As mensagens são integradas em um padrão cognitivo comum e tendem a se adequar de acordo com o envolvimento do receptor e o modo como se dá a comunicação. À medida que os usuários atuam mutuamente, influenciam o conteúdo e a forma como as narrativas são apresentadas, num processo de colaboração contínua. Por isso, a compreensão das mensagens que circulam depende também da habilidade do indivíduo de lidar com a constante transfor-mação do conteúdo e com as linguagens próprias dos signos e códigos midiáticos.

O uso de textos humorísticos na internet é um fenômeno cultural observado desde o início do proces-so de interação entre os usuários da rede, constantemente incentivando uma ação ou posicionamento (SILVA, 2016). Presente nos gêneros textuais como cartoon, charge, tiras e piadas, o humor se estabelece a partir da crítica e da reflexão, utilizando-se de ironias e outros recursos expressivos presentes na dinâ-mica da linguagem. Até mesmo o motivo que leva a ações de compartilhar, criar e/ou curtir esses elemen-tos, seguem uma lógica cultural em que a ação virtual representa uma parte da personalidade e senso de humor do indivíduo, e essas significações individuais são divididas pelos usuários (ESCALANTE, 2016).

A intenção humorística é uma das principais características do meme, apresentados através de estra-tégias de linguagem que consistem no emprego de imagem e palavras num sentido não convencional, através de comparação, metáfora, metonímia, sinestesia, antítese, ironia; além de outras figuras de lin-guagem que permitem múltiplas interpretações humorísticas. A interpretação é referenciada pelas ideias comuns partilhadas entre enunciador e o leitor, que buscam “(...) sentidos para o texto, preenchendo lacu-nas, fazendo inferências, enfim, desvendando mecanismos de linguagem” (PORTO, 2018). As referências introduzidas no texto repetem informações amplamente conhecidas e retomam a influência de um texto sobre outro, como ponto de partida, atualizando o sentido de ambos. A referenciação e intertextualidade seriam, portanto, “(...) a base para que se chegue ao efeito de humor, uma vez que é dela que se deve partir para ir da leitura “séria” para a “não-séria” (PORTO, 2018).

Os memes são importantes comunicadores, e sua disposição cômica pode complementar ou adicionar informações pouco óbvias e capturar a atenção do leitor. São usados amplamente na comunicação infor-mal, para conferir maior expressividade a uma mensagem. Contudo, justamente pela forma como esse gênero se estrutura, a interpretação é subjetiva, pois as ligações são sugeridas implicitamente. Ao utilizar um meme como objeto educacional, portanto, deve-se valorizar a dinâmica discursiva e a finalidade da interação, levando em consideração as possibilidades de compreensão da ação e da estrutura textual, preservando a coerência com o contexto, na intenção de facilitar a construção do conhecimento.

3.3.

Materiais Didáticos: elementos de interação e mediação

A diversificação de recursos, mídias e produtos na área da educação motivam a ampliação da “(...) ofer-ta de produtos didático-pedagógico de acordo com eofer-tapas e modelos educativos formal e informal (...)” (BANDEIRA, 2009), atendendo uma demanda de conteúdo segmentada, com públicos-alvo de diferentes perfis, com a intenção de desenvolver produtos customizados. Os materiais didáticos são todos os instru-mentos de suporte que colaborem para materializar o conteúdo e facilitar a aprendizagem, funcionando como um elemento intermediador na aquisição do conhecimento.

Para que o material didático funcione na mediação entre o aluno e o conteúdo, na sua elaboração, de-vem ser reforçados os aspectos relacionados à estrutura do texto, que envolde-vem a coesão e a coerência, classificados como elementos estruturantes. Também são necessários elementos de hipertextualidade,

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com a função de contextualizar termos e fazer referências, enquanto os elementos problematizadores devem estimular a reflexão e contribuir para a autonomia e sociabilidade. A linguagem deve ser adequada ao público e com elementos que reforcem o aprendizado; para tanto, “(...) devem ser utilizados exemplos, metáforas e analogias que viabilizem uma melhor compreensão do tema abordado (...) (PERCÍLIO e OLI-VEIRA, 2018).

Em artigo que propõe uma reflexão sobre a importância do material didático para o êxito de um curso não presencial, Zanetti (2015) reforça a importância de estabelecer uma linguagem que converse com o aluno, criando proximidade e colaborando para a construção coletiva do conhecimento. Por isso, deve-se considerar a dinâmica discursiva com a finalidade da interação, levando em consideração as possibilida-des de compreensão da ação e da estrutura textual e preservando a coerência com o contexto, para facili-tar a construção do conhecimento. O texto escolhido deve, sempre que possível, dirigir-se diretamente ao sujeito da aprendizagem, no intuito de envolvê-lo, fazê-lo pensar-se como interlocutor daquele material (BANDEIRA, 2009:392).

Para promover o envolvimento com o objeto de aprendizagem, Moore (1989), um dos pioneiros nos estudos da educação a distância, destaca a importância de se considerar as interações aluno-professor, aluno-conteúdo e aluno-aluno. A interação entre o aluno e o conteúdo ou sujeito do estudo seria a ca-racterística definidora da educação e condicionante para haver educação, pois é o processo de interagir intelectualmente com o conteúdo que resulta em mudanças na compreensão e permite a internalização do conhecimento. As interações aluno-professor oportunizam a dinâmica de relacionamento e comuni-cação entre os estudantes por meio da formação de comunidades de prática entre os professores. Já as interações do tipo conteúdo-conteúdo correspondem a uma nova modalidade de interação, em que o conteúdo é programado para interagir automaticamente com outras fontes de informação, para estar constantemente atualizado (MOORE, 1989).

No contexto da educação a distância, a comunicação entre aluno e professor é remota e muitas vezes limitada, e grande parte da interação ocorre através dos recursos didáticos disponibilizados. Para que a comunicação seja eficiente, deve ser estabelecido um acordo de cooperação entre emissor e receptor; para tanto, os enunciadores devem adequar o volume e a relevância da informação e garantir que seja bem estruturada, a ponto de evitar equívocos em sua compreensão (GRICE, 1957). A adoção do “princí-pio cooperativo” pressupõe que o locutor “(...) dê a sua contribuição conversacional tal como requerida, na altura em que ocorre, pelo propósito ou direção aceitos da troca verbal na qual você está envolvido” (GRICE, 1957).

Para desenvolver materiais didáticos que comuniquem adequadamente o objeto de aprendizagem, é necessário observar se o conteúdo e componentes visuais, estéticos e de estilo são adequados ao seu uso. Os recursos produzidos para a mediação pedagógica dependem da construção de discursos e nar-rativas visuais, da estruturação da informação e da utilização de elementos semióticos e de expressão e composição visual para a estruturação das dimensões simbólicas da comunicação. (GIORDANI et al, 2009: 6; MARTINS FILHO et al 2011: 5).

4

. Análise dos dados

Os dados foram colhidos através de pesquisa bibliográfica exploratória que reuniu informações sobre alguns aspectos relevantes para a utilização de textos do gênero meme como recurso comunicacional em materiais didáticos elaborados para EaD.

A seguir, o conceito de meme é interpretado a partir de uma tipologia orientada a partir das dimensões do meme:

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Figura 1: Elementos textuais e discursivos do meme Fonte: Elaboração própria, 2020.

Com base na classificação de Shifman (2014), observamos o conjunto de informações relacionadas à estrutura do meme, formadas pelos fatores culturais que reúnem informações que os memes transmi-tem sobre sua própria comunicação, o ambiente comunicativo e o propósito da mensagem. A intenção comunicativa abrange o contexto da produção do texto e suas referências, podendo ter forma, conteúdo e postura variados. Contudo, compartilham a maneira como a mensagem se referencia em outros textos, mesmo que mobilizem modos distintos de exposição.

Podemos perceber o meme como uma manifestação linguística referenciada por outros textos através do humor, elemento relevante em sua composição semântica, aplicando competências retóricas para conseguir um determinado efeito na interpretação do leitor. A linguagem humorística se apresenta atra-vés de recursos expressivos, como sarcasmo, ironia, comparação, entre outros, mas também atraatra-vés da referenciação, retomando um termo, expressão ou imagem por outro termo que o substitua, conforme podemos observar:

Figura 2: Comunicação do meme em ambientes digitais Fonte: Elaboração própria, 2020.

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Na Figura 2, percebemos que, no meio digital, a eficiência da comunicação é verificada pela ação do usuário sobre o meio. A ação comunicativa tem como objetivo o envolvimento e a interação, que ocorrem quando o usuário age no espaço digital em resposta a um estímulo comunicativo recebido. Cabe observar que, nesta análise, qualquer reação do usuário, até negativa, representa uma participação resultante da comunicação.

Nos materiais didáticos, por sua vez, a comunicação do conteúdo depende da utilização de uma lingua-gem objetiva, preocupada com a interpretação do aluno, buscando a interação com o aluno e a unidade do próprio material. O mapa cognitivo, a seguir, busca refletir sobre a relação entre a mediação e a inte-ração no material didático:

Figura 3: Interação e mediação nos materiais didáticos Fonte: Elaboração própria, 2020.

Os recursos didáticos se estruturam em um arranjo que busca, através da escolha de textos de diversos gêneros verbais e não verbais, manter a coesão e a coerência, contextualizar o assunto e trazer outras questões que estimulem à aprendizagem. Os objetivos principais da mediação estabelecida através des-tes materiais são o estímulo para colaboração e a interação do aluno com o conteúdo.

A partir dessas exposições, busca-se refletir sobre os principais aspectos que devem ser considerados quando o propósito é a utilização do meme em materiais didáticos produzidos para o ensino a distância, como a seguir:

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Figura 4: Perspectivas para a utilização do meme em MD Fonte: Elaboração própria, 2020.

O material didático atua como mediador da relação conteúdo-aluno através da interação do arranjo, composto pela integração dos elementos gramaticais, semânticos e discursivos do texto, e o uso ade-quado da linguagem. Na Figura 4, o meme se apresenta com potencial de atuação como recurso de en-cadeamento do conteúdo na recuperação de conceitos previamente explicitados ao longo da exposição do tema ou, ainda, na aproximação com o aluno. Considera-se plausível que, ao recuperarem outras referências externas ao conteúdo, os memes interajam diretamente com o aluno, através do resgate de significados de outros textos citados em outros contextos.

5

. Conclusões

O presente trabalho propôs-se a discutir a utilização de memes em materiais didáticos para o ensino a distância. Longe de ser uma conclusão definitiva sobre a temática, o presente estudo revelou-se uma reflexão aberta que oferece vários ângulos de observação.

Os memes são textos curtos e autoexplicativos que funcionam como facilitadores do diálogo nos am-bientes virtuais de forma criativa e crítica. Embora tenham sido conceituados muito antes da era digital, os recursos exclusivos da internet transformaram sua difusão em uma rotina frequente nas comunicações estabelecidas pela internet. Sua compreensão depende de conhecimentos de signos e significados comu-mente explorados num contexto comunicacional informal.

No ambiente educacional, a comunicação depende de maneira ainda mais efetiva do conhecimento dos códigos e das estruturas narrativas e de linguagem. Nesses espaços virtuais, a linguagem deve-se apresentar natural e acessível, de modo a facilitar e mediar a construção do conhecimento. Os recursos didáticos são justamente as ferramentas pedagógicas que colaboram para a mediação do conteúdo, e seu desenvolvimento pressupõe planejar seus atributos semânticos, de discurso e interpretação, de modo a estabelecer um diálogo com o aluno. Por isso, a escolha do meme deve considerar sua estrutura, os temas a que faz referência e a adequação da forma e do conteúdo, de acordo com o objetivo do material que está sendo desenvolvido.

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Quando pensamos na utilização deste gênero textual em materiais didáticos, devemos sempre consi-derar que sua compreensão depende da percepção da referência a outros textos ou a fragmentos iden-tificáveis das situações descritas. Para tanto, a avaliação do conteudista deve ponderar a impossibilidade de avaliar objetivamente se o meme será compreendido pelo aluno, o que pode demandar uma atenção na busca por memes amplamente reconhecíveis, normalmente transmitidos em situações amigáveis ou, ainda, que interpretem situações corriqueiras.

A elaboração de materiais didáticos para o ensino a distância pressupõe um planejamento que inclua uma linguagem que interaja com o aluno, e nesse sentido, o meme pode funcionar como mecanismo sub-jetivo de aproximação. Uma possibilidade de promover interação, usando-os em recursos educacionais, é incluir na comunicação a existência dos sujeitos, seus relacionamentos e suas culturas, mesmo que eventualmente afastados dos objetivos curriculares mais urgentes ou, ainda, na discussão de temas pú-blicos e de interesse coletivo, observando a possibilidade de que sua linguagem humorística ressignifique a mensagem transmitida, à medida que as informações externas se inter-relacionam e interagem com processos afetivos e de memória do leitor.

A pesquisas futuras poderiam investigar padrões, se o engajamento está relacionado à compreensão do meme ou ligados a aspectos simbólicos de pertencimento e participação social. Observa-se, também, a necessidade de realizar mais estudos que envolvam a aplicação do gênero em materiais didáticos, espe-cialmente nas elaborações de atividades pedagógicas, na discussão de temas atuais e como elemento de letramento digital, além de pesquisas que proponham a produção de textos do tipo meme em atividades desenvolvidas em ambientes virtuais de aprendizagem, ou ainda que colaborem para ampliar os conheci-mentos sobre o uso de gêneros midiáticos como eleconheci-mentos de mediação e interatividade, especialmente aplicados aos recursos didáticos.

Ao tratar sobre a utilização de um gênero típico das formas de comunicação através da internet, como o meme, exploramos um tema que vem sendo fundamentado rapidamente em virtude da con-cretização de grandes avanços na comunicação em ambientes digitais e com previsões de grande de-senvolvimento futuro.

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Imagem

Figura 2: Comunicação do meme em ambientes digitais Fonte: Elaboração própria, 2020.
Figura 3: Interação e mediação nos materiais didáticos Fonte: Elaboração própria, 2020
Figura 4: Perspectivas para a utilização do meme em MD Fonte: Elaboração própria, 2020

Referências

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