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A entoação na narrativa de estórias de pré-escolares: um enfoque funcional

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Academic year: 2021

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U N I V E R S I D A D E FEDERAL DE SANTA C A T A R I N A CENTRO DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

CURSO D E PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS

L I N G Ü Í S T I C A A P L I C A D A AO ENSINO DO PORTUGUÊS ÁREA: P S I C O L I NGÜÍSTICA

A

EmOA Ç Ã O um

MMffiMTWA DK ESTÓBXaS DK PRK-ESCOIARES ;

IM ENFOQUE FtWCIOMM«

J O S É B E N E D I T O D O N A D O N LEAL

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E s t a tese foi j u l g a d a a d eq u a d a p a r a a o b t e n ç ã o do grau de

M E S T R E EM L E T R A S

opçao; L i n g ü í s t i c a A p l i c a d a ao E n s i no do P o r t ug uê s.

A p r o v a d a em sua f orma final pelo P r o g r a m a de P ó s - G r a d u a ç ã o em L e t r a s da U N I V E R S I D A D E F E D E R A L DE S A N T A CATAR I N A . L E O N O R S C L I A R C A BR AL o r i e n t ador GILES L O T H E R ISTRE c o o r d e n a d o r P.G. Lingílística A p r e s e n t a d a a B a n ca E x a m i n a d o ra : L E O N O R S C L I AR CA B R A L o r i e n t a d o r RO'SA K O N D E R UFSC (Í-LÍÁ, E L E O N O R A MíTTTA M A I A P U C - S . P a u l o

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Leonor SCLIÀ R - C A B R A L Prof. O r i e n t a d o r

Giles L other ISTRE Prof. c o - O r i e n t a d o r

Professores colaboradores:

Rosa K ONDER

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este trabalho é d e d i c a d o aos pré-escolares de 1982 da COLONINHA

e da

ESCOLA M ENINO JESUS

sem os quais não seria possível a sua realização.

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A narrativa de estórias a p r e s e n t a aspéctos p a r t i c u l a r e s de entoação, que são produzidos para d a r conta da função e s t é ­ tica da língua. Além dessas particularidades, crê-se na e x i s ­ t ê ncia de um esquema entoativo i n t ernalizado desde cedo no i n ­ divíduo.

Pàra chegar ã c o mprovação dessa hipótese, foi p r e ciso d i s c u t i r sobre a entoação do d i s c u r s o interativo. A conclusão foi a de que ela compor t a - s e dentro das regras das funções c o ­ m u n i c a t i v a e i nformativa da língua, g i rando em torno do dado nóvo e do conhecido, com d i s t r i b u i ç ã o tonal p a r t i c u l a r para c a ­ da uma das situações. O m odelo a p l icado foi o de Brazil (1975,

1978, 1980).

Uma breve t e s t a g e m deste m odelo foi necessária, uma vez que ele ainda não havia sido aplicado à variável l i n g ü í s t i c a de Florianópolis. Após a testagem, o mesmo modelo de d e s c r i ç ã o foi aplicado ã d e s c rição da entoação de narrativa de estórias, e pelo fato de as estórias a p r e s e n t a r e m um fundamento f u n c i o ­ nal diferenciado, algumas alterações, tais como: a m p l iação d a d i s t â n c i a entre as chaves; acréscimo de sinais de dinâmica; eliminação da disti n ç ã o entre procla m a ç ã o e r e f e r ê n c i a , s u b s ­ t i t uída pela configuração da direção do tone sobre a t ô n i c a fi­ nal , sendo os tones ascendentes os m arcadores de e x p e c t a t i v a s , e os descendentes os m a r cados de transição, foram necessárias.

Conclui--se, através do estudo da entoação da n a r r a t i v a de estórias de p r é - e s c o l a r e s , que predomina a função e s t é t i c a nas estórias infantis, além de c o n f irmar a existência de um esauema entoativo de estórias internalizado no indivíduo.

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A B S TRÀCT

The n a r r ative of child tales p r e s e n t s p a r t i c u l a r aspects of intonation, w h i e l are produced to a c count for the esthetic

function of language. We presuppose in existerice of an intonative scheme intern a l i z e d in the brain from the first days of life.

To c o n f i r m this hypothesis, it w a s n e c e s s a r y to e x amine the conduct of intonation of interative discourse. The c o n c l u s i o n was that it observes the rules of the coimuinicative and informative functions of language, centering on the n e w and the k n o w n data. The model of d escription applied is that of Brazil (.1975, 1978, 1980)..

A brief test of the model was n e c e s s a r y since it had not

been p r e v i o u s l y applied to the linguistic v a r i a b l e of Florianópolis, Af t e r this test, the same model was a p p l i e d to d e s c r i b e the

i nfornation of narrative of child tales; since the tales p r esent one d i f f e r e n t i a t e d functional bases, some a l terations in model w e r e necessary: increase of the distance b e tween keys; addition of

dynamics signs; e l imination of the d i s t i n c t i o n b e t w e e n proclaijning and r e f e r r i n g , substituted by the c o n f i g u r a t i o n of the d i r e ction on the final tonic syllable. The rising tones mark expectation, and the falling tones m a r k transition.

It is concluded that, through the study of the intona t i o n of k i n d e r g a r d e n stories, the esthetic f u n ction of the child tales p r e d o m i n a t e s and confirms the existence of an intonative scheme of tales internalized in the individual.

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i n t r o d u ç ã o .... ... ... ... 1

1. P R O P O S T A DO TRABALHO . ... ... . 3

1.1. Preced ê n c i a da Entoação sobre as Demais Estruturas Lingüísticas ... ... 4 1.2. Funções da L i n g u a g e m e Entoação ... 12 1.3. Entoação em Narrativas ... ... ... 18 2. O MODELO DE BRAZIL (1975 , 1978, 1980) ... 22 2.1. Pitch ... ... 22 2.2. Stress ... ... 25 2.3. Grupo Tonal ... ... 2 6 2.4. Tone ... 30 2.5. Chave ... ... 3 6 2.6. Ritmo ... ... 41 2.7. Descrição ... ... 42 2.8. Conclusões ... ... 43 3. M E T O D O L O G I A ... ... 4 6 3.1. L e v antamento do Corpus e Bibli o g r a f i a ... 4 7 3.2. Situação de Pesquisa ... ... 48

3.3. A n álise e Depreensão dos Dados ... 50

4. APLICAÇÃO DO M O D E L O À L ÍNGUA P O R T U G U E S A ... ... 53

4.1. Grupo Tonal ... 53

4.2, 0 Tone .... ... 60

4.3. A Chave .... ... ... . 68

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5. O C O M P O R T A M E N T O D A ENTOAÇÃO N A N A R R A T I V A DE ESTÓRIAS ... 72

SINAIS UTILIZADOS N A D E S C RIÇAO D A E N T OAÇÃO DE NARRAT I V A S 77 5.1. Análise dos Dados ... ... 78

5.1.1. A Entoação na Instalação da Narrativa: Era uma Vez ... ... ... 81

5.1.2. A Entoação d a Coda Narracion,,al 89 5.1.3. 0 Tone no Corpo da, N a r r a t i v a 93 5.1.4. A Chave no Corpo da N a r r a t i v a ... 102

5.1.5. 0 Ritmo da N a r r a t i v a ... 110

5.1.6. A Qualidade de Voz (timbre narracional) .... 112

5.2. Narratividade e Grupo Tonal ... 114

G L O S S Á R I O .... ... ... 117

C O N C L U S Õ E S ... ... ... 120

E S Q U E M A NARRATIVO D A ESTÓRIA; CHAPEUZJ.NHO V E R M E L H O ... 125

B I B L I O G R A F I A . ... ... ... ... 128

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O presente trabalho -parte da p r o p o s t a de se e s t u d a r a e n ­ toação da narrativa de estórias sob uma v i s ã o funcional. Tal proposta faz-se g e r a d o r a de uma especulação c i e n t í f i c a q u e r e ­ presenta a a b e rtura de iim novo caminho d e n t r o da F o n o l o g i a e da Psicolingüística; portanto, sua contribuição é inequívoca.

As evidências iniciais nos levaram a l e v a n t a r a h i p ó t e s e de que existe lom esquema entoativo para a narração d e estórias. A partir dessa hipótese, partimos ã cata de dados que a c o m p r o ­ v a s s e m e ã m o n t a g e m desse esquema.

0 primeiro capítulo busca m o strar a i m p o r t â n c i a d a e n t o a ­ ção d esde sua emergência, que é anterior ã dos segmentos l i n ­ güísticos, e a sua importância em narração de estórias, Para tal intento foram necessárias algumas reflexões a respeito das funções e s t ética e expressiva da língua, conforme as a p r e s e n t a M u k a r o v s k y (in Toledo 1978).

Não poderíamos, por se tratar de apenas uma d i s s e r t a ç ã o de mestrado, pensar na proposição de ura novo m o d e l o de d e s c r i ­

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ção de entoação, portanto lançamos m ã o de modelos já e x i s t e n ­ tes. A nossa escolha teve fundamento no fato de o m o d e l o ter bases funcionais. É ele o m odelo de Brazil (1975, 1978, 1980), da Univer s i d a d e de B irmingham e a p r e s e n t a - s e e s q u e m a t i c a m e n t e exposto no capítulo segundo d e s t e trabalho.

0 capítulo que expõe a m e t o d o l o g i a é b a s tante breve, uma vez que nosso corpus é parte de um c o n junto de dados de uma p esquisa maior*. De q u a l q u e r forma o t e r c e i r o capítulo d á a clara visão dos passos seguidos para a elaboração d e s s e t r a b a ­ lho .

Um m odelo não pode. ser s i m p l e s m e n t e aplicado a diversas línguas; existe a n e cessidade de se t e s t a r sua aplicabilidade. Esse teste é explicado no capítulo quarto, que busca provas da

aplicabilidade do modelo de Brazil na v a r i e d a d e lingüí s t i c a de Florianópolis.

Após essas depreensões e exposições, foi p r o c e d i d a a a n á ­ lise dos dados, a fim de v e r i f i c a r m o s o c o m portamento da e n t o a ­ ção na narrativa de estórias. Proced e m o s a algumas ampliações no m o delo empregado e conseguimos v e r i f i c a r esse c o m p o r t a m e n t o , cujo resultado foi a confirmação da h i p ó t e s e de que h á um e s ­ q u e m a entoativo a ser seguido na n a r r a ç ã o de estórias.

* Projeto Narratividade em Crianças e os Processos de Leitura, INEP/UFSC - 12/82.

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1. P R O P O S T A DO TRABALHO

A entoação tem uma importância capital na c o m u n i c a ç ã o oral. Até bem pouco tempo, porém, poucos eram os estudos lingü í s t i c o s que lhe d e d i c a v a m a m e r e c i d a atenção.

Mas nem só a v a r iação de tones é s i g n i f i c a t i v a na entoa-i ' • ' ção. Outros fatores como a intensidade e o ritmo são a l t a m e n t e significativos para a comunicação, conforme coloca Navarro (1958), ao argumentar que a entoação m o n ó t o n a e u n i forme c a r a c t e r i z a um abatimento o u tristeza; entoação bastante variada, com a l t e r a ­ ção constante d e intensidade e ritmo, d e nota um c a r á t e r vivo e inquieto; as crianças apresentam inflexões amplas e m o t i v a d a s , enquanto os enfermos e melanc ó l i c o s falam com s u a v i d a d e e m o n o ­ tonia. D e s t a forma, v e r i f i c a - s e uma carga s i g n i f i c a t i v a m u i t o mais ampla para a entoação.

Quando se retratam, porém, as funções da linguagem, tem- se claro que o falante m odula o u c o n f e c c i o n a sua frase d e a c o r ­ do com vários fatores, tais como: adequação social ou registro, ou seja, a quem se dirige; escolha do assunto; o n d e está

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falan-do e os gêneros. Uma mesma frase pode t e r m o d u l a ç õ e s diversas conforme a topica l i z a ç ã o que lhe d e s e j a d a r o falante.

D esta forma, o enfoque principal de cada frase v e m m a r c a ­ do pela p r o e m i n ê n c i a das sílabas, que é deslocãvel. Numa m e s m a

frase, se a l t e r a d a a proeminência, o signif i c a d o t a m b é m será alterado.

T em-se com m a i o r evidência cora falantes estrangeiros a noção de m o d u l a ç ã o entoativa da fala, q u a n d o esses, por mais que tentem, não c o n s e g u e m esconder algum traço da sua língua n a t i ­ va; o u m esmo com falantes de outras regiões, que t ê m p r i n c i p a l ­ m e n t e uma configuração entoativa diferente.

Podemos levantar uma hipótese de q u e os falantes de uma língua têm um conjunto de modelos de frases, d e t e r m i n a d o pelo uso da língua. Quando, por alguma eventualidade, alguém, como nos casos expostos acima, não se u t i l i z a de fraseè d e s s e c o n ­ junto, as pessoas notam a u t o m aticamente que não se t r a t a de um falante do grupo.

Talvez a entoação seja algo a d q u i r i d o e fixado no cérebro antes que os segmentos da fala, por isso ela se apresenta com t anta intens i d a d e e com tanta d e t e r m i n a ç ã o no processo da c o m u ­ nicação. Sendo assim, discorreremos sucintamente, apresentando conclusões de psicolingüistas e n e u r o p s i c ó l o g o s , a respeito des­ sa questão.

1,1. . P r e c edência da Entoação sobre as Demais E struturas L i n ­ güísticas

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m uito grande ao m e c a n i s m o auditivo, q u ando se t r a t a de a q u i s i ­ ção da linguagem. A maioria dos estudos, feitos nesse sentido, busca o b t e r respostas de crianças à partir de e n unciações fei­ tas de diversas maneiras. Em se tratando de experimentos, os pesquisadores b u s c a m a t i v a r o m e c a nismo auditivo de um recém- nascido, por e x e m p l o , e várias modali d a d e s de reações são m e n ­ suradas. A p a r t i r doS dados obtidos, m u i t o se pode depreender.

E i s e n b e r g (1964) t e n c ionou obter respostas com e x p e r i m e n ­ tos que b u s c a v a m o b s e r v a r as respostas q u e se o b t ê m a p a r t i r de movimentos motores, movime n t o s visuais e outros. Mais tarde, o mesmo experi m e n t a d o r b u s c o u obter respostas m e d i n d o o ritmo da respiração (1966) e também, em 1967, com a m e d i d a do ritmo do batimento cardíaco. A algumas conclusões E i s e n b e r g pode c h e g a r com esses estudos; a amplitude do sinal tem efeito s i g n i f i c a n - te, conclui o e x p e r i m e n t a d o r depois de suas p r i m eiras o b s e r v a ­

ções, assim como sinais de v o lume abaixo e acima d e 400 Hz p r o ­ d u z e m efeitos inteir a m e n t e diversos. Um dado m u i t o i m p o r t a n t e é o de que sons baixos inibem, enquanto os altos excitam. O b ­ servemos que os sons d a fala encaixam-se na v a r i a ç ã o de fre­ qüência entre 250 a 4.000 H z .

Os padrões usados nos experimentos, embora fossem simples seqüências de t o n s , foram expostos de forma c r e s c e n t e e d e c r e s ­ cente, obedec e n d o o mesmo critério das frases i n t e r r o g a t i v a s e assertivas.

Dois tipos de mecanismos são implicados p a r a a fala, os gerais e os específicos. Os mecanismos específicos são aqueles determinantes para a produção da fala (em nosso caso p a r t i c u ­ lar) , iniciando no córtex cerebral esquerdo e se efetiv a n d o no aparelho fonador, através d a realização do ato enunciativo. Os

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me c a n i s m o s gerais englobam um número m a i o r de elementos, d e s d e o aparelho auditivo, o córtex cerebral p r o c e s s a d o r de sinais e todo o conjunto de órgãos que a u x i l i a m na produção dos sons da la. Os mecanismos gerais t ê m um a m a d u r e c i m e n t o e uma pronti- < :0 anterior ao amadurecimento, principalmente, e prontidão dos específicos. Desta forma, podemos crer que padrões suprasseg- m e ntais podem ser adquiridos antes d a aquisição da fala, talvez operando comò suportes para essa aquisição. O u t r a explicação mais plausível é a de que o p r o c e s s a m e n t o a n a l ítico (dos s e g ­ mentos) requer um a m a d urecimento m a i s t ardio que d global (li­

nha m e l ó d i c a ) .

Outros experimentos (Kagan e Lewis 1965) m o s t r a m q u e uma criança d e seis meses é capaz de i d e n t i f i c a r entre a fala da iriãe e a dé outras pessoas estranhas. Um "olá" produzido pela m ã e leva a criança a sé m o v i m e n t a r com mais ímpeto, enquanto um "olá" produzido por um h o m e m o u m u l h e r estranhos não m o d i f i c a com tanta intensidade o comportamento^ da criança. Para crianças de treze meses foram feitas leituras de períodos com a sua' d e ­ v i d a entoação e de uma forma monotónica. Para as leituras sem

entoação, as respostas obtidas m o s t r a m q u e as reações são menos intensas que as obtidas com as leituras das frases com as m a r ­ cas entoativas. Friedl a n d e r (1967) submetendo crianças de até d o z e meses a enunciados d a m ã e e a enunciados semelhantes, p o ­ rém de pessoas estranhas*, em ambos os casos pronunciados com entoação é sem entoação, n otou q u e as crianças dessa faixa e t á ­ ria p r e f e r e m os enunciados e n t o a t i v a m e n t e m a r c a d o s , além de a p resentarem evidências de que reconh e c e m a fala d a mãe. 0 p e s ­ q u i sador conclui que a criança identi f i c a a _voz da mãe a partir dos padrões prosódicos, conforme m o s t r a M e n y u k (1975).

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Pode ser consid e r a d a uma tarefa muito d i f í c i l p a r a uma criança a de c o m p r e e n d e r dois enunciados que a p r e s e n t a m e s t r u ­ tura idêntica, até m e s m o na entoação. M e n y u k (1975;77) a p r e s e n ­ ta os exemplos* "H e 's w a l k i n g " e "s h e 's t a l k i n g " ; (um c o r r e s ­ pondente em p o r t uguês é apresentado pelos t r a d u t o r e s do t r a b a ­ lho — "ele está vindo" e "ela está r i n d o " ). A r g u m e n t a a p e s ­ qu i s a d o r a que já d u r a n t e o b a l b u c i o , a criança e x e rcita d i f e ­ rentes consoantes, p o r é m o balbucio apresenta, antes das d i f e ­ rentes sílabas, enunciados marcados p r o s o d i c a m e n t e . Talvez para as duas amostragens acima, o infante dê uma única i n t e r p r e t a ç ã o semântica, pois p o s s i v e l m e n t e ele tenha apenas regist r a d o os traços entoativos.

Embora as evidências m o s t r e m que os enunci a d o s vão se tornando mais longos ã m e d i d a que a criança vai a d q u i r i n d o um controle m a i o r sobre seu mecan i s m o respiratório, a c r e d i t a - s e que o primeiro passo p a r a a aquisição da s e g m e n t a l i d a d e seja o d o ­ mínio da m a r c a ç ã o dos enunciados. O b s e r v a - s e ainda, m u i t o cedo,

a marcação dos padrões de acentuação o u ênfase.

Tonkova Y a m p o l ' s k a i a (1959) afirma que os p a drões de e n ­ toação se a p e r f e i ç o a m m uito mais cedo que as p a l avras c o n c e i ­ tuais. A entoação de assertivas já aparece nò segundo mês da criança.

Antes mesmo que qualquer uso de palavras por parte da criança, o b s e r v a - s e que um comportamento lingüístico e m b r i o n á ­ rio aparece como um exercício da s u p r a s s e g m e n t a l i d a d e do d i s ­ curso. Ainda que a criança seja c o nsiderada "preguiçosa", seu choro, seu balbucio a p a recem com partições que p o d e m ser

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deradas como coincidentes às partições dos grupos respiratórios, e mbora encontremos crianças que b u r l a m por completo os padrões respiratórios usuais. 0 fato de a criança, ãs vezes, romper o limite da capacidade respiratória traz a ela p r ó p r i a c o n s e q ü ê n ­ cias não agradáveis, como afogamento seguido de tosse; d e s t a forma a criança, por si, c omeça a impor limites a seu próprio choro, o u ao seu balbucio.

A o b e d i ê n c i a ã limitação dos grupos tonais é mais c a r a c ­ t e r i z a d a no balbucio, visto que as crianças c o n f i g u r a m v e r d a ­ deiros enunciados entoativamente marcados. Esse fato vem, mais uma vez, d a r m o s t r a r de que os traços p rosódicos são p r e c e d e n ­ tes aos segmentais.

M e n y u k (1975:87) ainda cita e x perimentos com enunciados d e uma palavra, os primeiros p r o d u z i d o s pela criança., que m o s ­ t r a m que eles vêm carregados de m a r c a ç ã o entoativa. Uma m e s m a pa l a v r a pode ser uma afirmação, um pedido, uma i n t e r r o g a ç ã o ,uma exclamação, um imperativo etc. Tendo a p a l a v r a p a p á , esta pode ser enunciada como: //p'àg^/ m a r c a n d o uma interrogação; //PA;J»fet7/ q u e m a r c a uma exclamação; //P A P ^ // uma a s c e n d e n t e q u e m a r c a um imperativo; o u / / / d e s c e n d e n t e q u e m a r c a uma a s s e r ç ã o . O b ­ servemos que a criança já trabalha com o conjunto de traços en- toativos, construindo as várias m o d a l i d a d e s enunciativas a t r a ­ vés da união do t o n e , p r o e m i n ê n c i a , ritmo e c h a v e , embora essa última e s c olha não esteja ainda m a r c a d a em nossos exemplos.

Deese (1976:64) apresenta algumas restrições a esse p r o ­ cesso, argumentando que o estágio do balbucio a p resenta-se d i ­ ferentemente nas crianças; pois, em algumas ele é altamente d e ­ senvolvido, enquanto que em outras ele é um estágio repentino. Nas crianças em que o estágio se prolonga, o balbucio adquire

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o acento e os padrões de entoação; parece que "a c r iança está emitindo orações numa linguagem não muito inteligível".

Slobin (1980:105), tentando entender como uma c r iança de três anos de idade e n tende uma pergunta complexa da m ã e —

mãe --- W h e r e did you go w i t h G r a n d p a ? (Aonde v o c ê foi com vovô ?)

criança — ^ goed in a p a r k . (Fomos a um parque) — a r g u ­ m e n t a que a c r iança não precisa compre e n d e r todas as p a l avras d a enunciação, mas, sim, reconhecer a função da p a l a v r a i n t e r ­ rogativa inicial — w h e r e (onde) — e a entoação p r ó p r i a d e uma pergunta. P arece ser d e t e r m i n a n t e o r e c o nhecimento e o d o m í n i o da entoação para o b o m desem p e n h o lingüístico.

Em termos de compreensão do d i s curso a p artir da supras- s e g m e n t a l i d a d e , muito pouco se tem desenvolvido. Q u a n d o se t r a ­ ta de d i s t inção de sons, grandes experimentos são e n c o n t r a d o s , que t entam explicar o funcionamento do m e c a n i s m o p r o c e s s a d o r d a fala. Torna-se uma t a r e f a m u i t o difícil, p r i n c i p a l m e n t e p a r a uma criança, c o mpreender uma frase enunc i a d a sem entoação, fato q u e traz a questão de uma íntima ligação entre os aspectos que

envolvem a enunciação.

Além de e x p erimentos p s i c o l i n g ü í s t i c o s , podemos e n c o n t r a r experimentos n e u rolingüísticos que t e s t a m as ãreas e s p e c i a l i ­ zadas dos hemisférios cerebrais. Destes, muito se tem d e t e r m i ­ nado em termos de localização de cada parte do cérebro r e s p o n ­ sável pelos diversos processamentos do homem, e p r i n c i p a l m e n t e da fala. Ao h emisfério esquerdo é atribuída a capac i d a d e a n a l í ­ tica da língua, e ao hemisfério direito são atribuídas tarefas relacionadas à percepção sintética e global de aspectos não lingüísticos e extra-lihgtiísticos (Slobin, 1980:170). üma vez

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que todas as combinações lingüísticas — sintáticas, semânticas e fonolõgicas — são realizadas pelo h e m i s f é r i o esquerdo, h a ­ vendo comprovação de uma capacidade m u i t o restrita para o d e ­ sempenho dessas tarefas p^lo h e m i s f é r i o direito, resta saber se a m u s i c a l i d a d e d a frase, aspecto e x t r a l i n g ü í s t i c o , t a m b é m é d e s e n v o l v i d a pelo hemisfério esquerdo. S l o b i n , 'mesmo, coloca q u e um tom emocional de uma mensagem, submetido a ouvintes, é m e l h o r processado pelo ouvido esquerdo, evidência de que se dá no hemisfério direito o proces s a m e n t o musical. (Esta h i p ó t e s e t e m sido refutada por recentes estudos experimentais, conforme Peretz e Morais, 1980.

W i t e l s o n (1977:249) t a m b é m s u s t e n t a a posição de que nas crianças as funções da linguagem em geral são p r e c o c e m e n t e d e ­ t erminadas pelo hemisfério esquerdo do cérebro. Por v o l t a de um ano de idade a criança d e s e n v o l v e um d i s c u r s o p r e d o m i n a n t e m e n t e d itado pelo hemisfério esquerdo. Se a especi a l i z a ç ã o d e s s e h e ­ mi s f é r i o não ocorrer, conclui a p e s q u i s a d o r a que o c o r r e aí a l ­ guma distorção. Como consenso de m u i t o s experimentos, W i t e l s o n reconhece a limitação do h emisfério d i r e i t o para a linguagem, pois d e s e m p e n h a um papel espacial, não lingüístico, porém, ele t a m b é m d e s e m p e n h a algum trabalho na m e d i a ç ã o de algumas funções da linguagem. Assim, existe uma p a r t i c i p a ç ã o dos dois h e m i s f é ­ rios no processamento da linguagem, com p r e d o m i n â n c i a do e s ­ querdo sobre o direito.

Temos aqui mostrado, e esta é a finali d a d e d este esboço, que a entoação funciona como um p r é - r e q u i s i t o da fala. A c r i a n ­ ça inicia seu treinamento prosódico com o choro; intensifica esse t r einamento no balbucio e, ao p r o d u z i r enunciados de uma palavra, já diferencia as diversas m o d a l i d a d e s e n u n c i a t i v a s .

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As crian ç a s - s u j e í t o deste trabalho t ê m no m í n i m o q u a t r o anos e, conforme as estórias produzidas, d o m i n a m por c o m p l e t o a prosódia da língua portuguesa. Esse d o mínio pode ser p e r c e b i ­ do na capacidade de a c r iança de quatro anos criar uma entoação emocional dos enunciados das personagens, quando a inda a p r e s e n ­ ta um léxico incompleto e esquemas narrativos incipientes, l i ­ mitados pela idade. M e n y u k (1975:172) coloca q u e e xiste um p r o ­ cesso imitativo m u i t o importante para a aquisição da linguagem, que possibilita ã criança, mesmo no b a l b u c i o , c o n s t r u i r s e ­ qüências idênticas a um enunciado adulto, e depois alguns e n u n ­ ciados que cobrem as funções básicas da comunicação. Não por um processo imitativo, mas por um processo criativo, artístico, a criança de quatro, a seis anos, ao n a rrar (idade das c r i a n ç a s - sujeito deste d e s t e t r a b a l h o ) , busca recriar a i magem d a p e r s o ­ nagem em foco, tal como ela a vê, e elaborar, d e n t r o de seus próprios esquemas narrativos, enunciados que s i m b o l i z e m a p e r ­ sonagem. Torna-se, desta forma, muito importante r e a f i r m a r a questão da s i m bolização da entoação na n a r r a t i v a e não d e uma imitação, visto que as personagens apresentarão a fala de a c o r ­ do com a criação do sujeito narrador.

0 fato de a criança construir, já no balbucio, s eqüências que são parecidas côra enunciados adultos; de ela e l a b o r a r uma conversa entre personagens, entoativãmente bem marcada, mas com restrições lexicais e sintáticas, são evidências de que a e n ­ toação ê d o m i n a d a pela criança antes que esta d o m i n e o utras e s ­ truturas lingüísticas.

A hipótese de que a emergência dos traços p r o s ó d i c o s é anterior aos segmentos é também endossada por Stern e W a s s e r m a n (1980), ao concluírem que os exageros nos contornos de p i t c h ,

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que por n a t ureza a mãe utiliza no b a b y -t a l k * , c o n t r i b u e m para a c ompreensão d a linguagem p o r si, pois facilitam a sua p e r c e p ­ ção .

Nos primeiros meses de vida, o i n fante experi m e n t a d i v e r ­ sas formas de comunicação prosódica, fazendo valer a função c o ­ m u n i c a t i v a dos traços p r o s ó d i c o s ; só mais tarde entra no seu d i s c u r s o a utilização g r a d a t i v a dos segmentos, ainda numa gestalt s peech e, pouco a pouco, a dos e nunciados de dois itens, com a emergência d a sintaxe.

1.2. Funções da Linguagem e Entoação

Ao aplicarmos o modelo d e d e s c r i ç ã o d a entoação de Brazil (1975, 1978, 1980), v erificamos algumas limitações quanto ao seu uso. Se, por um lado, a nova p r o p o s t a d a Univer s i d a d e de B i r m i n g h a m representa um avanço à t e o r i a das funções da l i n g u a ­ gem, apresentando possibilidades de pistas que i n f ormam o dado novo e o referido, por outro lado, faz-se grande m e n t e limitado, pois a linguagem não é consti t u í d a u n i c a m e n t e de informações. A p artir destes fatos, entendemos n e c e s s á r i o p ropor alterações no m o d e l o para d a r conta das estruturas narrativas.

As limitações do m odelo exposto no capítulo segundo do p r e sente trabalho são fundamentadas a p artir de um ' q u e s t i o n a ­ m ento sobre as funções d a l i n g uagem no ato narrativo.

C onforme apresentadas por B ü h l e r (1950)^ três funções fun­ d amentais dão conta do ato comunicativo, e realmente dão, e n ­ q u a n t o ato comunicativo. São elas a e x p r e s s i v a , a r e p r e s e n t a t i

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-va e a a p e l a t i v a .

M a r tinet (1976) a p r e senta cinco funções. Entre elas a c o ­ munica t i v a faz-se a mais importante para a c o municação e a e s - t c h i c a , uma grada ç ã o d a e x p r e s s i v a , fundamenta a i n t e n c i o n a l i - dade na produção de uma enunciação artística. C o n f o r m e se pode .depreender, h ouve uma evolução no modelo de Martinet, p a r t i c u ­

larmente no que i n t e ressa ao escopo desta dissertação: e n q uanto a íunção expressiva se caracteriza por servir ao e x t r a v a s a m e n - to das emoções, na função estética existe i n t e n c i o n a l i d a d e , com o uso da liberdade de determinados recursos estil í s t i c o s que irão confi g u r a r em m a i o r ou menor grau a o b r a de arte. Tal e n ­ foque é aprofu n d a d o por J a k o b s o n e M u k a r o v s k y d e n t r o da t r a d i ­ ção da Escola de Praga.

E ntre outros funcionalistas que p r o p u s e r a m esquemas para d a r conta da c o mplexidade da língua, H a l liday t a m b é m será m e n ­

cionado, pelo fato de ser ele o responsável p e l a função que d á a Brazil a d i c o t o m i a entre o dado novo e o c o n h ecido — a f u n ­ ção i n f o r m a t i v a . Essa função é apres e n t a d a como a p r i n c i p a l no discurso do adulto, pois para a sua emergência, a i n t e r n a l i z a - ção de um conjunto de conceitos lingüísticos se faz necessária.

' A função i n formativa pode suportar a d e s c r i ç ã o da e n t o a ­ ção do d i s c u r s o interativo, conforme se pode o b s e r v a r no c a p í ­ tulo seguinte deste trabalho. A narrativa, as eviden c i a s m o s ­ tram, não t e m como função principal a i n f o r m a t i v a , o u o u t r a das chamadas b á s i c a s , sim, a e s t é t i c a , visto que há i n t e n c i o n a l i d a ­ de no narrador em proporcionar um m o mento de p r a z e r estético.

Para d a r evidências da p r e dominância da função e s t é t i c a sobre a i n f o r m ativa ou comunicativa na narrativa, é preciso lembrar o que M u k a r o v s k y expôs no Círculo L i n g ü í s t i c o de P r a g a

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(in: Toledo, 1978:132-166).

Primei r a m e n t e como um fato semiõtico, a arte faz p a r t e da co n s c i ê n c i a coletiva, e não de uma consci ê n c i a individual; p o r ­ tanto, não i dentifica apenas o e stado d e ânimo d e seu autor ou interpretante. A partir disso, a arte p d d e ser entendida como uma realização associativa da p e r c epção estética.

Dois signos podem ser identi f i c a d o s na o b r a de arte, o autônomo e o c o m u n i c a t i v o . Como signo autônomo, a arte serve de m e d i a d o r a entre os membros de \ama coletividade, a p resentando uma r e a l idade indeterminada, c a r a c t e r i z a d a como a global i d a d e dos c o n h e c i m e n t o s . Assim, a arte é c o m p o s t a de um símbolo s e n ­ sível, criado pelo artista, de um o b j e t o estético signif i c a t i v o e de uma relação com a coisa significada. Como signo c o m u n i c a ­ tivo, uma o b r a poética não funciona s o mente como o b r a de arte, pois ao mesmo tempo fala. Quando se fala, liá a expressão de emoção, estado de ânimo e de um pensamento.

Na narrativa infantil, o b r i g a t o r i a m e n t e c o e x i s t e m os signos semiológicos autônomo e comunicativo. Essa c o existência faz-se p r e sente pelo fato de a n a r r a t i v a a p r e s e n t a r fala. A p e ­ sar da p r e s e n ç a da função comunicativa, não se pode exigir de uma narra t i v a uma autenticidade d o cumental, pois, acima de t u ­ do, ela é um produto artístico; a s s i m sendo, sua função p r i n c i ­ pal é a de ser arte — produto estético.

0 segundo ponto aparece na e s t r u t u r a da estética. Ao e l e ­ m e n t o estético, ou ã estrutura estética, a obra de arte deve o seu equilíbrio, t r ansformando-se conforme a m o d a l i d a d e a r t í s ­ tica. Essa estrutura não faz parte de um indivíduo, sim, de uma sociedade; portanto, a partir disso, em q u a lquer expressão a r ­ tística poderá existir um modelo a ser seguido.

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Conforme enfatizado por Jakobson, as relações entre o emissor e a língua p a r a a produção de um texto a r t í stico se c a ­ racterizam pelo uso de d e terminadas recorrências no nível fono- lógico (padrões rítmicos, aliterações, rimas), m o r f o l ó g i c o (de­ rivações) , sintático e semântico (uso de m e t á f o r a s e m e t o n í - m i a s ) .

Dentro da m e s m a linha de argumentação e d i s c u t i n d o a tese de Mukarovsky, podemos afirmar que dentro dos padrões estéticos aceitos por uma d e t e r m i n a d a comunidade situada e s p a ç o - t e m p o r a l - mente, existe uma m a r g e m q uase infinita de variações que são utilizadas prefer e n c i a l e criativamente pelos seus e l e m entos em particular, o que c a r a c t e r i z a a unicidade de cada narrador.

Neste trabalho, é nosso propósito c a r a c t e r i z a r os padrões gerais da n a r r ativa infantil na população investigada, em o p o ­ sição àqueles empregados em outros gêneros. Não os o c u p a r e m o s das recorrências individuais possíveis d entro do u n i verso d e l i ­ mitado da interação d a narrativa infantil nas v a r i e d a d e s e x a m i ­ nadas e que m a r c a m a unicidade de cada narrador.

A s s i m como na poesia, a narrativa t e m sua e s t r u t u r a e s t é ­ tica p r é - c o n c e b i d a . A existê n c i a d essa e s t r utura pode ser o b ­ servada pelo m o d e l o entoativo particular das n a r r a t i v a s , e a t r a ­ vés da r ecorrência desse modelo em um mesmo narrador, o u em um

conjunto de narradores. Tais particularidades são b a s t a n t e s a ­ lientes em comparação ã entoação da fala normal de uma criança.

Como e s t r utura narrativa conhece-se a t r a d i c i o n a l o r g a n i ­ zação do esquema narrativo a partir de Propp — enunci a d o s n a r ­ rativos que se sucedem uns aos outros no m o m ento da m a n i f e s t a ­ ção linear da n a r r atividade em forma de discurso ( C o u r t é s ,197 9: 13). Essa noção t radicional trata a narrativa a p artir do ponto

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de v i s t a sintático-semântico. Isso se justi f i c a no m o mento era que se sabe que essas estruturas são o b t i d a s a p artir da n a r r a ­ ti v a escrita, não da oral, deixando de considerar, desta forma, a; partic i p a ç ã o de um leitor o u de um narrador.

Do ponto de vista sintático, o conceito estrutural prevê um d e t e r m i n a d o número de esquemas (mais o u m e n o s complexos) que d e v e m ser observados na o r g a n i z a ç ã o da narrativa, d esta forma, o grupo organ i z a d o d e frases pode c a r a c t e r i z a r uma narrativa.

Do ponto de vista semântico, a e s t r utura da n a r r a t i v a pre­ vê uma d e terminada sucessão de fatos , c o n forme a m o d a l i d a d e nar­ rativa. A narrativa pode estar enquad r a d a no e s quema do a p a r e ­ cimento do herói, um vilão; do b e m e do mal,' com a s u p e r i o r i d a ­ de do b e m sobre o mal; o u da p r o p o s t a de uma m o r a l , no caso da

fábula.

A proposta do esquema fonológico, com base no c o m p o r t a ­ m e n t o da entoação, parte do fato de que existe uma t r a n s f o r m a ­ ção lingüística a nível de execução, em se comparando com a fa­ la normal a mesmo nível. Essas m o d i f i c a ç õ e s causam: a não o b ­ s ervância do esquema tonal que prevê o dado novo e o já c o n h e ­ cido, conforme se dá no discurso interativo, para dar conta da função informativa da linguagem; uma a b e r t u r a m a i o r no e s p a ç a ­ m e n t o entre as c h a v e s , próximo ao espaça m e n t o entre elas na fa­ la de um momento de emoção; uma redução na extensão dos grupos tonais e c o n s e q üentemente um c o nsiderável aumento no seu n ú m e ­

ro; uma lentidão rítmica, que p r ovoca o aparecimento de uma d i n âmica particular; o aparecimento em alta escala de m o d u l a ­

ções de timbre ou qualidade de voz, para dar conta da ação dia- lógica contida na narração; além de o utras particularidades.

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evidente e se faz necessário para a sua c o m p l e m e n t a ç ã o e s t é t i ­ ca. 0 seu c a r áter é tão forte e presente na nar,rativa q u e se basta para que uma p e s s o a saiba que se t rata de uma narrativa, mesmo que executado s o mente com uma seqüência de s eguimentos idênticos, como por exemplo:

// L A la la J ^ / / .

0 terceiro aspecto é do paralelo entre a função e s t é t i c a e as outras tidas como fundamentais no ato comunicativo.

0 m odelo de B ühler é p e r f eitamente aplicável ao d i s c u r s o normal. Toda a p r o b l e m á t i c a tem início quando o d i s c u r s o não tem funções m e r a m e n t e comunicativas, sim, estéticas. Da m e s m a forma que na poesia, a função estética t a m b é m tem p r e d o m í n i o so­ bre as outras na narrativa. A questão p a rece m a i s clara q u a n d o se d e n o minam as funções do discurso interativo (as principais) como práticas o u instrumentais e as da n a r r a t i v a como e s t é t i ­ cas .

A inda outras atribuições e videnciam esse nosso p o s i c i o n a ­ mento. Hayak a w a (1963:108) coloca que a p r e o c u p a ç ã o de um e s ­ critor é a de comover o leitor, portanto a função estét i c a d e s ­ ponta como preponderante; o ato comunicativo, p o r sua vez, fica ao encargo do leitor, quando esse tira suas próprias conclusões.

Atribuindo esse mesmo fato ãs narrativas, o b s e r v a - s e que a preocupação m a i o r de um narrador é a de p r o p o r c i o n a r um m o ­ mento de "fantasia", tanto para o o u v i n t e como para si próprio.

Como de q u a l q u e r palavra enunciada, p o de-se tii-ar uma con­ clusão, a n a r r ativa não foge a esse esquema; portanto, cabe ao ouvinte t irar alguma conclusão a partir do texto narrado, s a ­ bendo não ser esse o intuito primeiro do narrador, mas fazendo

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a c o n t e c e r a função c o municativa s u b s i d i a r i a m e n t e .

Mais próximo ao trabalho proposto, Halli d a y (1975) a p r e ­ senta como fundamental a função i n f o r m a t i v a e, a partir dela, Brazil (1975, 1978, 1980) c o n f e c c i o n o u a d e s c rição do c o m p o r t a ­ mento d a entoação do d i s curso interativo.

As implicações da aplicação desse m o d e l o interativo na d e s c r i ç ã o da entoação da n a r r ativa estão no fato de esse c o m ­ portam e n t o narrativo e x t r a p o l a r a capaci d a d e d e s c r i t i v a do m o ­ delo.

1.3. Entoação em Narrativas

Os estudos entoativos até então propostos t e m-se p r e o c u ­ pado em d a r conta da p arte i n t e r a t i v a d a ’ língua. Paralelo a e s ­ se desenv o l v i m e n t o da lingüí s t i c a em d a r conta das situações naturais da língua, a semiótica e a litera t u r a m o s t r a m p r e o c u ­ pações com manifestações lingüísticas, t a m b é m naturais, mas de cunho artístico e em especial de narrativas.

Em língua portuguesa, de m o d o particular, os estudos p r o ­ sódicos representam muito pouco dentro do conjunto de trabalhos executados dentro das ciências lingüísticas. A t e n dendo ã n e c e s ­ sidade de apresentar mais dados p a r a enriqu e c e r a b i b l i o g r a f i a fonológica nacional, a l ingüística de modo geral, é que nos pro­ pusemos a trabalhar com entoação.

Na observação do que h á em termos de entoação em língua portuguesa, entendemos necessário fazer uma nova propo s t a de trabalho, aplicando inicialmente um m o d e l o que busca v i s u a l i z a r

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a entoação dentro de seus ângulos funcionais. P r i m e i r a m e n t e ,p o ­ díamos contar com o m o d e l o descri t i v o de Halliday, o qual foi aplicado em nossa língua p o r Carioni (1978) , porém p r e f e r i ­ mos o modelo de Brazil (1975-) , um m odelo que repres e n t a uma

evolução na t eoria funcional d a linguagem.

Muitos lingüistas encaram a entoação como uma m a n i f e s t a ­ ção evidente, d e c o r r e n t e do momento que envolve a situação de fala e que não m e r e c e q u a l q u e r atenção especial. Esse p o s i c i o ­ namento fica e v idenciado q uando nos tratados, até m e s m o l i n ­ güísticos, p r i n c i p a l m e n t e em língua portuguesa, m uito poucas pá­ ginas lhe d e d i c a m atenção. A evidê n c i a é ainda m a i o r nos t r a ­ balhos que a m e n c i o n a m como \am artifício explicativo, às vezes direcionando o fato de a entoação ter p a r ticipação s i g n i f i c a t i ­ va na língua, porém sem m a i o r e s explicações.

Noutro ângulo, a entoação tem sido estudada com o i n t u i ­ to de se reunir em m a iores dados para o ensino de uma s e g u n d a língua, d e s t a forma ela é v i s t a no seu aspecto formal e não funcional.

Em se tratando de situação p a r t i c u l a r de uso da língua, a narrativa pareceu-nos importante pelo fato de p a r t i c i p a r a t i ­ vamente do processo de d e s e n v o l v i m e n t o da linguagem, seja p o r ­ que a criança (em nosso caso específico) experimenta situações diversas — desde o d e s e n v o l v i m e n t o de um enredo, até a e x p e r i ­ mentação de uma situação de diálogo entre personagens — seja porque m a n i festa despr e o c u p a ç ã o em comunicar e f e t i v a m e n t e uma informação, optando por um momento de prazer. N esse ângulo se conduz a nossa proposta de. trabalho,, como uma forma de f o r n e c e r dados concretos e sólidos de mais uma situação e n t o a t i v a da

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Há de se salientar que nosso estudo, que não somente m e n ­ sura, mas principalmente busca c a r a c t e r i z a r as funções da e n ­ toação, é pioneiro. Desta forma, a e s c o l h a pelo estudo da e n ­ t oação da narrativa se faz assentada na necess i d a d e de se m o s ­ trar, numa visão p s i c o l i n g ü í s t i c a a p a r t i r de dados fonológi- c o s , as evidências funcionais de seu uso nessa situação — na narrativa. BI B L I O G R A F I A BRAZIL, D.C. (1975) D.I. (1) ________ (1978) D.I. (2) ________ (1980) D.I. and L.T. BÜHLER, K. (1950) T.L.

CARIONI, L.M.O. (1978) S.E. and P.I. DEESE, J. (1976) Pl.

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STERN, D.N. and WASSERMAN, G.A. (1980) L.E.I. WITELSON, S.F. (1977) E.H.S.

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2. 0 MODELO DE BRAZIL (1975, 1978, 1980)

Neste capítulo aprese n t a - s e o m o d e l o de d e s c rição d a e n ­ toação do discurso proposto por Brazil (1975, 1978, 1980). Dos muitos trabalhos já publicados, que t e n t a m dar conta da d e s c r i ­

ção d a entoação das línguas, este t e m - u m d e s t a q u e especial, uma vez que busca d e s c r e v ê - l a em termos de discurso, trabal h a n d o sob uma base funcional.

Cabe salientar que não há a b o r d a g e m crítica o u t o m a d a de posição frente ao m odelo aqui explanado. Todos os c o m p l e m e n ­ tos, o u reparações do m odelo quanto ã sua aplicação em língua portuguesa, serão expostos no capítulo quarto.

Os construtos são tomados em separado para que haja m a i o r clareza, sendo dispostos em o r d e m que o b e d e c e a uma seqüê n c i a lógica.

2.1. Pitch*

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que dele d e p e n d e a definição de t o n e .

Antes d e q u a l q u e r c o n t i n u i d a d e , cabe aqui j u s t i f i c a r a perman ê n c i a do termo pitch em língua inglesa, e a não s u b s t i ­ tuição por um d a língua portuguesa. O termo c o r r e s p o n d e n t e em português, d e n t r o d a teoria musical, é n o t a , que p a r e c e u não preencher as exigências da t eoria da entoação.

A entoação se dá nas variações s i g n i f i c a t i v a s dos pitches da voz do falante; assim ela é descrita p e l a l i t e r a t u r a e s p e c i ­ alizada (Brazil, 1980).

No processo da respiração normal o ar p a s s a l i v r e m e n t e pa­ ra os pulmões e dos pulmões é expelido d a m e s m a forma, através da glote. Na produção da fala, e p a r t i c u l a r m e n t e da entoação, a qual estamos operando, as mudanças na voz o c o r r e m com a v i ­ bração das cordas vocais. Essa vibração p r o d u t o r a d a voz é d e ­ te r m i n a d a por fatores tais como: a p r essão d a saída do ar e a tensão, c o n s i s t ê n c i a e volume das cordas vocais.

Qu a l q u e r objeto que v i b r a emite um som determinado. Se a freqüência das vibrações desse objeto (que p o d e ser a c o r d a de um piano) for de 262 H z , produzirá um som que é p e r c e b i d o como ^ nota dó m é d i o , ou pitch C m é d i o . Observe-se, no entanto, a n e cessidade das caixas de ressonância para reforço das f r e q ü ê n ­ cias .

0 p itch define-se, portanto, pela p e r c e p ç ã o d a nota do som emitido pela vibração de um objeto, com freqüências p r i v i ­ legiadas pelas caixas de ressonância. Sua m e d i d a é d e t e r m i n a d a em termos de freqüência, que se altera quando se a l teram os fa­ tores que a determinam., neles incluída a duração. Num piano a cada nota corresponde uma corda: b asta c o l o cá-la em m o v i m e n t o

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para se obter o som (lembre-se sempre a o b r i g a t o r i e d a d e de c a i ­ xa de ressonância) ; já o h o m e m t e m apenas iim conjunto de cordas vocais, cuja tensão e v o l u m e d e p e n d e m basica m e n t e dos múscu l o s t i r e o a r i t e n ó i d e s , i n t e r - a ritenóides e cricoaritenóides e cujos movim e n t o s de fechamento e abertura d e p e n d e r ã o fundam e n t a l m e n t e da pressão subglótica. Disto resultará 'a variação do p i t c h .

"Os falantes têm um contr o l e considerável sobre o c o n j u n ­ to das cordas vocais e assim p o d e m o b t e r pequenos e acurados ajustes do pitch de suas vozes, o q u e é demons t r a d o com m a i o r evidência no canto. No discurso normal o pitch da voz v a r i a den­ tro de um espaço de uma o i t a v a o u uma o i t a v a e m e i a , embora em emoções extremas esse espaço possa a u m e n t a r consideravelmente"

(Brazil, 1980:2). A voz m asculina, p e r c e b i d a como "mais g r o s ­ sa" que a feminina o u d a criança, é resultado de um conjunto de cordas vocais mais alongadas e mais pesadas que o das mulhe r e s e das crianças. Por este fato p r o d u z e m pitches uma o i t a v a a b a i ­ xo que as m u l h e r e s .

As diferenças de p i t c h são de fato significantes? Brazil, num enfoque fonético, aproveitando estudos de Ladefoged (1962) , sugere que um ouvinte pode p e r c e b e r intervalos causados por p e ­ quenas variações de freqüência — como 2 o u 3 H z ; — esta c a p a ­ cidade de percepção permite que um falante p ossa colorir e x ­ pr e ssivamente a sua entoação, fazendo variações em número q u e

foneticamente poderiam v a r i a r de 55 a 70.

"Ladefoged (1962) suggests that a listener can perceive p itch d i fferences caused by variations in frequency as small as 2 or 3 cps and thus in Transcript A there are 6 5 - 7 0 distin g u i s h a b l e gradations of pitch. However, this is to look at pitch p h o n e t i c a l l y ; in phonological descrip- tion one would expect a much smaller number of significantly different p i t c h choices" (Brazil, 1980:2).

(33)

Para uma descrição fonológica, um número m e n o r d e e s c o ­ lhas se faz necessário, visto que a f o n o logia se vale de g e n e ­ ralizações baseadas na utilização dos falan t e s / o u v i n t e s de uma língua. O inglês americano apresenta q u a t r o escolhas s i g n i f i c a ­ tivas de p i t c h — b a i x o , m é d i o , alto e e x t r a - alto — s i m b o l i z a ­ dos por 1, 2, 3 e 4 respectivamente, conhec i d o s como fonemas suprassegmentais (Trager e Smith, 1951), apud Brazil (1980:3).

Brazil, propõe três escolhas s i g n i f icativas, c o nsiderando o pitch relativo de extensão do enunciado. São essas as a p r o ­ v eitadas neste trabalho: alta, m é d i a e baixa.

2.2. S t r e s s *

Para d e t e r m i n a r o que se entende por stress faz-se n e c e s ­ sário apontar também o que ele d e t e r m i n a — a p r o e m i n ê n c i a ,vis- ta como sua evidência primária.

Experimentos para testar a p e r c e p ç ã o do s t r e s s , que i n i ­ cialmente d e r a m importância ã duração e ao l o u d n e s s , t i v e r a m re­ sultados satisfatórios enquanto t e s t a v a m estímulos simples, tais como sílabas longas e intensas ou curtas e menos intensas. Quando o experimento foi complicado, as m a iores evidências do stress foram obtidas nas sílabas altas, do que conclui B o l inger em 1958, citado por Brazil, que a m a i o r e v i d ência p á r a o stress é a p r o e m i n ê n c i a do p i t c h .

Considerando o stress como a impulsão de mais ar dos pulmões, temos a sua definição b a seada no ponto de vista do fa­ lante, embora se tenha maior evidência do stress onde o c o r r e a

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proem i n ê n c i a do p i t c h . Cabe escla r e c e r q u e a m a i o r força na e- m issão de um mesmo pitch — forte ou suave — não implica a l t e ­

rar a sua freqüência, cientes de que a recíproca não é v e r d a ­ deira.

Essa m e s m a impulsão m a i s intensa de ar é p e r c e b i d a pelo ou vinte como um aumento no v o l u m e de voz. Certamente esse fato produz maior vibração nas cordas vocais, possibilitando assim, ouvir esse aumento no l o u d n e s s .

^ No inglês as sílabas s t r e s s e d , d e pitch mais alto, são ge­ ralmente mais longas, enquanto as u n s t r e s s e d o c o r r e m g e r a l m e n t e com a vogal /e/. Desta forma há de se considerar t ambém a d u - ração como relevante para a percepção do s t r e s s , nalgumas l í n ­ guas .

Há um consenso geral entre os estudiosos da entoação do inglês de que existem dois tipos de sílaba, stressed e u n ­ stressed , uma distinção binária, compatível com a t eoria fono- lógica gerativista, embora Chomsky e Halle (1968) apontem cinco localizações de stress nas palavras.

2.3. Grupo T o n a l *

Toda descrição de entoação deve considerar p r i m e i r a m e n t e como relevante os padrões de pitch o u t u n e s . A unidade fonoló- gica para se trabalhar com os tunes é o g rupo tonal o u u n i d a d e t o n a l .

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tones básicos — - a s c e n d e n t e o u d e s c e n d e n t e c o n s i d e r a n ­ d o-se a língua inglesa, conforme a p r e s e n t a d o p o r Brazil.

D e s p r e z a n d o os detalhes fonéticos e c o n s i d e r a n d o u n i c a ­ m ente os padrões fonológicos, o grupo t o n a l , segundo Cristal

(1969) pode ser definido pela seqüência de:

(pré-caput) (caput) N ÚCLEO (cauda)

Sabendo-se que a unidade i n d ispensável é o núcleo, para que haja uma unidade o u grupo tonal, podemos i n iciar defin i n d o os construtos optativos:

CAPUT - trecho do enunciado que parte da p r i m e i r a s í laba a c e n ­ t uada (a sílaba o n s e t ) até a sílaba n u clear (e x c l u s i v e ) ;

P RÉ-CAPUT - compreende todas as sílabas que a n t e c e d e m a p r i m e i ­ ra sílaba acentuada do enunciado;

C AUDA - constitui-se na continuação, o u o comple m e n t o que vem na s e q ü ência do movimento de pitch iniciado no núcleo, e f inal­ mente

NÚCLEO - sílabas na qual o movimento de pitch t e m início. Esta s ílaba é d e n o m i n a d a por Halliday (1967, 1970) como sílaba t ô n i ­ c a .

Especial d e s t a q u e tem o n ú c l e o , uma vez q u e nele aparece o principal m o v i mento de pitch — o tone — que é aprese n t a d o no segmento 2.4.

0 grupo tonal apresenta ainda, em t o d a a sua extensão, um pitch r e l a t i v o , de cuja escolha faz-se d e p e n d e n t e o alinhamen- to de tones de cada caso particular de fala. A d e n o m i n a ç ã o para esse alinhamento, cita Brazil (1975, 1978, 1980), é compatível

(36)

com uitia generalização da escala m u sical — chave — que c o n s i ­ dera três escolhas significativas, as quais são delineadas no segmento 2.5.

Finalmente, a fala v e m m a r c a d a pelo r i t m o , embora h a v e n ­ do marcações dentro do grupo tonal, numa divisão isocrô n i c a em p é s , d eterminada pelos stresses em algumas línguas já d e s c r i ­ tas, entre as quais está o inglês.

Podemos ainda consid e r a r o grupo tonal como u n i dade de t o n e , como o faz Brazil (1980:39-44), q u e coloca uma d i v i s ã o por segmentos:

(segmento proclítico) SEGMENTO T Ô NICO (segmento enclítico)

O segmento procl í t i c o t e rmina com a p r o e m i n é n c i a , início do segmento tônico, q u e vera seguido pelo segmento enclítico.

Para d e finir p r o e m i n é n c i a * .faz-se necessário d i s t i n g u i - l a de acento - atributo que d i s t ingue invari a v e l m e n t e a s ílaba s a ­

liente das não salientes e d i s t i n g u e itens lexicais dos d emais da m e s m a sentença — ao passo que "a p r o e m i n é n c i a é uma p r o ­ p riedade associada a uma p a l a v r a em v i r t u d e de suas funções c o ­ m o um constituinte da unidade de t o n e " (1980:39).

Na formalização, a p r o e m i n é n c i a v e m m a r c a d a com letras m aiúsculas e a tônica, além de m a i ú s c u l a v e m sublinhada.

segmento proclítico he was t h a t 's a it was a segmento tônico GOing to GO V E R Y TALL STO WED segmento enclítico ry nesday

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proeminente (onset) e t e rmina na última sílaba p r o e m i n e n t e (tô­ nica) .

A p r o e m i n ê n c i a , desta forma, reflete o julgamento do fa­ lante de que o assunto, naquele momento e n a q uele contexto, t e ­ rá mais i m p o r t â n c i a e pode se realizar de q uatro formas:

1. Correlato físico do pitch percebido é a freqüência f u n d ^ e n - tal que, em certos casos, pode ser e x a m inada pelo p i t c h - m eter e/ou o s c i l o s c õ p i o . Ocorre numa p r o c l a m a ç ã o monossilá- bica:

//p GO //

2. A adição de elementos enclíticos resulta num prolon g a m e n t o , //p GO home // //p GO home now //

o u uma s u stentação do movimento

//p GO home now //

3. A o c o r r ê n c i a de uitia proeminência sem t o n i c i d a d e

//p GO HOME //

//p GO home //

4. O segmento proclítico tendo sua m a r cação

//p go HOME now //

//p go home NOW //

Na unidade tonal, para estabelecer a seleção da chave, há a necessidade de se notar a freqüência fundamental que sobe p a ­

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ra o turning p o i n t * (virada o u ponto de v i r a d a ) , o qual d e t e r ­ mina a conexão da fala, comparado ao ponto de v i r a d a do grupo tonal, que é anterior e indica a e s c olha da chave. 0 t u r n i n g point localiza-se no icto da sílaba tônica.

p+ r+

2.4. T o n e **

"Qualquer d e s c rição de entoação deve m o s t r a r c o ­ mo o fluxo do discurso, continuamente variável, pode ser analisado em unidades discretas e como

a v a r iação i n f inita do "pitch" relativo e o m o ­ vimento de "pitch" podem ser atribuídos a um pequeno número de categorias significativas con- trastivas" ( B razil, .1980 :13) . 1

0 tone pode ser definido, antes de q u a l q u e r explanação, como o principal m o v i m e n t o de pitch de um grupo t o n a l .

Brazil (1976, 1978, 1980) apresenta cinco tones***: d e s ­ cendente , a s c e n d e n t e -d e s c e n d e n t e , a s c e n d e n t e , d e s c e n d e n t e - ascen- dente e n í v e l . Deles, dois são não m a r c a d o s , o d e s c e n d e n t e e o d e s c e n d e n t e - a scendente / correspondendo r e s p e c t i v a m e n t e a uma proclamação, um dado novo, e lama referência. Essa e s c o l h a se dá pelo fato de serem os dois tones os mais freqüentes nos dados, corporificando a distinção de significação b á s i c a

carre-* V e r glossário.

** Ver glossário.

***Crystal (1959) a p r e s e n t a quatro t o n e s : descendente, a s c e n d e n ­ te, ascend e n t e - d e s c e n d e n t e e d e s c e n d e n t e ascendente; H a l l i d a y

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