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Análise reflexiva sobre Consciência Corporal e Educação Física Escolar

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA - LICENCIATURA

ESTÉFFANE MENDONÇA DANTAS

ANÁLISE REFLEXIVA SOBRE CONSCIÊNCIA CORPORAL E EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

NATAL/RN 2018

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ESTÉFFANE MENDONÇA DANTAS

ANÁLISE REFLEXIVA SOBRE CONSCIÊNCIA CORPORAL E EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Educação Física – Licenciatura da Universidade Federal do Rio do Norte, como requisito para a obtenção do grau de Licenciatura em Educação Física.

Orientador: Prof. Dr. José Pereira de Melo

NATAL/RN 2018

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DEDICATÓRIA

A Deus A meus pais: Romualdo e Joana Darc

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus que com sua infinita misericórdia me concedeu a oportunidade de vivenciar experiências enriquecedoras ao longo de minha jornada, acredito que Ele tem preparado coisas muito maiores e inimagináveis. Sei que esteve comigo em todos os momentos e agradeço pela força e coragem a mim atribuídas durante o processo. “Não fui eu que ordenei a você? Seja forte e corajoso! Não se apavore nem desanime, pois o Senhor, o seu Deus, estará com você por onde você andar" (Josué 1:9).

Aos meus Pais e irmã, que me apoiaram em todos os momentos, em especial, a meu pai que é minha fonte de inspiração e meu maior exemplo. Obrigada por todos os conselhos, broncas, obrigada também por estar sempre ao meu lado, e me amar incondicionalmente. Eu te amo pai, muito obrigada.

A meu orientador, Prof. Dr. José Pereira de Melo e a minha querida Profª Dr. Maria Aparecida Dias, meu muito obrigada, pelos encaminhamentos e ensinamentos dados por vocês, conselhos acadêmicos e pessoais que levarei para o resto de minha vida. Obrigada pela orientação e dedicação, sinto-me lisonjeada em tê-los como orientadores. Obrigada de verdade.

Ao meu namorado e amigos por me ajudarem a esquecer por alguns momentos as preocupações e me darem animo e alegrias. Obrigada por poder contar sempre com vocês.

A todos meus colegas de turma e professores por me proporcionarem uma graduação rica em diversos aspectos. Obrigada pelo apoio e companheirismo de vocês. Foi um prazer dividir meus momentos acadêmicos com cada um de vocês.

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RESUMO

Por muito tempo a Educação Física escolar preocupou-se em moldar, adestrar e construir corpos a partir das práticas corporais, enxergando o corpo, exclusivamente, em seu aspecto biológico e fisiológico. Tal compreensão fazia de nossos alunos meros reprodutores de movimentos dentro de uma metodologia extremamente tecnicista e exclusiva. A consciência corporal foi, por muito tempo, ignorada, fazendo da cultura de movimento algo massificante e sem significado. Entender a relação entre a consciência corporal e a Educação Física é de extrema importância para uma ressignificação da Educação Física escolar. Por esse motivo, realizou-se uma pesquisa de caráter teórico a respeito das orientações teóricas e metodológicas para o trabalho de consciência corporal na Educação Física escolar, presentes no livro Consciência Corporal, utilizado no curso de Educação Física a distância da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Foi proporcionada uma reflexão acerca das práticas alternativas e de sua abordagem, bem como suas possibilidades metodológicas levando em conta os outros conteúdos da Educação Física.

Palavras-chave: Consciência corporal; Educação Física escolar; Práticas

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ABSTRACT

For a long time school physical education was concerned with shaping, training and building bodies from bodily practices, seeing the body exclusively in its biological and physiological aspect. Such an understanding made our pupils mere breeders of movements within an extremely technical and exclusive methodology. Body consciousness has long been ignored, making the culture of movement somewhat massificant and meaningless. Understanding the relationship between body awareness and physical education is of utmost importance for a re-signification of physical school education. For this reason, a theoretical research was carried out regarding the theoretical and methodological orientations for the work of corporal consciousness in the school physical education, present in the book Body Consciousness, used in the Distance Physical Education course of the Federal University of Rio Grande do Norte (UFRN). It provided a reflection about the alternative practices and their approach, as well as their methodological possibilities taking into account the other contents of Physical Education.

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SUMÁRIO

1 - INTRODUÇÃO ... 11 2 - SEÇÃO 1 – REFLEXÃO SOBRE CORPO ... 15 3 - SEÇÃO 2 – REFLEXÃO SOBRE CONSCIÊNCIA CORPORAL ... 18 4 - SEÇÃO 3 – CONSCIÊNCIA CORPORAL E EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR ... 29 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 38 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 40

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1 - INTRODUÇÃO

Ao longo dos últimos dez anos, a Educação Física escolar vem possibilitando inúmeras modificações, tanto em sua estrutura teórico-metodológico quanto curricular. No entanto, quando pensamos em corpo, por exemplo, nota-se ainda a presença de concepção de Educação Física voltada, quase que exclusivamente, para uma ideia de corpo compartimentado, no qual alunos e professores preocupam-se mais em moldá-lo aos ditames do corpo perfeito, do que pautar-se numa perspectiva de educação que possibilite uma compreensão do que seja corpo e os significados nele tatuados pelas experiências vividas.

De certo, ainda nos dias de hoje, esses fatores influenciam e muito no interesse que os alunos despertam por determinadas matérias. No ensino médio, por exemplo, é comum que a Educação Física seja desprezada por alguns alunos, em alguns casos pela maioria, ocasionando faltas, desrespeito e irreverência ao professor e ao conteúdo que está sendo trabalhado. Infelizmente, esta é uma realidade não só das escolas públicas, mas de grande parte das instituições de ensino do país. Por esse motivo, cabe uma reflexão a respeito das razões que levam essa situação a ser tão recorrente.

Destaco que desde meu ingresso na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em especial, no curso de Educação Física, despertei o fascínio pelos estudos do corpo e pelas suas possibilidades expressivas, principalmente movida pelo pressuposto de que a relação corpo/movimento não engloba somente os esportes, mas perpassa pelas mais diversas práticas corporais que constituem os conteúdos da Educação Física na escola, incluindo, também, o trato pedagógico com as práticas denominadas “alternativas”1

.

Nesse sentido, a temática da consciência corporal fez-se presente na minha formação acadêmica e torna-se meu objeto de investigação para a elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), principalmente pela necessidade que tenho em buscar literatura sobre o assunto e ampliar os

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Praticas corporais voltadas para o despertar da consciência corporal trabalhando a relação corpo e mente.

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12 horizontes de conhecimentos, em particular para orientar sua inserção na Educação Física escolar.

Recordo que ao vivenciar algumas experiências pedagógicas em determinadas escolas, ao longo de minha formação, pude perceber que a temática da consciência corporal passa, em linha gerais, despercebida no trabalho de muitos professores, tanto na escola básica quanto na própria Universidade. Esse é um fator tão notável que durante a minha formação acadêmica no curso de Educação Física somente uma única disciplina do curso, constante no rol das disciplinas optativas, denominada de Consciência Corporal, tratou dos componentes teórico-metodológicos sobre a temática em questão, mas, infelizmente, em outras disciplinas, pouco ou nada ouvimos falar em consciência corporal, muito menos em sua relação com o conteúdo abordado na formação e sua consequente transição para o espaço escolar, já que se trata de uma habilitação em Licenciatura.

Se a Educação Física lida diretamente com o corpo em movimento, supõe-se que fatores como este resultam em um déficit na formação e no não acesso dos graduandos a materiais de estudos que possam mostrar os aspectos constituintes da consciência corporal, principalmente para sabermos a origem da temática, seus meios de aplicações e suas possibilidades metodológicos para transversalizá-la nos diversos conteúdos da Educação Física escolar. Vale destacar, neste sentido, que ao pesquisar sobre este tema, pude notar que a maioria dos artigos sobre a consciência corporal estão relacionados a dança, como se somente por meio deste conteúdo seja possível contribuir com a tomada de consciência corporal, principalmente entre os escolares.

Reputo de muita importância para minha formação, a compreensão da relação entre a Consciência Corporal e a Educação Física escolar, pois busco conhecer e entender as correntes de pensamento existentes no âmbito desta temática e, principalmente, ter o esclarecimento necessário para um trabalho de Educação Física que possibilite uma reflexão sobre corpo para além da prática de exercícios que o modelam e não exigem, em muitos momentos, um pensar sobre como o corpo se movimenta. Eis a importância de um resgate da temática consciência corporal na Educação Física: levar discentes e docentes a uma compreensão do seu corpo.

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Pensar o processo de ensino voltado a estes corpos, em sua individualidade, é ainda um grande desafio. No entanto, a metodologia utilizada pelo professor para compreender e guiar esses corpos ao conhecimento pode influenciar e muito nesse processo. Corpos que até então são “doutrinados” pelas instituições de ensino, podem e devem ser capazes de autonomizar a sua aprendizagem. É nessa visão que me dedico a investigar a relação existente entre a Educação Física escolar e a consciência corporal. Nessa ideia, pauto da grande relevância do presente trabalho.

Nesse sentido, percebendo a pluralidade de literatura existente sobre consciência corporal, nas mais diversas linhas de pensamento, optei por centrar as minhas reflexões numa produção da nossa própria universidade e, em especial, de uma docente que fez parte da minha formação. Embora eu tenha cursado a disciplina Consciência Corporal, considero este momento de elaboração do TCC, como minhas primeiras aproximações investigativas sobre o assunto, do qual espero abrir meus horizontes para pesquisa mais complexas e mais elaboradas no futuro.

Assim, o presente trabalho tem como objetivo geral identificar as orientações teórico-metodológicas para o trabalho de consciência corporal na Educação Física escolar, tendo como referência o livro Consciência Corporal, produzido pela Profa. Dra. Terezinha Petrúcia da Nóbrega, para o Curso de Educação Física (Licenciatura), ofertado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, na modalidade da Educação a Distância (EaD).

Como objetivos específicos, temos a finalidade de refletir sobre os aspectos conceituais e metodológicos que orientam o trabalho de consciência corporal na Educação Física, a partir do mencionado livro, bem como apontar encaminhamentos para sua prática pedagógica na atualidade. Diante do exposto, surge o interesse por investigar a temática da consciência corporal a partir da seguinte questão de estudo: Quais as orientações teóricas e metodológicas para o trabalho de consciência corporal na Educação Física escolar contidos no livro Consciência Corporal utilizado no curso de Educação Física a distância na UFRN?

Assim, conhecer e refletir sobre a relação da consciência corporal e Educação Física escolar tem sua relevância pautada, entre tantos fatores, no aperfeiçoamento da própria docência da educação básica. O livro Consciência

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14 Corporal, utilizado na formação de Educação Física a distância da UFRN, aqui analisado, contribui para a formação docente em Educação física, dando-nos indicativos sobre os aspectos teóricos e metodológicos da consciência corporal, os quais são tratados no presente trabalho. É necessário, pois, que haja uma reflexão acerca de como se procede esse encaminhamento docente, buscando compreender tais apontamentos para nortear a formação dos professores de Educação Física, incluindo a temática da consciência corporal, entendendo, assim, quais impressões são absorvidas durante a formação e como isso deve refletir na pratica pedagógica do professor de Educação Física na escola.

No tocante aos aspectos metodológicos o presente estudo evidencia uma abordagem qualitativa, por meio de uma pesquisa teórica. Segundo Cavalini: “A pesquisa teórica, pressupões a discussão e fundamentação da teoria além de dar margem á possíveis contra-argumentos e questionamentos acerca da legitimação das hipóteses” (apud RIBEIRO, 2016). Neste estudo, buscamos analisar as orientações teóricas e metodológicas para abordagem da consciência corporal na Educação Física fundamentada pelo livro Consciência Corporal de Terezinha Petrúcia da Nobrega, além disso, também procuramos refletir sobre como se dão esses apontamentos e quais suas representações para a Educação Física Escolar.

Para tanto, fazemos uma reflexão a cerca do corpo em seus mais diversos aspectos e sua relação com a fenomenologia2, introduzindo uma abordagem conceitual da visão de consciência e das relações corpo e mente que serviram como base para os apontamentos teóricos presentes no livro. Refletimos também a respeito da significação e aplicabilidade do encaminhamento metodológico sugerido por Nobrega, e do reflexo que esse encaminhamento fornece para a prática docente, buscando analisar de forma crítica a relação existente entre a consciência corporal e a Educação Física Escolar.

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A fenomenologia é a ciência que consiste em estudar a essência das coisas e como são percebidas no mundo.

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2 - SEÇÃO 1 – REFLEXÃO SOBRE CORPO

Pensar o corpo como um mecanismo exclusivamente biológico nos faz perceber um universo de limitações às quais este corpo está sujeito, em um sentido mais palpável, podemos citar como exemplo as deficiências físicas. Tal ideia faz-me resgatar o grande pensador francês, René Descartes (1596-1650), para qual o corpo estava dividido em polos opostos, sendo estes, corpo e alma. Que seria a res cogitans (substância pensante) e a res extensa (substância corpórea), conforme explica Nóbrega (2006, p.37),

“[...] a prioridade da res cogitans sobre a res extensa, da alma sobre o corpo na definição da essência do homem, do Ser, é também a prioridade do pensamento, do dado intelectual sobre o dado sensível, na elaboração do conhecimento científico”.

Um indivíduo que não possui uma das pernas, por exemplo, é considerado, partindo desse princípio, uma “máquina” com defeito. Afirmar que esse corpo é exclusivamente mecânico reafirma o pensamento exclusivista de que uma “máquina” defeituosa deve ser descartada. Aplicando isso na discussão sugerida, começamos a perceber um discurso preconceituoso e discriminatório que perdura até os dias de hoje, não apenas na escola com relação aos deficientes, mas por toda uma sociedade. O corpo limitado quando enquadrado em compartimentos de movimento e ação, é então visto como um corpo desprezível e sem valor.

Freitas (1999) afirma que uma organização neurológica das diversas áreas do corpo, de acordo com a importância da inervação somática que elas recebem, pode ser considerada o esquema corporal. O corpo então referenciado no seu sentido fisiológico, biológico e anatômico faz do sujeito um corpo dinâmico e esquematizado. A estipulação de um corpo compartimentado pode ser vista na padronização de movimentos dentro das aulas de Educação Física, no ensino dos Esportes, por exemplo, nota-se uma determinada rigorosidade na execução de técnica e postura corporal, padronizando o movimento de corpos visualmente, fisicamente e biologicamente diferentes, ignorando o sujeito praticante da ação e reforçando uma ideologia de corpo administrado e moldável.

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16 Para Freitas (1999), o homem não deve ser visto como um ser exclusivamente biológico, ele é o resultado de interações entre o biológico e o cultural, ele é “algo” além de toda definição limitante. O corpo não pode ser delimitado e esquematizado exclusivamente em sua materialização. Logo, podemos entender esta afirmação a partir do momento que associamos este corpo a uma esponja, por exemplo, que de acordo com os lugares onde ela é mergulhada, absorve determinados componentes e modifica sua estrutura. O corpo é visto assim, como o resultado de interações sociais, culturais e ambientais onde este está inserido, absorvendo ideologias, pensamento e, consequentemente, posturas físicas e emocionais resultados de um processo apreendido e ressignificado de acordo com suas impressões pessoais.

Para Nóbrega (2009, p.20), “O corpo não é um objeto, formado por partes isoladas ou que se relacionam por mecanismos lineares de causa e efeito. O corpo ocupa o espaço de um modo singular, próprio.” Então, este corpo encontra-se em constante mutação e reafirmação de acordo com as experiências as quais esta constantemente sucedido, em uma constante desconstrução e reestruturação do eu.

Todas as pessoas que se encontram fora de nós são necessárias para a estruturação da imagem de nosso corpo. Ao construirmos nosso corpo, nós o espalhamos novamente pelo mundo e o fundimos com outros, todos estruturam sua imagem corporal em contato com outros (SCHILDER, 1994, p.236).

Os corpos das pessoas ao nosso redor e as vivências resultantes da interpessoalidade, contribuem intensamente para construção de uma imagem corporal própria. Esta está em constante reorganização, não sendo assim estática ou muito menos padronizada. Para Freitas (1999), a imagem corporal está longe de ser algo pronto e definitivo, ela está em constante alteração e permanece estável apenas o suficiente para voltar a modificar-se.

Esta instabilidade deve-se ao fato de diversas influências externas que reconstituem a imagem corporal, os conflitos sociais, emoções, sentimentos, e culturas são fortes aspectos variantes de uma suposta estipulação de imagem corporal. A partir desse entendimento, podemos destacar a necessidade de que o professor esteja ciente e compreenda o contexto e realidade social em que seu aluno está inserido, estando sempre disposto a ouvir e entender as

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situações do cotidiano, buscando estratégias que se aproximem desses fatos e apresentem formas de lidar com os mesmos.

Quando ignoramos essa individualidade social e emocional de nossos alunos, nos voltamos diretamente a um ensino padronizado onde educamos corpos e segmentamos movimentos de acordo com determinada prática corporal. Excluímos então qualquer possibilidade de reafirmação corporal e tornar-se-á visível a imposição de uma educação superficial. “O corpo que aprende, que cria significados, que se desdobra intencionalmente no espaço e no tempo, é um corpo que não pode estar rigidamente fixado nos movimentos necessários a sobrevivência do organismo e da espécie.” (FREITAS,1999, p. 55). Este corpo deve estar suscetível as experiências ofertadas pelas vivências durante a aula, não sendo um mero reprodutor de uma técnica, mas que esta adquira um significado e uma intencionalidade durante sua execução.

Não se pode simplesmente padronizar o movimento e expressividade do corpo, esquecendo-se da individualidade e pessoalidade deles, das experiências, compreensões e das bagagens emocionais e psicológicas que cada um possui particularmente. Se passarmos a entender melhor o “ser” individual de cada corpo, em suas particularidades e seu universo intrínseco, passamos a compreender os interesses que esse corpo possui, resultando numa melhor aplicabilidade dos conteúdos a serem trabalhados.

De acordo Nóbrega (2005), não há tempo reservado especialmente para se aprender e, sendo a existência um ato corporal, os processos educativos acontecem no movimento da própria vida. Esse corpo então deverá assimilar os conteúdos estudados durante as aulas, enxergando sua significação ao longo da vida, nas ações cotidianas e na sua existência. “Em relação ao corpo, o novo surge como a possibilidade de vivencia-lo na sua descontinuidade de sujeito e objeto da existência, no entrelaçamento natureza-cultura, nas experiências de movimento.” (NÓBREGA, 2005, p.31). A partir do momento que ocorre a assimilação do conteúdo com a realidade, o corpo integra o determinado tema ao seu contexto existencial, trazendo uma relevância ao que esta sendo discutido e ressignificando suas concepções e experiências.

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3 - SEÇÃO 2 – REFLEXÃO SOBRE CONSCIÊNCIA CORPORAL

Pensar a complexidade do corpo em desenvolvimento, dentro das aulas de Educação Física, por exemplo, é um tanto quanto desafiador, levando em conta que não se trata literalmente de educar um corpo, ou muito menos moldá-lo, mais sim, de permitir sua expressividade dentro de caminhos metodológicos.

Em geral, aprendemos que o corpo é composto de cabeça, tronco e membros. Mas, o fato é que o corpo é bem mais completo que essa simples divisão anatômica. Ele contém nossa história pessoal e coletiva, abriga nossas emoções, nossos desejos e nossas dores. Entrar em contato com esse universo é um caminho de autoconhecimento que exige coragem e disponibilidade (NÓBREGA, 2015, p.34).

Direcionar os alunos para o caminho do autoconhecimento torna-se, então, uma das principais atribuições do docente, responsável por facilitar e desmistificar o processo de descobrimento. Este deve entender que não se faz possível educar exclusivamente o intelecto ignorando a corporeidade e experiências já vivenciadas pelos indivíduos. Nóbrega (2005) afirma que a aprendizagem não pode ser reduzida em função do aspecto lógico, relegando a planos inferiores a sensibilidade expressa no corpo e na motricidade. Menosprezar essa sensibilidade restringiria o aluno de sua capacidade de formar opinião, de se posicionar frente as mais diversas oportunidades de diálogo e oprimiria sua autonomia na construção de conhecimento.

Na intenção de conduzir o aluno a autognose3, a Educação Física, por meio de algumas práticas, busca evidenciar a consciência corporal em suas aulas. A autora Terezinha Petrúcia da Nóbrega, em seu livro Consciência Corporal, inicia a obra dando orientações teóricas acerca do ensino da Educação Física na perspectiva da consciência corporal baseando-se na atitude fenomenológica4. Ela inicia seu trabalho refletindo a respeito do significado de consciência, questionando se somos conscientes de nossa realidade corpórea e de tudo que se passa ao nosso redor.

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Conhecimento de si próprio.

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É uma atitude de reflexão do fenômeno que se mostra para nós, na relação que estabelecemos com os outros, no mundo.

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O significado do termo consciência ultrapassa o uso comum de estarmos cientes dos próprios estados, percepções, ideias, sentimentos e vontades. O significado também ultrapassa o sentido usual quando se diz que alguém está consciente se não está dormindo, desmaiado ou afastado de suas ações, como ocorre em estado de coma ou transe, por exemplo (NÓBREGA, 2015, p.11).

A autora sugere uma interpretação filosófica do termo consciência e a compreensão de que esta envolve tanto a possibilidade ética-moral de autojulgamento quanto do aspecto teórico da capacidade de se conhecer. Dessa forma, Nóbrega (2015) caracteriza sentir, pensar e agir como atitudes de um mesmo fenômeno, tomando como base para esta atitude fenomenológica a relação existente entre a noção de consciência e os conhecimentos sobre o corpo.

A consciência é então vista com um olhar filosófico de atividade reflexiva. “A elaboração decisiva da noção de consciência é dada pelo filósofo da antiguidade grega Plotino, como sendo um retorno para a interioridade ou uma reflexão sobre si mesmo” (NÓBREGA, 2015, p.13). Em seu primeiro capítulo, a autora anuncia uma construção conceitual do termo consciência e de seus desdobramentos teóricos e práticos. Então, Nóbrega relata as mudanças na perspectiva da compreensão de consciência e da relação existente entre corpo e alma que ocorrerem entre os séculos XIX e XX. Começa seu percurso na relação entre alma e intelecto estabelecida por Platão5. “Para Platão, só ao intelecto é dado conhecer essas ideias, por ser ele também incorpóreo. Por sua vez, o corpo seria um obstáculo à realização do ideal de bem e de verdade a que a alma aspira” (NÓBREGA, 2015, p.13). Em sequencia expõe o pensamento de Aristóteles6, discípulo de Platão, que ameniza o dualismo corpo e alma.

É interessante ressaltar que, em sua teoria do conhecimento, Aristóteles não admitiu as ideias inatas de Platão. Para ele, elas são adquiridas a partir da percepção dos objetos do mundo externo. Sendo assim, tudo o que o espírito conhece passa pelos sentidos do corpo (NÓBREGA, 2015, p.14).

Apesar dessas teorias, a autora relata o fato de que na cultura grega da antiguidade existiam diversas outras formas de compreensão do corpo. “Na

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Platão (428 a.C.-347 a.C.) foi filosofo grego, considerado um dos principais pensadores de sua época.

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Aristóteles (384-322 a.C) foi um importante filósofo grego. Um dos pensadores com maior influência na cultura ocidental.

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20 mitologia, nas artes, nos encontros esportivos, o povo grego cultua o corpo, não havendo, no seu viver cotidiano, a separação entre sensibilidade e racionalidade” (NÓBREGA, 2015, p.14). A autora cita ainda no século XIX o posicionamento de Nietzsche7, crítico do dualismo. Para ele, não se pode escapar do corpo, estando o mesmo presente em todas as ações do indivíduo, negar o corpo seria negar o próprio ser.

Ao valorizar o corpo, Nietzsche não despreza a consciência, visto que esta pertence integralmente ao corpo, porém o devir dos processos corporais não pode ser traduzido em palavras, conceitos, processos racionais simplificadores. Ao corpo atribui-se uma inteligibilidade pautada no domínio sensível (NÓBREGA, 2015, p.17).

Nóbrega traz o pensamento de Merleau-Ponty8, no século XX, de que é por meio do corpo que o sujeito humano situa-se no mundo. Este pensador considera o reconhecimento da complexidade do corpo e do movimento como fundamentais. “Ao interpretar a obra de Merleau-Ponty (1994), temos que o corpo não é objeto, nem ideia, é expressão singular da existência do ser humano que se move” (NÓBREGA, 2015, p.17).

Além dessa abordagem histórica da consciência, a autora destaca outros aspectos, segundo ela, fundamentais para o estudo da consciência: o inconsciente e a ideologia. Para ela, esses aspectos limitam a consciência e ampliam a possibilidade de reflexão a respeito da vida psíquica e social. Nóbrega cita Freud9 para exemplificar melhor os aspectos psíquicos da consciência, quando relata que a vida psíquica é caracterizada com base em três instancias, o ego, o superego e o inconsciente. Quando se refere ao social a autora retoma a ideologia de Marx10, questionando a alienação religiosa e social.

Relacionar a consciência corporal com a atitude fenomenológica é mais um caminho apontado por Nóbrega. Esta julga fundamental entender essa relação para a compreensão do conhecimento do corpo. Ela caracteriza a função da fenomenologia como sendo não a explicação do mundo, mas a

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Friedrich Wilhelm Nietzsche foi um filósofo, filólogo, crítico cultural, poeta e compositor prussiano do século XIX.

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Maurice Merleau-Ponty foi um filósofo fenomenólogo francês.

9

Sigismund Schlomo Freud, mais conhecido como Sigmund Freud, foi um médico neurologista criador da psicanálise.

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compreensão de seu sentido, o seu significado e sua relação com o sujeito. “Para a fenomenologia, a consciência não constitui o mundo, este já está aí, mas ela se dirige ao mundo para apreendê-lo.” (NÓBREGA, 2015, p.22). Assim, para Nóbrega, a fenomenologia é traduzida no corpo e na motricidade. Entender como o corpo esta inserido neste mundo e qual a relação existente entre eles é de certo substancial para uma melhor compreensão da fenomenologia.

O corpo, por sua vez, é a nossa síntese com o mundo. Um exemplo significativo para compreender a síntese do corpo está na relação do corpo com o mundo dos objetos. O uso da bengala, por exemplo, faz com que o mundo dos objetos táteis não comece na epiderme da mão, mas na extremidade da bengala (NÓBREGA, 2015, p.22).

Ao fazermos uma análise fenomenológica da situação dada acima, entendemos que a bengala é integrante, nesta situação do esquema corporal do sujeito e dotada de sentido. A bengala então faz parte da relação que esse sujeito estabelece com o mundo, passando então a se caracterizar como componente daquele sujeito. Entendemos que as partes do corpo se relacionam de forma indivisível, sendo todo um único sujeito. Para Nóbrega (2015) esse corpo não está inserido no espaço como um objeto, ele desenha o espaço conforme sua percepção. O corpo e o movimento representam então um significado existencial. Compreender essa relação é admitir a originalidade do sujeito e de sua capacidade de ser consciente.

(...) o uso que o ser humano faz de seu corpo ultrapassa o nível biológico, o nível dos instintos, ele cria um mundo simbólico, de significações. O ser humano não está aprisionado, como os animais, nos limites de suas condições naturais, ele as amplia, variando os pontos de vista, reconhecendo numa mesmo fenômeno diferentes perspectivas. Dessa forma, realizar um movimento não seria simplesmente utilizar o equipamento anatômico, mas aprender as coisas do mundo de forma original, fornecendo uma resposta adequada à nova situação (NÓBREGA, 2015, p.23).

Ainda em seu capítulo inicial, a autora proporciona uma visão panorâmica e contextualizada da noção de consciência em uma ótica de orientação teórica para abordagem da consciência corporal nas aulas de Educação Física. Nóbrega reflete acerca dos valores que permeiam a concepção de corpo, e como essa busca pela conscientização é, de certa

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22 forma, desafiadora para os professores de Educação Física, que devem então promover as discussões a respeito de um corpo que antes era visto como objeto e que agora o entendemos como sujeito do movimento.

Na obra aqui analisada, a atitude fenomenológica e as noções de corporeidade e de motricidade são identificadas como as bases fundamentais para as dimensões metodológicas das práticas corporais na perspectiva da consciência corporal. Dessa forma, Nóbrega direciona algumas técnicas para o resgate da sensibilidade, sendo elas: a antiginástica; a eutonia; o método Feldenkrais; a bioenergética; o Método Dança-Educação Física e outras, inclusive as técnicas orientais (Yoga, Do-In, Tai Chi Chuan).

A antiginástica, por exemplo, tem sido trabalhada dentro das aulas de Educação Física com esta finalidade.

Um dos exercícios consiste em massagear a planta dos pés com as mãos ou utilizando bolinhas de tênis. Essas micromassagens podem aliviar dores, tensões por meio do relaxamento. De acordo com a medicina chinesa, esses pontos correspondem aos meridianos por meio dos quais a energia vital circula. Ao massagear os pés, produzimos uma circulação da energia vital, como ocorre com a acupuntura, por exemplo. A parte interna do pé corresponde à coluna vertebral. Seguindo o sentido céfalo-caudal (da cabeça aos pés), passamos pela região cervical, torácica, lombar e cóccix, produzindo alívio de tensões advindas de nossa postura bípede (NÓBREGA, 2015, p.35).

Sabe-se que para toda prática a ser realizada precisamos preparar nosso corpo para vivencia-la, por esse motivo Nóbrega (2015) relata sobre os chamados exercícios preliminares, que preparam o corpo para a experiência da antiginástica. Ela os caracteriza como sendo o caminho para a conquista da consciência corporal. A autora cita um preliminar bastante eficaz que se da pela massagem a região lombar. O indivíduo deve se posicionar em decúbito dorsal com joelhos flexionados, e por meio da utilização de uma bolinha de tênis eleva-se o quadril e retorna pressionando a bolinha na lombar. Ao retirar a bolinha o indivíduo deve estender as duas pernas percebendo a diferença da região que foi massageada para a que não foi. “Liberar essa musculatura amplia a um só tempo nossa elasticidade, a sensação de bem-estar e a percepção geral do nosso corpo e de nós mesmos” (NÓBREGA, 2015, p.37).

Nesse contexto, fazemos uso de diversas ferramentas para propiciar ao aluno uma vivência agradável e despertar sua curiosidade quanto a temática.

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Estimular o aluno a querer se conhecer e compreender sua essência é de extrema importância pra que este se entregue a prática e a atribua significado, facilitando assim o processo de aprendizagem.

A Eutonia é outra prática que proporciona o autoconhecimento do indivíduo. Esta é utilizada na Educação Física escolar nas aulas de consciência corporal com fins pedagógicos, porém também praticada com fins terapêuticos. Segundo Nóbrega (2015), os exercícios de Eutonia proporcionam ao aluno perceber o seu corpo de forma ampla, criativa, expressiva, trabalhando-se as sensações do movimento, a respiração, o tônus muscular e sua flexibilidade, a expressão corporal e rítmica. Fazendo-o entender o conglomerado de sentidos, sensações e sentimentos que o englobam.

A eutonia aprofunda nosso estado de presença corporal por meio da ênfase nas sensações e na sensibilidade. O trabalho de contato com objetos como bolas de tênis, bambus, balões de encher e o trabalho de contato corporal com os colegas estimula a cooperação e a afetividade (NÓBREGA, 2015, p.51).

Por meio da Eutonia o aluno pode ampliar seus conhecimentos sobre o corpo, explorando sua complexidade e possibilitando sua expressividade. A Eutonia atua sobre o corpo de forma integral, tanto no externo quanto no interno. De acordo com Nóbrega (2015), o movimento eutônico considera a intencionalidade de nossa motricidade, ou seja, as sensações, os sentidos e significados que nosso corpo em movimento desperta e mobiliza. Não se trata de um movimento mecânico, mas intencional. Estando então atribuindo importância para um desenvolvimento integral do sujeito.

Nóbrega (2015) também discorre sobre o método Feldenkrais, que tem por principal aspecto a autoimagem, segundo ela, a autoimagem é composta por quatro elementos que estão envolvidos em toda a ação, movimento, sensação, sentimento e pensamento. Esta autoimagem esta em constante mudança, se altera de ação para ação e se modifica ao longo da vida do indivíduo.

(...) O nosso movimento é composto por sensações, memórias que configuram a imagem corporal. Essa imagem desempenha um papel fundamental no conhecimento do nosso corpo e de seu movimento. A superfície externa do corpo, a pele, os orifícios, os músculos colaboram com essa imagem do corpo (NÓBREGA, 2015, p.67).

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24 É de extrema importância que o aluno possua essa percepção das diversas partes de seu corpo para que este construa sua imagem corporal, no entanto, esta sofrerá influência do contexto em que o sujeito está inserido e de suas relações interpessoais ao longo de sua vida. Quando o indivíduo realiza um movimento e incorpora as sensações que este o proporciona, ele está automaticamente contribuindo para a construção de uma determinada autoimagem, a resposta sensitiva ao ato motor fará com que este corporifique o movimento realizado, seja este um ato expressivo ou involuntário.

Perceber as sensações provenientes dos movimentos traz um gradual avanço em nossa capacidade de movimentação, dando maior precisão, graça, economia de esforço e fluência. Esse aspecto contribui para a melhora de nossa postura, de nossa respiração, um uso adequado de nossa força muscular e maiores possibilidades articulares. Além do mais, a fluência do movimento contribui para nossas expressões emocionais e sociais (NÓBREGA, 2015, p.68).

Utilizar o método Feldenkrais favorece e enriquece o processo de ensino-aprendizagem, de forma que o aluno passa a entender melhor suas necessidades físicas e psicológicas. “Na educação física, nos esportes e nas práticas corporais o Método Feldenkrais pode favorecer o refinamento das ações físicas” (NÓBREGA, 2015, p.69). Este refinamento contribuiria para uma melhor compreensão de que estas ações físicas estão totalmente relacionadas aos sentimentos, sensações e pensamentos.

Outra metodologia que pode ser usada pelo docente a fim de trabalhar com seus alunos o despertamento da consciência corporal é a Bioenergética e a Biodança.

Bioenergética e biodança são técnicas de trabalho diferentes, mas que apresentam a mesma conexão com o corpo e com o movimento. São usadas em contextos terapêuticos e clínicos, mas podem ser adaptadas para a educação física, mudando-se o enfoque e os objetivos a serem alcançados (NÓBREGA, 2015, p.99).

De acordo com a autora, a Bioenergética busca integrar corpo e espírito, razão e emoção, e está fundada na ideia de que o nosso corpo utiliza uma determinada energia para realizar todas as atividades. Quando entendemos que nossas ações corporais são expressões de quem somos, passamos a atribuir o sentido de que a Bioenergética seria capaz de associar equilíbrio

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emocional e físico na expressão corporal realizada por qualquer indivíduo, levando então nossos alunos a adquirirem a habilidade de entrar em contato com o seu eu.

No caso da educação física, podemos perceber o estado do corpo e da vitalidade de um aluno observando seus gestos, suas tensões musculares, suas atitudes em sala de aula. Podemos ainda propiciar exercícios de alongamento, de relaxamento, de expressão corporal que nos ajudem a nos conectar com o corpo, a respiração, os movimentos (NÓBREGA, 2015, p.102).

O professor deve perceber a importância da Bioenergética como ferramenta extremamente útil no desenvolvimento da consciência corporal dos alunos. No entanto, este também deve possuir a sensibilidade de compreender a utilização da Bioenergética de forma pedagógica por meio de uma didática atraente aos alunos, e não como forma terapêutica. Com relação a Biodança, o docente pode utilizá-la como meio de extrair a expressividade dos alunos, através da associação entre o corpo, a musica e o movimento, visto que a música atinge nossa memória, esta é capaz de despertar sentimentos e emoções muitas vezes até reprimidos pelos alunos.

Nóbrega explana também a respeito das práticas corporais orientais de consciência corporal, exemplificando através da prática do Tai Chi Chuan. “O Tai Chi Chuan é um estilo interno de arte marcial, ou seja, enfatiza o uso da energia em lugar da força física. Nessa arte, a força de defesa e ataque origina-se no corpo relaxado e que não se contraí antes do confronto” (NÓBREGA, 2015, p.122). A característica Zen11 do Tai Chi é apontada como importante aspecto na busca do relaxamento, autoconhecimento e consciência corporal. Nesta prática, o relaxamento é necessário para que se possa manter a respiração natural, o que possibilitará o movimento do Chi.

O tai chi chuan requer no praticante o “estado do vazio”. Trata-se de um estado de pura consciência (percepção). É o que permite que tudo se manifeste. Também chamado de kun, o vazio corresponde ao equilíbrio, significa a existência. Percebemos tudo, sem nos apegarmos a coisa alguma. Não existe conceito ou valor que nos prenda, estamos transparentes, libertos (NÓBREGA, 2015, p.122).

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Zen é um nome japonês da tradição Chan que surgiu na China e junta as suas origens ao Budismo. A pratica do Zen é um tipo de meditação contemplativa que visa levar aquele que pratica a uma experiência direta da realidade.

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Outro método sugerido pela autora é o Método Dança-Educação Física, também conhecido pela sigla MDEF. Este é uma espécie de articulação das práticas corporais já mencionadas. O foco desse método é a relação existente entre a dança e a Educação Física numa perspectiva educacional. “[...] o MDEF se apresenta como um método de educação, manutenção e profilaxia ao enfatizar a sutileza do corpo e de seus gestos, buscando-se a consciência corporal na compreensão do corpo e na experimentação de várias técnicas” (NÓBREGA, 2015, p.137). O método busca a compreensão da comunicação existente entre as diversas partes do corpo e sua relação com os sentidos e significados que promovem o despertar da consciência corporal.

Essas e outras práticas consideradas alternativas norteiam a atuação dos professores de Educação Física em se tratando de consciência corporal. No entanto, cabe a nós docentes um olhar mais amplo a consciência corporal, não restringindo a atuação apenas as práticas chamadas alternativas. Compreendendo que a Consciência corporal está presente em todas as ações do indivíduo, poderíamos então buscar metodologias que a evidenciassem em práticas como as lutas, os esportes e os outros diversos conteúdos da Educação Física escolar. Desse modo, Nóbrega (2015) defende que a consciência corporal é uma condição básica para aprendizagem das técnicas corporais tanto da dança quanto dos esportes, por exemplo. Delimitar as práticas de consciência corporal é impedir o nosso aluno de enxergar essa consciência para além delas.

A corporeidade expressa a nossa condição corporal, nossa relação com o mundo por meio dos nossos gestos, da nossa forma de andar, de se movimentar, das nossas atitudes, do nosso tom de voz, das nossas posturas corporais, das formas de se alimentar, de vestir e de despir, das formas de se enfeitar, de sorrir e de chorar, das formas de trabalhar e das formas de descansar, das formas de amar e de demonstrar afeto. Precisamos pensar sobre o modo como os professores de educação física lidam com as informações sobre o corpo que aparecem na mídia, na publicidade, nos noticiários, nas revistas e nos espaços destinados a cultuar o corpo na sociedade contemporânea, como as academias de ginásticas, os clubes, as praias, entre outros lugares nos quais há uma exposição do corpo e das habilidades corporais (NÓBREGA, 2015, p.176).

A consciência corporal não deve, então, ser abordada com nossos alunos apenas em um determinado aspecto. Não podemos falar em

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consciência corporal ignorando as diversas visões e impressões de corpo que eles possuem, visões essas que são impostas pela mídia e pela sociedade todos os dias, os influenciando a cada vez mais modificarem sua essência em busca de se encaixar em padrões algumas vezes inalcançáveis que são impostos de forma cruel e seletiva.

Por esse motivo, Nóbrega discorre ainda sobre corpo, sexualidade e afetividade na formação do ser humano, uma temática de certo fundamental para nossa formação como professores de Educação Física que lidamos com a corporeidade.

Nas classes populares, dados os muitos conflitos no espaço urbano, tais como a coabitação, proximidade, contaminação, epidemias, prostituição, doenças venéreas, a higiene exerceu um controle rigoroso dos corpos. Urgências econômicas advindas do processo de industrialização e a necessidade de mão de obra estável e competente também contribuíram para o controle da população. Esses aspectos históricos e sociais nos ajudam a compreender como o nosso corpo é atravessado por questões sociais e culturais das mais diversas naturezas, tais como as médicas, religiosas e econômicas (NÓBREGA, 2015, p.153).

O corpo tem sido de certa forma reprimido não apenas na escola, mas em muitas instituições que se preocupam em moldar, controlar e até corrigir os corpos de homens e mulheres. Por esse motivo, as questões de gênero e sexualidade devem ser discutidas e problematizadas por nós professores. Nóbrega aborda a sensibilização corporal como estratégia para lidar com tal fato.

Nesse campo das pedagogias culturais, cabe problematizar os padrões de gênero, beleza relacionados ao corpo e a seus afetos. No contexto da consciência corporal, sugerimos algumas estratégias para lidar com essas questões como técnicas de sensibilização corporal (NÓBREGA, 2015, p.160).

A autora destaca ainda a importância do conhecimento sobre o corpo na cultura de movimento12 e nas aulas de Educação Física. Esta faz uma racionalizada crítica ao esportivismo e a objetivação do corpo ainda presente na Educação Física atual, defendendo assim uma abordagem de novos métodos e técnicas corporais. Nesse viés, Nóbrega (2015) destaca a

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A cultura de movimento é um conhecimento que permite a compreensão do mundo por meio do corpo em movimento no ambiente, cultura e história.

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28 necessidade de refletir também a cerca das questões sociais, éticas e culturais que permeiam o corpo, como a ideologia de corpo perfeito, os padrões impostos, a sexualidade entre outros.

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4 - SEÇÃO 3 – CONSCIÊNCIA CORPORAL E EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

O filósofo Descartes defendia uma determinada “razão” puramente advinda do intelecto, ignorando a representatividade do sensível, do corpóreo. Esse pensamento ainda é comum quando percebemos a organização disciplinar da maioria das escolas, onde é presente uma subdivisão e compartimentação dos conteúdos e disciplinas que menosprezam o corpo e supervalorizam o racional. A Educação Física escolar fica a margem de disciplinas como Língua Portuguesa e Matemática, por exemplo. Como se fosse possível dividir o corpo e os conhecimentos em partes separadas.

Por muito tempo, a Educação Física escolar preocupou-se em exprimir características higienistas13 e calistênicas14, o que resultou em um processo massificante e exclusivo para a comunidade escolar, desenvolvendo metodologias como o tecnicismo15, presente até a atualidade na didática de alguns professores. Ao longo dos anos, o corpo era visto como algo exclusivamente biológico e controlado por quem “o possuía”, o que gerou uma divisão em compartimentos dele. Faz-se necessário que a comunidade escolar como um todo compreenda o quanto esse dualismo é ultrapassado e passe a transformar esse pensamento tanto de alunos como também da própria organização pedagógica de conteúdos feita pelos próprios docentes.

A necessidade de entendimento do aluno de que ele não possui, mas que ele é um corpo, e como esse corpo reproduz ou gera movimentos e responde a estímulos externos e internos, deve ser uma preocupação pertinente a todas as aulas de Educação Física, independente do conteúdo. É necessária a viabilização de uma Educação Física escolar que enxergue o indivíduo como um todo e não o divida em compartimentos, fazendo com que o aluno se sinta e se entenda, possibilitando-o autoconhecimento e autonomia.

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Na Educação Física Higienista, a ênfase em relação a questão da saúde esta em primeiro plano.

14

É a prática de um conjunto de exercícios físicos onde procura-se movimentar grupos musculares, concentrando-se na potência e no esforço.

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É uma linha de ensino, adotada por volta de 1970, que privilegiava excessivamente a tecnologia educacional e transformava professores e alunos em meros executores e receptores de projetos elaborados de forma autoritária e sem qualquer vínculo com o contexto social a que se destinavam.

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30 A Educação Física ainda sofre com o preconceito gerado pelo dualismo, quando separamos corpo e mente, automaticamente subjugamos um ao outro, como se por mais que tenham alguma relação, estes estejam de certa forma classificados quanto a sua significância. Sendo assim, a disciplina de Educação Física é vista como a matéria que trabalha exclusivamente o corpo, e como a mente é vista de forma “superior” ao corpo, a disciplina é erroneamente considerada inferior as outras.

O professor de Educação Física a princípio deve compreender que não se trata de educar exclusivamente um corpo em suas possibilidades de movimento, mas transformar e conscientizar os alunos a perceberem seus corpos e autonomizar seus movimentos, entendendo o significado e relevância de suas ações. A consciência corporal deve ser encarada pelo docente como um fator preponderante na aprendizagem dos conteúdos da Educação Física escolar.

Quando pensamos a formação do sujeito, pensamos neste como um todo. O crescimento maturacional de uma criança, por exemplo, não se dá por partes separadas, o sujeito não se desenvolve primeiro intelectualmente para desenvolver fisicamente ou estruturalmente, o fisiológico está totalmente relacionado ao sensível. À medida que a criança vai se desenvolvendo, vai aprendendo o necessário à sobrevivência, o engatinhar, o falar, o raciocinar e compreender as informações são experiências corporais que o indivíduo absorve e ressignifica em seu contexto pessoal, priorizando as informações que possuam utilidade de acordo com a sua subjetividade.

Quando pedimos para uma criança não por o dedo em uma tomada, por exemplo, e esta acaba o fazendo, o resultado da sua ação trará um aprendizado para a mesma. São experiência/vivências que aprendemos corporalmente, na perspectiva de que somos um corpo que se movimenta que aprende, e que pensa.

Enxergar a Educação Física como componente curricular fundamental para o desenvolvimento integral do sujeito, visto que ela permite, diferente de outras disciplinas, uma ampliação dos conhecimentos sobre o corpo e possibilita uma maior expressividade do mesmo entendendo sua essência, é de fundamental importância para uma melhor valorização da disciplina como um todo, entender que a consciência corporal está intrínseca a todos os

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conteúdos da Educação Física reafirma o pensamento de que somos sujeitos completos, e que não podemos permitir que o dualismo desfoque esse preceito. Torna-se então necessária uma reflexão a respeito do corpo e da consciência corporal, bem como estratégias que a introduzam nas aulas, trazendo uma ressignificancia da Educação Física escolar.

A partir do momento que a Educação Física passa a obter uma maior significância dentro da escola, esta consequentemente torna-se mais relevante para os próprios alunos, que influenciados por uma metodologia acadêmica “dicotômica” de saber e fazer, ainda não atribuem a relevância necessária a disciplina. Não seria utópico pensar em transformar a Educação Física escolar através da perspectiva da consciência corporal. Vale salientar que esta está adormecida na pedagogia de muitos professores e que acaba passando despercebida pelos alunos ao longo de sua construção de conhecimento.

Cada aluno é um corpo, cada corpo tem suas marcas, suas vivências e sua história. A Educação Física volta-se em partes para os conhecimentos sobre o corpo, mas não me refiro ao corpo biológico, me refiro ao corpo sujeito, corpo capaz de se expressar e de traduzir suas ideologias e pensamentos. O aluno é o corpo que pode ou não ser moldado, é o corpo apêndice do processo de ensino aprendizagem. Se aproximar desse corpo e entende-lo como um conglomerado de sentimentos é fundamental para possibilitar que este corpo adentre a cultura do movimento como uma oportunidade de liberdade de expressão, como dar voz ao que por muito tempo esteve calado, como acordar o que por muito tempo esteve adormecido.

De certo, a Educação Física vem sendo sucateada na maioria das instituições públicas por todo Brasil, a desvalorização da disciplina, o descontentamento profissional do docente, a falta de incentivo da comunidade escolar, a desmotivação dos alunos e outros diversos fatores são de enorme interferência para a área. Talvez, por esse motivo ou não, alguns professores acabam se deixando levar pelo “fácil”, pelo mais prático ou até mesmo pelo que os alunos já são acostumados em fazer dentro da disciplina. É daí que surgem os professores de Educação Física atuando com o que na nossa área chamamos de “rola bola”16, “quarteto fantástico”17, dentre outros.

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Termo utilizado para atitude de alguns professores de deixar os alunos jogarem bola livremente ao invés de aplicar os conteúdos pertinentes a disciplina de Educação Física.

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32 Infelizmente, quando conversamos com crianças e adolescentes que frequentam as escolas públicas do país, não isentando algumas particulares, é comum se ouvir relatos de que os “conteúdos” dados pelos professores é a famosa “pelada” ou a queimada, e quando estes ainda se preocupam em seguir algum planejamento didático, optam por trabalhar com o conteúdo mais popular da Educação Física que são os esportes. Não obstante a isso, optam pelos esportes convencionais e os mais conhecidos.

No entanto, a Educação Física escolar abrange muito mais do que exclusivamente os esportes. Somos capazes, segundo a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) de abordar as unidades temáticas: Jogos e Brincadeiras; Esportes; Ginásticas; Danças; Lutas; Praticas corporais de Aventura. Quando paramos para perceber os inúmeros conteúdos que podem ser abordados dentro da Educação Física escolar, nos conscientizamos que nossos alunos estão perdendo conhecimento, que poderiam estar saindo da educação básica com uma bagagem acadêmica muito maior. Disseminar a cultura de movimento para os discentes é nossa maior atribuição como professores, não podemos restringir nossos alunos a uma educação já pré-determinada por padrões infundáveis.

Trabalhar o corpo e a cultura de movimento na educação básica em nosso país não é uma tarefa fácil, no entanto, devemos conscientizar alunos e professores para a importância desse fim. Devemos fazê-los entender a importância de compreender a cultura de movimento nas nossas vidas e como ela esta presente em nosso cotidiano, visto que somos corpos. Conscientizar e despertar esses corpos também são uma atribuição da Educação Física na esfera do que chamamos de consciência corporal. É nesse caminho que surgem as chamadas práticas alternativas.

Por muito tempo, as práticas alternativas eram tratadas como simplesmente práticas terapêuticas que auxiliavam no tratamento de diversas doenças físicas e psicológicas. Todavia, começou a se notar uma enorme influência das práticas alternativas na qualidade de vida das pessoas. Assim, essas práticas começaram a ser usadas em benefício da saúde como um todo.

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Termo utilizado para fazer referência a metodologia limitada de se trabalhar apenas com os quatro esportes mais comuns da Educação Física escolar, sendo eles, vôlei, futsal, basquete e handebol.

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Muito pouco ainda se ouve falar de práticas alternativas dentro da Educação Física, apesar de que estas práticas já não são tão alternativas assim.

É certo que a Educação Física possui uma inegável riqueza de conteúdos, estes contemplam em sua totalidade todos os aspectos necessários para evidenciar a consciência corporal dos alunos. Logo, cabe ao professor refletir sobre como sua metodologia pode influenciar o aluno nesse caminho em busca de uma propriocepção18. Entender a Educação Física escolar e sua relação com a consciência corporal é de extrema importância pra que o professor compreenda a possibilidade de evidencia-la em qualquer conteúdo da área.

Não podemos compartimentar o educando dividindo e até excluindo o lado sensível, ignorando sua capacidade e autonomia de compreender as relações de sentido existentes entre a prática da Educação Física e sua consciência corporal. A realidade das escolas é que simplesmente não há lugar para o corpo, possuindo a Educação Física como único espaço possível para este, no qual ainda segue padrões pré-definidos e massificantes. Sobre isso, Nóbrega (2005) fala de uma Educação Física escolar, sinônimo de exercitação física, de base prática e uma educação intelectual, de base teórica.

Neste contexto, podemos citar o tecnicismo presente nas aulas, onde os alunos são meros reprodutores de movimentos padronizados. O que resulta numa hipervalorização do esporte de rendimento e competitivo. Restringindo a capacidade por parte do aluno de exercitar sua sensibilidade e consciência na reprodução do movimento, como se por algum momento o pensar e o sentir pudessem ser separados. Talvez por esse motivo, segundo Nóbrega (2005), a Educação Física é tratada como uma atividade, sem conhecimento próprio a ser transmitido em tempo pedagogicamente necessário e organizado, repete-se atividades ano a ano, série a série, repete-sem nenhuma ampliação ou aprofundamento do conhecimento.

Este processo nada mais é do que uma continuidade de um padrão já estabelecido para a Educação Física. De acordo com Nóbrega (2005), a Educação Física foi institucionalizada historicamente como propriedade de

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Propriocepção é o termo utilizado para nomear a capacidade em reconhecer a localização espacial do corpo, sua posição e orientação, a força exercida pelos músculos e a posição de cada parte do corpo em relação às demais.

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34 médicos e militares, tendo assumido os códigos científicos e éticos dessas áreas. Por esse motivo, desde muito tempo, o ensino da Educação Física tem se voltado para um corpo moldável e compartimentado, altamente disciplinável e fisiologicamente compreendido, o que podemos considerar a objetivação do corpo. Neste contexto, o dualismo, defendido por Descartes, esta significativamente presente, onde corpo e alma se contrapõem, onde res cogitans e res extensa se dividem, onde o sujeito é fragmentado e limitado.

A escola é cartesiana em suas práticas, na fragmentação do conhecimento disciplinar, na estrutura física, onde não há espaço para o corpo, na valorização do racional e na marginalização das disciplinas que tratam do saber sensível (NÓBREGA, 2005, p.51).

O que é visto em grande parte das escolas no país, é uma prática pedagógica refreada, onde o aluno é visto como um depósito de informações meramente científicas e o professor como detentor supremo de todo conhecimento. A realidade em que a Educação Física está inserida exclui qualquer possibilidade de manifestação de conhecimentos voltados para cultura corporal como um todo, visto que ainda na maioria das escolas a disciplina é caracterizada pela esportivização, muitas vezes, visando o rendimento.

Apesar de possuir grande aceitação por parte dos discentes, mesmo como linguagem corporal19, o ensino do Esporte na escola tem perdido seu sentido, a medida de que vem incorporando didáticas tecnicistas e científicas, excluindo o caráter lúdico e viabilizando um ensino exclusivista, onde a técnica e execução perfeitas proporcionam o surgimento de alunos atletas e a exclusão de alunos sem habilidade para a prática. Desse modo, Nóbrega (2005) fala sobre o princípio da eficiência dentro das aulas de Educação Física, que está totalmente voltado para o rendimento e para a aptidão física. Quando relacionado com o principio da utilidade, que é a valorização do resultado, torna-se perceptível um verdadeiro estrago no que diz respeito a subjetividade nas práticas corporais.

Quando estipulamos e restringimos as possibilidades de vivenciar e ate mesmo compreender o corpo, estamos delimitando a aquisição de

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Linguagem corporal é uma forma de comunicação não-verbal, onde o corpo "fala" através de gestos, expressões faciais e posturas.

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conhecimento por parte dos alunos. Não sendo possível uma representação pessoal e subjetividade do conhecimento para que o processo de aprendizagem seja instaurado. “Os alunos durante o contato com a Educação Física não obtêm um conhecimento vivencial da corporeidade e da cultura de movimentos, não encontrando significação na simples exercitação física” (NÓBREGA, 2005, p.48). A partir do momento que o conteúdo exposto não possui qualquer representação simbólica para o aluno, é improvável que exista uma significação condicionante para o processo ensino-aprendizagem, não faz sentido absorver e incorporar algo que não tem a menor representatividade no contexto pessoal e intrínseco.

Infelizmente o dualismo corpo e mente ainda é notavelmente presente nas aulas de Educação Física. O próprio professor, muitas vezes, não é capaz de relacionar os assuntos teóricos nas aulas práticas, o levando a uma abordagem totalmente técnica de diversos conteúdos.

Para Nóbrega (2005), a prioridade do dado da razão pode ser expressa quando se considera a aprendizagem como um produto da inteligência racional, desprezando-se ou minimizando-se o dado sensível. Se levarmos em conta que a aprendizagem está totalmente ligada ao racional estamos automaticamente ignorando o sensível, estamos reafirmando um pensamento de corpo exclusivamente fisiológico. Ao ver nossos alunos se movimentando, enxergaríamos nesse contexto um corpo que reproduz movimentos e não um corpo que se movimenta. A aula de Educação Física seria ironicamente a educação/treinamento do físico e nossos alunos meros depósitos de estímulos.

Consoante Santin (2003), o enfoque antropológico dual tem sua história marcada por um conjunto de pressupostos básicos e por uma interminável linha de consequências práticas. Essas consequências são visíveis dentro da própria Educação Física quando muitos professores investiram no “fazer” sem dar maior ênfase ao quanto os alunos atribuíam significado a pratica, e qual relação de sentido esta representaria para os indivíduos praticantes da ação.

Entender a complexidade do corpo que se movimenta, na minha concepção é tão importante quanto a forma que este o faz. A aula de Educação Física é um espaço aberto para que esse corpo se manifeste dentro da cultura do movimento e expresse seus valores e intenções livremente. Não podemos encarar o movimento como um comportamento imposto e resultante de

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36 estímulos. O aluno não deve ter um corpo reprodutor de movimento, mas sim ser um corpo que se movimenta dentro da sua subjetividade. Nós como professores, devemos levar nossos alunos a experimentação e apropriação de seus corpos para que através do movimento possam alcançar a sua ressignificação e caracterização pessoal como sujeitos. Esses corpos sujeitos agem, pensam e se relacionam a medida das experiências adquiridas dentro da relação que possuem com o meio onde estão inseridos.

Todas as pessoas que se encontram fora de nós são necessárias para a estruturação da imagem de nosso corpo. Ao construirmos nosso corpo, nós o espalhamos novamente pelo mundo e o fundimos com outros, todos estruturam sua imagem corporal em contato com outros (SCHILDER, 1994 – p,236).

O fator social é de extrema importância dentro das aulas de Educação Física, a relação que os alunos constroem uns com os outros bem como com o próprio professor é de grande influência para o processo de ensino-aprendizagem. As pessoas a nossa volta e as relações que possuímos com elas são responsáveis pela nossa subjetiva formação pessoal. Por esse motivo, é fundamental que a aula de Educação Física seja um momento em que o aluno tenha a liberdade de se expressar e de experimentar. Dessa forma, devemos então lutar por uma Educação Física de experiência e experimentação afim de que nossos alunos se apropriem de forma prazerosa dos conteúdos abordados.

É necessário que o aluno se aproprie desse corpo e o entenda como corpo que pensa e age, que raciocina e se movimenta, que interage e se expressa.

O homem é movimento, o movimento que se torna gesto, gesto que fala, que instaura a presença expressiva, comunicativa e criadora. Aqui justamente neste espaço, está a Educação Física. Ela tem que ser gesto, o gesto que se faz, que fala. Não o exercício mecânico, vazio e ritualístico.’’ (SANTIN, 2003, p.35)

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Daí a necessidade que as vivências dentro da Educação Física escola possibilitem essa interação e expressão corporal dos alunos e entre estes. No entanto, o que vemos na maioria das escolas é uma Educação Física estagnada, padronizada e massificante, em alguns casos a própria escola é responsável por esse lamentável estado de ensino.

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De acordo com Santin (2003), a escola realmente abriu pouco espaço para a Educação Física, especialmente, nos níveis de formação superior. Nos níveis inferiores, ela se apresenta ou se apresentou mais como treinamentos por exercícios mecânicos. Assim, pode-se dizer que, quando a escola abriu as portas para a Educação Física, foram as portas do fundo, cedendo espaços sobrados e os horários rejeitados pelas outras disciplinas. Quando a própria escola não entende a importância da Educação Física fica muito mais complicado que os próprios alunos compreendam sua relevância. Um reflexo dessa situação seria a desmotivação profissional do docente e a provável aceitação do que lhe é imposto pela direção da instituição.

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