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ASPECTOS LINGUÍSTICOS DA FALA ITAJUBENSE: O FENÔMENO DO ROTACISMO SOB UMA PERSPECITVA VARIACIONISTA

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Academic year: 2021

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1 ASPECTOS LINGUÍSTICOS DA FALA ITAJUBENSE: O FENÔMENO DO

ROTACISMO SOB UMA PERSPECITVA VARIACIONISTA Cecília de Godoi Fonseca (1);Valter Pereira Romano (2)

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Aluna do 6º Período do curso de Letras do Centro Universitário de Itajubá. cecilia_fonseca20@hotmail.com; (2) Mestre em Estudos da Linguagem pela Universidade Estadual de Londrina. Professor do curso de Letras do Centro Universitário de Itajubá. valter.romano@hotmail.com

RESUMO

Este trabalho apresenta aspectos teóricos e metodológicos de um projeto de pesquisa em andamento cujo corpus refere-se a dados orais coletados junto a informantes naturais do município de Itajubá-MG. A pesquisa fundamenta-se nos pressupostos teóricos e metodológicos da Sociolinguística Variacionista (LABOV, 1966), objetivando a descrição e a análise do fenômeno fonético-fonológico conhecido como rotacismo, ou seja, troca da consoante lateral alveolar /l/ pela vibrante /r/ em contexto de encontro consonantal, como em pLanta > pRanta e coda silábica: sol > SoR. A partir deste trabalho, espera-se compreender melhor o fenômeno em pauta correlacionando variáveis linguísticas e extralinguísticas que o condicionam.

Palavras- chave: Rotacismo. Pesquisa sociolinguística. Itajubá-MG.

INTRODUÇÃO

A Sociolinguística é uma área que estuda a língua em seu uso real, levando em consideração as relações entre a estrutura linguística e os aspectos sociais e culturais da produção linguística (CEZARIO, 2013). Essa disciplina pauta-se em dados reais da fala de indivíduos inseridos numa comunidade de fala que partilham, com os membros dessa comunidade, uma série de experiências e atividades. O presente trabalho pauta-se nos aspectos teóricos metodológicos da Sociolinguística variacionista (LABOV, 1966) com vistas a descrever e analisar o rotacismo, ou seja, “fenômeno fonológico relacionado com a realização fonética de um som rótico em substituição a um som lateral e vice-versa” (SILVA, 2011), que, no português, ocorre “quando há substituição da líquida lateral [l] pela vibrante simples ou tepe [r]” (SILVA, 2011), ocasionando a neutralização de uma líquida lateral por uma líquida vibrante em sílabas do tipo CCV (consoante, consoante e vogal) como, por exemplo, em “probLema” por “probRema” ou em contexto de coda silábica em posição final ou medial, como em “saL” / “saR”, “caLça” / “caRça”, respectivamente.

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2 Estudiosos como Coutinho (1976) comprovam que a origem desse fenômeno tem suas motivações históricas, uma vez que remonta à língua latina, refletindo-se até hoje na fala espontânea de brasileiros. Para Teyssier (1994), ao se retornar à ‘língua-mãe’, o latim vulgar,

a categoria de palavras pertencentes a uma série menos popular, os grupos iniciais pl-, cl- e fl- deram em português pr-, cr- e fr-; ex.: placere > prazer; clavu > cravo, flaccu > fraco, evolução idêntica à de bl- > br-; ex.: blandu > brando.” (TEYSSIER, 1994).

Ainda segundo o estudioso, o português moderno possui “um grande número de palavras eruditas em que os grupos iniciais pl-- cl- e fl-, assim como bl- foram conservados sem modificação; ex.: pleno, clima, flauta, bloco” (TEYSSIER, 1994).

Por outro lado, sabe-se que variedades linguísticas em que ocorre o rotacismo costumam ser associadas a comunidades rurais e são estigmatizadas. De acordo com Bagno (2007), este desprestígio que é atribuído ao fenômeno deve-se à “crença de que só existe, uma única língua portuguesa digna deste nome e que seria a língua ensinada nas escolas, explicadas nas gramáticas e catalogadas nos dicionários” (BAGNO, 2007), tratando-se, portanto, as formas que não condizem com os instrumentos normativos, de expressões inadequadas e de grande discriminação.

Entretanto, as pesquisas acadêmicas têm comprovado a presença inconteste do fenômeno na história da língua portuguesa e explicado fatores condicionantes para a realização do rotacismo. A título de exemplo, encontram-se pesquisas como a de Cox (2001), Lebrão (2004), Costa (2006), Romano; Silva (2010), Tem (2010), Reis (2010), Romano (2012) entre outros, que, de um modo geral, evidenciam a presença do rotacismo em diferentes comunidades de fala.

Em decorrência de fatores extralinguísticos como: faixa etária, escolaridade, sexo, e também linguísticos como sonoridade do segmento precedente na coda silábica, item lexical e extensão do vocábulo, observa-se que o fenômeno não ocorre aleatoriamente e pode ser explicado sob uma forma científica. Todavia, uma consulta à literatura da área revela que a língua falada na cidade Itajubá-MG carece de estudos sistemáticos com abordagens sociolinguísticas, sobretudo, no que se refere ao rotacismo. Desse modo, este trabalho poderá revelar quais fatores são condicionantes para realização do rotacismo na fala dos itajubenses de nível de

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3 escolaridade superior e fundamental, considerando-se também o sexo dos informantes.

MATERIAL E MÉTODOS

Para constituição do corpus, foram realizadas entrevistas com informantes naturais do município de Itajubá de dois níveis de escolaridades: Ensino Fundamental e Ensino Superior e de ambos os sexos (masculino e feminino), totalizando 24 informantes, distribuídos, equitativamente, por duas faixas etárias – 18 a 30 anos e 50 a 65 anos.

O instrumento de coleta de dados versa sobre 50 perguntas cujas respostas podem apresentar o fenômeno em pauta, além de três temas para discursos semidirigidos. Com a finalidade de evitar que informantes mais perspicazes identificassem os vocábulos que potencialmente apresentam o fenômeno, foram intercaladas, entre as 50 questões, outras questões, porém, de caráter lexical.

A coleta de dados ocorreu somente na área urbana, principalmente, em bairros mais carentes para confirmar as hipóteses do estudo sobre a influência de variáveis sociais na realização do fenômeno.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dado o fato de a pesquisa estar em andamento, ainda não há resultados de análise do corpus coletado. Todavia, as etapas já realizadas do projeto refere-se à (i) organização dos informantes a partir de grupos de fatores externos (nível socioeconômico, sexo/gênero, faixa etária, escolaridade, localidade); (ii) estudo prévio sobre a comunidade de fala selecionada considerando aspectos históricos, sociais e demográficos; (iii) constituição do instrumento de coleta de dados; (iv) revisão da literatura acerca do estudo do fenômeno.

As entrevistas foram realizadas de maio a agosto de 2014 com auxílio de gravador digital, todavia, buscando-se minimizar o “paradoxo do observador” (LABOV, 1966) a partir da criação de situações naturais de fala. Concomitantemente à coleta de dados, foram realizadas as transcrições grafemáticas e fonéticas dos inquéritos. Os passos seguintes do projeto serão a codificação dos dados para tratamento estatístico no programa GoldVarb 2001 (ROBINSON; LAWRENCE;

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4 TAGLIAMONTE, 2001), elaboração de artigos científicos e comunicações em congressos da área e, por fim, redação do relatório final da pesquisa.

CONCLUSÕES

Com este projeto de Iniciação Científica, pode-se verificar a importância da compreensão da língua sob a perspectiva do uso, uma vez que o seufuncionamento é dinâmico e está atrelado a fatores de ondem linguística e extralinguística. Desse modo, ao final deste projeto, espera-se constatar que variáveis extralinguísticas e linguísticas interfiram na realização do fenômeno, pois pesquisas têm apontado para esta direção, contribuindo, de certa forma, aos estudos sociolinguísticos e dialetológicos do português brasileiro, sobretudo, no que se refere à língua falada no estado de Minas Gerais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAGNO, M. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística na sala de aula. São Paulo: Parábola Editora, 2007.

CEZARIO, M. M.; VOTRE, S. Sociolinguística. In.: MARTELOTTA, M. E (org.). Manual de linguística. 2. Ed. São Paulo: Contexto, 2013, p. 141-155.

COUTINHO, I. de L. Gramática Histórica. 7. ed. Rio de Janeiro: Editora ao Livro Técnico, 1976.

COX, I. M. I. P. Crique aqui: um signo mestiço. Revista Signum: Estudos da linguagem, Londrina, n. 4, 2001, p.81-94.

REIS, G. F. M. dos. Cravícula ou Carcanhá: a incidência do rotacismo no falar maranhense. Revista Littera, v. 1, nº 1, jan-jul 2010, p.33-40.

COSTA, L. T. Estudo do rotacismo: variação entre as consoantes líquidas, 2006. 167 p. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-graduação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2006.

LABOV, W. The Social Stratification of English in New York City. Washington: Center of Ampplied Linguistics, 1966.

LEBRÃO, S. M. M. Comunidade de Pouso Alto: um estudo sociolinguístico. Revista Signótica. Goiânia, UFGO, v. 16, n. 2, jul.-dez 2004, 243-256

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5 ROBINSON, J. S.; LAWRENCE, H. R.; TAGLIAMONTE, S. A. GOLDVARB 2001: a multivariate analysis application for Windows. Department of Language and

Linguistic Science, York, Canada: University of York, 2001.

ROMANO, V. P.; SILVA, J. P. Bicicleta ou bicicreta: um estudo do rotacismo na fala de paulistas a partir dos dados do Atlas Lingüístico do Brasil. Anais. 1º CIELLI - Coloquio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários, Maringá, 2010. ROMANO, V. P.; Como falam os londrinenses? O caso do rotacismo a partir de dados geolinguísticos. Anais 2º CIELLI - Coloquio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários, Maringá, 2012.

SILVA, T. C. Dicionário de Fonética e Fonologia. São Paulo: Contexto, 2011. TEM, L. F. T.. Rotacização das líquidas nos grupos consonantais:

representação fonológica e variação. 2010. 156 p. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-graduação em Letras Vernáculas. UFRJ, Rio de Janeiro, 2010. TEYSSIER, P. História da língua portuguesa. Trad. Celso Cunha. 6. Ed. Lisboa: Sá da Costa, 1994.

Referências

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