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Migração na Região Metropolitana de Natal: análise para 2000 e 2010

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MIGRAÇÃONAREGIÃOMETROPOLITANADENATAL:ANÁLISEPARA2000E 201012

Paulo Victor Maciel da Costa3 Silvana Nunes de Queiroz4

INTRODUÇÃO

No Brasil, no nível das grandes regiões, a partir da década de 1980, a literatura aponta para o arrefecimento da migração inter-regional (longa distância) em detrimento da intrarregional (média distância) e notadamente intraestadual (curta distância). Nesse contexto, a rede urbana do Nordeste apresentou crescimento surpreendente (MARTINE, 1994; PATARRA, 2003). A tendência que se delineia a partir de então, segundo Patarra (2003, p. 27) é o “crescimento de cidades de porte médio e na configuração generalizada de periferias no entorno dos centros urbanos maiores [...]”. Além disso, Martine (1994) coloca que o Brasil sofreu queda importante e inesperada no processo de "metropolização" durante a década de 1980, especialmente no Sudeste, o que pode ter contribuído para a ascensão de outras metrópoles como é o caso da Região Metropolitana de Natal (RMN), no Nordeste brasileiro.

Embora a Região Metropolitana de Natal (RMN) não seja uma das regiões metropolitanas oficiais do IBGE, esta começa a apresentar potencialidades especialmente devido a forte atuação do Estado. Os investimentos mais marcantes são verificados a partir dos anos 1970, com os incentivos ficais proporcionados pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), sendo necessário o auxílio do Banco Mundial de Habitação para lidar com a demanda demográfica emergente. A partir daí verifica-se fortes consequências nas transformações do território e na distribuição espacial da população (ARAUJO et al., 2014; SANTOS, 2016), que levou a criação da RMN em 1997.

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Trabalho apresentado no XI Encontro Nacional sobre Migrações, realizado no Museu da Imigração do Estado de São Paulo, em São Paulo, SP, entre os dias 9 e 10 de outubro de 2019.

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Este trabalho conta com apoio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.

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Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Demografia (PPGDem/UFRN) e bolsista CAPES. E-mail: paulovictorma22@hotmail.com

4

Economista-Demógrafa, Professora Adjunta do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri (URCA) e do Programa de Pós-graduação em Demografia (PPGDem/UFRN). E-mail: silvanaqueirozce@yahoo.com.br

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Nesse contexto, observou-se significativas transformações na rede urbana dos dez municípios que a compõe em 2010. Dessa forma, os processos demográficos que acompanham as mudanças na expansão urbana assumem contornos importantes nas transformações estruturais na RMN, e devem ser estudados. Estudos nesse contexto foram realizados para outras regiões metropolitanas, como a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) (BAENINGER, 1999) e para a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) (SIDRIM; QUEIROZ, 2016), mas não para a RMN.

Desse modo, este estudo tem como principal objetivo analisar a migração intermunicipal na Região Metropolitana de Natal, durante os interregnos de 1995/2000 e 2005/2010. Para tanto, utiliza-se os microdados das amostras dos Censos Demográficos de 2000 e de 2010. O trabalho inicia com uma breve discussão sobre a urbanização e metropolização da RMN. Em seguida apresenta os procedimentos metodológicos e, posteriormente, os principais resultados acerca das migrações na RMN. Por fim, nas considerações finais, faz-se uma síntese dos principais resultados do estudo.

URBANIZAÇÃO E METROPOLIZAÇÃO DA REGIÃO METROPOLITANA DE NATAL: BREVE APONTAMENTO

Desde a colonização brasileira, o início de uma nova atividade econômica culminou em hierarquia entre as grandes regiões do país, a partir do crescimento e desenvolvimento desigual e fragmentado das mesmas. Ressalta-se que a atividade industrial que tomou força a partir de 1930 foi fundamental para a formação urbana nacional, embora tenha intensificado as disparidades regionais devido ao caráter excludente e concentrador que assumiu (FURTADO, 1986; PATARRA, 2003; SINGER, 1985).

No caso do Rio Grande do Norte, área de estudo desse trabalho, a partir dos anos 1930, a capital Natal apresenta substancial dinamismo no mercado de trabalho local devido a criação de instituições públicas, desenvolvimento de obras estruturais e estabelecimentos comerciais. Ademais, após 1940, Parnamirim que era distrito de Natal foi beneficiado com a criação da base aérea militar e escolhido como ponto de apoio pelos militares norte-americanos, devido a localização geográfica favorável.

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asfaltada que ligava Parnamirim a Natal, garantindo a interação entre esses dois espaços (SANTOS, 2016).

Segundo Silva (2010, p. 240), “após a Segunda Guerra tal estrada foi incorporada na malha urbana da cidade, sendo hoje a Avenida Senador Salgado Filho em um trecho, e Hermes da Fonseca em outro, permitindo que a mancha urbana se estendesesse no sentido centro-sul”. Nesse mesmo ano (1942) ocorreu uma forte seca no interior do estado que forçou um contingente populacional significativo, provenientes da atividade algodoira, a migrarem em direção a capital (Natal).

Esses acontecimentos provocaram forte pressão demográfica e imobiliária, gerando como consequência uma crescente demanda por serviços e atividades comerciais que foram fundamentais para o crecimento embrionário da área urbana da Região Metropolitana de Natal (RMN). Durante a década de 1940, Natal chega a apresentar taxa de crescimento urbano (6,53% a.a.) correspondente a quase o dobro da observada para o país (3,8% a.a.). Com todas essas transformações, Parnamirim, em 1958, foi emancipado de Natal e tornou-se município (SANTOS, 2016).

A criação da SUDENE (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste) em 1959, cujos estímulos fiscais proporcionados pelo Estado condicionaram a desconcentração industrial que beneficiou não somente o interior das regiões Sudeste e Sul do Brasil, mas também outras regiões como o Nordeste, especialmente suas metrópoles e/ou regiões litorâneas, acelerou o ritmo de crescimento populacional, bem como intensificou o processo de urbanização de Natal, sendo registrado inclusive a chegada de um volume signifivativo de imigrantes. A atuação do Banco Nacional de Habitação (BNH) foi primordial para o atendimento dessa demanda demográfica, visto o forte aporte financeiro destinado ao Programa Habitacional criado em 1963 para a implementação de programas habitacionais, de saneamento, transportes e equipamentos para fins comunitários (ARAÚJO, 2000; ARAUJO et al., 2014; SANTOS, 2016).

O crescimento do setor industrial em Natal e nos municípios ao seu redor, intensificam-se no final da década de 1970 com a criação do DIN (Distrito Industrial de Natal), instalado na zona Norte da capital. A punjança econômica não se limitou apenas ao município de Natal, visto que influenciou a economia de municípios vizinhos, especialmente São Gonçalo do Amarante e Extremoz. Outro ponto que

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merece destaque é a implementação da Região de Produção do Distrito Setentrional da Petrobrás na passagem da década de 1970 para a de 1980 (SANTOS, 2016).

Essas mudanças no Rio Grande do Norte foram fundamentais, visto que foi um dos três estados, dentre os nove do Nordeste, a apresentar taxa média de crescimento populacional acima de 2% ao ano em um momento que se verificava redução significativa no ritmo de crescimento de todas as grandes regiões do país, a partir da década de 1980 (MARTINE, 1994). Em nível municipal, Parnamirim foi o destaque, já que registrou crescimento anual de aproximadamente 8% ao ano entre 1980 (26.362 habitantes) e 1991 (63.312 habitantes). Esse crescimento pode ser explicado pelo transbordamento das atividades imobiliárias (condomínios fechados e verticais) para Parnamirim nas décadas de 1980 e 1990, devido especialmente aos altos preços do solo de Natal, município considerado 100% urbano (com escassez de grandes glebas de terra).

Vale ressaltar que a malha urbana, por meio desse transbordamento imobiliário, não se dirigiu somente para o sul de Natal (Parnamirim), mas também para o norte, onde fica São Gonçalo do Amarante e para outras áreas como Macaíba e Ceará-Mirim (SILVA, 2010). Essas mudanças na dinâmica imobiliária foram extremamente importantes para a modelagem do espaço urbano que darão bases para a criação da RMN em 1997.

Aliado ao crescimento vegetativo, a dinâmica migratória foi crucial para o crescimento populacional do estado. Cunha e Baeninger (1999) apontam, nesse período, (1980/1990) para a forte redução no volume emigratório do Rio Grande do Norte e a sua transformação em um dos centros regionais de atração migratória. Nesse interim, além da indústria como fator de atração, vislumbra-se o crescimento de outros ramos de atividades, como é o caso do turismo, o qual mobilizou novas demandas por investimentos em infraestrutura urbana, bem como gerou oportunidades de emprego, em especial nas áreas litorâneas (ARAÚJO, 2000; SANTOS, 2016). Por outro lado, o país vivenciava na época a década perdida (anos 1980), com inflação e desemprego, notadamente nas principais metrópoles do país, que ocasionou o aumento da migração de retorno para o Nordeste (QUEIROZ; TARGINO, 2003), bem como a menor saída de migrantes desta região (MARTINE, 1994; PATARRA, 2003).

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Os investimentos públicos e privados convergiram, sobretudo, para uma política de modernização econômica do estado, especialmente com base nas principais atividades: agricultura irrigada no Vale do Açu, o turismo no litoral leste, principalmente na capital e adjacências, petróleo e gás no litoral norte e parte do oeste, a pecuária leiteira no Seridó e parte do Agreste, comércio e serviços na capital e nas principais cidades que se constituem como centros regionais, construção civil em Natal e Mossoró, dentre outros vetores representativos local e regionalmente.

Ainda segundo o autor, algumas dessas atividades impulsionadas pela abertura comercial vivencida pelo Estado fizeram com que este desenvolvesse capacidades técnicas nunca vistas no interior do seu processo de crescimento e desenvolvimento econômico.

Nesse processo de reestruturação produtiva e territorial foi criada, através da lei complementar nº 152 de 16 de janeiro de 1997, a Região Metropolitana de Natal (RMN), formada inicialmente pelos municípios de Natal, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante, Ceará-Mirim, Macaíba e Extremoz. Além desses seis municípios, outros foram gradativamente incorporados a metrópole, como Nísia Floresta e São José de Mipibu em 2002 (LC 221), Monte Alegre em 2005 (LC 315) e Vera Cruz em 2009 (LC 391), chegando ao total de 10 municípios em 2010.

A respeito da formação desse centro urbano, Santos (2016) caracteriza Natal e Parnamirim como os municípios que possuem maior poder de polarização em relação aos demais, que possuem um centro urbano menor e marcado pelo desenvolvimento de uma rede de comércio e serviços de alcance local, voltada para a demanda de uma população crescente. São exemplos São Gonçalo do Amarante e Macaíba, que pouco a pouco aumentam a centralidade, embora ainda possam ser consideradas cidades locais.

Quanto a dinâmica econômica da RMN, os municípios são caracterizados desde antes da oficialização da metrópole, pelo maior peso do setor terciário, mas uma observação importante diz respeito a supremacia de Natal em relação aos outros municípios, sendo encontrada neste município maior densidade econômica, especialmente quanto ao setor de comércio e serviços, mas também por concentrar grande parcela das indústrias da RMN. Ademais, Natal é a capital do estado, onde está sediada grande parte dos órgãos do governo estadual e do governo federal (SANTOS, 2016).

Tendo em vista a formação desse grande centro urbano e a influência que exerce sobre a rede urbana potiguar, Dantas e Clementino (2014) fazem uma

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análise baseada na definição de Áreas de Concentração de População (ACP), e classificam a ACP de Natal (formada por Natal, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante, Macaíba, Extremoz, Nísia Floresta e São José de Mipibu) como capital regional, isto é, sem influência em âmbito nacional, justificando porque a RMN não é considerada pelo IBGE como uma metrópole oficial do país. Cabe indagar se isso torna a RMN menos importante que as metrópoles oficiais do Nordeste em termos de dinâmica populacional e/ou atratividade migratória?

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Recorte geográfico

A Região Metropolitana de Natal (RMN) localiza-se no estado do Rio Grande do Norte, na região Nordeste do país, composta por 10 municípios (Ceará-Mirim, Parnamirim, Extremoz, Macaíba, Monte Alegre, Natal, Nísia Floresta, São Gonçalo do Amarante, São José Mipibú e Vera Cruz) em 2010, como se observa na Figura 1.

FIGURA 1 – Mapa de Localização da Região Metropolitana de Natal (RMN)

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Recorte temporal, fonte de dados e tratamento das informações

O recorte temporal desse estudo corresponde precisamente aos quinquênios de 1995/2000 e 2005/2010, sendo os Censos Demográficos de 2000 e 2010 as principais fontes de informações. Para o tratamento dos dados foi utilizado o programa SPSS (Statistical Package for the Social Science), e para a elaboração de mapas e gráficos, os programas QGIS, versão 3.2.0, e o Excel, respectivamente.

Definições adotadas no estudo

Migrante Intrametropolitano – indivíduo com cinco anos ou mais de idade

que, na data de referência do Censo Demográfico, residia em um município na Região Metropolitana de Natal, mas em uma data fixa (exatamente cinco anos antes do recenseamento) morava em outro município dessa mesma metrópole.

Saldo migratório – representa a diferença entre o total de imigrantes e o de

emigrantes.

Núcleo – refere-se ao município de Natal.

Periferia – refere-se aos municípios da RMN, exclusive Natal.

Núcleo-periferia – migração do núcleo (Natal) em direção aos municípios da

periferia.

Periferia-núcleo – migração dos municípios da periferia em direção ao núcleo

(Natal).

Periferia-periferia – migração entre os municípios da RMN, exclusive Natal

(Núcleo).

Metodologia para o cálculo do fluxo migratório e IEM

Matriz Migratória – Foi elaborada uma matriz migratória intrametropolitana

com 10 municípios que formam a RMN, apresentada sumariamente da seguinte forma:

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∑ ∑ a11= a22 = a33 = ... = ajj = 0

A partir dessa matriz é possível mensurar o volume de imigração, emigração, saldo migratório e o Índice de Eficácia Migratória (IEM), além de poder identificar a origem e destino do migrante.

O IEM permite verificar a capacidade de perda, rotatividade ou retenção de população na área em estudo e varia entre -1 a +1. Valores próximos a -1 representam áreas com perda migratória elevada; valores próximos a 0 (zero) figuram como áreas de rotatividade migratória (entradas e saídas de pessoas com volumes semelhantes); e valores próximos a 1 diz respeito a áreas que retém população. Assim, a classificação é dada da seguinte forma: i) -1,00 a -0,13, área de perda migratória; ii) -0,12 a 0,12, área de rotatividade migratória; e de iii) 0,13 a 1,00, área de retenção migratória. Tal indicador é calculado através do quociente entre a migração líquida (I-E) e a migração bruta (I+E), como observado na Equação 1:

MIGRAÇÃO INTRAMETROPOLITANA NA RMN

Volume migratório intrametropolitano – 2000 e 2010

A Tabela 1 mostra o peso relativo da migração intrametropolitana nas metrópoles de Fortaleza, Recife, Salvador e Natal. O intuito é dimensionar a RMN no contexto das três maiores RM‟s do Nordeste e destacar que embora o número absoluto de migrantes na RMN seja menor, esta apresenta, em relação a população total, proporção superior as demais RMs, em 2010.

= total de pessoas que emigram (saída) do município 1 para outro município da RMN.

=total de pessoas que imigram (entrada) de outro município da RMN para o município 1.

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TABELA 1 – Participação do volume total de migrantes intrametropolitanos no total da população residente na RMF, RMR, RMS e RMN – 1995/2000 e 2005/2010 Regiões Metropolitanas 1995/2000 2005/2010 População Residente (1) Migrantes Intramet. (2) (2)/(1)*100 População Residente (1) Migrantes Intramet. (2) (2)/(1)*100 Fortaleza 3.056.769 73.950 2,42 3.615.767 67.964 1,88 Recife 3.337.565 130.989 3,92 3.690.547 114.963 3,12 Salvador 3.120.303 55.031 1,76 3.573.973 63.468 1,78 Natal 1.125.064 42.869 3,81 1.351.004 48.597 3,60

Fonte: IBGE (Microdados dos Censos Demográficos de 2000 e 2010).

Para o interregno de 1995/2000, o percentual de migrantes intrametropolitanos na RMN em relação a sua população total residente (3,81%), a torna com o segundo maior fluxo, próximo ao registrado pela RMR (3,92%), que é o destaque dentre todas as RMs em análise. No período seguinte, o número de migrantes intrametropolitanos e o seu peso nas populações é reduzido nas metrópoles do Recife e de Fortaleza e nas outras duas ocorre o inverso. A RMS continua em último lugar apesar do aumento absoluto e percentual, enquanto a RMN passa a se destacar frente as demais, embora com leve diminuição relativa para 3,60%.

Portanto, embora a RMN tenha um contingente populacional menor que as outras metrópoles analisadas, esta apresenta proporcionalmente maior quantidade de migrantes intrametropolitanos, superando as três metrópoles regionais do Nordeste.

Sendo assim, a Tabela 2 apresenta a migração intrametropolitana em Natal. Observa-se que no intervalo de 1995/2000, o destaque é o fluxo originado do núcleo (Natal) com destino para a periferia (municípios do entorno do núcleo), representando aproximadamente 74% do fluxo da RMN. Cabe acrescentar que no interregno seguinte sua posição mantém-se, com aumento em termos absolutos e leve redução percentual.

TABELA 2 – Migração Intrametropolitana – RMN – 1995/2000 e 2005/2010 Migrantes Intrametropolitanos 1995/2000 2005/2010 Abs. (%) Abs. (%) Fluxo 42.869 100,00 48.597 100,00 Núcleo-periferia 31.582 73,67 35.374 72,79 Periferia-núcleo 4.637 10,82 4.334 8,92 Periferia-periferia 6.650 15,51 8.889 18,29

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O fluxo tradicionalmente esperado para o contexto das metrópoles, qual seja da periferia em direção ao núcleo, surpreende pela baixa participação, inclusive apresenta diminuição entre os quinquênios analisados (de 10,82% para 8,92%). Por outro lado, cresce o percentual atribuído a migração entre os municípios periféricos, de 15,51% para 18,29%, entre 1995/2000 e 2005/2010, respectivamente. Assim, de forma geral, o aumento absoluto da migração intrametropolitana na RMN distribuiu-se entre o „núcleo-periferia‟ e a „periferia-periferia‟. Esdistribuiu-ses resultados podem estar relacionados a perda de centralidade da capital metropolitana, em virtude da maior dinamização imobiliária e econômica dos municípios em seu entorno, observada especialmente a partir dos anos 1980 (SANTOS, 2016; SILVA, 2010).

Refletindo acerca das mudanças no padrão migratório brasileiro, Brito (2009) explica que as virtudes exaltadas nas grandes cidades desapareceram frente aos problemas como violência urbana, desemprego e dificuldades de acesso a serviços públicos básicos e a moradia, o que rapidamente tornou-se conhecido, dado a ampliação das telecomunicações e das redes de interação social. Tem-se assim um novo contexto, no qual as „externalidades negativas‟ das grandes cidades superaram as „externalidades positivas‟ que as tornavam atrativas, dissociando mobilidade espacial e mobilidade social. Os novos caminhos para aqueles não absorvidos econômica ou socialmente passam a ser o retorno (QUEIROZ; TARGINO, 2003) ou o deslocamento para as periferias mais distantes (SIDRIM; QUEIROZ, 2016) .

Há, portanto, uma descentralização e involução metropolitana paralelamente ao desenvolvimento de serviços e atividades em cidades periféricas ou interioranas (QUEIROZ et al., 2019), apontando para um modelo de urbanização e de metropolização menos concentrado, no qual a sede da região apresenta menor peso relativo do que o verificado durante a industrialização (OJIMA et al., 2010).

Detalhando a migração intrametropolitana por município, obteve-se os dados apresentados nas Tabelas 3 (1995/2000) e 4 (2005/2010). Para o primeiro período (Tabela 3), tem-se como principal destaque a concentração da imigração e emigração nos municípios de Parnamirim e Natal, respectivamente.

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TABELA 3 – Volume de imigrantes e emigrantes intrametropolitanos – RMN – 1995/2000

RMN Imigração (%) Emigração (%) Saldo IRP

Ceará-Mirim 1.349 3,15 2.121 4,95 -772 0,64 Parnamirim 20.681 48,24 2.492 5,81 18.189 8,30 Extremoz 1.659 3,87 770 1,80 889 2,15 Macaíba 2.529 5,90 1.951 4,55 578 1,30 Monte Alegre 846 1,97 533 1,24 313 1,59 Natal 4.637 10,82 31.582 73,67 -26.945 0,15 Nísia Floresta 1.223 2,85 509 1,19 714 2,40 São G. do Amarante 7.893 18,41 882 2,06 7.011 8,95

São José de Mipibú 1.486 3,47 1.476 3,44 10 1,01

Vera Cruz 566 1,32 553 1,29 13 1,02

TOTAL 42.869 100,00 42.869 100,00

Fonte: IBGE (Microdados do Censo Demográfico de 2000).

Detendo-se a entrada de migrantes nos municípios da RMN, observa-se que Parnamirim, pertencente a periferia metropolitana, concentra quase metade (48,24%) desta imigração, ficando a outra metade dividida entre os demais municípios. Dentre estes municípios se sobressaem São Gonçalo do Amarante com 18,41%, que também pertence a periferia, e Natal com 10,82%, que é o núcleo metropolitano.

As saídas, por sua vez, apresentaram-se ainda mais concentradas em um só município que o observado nas entradas, visto que dos 42.869 emigrantes intrametropolitanos, aproximadamente 74% (31.582) sairam do núcleo (Natal). Outros destaques, mas não tão relevantes, são Parnamirim, Ceará-Mirim e Macaíba, cada um com cerca de 5% da emigração intrametropolitana.

Quanto aos saldos migratórios, mencionada a concentração de entradas e saídas em notadamente dois municípios, ter-se-á como destaques um elevado saldo positivo para Parnamirim (18.189) e um saldo negativo ainda maior para Natal (-26.945). Vale ressaltar que São Gonçalo do Amarante, município com a segunda maior imigração, não apresentou grandes saídas, o que lhe conferiu um saldo migratório de 7.011, resultado bem significativo, visto que todos os demais, excetuando-se Parnarmirim, registraram saldos abaixo de mil migrantes.

O espraiamento da mancha urbana verificado especialmente a partir dos anos 1990 para Parnamirim (ao Sul de Natal) e São Gonçalo do Amarante (ao norte), conforme apontado por Silva (2010), direcionou a maior parte dos fluxos migratórios para esses municípios. Além disso, as perdas verificadas pelo núcleo metropolitano também corroboram com os argumentos de Brito (2009) e Ojima et al.

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(2010) apresentados anteriormente, acerca da menor atratividade dos grandes centros urbanos.

Ademais, a análise do Índice de Reposição Populacional (IRP) ratifica os resultados anteriores, ao indicar a grande força de reposição populacional de Parnamirim e São Gonçalo do Amarante. Parnamirim registrou, segundo o IRP, cerca de 83 entradas para cada 10 pessoa que sairam deste município. São Gonçalo do Amarante, por sua vez, apresentou aproximadamente 90 entradas para cada 10 saídas de seus limites administrativos. No que diz respeito ao município de Natal, conforme o IRP, ele apresentou situação inversa ao obsevado nos municípios anteriores, visto que foi registrado aproximadamente uma entrada para cada 10 pessoas que sairam de seus limites. Em geral, o IRP apresentou-se favorável em 8 dos 10 municípios, sendo Natal e Ceará-Mirim aqueles em situação desfavorável ao apresentarem dificuldades em repor sua população.

No período seguinte (2005/2010) (Tabela 4), no que se refere as entradas, Parnamirim mesmo com um volume absoluto maior, registrou leve redução em sua participação no volume de imigrantes da RMN em relação ao período anterior, mas ainda concentra 47,66% destes. Em São Gonçalo do Amarante não foi diferente, visto que foi verificada redução em sua participação de 18,41% para 17,60%, mas permanece como o segundo município da periferia da RMN de maior preferência dos imigrantes intrametropolitanos.

A proximidade geográfica é um dos fatores que facilita não somente o transbordamento das atividades econômicas, mas também de pessoas da capital para esses municípios. O que comprova e/ou ratifica as tendências mais recentes acerca da migração como um fenômeno que se realiza cada vez mais a curtas distâncias (DOTA; QUEIROZ, 2019), além da ocorrência de movimentos pendulares (CUNHA; BAENINGER, 1999; SILVA, 2010).

Além do fator geográfico há, no caso de Parnamirim, uma dinâmica econômica interna pulsante que o torna um dos principais contribuintes no PIB (Produto Interno Bruto) do Rio Grande do Norte, equivalente a 7,3% (R$2.350.562 em 2010). O setor de atividade que mais se desenvolveu no município foi o terciário, devido a ampliação de serviços administrativos, comércio em geral, saúde, educação e lazer. Além disso, vale ressaltar a forte atratividade turística, com

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TABELA 4 – Volume de Imigrantes e Emigrantes Intrametropolitanos – RMN – 2005/2010

RMN Imigração (%) Emigração (%) Saldo IRP

Ceará-Mirim 1.825 3,76 1.889 3,89 -64 0,97 Parnamirim 23.163 47,66 3.512 7,23 19.651 6,60 Extremoz 1.976 4,07 642 1,32 1.334 3,08 Macaíba 3.643 7,50 1.626 3,35 2.017 2,24 Monte Alegre 901 1,85 782 1,61 119 1,15 Natal 4.334 8,92 35.374 72,79 -31.040 0,12 Nísia Floresta 1.805 3,71 862 1,77 943 2,09 São G. do Amarante 8.552 17,60 1.309 2,69 7.243 6,53

São José de Mipibú 1.968 4,05 2.143 4,41 -175 0,92

Vera Cruz 430 0,88 458 0,94 -28 0,94

TOTAL 48.597 100,00 48.597 100,00

Fonte: IBGE (Microdados do Censo Demográfico de 2010).

No que concerne as saídas, Natal permanece como a principal área de perda populacional, sendo responsável por quase 73% da emigração intrametropolitana registrada neste período (2005/2010). Enquanto isso, os demais municípios não ultrapassam 5%, com exceção de Parnamirim que foi responsável por 7,23%.

Feita a análise das entradas e saídas pode-se deduzir o comportamento dos saldos migratórios. Assim, no município de Parnamirim, por ter registrado maior volume de entrada (23.163) do que de saídas (3.512), o saldo migratório foi novamente o mais expressivo, inclusive superando o obtido no interregno anterior. Para Natal, por outro lado, observase aumento no saldo negativo, de 26.945 para -31.040. Portanto, os muncípios de Parnamirim (periferia) e Natal (núcleo) permanecem como destaques opostos, havendo nesse último interregno em estudo uma acentuação ou centralização entre esses dois municípios, em termos de ganhos e perdas, respectivamente. Quanto a São Gonçalo do Amarante, este continua com o segundo maior saldo positivo, e registrou um acréscimo de 232 migrantes em relação ao período anterior. Para os demais municípios, a maioria apresentou saldo positivo, mas São José de Mipibú e Vera Cruz passaram a fazer parte dos municípios com saldos negativos, juntando-se a Ceará-Mirim e Natal.

Por fim, no que tange ao IRP, verificou-se algumas mudanças. Embora Parnamirim e São Gonçalo do Amarante permaneçam com os maiores IRP, eles reduziram a capacidade de repor a população em relação ao período anterior, inclusive chegaram a apresentar IRP bem próximos um do outro. Parnamirim registrou 66 entradas para cada 10 pessoas que sairam. Já São Gonçalo do Amarante, registrou 65 entradas para cada 10 pessoas que sairam de seus limites

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administrativos. Desses dois municípios, São Gonçalo do Amarante foi o que sofreu maior redução em seu poder de reposição. Quanto a capital metropolitana, ela permanece com o menor IRP e com piora em relação ao interregno anterior.

Portanto, a partir do volume migratório é possível concluir que a dinâmica migratória no entorno metropolitano, ou melhor, na periferia é comanda pelos municípios de Parnamirim e São Gonçalo do Amarante, enquanto o núcleo metropolitanto se destaca pelas suas fortes perdas populacionais, o que contribui para a dificuldade em repor sua população ao longo do tempo.

Origem e destino dos migrantes intrametropolitanos – RMN – 2000 e 2010

Na discussão da Tabela 2 foi verificado que embora o fluxo do núcleo para a periferia esteja se arrefecendo em detrimento do fluxo periferia-periferia, esse ainda se destaca na RMN. Dessa maneira, será que os municípios de Parnamirim e São Gonçalo do Amarante estão exercendo maior atração em relação ao núcleo (Natal), e são responsáveis pelo destaque do fluxo periferia-periferia? No intuito de responder a essas indagações, faz-se a análise das matrizes migratórias (Matriz 1 e Matriz 2) para os períodos em estudo.

Dos mais de 20 mil imigrantes que residem no município de Parnamirim no ano 2000, mais de 18 mil estavam no município de Natal no ano de 1995 (Matriz 1). Esse foi o maior volume de migrantes recebido por Parnamirim no período e o mais expressivo da RMN. Outros municípios que apresentaram volumes significativos de migrantes enviados para Parnamirim foram Macaíba (588) e São José de Mipibu (498). Com isso, de início já é visível que Parnamirim exerce grande influência nos dois fluxos já mencionados.

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MATRIZ 1 – Origem e destino dos migrantes intrametropolitanos – RMN – 1995/2000 Origem em 1995 Destino em 2000 Cear á -Mir im P ar n amir im E xtre mo z Ma ca íba Mon te Ale g re Nat al Nísia Flo res ta S ão G . Am ar ant e S ão Jo de Mipib ú V er a Cr u z T o tal d e E mig rant e Ceará-Mirim 0 232 63 113 33 1.248 0 354 78 0 2.121 Parnamirim 14 0 9 332 151 1.327 182 195 227 55 2.492 Extremoz 170 117 0 8 0 227 9 239 0 0 770 Macaíba 0 588 34 0 49 605 42 329 167 137 1.951 Monte Alegre 10 152 0 0 0 166 0 59 96 50 533 Natal 995 18.694 1.532 1.701 435 0 647 6.666 706 206 31.582 Nísia Floresta 0 213 0 0 5 111 0 8 123 49 509 São G. do Amarante 69 101 21 157 78 436 0 0 9 11 882 São José de Mipibú 61 498 0 99 38 359 330 33 0 58 1.476 Vera Cruz 30 86 0 119 57 158 13 10 80 0 553 TOTAL DE IMIGRANTE 1.349 20.681 1.659 2.529 846 4.637 1.223 7.893 1.486 566 42.869 SALDO MIGRATÓRIO -772 18.189 889 578 313 -26.945 714 7.011 10 13 0

Fonte: IBGE (Microdados do Censo Demográfico de 2000).

Segundo Cunha (2016), além do contínuo desenvolvimento econômico interno de Parnamirim, a sua posição geográfica, devido a proximidade das indústrias presentes em municípios fronteiriços, lhe dá o carater de „cidade-dormitório‟, ou seja, muitas pessoas residem em Parnamirim, mas boa parte não trabalham dentro de seus limites administrativos. No que se refere as perdas (2.492) verificadas em Parnamirim em 2000, a maioria (1.327) tiveram como destino Natal.

São Gonçalo do Amarante também é responsável por significativa parcela dos fluxos de destaque na RMN. Esse município registrou o segundo maior volume de imigrantes da RMN (7.893) no período 1995/2000, a quase totalidade (6.666) veio de Natal (núcleo metropolitano). Os demais imigrantes que somam pouco mais de 1,2 mil pessoas, vieram principalmente de Ceará-Mirim (354), Macaíba (329), Extremoz (239) e Parnamirim (195). Das pessoas que saíram de São Gonçalo do Amarante (882), aproximadamente metade (436) se dirigiu para a capital metropolitana. A atração de São Gonçalo pode ser explicada por sua dinâmica

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econômica, visto que além de possuir uma indústria de cerâmica que se destaca, o mesmo é beneficiado com emprego e renda proporcionado pelo Distrito Industrial de Natal, o qual se encontra em seus limites administrativos (SILVA, 2010).

No que se refere ao núcleo metropolitano, as entradas (4.637) deveram-se especialmente as pessoas vindas de Parnamirim (1.327) e de Ceará-Mirim (1.248). Dentre os demais municípios destaca-se Macaíba, que enviou mais de 600 migrantes para a referida capital. Quando se verifica as saídas do núcleo metropolitano, que alcançaram mais de 30 mil pessoas, a maior parte (18.694) teve como destino Parnamirim e São Gonçalo do Amarante, que se destacou como segundo destino, ao atrair cerca de 6,7 mil migrantes, enquanto os outros sete municípios atraíram juntos pouco mais de 6 mil pessoas.

Portanto, no que diz respeito ao fluxo núcleo-periferia foi possível verificar uma forte interação entre Natal (núcleo) e os municípios de Parnamirim e São Gonçalo do Amarante, com significativas perdas do núcleo. Em consequência disso, os municípios de Parnamirim e São Gonçalo do Amarante são responsáveis pela dinâmica migratória do fluxo periferia-periferia, exercendo maior relação com os municípios vizinhos, especialmente com Macaíba.

Os dados para o fluxo migratório em 1995/2000 também podem ser observados de forma ilustrativa na Figura 2, que mostra a origem e o destino dos migrantes intrametropolitanos no formato de um Diagrama de Cordas. O referido diagrama apresenta simultaneamente as conexões existentes entre os municípios da RMN, onde cada município ocupa uma fração dos 360º do círculo, e o tamanho do fluxo representado por k, refere-se a mil migrantes. É possível verificar mais claramente na ilustração a concentração da dinâmica migratória da RMN nos municípios de Parnamirim, São Gonçalo do Amarante e Natal, entre os quais circulam os maiores contingentes de população.

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FIGURA 2 – Diagrama de Cordas com Origem e Destino dos Migrantes Intrametropolitanos – RMN – 1995/2000

Fonte: IBGE (Microdados do Censo Demográfico de 2000).

Na Matriz 2, referente ao interregno 2005/2010, Parnamirim ainda é o que mais recebe imigrantes, provenientes de Natal (20.387), São José do Mipibu (851) e Macaíba (564). A diferença em relação ao período anterior é que os dois primeiros municípios aumentaram suas perdas para Parnamirim, enquanto o último as reteve. Quanto ao destino dos emigrantes de Parnamirim, passa a ser Macaíba (1.278), apesar de Natal ainda atrair volume considerável (922).

Essa mudança pode estar relacionada, segundo Silva (2010), ao processo de periferização e expansão da mancha urbana dos municípios imediatamente próximos a Natal. Além disso, é válido ressaltar que a instalação do Distrito Industrial

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na periferia de Macaíba levou este município a concentrar, em 2007, quase 60% dos empregos formais da RMN, no setor industrial (SILVA, 2010).

MATRIZ 2 – Origem e destino dos migrantes intrametropolitanos – RMN – 2005/2010

Origem em 2005 Destino em 2010 Cear á -Mir im P ar n amir im E xtre mo z Ma ca íba Mon te Ale g re Nat al Nísia F lo res ta S ão G . Am ar ant e S ão Jo de Mi p ibú V er a Cr u z T o tal d e E mig rant e Ceará Mirim 0 309 212 12 80 1.030 30 205 11 0 1.889 Parnamirim 56 0 185 1.278 170 922 277 207 387 30 3.512 Extremoz 41 165 0 18 0 235 0 178 0 5 642 Macaíba 87 564 33 0 0 446 62 225 93 116 1.626 Monte Alegre 76 280 0 9 0 268 0 12 103 34 782 Natal 1.308 20.387 1.481 2.041 451 0 794 7.624 1.123 165 35.374 Nísia Floresta 0 268 33 0 79 266 0 26 190 0 862 São Gonçalo do Amarante 233 299 32 123 0 523 87 0 0 12 1.309 São José Mipibú 24 851 0 115 83 419 517 66 0 68 2.143 Vera Cruz 0 40 0 47 38 225 38 9 61 0 458 TOTAL DE IMIGRANTE 1.825 23.163 1.976 3.643 901 4.334 1.805 8.552 1.968 430 48.597 SALDO MIGRATÓRIO -64 19.651 1.334 2.017 119 -31.040 943 7.243 -175 -28 0

Fonte: IBGE (Microdados do Censo Demográfico de 2010).

Além disso, observou-se que o município de Natal permanece como principal fornecedor de migrantes para São Gonçalo do Amarante, inclusive aumenta os envios. Dentre os demais municípios, embora tenham reduzido suas perdas, Macaíba (225) e Ceará-Mirim (205) ainda apresentam destaque no volume de imigrantes para São Gonçalo do Amarante. Em relação às pessoas que emigram desse município (1.309), o principal destino foi Natal (523), seguido de Parnamirim (299).

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municípios, destaca-se o volume que migrou de São Gonçalo do Amarante e Macaíba para a capital metropolitana. Ao verificar as perdas da capital, Parnamirim (20.387) e São Gonçalo do Amarante (7.624) continuam como os principais destinos, mas vale ressaltar o aumento significativo da emigração de Natal para Macaíba, Ceará-Mirim e São José de Mipibú em relação ao período anterior.

Assim, é pertinente afirmar que os resultados ratificam o colocado por Patarra (2003), ao mencionar que as transformações dos espaços se dá ao mesmo tempo em que a distribuição espacial das atividades econômicas impulsionam a distribuição espacial da população. Em outras palavras, o processo de periferização através da expansão da mancha urbana de Natal com a ajuda da distribuição espacial das atividades industriais, não somente alcançam Parnamirim e São Gonçalo do Amarante, mas também geram ramificações que impulsionam a dinâmica migratória, com a integração dos municípios vizinhos, como Macaíba e Ceará-Mirim, que cresceram em termos de atratividade frente aos municípios mais dinâmicos, intensificando o fluxo periferia-periferia.

De forma mais ilustrativa, do mesmo modo que foi feito para a Matriz 1, a Figura 3 mostra as conexões migratórias entre os municípios da RMN no período de 2005/2010. As principais mudanças em relação ao período anterior apontam para uma dinâmica migratória menos concentrada, crescendo a participação dos demais municípios da periferia, especialmente aqueles situados no entorno dos polos de atração. Macaíba, por exemplo, passou a exercer grande força de atração em relação a Parnamirim, e com isso aproximou-se do total de entradas da capital metropolitana, como pode ser observado na Figura 3.

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FIGURA 3 – Diagrama de cordas com origem e destino dos migrantes intrametropolitano – RMN – 2005/2010

Fonte: IBGE (Microdados do Censo Demográfico de 2010).

RMN: Municípios de perda, rotatividade e retenção migratória

Ao classificar o potencial migratório dos municípios da RMN segundo o Índice de Eficácia Migratória (IEM) em áreas de perda, rotatividade ou retenção populacional (Figura 4), observa-se que no período de 1995/2000, apenas os municípios de Ceará-Mirim e Natal mostraram-se como áreas de perda populacional; São José de Mipibú e Vera Cruz como de rotatividade; enquanto os outros seis municípios (Parnamirim, São Gonçalo do Amarante, Macaíba, Extremoz, Monte Alegre e Nísia Floresta) foram caracterizados como áreas de retenção populacional.

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FIGURA 4 – Caracterização dos Municípios da RMN, segundo atratividade migratória – 1995/2000 e 2005/2010

Fonte: IBGE (Microdados dos Censos Demográficos de 2000 e 2010).

No período seguinte (2005/2010) é possível constatar visualmente algumas mudanças. O município de Ceará-Mirim deixa de ser caracterizado como área de perda e passa a ser de rotatividade migratória. Monte Alegre também passa a ser área de rotatividade, contudo se mostrava como área de retenção em 1995/2000. Os outros cinco municípios antes classificados como de retenção permanecem nessa classificação, assim como Natal permaneceu como área de evasão ou perda migratória.

Em síntese, a Figura 4 mostra que Natal se fortalece como centro da dinâmica migratória da RMN, mas ao configurar-se como principal fornecedor de emigrantes tanto para os municípios limítrofes quanto para aqueles mais distantes, como visto nos dados para o período 2005/2010. Sendo Natal a principal área de perda, todo o entorno caracteriza-se como área de retenção, com destaque para Parnamirim e São Gonçalo do Amarante. Ademais, conforme visto na Matriz 2 e Figura 3, estes últimos passam a apresentar maior envio de migrantes para os seus próprios limítrofes, contribuindo para a desconcentração gradual da dinâmica

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migratória na RMN, que pode ser identificado a partir da intensificação do fluxo periferia-periferia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo teve como principal objetivo analisar a migração intermunicipal na Região Metropolitana de Natal, durante os interregnos de 1995/2000 e 2005/2010. Ao procurar dimensionar, inicialmente, a RMN no contexto das três maiores RM‟s do Nordeste (RMF, RMR, RMS), observou-se que ela apresenta, em termos relativos, maior dinamicidade migratória, ao superar o fluxo intrametropolitano da RMS e RMF em 1995/2000, e se destaca ainda mais entre 2005/2010, dado que a intensidade do referido fluxo, proporcionalmente, é mais expressivo quando comparado as três metrópoles oficiais do Nordeste: RMF, RMR e RMS.

A dinâmica migratória na RMN também segue a tendência de periferização, observado em outros estudos para a RMSP, RMRJ, RMBH e RMF, cujo aumento absoluto de migrantes realizou-se no sentido „núcleo-periferia‟, notadamente de Natal em direção à Parnamirim e São Gonçalo do Amarante; e „periferia-periferia‟, caracterizado especialmente pela dinâmica entre Parnamirim, São Gonçalo do Amarante e Macaíba – com maior atração dos dois primeiros municípios.

Considerando a migração intrametropolitana por município, Parnamirim e Natal caracterizam-se por dinâmicas opostas, sendo o primeiro responsável pelos maiores ganhos líquidos e o segundo pelas maiores perdas líquidas na RMN. Outro município que se destaca é São Gonçalo do Amarante, cuja atração crescente lhe mantém com o segundo maior saldo positivo da RMN. Esses resultados garantem a Parnamirim e São Gonçalo do Amarante grande capacidade para repor as perdas, enquanto Natal é o município com maior dificuldade para tal reposição.

No que se refere a origem e o destino dos migrantes intrametropolitanos, constata-se a concentração das migrações entre a capital metropolitana e Parnamirim, visto que são o maior fornecedor e o maior recebedor de migrantes, respectivamente. Contudo, verifica-se também forte interação entre os municípios limítrofes, que contribui para a desconcentração da população, visto que tanto Natal, principal fornecedor, quanto Parnamirim, município de maior retenção, tem

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vizinho a Natal e situando-se também entre Parnamirim e São Gonçalo do Amarante, elevou consideravelmente o seu saldo migratório entre os períodos analisados. Portanto, o que se verifica é que a população dos municípios vizinhos tende a integrar gradualmente a dinâmica antes concentrada nos municípios mais centrais.

Nesse sentido, os resultados desse estudo situam-se no contexto geral das migrações, ou melhor, da tendência verificada em outras metrópoles do país, que a partir dos anos de 1980 passaram a realizar-se cada vez mais a curtas distâncias, como é o caso da periferização observada na RMN.

A expansão urbana e os fluxos migratórios da RMN estão em grande medida associados a articulação do mercado de trabalho, isto é, a distribuição espacial das atividades econômicas. Assim, essa descentralização populacional se dá ao mesmo tempo em que os serviços (transporte, saúde, educação e lazer) e oportunidades de trabalho e de moradia se desenvolvem em cidades periféricas.

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