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A dinâmica demográfica e os direitos humanos

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Academic year: 2021

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os direitos humanos

O tema central do XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais da ABEP foi “As desigual-dades sociodemográficas e os direitos humanos no Brasil”. Este tema justifica-se, em primeiro lugar, porque a ABEP tem se firmado como uma associação que pesquisa os problemas sociais e demo-gráficos do Brasil numa perspectiva de direitos. Em segundo lugar, porque, em 2008, a Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU completou 60 anos, constituindo-se no marco institucional mais importante da instauração e valorização dos direitos individuais, da democracia e do desenvol-vimento social e econômico. Em 2008, comemoraram-se os 60 anos da Declaração Universal dos Di-reitos Humanos, os 40 anos da garantia do direito ao planejamento familiar, os 25 anos do PAISM e os 20 anos da Constituição Cidadã. Neste contexto, o XVI Encontro de Estudos Populacionais da ABEP constituiu-se em um espaço de apresentação e discussão de trabalhos científicos e acadêmicos que, reunidos, formam uma contribuição atualizada da demografia para a formulação de políticas públi-cas e para a plena efetivação dos direitos humanos no Brasil.

Desde a instauração da Declaração Universal, em 1948, vários foram os momentos e as ini-ciativas realizados, nos âmbitos internacional e nacional, no sentido do avanço dos direitos humanos que se relacionam especificamente com a dinâmica demográfica:

A Conferência Mundial de Direitos Humanos de Teerã, em 1968, aprovou o Pacto •

Internacional de Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (DESC).

Também em 1968 incluiu-se, pela primeira vez, em documento internacional, o direito •

humano básico de decidir, livre e responsavelmente, o espaçamento e o número de filhos desejados.

A Conferência Mundial de Direitos Humanos de Viena, em 1993, assegurou a •

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abrindo espaço para o surgimento de outros direitos, como os sexuais e reprodutivos, e o direito à cidade.

A Conferência Internacional de População e Desenvolvimento (Cairo/1994) e a IV •

Conferência Internacional das Mulheres (Pequim/1995) deram um passo decisivo para consolidar os direitos sexuais e reprodutivos, a equidade de gênero e o empoderamento das mulheres.

Os direitos reprodutivos são o “filho caçula” dos direitos humanos. •

No Brasil, a democratização dos direitos humanos e a construção da cidadania têm uma tra-jetória complexa e não apresentaram uma evolução linear. Em 1822, o país herdou do período co-lonial uma população analfabeta e uma economia com base no trabalho escravo, na monocultura e no latifúndio. O fim do trabalho escravo (1888) e a instauração da República (1889) garantiram al-guns direitos formais, mas não a conquista de direitos reais. Durante a República Velha (1889-1930), havia certa liberdade política, mas não política social. No governo Vargas (1930-1945), surgiram as primeiras tentativas de se construir uma política social e trabalhista, mas houve um recuo das liber-dades democráticas. Durante a “República Populista” (1945-1964), houve avanços políticos e sociais, mas apenas 20% da população estavam aptos a votar e a cidadania social restringia-se a algumas categorias de trabalhadores cobertas pela CLT. No Regime Autoritário (1964-1985), observaram-se avanços das políticas trabalhistas, educacionais e previdenciárias, mas houve recuo dos direitos po-líticos. Com o processo de redemocratização, o Brasil avançou na instauração dos direitos humanos em vários momentos e em várias frentes:

Lei da Anistia, em 1979 e as eleições diretas para governadores, em 1982. •

Programa de Assistência à Saúde Integral da Mulher – PAISM, lançado em 1983 e que •

representou um avanço no sentido de se garantir a autodeterminação reprodutiva. Promulgação da Constituição Federal, em 1988, conhecida como “Constituição Cidadã”, •

que instituiu um marco de direitos para as políticas públicas nacionais, numa perspectiva universalista.

Nas últimas duas décadas, inegavelmente, o país apresentou ganhos na área de saúde, edu-cação, previdência, habitação, saneamento etc. Houve redução das taxas de mortalidade, especial-mente da infantil, e um aprofundamento do processo de transição demográfica. O Brasil tem, hoje em dia, uma população mais urbanizada, mais escolarizada, com maior inserção da mulher no mer-cado de trabalho, com mais anos de sobrevida e menores taxas de dependência demográfica. Con-tudo, o grau de acesso aos direitos humanos no país é muito diferenciado. O Brasil possui grandes desigualdades de classe, de gênero, de cor/”raça”, de geração, de distribuição espacial e regional. As desigualdades sociodemográficas fazem com que exista um abismo enorme entre as populações

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pobre e rica, em todos os seus recortes transversais. Entender o inter-relacionamento entre a dinâ-mica demográfica e as condições de vida da população é um primeiro passo para a formulação de políticas públicas que visem à redução das iniquidades sociais e econômicas.

Atualmente o Brasil passa por uma forte mudança em sua estrutura de idade, com a mudan-ça relativa dos seus grupos etários: crianmudan-ças, adolescentes, jovens, adultos e idosos. Passa também por um processo de mudança na distribuição relativa de renda e nos padrões de consumo. Sob vários aspectos, as mudanças demográficas influenciam a dinâmica econômica, social e as políticas públicas, conforme se observa na discussão a seguir. A sessão de abertura do XVI Encontro da ABEP convidou ilustres personagens do cenário nacional para que discutissem a interface entre demogra-fia e direitos humanos no Brasil.

Plenária de Abertura do XVI Encontro da ABEP: as desigualdades sociodemográficas e os direitos humanos no Brasil

Allana Armitage, representante do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) no Bra-sil, iniciou a sessão plenária mencionando os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e, em seguida, elogiou a ABEP pela escolha do tema central do XVI Encontro. Entre as metas da De-claração Universal, estão a erradicação da pobreza, o combate a todas as formas de discriminação, o fim da violência e a promoção do bem-estar do ser humano. No campo da regulação da fecundi-dade, ela lembrou que faz 40 anos que líderes de todo o mundo reconheceram o direito humano básico que os indivíduos têm de determinar, livre e responsavelmente, o número e o espaçamento de suas crianças. Quatro décadas depois, os métodos modernos de contracepção continuam fora de alcance para centenas de milhões de mulheres, homens e pessoas jovens. Em 2008, ao comemorar o Dia Mundial de População, o UNFPA resgatou o debate sobre a garantia do direito ao planejamento familiar, com o tema: “Planejamento familiar: é um direito, vamos fazer disso uma realidade”. Atual-mente, estima-se que 200 milhões de mulheres em todo o mundo desejam adiar ou evitar a gesta-ção, mas não estão utilizando planejamento familiar. No Brasil, segundo dados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher (PNDS-2006), do total de nascimentos ocorridos nos últimos cinco anos, apenas 54% foram planejados para aquele momento. Entre os 46% restantes, 28% eram desejados para mais tarde e 18% não foram desejados. A boa notícia é que aumentou a taxa de prevalência do uso de contraceptivos e diminuiu a diferença entre as taxas de fecundidade observada e desejada.

Armitage ressaltou que, cada vez mais, as mulheres estão conseguindo alcançar suas inten-ções reprodutivas. Mas, mesmo no Brasil, existe uma demanda não atendida em termos de

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contra-cepção. Apesar das necessidades não atendidas e da expectativa de aumento considerável da de-manda por planejamento familiar, os recursos para tanto têm declinado ao longo dos últimos anos. A falta de recursos ameaça os esforços mundiais para melhorar a qualidade de vida dos indivíduos, assim como para promover o desenvolvimento. Como conseqüência da falta de recursos para o pla-nejamento familiar, há um número crescente de gestações não desejadas, abortos inseguros e riscos para a vida de mulheres e crianças. A garantia de acesso a planejamento familiar voluntário poderia reduzir um terço das mortes maternas e até 20% das infantis. Pesquisadores estimam que o acesso ao planejamento familiar poderia salvar a vida de aproximadamente 175 mil mulheres por ano. O planejamento familiar é essencial para dar poder às mulheres, para a conquista da igualdade e de melhores condições de vida. Quando uma mulher tem como planejar sua família, ela consegue pla-nejar o resto de sua vida. O planejamento também permite devotar uma parte maior dos recursos à educação e à saúde das crianças, o que beneficia famílias, comunidades e nações, em conformidade com a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Maria Luiza Marcílio, Presidente da Comissão de Direitos Humanos da USP, discursou sobre os fundamentos éticos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e sua relação com a univer-sidade. Marcílio destacou que a publicação da Declaração, em 1948, teve impactos significativos na sociedade e no ensino superior. Contudo, ainda vivemos uma crise de sentidos e uma ausên-cia de valores que nos desafiam, frente aos avanços tecnológicos recentes. A festa dos 60 anos da Declaração dos Direitos Humanos é momento de lembrar a necessidade de mudanças na ordem instituída e reforçar o empenho pela paz, respeito e dignidade humana. A cultura do consumo e do individualismo, propagada por setores da mídia, são propostas inadequadas para nossa sociedade. A expositora afirmou que existe uma fragmentação do saber e que a tecnologia pode ser vista tan-to como destruidora da humanidade e da natureza como também uma possibilidade de evolução. A globalização, por sua vez, trouxe consigo novos comportamentos sociais, além do aumento das desigualdades, do desemprego e do reforço da migração para as cidades sem uma adequada urba-nização, o que levou ao aumento da favelização. O desafio social que se impõe é o de assegurar que a globalização torne-se algo positivo, inclusivo e justo. A meta é o bem comum, e esta deveria ser a razão primeira das autoridades.

Ela ressaltou que a paz vem depois do amor e da solidariedade, não após a guerra. O papel cívico da democracia e seus valores sociais são: verdade, liberdade, justiça e fraternidade. Dito isso, a expositora destacou que a universidade deve estar compromissada com o desenvolvimen-to humano e que a pesquisa e o ensino devem exercer sua função social. A universidade tem responsabilidades para com o bem comum. A base dos direitos humanos deve ser a dignidade

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humana, buscando a promoção da paz em escala planetária. São estes os valores e as referências que devem guiar a universidade. A construção de uma ética global e de uma civilização solidária deve ser uma ação orientada para a busca do bem comum. Portanto, os princípios estabelecidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos são o fundamento e a esperança de uma universi-dade e de um mundo melhor.

Mássimo Livi Bacci – Professor da Facoltá di Scienze Politiche Universitá di Firenze e Senatore della Republica de Itália – refletiu sobre a relação entre demografia e direitos humanos, iniciando sua exposição com uma recordação sobre a luta histórica pelos direitos humanos na América Latina. Ele fez referência ao padre Antônio Vieira e sua luta em Belém do Pará, no século XVII, pelos direitos dos índios, assim como a Bartolomeu de Las Casas, que fez o mesmo um século antes. Mostrou que a demografia está relacionada aos direitos humanos e ao estudo dos comportamentos individuais (re-produção, união conjugal, migração etc.), além de com as consequências desses comportamentos. Afirmou que as políticas públicas devem fortalecer as liberdades individuais e garantir a formação do capital humano (saúde, educação e mobilidade). Uma sociedade na qual estas liberdades individuais são reprimidas não desenvolve capital humano.

Livi Bacci observou que a universalização dos direitos vem crescendo nos últimos dois sécu-los, mas que ainda há desigualdades a ser enfrentadas. A saúde, as uniões conjugais, o direito de ter ou não filhos, além de quando e quantos filhos se quer ter e a mobilidade social são pré-requisitos para a construção de uma sociedade desenvolvida. Ainda existem lacunas entre as necessidades coletivas e os direitos individuais, como, por exemplo, no direito à reprodução, já que a autodeter-minação reprodutiva é um direito humano fundamental. Contudo, as sociedades ainda apresentam diferenças internas em diferentes áreas (mortalidade, saúde e reprodução).

Livi Bacci concentrou o restante de sua fala na questão do direito à mobilidade (migração). Segundo ele, embora as migrações estejam asseguradas pela maioria das constituições em todo o mundo, as migrações internacionais não são reconhecidas como um direito. Isso leva à quebra de um direito humano fundamental, que é a liberdade de ir e vir, pois, nesta área, as razões do Estado prevalecem sobre as individuais. Pode parecer irônico, mas o homem moderno tem menos direito de mover-se dentro do continente do que os primitivos que habitaram a América. Nos países desenvol-vidos, a massa de migrantes irregulares cresce por conta de questões econômicas, demanda interna e alta proporção da economia informal. Embora tenha havido um aumento da migração ilegal para os Estados Unidos e para a Europa, os países receptores de migrantes não desejam possuir muitos migrantes ilegais em seus territórios. Assim, há uma impotência para solucionar a questão e os direi-tos humanos dos migrantes, que são cada vez mais restringidos.

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Na legislação atual da União Europeia surgem dois pontos contraditórios. Não é possível a legalização massiva dos imigrantes ilegais, porém também não o é sua expulsão em massa. Recen-temente, o governo italiano propôs leis que tornam a imigração um crime, e o imigrante pode ser preso e expulso. A expulsão massiva traria grandes problemas para os imigrantes e também para a economia do país, pois os migrantes ilegais realizam atividades econômicas em setores importantes da economia. A sociedade italiana determina que a presença ilegal de um indivíduo estrangeiro constitui um crime que deve ser punido; porém essa mesma sociedade necessita dos serviços pres-tados por esses migrantes ilegais. O senador finalizou destacando que, em alguns países da Europa, há uma paranoia quanto à imigração ilegal e, sob esta circunstância, os direitos humanos são direta-mente atingidos.

Rubens Ricupero – Embaixador, ex-ministro da fazenda e pesquisador da FAAP e do Instituto Fernando Braudel de Economia Internacional, iniciou a exposição agradecendo a oportunidade de interagir com a comunidade demográfica e ressaltou a importância da ABEP e do UNFPA para o estu-do e o combate às desigualdades sociais e a defesa estu-dos direitos humanos. Em seguida, referinestu-do-se às migrações internacionais, lembrou que existe um Tratado de Direitos Humanos sobre direito dos migrantes, mas este não foi assinado por muitos países ocidentais. Centrou o restante de sua fala no combate as desigualdades sociais.

As projeções populacionais da ONU estimam que o mundo terá cerca de 9 bilhões de pesso-as até 2050, sendo que 80% do crescimento no período estarão concentrados em dez países; todos, exceto os Estados Unidos, pobres. Ricupero ressaltou que a primeira metade do século XX foi marca-da por uma época de grandes utopias racistas (nazismo e fascismo) e sociais (comunismo), com um saldo terrivelmente negativo para a sociedade. A segunda metade caracterizou-se por uma época de luta por quatro causas: direitos humanos, meio ambiente, igualdade de gênero e o desenvolvimento integral dos seres humanos. A desigualdade é o maior problema atual do Brasil, com raízes histó-ricas profundas. Ele lembrou que a sociedade brasileira não soube lidar com a herança escravista. Supunha-se que o problema se resolveria com o progresso; isso, entretanto, não ocorreu. Entre 1870 e 1980, o Brasil foi o campeão do crescimento econômico no mundo (depois do Japão); entretanto, esse crescimento não foi seguido de desenvolvimento social. A demografia é um instrumento im-portante para a compreensão dessas desigualdades e para o desenho de políticas públicas voltadas para a universalização dos direitos humanos em todos os seus aspectos e dimensões.

Ricupero ressaltou que tem havido alguns avanços no combate à desigualdade no Brasil, por meio de políticas de preços, como a implantação do salário mínimo, políticas compensatórias via transferências governamentais e políticas estruturais, como o investimento em educação. A classe

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média brasileira cresceu nos últimos anos, e cerca de 20 milhões de cidadãos melhoraram o nível de consumo. A publicação da PNAD-2007, do IBGE, pela primeira vez, mostra uma melhoria significativa na redução do índice de Gini. Entretanto, a desigualdade é um dos problemas mais difíceis de ser enfrentados e, por isso, deveria ser o centro das atenções das pesquisas e do ensino nas universida-des. O embaixador ressaltou que, no Brasil, as desigualdades sociais traduzem-se em desigualdades espaciais. Por isso, a região Nordeste merece políticas específicas. O Nordeste, por exemplo, pode ser a região mais prejudicada pelas mudanças climáticas.

Além das desigualdades de renda e regionais, as desigualdades de gênero marcaram a his-tória brasileira e são as que deixaram marcas mais profundas no país. Porém, o avanço social das mulheres no campo da educação e no mercado de trabalho foi um marco das últimas décadas. A emancipação e a autonomia do sexo feminino são uma das maiores conquistas dos direitos huma-nos no Brasil e uma esperança de melhoria da sociedade como um todo. Citando o filósofo Norberto Bobbio (senador vitalício na Itália), Ricupero explicou por que ainda se justifica a dicotomia entre direita e esquerda no campo político. A direita enxerga a injustiça e a desigualdade como imutáveis, podendo ser amenizadas, lamentadas, mas não erradicadas. Já a esquerda enxerga a injustiça e a de-sigualdade como produtos dos homens e passíveis de mudanças. Por fim, o ex-ministro manifestou sua crença na possibilidade do avanço dos direitos humanos e na construção de um país mais justo para homens e mulheres, das atuais e das futuras gerações.

O último expositor, George Martine, presidente da ABEP, destacou a estreita conexão entre direitos humanos, demografia e direitos sociais. Argumentou que as análises estatísticas constituem um instrumento básico para a promoção e universalização dos direitos humanos. Opinou que a co-munidade científica da demografia é uma das mais bem posicionadas, por formação e por interesse temático, para definir e utilizar informações sociodemográficas que sirvam para pressionar, mobili-zar e exigir uma governança mais transparente e responsável. Por isso, os demógrafos devem estar comprometidos com a questão social: os pesquisadores não podem ser meros espectadores, e sua postura e seus valores devem ser objeto de escrutínio explícito.

Um dos aspectos centrais para muitas discussões sobre direitos humanos, inclusive neste Encontro da ABEP, diz respeito às desigualdades – desigualdades de recursos, de oportunidades, de voz, de tudo. Somos todos a favor da redução das desigualdades. Grande parte delas é produzida por desvantagens estruturais históricas, ou por desvios e abusos do poder político. Mas nem todas as desigualdades são produtos da exploração de uns pelos outros, ou de políticas injustas. Existem situações em que os direitos de uns infringem os direitos de outros. Quanto à questão populacional, existem vários exemplos, alguns mais, outros menos conhecidos, deste trade-off. A defesa imediata

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e bem-intencionada dos direitos de uma parcela da população pode significar desvantagens para o conjunto da população. Como demógrafos, nós temos a competência e a responsabilidade de colocar ordens de magnitude e pesos relativos na balança, a fim de conferir maior objetividade aos debates sobre prioridades e beneficiários.

Por isso, a pesquisa social deve interagir mais diretamente com a vida política; os cientistas sociais devem difundir os resultados de seus trabalhos de modo a favorecer a transparência e sus-citar o debate político e, assim, ajudar a promover políticas mais adequadas. Neste sentido, um dos compromissos assumidos pelas últimas diretorias da ABEP foi ampliar e aprofundar nossa interface com a mídia e a sociedade, não somente para dar maior visibilidade a nosso trabalho e, desta forma, ampliar nosso mercado de trabalho, mas também para exercer um papel mais efetivo nas decisões importantes da sociedade, seja no setor privado, seja no setor público.

Em suma, a reflexão sobre o papel do demógrafo no que se refere a direitos humanos reforça a importância do compromisso social e político, complementado pela busca permanente de maior objetividade na identificação de necessidades relativas. O cientista social deve assumir seus valores e trabalhar com eles. A valorização dos demógrafos depende de seu compromisso social e político com os avanços da sociedade.

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