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Formação humana em música: um estudo com integrantes de um grupo musical de RIACHO DE SANGUE/RN

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Academic year: 2021

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Escola de Música

Licenciatura em Música

Mário Alexandre de Lima

FORMAÇÃO HUMANA EM MÚSICA: UM ESTUDO COM INTEGRANTES DE UM GRUPO MUSICAL DE RIACHO DE SANGUE/RN

Natal/RN

2019

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Escola de Música

Licenciatura em Música

Mário Alexandre de Lima

FORMAÇÃO HUMANA EM MÚSICA: UM ESTUDO COM INTEGRANTES DE UM GRUPO MUSICAL DE RIACHO DE SANGUE/RN

Monografia apresentada ao curso de Licenciatura Plena em Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN – como requisito parcial para a obtenção do Grau de Licenciado em Música.

Orientador: Prof. Ms. Gleison Costa dos Santos

Natal/RN

2019

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FORMAÇÃO HUMANA EM MÚSICA: UM ESTUDO COM INTEGRANTES DE UM GRUPO MUSICAL DE RIACHO DE SANGUE/RN

Monografia apresentada ao curso de Licenciatura Plena em Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN – como requisito parcial para a obtenção do Grau de Licenciado em Música.

Aprovado em 20/11/2019.

BANCA EXAMINADORA

PROF. MS. GLEISON COSTA DOS SANTOS (UFRN) (ORIENTADOR)

PROF. MAURÍCIO ESLABÃO DA FONSECA (UFRN) (MEMBRO DA BANCA)

PROF. DR. TIAGO DE QUADROS MAIA CARVALHO (UFRN) (MEMBRO DA BANCA)

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Dedico a toda minha família, a minha mãe Maria das Dores por todo esforço ao me criar sozinha com a ajuda do meu avô Geraldo Severino que considero como meu pai, aos meus tios que sempre foram como irmãos tanto para mim como para minha irmã Mariana.

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Agradeço primeiramente a Deus por tudo! A todos os meus ancestrais pelo dom da vida!

Agradeço ao meu orientador Gleison Costa Dos Santo por toda paciência e disposição. Agradeço a todos da Banda Extrutura que fazem parte da minha História e das minhas conquistas.

Agradeço a Francisco das Chagas por todo apoio no início da banda Extrutura, emprestando instrumentos e transmitindo seus conhecimentos, permitindo que não só eu, mas como todos os outros participantes pudéssemos sonhar com um futuro.

Agradeço todo o esforço da minha comadre Rosilma, que no ano de 2008 comprou um teclado e me emprestou por muitas vezes, sem falar por todo apoio e incentivo durante todos esses anos.

Agradeço a João José que foi meu primeiro aluno e incentivador para que eu me tornasse professor de música.

Agradeço ao meu primo Almir por me dar muita força no início do curso permitindo que eu pudesse me deslocar para casa depois das aulas da faculdade.

A todos meus amigos que conquistei ao longo dos tempos e que me apoiaram durante esses anos.

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Este trabalho tem como intuito mostrar como a música pode auxiliar na formação humana, como uma banda formada por participantes na fase da adolescência pode construir valores para toda vida. Uma preparação que pode formar um ser crítico que está ciente de seu papel no mundo, que possa construir seu estilo de vida livremente, tendo autonomia para organizar maneiras de existir e ser responsável por suas ações. A elaboração desse trabalho deu-se a partir das consultas a literatura comparadas às narrativas dos participantes da banda Extrutura, Grupo musical formado na zona rural da cidade de Macaíba-RN no ano de 2007. Este trabalho traz um pouco da história da banda e descreve o contexto de origem e atuação, como a importância da música na vida de cada integrante da banda e os caminhos percorridos pelos participantes com o fim do grupo musical. O objetivo geral é compreender a formação humana no ambiente de um grupo musical. Foi utilizado como procedimento metodológico uma abordagem de pesquisa qualitativa através de entrevistas semiestruturadas para coleta de dados para este trabalho.

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This paper aims to show how music can help in human formation, as a band formed by participants in adolescence can build values for life. A preparation that can form a critical being who is aware of his role in the world, who can build his lifestyle freely, having the autonomy to organize ways of existing and be responsible for his actions. The elaboration of this work took place from the consultations in the literature compared to the narratives of the participants of the band Extrutura, a musical group formed in the rural area of Macaíba-RN in 2007. This work brings a little of the history of the band and describes the context of origin and performance, such as the importance of music in the life of each band member and the paths taken by the participants with the end of the musical group. The overall goal is to understand human formation in the environment of a musical group. A qualitative research approach was used as methodological procedure through semi-structured interviews to collect data for this work.

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1. INTRODUÇÃO... 9

1.1 Metodologia... 10

2. FORMAÇÃO EM MÚSICA NO DISTRITO DE RIACHO DO SANGUE: aspectos históricos, contextualização e características atuais...12

3. FORMAÇÃO HUMANA E EM MÚSICA: perspectivas a partir da literatura...17

4. BANDA EXTRUTURA: uma análise sobre as narrativas e experiências de formação dos integrantes... 23

4.1 O primeiro contato com a música... 23

4.2 Sonhos e expectativas...26

4.3 Contribuição na formação... 28

4.4 Mudanças ao longo do tempo...31

5. CONCLUSÃO...34

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1. INTRODUÇÃO

Durante a formação de um indivíduo como cidadão, existe vários processos e diferentes situações que podem ajudar no desenvolvimento da educação. Este trabalho tem como intuito mostrar como a música pode auxiliar na formação humana, tendo como foco as perspectivas da literatura, comparando com as narrativas dos integrantes da banda Extrutura. O grupo musical que nasceu na comunidade de Riacho do Sangue, zona rural do município de Macaíba-RN, no ano de 2007 e que foi criado quando os participantes estavam na fase da adolescência.

No decorrer desse trabalho será feita uma descrição do contexto em que a banda surgiu, os caminhos que cada participante tomou e as contribuições que a banda proporcionou para cada integrante.

O interesse no tema surgiu pelo meu anseio em saber como a experiência de participar de uma banda na adolescência pode ser significativa na vida de um indivíduo. A banda Extrutura me proporcionou um ambiente de experimentação que estimulou um maior envolvimento com a música, antes eu já possuía interesse pela música, porém a banda me fez seguir no mundo da música, guiando-me até a pessoa que sou hoje.

As narrativas foram extraídas por meio de entrevistas semiestruturadas feitas por mim com os demais participantes da banda. Descreverei cada participante, porém optei pelo uso de pseudônimos parar manter o anonimato dos integrantes. Mano, 28 anos, técnico em informática, trabalha em um provedor de internet, atua como vocalista do grupo de Forró Solteiro Sossegado e também participa do ministério Nova Unção da igreja católica como violonista, produtor e cantor. Tom, 28 anos, formado em análise e desenvolvimento de sistemas, trabalha em uma empresa de desenvolvimento de softwares, atualmente não tem nenhum trabalho voltado para música apenas toca em casa. Moreno do Riacho, 26 anos, formado em educação física, atualmente estuda gestão de políticas públicas, atua como agente socioeducativo e no momento não participa de nenhum grupo musical. Tata, 30 anos, possui curso de mecânica, de brigada de incêndio e curso de vigilante,

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trabalha como conferente de veículos de uma grande concessionária do estado do RN, no momento não participa de nenhum grupo musical. Outro participante da banda que não pôde contribuir com a pesquisa por incompatibilidade de horários foi Jhonas Brother. Na época da formação da banda Jonas era o mais jovem da turma e logo teve outros interesses longe da música, ele foi quem teve menos tempo ligado com a banda, hoje ele cursa ciências da computação e não exerce nenhuma atividade musical. Algumas pessoas que ingressaram na banda com o passar do tempo assim como pessoas que contribuíram no processo de formação da banda também foram citadas no trabalho com pseudônimos. Lheyla Vanuty; Coroa; Negão; Chico bass; Koy; Zilma.

Um dos propósitos da pesquisa é saber o quanto significativo a banda Extrutura foi na formação dos seus participantes, e como essa relação com a música ajudou na construção dos cidadãos que se formaram a partir da banda.

1.1 Metodologia

A pesquisa foi realizada através de entrevistas realizadas com membros da banda Extrutura, em busca de analisar aspectos sentimentais, sensações, pensamentos e comportamentos passados, com propósito de descobrir o que os participantes da banda tem em mente sobre a importância da música na sua construção de vida. Marconi e Lakatos (1982) citam alguns tipos de objetivos para entrevista como, por exemplo:

a) Averiguação de "fatos". Descobrir se as pessoas que estão de posse de certas informações são capazes de compreendê-las. b) Determinação das opiniões sobre os "fatos". Conhecer o que as pessoas pensam ou acreditam que os fatos sejam. c) Determinação de sentimentos. Compreender a conduta de alguém através de seus sentimentos e anseios. d) Descoberta de planos de ação. Descobrir, por meio das definições individuais dadas, qual a conduta adequada em determinadas situações, a fim de prever qual seria a sua. As definições adequadas da ação apresentam em geral dois componentes: os padrões éticos do que deveria ter sido feito e considerações práticas do que é possível fazer. e) Conduta atual ou do passado. Inferir que conduta a pessoa terá no futuro, conhecendo a maneira pela qual ela se comportou no passado ou se comporta no presente, em determinadas situações. f) Motivos conscientes para opiniões, sentimentos, sistemas ou condutas. Descobrir quais fatores podem influenciar as

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opiniões, sentimentos e conduta e por quê. (MARCONE e LAKATOS 1985, p. 196).

Entre os tipos de entrevista apresentados por Gil (2008) estão a informal, focalizada, por pauta ou semiestruturada e formalizada. A escolhida foi a do tipo semiestruturada, entrevista com um roteiro, porém feita como uma conversa, um bate-papo, com o objetivo básico a coleta de dados. Com propósito de obter uma visão geral do problema procurado, bem como identificar certos aspectos da personalidade do entrevistado.

As entrevistas foram feitas individualmente com cada participante da banda, o roteiro das entrevistas está nos anexos. Os entrevistados assinaram um termo permitindo a coleta das informações, bem como a gravação do áudio da conversa. O termo consta nos apêndices desse trabalho, as gravações foram transcritas por mim e estão em anexos. Os dados foram categorizados através de três tópicos: Formação Musical; A banda e Formação Humana e, foram analisados através de uma triangulação entre as entrevistas e consultas a literatura.

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2. FORMAÇÃO EM MÚSICA NO DISTRITO DE RIACHO DO SANGUE: ASPECTOS HISTÓRICOS, CONTEXTUALIZAÇÃO E

CARACTERÍSTICAS ATUAIS

A música faz parte da vida da maioria dos adolescentes. Essa pode ser a fase em que as pessoas conseguem maiores experiências musicais por terem mais disponibilidade do que quando chegarem na vida adulta e por já conseguirem ter acesso a veículos de comunicação sem muito auxilio dos pais, diferente da fase da infância. Os estilos e ritmos musicais podem mudar o humor e o estado emocional do ouvinte. No período da juventude é comum a formação de bandas entre grupos de amigos e colegas de escola. Em meio as confusões que os adolescentes passam nessa fase, a música se torna um meio de se expressar.

Na comunidade de Riacho do Sangue, zona rural de Macaíba/RN, não foi diferente. No ano de 2007, o grupo era formado por Mano, Jhonas Brother, Tata, Moreno do Riacho, Tom e Mário Alexandre. Todos, com exceção de Tata, frequentavam a Escola Municipal José Mesquita, porém, por ser irmão de Moreno do Riacho, ele sempre estava em meio ao grupo. Uma parte do grupo teve a oportunidade de participar da escola de música de Macaíba, escola Pública Municipal, porém na ocasião a vontade de tocar era bem maior que as habilidades e conhecimentos musicais do grupo.

Apesar do ano ser 2007, na zona rural ainda não se tinha acesso à internet, os veículos de comunicação eram basicamente rádio e televisão. Com a grande influência da MTV e como as revistas de cifras que possuíam abordava basicamente rock nacional anos 80 e 90, a banda surgiu com a ideia de tocar pop rock, tendo como grandes influencias bandas como: Engenheiros do Hawaii, Legião Urbana e Biquíni Cavadão, porém, ouviam-se basicamente todas as bandas de rock anos 80. Na época, era o auge do aparelho de DVD e sempre passava um rapaz que vendia cópias, além disso, poderiam ser comprados no centro da cidade. Os DVDs eram praticamente o “You tube” da época.

A formação da banda se deu através de encontros e conversas na escola, tivemos muita ajuda e incentivo da diretora da Escola José Mesquita na época, dando todas oportunidades possíveis e cedendo espaços da escola

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para fazermos atividades. Como não existia recursos nenhum para comprar instrumentos, a princípio se tinha a ideia de poder criar os próprios instrumentos para poder praticar pois, existia uma ideia de fazer uma apresentação numa feira de ciências da escola. No primeiro projeto foi montado um amplificador que foi feito com peças de um rádio velho, depois surgiu a ideia de criar um baixo elétrico, porém esse projeto nunca foi aprimorado, devido a falta de recurso para o aprimoramento.

Depois de conversas diárias e sempre indo para casa de Mano que mora do lado da escola e que possuía uma bateria com os tambores feitos de lata, foi criada a formação da banda, com Tom na bateria, Moreno do Riacho como vocalista, Tata no violão, Jhonas Brother na guitarra, Mano no contra-baixo e Mário Alexandre no teclado. Depois de várias ideias de nomes para a banda, Koy, irmão de dois componentes do grupo, sugeriu o nome de: Banda Estrutura, pois estrutura era o fator mais ausente para o grupo no momento, o nome foi bem aceito pelos integrantes, porém foi decidido adotar a escrita “Extrutura” pois o grupo achou que dessa forma usando a letra “X” no lugar da letra ‘S” o nome ficaria mais impactante.

Na comunidade já existia uma banda de forró (forrozão grão de areia) com uma turma mais experiente que, apesar de tocar forró, serviu como inspiração para nossa banda. Como ponto importante e servindo de apoio inclusive, surgiu a iniciativa de Chico Bass, baixista da banda de forró, que deu várias aulas para os integrantes da banda além de emprestar por muito tempo os instrumentos.

O primeiro show da banda Extrutura ocorreu no final de outubro de 2007. O nome do evento era “Halloween”, que ocorreu no centro comunitário de Riacho do Sangue. Esse evento tinha como uma de suas ideias tentar suprir um espaço deixado por um outro evento que já não existia na comunidade, chamado “Noite Cultural”, criado por uma geração anterior de jovens. Além de ser um lugar onde nós podíamos tocar rock, também existia um espaço para apresentações culturais, além de um concurso de dança que criou várias disputas acirradas. O Halloween foi um evento pioneiro na perspectiva de diversidades de estilos musicais, o evento trazia além do rock, música eletrônica com um DJ, como também o bom e velho forró. Ao todo existiu seis edições do Halloween, todos organizados pela nossa banda. Na época, o

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“Halloween” tornou-se um evento tradicional que marcava o aniversário da banda Extrutrua e ainda era considerado um dos shows mais aguardados pela comunidade.

Os jovens da comunidade demonstravam apoiar as ideias da banda, porém a banda era muito criticada principalmente pelas pessoas adultas, não pela má conduta, pelo contrário a banda sempre procurou por onde ter bons modos e organizar tudo com muita responsabilidade. As críticas eram pelo lado técnico, onde musicalmente a banda não estava bem preparada, o que é bem comum para uma banda de adolescentes inexperientes e sem instruções.

Logo após o primeiro show nós percebemos a necessidade de ter que tocar forró pelo fato da região em que a banda atuava, e a necessidade de ganhar cachê1 para poder comprar os equipamentos. Com isso, houve a entrada de mais dois vocalistas: Lheyla Vanuty (que já tinha feito uma participação no primeiro show) e Coroa. A banda Extrutura mudou seu estilo musical e passou a tocar forró, porém uma vez por ano no Halloween, tocava um repertório de pop rock. A banda teve um período de duração entre 2007 e 2015 com as atividades centradas basicamente na cidade de Macaíba, fazendo apresentações nas comunidades e no centro da cidade.

A comunidade de Riacho do Sangue é localizada nas margens da RN-160, sua renda se obtém basicamente da agricultura e empregos nas fábricas e no centro de Macaíba. Até o final da década de 90 a comunidade era um lugar muito tranquilo com o costume dos moradores de sentar nas calçadas para conversar durante a noite. Habitada basicamente pelas famílias Custódios, Duarte, Lagoa, Bernardo e Henrique. A comunidade foi crescendo e com isso houve a chegada de outras pessoas de lugares distintos. Hoje a comunidade não vive mais seus dias de tranquilidade, nos anos 2000 iniciou um grande aumento nos índices de assaltos e homicídios, com atuações de facções e organizações criminosas vindas do centro de Macaíba. Foi em meio a esse cenário que os integrantes da banda passaram a transição da adolescência para a vida adulta, vendo alguns colegas se envolvendo com a criminalidade.

Os integrantes da banda sempre escolheram ingressar em projetos musicais paralelos dentro da comunidade, com a iniciativa do grupo de jovens 1Remuneração que ator, músico ou outro artista recebe por apresentação.

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de Riacho do Sangue o JOCAF (Jovens ao caminho do futuro) foi criado a serenata das mães, que já dura dez anos. Além disso, surgiram com a participação de integrantes da banda ministérios de música na igreja católica, sendo os ministérios Nova Unção e Fonte de Vida, esses grupos ainda atuam até os dias atuais.

Este trabalho tem como foco a compreensão dos valores acumulados no processo de formação e participação de integrantes da banda Extrutura. Essa compreensão se dará através do relato dos participantes.

Trabalhar as questões da identidade, expressões de nossa existencialidade, através da análise e da interpretação das histórias de vida escritas, permite colocar em evidência a pluralidade, a fragilidade e a mobilidade de nossas identidades ao longo da vida. (JOSSO, 2007, p. 414).

A banda foi criada quando os integrantes tinham entre 12 e 17 anos, o senso de responsabilidade desde cedo acumulado com as ideias e o trabalho em grupo, pode de alguma forma ter contribuído para formação dos valores de cada participante.

Hoje cada um integrante tomou um rumo, mas dentro dos parâmetros estabelecidos pela sociedade pode-se dizer que todos componentes do grupo são bons cidadãos, que conseguiram qualificações profissionais em áreas distintas.

As situações educativas são, desse ponto de vista, um lugar e um tempo em que o sentido das situações e acontecimentos pessoais, sociais e profissionais pode ser tratado em diferentes registros, a fim de facilitar uma visão de conjunto, de aumento da capacidade de intervenção pertinente na própria existência e de otimizar as transações entre os atores mobilizados pela situação do momento. (JOSSO, 2007, p. 416).

Entre os integrantes da banda, quatro conseguiram ingressar no ensino superior. Moreno do Riacho é formado em Educação Física e atualmente cursa Gestão de Políticas Públicas; Tom é formado em Análise e Desenvolvimento de Sistemas; Jhonas Brother cursa Engenharia de Software e eu (Mário Alexandre) curso Música licenciatura. Mano fez um curso de Técnico de

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Montagem e Manutenção de Computadores e atua na área; já Tata fez curso de Segurança e trabalha na área.

Um fator que chama bem atenção na comunidade, é que entre todos os jovens do sexo masculino com a mesma faixa etária e que passaram na escola da comunidade, só esses integrantes da banda conseguiram ingressar no ensino superior. Na comunidade algumas mulheres já haviam conseguido ingressar em cursos superiores, principalmente o curso de pedagogia. Na região é comum as pessoas do sexo masculino viverem do trabalho na agricultura desde muito cedo, porém não é exclusividade dos homens. Os participantes da banda estão entre os pioneiros a ingressar em cursos superiores, como também a ingressar na Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN. No decorrer desse trabalho buscamos entender qual a contribuição que a banda Extrutura proporcionou aos seus integrantes no que tocante ao processo de profissionalização e o interesse em ingressar no ensino superior.

O contexto onde a banda atuou foi de extrema importância para os caminhos em que o grupo musical tomou. A escola municipal José mesquita através da diretora Maria Cristina foi uma das primeiras fontes de apoio e incentivo, levando os seus alunos a participarem da escola de música do centro da cidade e subsequente abrindo espaços para apresentações. Chico Bass com toda sua paciência e empatia pela banda Extrutura foi crucial para o desenvolver da banda, tanto musicalmente como estruturalmente. A comunidade de Riacho do Sangue conhecida por talentos culturais, porém, não valorizada dentro da cidade de Macaíba, contribuiu sem dúvidas com todo enriquecimento cultural para o desenvolvimento dos participantes da banda.

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3. FORMAÇÃO HUMANA E EM MÚSICA: PERSPECTIVAS A PARTIR DA LITERATURA

Oliveira (2018) cita Tonet (2007) “é função da educação propiciar ao indivíduo conhecimentos, habilidades e valores necessários para a formação do gênero humano”. A formação humana é o desenvolvimento dos valores morais e éticos em função da construção de um indivíduo no exercício da cidadania e integração no mercado de trabalho, elementos que podem chegar a serem essenciais para a construção da vida pessoal e profissional.

Um fator essencial e importante na formação humana é a integridade da pessoa e seu pensamento, segundo Oliveira (2018) “essa formação prepara o ser humano para produzir as condições de reprodução da sua vida e das formas sociais da sua organização”. Portanto, o indivíduo pode construir seu estilo de vida livremente, tendo autonomia para organizar maneiras de existir e ser responsável por suas ações, tornando-se um ser humano ético.

Quando falamos sobre a formação do ser humano, estamos falando de uma preparação que pode formar um ser crítico que está ciente de seu papel no mundo. Ninguém nasce programado para resolver e gerenciar as diferentes situações da vida cotidiana. É necessário que a educação integral seja introduzida em uma prática adaptada à realidade do indivíduo para que ele tenha acesso a um bom desenvolvimento e permaneça mais tempo na escola. O ambiente em que adolescentes e crianças estão inseridos é um fator fundamental em sua trajetória, e as lições aprendidas constroem princípios e valores que contribuirão para a aprendizagem ao longo da vida.

Os primeiros anos de vida da criança são bastante significativos visto que, é nesse período que se forma a identidade da criança enquanto sujeito. É principalmente durante a infância que a criança vai se formando enquanto sujeito social e cultural tendo como referência os grupos de convivência no qual a mesma se encontra inserida. (LIMA; DINIZ, 2018, p.04).

O contexto familiar é o primeiro local de comunicação. Este é o primeiro relacionamento na vida humana. A família é a base para uma boa educação. Uma base mal construída pode deixar consequências para todo o futuro do

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indivíduo. A relação entre família e escola é muito preciosa, podendo desenvolver práticas que facilitam o aprendizado dos alunos. Nesse sentido, quando a família passa a participar da escola com pequenas intervenções, que podem no processo educacional da criança levar a importantes mudanças em seu comportamento e aprendizado.

Segundo a LDB2, A escola tem como função social formar o cidadão, e, desse modo, garantir as finalidades registradas no artigo 22: “A educação básica tem por finalidade desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhes meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores” (BRASIL, 2019, [s.p.]). A família tem o dever de acompanhar esse processo e é responsável pela educação da criança, por isso a escola necessita da presença dos pais, para que possam identificar qualquer dificuldade que a criança encontra dentro e fora da escola.

A importância da participação dos pais na vida escolar dos filhos tem apresentado um papel importante no desempenho escolar. O diálogo entre a família e a escola, tende a colaborar para um equilíbrio no desempenho escolar, o que é possível considerar que a criança e os pais trazem consigo uma ligação íntima com o desempenho. (CHECHIA; ANDRADE, 2002. p.1).

Uma escola que lida com a educação dos cidadãos deve estabelecer a leitura da organização da sociedade, os princípios que a governam e o processo educacional dos sujeitos com base em sua historicidade, uma vez que o conhecimento não é dado, é conquistado e também transformado. O ser humano escreve a história e produz conhecimento. O sujeito é, portanto, definido pela produção de seus bens e seu trabalho coletivo na interação entre o sujeito e o lugar em que está inserido. Saviani (1997) fala sobre esse aspecto, explica que “o trabalho educativo é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens”.

A escola é de extrema importância na sociedade, pois, além do papel da preparação intelectual e moral dos alunos, também deve ser lugar de inclusão social.

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A escola, de fato, institui a cidadania. É ela o lugar onde as crianças deixam de pertencer exclusivamente à família para integrarem-se numa comunidade mais ampla em que os indivíduos estão reunidos não por vínculos de parentesco ou de afinidade, mas pela obrigação de viver em comum. A escola institui, em outras palavras, a coabitação de seres diferentes sob a autoridade de uma mesma regra. (CANIVEZ, 1991. p.33).

Porém a escola por muitas vezes não consegue sozinha construir os valores de formação humana, as relações e a comunicação são os maiores problemas dentro da escola. Além do conhecimento técnico são importantes a comunicação e a integração entre pessoas na construção do cidadão. Ao longo dos anos foi introduzido a educação artística no currículo escolar tendo como um dos objetivos aumentar a comunicação entre os alunos. A introdução da educação artística no currículo escolar pode ser considerada um grande avanço para área, especialmente considerando o entendimento das artes na formação das pessoas.

A educação artística muitas vezes incluída em projetos educativos, sendo utilizada como um plano de trabalho integrado, estruturado a partir de interesses compartilhados por educadores e educandos, visando satisfazer necessidades e resolver problemas reais, reconhecida como uma proposta inovadora para a expressão cultural e artística, portanto, única para promover o desenvolvimento humano. É preciso reconhecer que a diversidade cultural deve ser levada em conta na concepção de projetos educativos. Isto significa que os valores simbólicos das culturas locais devem estar presentes.

Os benefícios da educação artística desde a primeira infância são numerosos. Segundo Silva (2015) “A disciplina de Arte é uma área de conhecimento que contribui para formação humana do aluno, para ajudá-lo a entender de forma crítica a sociedade que o rodeia e a cultura”. A arte inclui não apenas inteligência, mas também emoções e expressões. Trabalhar no lado emocional e afetivo do indivíduo, fatores essenciais para a formação do caráter de uma pessoa, também traz vantagens para o pensamento lógico e cognitivo.

Entre as artes, a música é inserida em quase todos os momentos da nossa vida, no nosso batismo, no casamento e nas reuniões com colegas, mas

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a música é muito mais do que apenas um hobby, pode estimular relacionamentos sociais, influenciar o espírito das pessoas, ponto de vista emocional e cognitivo. A música pode ser um meio de aprender, uma maneira de se conectar com outro ser humano e também uma perspectiva social.

A música é um elemento que pode auxiliar na formação humana. Ela desenvolve trabalho em equipe, criatividade, disciplina e equilíbrio. Por esse motivo, a música faz parte da matriz obrigatória de diferentes instituições de ensino, principalmente nos países mais desenvolvidos. Os alunos com esse privilégio poderão ter mais oportunidades de se expressar e se comunicar, melhorando assim sua educação.

A música pode ser explorada no processo de ensino-aprendizagem e contribuir na formação integral de indivíduos por meio de diferentes práticas pedagógicas no ambiente escolar, como no ensino da música propriamente dito, como parte do currículo e de formas adicionais não obrigatórias. (CARVALHO; GONÇALVES, 2017, p.143)

A música é uma modalidade que desenvolve o espírito humano podendo contribuir para obtenção de um estado de bem-estar. A música pode facilitar a concentração e desenvolve o raciocínio acima de tudo sobre questões de reflexão. A música permite uma linguagem cheia de sentimentos e histórias. Manusear um instrumento, mesmo que seja a voz, desenvolve uma compreensão da funcionalidade do corpo, enquanto a sensibilização da criação musical tornar a pessoa mais sensível à vida.

A música é parte integrante da vida do homem e veículo universal de suas emoções. É a capacidade que consiste em saber expressar sentimentos através de sons artisticamente combinados, ou a ciência que pertence aos domínios da acústica, modificando se esteticamente de cultura para cultura. Estudada por filósofos, médicos e musicistas, é o veículo de comunicação entre o concertista e a plateia. Seja qual for o propósito da música, ela está sempre relacionada à experiência do próprio homem, falando de suas emoções e agindo dentro de seus limites sensoriais. (COSTA, 2004. p.8).

A prática da formação de bandas na adolescência é uma maneira que expressa muito bem o poder da relação música-comportamento humano, a busca da criação de identidade somada as experiências de cada integrante do

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grupo podem criar novos movimentos culturais, como novas tendências e padrões de comportamento. Ao logo dos anos podemos ver vários desses movimentos como: Bossa Nova, Jovem Guarda, Tropicália e Rock nacional anos 80.

A música está diretamente ligada ao desenvolvimento e comportamento dos adolescentes. Os pesquisadores consideram os anos da adolescência como sendo um ponto de inflexão das preferências musicais. É muito difícil determinar quais fatores permitem que um jovem se identifique com algo. Fatores culturais, religiosos e históricos, podem ser levados em questão, embora ninguém esteja em posição de formular regras gerais sobre como os adolescentes se identificam.

O jovem de hoje é muito diferente do que o de tempos atrás. O mundo mudou, hoje tudo é mais rápido, mais tecnológico, é digital, porém ainda há muitas coisas na vida dos jovens que são iguais à do passado. Quando jovens é que descobrimos quem somos e aprendemos quem vamos ser, os jovens são quem transformam o mundo com o uso de novas tecnologias, novos ídolos, novas modas.

O entendimento de que essa presença se concretiza por meio de práticas musicais diversas e por diferentes modos de se relacionar com música, não só porque são muitas as músicas, mas, também, porque não se pode falar em jovem ou juventude, mas em jovens/juventudes – no plural – e suas culturas juvenis (DEL-BEN, 2012, p.39).

Devemos conhecer como é a relação desses jovens com a música, já que a música é um meio bastante comum entre eles, pela exposição direta ao rádio, cinema, televisão e hoje principalmente pelas redes sociais. No ensino de música podemos seguir e trabalhar diversas áreas do conhecimento, que vai tanto no conhecimento artístico-cultural quanto em disciplinas tecnológicas. É possível trabalhar com o que está ligado diretamente a vivência do aluno com a sociedade e com o cotidiano.

Trazer a aula de música para realidade dos alunos é o grande desafio. Fazer com que o jovem possa se expressar, permitir que a música leve conhecimento de mundo, a sensibilidade e os benefícios que ela traz, como maior atenção, e disciplina, colaboram na formação do conhecimento dos

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jovens. Na vida profissional, a educação humana está diretamente relacionada a qualquer setor do mercado de trabalho. O contato com pessoas é necessário tanto nas áreas de humanas como nas tecnológicas, todo ser humano precisa de alguém para guiá-lo na sua formação. Um arquiteto projeta edifícios com o propósito de serem usufruídos por seres humanos, assim como o engenheiro de software cria jogos ou aplicativos para os humanos. Em qualquer tipo de trabalho, será necessário sentir empatia para tentar entender os as pessoas.

O homem é um animal que não vive sozinho, pois todo ser humano, desde que nasce até o momento em que morre, precisa da companhia de outros seres. Foi observando isso que o filosofo grego Aristóteles escreveu que o homem é um animal político, pois é a própria natureza humana que exige a vida em sociedade (DALLARI, 1984, p.12).

A educação é a construção de conhecimentos e informações, seja em casa com os familiares ou na escola com os professores. O educador é aquele que provoca, que estimula, que constrói com o aluno as inquietações que fazem o conhecimento ser o alvo principal que serão importantes para o desenvolvimento intelectual e social, já o aluno tem a obrigação de absorver os conhecimentos e utiliza-los em seu dia-a-dia, pois, será necessário para o convívio com outras pessoas e para o mercado de trabalho, tudo isso gira em torno de um contexto cultural, onde o homem através dos tempos vem transmitindo suas experiências, assim acelerando o processo de aprendizagem para obtenção de conclusões mais sabias.

Na busca de uma melhor formação para os cidadãos, a educação precisa de novas ferramentas, o ensino tradicional não corresponde mais às demandas do mundo atual. A música está no dia a dia dos jovens, e isso impacta no ambiente escolar. As atividades artísticas podem promovem qualidade na educação, quando expandem a comunicação e despertam o interesse do aluno, que redescobre o prazer de aprender ao lidar com novas ferramentas de aprendizagem. É importante entender essa nova geração de alunos, que agora não só recebe informações, mas torna-se o ator principal e construtor do seu próprio conhecimento, é preciso o planejamento e a implantação de programas e projetos nas escolas.

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4. BANDA EXTRUTURA: UMA ANÁLISE SOBRE AS NARRATIVAS E EXPERIÊNCIAS DE FORMAÇÃO DOS INTEGRANTES.

4.1 O primeiro contato com a música

O início de uma banda sempre é precedido de algumas experiências musicais de seus participantes, mesmo que seja simples vivências. Na banda Extrutura todos os integrantes tiveram algum tipo contato com música anteriormente. Eu sempre morei na casa do meu avô, meus tios sempre tiveram violão em casa desde que me lembro. Nenhum dos meus tios são músicos profissionais, mas junto com meu avô sempre gostaram de dedilhar um violão. Na infância até achava muito bonito o violão, mas não chegava muito perto do instrumento, minha mãe sempre falava que não era para mexer. O tempo foi passando, meus tios casaram e saíram de casa, logo já não existia instrumentos musicais em casa.

Quando tinha por volta dos 11 anos surgiu um projeto do Centro de Estudos Pesquisas e Ação Cidadã (CEPAC) que ofereceu aulas de flauta doce na comunidade que eu moro. Eu de cara me encantei, entrei nas aulas e em casa passava o dia todo tocando. O projeto durou dois anos, depois que acabou eu me afastei da música por um tempo. Quando estava no fim do ensino fundamental, meus colegas faziam aulas de música e resolveram montar uma banda de rock, eu não era da banda, mas gostava de ir observar os ensaios, na verdade os ensaios eram uma grande brincadeira pois ninguém sabia tocar, de repente eu estava no meio com minha flauta doce que não se encaixava muito bem em meios as guitarras e a bateria, um dia tivemos uma ideia de colocar um teclado na banda e eu fui o designado para essa função, então consegui um teclado emprestado e comecei a estudar sozinho na medida do possível.

Mano sempre foi um dos mais experientes da banda, apesar ter um nível de conhecimento musical parecido os demais no início da banda, ele anteriormente já procurava se envolver com coisas relacionadas com a música.

O meu interesse pela música surgiu de uma forma meio que inusitada, o primeiro estilo musical que eu me identifiquei foi o

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hip-hop, na época surgiu um projeto com um grupo formado por alguns colegas e meu irmão mais velho (Koy), porém o projeto não deu muito certo. Logo após tive a influência do meu outro irmão, dessa vez do meu irmão mais novo (Jhonas Brother), ele começou a fazer aulas de guitarra e sempre trazia um violão para casa, na época eu fazia aulas de bateria, porém não vingou muito. Eu acabei me interessando mais pelo violão, aprendi violão meio que como autodidata, porém tive muita ajuda de Francisco das Chagas, que foi de grande ajuda com várias dicas e conselhos. Através dessa experiência com o violão que comecei a tocar contrabaixo na banda Extrutura. Ao longo do tempo tive contatos com os instrumentos como zabumba, teclado, ukulele.(Informação verbal)3.

Jhonas Brother é o irmão mais novo de Mano, ele fazia aulas de guitarra na escola Municipal de música de Macaíba e como as reuniões e ensaio sempre eram na casa dele, ele não teve como fugir da banda, Jonas foi o participante que ficou menos tempo na banda, sua participação teve duração até quando começamos a tocar forró, ele era o mais novo do grupo e na ocasião tinha sua turma da mesma faixa etária, com isso ele acabou procurando outros caminhos.

Tom dos Santos era em meio ao grupo o que pensava um pouco diferente, ele é filho de família evangélica, era ligado em música gospel, também gostava de rock, acredito que no início da banda ele era quem mais conhecia bandas de rock entre os integrantes.

Por volta dos meus oito anos de idade eu brincava de fazer tambores, porém meu primeiro interesse pela música ocorreu quando um colega da escola entrou na banda marcial, ele não tinha tanta desenvoltura com o instrumento, antes eu tinha vontade de entrar na banda marcial, mas eu tinha vergonha, eu era muito tímido, quando vi que meu colega não estava conseguindo, porém não desistia, isso me motivou a participar, esse foi meu primeiro contato com baquetas e com instrumentos percussivos, subsequente a isso, houve a seleção para escola de música de macaíba, foi quando iniciei os estudos na bateria, lembro quando vi a lista dos instrumentos disponíveis, a bateria foi o que me chamou atenção pois a maioria dos outros instrumentos eram de orquestra e para mim a bateria sempre foi algo mais popular. No início não tinha como estudar em casa, foi quando fabriquei minha bateria de lata, uma coisa muito comum no começo da trajetória de todo baterista, isso foi proporcionado pela vontade de aprender que eu tinha, pois sem isso eu não teria com aprender, na época eu

3Informação verbal fornecida por Mano, em Riacho do sangue, Macaíba (RN) em setembro 2019.

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tinha 15 anos e não tinha condições nenhuma de comprar um instrumento caro, nem a sonhar em comprar. Meu contato maior sempre foi com a bateria, mas tive a necessidade de aprender um instrumento harmônico para poder cantar também, eu aprendi um pouco de violão. Em um momento da vida tive um pouco de desilusão da bateria, nessa época eu tinha me afastado da banda Extrutura e queria testar novas possibilidades que como baterista não conseguia, o fato de não ter instrumento ainda e já ter passado do tempo de querer tocar com uma bateria de lata eu acabei criando um interesse pelo contrabaixo. (Informação verbal)4.

Moreno do Riacho em meio ao grupo sempre foi uma pessoa que sabia se comunicar muito bem, até por isso foi escolhido para ser o porta voz da banda, ele tinha experiências com o teatro e também fazia muitas poesias, porém o contato com a música ainda era muito carente.

Meu primeiro contato com a música ocorreu através do coral juvenil da igreja católica por volto do ano 2000, comecei a participar por incentivo dos meus primos eles falavam que era muito bom, só que eu era meio vergonhoso, meus pais também não deixavam eu sair muito, mas uma certa tarde eu fui para o ensaio e fiquei participando. Em 2006 eu entrei na escola de música da cidade para fazer aulas de violão, porém não me dediquei muito, para mim era mais interessante ir conhecer novas pessoas começar novas amizades e frequentar o centro da cidade. Por questão da minha falta de interesse eu não aprendi nada que pudesse me fazer “o musico” (informação verbal)5.

Tata era o mais velho do grupo, na época ele já estava terminando o ensino médio e estudava em uma escola diferente dos demais integrantes, sempre gostou muito de pop rock, o fato de ser irmão de Moreno do Riacho foi o cartão de entrada na banda.

Minha primeira experiência com a música foi quando, meu irmão Moreno do Riacho começou a fazer aulas de músicas no centro da cidade, depois de uns dias ele começou a trazer o violão para casa, ao ver ele tentando fazer um solo e não conseguindo executar eu fiquei admirado, com isso pensei em fazer um teste, eu peguei o violão e vi as partituras que possuía algumas instruções, no primeiro dia eu consegui

4Informação verbal fornecida por Tom, em Lagoa seca, Macaíba (RN) em setembro 2019. 5Informação verbal fornecida por Moreno do Riacho, em Riacho do sangue, Macaíba (RN) em setembro 2019.

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executar o solo e achei tão fácil e divertido, meu irmão ficou admirado. Depois de mais ou menos um ano consegui entrar na escola de música, porém não consegui ficar muito tempo pois tive que arrumar um trabalho (informação verbal)6.

A ideia da banda surgiu quando a maioria da banda estava no final do ensino fundamental, tínhamos o intuito de tocar na feira de ciências com instrumentos inventados, para arrecadar verbas para formatura.

Lembro que começamos a sonhar com várias coisas, o que é muito comum na adolescência, lembro que cada um trazia o instrumento que conseguia montar, lembro que Mário conseguiu um teclado quase de brinquedo do seu tio. (Informação verbal)7.

4.2 Sonhos e expectativas

Mesmo com um propósito em comum, todos tinham seus próprios sonhos e expectativas. Eu por ter feito aulas de flauta sonhava em tocar saxofone, mas nunca tinha visto esse instrumento de perto, antes da banda eu ouvia muito a banda Roupa nova, gostava de música internacional e também gostava de forró. As bandas de Rock eu conheci através da banda Extrutura, e comecei a gostar muito. Eu queria me expressar através daquelas músicas, não sonhava em ser músico profissional, só queria me divertir. Tata relata que no início tinha vários sonhos, mas a razão de tocar na banda era apenas porque gostava muito de pop rock, se imaginava subindo em um palco com muita gente na frente. O intuito inicial de Mano para criar a banda era a diversão, ele falou que ficava imaginando que ia ser bom tocar numa banda. Já Tom falou que suas expectativas ao entrar em uma banda era chamar a atenção, queria ficar mais conhecido dentro da comunidade pela atividade que estava aprendendo. Moreno do Riacho fala da insegurança e dos incentivos que teve.

6Informação verbal fornecida por Tata, em Riacho do sangue, Macaíba (RN) em setembro 2019.

7Informação verbal fornecida por Moreno do Riacho, em Riacho do sangue, Macaíba (RN) em setembro 2019.

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A princípio eu sempre achei impossível eu ser cantor ou cantar em algum lugar, mas me deu vontade então pensei em ser cantor, e foi uma ideia bem aceita pelos meninos da banda. No início a gente ensaiava nos fundos da casa de Mano, depois passamos a ensaiar numa casinha de taipa do lado, quando começamos a ter o mínimo de noção musical fomos ensaiar na casa de Chico Bass, ele tinha um espaço e instrumentos da banda dele, Chico Bass foi nosso padrinho que ajudou demais, naquele momento de ainda não saber tocar foi oportunizando por ele, Francisco não tinha muito tempo para ver o ensaio da gente, mas quando possível era quem sugeria algum arranjo. Também teve outra pessoa que me ajudou muito, seu nome é Zilma, ela tinha sido uma das pessoas responsáveis pelo coral na época que participei e já tinha sido cantora da banda de forró da comunidade (forrozão Grão de Areia), Zilma fazia aulas de canto e me incentivou a fazer as aulas também, ela chegou até a pagar as aulas para mim (informação verbal)8.

Com o passar do tempo a banda passou por algumas mudanças principalmente no estilo musical, a banda começou a tocar forró para tentar sobreviver financeiramente, isso acabou criando novas expectativas para os participantes da banda.

Quando a banda começou a tocar forró eu comecei a ter um pensamento de ser musico como profissão, quando a banda mudou de estilo e entrou novos integrantes, nesse momento já se estava lapidando um novo pensamento, acredito que para todos da banda, já não era mais uma brincadeira (informação verbal)9.

Ficamos um pouco mais distantes das ideias inicias, porém ficamos mais próximos ao público, começamos a pensar em viver de música, com isso tivemos que criar mais empenho e dedicação.

Depois de um certo tempo comecei a ver a banda como minha principal ocupação, pensava que tocar um instrumento musical era o que eu sabia fazer, queria ser alguém no ramo da música, então tinha que seguir em frente, essa era a razão de todo esforço fazendo empréstimos, correndo atrás e marcar ensaios. Tentar conseguir fama também era algo que impulsionava (informação verbal)10.

8Informação verbal fornecida por Moreno do Riacho, em Riacho do sangue, Macaíba (RN) em setembro 2019.

9Informação verbal fornecida por Tom, em Lagoa seca, Macaíba (RN) em setembro 2019. 10Informação verbal fornecida por Mano, em Riacho do sangue, Macaíba (RN) em setembro 2019.

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4.3 Contribuição na formação

Para CARVALHO; GONÇALVES (2017), a música pode contribuir na formação integral das pessoas. Uma banda por estar nesse contexto pode ser responsável por impulsionar várias experiências para os integrantes, a contribuição da banda para formação se reflete diretamente na construção da vida dos participantes.

A banda foi o lugar onde eu aprendi a conviver com as pessoas, antes eu não havia participado de qualquer outro tipo de grupo, com isso consegui enxerga um mundo. Antes eu tinha vergonha até de almoçar na casa de alguém, a timidez era um problema muito grande. A convivência com as pessoas da banda me fez perder grande parte disso, essa experiência me fez sair da minha zona de conforto, imagine que, dormir na casa de outra pessoa era uma coisa que nunca nem passava na minha cabeça. A junção dessas coisas me fez desenrolar para vida, se não fosse a banda hoje em dia eu não saberia como agir nessas situações. Hoje eu sou uma pessoa bem extrovertida, coloco minhas opiniões para fora. Tem momentos que você está em um grupo e precisa expor suas ideias, e temos que saber lidar quando nossa ideia não é bem aceita. A música foi o ponto de partida que despertou o interesse de construir algo para vida, lembro quando minha mãe perguntou “você não quer trabalha para comprar uma bateria? ” (Informação verbal)11.

Costa (2004) fala sobre a capacidade que a música tem de expressar sentimentos, e que seja qual for a razão da música, ela está sempre relacionada à experiência do próprio homem. Tata falou que durante o início da banda tinha vários problemas dentro do ambiente familiar, era praticamente a ovelha negra da família, a banda de certa forma foi um refúgio, era até uma espécie de antidepressivo. Mano fala que ter participado da banda foi muito enriquecedor na adolescência dele.

Eu posso até falar que o que sou hoje teve influência totalmente da banda Extrutura, pois era a minha ocupação, o que ocupava minha mente. O fato da vivência em grupo e da batalha com a banda que construiu muito dos meus princípios, foi onde eu aprendi a trabalhar em grupo, comecei a me comunicar com pessoas, antes eu era muito tímido, ainda sou

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um pouco, porém evolui bastante. Talvez se não fosse a banda para agregar vários valores, talvez eu tivesse virado só um trabalhador rural que passa o dia inteiro no roçado e só pensa em chegar em casa para descansar e voltar para a luta no dia seguinte, não menosprezando essa profissão, porém essa era a vida que eu via para mim, e a banda me permitiu sonhar, por isso sou muito grato a essa vivencia com a banda que foi quem construiu meu rumo até aqui (informação verbal)12.

Além de vários benefícios, a banda também acabou proporcionando várias situações frustrantes, que foram sentidas diferentemente por cada participante, alguns conseguiram reagir facilmente, mas para alguns as situações foram mais difíceis de encarar. Mano falou que existiu muitas frustações naquele período, vários esforços para marcar ensaios que não deram certo, shows que foram cancelados, mas que a recompensa veio quando conseguimos tocar em uma estrutura de sonorização profissional, fazer abertura de grandes shows e os reconhecimentos por fazer um bom trabalho. Moreno do Riacho entre todos da banda sempre foi quem teve mais oportunidade de viajar através da PJMP13, com isso teve oportunidade de trocar experiências com pessoas de outros estados.

Não imagino como teria sido minha adolescência sem ter participado da banda, porém acho que eu poderia ter aproveitado melhor, me limitei muito dentro da banda e me acomodei mais ainda. Essa limitação refletiu até em outros espaços que eu participava, eu tinha vergonha de cantar nos espaços fora até em outras rodas de violão ou em algum tipo de sarau, as pessoas faziam logo um alarme “há Moreno do Riacho é cantor de uma banda” isso acabava me matando, pelo fato que criava uma expectativa pelas pessoas que não me conheciam, eu sabia que minha capacidade não era tão grande para impressionar, eu acabava me isolando e não participava. Eu criei um medo ou algo psicológico, eu ficava muito envergonhado, as pessoas esperavam e cobravam para eu cantar, eu pelo contrário me escondia (informação verbal)14.

Del-Ben (2012) fala sobre as práticas da juventude relacionadas com músicas e como essas práticas podem ser significativas para vida de um indivíduo. Tata falou que comprou sua guitarra com o primeiro salário, pois era 12Informação verbal fornecida por Mano, em Riacho do sangue, Macaíba (RN) em setembro 2019.

13Pastoral da Juventude no Meio Popular.

14Informação verbal fornecida por Moreno do Riacho, em Riacho do sangue, Macaíba (RN) em setembro 2019.

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a realização de um sonho. Moreno do Riacho falou que o grande aprendizado com a banda foi ter criado uma postura profissional. Já Tom comentou que a banda ajudou a desabrochar com as ideias de montar os instrumentos. Esse foi o ponto de partida para despertar o interesse por tecnologia e eletrônica, isso está ligado diretamente com a área de atuação dele hoje. Tom também relatou sobre lições do tempo da banda que carrega para sua via profissional.

Em um diálogo ao fim de um ensaio, falávamos sobre não gostar de tocar um ou outro gênero musical, foi quando Chico Bass me falou uma coisa que guardo para todas as coisas da vida “você tem que aprender a gostar de tocar independente do estilo musical” já me deparei com situações na minha profissão onde não gostava de programar tal coisa, porém seguindo esse pensamento eu tive que aprender a gostar de programar independente do assunto (informação verbal)15.

Os integrantes da banda falam sobre momentos marcantes, shows que não aconteceram como previsto, onde Tom lembrou de um show na comunidade onde ele mora, e que quando deixaram os equipamentos no local da festa ele teve que ficar responsável, porque era a pessoa mais próxima, e que antes disso ele nunca tinha sido responsável por nada. Na hora da apresentação foi algo muito tenso, ele nunca tinha ido para uma festa na comunidade, e que as pessoas olhavam para ele com muita pressão. Moreno do Riacho falou da primeira vez que tocamos juntos com outra banda do centro da cidade, na época essa banda era a mais falada da cidade, com músicos mais velhos, foi a primeira vez que a banda se deparou com uma atitude muito antiga no meio musical, mas que ainda existe muito hoje, quando a uma banda tenta de alguma forma prejudicar o show da outra banda para aparentar ser melhor. E a nossa banda não teve maturidade suficiente para lidar com aquilo, e que após o show ficamos muito para baixo. Também existiu shows de boas proporções.

O primeiro Halloween foi muito marcante, quando veio finalmente o nosso primeiro show, todos músicos entraram para fazer abertura e eu estava lá atrás das cortinas extremamente nervoso, o pessoal já sabia que eu iria cantar e começaram a gritar meu nome. Lembro que umas das pessoas mais exaltadas era Negão nosso colega da escola, pulando

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mais alto, gritando mais alto e pediu até autografo no fim do show (informação verbal)16.

Existiu uma fase em que conseguimos vários contratos com a prefeitura, nesses contratos sempre tocávamos com uma estrutura de som boa. A primeira experiência de tocar com um som que dava para ouvir tudo foi muito marcante. Moreno do Riacho falou que existia uma expectativa por parte dele em fazer um show com microfone sem fio e que quando aconteceu ele nem sabia como se comportar.

4.4 Mudanças ao longo do tempo

Ao longo do tempo a banda acabou passando por mudanças na sua formação, Moreno do Riacho na época que a banda começou a tocar forró ele não vinha tendo tanto destaque dentro do grupo, quando ele começou a cursar educação física e optou por se afastar da banda.

Eu tinha dificuldades em escolher as músicas para o repertório, eu vinha sentindo falta de apoio, acho que minha maior desculpa foi quando eu entrei na faculdade e com a rotina cansada eu saí da banda. Reconheci que não estava dando para continuar, percebi que não estava somando muito a banda, com isso eu pude ver a banda do lado de fora que foi muito estranho, foi como se tivesse passado a vida numa casa e saído, depois estava de volta para uma ceia de natal. Depois que sai da banda ainda continuei dando apoio dentro do possível (informação verbal)17.

Tom se afastou da banda por duas vezes, basicamente por motivo de trabalho. Ele fala sobre um desses momentos de afastamento.

Em um momento eu me afastei da banda e com a entrada de outro integrante tive a oportunidade de enxergar a banda do ladro de fora. Nesse momento eu posso falar da importância da amizade. Eu estava um tempo sem sair de casa e passava por um momento meio depressivo, estava mal. Um dia eu pensei em ir para uma festa para desopilar, eu pensei em ir para um show de rock no centro de macaíba. Eu fui sozinho para esse

16Informação verbal fornecida por Moreno do Riacho, em Riacho do sangue, Macaíba (RN) em setembro 2019.

17Informação verbal fornecida por Moreno do Riacho, em Riacho do sangue, Macaíba (RN) em setembro 2019.

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show, porém quando estava lá me senti um pouco deslocado, eu não tinha ciclo de amizades, não conhecia ninguém lá, eu saí do show bem antes do fim e lembrei que a banda Extrutura iria tocar na comunidade de Riacho do Sangue, eu decidi por ficar na festa antes de voltar para casa, assim quanto encontrei a turma da banda pude sentir uma sensação muito diferente da festa anterior, nesse momento eu estava literalmente em casa, ali poderia ficar à vontade pois, eu estava entre amigos (informação verbal)18.

Em 2015 a Banda passava por um momento muito conturbado, já havíamos tentado de tudo e continuávamos no mesmo lugar. Nesse momento, a banda só contava com quatro integrantes de sua formação inicial, eu, Tom, Mano, Tata. Eu fui uns dos integrantes que achou melhor encerrar a História da banda. Nessa época, eu tocava na banda Extrutura, dava algumas aulas particulares e fazia vários freelances em outras bandas. Porém percebia que tinha que me afastar um pouco da vida musical, pensei em focar na carreira de técnico agrícola, que é uma formação que possuo. Através de uma reunião resolvemos encerrar a banda, lógico que cada um ficou com um sentimento diferente com o fim.

Chegou uma fase que percebi que a banda não me dava tantas esperanças de viver de música, eu já estava querendo ser independe e a música não estava me proporcionando isso, acredito que vários integrantes da banda estavam pensando como eu. Eu fui um dos que tiveram a iniciativa de pensar em parar com a banda, eu tinha acabado de ingressar no curso de análise e desenvolvimento de sistemas e estava muito sobrecarregado. Contudo fiquei muito triste com o fim da banda, pois era um lugar onde me sentia bem (informação verbal)19.

Mano menciona que ficou cheio de frustações, pelos vários sonhos que não foram alcançados, a banda era o que ele queria naquele momento, porém com o fim da banda ele abriu os olhos para que pudesse focar em outra coisa, foi o que fez querer se profissionalizar em uma área de trabalho. Tata diz que com o fim da banda ficou muito chateado, porém seguiu em frente, não se desfez de nenhum instrumento, hoje toca apenas em casa.

O fim da banda permitiu que os integrantes pudessem procurar outros caminhos. Um ano depois do fim da banda eu consegui entrar na faculdade de 18Informação verbal fornecida por Tom, em Lagoa seca, Macaíba (RN) em setembro 2019. 19Informação verbal fornecida por Tom, em Lagoa seca, Macaíba (RN) em setembro 2019.

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música da UFRN. Tom se formou em analista de sistemas. Mano fez um curso técnico de informática e trabalha em um servidor de internet da comunidade. Tata casou, acredito que no seu casamento foi o evento que conseguimos reunir a maioria dos integrantes da banda depois do seu fim.

É notório como a banda foi importante na formação humana dos seus participantes, onde todos os membros relatam situações de aprendizagem no contexto do grupo musical. A banda permitiu que seus participantes pudessem enxergar além das circunstâncias de vida em que eles se encontravam. Os benefícios da música para formação humana foram proporcionados na vida dos participantes através da banda Extrutura, tornando o grupo musical um ambiente de musicalização e de socialização.

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5. CONCLUSÃO

Nesse trabalho tive como intuito compreender a construção e formação da vida de pessoas dentro de um cenário musical. Tive como foco principal 1) os impactos da formação da banda Extrutura, na vida de seus integrantes, e seus benefícios aliados a formação humana. 2) O processo de acumulações de valores e princípios intermediados pelo grupo musical.

Esta pesquisa traz narrativas das experiências de vida associadas ao caminho musical, que foram de fundamental importância para educação pessoal e, portanto, profissional ao longo da vida, dos participantes da banda Extrutura. Abordamos um pouco das experiências da vida de cada um dos integrantes, em função de entender a importância do grupo musical na formação de cada um deles. Mesmo com a maioria dos participantes não seguindo no ramo musical, todos concordaram com a importância da música na sua formação em vários aspectos, com lições, trabalho em equipe, postura profissional entre outros benefícios acumulados.

Observando como a vivencia em um grupo musical pode mudar a vida de seus integrantes em relação a outros jovens inseridos no mesmo contexto social, percebe-se a importância do contato do adolescente com a música. Permitindo aos jovens sonhos, determinações e novos horizontes. Com isso se obtém a compreensão da importância da música na educação básica, pois muito além de formar músicos profissionais ou especialistas na área, a educação Musical contribui para a formação integral do indivíduo, auxilia no desenvolvimento cultural e psicomotor, estimula o contato com diferentes linguagens, reverencia os valores culturais, promove a sociabilidade, a expressividade, introduz o sentido de parceria e cooperação. A prática da música nos auxilia até mesmo a compreender melhor a vida, podendo desenvolver um melhor desempenho nas tarefas do dia a dia.

Pude perceber como a música está interligada com várias áreas do mercado de trabalho, podendo melhorar a qualidade de vida de vários tipos de profissionais, ajudando a acalmar, a relaxar, também levando conhecimento e fazendo com que haja uma melhor comunicação entre as pessoas. É muito importante qualquer elemento que venha ajudar nas relações humanas, a música com esse poder de construir benefícios para formação humana,

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torna-se muito significativo o torna-seu contato na juventude, pois os jovens podem levar esses conhecimentos para toda vida, trazendo muitos benefícios para toda sociedade.

Esse trabalho teve como foco o aprendizado, desenvolvimento e construção de valores pertinentes não somente para a aprendizagem musical como também para construção de vidas. Pude perceber como a música pode ser importante para a construção de valores éticos e morais no ponto de vista musical como para vida pessoal. Como futuro educador, criei reflexões de algumas questões norteadoras, como por exemplo, o comportamento ético e pessoal, referente à postura profissional. Com essa experiência pude compreender um pouco da construção da vida adulta de um grupo dentro de ambiente musical, podendo futuramente utilizar essa experiência em aula como futuro educador, tendo preocupação com todas as questões da formação humana aliadas com a música, com uso de metodologias nas aulas, como também fazer da educação musical uma base solidificada para a formação integral do ser humano.

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6. REFERÊNCIAS

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CHECHIA, V. A; ANDRADE, A. dos Santos. Representação dos pais sobre a escola e o desempenho escolar dos filhos. [2002]. Disponível em: http://stoa.usp.br/antandras/files/318/1470/represent_pais.pdf. Acesso em 02 de setembro de 2019.

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LIMA, Sâmia M. dos Santos; DINIZ, Luane dos Santos. V CONEDU [2018]. Disponível em:

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OLIVEIRA, Emanuelle. Formação Humana. Disponível em:

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SAVIANI, Dermeval. Pedagogia Histórico-crítica: primeiras aproximações. 6. ed. Campinas: Autores Associados, 1997.

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SILVA, Gislene Santos de Paula - A importância do Ensino de Arte no contexto escolar do Ensino Fundamental: Especialização em Ensino de Artes Visuais. Escola de Belas Artes da UFMG. Belo Horizonte 2015.

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ANEXOS ROTEIRO DE ENTREVISTA: Apresentação 1. Nome: 2. Idade: 3. Formação: 4. Ocupação:

5. Atua em algum grupo musical? Qual?

Formação Musical 6. Como ocorreu o primeiro contato com a música? 7. Como começou a tocar?

8. Qual (is) instrumento (s) você toca? A banda

9. O que te motivou a montar/ entrar na banda? Quais eram suas expectativas quando ingressou nela?

10.Como foi ter participado de uma banda naadolescência?

11.Quais foram os momentos mais marcantes desse período na banda? Por que?

12. Qual foi o seu sentimento aosair da banda/ com o fim da banda? Formação humana

13.De alguma forma ter participado de uma banda teinfluenciou na sua vida profissional? Como?

14.Quaislições aprendeu na banda e que você carrega para vida?

15. Você acha que de alguma forma a banda ajudou na construção dos seus princípios e ideologias? Como?

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Transcrições das entrevistas Apresentação:

Mano, 28 anos, técnico em informática, trabalha em um provedor de internet, atua como vocalista do grupo de forró solteiro sossegado e também participa do ministério da igreja católica Nova Unção como violonista, produtor e cantor.

Formação Musical

O meu interesse pela música surgiu de uma forma meio que inusitada, o primeiro estilo musical que eu me identifiquei foi o hip-hop, na época surgiu um projeto com um grupo formado por alguns colegas e meu irmão mais velho, porém o projeto não deu muito certo. Logo após tive a influência do meu outro irmão, dessa vez do meu irmão mais novo, ele começou a fazer aulas de guitarra e sempre trazia um violão para casa, na época eu fazia aulas de bateria, porém não vingou muito. Eu acabei me interessando mais pelo violão, aprendi violão meio que como autodidata, porém tive muita ajuda de Chico bass, que foi de grande ajuda com várias dicas e conselhos. Através dessa experiência com o violão que comecei a tocar contrabaixo na banda Extrutura. Ao longo do tempo tive contatos com os instrumentos como zabumba, teclado, ukulele.

A banda

Meu intuído inicial para criar a banda era a diversão, eu ficava imaginando que ia ser bom tocar numa banda, depois de um certo tempo comecei a ver a banda como minha principal ocupação, pensava que tocar um instrumento musical era o que eu sabia fazer, queria ser alguém no ramo da música, então tinha que seguir em frente, essa era a razão de todo esforço fazendo empréstimos, correndo atrás e marcar ensaios. Tentar conseguir fama também era algo que impulsionava.

Os pontos marcantes que considero ruins foram as muitas frustações naquele período, falo viários esforços para marcar ensaios que não deram certo, show que foram cancelados. Os pontos bons foram os shows grandes que conseguimos fazer, os reconhecimentos por esses shows foram muito bacanas, lembro da fase que conseguimos vários contratos com a prefeitura,

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nesses contratos sempre tocávamos com uma estrutura de som boa, a primeira experiência de tocar com um som que dava para ouvir tudo foi muito marcante.

Formação humana

Ter participado da banda foi muito enriquecedor na minha adolescência, eu posso até falar que o que sou hoje teve influência toda da banda Extrutura, pois era a minha ocupação, o que ocupava minha mente. O fato da vivência em grupo e da batalha com a banda que construiu muito dos meus princípios, foi onde eu aprendi a trabalhar em grupo, comecei a me comunicar com pessoas, antes eu era muito tímido, ainda sou um pouco, porém evolui bastante. Talvez se não fosse a banda para agregar vários valores, talvez eu tivesse virado só um trabalhador rural que passa o dia inteiro no roçado e só pensa em chegar em casa para descansar e voltar para a luta no dia seguinte, não menosprezando essa profissão, porém essa era a vida que eu via para mim, e a banda me permitiu sonha, por isso sou muito grato a essa vivencia com a banda que foi quem construiu meu rumo até aqui.

Quando a banda acabou fiquei muito frustrado, frustração pelos vários sonhos que não foram alcançados, a banda era o que eu queria para mim naquele momento, porém com o fim da banda eu abri os olhos e percebi que eu tinha que focar em outra coisa, foi o que me fez querer se profissionalizar em uma área, escolhi informática.

Apresentação:

Tom, 28 anos, formado em análise e desenvolvimento de sistemas, trabalha em uma empresa de desenvolvimento de software, atualmente não tem nenhum trabalho voltado para música, apenas toca em casa.

Formação Musical

Por volta dos meus oito anos de idade eu brincava de fazer tambores, porém meu primeiro interesse pela música o correu quando um colega da escola entrou na banda marcial, ele não tinha tanta desenvoltura com o instrumento, antes eu tinha vontade de entrar na banda marcial, mas eu tinha

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vergonha, eu era muito tímido, quando vi que meu colega não estava conseguindo, porém não desistia, isso me motivou a participar. Esse foi meu primeiro contato com baquetas e com instrumento percussivos, subsequente a isso, houve a seleção para escola de música de macaíba, foi quando iniciei os estudos na bateria, lembro quando vi a lista dos instrumentos disponíveis, a bateria foi o que me chamou atenção pois a maioria dos outros instrumentos eram de orquestra e para mim a bateria sempre foi algo mais popular. No início não tinha como estudar em casa, foi quando fabriquei minha bateria de lata, uma coisa muito comum no começo da trajetória de todo baterista, isso foi proporcionado pela vontade de aprender que eu tinha, pois sem isso eu não teria com aprender, na época eu tinha 15 anos e não tinha condições nenhuma de comprar um instrumento caro, nem a sonhar em comprar. Meu contato maior sempre foi com a bateria, mas tive a necessidade de aprender um instrumento harmônico para poder cantar também, daí eu aprendi um pouco de violão. Em um momento da vida tive um pouco de desilusão da bateria, nessa época eu tinha me afastado da banda Extrutura e queria testar novas possibilidades que como baterista não conseguia, o fato de não ter instrumento ainda e já ter passado do tempo de querer tocar com uma bateria de lata eu acabei criando um interesse pelo contrabaixo.

A banda

A ideia de formar a banda era tocar na festa da escola para arrecadar verbas para formatura. A minha expectativa ao entrar em uma banda era chamar atenção, queria ficar mais conhecido dentro da comunidade pela atividade que eu estava aprendendo. Quando a banda começou a tocar forró eu comecei a ter um pensamento de ser musico como profissão. Quando a banda mudou de estilo e entrou novos integrantes, nesse momento já se estava lapidando um novo pensamento, acredito que para todos da banda, já não era mais uma brincadeira.

Em um momento eu me afastei da banda e com a entrada de outro integrante tive a oportunidade de enxergar a banda do ladro de fora. Nesse momento eu posso falar da importância da amizade. Eu estava um tempo sem sair de casa e passava por um momento meio depressivo, estava mal. Um dia eu pensei em ir para uma festa para desopilar, eu pensei em ir para um show

Referências

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