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(1)0. UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social. TÁSSIA AGUIAR DE SOUZA. OS MEMES EM PAUTA: relações com a mídia mainstream no ideal habermasiano de democracia deliberativa. São Bernardo do Campo, 2019.

(2) 1. UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social. TÁSSIA AGUIAR DE SOUZA. OS MEMES EM PAUTA: relações com a mídia mainstream no ideal habermasiano de democracia deliberativa. Dissertação apresentada em cumprimento parcial às exigências do Programa de PósGraduação em Comunicação Social, da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), para obtenção do grau de Mestre. Orientador: Prof. Dr. Mateus Yuri Passos. São Bernardo do Campo, 2019.

(3) 2. FICHA CATALOGRÁFICA. So89m. Souza, Tássia Aguiar de Os memes em pauta: relações com a mídia mainstream no ideal habermasiano de democracia deliberativa / Tássia Aguiar de Souza 2019. 132 p.. Dissertação (Mestrado em Comunicação Social) -Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2019. Orientação de: Mateus Yuri Passos.. 1. Democracia 2. Memes 3. Mídia e política I. Título.. CDD 302.2.

(4) 3. FOLHA DE APROVAÇÃO A dissertação "OS MEMES EM PAUTA: relações com a mídia mainstream no ideal habermasiano de democracia deliberativa" elaborada por Tássia Aguiar de Souza, foi defendida no dia 01 de Abril de 2019, tendo sido:. ( ) Reprovada ( ) Aprovada, mas deve incorporar nos exemplares definitivos modificações sugeridas pela banca examinadora, até 60 (sessenta) dias a contar da data da defesa. (X) Aprovada ( ) Aprovada com louvor. Banca examinadora:. Prof. Dr. Mateus Yuri Ribeiro da Silva Passos (Presidente). _________________________________________________________________. Prof. Dr. Antonio Roberto Chiachiri Filho (UMESP). ______________________________________________________________________. Prof. Dr. Viktor Henrique Carneiro de Souza Chagas (UFF). ______________________________________________________________________. Área de concentração: Processos Comunicacionais Linha de Pesquisa: Comunicação Midiática, Processos e Práticas Socioculturais.

(5) 4. Aos meus pais Meu maior mérito.

(6) 5. Eu daria a administração do País às pessoas que criam essas histórias (os memes). É impressionante. Pe. Fábio de Melo..

(7) 6. AGRADECIMENTOS. Impossível não agradecer, em primeiro lugar, a Deus, essa grandiosidade que move os obstáculos silenciosa e escandalosamente em nossas vidas. Sentir sua presença e anuência em cada etapa foi determinante. E no plano das pessoas falíveis – exceto comigo – agradeço aos donos da coisa toda: seu Betinho e dona Socorro, meus excelentíssimos pais. Financiaram a pesquisa, me deram todo o conforto possível, me deram amor, carinho, estímulo, inspiração, tudo isso em níveis colossais. Essa pesquisa e tudo mais que eu vier a assinar é deles – e eu ainda fico devendo. À minha irmã, que sem saber que é maior que eu em tudo, me incentivou desde antes de eu aprender a ler, porque eu já queria ser boa o suficiente pra ela. Ao inigualável primo e amigo Enio por compartilhar comigo sua existência plena de sabedoria, humildade, sensatez, humanidade e um pouquinho de loucura. À querida prima Ayla – não menos louca – que não levava mais que 5 segundos pra me responder no whatsapp quando eu estava perdida com as normas da ABNT, e com doçura e segurança resolvia todas as minhas questões. A ela também pelo otimismo de sempre e pela amizade sincera. Às minhas crianças Laís, Lara, Isadora, Maria Clara, Manuela, Ísis, Miguel, Laura e Lucas por aquecerem meu coração em lembranças nos dias frios de solidão longe de casa. A cada contato eu sangrava de saudade, mas em seguida me sentia mais forte porque queria ser melhor pra eles também. Ao Mateus, meu orientador, em toda a amplitude da palavra. Por seu bom humor, competência, compreensão, incentivo, parceria e paciência. Pela paixão que se projetava à frente de seu corpo cada vez que falávamos em Bakhtin. Um grande pesquisador e exemplo pra essa carreira aqui que acaba de começar. Àquela que acreditou em mim e na minha paixão pela pesquisa, e foi inspiração humana e intelectual ao longo de todo esse trajeto, professora Magali Cunha,.

(8) 7. arbitrariamente descartada pela Universidade Metodista de São Paulo, simplesmente por ser boa demais para os negócios pentecostais. Hoje, ela transcende a tudo que o universo acadêmico pode oferecer de vínculos. À primeira pessoa que me acolheu na Metodista, e por diversas vezes foi muito mais que coordenadora, professora Marli dos Santos, igualmente descartada e humilhada por alguém que em dignidade e competência jamais se igualará a ela. Ao professor Oliveira, que me iniciou na pesquisa e me estimula sempre a continuar. Ao CNPq e à Capes que, com meus pais, tornaram meu projeto economicamente possível, assim como o de tantos mestres e doutores desse país. É nossa a luta contra os retrocessos anunciados para a educação, no Brasil, neste início de 2019. Ao amigo Papada Eduardo por abrir meus olhos para a simples ideia de que tudo isso era possível, pela madrugada acordado me ajudando em outros processos seletivos, pelos livros sugeridos e emprestados, pela doce disponibilidade em sempre me ouvir, discutir e orientar e por suas conquistas que tanto me inspiram a buscar as minhas com a mesma determinação e paciência. Ao Arthur, que nem sabe, mas foi também importante na minha decisão de partir pra São Paulo sem garantia nenhuma “porque é assim que todo mundo faz”. Ao Viktor Chagas que, por meio do seu trabalho, me disse no início da pesquisa que meu objeto era importante e rico em potencial científico. A ele também pela rica produção que tanto me ajudou. À professora Cilene, que me acolheu como estagiária docente em suas aulas no 5º período da graduação na Metodista e com carinho e dedicação me encorajou a vencer o pânico da primeira aula. Às duas turmas do 5º período do primeiro semestre de 2018 da Metodista, que me mostraram que a docência é ainda melhor do que eu sonhara. Vou levar comigo eternamente cada olhar de entusiasmo com o conhecimento e cada palavra de carinho e estímulo recebida..

(9) 8. Aos colegas do PósCom. Dividir as inquietações e conquistas com eles foi maravilhoso. Ricardo, Edu, Angela, Keila, Rogério, Bel, Carlos, Vinícius, Helder, Jéssica, Patrícias. Existe um pedacinho de cada um nesse trabalho e ele é mais especial por isso. Ao Neo, a maior saudade que eu vou guardar desses dois anos. À Simone, minha psicóloga em São Bernardo do Campo, pelas longas conversas e dicas que tanto me ajudaram a encarar o estágio docente sem taquicardia. À indústria farmacêutica, pelo oxalato de excitalopram, sem o qual eu continuaria infeliz na inércia de um trabalho mecânico, alimentando sonhos que nunca se concretizariam. E, por fim, aos incríveis produtores de memes da minha timeline..

(10) 9. LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Fatores de Sucesso em memes e virais Tabela 2 – Função política dos memes e subcategorias Tabela 3 – Contagem dos stickers de vomitaço de 19 a 21 de novembro de 2016 Tabela 4 – Contagem de stickers de vomitaço entre 15 e 25 de novembro de 2016 Tabela 5 – composição da democracia deliberativa de Habermas Tabela 6 - Principais temas pautados pela mídia sob a ótica memes Tabela 7 - Personalidades em destaque nos memes do El País Tabela 8 – Personalidades em destaque nos memes do El País (segunda publicação) Tabela 9 – Personalidades em destaque nos memes do Estadão Tabela 10 – Personalidades em destaque na publicação da Revista Época Tabela 11 – Personalidades em destaque na publicação do Bol/Uol Tabela 12 – Função política dos memes do site O Brasil Feliz de Novo. LISTA DE IMAGENS Imagem 1 – Pôster político online com convocação da Frente Brasil Popular Imagem 2 – Meme de escárnio pela prisão do ex-presidente Lula Imagem 3 – Pôster de convocação do movimento Povo Sem Medo Imagem 4 – Vomitaço na fanpage do Planalto em 21/11/16 Imagem 5 – Meme sobre a crise política Imagem 6 – Meme sobre a votação do habeas corpus de Lula no STF Imagem 7 – Meme sobre a prisão de Lula Imagem 8 – Meme sobre voto da Min. Rosa Weber contra a concessão de habeas corpus a Lula Imagem 9 – Meme sobre pronunciamento de Michel Temer Imagem 10 – Diagrama de Étienne Souriau Imagem 11 – Meme sobre o Governo Temer Imagem 12 – Meme sobre a prisão de Lula Imagem 13 – Meme sobre foto oficial de Michel Temer com a faixa presidencial Imagem 14 – Meme sobre os eleitores de Bolsonaro Imagem 15 – Tirinha de Ziraldo nOPasquim.

(11) 10. Imagem 16 – Notícia do El País sobre "guerra" de Michel Temer aos memes Imagem 17 – El País pauta memes da crise política no Brasil Imagem 18 - Matéria sobre tentativa de proibição do vomitaço Imagem 19 - Meme da seleção feita pelo El País Imagem 20 - Meme da seleção feita pelo Estadão Imagem 21 - Gif sobre nomeação de Lula para ministro Imagem 22 – Meme sobre nomeação de Lula para ministro Imagem 23 – Meme sobre nomeação de Lula para ministro Imagem 24 – Meme sobre nomeação de Lula para ministro Imagem 25 – Meme sobre delação premiada de Delcídio Amaral Imagem 26 – Meme sobre balanço do primeiro ano de governo Temer Imagem 27 – Meme sobre delação envolvendo Temer e Aécio Imagem 28 – Meme sobre suposto envolvimento de Aécio Neves com tráfico de cocaína Imagem 29 – Meme acusatório sobre Marina Silva Imagem 30 – Meme sobre deficiência de Lula Imagem 31 – Meme sobre deficiência de Lula Imagem 32 – Meme sobre acusações a Lula Imagem 33 – Meme sobre rivalidade entre Sérgio Moro e Lula Imagem 34 – Meme sobre prisão de Lula Imagem 35 – Meme sobre ausência de Dilma e Lula na lista da Odebrecht Imagem 36 – Meme sobre prisão de Eduardo Cunha Imagem 37 – Meme sobre recado de Temer a Geraldo Alckmin Imagem 38 – Meme sobre bordão de Cabo Daciolo Imagem 39 – Meme sobre aparência de Lula Imagem 40 – Meme sobre colocação de Marina nas pesquisas de intenção de votos Imagem 41 – Meme sobre envolvimento dos internautas com a política Imagem 42 – Meme sobre envolvimento dos internautas com a política Imagem 43 – Site O Brasil Feliz de Novo Imagem 44 – Meme Coringa produzido durante debate na TV Globo Imagem 45 – Meme Coringa produzido durante debate na TV Globo Imagem 46 – Notícia sobre apropriação de Álvaro Dias dos memes Imagem 47 – Meme compartilhado pelo presidente da EBC Imagem 48 – Peça da campanha do Senado Federal sobre o uso da maconha.

(12) 11. Imagem 49 – Meme sobre campanha do Senado Imagem 50 – Meme sobre montagem de prefeito Imagem 51 – Meme sobre governador do Amapá. LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Curva sobre a incidência de notícias sobre memes por ano Gráfico 2 – Curva de notícias sobre deliberações impulsionadas por memes por ano.

(13) 12. SUMÁRIO. Introdução .......................................................................................................................16 1.. A ciência memética ............................................................................................. 21 1.1 As configurações do riso ............................................................................... 30 1.2 Um novo gênero discursivo ......................................................................... 35. 2. Esfera pública e ativismo social .......................................................................... 43 2.1 Memes e resistência ...................................................................................... 43 2.2 Táticas discursivas ........................................................................................ 51 2.3 Os memes no modelo ideal de democracia .................................................. 54 3. Os memes em pauta ............................................................................................ 59 3.1 Metodologia ................................................................................................. 60 3.2 Resultados .................................................................................................... 63 3.3 Atipicidades .................................................................................................. 77 4. Os memes deliberam .......................................................................................... 79 4.1 Metodologia ................................................................................................. 83 4.2 Análises ........................................................................................................ 84 Considerações Finais .................................................................................................... 100 Referências ................................................................................................................... 104 Anexos .......................................................................................................................... 107.

(14) 13. SOUZA, Tássia A. Os memes em pauta: as relações entrecruzadas entre os memes de internet e a mídia mainstream no ideal habermasiano de democracia deliberativa. 2019. 130 f. Dissertação (Mestrado em Comunicação Social) – Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo.. RESUMO Estudo sobre a penetração dos memes na esfera pública habermasiana e sua possível interferência nos espaços de deliberação político-institucional. A pesquisa tem por objetivo identificar a presença e abordagem dos memes políticos de discussão pública sobre a crise política brasileira nos veículos de mídia tradicional e a incidência de notícias sobre deliberações políticas tomadas a partir de manifestações meméticas no ciberespaço. Para tal, tomamos como referencial teórico, Limor Shifman e Viktor Chagas para apresentar a evolução dos estudos sobre os memes de internet, assim como suas possíveis classificações; tomamos Jürgen Habermas para a definição de esfera pública e contextualização de um ideal de democracia deliberativa em que os memes poderiam influenciar; e Wilson Gomes para problematizar a visibilidade e discutibilidade dos temas na agenda pública. A metodologia empregada conta com um levantamento de notícias que possuem como destaque, a crise política nacional tratada pelos memes na internet e uma análise estética dos memes selecionados por cada veículo para identificar um posicionamento político; em seguida, um levantamento das notícias que trazem os memes como influenciadores de decisões político-institucionais para analisarmos a interferência daqueles na composição da democracia deliberativa idealizada por Habermas. Resulta desta pesquisa a conclusão de que a participação dos memes de internet no processo de deliberações públicas no Brasil é um fenômeno crescente e que a mídia, assim como idealizado por Habermas e reiterado por Gomes, participa ativamente desse sistema mesmo quando aparenta tratar de mero entretenimento.. Palavras-chave: Comunicação. Democracia. Memes. Mídia. Política..

(15) 14. RESUMEN Estudio sobre la penetración de los memes en la esfera pública habermasiana y su posible interferencia en los espacios de deliberación político-institucional. La investigación tiene por objetivo identificar la presencia y abordaje de los memes políticos de discusión pública sobre la crisis política brasileña en los medios de comunicación tradicionales y la incidencia de noticias sobre deliberaciones políticas tomadas a partir de manifestaciones de los memes en el ciberespacio. Para eso, tomamos como referencial teórico, Limor Shifman y Viktor Chagas para presentar la evolución de los estudios sobre los memes de internet, así como sus posibles clasificaciones; tomamos a Jürgen Habermas para la definición de esfera pública y contextualización de un ideal de democracia deliberativa en que los memes podrían influenciar; y Wilson Gomes para problematizar la visibilidad y discutibilidad de los temas en la agenda pública. La metodología empleada cuenta con un levantamiento de noticias que poseen como destaque la crisis política nacional tratada por los memes en internet y un análisis estético de los memes seleccionados por cada vehículo para identificar un posicionamiento político; a continuación, un levantamiento de las noticias que traen los memes como influyentes de decisiones políticoinstitucionales para analizar la interferencia de aquellos en la composición de la democracia deliberativa ideada por Habermas. Resulta de esta investigación la conclusión de que la participación de los memes de internet en el proceso de deliberaciones públicas en Brasil es un fenómeno creciente y que los medios, así como idealizado por Habermas y reiterado por Gomes, participan activamente de ese sistema incluso cuando parece tratar de mero entretenimiento.. Palabras clave: Comunicación. Democracia. Memes. Medios de comunicación. Política..

(16) 15. ABSTRACT Study on the penetration of memes in the Habermas public sphere and its possible interference in the spaces of political-institutional deliberation. The research aims to identify the presence and approach of political memes of public discussion about the Brazilian political crisis in traditional media vehicles and the incidence of news about political deliberations taken from memetic manifestations in cyberspaceFor this, we take as theoretical reference, Limor Shifman and Viktor Chagas to present the evolution of the studies on the internet memes, as well as their possible classifications; we take Jürgen Habermas to define the public sphere and contextualize an ideal of deliberative democracy in which memes could influence; and Wilson Gomes to problematize the visibility and arguability of the themes in the public agenda The methodology used has a survey of news items that have as a highlight the national political crisis treated by the memes on the Internet and an aesthetic analysis of the memes selected by each vehicle to identify a political position; then a survey of the news brought by the memes as influencers of political-institutional decisions to analyze their interference in the composition of the deliberative democracy idealized by Habermas. The conclusion is that the participation of internet memes in the process of public deliberations in Brazil is a growing phenomenon and that the media, as idealized by Habermas and reiterated by Gomes, actively participates in this system even when it seems to be mere entertainment.. Keywords: Communication. Democracy. Memes. Media. Politics..

(17) 16. INTRODUÇÃO Esta dissertação é resultado da pesquisa que trata da penetração dos memes de internet no processo de deliberação política a partir do ideal habermasiano de democracia em que as discussões que ocorrem na esfera pública, atravessadas pela mídia, formam uma opinião pública que influenciaria diretamente nas tomadas de decisão políticoinstitucionais. Nosso problema tem início na observação do fenômeno de compartilhamento de memes de internet nas redes sociais, desde 2014, quando se intensifica uma crise política, econômica e social no país, sendo exatamente esse o conteúdo dos memes que, num primeiro olhar, parecem tratar apenas de um alívio cômico despretensioso, mas que ganha proporções maiores à medida em que nosso olhar se aprofunda no ciclo pelo qual esses memes perpassam. Nos parecia uma tendência que as agendas das redes sociais, em debates políticos acirrados, polarizações e zoeira estivessem ultrapassando a fronteira digital e pautando a agenda pública. Vimos, por exemplo, em 2018, enquanto esse trabalho avançava, a ascensão e eleição de um candidato que adotou as redes sociais para a propagação quase exclusiva de seus discursos. Outras personalidades receberam ameaças de morte, celebridades foram hostilizadas em espaços públicos e muitos grupos de família foram desfeitos no whatsapp. Uma infinidade de fatores e contextos contribuíram para esses resultados, não estamos aqui atribuindo uma relação causal simples entre eleições e divórcios aos memes, mas insistimos na problematização de que a presença dos memes de internet nesse cenário poderia ser um aspecto relevante de investigação, sobretudo por se tratar de um fenômeno novo e, portanto, prenhe de revelações. De início, nosso problema se desdobrava em excessivas questões para um trabalho de dissertação, conforme apontou a banca de qualificação, em maio de 2018. Faziam parte do problema inicial as seguintes questões: 1) é pertinente falar em esvaziamento do debate com os memes ganhando espaço nas discussões sobre crise política? 2) seriam os memes ativismo político ou entretenimento? 3) como se configura a Opinião Pública que vem motivando deliberações políticas com base no humor? 4) Os memes políticos de discussão pública compartilham do capital político da mídia? 5) Como os memes afetam o debate político e as práticas democráticas no Brasil?.

(18) 17. A partir de um recorte mais preciso sobre a influência dos memes em instâncias democráticas de poder, nosso problema se consolidou na atuação dos memes de internet no processo deliberativo político e democrático no Brasil, a partir do que Habermas – Direito e Democracia – definiu como modelo ideal de democracia. O teórico alemão propôs dois planos sobre os quais se edifica uma democracia deliberativa – plano informal e institucionalizado – e delimitamos, então, a investigação sobre cada um deles, necessitando, portanto, de dois momentos de análises distintos. No primeiro momento, tentaríamos responder em que medida os memes de internet estariam presentes na esfera pública – sobretudo atravessado pela mídia, conforme Habermas, e isso inclui os históricos interesses hegemônicos – para então formar uma opinião pública. E, em seguida, precisaríamos responder até que ponto a formação da opinião pública pautada pelos memes estaria influenciando a última instância de um modelo ideal de democracia – a tomada de decisões político-institucionais. Nossa hipótese, a partir do acompanhamento cotidiano de notícias sobre política e da observação do movimento de interação entre os memes e a mídia hegemônica, era de que definitivamente os memes estavam presentes e influentes – apesar de não sabermos em qual medida – na agenda pública nacional e nos processos públicos deliberativos.. Objetivos Para alcançar esta hipótese estabelecemos como objetivo geral, uma análise da influência dos memes de internet nas instâncias deliberativas e democráticas no Brasil em contexto de crise política; e como objetivos específicos: mensurar a incidência de conteúdo noticioso sobre a crise política no Brasil narrado pelos memes de internet, analisar o tratamento dado pelos veículos aos memes e seu conteúdo semântico, identificar a presença de notícias que evidenciam o fenômeno de decisões políticoinstitucionais a partir da repercussão de memes na internet.. Referencial Teórico Para o alcance dos objetivos mencionados, utilizamos, primeiramente, a literatura voltada para os memes de internet que, apesar de serem um fenômeno relativamente novo no Brasil, já conta com publicações de notável valor científico. Um breve histórico da evolução dos memes introduz essa temática e em seguida nos dedicamos a algumas formas de classificação dos memes de internet propostas em.

(19) 18. trabalhos nacionais e internacionais. Limor Shifman, pesquisadora israelense, contribui neste trabalho com sua proposição de função política dos memes de internet, que acaba por definir nosso objeto principal, que são os memes de discussão pública. Viktor Chagas, pesquisador brasileiro, também contribui na classificação dos memes e, de modo mais geral, em metodologias de análises desse objeto. Para tratarmos do campo político – também relacionado com as pesquisas de Shifman e Chagas – optamos pela definição de Habermas, em Direito e Democracia, de um processo de deliberação pública e política que tem início na agenda da esfera pública, atravessando a formação da opinião pública e encerrando nas tomadas de decisões de instituições políticas dentro de uma sociedade democrática. Por fim, Wilson Gomes é fundamental nessa abordagem por destacar os fatores de visibilidade e discutibilidade no modelo ideal de democracia habermasiano, uma vez que aí se dá a participação da mídia, conforme nos propusemos a analisar. Outros autores menos centrais na discussão nos alicerçaram na compreensão de processos complementares, como Bakhtin, na configuração de gêneros discursivos e Ètienne Souriau na proposição de categorias estéticas, que nos possibilitaram um padrão de análise do uso do humor nos memes.. Metodologia Nossa metodologia também sofreu algumas mudanças desde a qualificação. Nossa proposta inicial de levantar alguns memes pelo twitter a partir de hashtags a definir sobre a crise política foi inviabilizada pela limitação de acervo disponível para usuários do site. Também eliminamos do corpus os memes presentes no cotidiano dos brasileiros fora do ambiente digital, como em manifestações, fantasias carnavalescas, músicas etc. Essa decisão se aproxima da decisão de limitar a questão-problema, pois o corpus muito extenso exigiria novos recortes de investigação que não caberiam nessa pesquisa. Substituímos ainda a análise discursiva por uma análise estética após concluirmos que a definição semântica dos memes estava diretamente atrelada ao tipo de humor de cada peça. Entendemos, portanto, que uma análise mais direta sobre o significado do riso nos aproximaria mais de nosso objetivo no terceiro capítulo em que a apropriação dos memes pela mídia recebe destaque. Ficamos então com uma metodologia mais simples, porém, em nosso entendimento, mais objetiva. Levantamos notícias sobre a crise política brasileira contada.

(20) 19. a partir dos memes de internet e notícias sobre deliberações políticas impulsionadas pela circulação de memes. Para esse levantamento, utilizamos o site de buscas Google em períodos sistematizados para a obtenção de uma amostra mais heterogênea com relação ao período de coleta.. Organização do Texto Os resultados alcançados pela pesquisa estão concretizados nesta dissertação em quatro capítulos. No primeiro, traçamos um panorama do avanço das pesquisas sobre memes, iniciada na biologia e chegando ao campo da Comunicação, por meio de autores nacionais e estrangeiros. Ainda neste primeiro momento, tratamos de dissecar os memes de internet do ponto de vista discursivo, compreendendo sua composição estrutural para então tratá-lo como um gênero discursivo em voga. Ainda neste capítulo, estabelecemos alguns parâmetros estéticos para identificar estilos de memes com distintos gatilhos provocadores do riso. Já no segundo capítulo, nos debruçamos sobre a característica política desses memes. Ancorados no ideal habermasiano de democracia deliberativa, procuramos localizar a presença dos memes no percurso entre esfera pública e a tomada de decisões político-institucionais. Discutimos, ainda, a produção e circulação dos memes como uma ação de resistência política e sua penetração na mídia tradicional como uma possível ruptura no sistema, em que os atores à periferia do debate social alcançariam lugares privilegiados de fala. Os aspectos dessa contaminação midiática pelos memes de internet foram analisados no terceiro capítulo deste trabalho, onde levantamos 61 notícias em veículos tradicionais de mídia online sobre temas diversos da crise política brasileira e cujos protagonistas eram os memes. Adentrando a questão da visibilidade na esfera pública, procuramos investigar o caráter discursivo dos memes selecionados pelos veículos em seis publicações para comprovar se, de fato, as vozes anônimas dos produtores de memes burlavam o sistema de mídia mainstream, ou apenas são cooptados por ele. Chegamos, então, ao quarto capítulo, em que buscamos constatar a influência dos memes nos processos de tomada de decisões das instituições públicas políticas. Para a análise, fizemos o levantamento de casos reais dessa repercussão a partir do levantamento de conteúdos noticiosos na web..

(21) 20. Com este trabalho esperamos contribuir para os estudos de comunicação contemporânea em que uma nova ecologia de mídia ganha forma sem, no entanto, deixar de interferir em importantes processos sociais, econômicos e políticos. As relações entrecruzadas entre as vozes dissonantes das redes sociais e a tradição da mídia hegemônica nos dão um campo de estudo tanto fértil quanto instável e de impactos expressivos em uma sociedade, sobretudo em tempos de crise. Por isso, consideramos relevante ampliar a investigação sobre a influência desses discursos nas esferas de poder e nas tomadas de decisões públicas no Brasil..

(22) 21. 1. A Ciência Memética e a narrativa do riso Os memes de internet são um fenômeno novo de adesão extraordinária. Desde as situações mais banais e cotidianas até discussões intensas sobre política institucional são atravessadas por essa curiosa forma de comunicar. Nascidos na cibercultura, seus estudos apontam, entretanto, para uma origem um pouco mais remota, considerando a passagem de eras comunicacionais1: a sociedade de massas. Com etimologia na palavra grega mimeme (imitação), o termo meme foi cunhado, em 1976, pelo biólogo britânico Richard Dawkins que, certo do processo evolutivo das espécies por meio dos genes, questionou-se sobre a existência de outros “replicadores” na natureza. Bastava observar a transmissão de culturas na humanidade, desde os primeiros hominídeos com a imitação na forma de acender o fogo, de preparar os alimentos, confeccionar roupas e até manifestações culturais mais complexas, já asseguravam a manutenção de uma ideia original capaz de atravessar gerações. O biólogo evolucionista, em seu livro O Gene Egoísta, buscou então uma definição para esse fenômeno de propagação de ideias entre indivíduos, que concluiu ser semelhante à propagação de informações genéticas entre os organismos vivos de acordo com sua capacidade de adaptação ao ambiente. Para Dawkins, memes, conforme denominados, podem ser. melodias, ideias, "slogans", modas do vestuário, maneiras de fazer potes ou de construir arcos. Da mesma forma como os genes se propagam no "fundo" pulando de corpo para corpo através dos espermatozoides ou dos óvulos, da mesma maneira os memes propagam-se no ‘memepool’ pulando de cérebro para cérebro por meio de um processo que pode ser chamado, no sentido amplo, de imitação. Se um cientista ouve ou lê uma ideia boa ele a transmite a seus colegas e alunos. Ele a menciona em seus artigos e conferências. Se a ideia pegar, pode-se dizer que ela se propaga (...) espalhando-se de cérebro a cérebro. (DAWKINS, 2007, p. 122). A concepção do termo possibilitou a estruturação de uma complexa rede de investigações que tem início nas ciências biológicas e ganha campo também nas ciências humanas e sociais: a ciência memética. Inocêncio (2016) esboça um mapa teórico das. SANTAELLA (2003) – a autora divide as eras culturais em seis tipos de formação: cultura oral, cultura escrita, cultura impressa, cultura de massas, cultura das mídias e cultura digital. Obedecendo exatamente a essa ordem cronológica, cada uma das eras carrega em si traços das culturas anteriores. 1.

(23) 22. pesquisas desenvolvidas no campo da Comunicação que nos ajuda a compreender o avanço dos estudos na área. Uma das principais autoras destacadas por Inocêncio é a inglesa Susan Blackmore que, em 1998, ao observar que os memes são ideias e comportamentos que um indivíduo aprende com o outro através da imitação, concluiu que a personalidade dos indivíduos é na verdade um grupo de memes, uma configuração temporária de “vírus mentais aninhados na consciência”, que influencia comportamentos e decisões. Mais tarde, em 2002, Blackmore movimenta a discussão com o conceito de memeplexos ou complexo de memes. Segundo a autora, eles agem em conjunto fortalecendo uns aos outros (organizando um repertório cultural) e criando uma atmosfera hostil aos memeplexos rivais. Funciona assim: a religião é um memeplexo; o meme do catolicismo, por exemplo, inclui o estímulo ao matrimônio, à reprodução e ao batismo das crianças, ou ainda a conversão de outros fiéis – ou seja, os memes fazem com que trabalhemos para a sua propagação. Mas os memeplexos não são necessariamente projetados intencionalmente por alguém, eles são criados pelo processo da seleção memética, semelhante ao processo de seleção natural que acontece “não segundo o interesse das espécies envolvidas, nem dos grupos, ou ainda dos indivíduos, mas, simplesmente, segundo o interesse dos genes” (BLACKMORE, 2002) – os memeplexos sobreviventes são aqueles que tiveram o que era necessário para ser um bom replicador. Blackmore adverte ainda para os numerosos estados meme-competitivos como religiões, teorias políticas, modos ou estilos musicais.. De um lado existem os vírus, as religiões, os cultos e os falsos credos. De outro, existem os nossos mais preciosos instrumentos que nos consentem viver assim como as nossas línguas, a tecnologia e as teorias científicas. Sem os memes não poderíamos falar, escrever canções ou fazer muitas das coisas que se associam ao ser humano. Os memes são os instrumentos com que pensamos e a nossa mente é um conjunto de memes (...) assim como o mundo biológico foi projetado pela competição entre os genes, o mundo cultural é projetado pela competição entre memes (BLACKMORE, 2002). Somente por volta de 2010, no entanto, a memética começa a despontar no campo da Comunicação. Nesse caminho, Milner (2012) envereda na discussão sobre os memes de que, segundo ele, tiveram sua origem em sites de conteúdo gerado pelo usuário como 4 chan, reddit e Tumblr, onde o termo foi adotado, pela primeira vez, pelos próprios usuários. Esses usuários começaram a utilizar o termo meme para muito do que.

(24) 23. produziam, de modo que esse termo passou a ser sinônimo de uma peça de discurso midiático “passado de pessoa para pessoa, mudando e evoluindo durante o caminho” (2012, p.11). A israelense Limor Shifman também se destaca nesse campo analisando os já consagrados memes na internet. Em 2014, ela aponta pelo menos dois fatores para esse sucesso que nos interessa destacar: um deles é a possibilidade de criação de laços e o senso de pertencimento nos grupos que se formam no ambiente digital; outro fator é a facilidade de manipulação no ambiente digital que permite a reprodução ou alteração de qualquer ideia facilmente: qualquer pessoa com conhecimentos rudimentares do uso de tecnologias informacionais se apropria de uma ideia, modifica e compartilha. No Brasil, Luís Mauro Sá Martino, que também contribui com as investigações abordando o espaço propício que os memes encontraram nas mídias sociais, corrobora com essas reflexões de Shifman. Ele destaca que, no ambiente digital, os memes ultrapassam as relações individuais e alcançam o nível social das relações e por isso se tornam tão importantes nos estudos da contemporaneidade. Para ele, a criação de conteúdo pelos usuários está no coração desse conceito. E sobre isso, ele traz:. Os memes são transmitidos, primordialmente, entre indivíduos. No entanto, por conta da velocidade e alcance de sua disseminação, se tornam fenômenos culturais e sociais que ultrapassam a ligação entre as pessoas. Essa relação entre o nível micro do compartilhamento individual e o nível macro do alcance social tornam os memes particularmente importantes para se entender a cultura contemporânea (MARTINO, 2014, p.178).. Martino (2015) também classifica toda a cultura digital com suas cópias, transformações e compartilhamento de informações como parte de um processo hipermemético, que se refere ao seu potencial de disseminação em diversas plataformas, mais ou menos como a noção de hipertexto. Ele sublinha duas explicações dadas por Shifman sobre porque os memes funcionam e ambas dizem respeito a esse complexo das relações sociais. A primeira trata da economia da informação, na qual a atenção das pessoas é um bem valioso e os memes têm a capacidade de atrair o interesse de indivíduos e grupos para um determinado assunto. A segunda diz respeito à necessidade das pessoas de criarem laços, de sentirem-se parte de um grupo – o compartilhamento dos memes está intrinsecamente relacionado à identificação de ideias entre indivíduos e grupos..

(25) 24. No quadro abaixo, Martino sintetiza as principais diferenças e semelhanças de fatores de sucessos de memes e virais:. Tabela 1_Fatores de Sucesso em memes e virais. Fatores de sucesso dos virais Prestígio Posicionamento (de público). Simplicidade. Fatores de sucesso dos memes Potencial de imitação. Humor. Enigma / desafio. Alta carga emocional. Possibilidade de participação do público. Vínculo de grupo. Fatores comuns. Fonte: MARTINO (2015). Um pouco antes do avanço nas pesquisas em memes de internet, Raquel Recuero (2007) destaca três importantes características de sobrevivência dos memes digitais, com base nos estudos de Dawkins e Blackmore, que estão em consonância com o quadro adaptado por Martino de Shifman – longevidade, fecundidade e fidelidade – tidas como essenciais e acrescenta ainda uma quarta peculiaridade: o seu alcance – o que nos leva a uma breve distinção entre memes e virais. Virais são peças reproduzidas amplamente em sua forma original, sem reconfiguração discursiva ou de formato por parte dos usuários, não importando o formato da peça (vídeo, imagem, etc). Exemplos de viral podem ser uma paródia ou o vídeo de uma gafe cometida por uma personalidade pública. Já os memes, sofrem, necessariamente, modificações pelos usuários produtores de conteúdo (user-generated content) durante o processo de replicação e são essas alterações que garantem a sobrevivência evolutiva dos memes no ambiente digital. No viral, o internauta é apenas replicador e o alcance é vital para sua existência; no meme, o usuário também é produtor de conteúdo e ele pode, tanto viralizar globalmente, como circular em nichos, a partir de intelectualismos e culturas específicas, como veremos a seguir. O brasileiro Viktor Chagas questiona o fato da discussão sobre o alcance dos memes se concentrar em apenas um de seus aspectos ontológicos, o potencial de variação e replicabilidade, o que ele chama de repercussão. “A repercussão, no entanto, avalia apenas como esta mensagem se propaga, e não que mensagem é esta, ou por que ela é propagada” (2016, p. 216, grifo do autor). E esse questionamento se torna urgente quando investigamos a atuação dos memes na esfera pública atravessando e sendo atravessado pelo debate político, visto que é parte desse complexo memético..

(26) 25. Ainda sobre os avanços das pesquisas sobre o fenômeno dos memes de internet, observa-se, a partir de 2013, uma tendência na busca de taxonomias, uma tentativa de organizá-los em categorias e gêneros que nos ajudem a compreender melhor o fenômeno de replicações digitais em um contexto sociocultural. Ao tratar de metodologias para o estudo dos memes digitais ou memes de internet, Chagas adverte que “definições restritivas do conceito de meme podem levar a imprecisões na avaliação dos conteúdos” (2016, p. 217) e observa que boa parte das tentativas de classificação dos memes de internet, até aqui, de alguma forma se restringe tão somente à mídia ou à categoria nativa criada pelos próprios internautas e ressalta a importância do critério de intencionalidade para a classificação dos memes em gêneros. Portanto, o autor adota em suas análises, a categorização definida por Limor Shifman (2014), em que a autora estabelece três grandes funções políticas dos memes: (1) memes como forma de persuasão e defesa política; (2) memes de ação coletiva; e (3) memes como modelo de expressão e discussão públicas – divisão amplamente repercutida nos trabalhos acadêmicos sobre os memes de internet no Brasil – e, a partir daí, envereda por uma classificação mais específica, voltada para o conteúdo. Os memes de persuasão ou de defesa política são apropriações feitas por instituições ou personalidades representativas com o intuito de viralizar uma ideia que pode ser comercial ou ideológica. Em geral, são peças virais compartilhadas sem interferência do internauta em seu conteúdo e diferenciam-se por uma estética com traços profissionais. Em 2008, durante as eleições presidenciais dos Estados Unidos, um exemplo bem-sucedido de meme de persuasão foi o videoclipe “Yes We Can” do candidato Barack Obama, em que artistas como Scarlett Johansson, Kate Walsh e o jogador de basquete Kareem Abdul-Jabbar cantavam o slogan homônimo com cenas intercaladas do então candidato em discursos de campanha. No Brasil, durante a crise política compreendida entre outubro de 2014 e os dias atuais, exemplos de memes de persuasão são as peças produzidas por movimentos partidários como o Movimento Brasil Livre (MBL), o Frente Brasil Popular e o movimento Povo sem Medo. O conteúdo das peças é diverso, pode ser desde uma chamada de evento até a propagação de opiniões sobre personalidades políticas..

(27) 26. Figura 1_Pôster político online com convocação da Frente Brasil Popular. Figura 2_Meme de escárnio pela prisão do ex-presidente Lula. Figura 3_Pôster de convocação do movimento Povo Sem Medo. Fonte: fanpage do Povo Sem Medo no Facebook. Fonte: fanpage da Frente Brasil Popular no Facebook. Fonte: fanpage do MBL no Facebook.. Já os memes de ação coletiva, são também ações replicadas entre os internautas, mas apenas de usuário para usuário sem origem ou interferência das instituições políticas como nos memes de persuasão. Geralmente, uma ideia é lançada na rede em forma de desafio e vai se espalhando e formando uma imensa corrente, como acontece nos flashmobs, exemplos clássicos dessa categoria. No Brasil, duas ações foram destaque nos últimos anos: o “desafio do balde de gelo”2, que circulou nas redes sociais entre celebridades em forma de desafio; e os “vomitaços”3 repercutidos nas páginas do presidente Michel Temer, do Palácio do Planalto, entre outras como forma de contestação ao governo. Recentemente, com a prisão do ex-presidente Lula, outro exemplo de ação coletiva pôde ser observado nas redes sociais, internautas anônimos e personalidades políticas como a senadora Gleisi Hoffman alteraram seus nomes de perfis para o incorporar “Lula” ao nome original – o nome da senadora no Twitter passou a ser Gleisi Lula Hoffman. No mesmo sentido, quando a justiça do Mato do Grosso do Sul determinou a retirada dos índios Guarani Kayowá da Aldeia Passo Piraju, em 2012, protestos 2. O Desafio do Balde de Gelo foi lançado em 2014 pela ALS Association para arrecadar dinheiro para pesquisas sobre a esclerose lateral amiotrófica (ELA). Cada pessoa que doasse para a campanha deveria gravar um vídeo virando um balde de água gelada na cabeça e desafiando três amigos a fazer o mesmo. A adesão de celebridades como Bill Gates, Mark Zuckerberg ,Taylor Swift, Neymar, Gisele Bündchen e Ivete Sangalo ao desafio foi essencial para o sucesso da campanha, que logo viralizou nas redes e arrecadou mais de 100 milhões de dólares. Fonte: Revista Veja. 3. Em maio de 2016, na véspera da votação no Senado para a admissibilidade do processo de impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff, internautas iniciaram um movimento chamado “vomitaço” nas redes sociais que consistia em reagir massivamente às publicações de fanpages e perfis do PMDB e de Michel Temer com o sticker de vômito. O que motivou a ação foi uma publicação do PMDB no facebook que dizia “Falta pouco para unir o Brasil e fazer um governo sem rancor e sem ódio”. Quase dois anos depois, a reação continua e expandiu para outras páginas oficiais como a do Palácio do Planalto..

(28) 27. tomaram conta das redes sociais em apoio aos indígenas incluindo a palavra “Guarani Kayowá” no nome de perfil no facebook.. Figura 4_Vomitaço na fanpage do Planalto em 21/11/16. Fonte: Facebook. A terceira função política dos memes descrita por Shifman é, então, o objeto de investigação deste trabalho: os memes de discussão pública. Estes são apropriações de internautas anônimos (ou não), com formatação amadora, finalidade crítica e conotação cômica. Segundo Chagas (2016), os conteúdos dessas peças ancoram-se em forte senso de pertencimento a valores de referência próprios de subculturas expressos na cultura pop. Em estudo sobre os memes repercutidos na campanha eleitoral de 2014, no Brasil, Chagas (2017) propõe subcategorias às funções políticas propostas por Shifman, que nos ajudarão a compreender, adiante, como os memes políticos podem influenciar a opinião pública.. Tabela 2_Função política dos memes e subcategorias. Função Política Memes de Persuasão. Subcategorias (enquadramento discursivo) Retórica propositiva e/ou um apelo pragmático. Retórica sedutora ou ameaçadora e/ou. Retórica éticomoral e/ou um apelo ideológico. Retórica crítica e/ou um apelo à credibilidade da fonte.

(29) 28. Memes de Ação Popular. Memes de Discussão Pública. Dinâmica de ação coletiva e redes curadas por organizações Lugares-comuns da política. um apelo emocional Dinâmica de ação conectiva híbrida e redes catalisadas por organizações Alusões literárias ou culturais. Dinâmica de ação conectiva e redes autoorganizadas. Dinâmica de ação conectiva de engajamento relativo. Piadas sobre personagens da política. Piadas situacionais. Em trabalho publicado em 20174, discorremos sobre a reconfiguração de narrativas hegemônicas pelos memes de internet que contamina a mídia hegemônica a partir da semiótica da cultura e observamos que esse debate informal que se dá em camadas de pouca credibilidade (informativa) no ciberespaço e ganha força de contrahegemonia quando alcança os veículos tradicionais de comunicação. O conceito de semiosfera de Iuri Lótman propõe a configuração de um espaço que contempla toda forma de cultura, em que todos os sistemas sígnicos estão em constante processo de criação e dialética em um continuum semiótico. A semiosfera constitui-se de um núcleo e de periferias que se estabelecem de acordo com o objeto em análise. A cultura situada no núcleo desse sistema representa aquela de maior influência e controle sobre as demais manifestações, enquanto que a cultura periférica desenvolve-se às margens do sistema, mas sempre em contato com o centro hegemônico. Propõe-se então, a localização dos memes na periferia da semiosfera, onde eles se apropriam de notícias e conceitos sedimentados nos discursos tradicionais da mídia e de instituições políticas transformando-os em escárnio, expondo as vozes dominantes ao contraditório e ao ridículo. Sobre as duas estruturas fundantes da semiosfera, Lótman denota sua irregularidade interna como a própria lei de organização, definindo que núcleo e periferia se movimentam no espaço semiosférico, gerando “áreas de tensão”.. Temos então que, assim como os produtores de memes reconfiguram os discursos hegemônicos, a mídia tradicional também é pautada pela agenda desses usuários, sobretudo em tempos de crise política em que a opinião popular, por princípio, merece destaque. Nesse contexto, as fronteiras entre núcleo e periferia contaminam-se mutuamente permitindo a expansão da cultura a partir de um diálogo constante. (SOUZA, 2017, p. 59) O artigo intitulado “Memes e contracultura: a reconfiguração de narrativas hegemônicas na semiosfera” foi apresentado no GP Semiótica da Comunicação, XVII Encontro dos Grupos de Pesquisas em Comunicação, evento componente do 40º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação e, posteriormente, publicado na Revista Temática, Ano XIII, n. 12. Dezembro/2017. 4.

(30) 29. Por meio dessa participação na produção e circulação de conteúdo contrahegemônico no espaço digital, novas configurações começam a se impor também no mundo offline. Shifman (2014) enumera dois tipos de lógica que governam o ativismo político digital contemporâneo: a “velha” lógica da ação coletiva e “ação conectada”. A primeira está associada a altos níveis de recursos organizacionais e a formação de identidades coletivas. Shifman destaca que a popularização da internet facilitou o engajamento dos movimentos que atuam sob essa lógica, mas, mesmo assim, não a modificou em um sentido fundamental: uma ONG como o Greenpeace, por exemplo, é bastante beneficiada pelas possibilidades de mobilização online, mas ainda depende de forma vital de seus ativistas offline. Já a segunda baseia-se em conteúdos compartilhados exclusivamente pelas novas mídias sociais. As “ações conectadas” surgiram, segundo a autora, em uma era de decadência da influência de organizações formais sobre os indivíduos e em que fortes laços entre pessoas e seus grupos de pertencimento na rede se consolidam. Dado o contexto epistemológico em nos propomos observar a influência dos memes políticos na opinião pública, seguem abaixo alguns exemplos brasileiros dessa categoria:. Figura 5_Meme sobre a crise política. Figura 6_Meme sobre a crise política. Fonte: El País Brasil Fonte: El País Brasil.

(31) 30. Figura 7_Meme sobre a prisão de Lula. Figura 8_Meme sobre voto da Min. Rosa Weber contra a concessão de habeas corpus a Lula. Fonte: Google Fonte: Facebook Figura 9_Meme sobre pronunciamento de Michel Temer. Fonte: Twitter. 1.1 As configurações do riso Dada a ressonância do ativismo digital na “sociedade desconectada”, retomemos a classificação política dos memes proposta por Shifman para aprofundarmos em uma das características centrais dos memes de discussão pública: o humor. Conforme observamos nos exemplos acima (figuras 5 a 9), a forma é um elemento variável nos memes de discussão pública. É possível que um meme seja composto de texto verbal e imagem; texto verbal e gif; apenas texto verbal, além de diversas outras configurações. Entretanto, todos compartilham uma característica em comum: o atributo provocador do riso. Segundo Henri Bergson (1983), para compreendermos o riso, impõe-se colocálo no seu ambiente natural: a sociedade, e determinar-lhe a função útil, que é uma função social – o riso deve corresponder a certas exigências da vida em comum, deve ter uma significação social, ele diz. Ora, quando nos deparamos com um meme como o da figura 6, por exemplo, o riso somente se tornará possível se o indivíduo observador conhecer a dinâmica do programa Tentação do SBT apresentado por Silvio Santos, na década de 90, em sua primeira temporada, em que dezenas de participantes optavam pela resposta certa a uma questão apresentada ao vivo escolhendo uma das três portas no palco. A eliminação dos participantes acontecia em massa, visto que apenas uma porta continha a resposta certa, portanto o fluxo de participações era célere..

(32) 31. No entanto, o humor tem servido não apenas ao entretenimento despretensioso ou lucrativo da cultura do clique, mas também para fustigar as ideias estabelecidas, criticar modelos socialmente impostos e denunciar arbitrariedades e ilicitudes diversas. A catarse promovida pelo humor, nesse caso, pode ser explicada por Silva (2013, p. 14):. O riso, a piada, o humor têm uma função catártica, uma elaboração interna de medos e desejos, que realiza uma purgação de sentimentos, preconceitos e impulsos. O humor também exprime o escárnio, o desprezo, a visão reduzida do outro, caminhando no sentido de uma não elaboração, mas um reforço de sentimentos de diminuição e repulsa ao que lhe é estranho ou diferente e como forma de se demarcar espaços simbólicos de domínio.. Chagas pontua que o humor político na internet contribui para a “criação e a consolidação de uma teia de significados compartilhados, que absorve e ressignifica conteúdos da cultura popular” (2017, p. 178) e destaca: “Para Tay (2012), a comicidade é veículo para que a política seja explorada, incorporando elementos da cultura popular e do entretenimento midiático e atuando para incluir o cidadão comum em processos que requeiram participação.” (2017, p.179) Mas como também podemos observar nos memes elencados a nuance de humor varia em cada enunciado. Portanto, antes de enveredarmos pela epistemologia da linguagem na missão de caracterizar os memes de discussão pública como gêneros discursivos, nos parece fundamental a definição dos atributos provocadores do riso a partir de algumas taxonomias possíveis. Étienne Souriau, filósofo e esteta francês, elaborou, em 1933, um diagrama com 24 ramos que dimensionam a análise de objetos estéticos buscando compreender uma totalidade razoável de categorias estéticas resultantes de relações afetivas entre objeto e público. Elas nascem do esforço em situar as expressões artísticas dentro de configurações estéticas. No entanto, Silva adverte que certa mobilidade na ordem dos fenômenos estéticos leva essas categorias à posição de indicadores, que permitem uma orientação sem, contudo, definir um caminho rígido: “o número de zonas que compreendem os fenômenos estéticos é ilimitado, e por tal razão o quadro sinótico oferecido pelas categorias deve ser visto como formulações em aberto, quadro que pode ser preenchido por outras tipologias” (2010, p. 92), sobretudo, complementamos, quando o diagrama proposto por Souriau é aplicado a um objeto diverso daquele em que se deu as reflexões.

(33) 32. sobre as categorias propostas, neste caso, os memes. Admitimos ainda a possibilidade de, em uma mesma peça, coabitarem mais de uma categoria. A construção do diagrama parte dos dois paradigmas estéticos mais importantes da história da civilização ocidental, segundo Silva: o ideal clássico e o ideal romântico. Para além dessa proposição, Souriau amplia o quadro das classificações às categorias menores, integrando, portanto, as pequenas esferas sensíveis.. Figura 10_Diagrama de Étienne Souriau. Fonte: SILVA (2010, p. 94). Posteriormente, Souriau reviu e alterou a configuração do diagrama, retirando dele o sublime e o poético: o primeiro, segundo Silva (2010, p. 93), por estar ligado ao sentimento de transcendência e de excesso, que pode modificar qualquer valor estético; e o segundo, por ser ele mesmo um a priori de toda axiologia estética, “sem a poeticidade, nada de beleza, lirismo etc.” Porém, permaneceram as seis categorias que nos interessam aprofundar neste trabalho, aquelas que remetem ao riso e, portanto, nos ateremos apenas.

(34) 33. à definição destas. São elas, o cômico e o grotesco na vertente clássica; o irônico na vertente romântica; e o espiritual ou humor, o caricatural e o satírico nas categorias menores.. 1.1.2 Categorias Clássicas •. Cômico Remete à origem do teatro cômico, no riso pela falha ou infâmia do outro. Temos. como exemplo clássico desta categoria a figura do bobo da corte. Há uma revelação de contradições que se diferencia da tragédia por seus fins e aspirações que, nesta provamse nobres, essenciais, já naquela, não é vital, portanto, não deve ser levada a sério. O que se pretendia profundo, revela-se vulgar; o rico, mostra-se pobre; o pleno, vazio; o elevado, mesquinho. A fundamentação do cômico não é outra coisa senão a redução de uma aparência farsante, revelando o que ela de fato é. E nesse processo de desvalorização do real reside uma crítica social que, no ambiente digital, é muito bem apropriada pelos produtores de memes.. Adotando o ponto de vista aristotélico, Benedetto Croce entende que a reação do espectador diante do cômico traz uma decepção que é compensada pela liberação de uma força psicológica acumulada. Essa também é a compreensão de Kant, pois para ele o cômico reside no relaxamento de uma tensão – portanto trata-se de um processo catártico. (SILVA, 2010, p. 95). •. Grotesco O grotesco distancia-se do real provocando no espectador um “estranhamento”. do mundo a partir do que é absurdo ou inexplicável. Essa categoria relaciona-se com o fantástico, o insólito, o absurdo, o horror, o antinatural aproximando o objeto do feio, do monstruoso – basta lembrar do vampiresco Michel Temer da escola de samba Paraíso do Tuiuti, em 20185 – Por isso mesmo, Souriau (1999 apud SILVA, 2010) sublinha que “o grotesco, como categoria estética, se situa na intersecção de outras esferas: como a do cômico, do fantástico, do bizarro e do pitoresco”, provocando o medo, mas também provocando o riso nervoso. Silva destaca ainda a existência de modalidades nessa. 5. A escola de samba Paraído do Tuiuti, do Rio de Janeiro, levou para a avenida, em 2018, o enredo "Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?”, em que criticava, entre outras coisas, a Reforma Trabalhista aprovada no Governo Temer. O último carro da escola trazia um personagem vampiro com a faixa presidencial que se chamava “presidente vampiro do neoliberalismo”..

(35) 34. categoria vinculadas à escatologia, à teratologia (estudo de anomalias e malformações humanas), aos excessos corporais e às partes baixas do corpo. No entanto, diferencia-se do cômico por desfigurar a realidade em si mesma e não sua aparência. O compromisso do grotesco com o riso se manifesta em tudo aquilo que é vulgar, cruel ou grosseiro.. 1.1.3 Categorias Românticas •. Irônico Essa categoria reside no limite tênue entre o humor e a sátira. Diferentemente. destas, a ironia compõe uma crítica dissimulada, que se manifesta nas entrelinhas. Aliás, quanto mais oculta, mais profunda. Dado esse paradoxo, é preciso saber julgá-la, já que ela não se manifesta abertamente: “diz mais do que diz”. O irônico faz o objeto sumir atrás de sua aparente elevação, rejeitando o caráter aberto e generoso do humor, assim como o frontal e destruidor da sátira. Nessa fronteira entre o humor e a sátira, temos a ironia humorística, com toques de compaixão, que não fere; e temos a ironia mais amarga, implacável. Diante da posição especulativa a que se submete o espectador, Souriau sublinha que essa categoria estabelece um laço de simpatia e cumplicidade entre indivíduo e objeto. Veremos, adiante, uma notória preferência – consciente ou inconsciente – dos produtores de memes por essa categoria.. 1.1.4 Categorias Menores •. Espiritual ou Humor A principal característica dessa categoria, também muito apropriada pelos. produtores de memes, se comparada ao cômico e à sátira – com quem se relaciona, mas não se confunde – é que ela não provoca o riso, mas o sorriso, ou um riso que não pretende destruir, mas compreender, um riso complacente, diferente do riso da comédia, que é frouxo e rasgado. Sua crítica também se manifesta na desvalorização do real – como na categoria cômica – mas uma desvalorização parcial, que se dá de forma branda, fazendo assim com que se preserve alguma simpatia pelo objeto.. •. Caricatural Segundo Silva (2010), a principal característica dessa categoria é a deformação. espantosa ou horrenda, odiosa ou ridícula de alguém ou de um objeto, situação etc., ainda que, no todo, seja perfeitamente reconhecível. Há uma proximidade dessa categoria com.

(36) 35. o grotesco na medida em que ela toma sempre a feiura como padrão estético. Diferentemente do que se imagina, a caricatura não é uma categoria exclusiva do desenho, mas da arte como um todo, podendo ser percebida na escultura, no teatro, na música, nos memes etc. •. Satírico Na sátira, não há espaço para a simpatia. Quando presente em um objeto ou. fenômeno sensível, ela provoca imediata repulsa ou desaprovação. Por esta razão, seus objetos costumam ser vinculados ao despotismo, corrupção moral, social ou política, vícios públicos ou privados, burocracia etc. Comparada ao humor, a sátira é mais espinhosa, destruidora, e expõe o lado negativo e vulnerável do objeto. O riso nesta categoria é desprovido de ternura e carrega consigo o sentimento de indignação ou ira. Essa classificação dos atributos provocadores do riso nos servirá, não apenas para uma definição estilística dos memes como gênero discursivo, como veremos a seguir, mas, sobretudo, nas análises dos memes como instrumentos de ativismo digital e posicionamento político, quando a escolha de uma ou outra categoria pode determinar o tom da crítica e acusar ou inocentar um personagem, por exemplo.. 1.2 Um novo Gênero Discursivo A discussão sobre os memes como gêneros discursivos vem ganhando volume desde o início deste trabalho. Autores como Calixto (2017) e Porto (2018), por exemplo, apresentam fundamentação e olhares distintos para assim caracterizá-los. Calixto considera subgênero, forma e conteúdo, e considera para a concepção de memes como um gênero discursivo, suas implicações na cultura contemporânea a partir da sua configuração nos ecossistemas comunicativos. Em sua proposta, ele alcança um relevante conceito para o gênero meme, porém, sob ponto de vista diverso do que pretendemos analisar.. Com referências intertextuais e interdiscursivas aos produtos midiáticos que circulam no ciberespaço, os memes são narrativas que materializam — em micronarrativas — os enunciados formados por composições visuais-verbais, cuja finalidade é a interação com os pares. Nesse sentido, com personagens reais (como celebridades e atletas profissionais) ou imaginários (como animais de estimação que dialogam com humanos), os memes ocorrem de acordo com as cadeias.

(37) 36. comunicativas que os usuários da internet buscam ativar. (CALIXTO, 2017, 192). Porto (2018), no entanto, chama atenção para um eco de Bakhtin em Shifman quando a autora divide os memes em três dimensões para fins de análise: conteúdo, forma e posicionamento. Ela observa no conteúdo da autora israelense, o que Bakhtin postula como conteúdo temático; a forma seria a construção composicional e o posicionamento seria o estilo.. Ao analisar posicionamento, Shifman (2014) busca olhar, mais especificamente, para a chave da comunicação, ou seja, para o tom e estilo do texto, que também pode ser imitado e, por isso, tem potencial memético. Para ela, chave é o ‘tom, ou modalidade, do enquadramento interno de eventos discursivos criado pelos seus participantes. As pessoas podem criar uma chave engraçada, irônica, jocosa, fingida ou séria para a sua comunicação’ (p.44). É por isso que, para ela, o posicionamento de um meme pode ser irônico, humorístico, político. (PORTO, 2018, p. 27). Sob a mesma égide, buscamos as categorias estéticas de Étienne Souriau para nos auxiliar no trabalho de identificação dos variados estilos presentes nas formas discursivas dos memes políticos de discussão pública. Percebemos que nas diversas e importantes classificações meméticas existentes ou pelo menos citadas em literatura nacional, os principais focos de segmentação são a forma, a mídia e o conteúdo, havendo ainda, pouca discussão sobre os memes como um gênero discursivo. Segundo Mikhail Bakhtin, o estudo da natureza do enunciado e dos gêneros do discurso é fundamental para superar as noções simplificadas acerca da vida verbal. Para o autor, “a língua penetra na vida através dos enunciados concretos que a realizam, e é também através dos enunciados concretos que a vida penetra na língua. O enunciado situa-se no cruzamento excepcionalmente importante de uma problemática” (2000, p. 282). Com o intuito de iniciarmos essa discussão tendo os memes como pano de fundo e a onda do ativismo digital, buscamos em Bakhtin o esboço para uma proposta de ordenamento dos memes a partir de uma relativa estabilidade enunciativa. O filósofo russo propõe primeiramente a existência de dois grandes grupos discursivos: o gênero discursivo primário (simples) e o gênero discursivo secundário (complexo). Compõem o primeiro grupo, a réplica do diálogo cotidiano ou carta, por exemplo, ambos são manifestações de comunicação verbal espontânea. Já os gêneros secundários são aqueles que absorvem os primários em seu processo de formação, como o romance, o teatro, o.

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