• Nenhum resultado encontrado

Lei 10.639/2003, um ponto de chegada e um ponto de partida: importância da criação e aplicação em sala de aula

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Lei 10.639/2003, um ponto de chegada e um ponto de partida: importância da criação e aplicação em sala de aula"

Copied!
26
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

CAMPUS DE CAICÓ – DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA DO CERES ESPECIALIZAÇÃO EM HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA E

AFRO-BRASILEIRA

MARIA LUCILENE DE OLIVEIRA

LEI 10.639/2003, UM PONTO DE CHEGADA E UM PONTO DE PARTIDA: IMPORTÂNCIA DA CRIAÇÃO E APLICAÇÃO EM SALA DE AULA.

CAICÓ 2016

(2)

2

MARIA LUCILENE DE OLIVEIRA

LEI 10.639/2003, UM PONTO DE CHEGADA E UM PONTO DE PARTIDA: IMPORTÂNCIA DA CRIAÇÃO E APLICAÇÃO EM SALA DE AULA.

Trabalho de Conclusão de Curso, na modalidade Artigo, apresentado ao Curso de Especialização em História e Cultura Africana e Afro-Brasileira, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ensino Superior do Seridó, Campus de Caicó, Departamento de História, como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista, sob orientação do Prof. Ms. José Duarte Barbosa Júnior.

CAICÓ 2016

(3)

3

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 4

2. UM PONTO DE CHEGADA E UM PONTO DE PARTIDA ... 6

2.1. Primeiras Incursões ... 6

2.2. Fontes ... 7

2.2.1. Um ponto de chegada: a Lei nº 10.639/2003. ... 7

2.2.2. Um ponto de partida: a pesquisa. ... 9

2.2.2.1. Resultado dos questionários aos alunos.... 10

2.2.2.2. Resultado dos questionários aos professores. ... 15

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 18

FONTES ... 22

REFERÊNCIAS ... 23

(4)

4

LEI 10.639/2003, UM PONTO DE CHEGADA E UM PONTO DE PARTIDA: IMPORTÂNCIA DA CRIAÇÃO E APLICAÇÃO EM SALA DE AULA.

Maria Lucilene de Oliveira1 José Duarte Barbosa Júnior – Orientador2

QUESTÃO 5. Você percebe alguma diferença entre os africanos e os brasileiros? R.: Não. Porque não é pela cor que nós somos diferentes e sim pelo caráter e o modo de vida.

José, aluno do oitavo ano (nome fictício)

(...) a maldade, bem como o valor de uma pessoa, residem na formação do coração (...)

Franz Boas

RESUMO

O presente trabalho trata da institucionalização da Lei 10.639 de 2003 e aborda sua importância no ensino de História em uma experiência de pesquisa. A pesquisa ocorreu intermitentemente entre os anos de 2013 e 2016 na Escola Municipal Sebastiana Alves Nôga situada na cidade de Cerro Corá, no estado do Rio Grande do Norte, Brasil. Trata-se de uma investigação realizada em âmbito escolar, a respeito da relação do professor com a Lei 10.639/2003 que trata das relações Étnicos-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana e sua importância na sala de aula. A Lei 10.639 de 2003 é um importante marco, um ponto de chegada após décadas de negação. Mas tal reconhecimento não é cômodo, razão pela qual há um caminho a ser trilhado, um ponto de partida.

PALAVRAS-CHAVE

Lei nº 10.639/201. História e cultura Afro-brasileira. Relações etnicorraciais.

1. INTRODUÇÃO

1

Discente do Curso de Especialização em História e Cultura Africana e Afro-Brasileira – Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Centro de Ensino Superior do Seridó (CERES), Campus de Caicó, Departamento de História (DHC). Graduada em História pela Universidade Estadual Vale do Acaraú. Professora da Rede Municipal de Ensino, na Escola Municipal Sebastiana Alves Nôga (Cerro Corá-RN), onde ministra as disciplinas de História, Artes e Ensino Religioso. E-mail: lucilenemoliv@hotmail.com.

2

Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte – IFRN. E-mail: duarte.junior@ifrn.edu.br.

(5)

5

O presente trabalho trata da institucionalização da Lei 10.639 de 2003 e aborda sua importância no ensino de História em uma experiência específica. A pesquisa ocorreu intermitentemente entre os anos de 2013 e 2016 na Escola Municipal Sebastiana Alves Nôga situada na cidade de Cerro Corá, no estado do Rio Grande do Norte, Brasil. Trata-se de uma investigação realizada em âmbito escolar, a respeito da relação do professor com a Lei 10.639/2003 que trata das relações Étnicos-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana e sua importância na sala de aula. Para tanto, foi realizada a aplicação de questionários alunos do oitavo ano e com professores dos diferentes componentes curriculares e com vistas a analisar o entendimento dos docentes no que tange a implementação da lei em sala de aula.

O grande desafio da escola é investir na superação da discriminação e dar a conhecer a riqueza representada pela diversidade etnocultural que compõe o patrimônio sociocultural brasileiro, valorizando a trajetória particular dos grupos que compõem a sociedade. Nesse sentido, a escola deve ser local de diálogo, de aprender a conviver, vivenciando a própria cultura e respeitando as diferentes formas de expressão cultural. (PCN, 2001:3)

Para que as luzes do outro sejam percebidas por mim devo por bem apagar as minhas, no sentido de me tornar disponível para o outro. Desde a aprovação da Lei 10.639/2003, que torna obrigatória a inclusão do Ensino de História e Cultura-Afro-brasileira e Africana no currículo do Sistema Básico de Ensino até o presente, verifica-se que nas escolas da rede pública, não tem sido obverifica-servadas mudanças curriculares previstas nesta lei e a consequência prática requerida pela mesma.

É imprescindível, portanto, reconhecer esse problema e combate-lo no espaço escolar, tendo em vista que vivemos em um país multicultural e não podemos ignorar os avanços ocorridos ao longo do tempo. Cabe, portanto, tornar a lei reconhecida por todos os atores envolvidos com o processo de educação, em especial professores (as) e alunos(as). De outro modo, trabalhar para que as escolas brasileiras se tornem um espaço público em que haja igualdade de tratamento e oportunidades.

(6)

6

Nesse ponto, deparamo-nos com a obrigação do Ministério de Educação de implementar medidas que visem o combate ao racismo e a estruturação de medidas que valorize o pertencimento racial dos (as) alunos(as) negros(as).

Sendo assim, faz-se necessário atuar no ambiente escolar de forma que a divulgação e o esclarecimento a respeito da lei 10.639/2003 seja promovido no sentido de guiar o olhar do professor para a valorização da diversidade étnica-racial e a vida cotidiana em sala de aula. O que deixa claro o motivo desta pesquisa, entender e fazer-se entender de que maneira o docente (re)constrói os fazer-sentidos a despeito das relações que abrangem a aplicação desta lei.

2. UM PONTO DE CHEGADA E UM PONTO DE PARTIDA

2.1. Primeiras Incursões

A temática das relações etino raciais sempre nos chamou atenção pelas experiências com as disciplinas de História e Cultura do RN, em conversas com colegas de trabalho, de leituras sobre o tema, onde já abordava os assuntos relacionados e percebia que muitas dificuldades eram encontradas pelos professores e alunos por falta de desconhecimento da lei. Mais foi a partir da disciplina, Racismo no Brasil e as “produções de verdades” sobre a questão étnico racial: das teorias raciais ao mito da democracia racial ministrada pela professora, Maria de Fátima Garcia, que realmente veio a decisão da escolha para este tema.

Porque considero de grande importância a formação docente, partindo desde a conscientização sobre a relevância de se trabalhar a Lei 10.639/03, tendo em vista que se encontra muitas dificuldades atualmente quando se trata de se trabalhar o que se refere ao ensino da História e cultura africana e afro brasileira nas instituições. Objetivando levar aos professores e alunos a refletirem criticamente e a mudarem seus valores e atitudes quando necessário. Acreditamos que a escola deve promover as condições para que, tanto os docentes quanto, os discentes possam identificar as relações que se estabelecem nos diferentes grupos sociais que fazem parte.

A importância da aplicação da Lei surge principalmente da necessidade de se contar a história da população negra na constituição do nosso país, pois a história

(7)

7

contada pelo ponto de vista dos europeus nos leva muitas vezes a uma interpretação errada do afro-brasileiro nos livros didáticos, deixando de lado suas contribuições e a importância para a formação da nossa história. O fato é que, o estudo do passado nos remete ao compartilhamento da nossa cultura.

Acreditamos que esse trabalho será de fundamental importância para reconhecer o problema da lei no espaço escolar, tendo em vista que vivemos em um país multicultural e não podemos ignorar os avanços ao longo do tempo. O objetivo principal é tornar a lei reconhecida por todos os envolvidos no processo educacional, em especial aos professores e alunos da Escola Municipal Sebastiana Alves Noga. De forma que a divulgação e o esclarecimento a respeito da lei seja promovido no sentido de guiar o olhar do professor, para a valorização da diversidade étnica-racial e o dia a dia na sala de aula.

Desta forma trabalhar para que a escola se torne um espaço público em que haja igualdade de tratamento e oportunidade de acordo com a Lei 10.639/2003, criada pelo Ministério da Educação com o objetivo de implementar medidas que vise o combate ao racismo e a valorização do pertencimento racial dos (as) alunos (as) negros (as). Considerando que a escola é um espaço de diálogo, que permite uma valorização acerca da cultura africana e afro-brasileira, investindo na superação da discriminação e assim ir desconstruindo o preconceito que ainda persiste por falta de informação.

Tendo em vista que a escola permite aos sujeitos envolvidos reconhecer-se enquanto membros de sua comunidade, sendo uma das características da formação escolar. Promover as condições para que o aluno possa identificar as relações que se estabelece nos diferentes grupos sociais que faz parte, as relações entre colegas, professores e alunos parentescos na família, enfim reconhecer-se como sujeitos da História.

2.2. Fontes

2.2.1. Um ponto de chegada: a Lei nº 10.639/2003.

A lei 10.639 foi instituída no ano 2003 dentro das políticas de ações afirmativas do então governo Luís Inácio Lula da Silva. O texto de 2003 altera a Lei nº Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996 e acrescenta os seguintes artigos:

(8)

8 Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.

§ 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.

§ 2o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras. Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como “Dia Nacional da Consciência Negra”. (BRASIL, 2003).

Desde sua promulgação até os dias de hoje já foi publicada uma quantidade considerável de trabalhos que versam sobre a lei e seus desdobramentos. Esses trabalhos foram e estão sendo produzidos nas áreas da Literatura e Letras, Comunicação social, Pedagogia, Sociologia, Antropologia e História. Nesse último campo entendemos a importância de um trabalho que aborde o ensino como forma de conhecer os desdobramentos históricos contemporâneos do tema em questão.

Em literatura e letras existem trabalhos analisando a Lei 10.639/2003 em livros de alfabetização como é o caso do trabalho apresentado no artigo de GUERRA, 2014. Segundo a autora,

Sabemos que os documentos oficiais, neste caso a Lei 10.639/2003, são apenas indícios do que é necessário se considerar no ensino de todas as disciplinas das escolas brasileiras. Queremos dizer, com essa afirmação, que somos cônscias de que a Lei não estabelece prazos para a mudança dos currículos das universidades e das escolas, mas a consideramos como um importante avanço e um relevante marco para a história da luta do reconhecimento dos negros na sociedade brasileira. (GUERRA, 2014, p. 09).

Outros trabalhos abordam questões como a possibilidade para transformações sociais, como é o caso do trabalho apresentado no artigo de ALMEIDA e SANCHEZ, 2016. Os autores analisam as questões das provas do Exame Nacional do Ensino Médio que tratam dos temas propostos pela Lei 10.639/2003. Para os autores,

(9)

9 Entendemos que o ENEM precisa integrar-se mais e com maior qualidade aos pressupostos da Lei 10.639/2003 para que atue como contribuição significativa à sua implementação, o que é possível, uma vez que seus conteúdos têm o potencial de dar visibilidade aos temas que abrangem e de influenciar aquilo que efetivamente se ensina em sala de aula, diversificando e problematizando o currículo no tocante às temáticas da Cultura e da História Africana e Afrobrasileira e das relações étnico-raciais relacionadas à população negra. Essa capacidade é limitada, assim como a da própria escola, pela inserção da avaliação no aparato institucional do Estado, mas pode contribuir para o tensionamento e a desconstrução dessas bases ideológicas a partir de suas próprias contradições internas, produzindo um contradiscurso. (ALMEIDA e SANCHEZ, 2016, p. 101).

Essa breve amostra de trabalhos versando sobre a Lei em questão demonstra que o processo de absorção ou mesmo a sua efetivação é lento e requer o acompanhamento analítico das diversas áreas. Sua institucionalização, acreditamos, trata-se de um ponto de chegada numa longa caminhada que é a marcha histórica brasileira. Ao pensarmos a história a partir da perspectiva da cultura brasileira e suas relações de poder, acreditamos que estamos diante um ponto de partida para o qual há uma longa caminhada pela frente.

2.2.2. Um ponto de partida: a pesquisa.

A partir da experiência docente em sala de aula e mesmo na convivência com os demais professores, percebe-se que o tema da História e da Cultura da África não tem um lugar de destaque. Após conhecer e problematizar a Lei, percebemos que um estudo sobre a importância de sua aplicação deveria tomar lugar. Apresentamos a seguir, numa primeira sessão, os resultados do questionário3 aplicado 23 alunos do 8º ano (com faixa etária entre os 13 aos 14 anos de idade) vespertino da Escola Municipal Sebastiana Alves Nôga; e, em seguida, numa segunda sessão, os resultados dos questionários4 realizados com 21 professores das diversas áreas/matérias dos Ensinos Fundamental e Médio respectivamente das Escolas Municipal Belmira Viana e a Escola Estadual Querubina Silveira ambas situadas na cidade de Cerro Corá/RN – Brasil. Os questionários foram aplicados entre os anos de 2015 e 2016.

3

Este questionário foi aplicado como parte do projeto “Desconstruindo a África” o qual participei e foi coordenado pela profa. Maria de Fátima Garcia. O modelo do questionário encontra-se em Anexo nº 1. 4

(10)

10

2.2.2.1. Resultado dos questionários aos alunos.

A seguir apresentamos o resultado das questões abordadas no questionário aplicado aos alunos (as categorias se tratam do que Velho [2002] chamou em sua pesquisa de unidades mínimas ideológicas). Ao tratar de pontos de vistas, experiências e visões de mundo, estaremos lidando com o terreno da cultura e, mais propriamente, o campo dos símbolos e significados (GEERTZ, 2008). Em sua interface histórica, problematizamos a dimensão da histórico-cultural ao referenciarmos ideias e mentalidades transmitidas que atuam nas atitudes dos sujeitos no mundo e que interferem ou perpassam a vida cotidiana (BURKE, 2008).

Questão 1 – África é...

Fonte: Projeto Desconstruindo a África, adaptado por OLIVEIRA, M. L. 2016.

Na questão 1 vemos que predomina uma visão da África como “lugar de cultura, religião e tradição”, seguida pela visão do continente como “lugar de pobreza e sofrimento” e “lugar de povos negros. A categoria “C” que apresenta uma visão negativa, parece-nos significativa da existência e permanência de preconceito relativo à África e seus povos.

0 2 4 6 8 10 12

(A) Lugar de cultura, religião e tradição

(B) Lugar de povos negros (C) Lugar de pobreza e sofrimento

(11)

11 Questão 2 – África é um país ou um continente?

Fonte: Projeto Desconstruindo a África, adaptado por OLIVEIRA, M. L. 2016.

Vemos na questão 2 que predomina a ideia/conhecimento da África como continente, embora um número reduzido de alunos afirma que se trata de um país.

Questão 3 – Qual a relação da África com o Brasil?

Fonte: Projeto Desconstruindo a África, adaptado por OLIVEIRA, M. L. 2016. 0 5 10 15 20 25 Continente País 0 2 4 6 8 10 12

(A) São diferentes (B) Pobreza,

sofrimento e doença

(C) Tradição, religião, costume e cultura.

(D) Não sabe, ou outros

(12)

12

Quando, na questão 3, perguntamos “Qual a relação da África com o Brasil?” predomina a visão/relação que aparece na categoria “C”, “tradição, religião, costume e cultura”. Parece-nos, dessa forma que, ainda que haja a presença de ideias ou imagens distorcidas a respeito da África, da sua história e da sua cultura, uma quantidade considerável de alunos consegue estabelecer uma relação que tem como principal elo a cultura. Quando na categoria “A” uma parcela de alunos afirma que brasileiros e africanos (em sua relação) são diferentes há uma dupla possibilidade de análise: por um lado pode-se estar apenas afirmando um dado lógico da diferença cultural, étnica, geográfica, mas por outro lado a ideia de “diferente” pode ser uma afirmação etnocêntrica, ou seja, que vê a cultura africana como estranha ou exótica. Para o caso desta última afirmação ser correta, se unirmos as categorias “A” e “B” (esta última, “pobreza, sofrimento e doença”) predomina uma imagem negativa sobre aquela positiva da cultura. Uma quantidade menos relevante afirma não saber qual a relação da África com o Brasil.

Questão 4 – Quais as influências da África?

Fonte: Projeto Desconstruindo a África, adaptado por OLIVEIRA, M. L. 2016.

Quando colocamos a questão “Quais as influências da África?” predomina uma série de visões negativas que reúne ideias como a influência étnica, ou seja, de “pessoas negras” e “doença e escravidão”. É importante ressaltar a dicotomia da categoria “A”

0 1 2 3 4 5 6 (A) Pessoas negras (B) Doença, escravidão (C) Cultura e religião (D) Comida, dança e música (E) Humildade, honestidade e solidariedade (F) Nenhuma

(13)

13

quando os alunos afirmam a influência étnica das “pessoas negras”. Deve levar em consideração que o predomínio de visões negativas para os outros aspectos pode ser um indício de que a afirmação da influência pela cor/raça seja igualmente negativa para os alunos. Não queremos enfatizar demasiadamente os aspectos negativos na visão dos alunos, mas apontar para o fato de sua existência. Curiosamente, quando nos debruçamos sobre as demais categorias, “C”, “D” e “E”, percebemos um contraponto positivo quando nessas categorias afirma-se que a influência da África, de forma sintética, é a cultura e tais influências aparecem nas visões que elencam a religião, comida, dança, música, e também aspectos de caráter como humildade, solidariedade e honestidade. Essas visões de mundo devem sempre ser tomadas como experimentações do pensamento, seja do aluno, interlocutor da pesquisa, quando do pesquisador da história cultural. Ao solicitar aos alunos que tragam à tona seus pensamentos, ideias e visões de mundo sobre um determinado tema, sobretudo quando se trata de um tema problemático, há que se considerar aspectos de mudança e continuidade. Assim, a partir da minha experiência acompanhando as turmas, pude perceber que algumas visões errôneas ou preconceituosas podem ser mudadas com o tempo: como a ideia de que a África é um continente e não um país.

Questão 5 – Você percebe alguma diferença entre os africanos e os brasileiros?

Fonte: Projeto Desconstruindo a África, adaptado por OLIVEIRA, M. L. 2016. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 (A) Africanos passam fome

(B) Cor da pele (C) Brasileiros têm mais recursos (D) Modo de vida (E) Cultura, crenças e tradições (F) Não tem diferença

(14)

14

Na questão 5 onde é solicitado ao aluno responder sobre a diferença entre africanos e brasileiros, predomina a ideia de que é o “modo de vida”. Em seguida percebe-se que a “cor da pele”, ou seja, o aspecto etnicorracial novamente aparece como uma imagem recorrente quando o assunto é África. Um aluno afirma que a diferença está no fato de que os “africanos passam fome”, mas no conjunto das respostas vê-se tal visão de forma um tanto isolada. Outro aspecto ressaltado que é recorrente como vimos para falar das influências e agora é trazido aqui para falar das diferenças é a dimensão da cultura que envolve por sua vez as crenças e as tradições. Mas é na categoria “F” que, embora numa quantidade relativamente pequena, mas significativa, que encontramos um contraponto interessante: “não tem diferença”. Nesta visão/afirmação não é afirmado categoricamente uma “igualdade”, mas parece denotar a ideia de que não há diferenças significativas que reiterem uma visão predominantemente etnocêntrica.

Questão 6 – Qual a imagem você tem do povo africano?

Fonte: Projeto Desconstruindo a África, adaptado por OLIVEIRA, M. L. 2016.

Por fim, quando colocamos a questão de “qual a imagem que se tem do povo africano”, quase todas as afirmações e suas respectivas visões vêm à tona na categoria “A” na imagem de um “povo pobre, sofrido e sem trabalho”. A questão parece resumir todo o questionário ainda que com ressalvas. Na categoria “B” vê-se o contraponto que

0 2 4 6 8 10 12 14 16

(A) Povo pobre, sofrido e sem trabalho

(B) Povo feliz, acolhedor e de tradição

(15)

15

aparece também numa quantidade significativa e que se traduz na imagem de um “povo feliz, acolhedor e de tradição.

2.2.2.2. Resultado dos questionários aos professores.

Questão 1 – Você já ouviu falar na Lei 10.639/2003?

Fonte: OLIVEIRA, M. L. 2016.

Quando perguntamos aos professores se “já ouviram falar na Lei 10.639/2003” a maior parte deles afirma ter conhecimento.

Questão 3 – O que você entende por Hist. e cult. Africana e afro-brasileira? 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 Sim Não

(16)

16 Fonte: OLIVEIRA, M. L. 2016.

Quando solicitamos aos professores suas visões e entendimentos acerca da “história e da cultura da África” predomina a ideia da “herança cultural, diversidade etnicorracial e miscigenação”. Em seguida aparece o conjunto de ideias “influência cultural, diáspora e formação da nação”. Num terceiro conjunto de ideias aparece a “preservação e resgate da memória, estudo de costumes e práticas”. Há ainda professores que omitiram suas respostas. Percebe-se nesses conjuntos de ideias/respostas uma variedade de temas solidários a partir dos quais podemos estabelecer dois eixos principais: cultura e diversidade etnicorracial.

Questão 5 – Você recebeu alguma capacitação sobre este conteúdo? 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

(A) Herança cultural, diversidade etnicorracial e miscigenação (B) Influência cultural, diáspora e formação da nação. (C) Preservação e resgate da memória, estudo de costumes e práticas. (D) Respostas omissas 0 2 4 6 8 10 12 14 16

(17)

17 Fonte: OLIVEIRA, M. L. 2016.

Na questão 5 vê-se que a maior parte dos professores não recebeu qualquer capacitação para o conteúdo. Em contraponto menos da metade teve capacitação ou participou de seminário.

Questão 9 – Qual a maior dificuldade que você encontra quando fala da aplicação da lei?

Fonte: OLIVEIRA, M. L. 2016.

Quando colocamos a questão sobre “qual a maior dificuldade encontrada quando se fala da aplicação da lei”, predomina a ideia de que é o “despreparo, a falta de instrução e de material”, seguido da “falta de apoio/preconceito da escola e dos docentes”, seguido ainda de “falta de capacitação”.

Questão 10 – O que você acha que precisa ser feito para que esta lei se torne uma realidade na escola? 0 2 4 6 8 10 12 (A) Despreparo, falta de instrução e de material (B) Falta de apoio (preconceito) da escola e dos demais docentes (C) Falta de capacitação (D) Não há dificuldade (E) Respostas omissas

(18)

18 Fonte: OLIVEIRA, M. L. 2016.

Quando colocamos a questão do que o entrevistado “acha que precisa ser feito para que a lei se torne uma realidade na escola”, predomina fortemente a ideia de que é a “capacitação dos professores”, seguido da “execução de projetos voltados ao tema” e “execução de políticas públicas e outros”. Há ainda uma considerável parcela de entrevistados que omitiram a resposta.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho apresentou em seu corpo os resultados de pesquisa realizada no âmbito do Curso de Especialização em História e Cultura Africana e Afro-Brasileira tendo como objeto a lei nº 10.639/2003. O fio condutor da discussão foi a ideia de que o instrumento da lei se trata de um “ponto de chegada” tendo em vista a inegável história da escravidão e do racismo que, ainda hoje, é uma fronteira social. E, por mais que a lei que insere o ensino de história e cultura afro-brasileira na rede de ensino, diversas razões levaram a construção da hipótese de que também se trata de um ponto de partida.

Ao abordar as unidades mínimas ideológicas nos discursos de alunos e professores, a hipótese de que temos um ponto de partida e um a caminho a ser trilhado ficou mais nítida.

0 2 4 6 8 10 12

(A) Capacitação dos professores (B) Executar projetos voltados ao tema (C) Execução de políticas públicas e outros (D) Respostas omissas

(19)

19

Predominou entre os alunos uma dicotomia de visão sobre a África como “lugar de cultura” e “lugar de pobreza e sofrimento”. Uma pequena parcela não sabia se tratar de um continente, mas pensava ser um país. Da mesma forma quando a questão colocada é a relação África/Brasil a dicotomia emerge entre a ideia de laço pela “cultura” (por sua vez num duplo aspecto de costumes e tradições, por um lado e, estranheza e exotismo, por outro) e laço pela “pobreza, sofrimento e doença”.

A dicotomia dessas unidades ideológicas é quebrada para o lado mais negativo das partes quando problematizamos entre os alunos a ideia de “influência da África sobre o Brasil”. Como afirmamos nas sessões anteriores, predomina uma série de visões negativas sobre influência étnica, um mal-estar sobre cor da pele e herança histórica da escravidão. A dicotomia é retomada para ser novamente quebrada quando nas opiniões de alguns alunos afirma-se que a influência da África é a cultura e essa é vista positivamente através das categorias que são elencadas: comida, dança, música, e também aspectos de caráter como humildade, solidariedade e honestidade.

Ressaltamos aqui a ideia de que as visões de mundo emergidas na pesquisa, sobretudo com indivíduos jovens, devem sempre ser tomadas como experimentações do pensamento e da cultura. Ao solicitar aos alunos que tragam à tona seus pensamentos, ideias e visões de mundo sobre o tema em questão, há que se considerar aspectos de mudança e continuidade na história cultural que envolvem dimensões subjetivas na ordem da educação familiar e da formação das personalidades. Assim, a partir da minha experiência acompanhando as turmas, pude perceber que algumas visões errôneas ou preconceituosas podem ser mudadas com o tempo: como a ideia de que a África é um continente e não um país, de que a África é um continente rico materialmente e culturalmente.

Quando escolhemos o questionário como procedimento metodológico, a primeira razão era abordar as unidades ideológicas e os aspectos simbólicos do discurso sobre o tema em questão. A eleição das categorias que mais aparecem serviu de norte para confirmar a hipótese que se levantava. No entanto, o fato de uma categoria aparecer menos é tão significativo quanto as que mais aparecem. Assim foi quando levantamos a questão sobre a “diferença entre africanos e brasileiros”. A ideia predominante nas unidades ideológicas eram estritamente ligadas ao modo de vida e as aspecto etnicorracial com ênfase na cor da pele. Mas nos pareceu significante o fato uma parcela muito pequena afirmar que “não tem diferença” o que nos levou a pensar

(20)

20

que nesta visão/afirmação não há uma ideia utópica de “igualdade”, a ideia de que não há diferenças significativas que reiterem uma visão etnocêntrica corrente.

A imagem, bem como as visões de mundo acerca do povo africano e da história e cultura afro-brasileira parece então está dentro de uma dicotomia: de um lado uma imagem “povo pobre, sofrido e sem trabalho”; e, do outro, uma imagem de um “povo feliz, acolhedor e de tradição”.

O presente trabalho ainda abordou as opiniões dos professores no âmbito da discussão do tema proposto. A maior parte deles conhece a Lei e entendem que o ensino da História e da Cultura da África se trata da abordagem da “herança cultural, diversidade etnicorracial e miscigenação”, por um lado e da “influência cultural, diáspora e formação da nação”, por outro. Vê-se então que, embora as unidades ideológicas sejam múltiplas, elas convergem para palavras-chave generalistas: cultura, diversidade, miscigenação.

Um dado de grande relevo para pesquisa é o fato de que a maior parte dos professores não recebeu qualquer capacitação para o conteúdo e, a maior dificuldade encontrada pelos mesmos, quando se trata da aplicação da lei, é o despreparo, a falta de instrução e de material. Igualmente relevante e crítico é a afirmação que fazem alguns professores de que falta de apoio da escola, falta capacitação e que há preconceito entre dos docentes. Nesse sentido, os professores acreditam que é necessário que haja capacitação, implementação de projetos voltados ao tema e a execução de políticas públicas.

Diante de tais questões a presente discussão, resultado de pesquisa realizada em curso de capacitação em História e Cultura Afro-brasileira, acreditamos que há neste ponto de partida que é a lei, um longo caminho a ser percorrido que envolve a capacitação dos professores, a implementação de projetos de acordo com demandas locais reprimidas, bem como de políticas de Estado que sejam capazes de gerar efetivamente um sentimento de igualde e bem-estar na sociedade brasileira, dirimindo preconceitos e violências. Estas e outras intervenções passam pela construção de um novo entendimento, sobretudo no Ensino Básico, acerca da História e da Cultura brasileira, que seja capaz de fazer reconhecer o valor e a importância de sua herança africana. A Lei 10.639 de 2003 foi um importante marco, um ponto de chegada após

(21)

21

décadas de negação. Mas tal reconhecimento não é cômodo, razão pela qual há um caminho a ser trilhado, um ponto de partida.

(22)

22

10.639/2003 LAW, A FINAL POINT AND STARTING POINT: THE IMPORTANCE OF APLICLATION IN THE CLASSROOM.

ABSTRACT

This work deals with the institutionalization of the 10.639/2003 Law and discusses its importance in the teaching of History in a search experience. The research took place from 2013 and 2016 at the School Sebastiana Alves Noga in the Cerro Corá city, state of Rio Grande do Norte, Brazil. This is an investigation in the school environment, about the teacher's relationship with tthe Law, which deals with the Ethnic and Racial Relations and the Teaching of Afro-Brazilian History and Culture, its importance in the classroom. Law 10.639 of 2003 is an important milestone, a final point after decades of denial. But such recognition is not comfortable, which is why there is a way to go, a starting point.

KEY-WORDS

10.639/2003 Law. Afro-Brazilian History and Culture. Racial and ethnic relations.

FONTES

BRASIL. Lei nº 10.639, de 09 de janeiro de 2003. In: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.639.htm

Estudantes e Professores (nomes suprimidos) da Escola Municipal Sebastiana Alves Nôga

(23)

23

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, M. A. B; SANCHEZ, L. P. ENEM: Ferramenta de implementação da Lei 10.639/2003 – Competências para a transformação social?

BOAS, Franz. Antropologia cultural. 2ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 2005. BRASIL. Lei nº 10.639, de 09 de janeiro de 2003.

BURKE, Peter. O que é História Cultural? 2ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008. GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC Ed, 2008.

GUERRA, M. P. R. Análise da Lei 10.639/2003 no Livro de Alfabetização “Porta Aberta – Língua Portuguesa”. IN: Anais do I Congresso Nacional Africanidades e Brasilidades. 2014.

VELHO, G. Ideologia e imagem da sociedade. In: A utopia urbana. Rio de Janeiro: Zahar ed. 2002.

(24)

24

ANEXOS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ CAMPOS DE CAICÓ - DEPARTAMENTO DE HISTORIA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM HISTORIA E CULTURA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA

POLO CURRAIS NOVOS

DISCENTE: MARIA LUCILENE DE OLIVEIRA

PROPOSTA DE ARTIGO: Analisar o entendimento dos docentes no que tange a implementação da Lei 10.639/2003 em sala de aula.

INSTITUIÇÃO DE ENSINO:

______________________________________________________________________ ____

AREA DE

FORMAÇÃO:______________________________________________________ SEXO:( ) FEMININO ( ) MASCULINO

DISCIPLINA QUE

LECIONA:__________________________________________________ 1- Você já ouviu falar na Lei 10.639/2003? Sim ( ) Não ( ) - Se respondeu

sim, de que trata essa lei?

2- Você concorda com ela? Sim ( ) Não ( )

3- O que você entende por História e cultura Africana e Afro-brasileira?

(25)

25

5- Você recebeu alguma capacitação sobre este conteúdo? Sim ( ) Não ( ) – Se sim, qual?

6- Existe na sua escola algum profissional que auxilie os professores na capacitação da lei?

Sim ( ) Não ( )

7- A escola já inseriu esses conteúdos em seu currículo? Sim ( ) Não( )

8- Em relação ao material didático sobre esses conteúdos o que a escola dispõe?

9- Qual a maior dificuldade que você encontra quando fala da aplicação da lei?

10- O que você acha que precisa ser feito para que esta lei se torne uma realidade na escola?

(26)

26

ESCOLA MUNICIPAL SEBASTIANA ALVES NÔGA PERGUNTAS PARA DEBATE EM SALA DE AULA SOBRE A

DESCONSTRUÇÃO DA ÁFRICA

ALUNO (a):____________________________________________________________ ANO:____________________________TURMA:______________________________

1- África é...

______________________________________________________________________

2- África é um país ou um Continente?

______________________________________________________________________

3- Qual a relação da África com o Brasil?

______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________

4- Quais as influências da África?

______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________

5- Você percebe alguma diferença entre os africanos e os brasileiros?

______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________

6- Qual a imagem que você tem do povo africano?

______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________

Referências

Documentos relacionados

Atualmente os currículos em ensino de ciências sinalizam que os conteúdos difundidos em sala de aula devem proporcionar ao educando o desenvolvimento de competências e habilidades

O Custeio Baseado em Atividade nas empresas de prestação de serviço, assim como na indústria, envolve os seguintes passos: os recursos consumidos são acumulados por

Os vários modelos analisados mostram consistência entre as diferenças de precipitação do experimento do século vinte e os experimentos com cenários futuros, no período de

Os candidatos reclassificados deverão cumprir os mesmos procedimentos estabelecidos nos subitens 5.1.1, 5.1.1.1, e 5.1.2 deste Edital, no período de 15 e 16 de junho de 2021,

• The definition of the concept of the project’s area of indirect influence should consider the area affected by changes in economic, social and environmental dynamics induced

ABSTRACT: The toxicological effects of crude ethanolic extracts (CEE) of the seed and bark of Persea americana have been analyzed on larvae and pupae of

Assim como a Intemet, a Intranet também tem seu papel fundamental nas organizações parao gerenciamento dos sistemas empresariais. Em verdade a intranet é o

xii) número de alunos matriculados classificados de acordo com a renda per capita familiar. b) encaminhem à Setec/MEC, até o dia 31 de janeiro de cada exercício, para a alimentação de