Casos práticos
Alteração do contrato, aumento e
redução do capital social e
Alberto, Bruno e Carlos são sócios, em partes iguais, da
sociedade “Mikrolet tours, Lda.”, que se dedica à organização e
realização de passeios turísticos entre Díli e Jaco. A sociedade
tem um capital social de 15.000 dólares norte-americanos e foi
criada em 2012.
Quanto constituíram a sociedade, os sócios decidiram que Bruno,
porque tinha de conduzir durante muitas horas e como só ele sabia
como chegar com a mikrolet a sítios de interesse turístico, tinha
direito a receber mais 10% lucros que existissem na sociedade em
comparação com os restantes sócios, sendo o restante distribuído
pelos sócios de acordo com as participações sociais. Bruno tinha
também o direito a nomear-se como administrador.
A “Mikrolet tours, Lda.” foi um sucesso, tendo tido entre 2012 e
2015, lucros anuais de $90.000 dólares norte americanos.
I) Os sócios, no ano de 2012, decidiram que os lucros da sociedade
deveriam ser todos destinados à realização integral da reserva
legal e de uma reserva voluntária. Distinga a reserva legal de
reserva voluntária. Quem tem competência para decidir a
existência de uma reserva voluntária?
II) Qual é o valor da reserva legal da “Mikrolet tours, Lda.”?
III) A cláusula do contrato de sociedade que permite que o Bruno
receba mais 10% dos lucros da sociedade do que os restantes
sócios é válida? E a cláusula pela qual Bruno tem direito a ser
nomeado administrador?
IV) No ano de 2013, qual foi o valor distribuído a título de lucro
que Bruno recebeu?
Em 2016, cansado de conduzir, Bruno propôs que a sociedade deixasse de se dedicar aos passeios turísticos e passasse a vender passeios de barco a
Ataúro e acompanhamento de turistas na pesca submarina. Por esse motivo, Bruno propôs ainda que a “Mikrolet tours, Lda”. se passasse a denominar “Foguete de Ataúro – Travessias e lazer, Lda.”.
V) Que órgão tem competência para decidir estas alterações? Qual é maioria
necessária para aprovar essas modificações?
VI) Imagine que Carlos não concorda com estas alterações. Como é que ele
pode reagir contra a mesma?
VII) Quid juris se Carlos quisesse vender a sua quota a Dário? Qual era o
procedimento a adoptar? Os outros sócios tinham algum direito?
VIII) Dado que o Bruno vai deixar de conduzir a mikrolet e o barco vai ser
conduzido por todos, os sócios querem acabar com o direito de Bruno receber mais 10% dos lucros. Como podem fazê-lo?
Em 2016, cansado de conduzir, Bruno propôs que a sociedade deixasse de se dedicar aos passeios turísticos e passasse a vender passeios de barco a
Ataúro e acompanhamento de turistas na pesca submarina. Por esse motivo, Bruno propôs ainda que a “Mikrolet tours, Lda”. se passasse a denominar “Foguete de Ataúro – Travessias e lazer, Lda.”.
IX) Decidida a alteração da actividade, os sócios precisavam de comprar o
barco com o qual iriam fazer a travessia entre Díli e Ataúro. No entanto, como a sociedade tinha pouco dinheiro disponível, os sócios disponibilizaram-se a ajudar a sociedade. Imagine que é advogada/o e foi chamada/o para
aconselhar os sócios a tomar a melhor decisão. Qual seria a figura que propunha?
Casos práticos
Alteração do contrato, aumento e
redução do capital social e
alteração do objecto
Resolução
I) Os sócios, no ano de 2012, decidiram que os lucros da sociedade deveriam ser todos destinados à realização integral da reserva legal e de uma reserva
voluntária. Distinga a reserva legal de reserva voluntária. Quem tem competência para decidir a existência de uma reserva voluntária?
A reserva legal constitui um limite à distribuição dos lucros de exercício entre os sócios da sociedade, conforme previsto nos artigos 27.º e 28.º da LSC. A reserva consiste num valor em dinheiro, para além do capital social, que a sociedade possui e que se destina a responder perante prejuízos ou perdas da sociedade. As reservas servem ainda para proteger os credores.
A reserva chama-se legal quando é constituída obrigatoriamente por força da lei: é o caso previsto nos artigos 206.º para as SPQ e 261.º para as sociedade anónimas.
A reserva é voluntária quando os sócios deliberam, espontaneamente e sem que a lei ou o contrato de sociedade os obrigue, constituir uma reserva.
A competência para decidir acerca da existência de uma reserva voluntária é dos sócios reunidos em assembleia geral. Está previsto no artigo 43.º, alínea d) LSC, tanto para as SPQ como para as SA.
II) Qual é o valor da reserva legal da “Mikrolet tours,
Lda.”?
A sociedade é uma sociedade por quotas com capital
social de 15.000. Dispõe o artigo 206.º, n.º4 da LSC que,
nas sociedades por quotas, a reserva legal deve ser igual
a 50% do capital social, ou seja, 7.500$.
Os sócios deliberaram em 2012 realizar logo toda a
reserva legal. É uma competência sua, nos termos do art.
43.º, alínea d) e essa deliberação era possível ao abrigo
do artigo 206.º, n.º4.
Como a reserva legal é de 7.500$, os sócios decidiram
constituir uma reserva voluntária de 82.500$.
III) A cláusula do contrato de sociedade que permite que o Bruno receba mais
10% dos lucros da sociedade do que os restantes sócios é válida? E a cláusula pela qual Bruno tem direito a ser nomeado administrador?
O artigo 23.º da LSC das sociedades comerciais estabelece o princípio de
igualdade de tratamento dos sócios. Estabelece ainda o artigo 26.º que, salvo disposição estatutária, os sócios quinhoam nos lucros segundo a proporção dos valores nominais das suas quotas.
No entanto, a lei também prevê, no artigo 13.º, nº.1 da LSC que por
estipulação nos estatutos podem ser criados direitos especiais de um sócio: os direitos especiais são a norma legal que permite afastar a regra que diz que os sócios recebem os lucros de acordo com a sua percentagem do capital
social. As sociedades por quotas acolhem os direitos especiais no artigo 207.º. O direito a lucro superior à percentagem do capital social é legalmente
permitida, desde que prevista no contrato de sociedade e é um direito especial de natureza patrimonial.
O direito a ser nomeado para a administração é um direito especial de natureza não patrimonial (artigo 207.º). Essa regra está inclusivamente
prevista no artigo 79.º , n.º1 da LSC, impondo a responsabilidade solidária do sócio e do administrador.
IV) No ano de 2013, qual foi o valor distribuído a título de lucro que
Bruno recebeu?
Em 2013, a sociedade apresentou um lucro de 90.000$. A sociedade já
tinha todas as reservas legais realizadas pelo que não tinha de
reservar nenhum valor para estabelecer reservas.
A, B e C são titulares, cada um, de uma quota no valor de 5000$ pelo
que, da aplicação das regras da lei, cada um tinha direito a um lucro
de $30.000.
No entanto, fruto do seu direito especial ao lucro (art. 13.º e 207.º,) B
tem direito a uma majoração do 10% do seu direito ao lucro.
B tinha direito a 30.000$ pelo seu capital. No entanto, dado os 10 % a
mais que tem direito, B vai receber de lucro 33000$, ou seja, o valor
da sua quota mais 10% do seu lucro particular.
A e C vão receber 27500$ de lucro, cada um. O valor não corresponde
aos 33,33% do seu capital social porque se B recebeu mais do que era
suposto, esse valor é retirado do lucro total e, por conseguinte, ao
lucro atribuível aos sócios A e B.
Em 2016, cansado de conduzir, Bruno propôs que a sociedade deixasse de se dedicar aos passeios turísticos e passasse a vender passeios de barco a
Ataúro e acompanhamento de turistas na pesca submarina. Por esse motivo, Bruno propôs ainda que a “Mikrolet tours, Lda”. se passasse a denominar “Foguete de Ataúro – Travessias e lazer, Lda.”.
V) Que órgão tem competência para decidir estas alterações? Qual é maioria
necessária para aprovar essas modificações?
- Assembleia geral, nos termos do art. 43.º, alínea e), artigo 7.º, n.º8 da LSC e artigo 210.º, alínea a) da LSC.
Em 2016, cansado de conduzir, Bruno propôs que a sociedade deixasse de se dedicar aos passeios turísticos e passasse a vender passeios de barco a
Ataúro e acompanhamento de turistas na pesca submarina. Por esse motivo, Bruno propôs ainda que a “Mikrolet tours, Lda”. se passasse a denominar “Foguete de Ataúro – Travessias e lazer, Lda.”.
VI) Imagine que Carlos não concorda com estas alterações. Como é que ele
pode reagir contra a mesma?
- Votando na Assembleia Geral contra a aprovação da deliberação (art. 24.º, alínea d);
- Se existir alguma ilegalidade na deliberação, requerendo em tribunal a suspensão da deliberação social ao abrigo do art. 59.º e, simultaneamente, requerendo a declaração de nulidade ou anulabilidade da deliberação (art. 55.º, art.º 56.º e art. 57.º LSC).
- Requerendo a exoneração como sócio, nos termos do art. 201.º, n.º1, alínea b) LSC e art. 100.º LSC
Em 2016, cansado de conduzir, Bruno propôs que a sociedade deixasse de se dedicar aos passeios turísticos e passasse a vender passeios de barco a Ataúro e acompanhamento de turistas na pesca submarina. Por esse motivo, Bruno propôs ainda que a “Mikrolet tours, Lda”. se passasse a denominar “Foguete de Ataúro – Travessias e lazer, Lda.”.
VII) Quid juris se Carlos quisesse vender a sua quota a Dário? Qual era o procedimento
a adoptar? Os outros sócios tinham algum direito?
Como estamos no âmbito de uma SPQ, a sociedade tem direito de preferência em caso de venda de quotas – art. 196.º, n.º1.
Competência para exercício do direito de preferência da sociedade na aquisição de quota: assembleia geral: art. 210.º, alínea b)
Maioria: maioria absoluta do capital social ou, em 2.ª convocatória, maioria absoluta do capital social presente.
O sócio deve notificar a sociedade e os restantes sócios, por carta registada, do projecto de transmissão pretendido, comunicando-lhes os termos previstos para a venda (valor e condições da transmissão, adquirente.
Os sócios, caso a sociedade não exercesse o direito de preferência, poderiam exercê-lo individualmente, no prazo previsto no art. 196.º LSC. Recorda-se ainda que o direito de preferência está regulado no art 349.º a 358.º do Código Civil.
Em 2016, cansado de conduzir, Bruno propôs que a sociedade deixasse de se dedicar aos passeios turísticos e passasse a vender passeios de barco a Ataúro e
acompanhamento de turistas na pesca submarina. Por esse motivo, Bruno propôs ainda que a “Mikrolet tours, Lda”. se passasse a denominar “Foguete de Ataúro –
Travessias e lazer, Lda.”.
VIII) Dado que o Bruno vai deixar de conduzir a mikrolet e o barco vai ser
conduzido por todos, os sócios querem acabar com o direito de Bruno receber mais 10% dos lucros. Como podem fazê-lo?
O direito do Bruno é um direito especial (art. 13.º e art. 207.º). A este
respeito, o art. 13.º, n.º2 prevê expressamente que o direito especial só pode ser eliminado ou modificado caso Bruno dê o seu consentimento, salvo se o contrato de sociedade (os estatutos) previrem a eliminação desse direito especial sem necessidade do consentimento de Bruno. Assim, para que a deliberação que elimine o direito especial seja plenamente válida, Bruno tem de prestar o consentimento. Recorda-se ainda que o Bruno não pode fazer parte dessa deliberação pois encontra-se em situação de conflito de
Em 2016, cansado de conduzir, Bruno propôs que a sociedade deixasse de se dedicar aos passeios turísticos e passasse a vender passeios de barco a Ataúro e acompanhamento de turistas na pesca submarina. Por esse motivo, Bruno propôs ainda que a “Mikrolet tours, Lda”. se passasse a
denominar “Foguete de Ataúro – Travessias e lazer, Lda.”.
IX) Decidida a alteração da actividade, os sócios precisavam de comprar o barco
com o qual iriam fazer a travessia entre Díli e Ataúro. No entanto, como a
sociedade tinha pouco dinheiro disponível, os sócios disponibilizaram-se a ajudar a sociedade. Imagine que é advogada/o e foi chamada/o para aconselhar os
sócios a tomar a melhor decisão. Qual seria a figura que propunha?
Se a sociedade necessita de capital para investir e os sócios estão dispostos a entregar mais capital, a alternativa passa por deliberar o aumento do capital social. Para isso, os sócios podem deliberar o aumento de capital, nos termos previstos no art 90.º, mediante novas entradas por parte dos sócios (visto que a sociedade não tinha dinheiro disponível). Para isso, os sócios devem deliberar na assembleia geral, nos termos do art. 43.º , al. f), o aumento de capital.