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A dança contemporânea como referência para a dança na escola: experiências com improvisação

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE ARTES CURSO DE LICENCIATURA EM DANÇA

JÉSSICA RAFAELA BOAVENTURA CORTÉS

A Dança Contemporânea como referência para a dança na escola: experiências com improvisação

NATAL/RN 2017

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JÉSSICA RAFAELA BOAVENTURA CORTÉS

A Dança Contemporânea como referência para a dança na escola: experiências com improvisação em dança

Trabalho de conclusão de curso apresentado no curso de Licenciatura em Dança, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte sob orientação da Profa. Dra. Karenine de Oliveira Porpino, para obtenção da nota no Trabalho de Conclusão de Curso II.

NATAL/RN 2017

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A Dança Contemporânea como referência para a dança na escola: experiências com improvisação em dança

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte das exigências para a obtenção do título de Licenciatura em Dança.

Natal, ____ de _____________ de 2017.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________ Prof.ª Dr.ª Karenine de Oliveira Porpino

ORIENTADORA

________________________________________ Prof.ª Dr.ª Larissa Kelly de Oliveira Marques

EXAMINADORA

________________________________________ Prof.ª Ms. Raphaelly Souza Bezerra

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SUMÁRIO

RESUMO...…...i

RESUMÉN...…...i

1.INTRODUÇÃO...…...1

2. A DANÇA CONTEMPORÂNEA COMO REFERÊNCIA PARA A DANÇA NA ESCOLA...5

3. EXPERIÊNCIAS COM A DANÇA NA ESCOLA………...…10

3.1 IMPROVISAÇÃO COM FLORES NO CONTEXTO DO SUBPROJETO PIBID ANÇA NA ESCOLA PÚBLICA...…...10

3.2 DANÇA CONTEMPORÂNEA NO CONTEXTO DAS OFICINAS DE DANÇA NA ESCOLA PRIVADA...…....19

4.CONSIDERAÇÕES FINAIS...….26

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo discutir a relação entre a dança contemporânea e a dança na escola, tendo como referência os processos de improvisação em dança. Dessa maneira, através dos relatos de experiências que serão discutidos no trabalho, iremos relatar sobre as experiências no PIBID DANÇA- UFRN na escola Municipal Professora Zeneide de Igino Moura, em cidade Nova na cidade de Natal/RN e sobre a Oficina de Dança Contemporânea realizada no colégio Hipócrates Zona Sul, escola da rede privada da cidade Natal/RN. Por fim como reflexão temos que a dança dentro do âmbito escolar é um grande potencializador da discussão do entendimento da dança dentro e fora da escola, tendo como referência a dança contemporânea através do método da improvisação, que busca através da sua metodologia redescobrir novas possibilidades de criação, fazer e pensar a dança.

Palavras chaves: Dança Contemporânea. Educação. Improvisação.

RESUMEN

El presente trabajo tiene como objetivo discutir la relación entre la danza contemporánea y la danza en la escuela, teniendo como referencia los procesos de improvisación en danza. De esta manera, a través de los relatos de experiencias que serán discutidos en el trabajo, vamos a relatar sobre las experiencias en el PIBID DANZA- UFRN en la Escola Municipal Professora Zeneide Igino de Moura, en Cidade Nova en la ciudad de Natal / RN y sobre el Taller de Danza Contemporánea realizada en el Colégio Hipócrates Zona Sul, escuela de la red privada de la ciudad Natal / RN. Por fin como reflexión tenemos que la danza dentro del ámbito escolar es un gran potencializador de la discusión del entendimiento de la danza dentro y fuera de la escuela, teniendo como referencia la danza contemporánea a través del método de la improvisación, que busca a través de su metodología redescubrir nuevas posibilidades crear, hacer y pensar la danza.

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1. INTRODUÇÃO

A dança na escola como manifestação cultural deve ser abordada de uma forma criativa e crítica não apenas como atividade recreativa. Pelo fato da dança, historicamente, ter sido colocada apenas nos festejos escolares, devemos pensar que o ensino da dança deve ser realizado com qualidade, compromisso e responsabilidade por aqueles que a desenvolvem, para que seja realmente reconhecida como área de conhecimento. Segundo Isabel Marques, hoje mais do nunca, se necessita de professores críticos e conscientes do seu importante papel em fazer dialogar e oportunizar a dança no âmbito escolar (MARQUES, 2012).

Assim, espera-se que o ensino da dança possa ir além do fator recreativo, levando aos alunos a discussão sobre esta arte, reconhecendo que a escola não é o único espaço em que se aprende a dançar, mas entendendo que a dança no âmbito escolar deve ser percebida como forma de expressão humana, de entendimento de como os sujeitos vivem em sociedade, como se movimentam em sua cultura, como estão organizados no meio social e como realizam as comemorações em diversas situações da vida.

Através do reconhecimento de como os indivíduos se comportam no meio social, de como é a sua cultura e suas características sociais, passamos a refletir sobre como podemos pensar o ensino da dança na escola, como possibilidade de "resignificar, significar novamente, atribuir novos sentidos a partir dos sentidos já conhecidos, tantas vezes quantas forem possíveis, por quantas pessoas quanto forem necessárias" (PORPINO, 2008, p.2).

As ações de pensar e refletir acompanham a dança contemporânea e nos fazem compreender como a dança na escola pode gerar inúmeras experiências e reflexões importantes para a vida, não somente na vida do aluno, mas também do professor, que irá dialogar e propor discussões sobre o dançar, de modo que

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os alunos pensem, e não apenas se movam. Passamos assim a refletir: como a dança contemporânea pode ser referência para o ensino dança na escola?

Durante a graduação no Curso de Licenciatura em Dança da UFRN, discutimos em várias disciplinas, como por exemplo: Coreologia, Composição Coreográfica, Ballet Clássico, Dança e Educação, Tópicos especiais em Dança e Práticas Educativas em Dança Contemporânea, entre outras que fazem parte do currículo acadêmico do curso de licenciatura, sobre a importância da relação entre teoria e prática num diálogo constante a respeito do ensino da dança dentro e fora do âmbito escolar. Também tive a oportunidade de participar do Subprojeto PIBID DANÇA1 da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no qual atuei durante dois anos como bolsista de iniciação à docência, sob a coordenação da Profa. Dra. Karenine Porpino e sob a supervisão da Profa. Ms. Raphaelly Souza. Durante toda atuação no PIBID observei a importância da aproximação entre o que está sendo aprendido na graduação e o que está sendo posto em prática na rede básica de ensino, como maneira de fortalecer a formação dos futuros docentes acerca do ensino da dança na escola. Sobre isso comenta a coordenadora do subprojeto

Questões dessa natureza se fazem presentes quando perspectivamos a formação de um profissional apto a compreender as demandas locais do ensino da dança, pois consideramos que é papel da licenciatura fomentar uma relação promissora entre o licenciando e as instituições de ensino, e que essa relação se faça pelo reconhecimento das demandas, fragilidades e potencialidades dos contextos educativos, para que nele se possa atuar de forma responsável (PORPINO, 2017, p. 50)

No decorrer da minha permanência no PIBID participei de vários projetos desenvolvidos na Escola Municipal Professora Zeneide Igino de Moura, entre eles a oficina de Improvisação com flores, realizada durante o evento do dia Internacional da Dança no ano de 2015. Esta oficina buscou desenvolver

1 O PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência) é uma iniciativa para o aperfeiçoamento e a valorização da formação de professores para a educação básica.

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práticas de improvisação baseadas nas propostas de Guerrero (2008), que possibilitam ao intérprete seguir um roteiro para a criação, ou utilizar a improvisação como processo de criação, gerando dessa forma uma vasta experimentação dos movimentos dos interpretes, tendo como exemplos processos coreográficos dos artistas da dança contemporânea.

Ciente da importância de relacionar as práticas da dança contemporânea e o âmbito escolar, tal como vivi na ação citada acima durante atividades do Subprojeto PIBID Dança, iniciei uma turma de Dança Contemporânea, no ano de 2017, no Colégio Hipócrates Zona Sul, da rede particular de ensino, localizado na cidade de Natal/RN, instituição na qual já trabalhava desde 2013. O trabalho desenvolvido com essa turma aconteceu durante o ano corrente a partir da referência da improvisação em dança. Nessa oportunidade priorizei algumas práticas da dança contemporânea produzidas atualmente, como a criação através das ações baseadas do cotidiano ou fundamentadas no sentir. Segundo Neves (2006) “Ao sensibilizar o aluno para a percepção de sensações físicas, alcançam-se o conforto e funcionalidade do movimento corporal” (NEVES, 2006, p. 236). Dessa maneira, essas ações podem ser aplicadas na escola, ampliando as perspectivas de criação em dança e gerando novos sentidos para a dança nesse contexto. A turma está inserida nas atividades extracurriculares da escola, as aulas baseiam-se e são fundamentadas na perspectiva de criar e pensar a dança.

Essas experiências são modos de pensar e fazer a dança no âmbito escolar, tendo como base as experiências vivenciadas durante a graduação no Curso de Licenciatura em Dança da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), além das experiências que vivi antes de entrar no curso. Nesse contexto, participei de duas Companhias de dança que tinham como referência a pesquisa sobre a Dança Contemporânea, sendo elas: Gira Dança 2 e a Gaya

2 Gira Dança é uma companhia de dança contemporânea com sede em Natal/RN, e tem como proposta artística ampliar o universo da dança através de uma linguagem própria, utilizando o conceito do corpo diferenciado como ferramenta de experiências.

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Dança Contemporânea3, nas quais tive o contato com a improvisação como estratégia bastante utilizada nos processos de criação em dança. Foi através da improvisação que descobri a dança escondida dentro de mim, a dança a qual eu não conhecia. Até então tinha sido aluna de Balé Clássico durante seis anos, no qual experienciei um repertório codificado da dança. Sentia-me imensamente viva ao dançar balé, porém ao descobrir a dança contemporânea, em especial, o trabalho com a improvisação, pude perceber o quanto eu havia me encontrado dentro da dança. No primeiro contato com a dança contemporânea, em 2009, descobri através dos métodos da improvisação o quanto eu podia ir além dos meus próprios sentidos, o quanto eu poderia ampliar os meus movimentos corporais e descobrir um novo mundo de possibilidades até então desconhecidas. O texto de Débora Barreto descreve com sutileza algo muito próximo a minha experiência

Escolher a dança foi para mim não ter escolha. Assim como acontece quando amamos alguém, ou quando nos apaixonamos subitamente por algo. Senti este encontro nascendo de um primeiro olhar que desencadeou uma escolha mútua, assim se deu o abraço e logo ocorreu este lançar-se intenso às mais diversas carícias. Dançar é expressar este querer, este constante apaixonar-se e admirar-se diante das essências das coisas, das pessoas e do mundo (BARRETO, 2004, p.163) É dessa forma que enxergo a dança contemporânea dentro da escola, como uma nova possibilidade de discutir com os alunos a forma de ver a dança, e como essa dança influencia na nossa vida, através da improvisação como método de proporcionar aos alunos uma nova forma de se redescobrir, colorir os seus movimentos com novas possibilidades de criar. Por isso a dança influencia na formação do aluno e na sua contextualização da vida em sociedade. Nesse contexto os PCN – Arte descrevem como o ensino da dança deve ser abordado no ensino básico de ensino têm que

3 A Gaya Dança Contemporânea, criada pelo professor Dr. Edson Claro, no ano 1990. Atualmente funciona como Projeto Permanente de Extensão da UFRN, vinculado ao Departamento de Artes (DEART) e é coordenada pela Profa. Dra Larissa Marques.

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Dessa forma, a escola pode desempenhar papel importante na educação dos corpos e do processo interpretativo e criativo de dança, pois dará aos alunos subsídios para melhor compreender, desvelar, desconstruir, revelar e, se for o caso, transformar as relações que se estabelecem entre corpo, dança e sociedade. (BRASIL, 1998, p.70)

Assim, o presente trabalho objetiva discutir a relação entre a dança contemporânea e a dança na escola, tendo como referência os processos de improvisação em dança nas duas experiências mencionadas. Dessa maneira o texto está organizado em duas partes: na primeira discuto a dança contemporânea como referência para a dança na escola; já na segunda apresento Relatos de Experiências - Improvisação com Flores, realizado durante atuação no Programa Institucional de bolsas de iniciação à docência (Subprojeto PIBID – Dança da UFRN) e Dança Contemporânea como oficina no Colégio Hipócrates Zona Sul. Segue também a discussão baseada nas minhas experiências, mas também no pensamento de autores da Dança e da Educação, como: Isabel Marques, Karenine Porpino, Larissa Marques, Patrícia Leal, Rudolf Laban, Mara Francischini Guerrero, Pina Bausch.

2. DANÇA CONTEMPORÂNEA COMO REFERÊNCIA PARA A

DANÇA NA ESCOLA

A dança na escola foi oficialmente inserida como conteúdo no currículo escolar através da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), a lei 9.394/1996, em 1996, que decretou obrigatório o ensino da Arte no Território Nacional, em 1997, foi a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Dessa forma a dança passou a ser tratada como conteúdo e não apenas realizada em datas festivas escolares, fomentando nos alunos uma compreensão do dançar, desde as manifestações populares à dança contemporânea. Vale ressaltar que mesmo com a aprovação da Lei, o conteúdo da dança no âmbito escolar ainda apresenta uma resistência, por haver poucos professores licenciados em Dança

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no quadro escolar. Podemos analisar que “(...) a dança na escola deve ser capaz de possibilitar ao aluno conhecer-se, conhecer os outros e inserir-se no mundo de modo comprometido e crítico" (MARQUES, 2012, p. 06). A partir desse pensamento passamos a refletir sobre a importância de ter profissionais qualificados na área, para fortalecer o pensar e o criar na dança, nesse caminho a ampliação dos cursos de Licenciatura em Dança pelo país, tem contribuído para a abordagem dos conteúdos da Dança dentro do currículo escolar, sendo aplicado o que os PCN sugerem para o ensino de dança na escola. Sobre esse assunto Porpino (2012) discute:

A dança no currículo deve fazer parte de um projeto educacional previsto pelas instituições escolares e, para tanto, deve ser considerada como uma expressão do ser humano, uma produção cultural que pode ensinar muito sobre como os indivíduos vivem e se organizam em sociedade, como se movimentam e comemoram suas realizações (PORPINO, 2012, p.10)

A dança deve ser pensada como um conhecimento que contemple os saberes dos alunos, pois as várias culturas nas quais eles estão inseridos apresentam manifestações culturais importantes a serem pensadas como conteúdos da dança, contudo, vale salientar que a dança aprendida no âmbito social se difere da forma como é vivida na escola. O aluno pode aprender a técnica do ballet Clássico, ou até mesmo as danças urbanas em seu bairro, por exemplo, porém essas mesmas danças podem ser ensinadas na escola buscando com que o aluno passe a ampliar a sua compreensão sobre o fazer a dança. Além de movimentar-se o aluno aprenderá também a discutir e analisar os repertórios dançados e aprender outros, ampliando o seu conhecimento sobre as danças, principalmente aquelas que ele vivencia em seu meio social. Conforme aponta Porpino:

Entender a dança na escola exige um exercício de refletir sobre o mundo, sobre o que fazemos e fizemos, como enxergamos o outro e o meio em que vivemos. A partir dessa ampliação do repensar, passaremos a entender como podemos produzir essa dança no âmbito escolar. (PORPINO, 2008, p.11)

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Ao dialogar com o meio sociocultural em que os alunos estão inseridos, o professor passa a dialogar com as produções artísticas que estão sendo produzidas, ampliando a concepção do aluno, fazendo com que eles possam entender em que espaços a criação e apreciação da dança acontecem.

No mundo atual existem diversas manifestações artísticas que podem ser contempladas no ensino da dança, mas quando se trata de como elaborar as aulas, vem o questionamento, quais conteúdos podemos aplicar na escola tomando como base os princípios da dança contemporânea? A autora Isabel Marques em seu trabalho "Dançando na Escola" questiona: Qual a dança que devemos ensinar na escola? A partir desse questionamento penso em como estamos ensinando a dança e lanço outras questões: que conteúdos estamos abordando? Como o ensino desses conteúdos amplia o conhecimento dos alunos? Como resignificar o fazer e o pensar a dança, já que os alunos estão inseridos em um meio social totalmente vinculados a mídia social que apresenta diversas modalidades de dança?

Refletindo sobre os conteúdos que devem ser abordados na escola e próxima ao objetivo deste trabalho sobre a dança contemporânea como referência para o ensino da dança na escola, Marques (2010) relata que a improvisação e a composição coreográfica são processos que fazem-pensar a dança, permitindo aos alunos "experimentar, sentir, articular, e pensar a arte como criadores e sujeitos do mundo" (MARQUES, 2010, p. 32). Conhecer a linguagem da dança nos faz dialogar e problematizar sobre a pluralidade cultural do meio social, assim entendemos que em primeiro lugar o corpo é uma expressão da pluralidade, da grande diversidade de corpos que se movimentam na dança em nosso país. Os diferentes biotipos, as diversas culturas e maneiras de pensar e fazer a dança nos fazem enxergar a imensidão de possibilidades e de diálogos que a pluralidade nos propõe, já que o nosso país apresenta uma diversidade cultural bastante abrangente, dessa forma a escola deve buscar

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discutir sobre o quanto essa diversidade é um propulsor para a produção da cultura.

Para entendermos melhor a respeito dos processos que podem favorecer o fazer-pensar a dança na grande diversidade do nosso país, destacaremos os dois processos que Marques (2010) relata como potencializadores do experimentar e o fazer na dança: a Improvisação e a Composição coreográfica. O processo de improvisação em dança incentiva o aluno a conhecer e reconhecer-se corporalmente, intelectualmente e emocionalmente, descobrindo e redescobrindo espaços dentro da escola que ele não pensaria que poderiam ser espaços para a dança, como também o respeitar o espaço do outro.

A professora Mara Francischini Guerrero em seu trabalho sobre "As formas de improvisação em dança", divide em dois modos o uso da improvisação - 1º Improvisação sem acordos prévios e o 2º Improvisação com acordos prévios: Improvisação em processos de criação e Improvisação com roteiros. Segundo a autora é difícil classificar os modos da improvisação, porém ao dividir as formas de improvisação facilita a análise, a discussão e entendimento sobre os processos, facilitando a aplicação do professor na sala de aula(GUERRERO, 2008) .

Através da improvisação a composição coreográfica dá início, sendo um trabalho realizado pelo coreógrafo ou com a direção coletiva. No presente trabalho relataremos experiências que se iniciaram na improvisação como processo de criação, gerando trabalhos que fazem pensar, refletir e sentir o quanto é doce o fazer na dança.

A Dança Contemporânea ao ser desenvolvida no âmbito escolar, como proposta de referência do fazer-pensar a dança, nos leva por caminhos cheios de descobertas e experimentações na contemporaneidade. E nos perguntamos: o que seria a dança contemporânea? Segundo Ana Maria de São José

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Na dança contemporânea inicia-se uma gramática coreográfica que não se restringe a um único código, normas e regras de movimento, onde múltiplos fazeres, olhares, escolhas, diálogos e possíveis dramaturgias do corpo podem ser observados (JOSÉ, 2011, p.11)

Assim a dança é composta pela reunião de uma considerável diversidade de estilos, movimentos e técnicas. A arte reflete o seu tempo, o pensamento dos artistas da época, a subjetividade individual e coletiva, a heterogeneidade da sociedade atual, privilegia aspectos relacionados à interdisciplinaridade, ao pluralismo estético e a alteridade, dentre outros.

Locais jamais pensados para serem espaços de dança começam a ser utilizados pelos artistas no contexto da Dança Contemporânea, assim como coloca Porpino (2008).

O chão que pisam tais corpos já não é o mesmo chão em que dançaram tantos outros corpos. Chão de flores, chão de areia, chão de água. Alguns corpos nem precisam de chão, pois o teto, as paredes e os infinitos artefatos lhes permitem conquistar outros espaços tão misteriosos. (PORPINO, 2008, p.1)

Na Dança Contemporânea tudo se renova, tudo se cria, a dança possibilita um novo fazer naquele espaço que já existia, um novo pensar sobre algo do nosso cotidiano que por diversas vezes nem pensaríamos que pudesse se tornar dança. Assim como fazem os artistas através da experimentação, o professor pode conduzir os seus alunos a descobrirem novas possibilidades de criação, através do espaço escolar, o qual por muitas vezes não é enxergado como um local para a prática da criação da dança. Dessa maneira os alunos passam a entender a importância da dança contemporânea dentro da sociedade, pois é através dela que ocorre uma abertura para o diálogo com novas possibilidades de criação.

A dança Contemporânea nos abre espaço para o educar, através da possibilidade de questionar, criar e refletir sobre o que está criando um significado ou está sendo resignificado em uma nova proposta de criação

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artística, que abrange o contexto social e cultural do indivíduo. Como Porpino (2008) relata: "o verbo educar se conjuga de infinitas formas, sendo na dança contemporânea um dos espaços para uma conjugação possível" (PORPINO, 2008, P .2). O redescobrir das possibilidades que jamais se tornariam a dança, a reflexão sobre assuntos do meio social, a desconstrução dos preconceitos, entender o belo não só fisicamente, mas também intelectualmente e nos movimentos criados através do processo da improvisação, podem ser contribuições da Dança Contemporânea para pensar a educação. Dessa maneira a Dança Contemporânea pode ser pensada como referência para o ensino da dança na escola, pelo fato de não nega as diferenças, e nem muito menos o contexto social e cultual que o aluno está inserido, permitindo contextualizá-lo, pensá-lo e atribuir significados múltiplos para as diversas situações (PORPINO, 2008). Isso pode fazer com que o meio escolar e o meio social venham a refletir e pensar o porquê das composições coreográficas.

Após situar as relações entre a Dança Contemporânea e a dança na escola discutiremos a seguir sobre experiências com a improvisação na dança escolar, relatando vivências compartilhadas nas ações do Subprojeto PIBID Dança UFRN, numa escola pública da cidade de Natal, e no ensino da dança na rede privada de ensino, ambas vividas durante a graduação.

3.1 EXPERIÊNCIAS COM A DANÇA NA ESCOLA

3.1 IMPROVISAÇÃO COM FLORES NA ESCOLA PÚBLICA: EXPERIÊNCIAS NO CONTEXTO DO SUBPROJETO PIBID DANÇA DA UFRN

A escola apresenta um papel bastante importante para a formação do aluno. Como já visto anteriormente, sobre a ampliação das Licenciaturas em Dança pelo país, em 24 de Junho de 2010 foi regulamentado o Programa

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Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID. O programa é desenvolvido pelo Ministério da Educação e tem como objetivo principal fortalecer a iniciação à docência dos estudantes de licenciaturas das universidades do Brasil. Dessa forma, em 2013 o PIBID veio a torna-se uma Política de Estado, ou seja, foi integrado as políticas educacionais estruturadas pela LDB 9.394/96. Assim, com o Programa ocorre um incentivo importante para a formação de professores da educação básica, gerando uma qualidade na formação desse docente, o qual terá uma integração entre a sua graduação e o ensino básico, em que contribuirá para o diálogo entre teoria e prática necessárias para a sua formação como professor. Vale ressaltar que no currículo acadêmico dos alunos de graduação das licenciaturas, os alunos participam de quatro estágios supervisionados por docentes da Universidade e por professores supervisores das escolas de ensino básico. Embora nos estágios supervisionados os alunos participem das atividades como observadores e co-atuadores, em poucos momentos os alunos têm a possibilidade de ter um contato maior com o fazer-pensar a dança dentro da sala de aula e da escola como um todo. Dessa maneira, o PIBID vem complementar a atuação que os estágios proporcionam, já que o PIBID abre um diálogo mais abrangente entre teoria e prática, aproximando os alunos da futura prática dentro da escola. Assim CAPES - A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) entende que:

Inserir os licenciandos no cotidiano de escolas da rede pública de educação, proporcionando-lhes oportunidades de criação e participação em experiências metodológicas, tecnológicas e práticas docentes de caráter inovador e interdisciplinar que busquem a superação de problemas identificados no processo de ensino-aprendizagem (CAPES, 2017)

Através da interdisciplinaridade que o programa oportuniza aos futuros professores, vemos o quanto o PIBID é um grande fortalecedor da formação docente. A partir de como esse programa é subdividido pelas licenciaturas, daremos ênfase ao subprojeto PIBID - Dança realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Este é coordenado pela professora Karenine

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Porpino e atua em duas escolas de ensino básico do Estado do Rio Grande do

Norte – Escola Municipal Professora Ivanira Vasconcelos Paisinho (em

Parnamirim) e a Escola Municipal Professora Zeneide Igino de Moura (em Natal), as quais contam com a vinculação ao projeto de duas supervisoras, respectivamente, as professoras Rosane Dantas e Raphaelly Souza.

O subprojeto PIBID Dança UFRN desenvolve suas atividades desde 2014 no Estado, dentre suas ações na escola podemos destacar: Vivências em Dança, Dança em Trânsito e Festivais de Dança, buscando o diálogo entre teoria e prática na formação dos licenciandos, ampliando a apreciação, a vivência e a análise crítica dos conteúdos da dança no contexto escolar (PORPINO, 2017).

Dessa maneira, o PIBID Dança UFRN vem discutir sobre o espaço da dança na escola, não apenas como atividade vinculada a ações festivas, mas como conteúdo curricular, de forma que os alunos possam entender que a aula de dança do Componente Curricular de Arte tem a mesma importância das aulas dos outros componentes curriculares. Entretanto, quando se refere a importância da dança na formação do aluno da Educação Básica, ainda ocorre uma desvalorização com relação ao ensino das artes, acentuando a visão de que o ensino da dança não é algo que apresenta tanta importância para a sua formação. Por vezes, os alunos acreditam a aula de dança é apenas um momento para se "divertirem" e não para aprenderem, pelo fato de seus corpos estarem disciplinados a não realizarem movimentos dentro de sala de aula, tal qual coloca Strazzacappa (2001, p.170) ao refletir sobre a "ausência do lúdico nas disciplinas científicas da escola, mas também na ausência de seriedade nas disciplinas artísticas".

O ensino da dança dentro do âmbito escolar pode desenvolver as habilidades criativas e não apenas motoras das crianças e adolescentes, dessa maneira o PIBID Dança da UFRN busca em suas ações fortalecer o ensino da Dança da escola, por meio do Componente Curricular Artes, mas também da

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inserção de atividades no calendário escolar, a exemplo das ações já citadas. Destaco como um dos exemplos de atividades do subprojeto a comemoração do Dia Internacional da Dança, dia 29 de abril4, como parte do calendário da Escola Municipal Professora Zeneide Igino de Moura, realizado sob a supervisão da Professora Raphaelly Souza. O dia Internacional da Dança está inserido como parte da ação Dança em trânsito, que busca um diálogo entre a dança produzida dentro e fora da escola através da apreciação artística e debates referentes ao que foi apreciado.

Foto 1: Comemoração do dia Internacional da Dança/Improvisação com flores . Arquivo pessoal da autora. 2016

4 Criado pelo Comitê Internacional de Dança da UNESCO, a data homenageia o nascimento do bailarino, professor e ensaísta francês Jean – Georges Noverre (1727-1810)

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Foto 2: Comemoração do dia Internacional da Dança/ Apresentação da coreografia “Olhares” pela bolsista Nelita Castro. Arquivo pessoal da autora. 2016

Foto 3: Comemoração do dia Internacional da Dança/Apresentação do Vídeo-Dança pelo Bolsista Will Gomes. Arquivo pessoal da autora. 2016

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Foto 4: Comemoração do dia Internacional da Dança/ “Quis – de perguntas e respostas, realizado pela supervisora Raphaelly Souza. Arquivo pessoal da autora. 2016

Embora a data seja comemorada anualmente, participei do evento realizado em abril de 2016. Nessa oportunidade foi desenvolvido um "QUIS – De perguntas e respostas" (foto 4) referentes a dança com as crianças, como: estilos de dança, acessórios que correspondem a cada dança, entre diversas perguntas que mobilizaram a curiosidade dos alunos. Os alunos bolsistas do PIBID realizaram apresentações de trabalhos criados nas disciplinas do Curso de Licenciatura em Dança da UFRN, como forma de dialogar sobre a arte que está sendo desenvolvida na cidade e incentivar a apreciação estética dos alunos (Fotos 1, 2 e 3). Essa relação entre a arte que se faz na escola e fora dela é de suma importância, tal qual comenta a autora Valéria Figueiredo a seguir

É necessário que a arte e a educação assumam a responsabilidade de estruturar trabalhos e projetos integrados e transdisciplinares na escola. Uma proposta inicial é possibilitar diálogos com a realidade social e cultural, valorizando as produções artísticas de cada região e grupos, e, ainda, poder experienciar as relações sociais e culturais a partir das experiências com o corpo e o movimento, compreendendo este corpo enquanto fenômeno histórico, cultural e artístico (FIGUEIREDO, 2013, p.87)

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Em comemoração ao dia Internacional da Dança, no ano de 2015 realizou-se também uma apresentação e uma oficina com base em uma experiência desenvolvida na disciplina de Composição Coreográfica, do Curso de Licenciatura em Dança, ministrada pela professora Patrícia Leal e Larissa Marques, em 2015.1. A oficina foi realizada por mim e por outra bolsista do PIBID Dança UFRN Silvia Priscila. Antes do desenvolvimento da oficina ocorreram apresentações de trabalhos desenvolvidos na disciplina citada anteriormente.

Foto 5: Comemoração do dia Internacional da Dança. Apresentação da coreografia “Flores” com as bolsistas Nelita Castro e Silvia Priscila. Arquivo pessoal da autora. 2015

A apresentação (foto 5) foi inserida na ação "Dança em Trânsito" que busca levar aos alunos a apreciação de produções da dança produzidas na cidade. Através das reflexões das professoras Larissa Marques e Patricía Leal realizadas durante o semestre de 2015.1, eu e outros alunos vislumbramos infinitas possibilidades de ver e fazer a dança na escola. No livro da professora Patrícia Leal, Amargo Perfume: a dança pelos sentidos, pude compreender e refletir como a improvisação e a criação são importantes no sentir e fazer da humanidade, o quanto o nosso viver está ligado ao processo criativo. A autora relata que “Criar para mim é como nutrir-me, é alimento, é ar, é fundamento essencial ao existir” (LEAL, 2009, p. 37). A partir dessa perspectiva da improvisação e a ação do sentir, a oficina na escola, com base no trabalho das

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professoras citadas, buscou enfatizar os movimentos criados pelos alunos da instituição, com o intuito de promover uma criação de pequenas partituras coreográficas a fim de estimular o sentir e o fazer dança.

Dessa forma, na oficina de Improvisação buscamos explorar o conhecimento corporal do aluno, baseando-nos em suas referências sociais e culturais, através da improvisação em processos de criação. A autora Mara Francischini Guerrero em seu trabalho sobre "Formas de Improvisação" relata que a improvisação "trata-se de processos de criação que contam com improvisação como fomentadora de suas investigações" (GUERRERO, 2008, p.3). A partir dessa reflexão sobre como a improvisação em processos de criação geram o investigar, o criar e o fluir das movimentações, Guerrero comenta que

Na atualidade muitos artistas realizam seus processos de criação através de improvisações. São propostas experimentações como estudo e desdobramento de questões relativas à obra em processo. A opção por trabalhar neste formato, está conectada a imprevisibilidade de suas experimentações, que pode gerar soluções inesperadas e diversas, visto que os artistas envolvidos têm autonomia sobre o processo. (GUERRERO, 2008, p.10)

A oficina de Improvisação com Flores foi realizada na turma do 5º ano B, e foi denominada dessa forma devido a utilização das flores Jasmim do Caribe (Buquê de Noiva), as quais existiam no jardim da Escola. A oficina teve como objetivo buscar uma articulação entre o apreciar e o fazer dança ancorados numa perspectiva de criação de novas possibilidades de movimento que extrapolassem e ampliassem o conhecimento de dança até então produzido pelos alunos, propondo a eles uma investigação do movimento a partir do manuseio de flores brancas, as quais eram as únicas que se encontravam no âmbito escolar.

Os alunos ao terem contato com as flores Jasmim do Caribe iniciaram um processo de criação (foto 6) com roteiros na sala, deslocando-se sozinhos, pela sala ocupando o espaço e procurando dialogar com os movimentos que a flor

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produzia ao realizar um movimento através da respiração que o aluno exercia na flor. Assim, os alunos realizaram movimentos nos três níveis: baixo, médio e alto, baseados no método de Rudolf Laban. A autora Lenira Regel comenta no Livro “Reflexões sobre Laban, o mestre do movimento” o quanto o método de Laban está adaptado com a contemporaneidade, e como pode dialogar com qualquer repertório, dessa maneira Regel comenta que “Empregando sua metodologia é possível descrever características da movimentação, tais com qualidade, peso, ritmo, forma, postura, caminho,direção, dimensão, nível espacial, uso do corpo como um todo, ou uso do corpo por partes, por exemplo. (MOMMENSOHN, PETRELA et al. 2006, p. 121)

Dessa maneira, durante a oficina criamos movimentos com base nos registros corporais dos repertórios que cada um trazia consigo. Os alunos durante a oficina tiveram um alto desempenho de entrega de si mesmos ao processo, participaram de toda aula com bastante interesse, buscando desenvolver o que estava sendo pedido pelas bolsistas durante a oficina, sem haver qualquer objeção para pesquisar os movimentos que estavam sendo pesquisados através do ato da respiração direcionada para a flor.

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Foto 6: Comemoração do dia Internacional da Dança. Oficina de Improvisação em Flores. Arquivo pessoal da autora. 2015

Após a oficina pudemos observar como a participação dos alunos tinha sido bastante assídua em relação a algumas aulas práticas que já havíamos proposto no decorrer do período letivo. Os alunos relataram que com a utilização de um objeto cênico a criação tinha se tornado mais “fácil”, já que o movimento era gerado conforme a ação que a flor exercia no espaço.

3.2 DANÇA CONTEMPORÂNEA NO CONTEXTO DAS OFICINAS DE DANÇA NA ESCOLA PRIVADA

A outra experiência com referências da Dança Contemporânea iniciou-se no Colégio Hipócrates Zona Sul, como oficina de dança, em Março de 2017 e foi desenvolvida durante todo ano. A proposta é resignificar a prática da dança na escola. As alunas da turma são ex-alunas do grupo de Ballet Clássico da instituição. Desde o início das atividades com o ballet sentia que minhas alunas queriam mais do que essa prática. O amor pela dança clássica se tornou algo muito forte dentro delas, porém no decorrer no ano letivo de 2016, dentro das

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atividades planejadas no plano de curso, realizei aulas baseadas na improvisação, através dos fatores de movimentos de Rudolf Laban, o que gerou pequenas partituras interessantes e com diversas possibilidades de novas experimentações. A partir desse processo, iniciamos um trabalho paralelo às aulas de Ballet Clássico, e senti que através do novo diálogo proposto as alunas mergulhavam em um oceano de possibilidades, redescobriam o seu próprio corpo, não reproduziam apenas movimentos codificados. O movimento a partir da ação do improvisar apresentava uma nova cor e novo sentindo para cada uma.

No decorrer desse processo as alunas foram convidadas a participarem de um Mostra de Dança da Vi-vemos Cia de Dança5, realizada pela Vi-vemos Cia de Dança dirigido por Bruno Fernandes, que busca através das apresentações interligar o ensino da dança na escola com os espaços artísticos do Estado do Rio Grande do Norte. A Vi-vemos pela Arte, realizada, em 2016, no auditório do Colégio Nossa Senhora das Neves. O processo coreográfico das alunas tomou como base os fatores de movimento e ações do movimento de Rudolf Laban do livro Domínio do Movimento e também de conversas realizadas dentro das oficinas sobre sentimentos do cotidiano.

Laban buscava a qualidade interna dessa ação de se mover, buscava a experiência pessoal de cada sujeito em mergulhar no vasto e inesgotável território de possibilidades do corpo, perscrutando-o, averiguando suas sutilezas e intensidades, para que fosse possível ampliar e versatilizar o seu vocabulário expressivo. (TIBÚRCIO, 2014, p.3)

Dessa maneira Tibúrcio (2011) nos faz refletir o quanto Laban buscava (re)descobrir as possibilidades corporais, levando a intenção que ultrapassa os movimentos. Assim as alunas relataram sobre como a dança estava pulsando dentro do seu corpo, como esse novo pensar-fazer estava mudando a sua maneira de refletir sobre a dança. A coreografia proposta teve como base os

5 A Vi-vemos Cia de Dança foi criada em 2013 pelo bailarino e coreógrafo Bruno Fernandes, com a participação inicial dos alunos do Curso de Licenciatura em Dança da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

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processos de criação a partir de acordos prévios, nesse caminho existiam roteiros para a improvisação, como a utilização de fragmentos dos textos das alunas escritos num diário de bordo6, que ficavam espalhados pelo chão e a cada parada reagiam corporalmente aquele texto. O deslocamento pelo espaço era baseado nas ações do esforço: socar, torcer, flutuar e deslizar, entre outras ações, sendo considerados a fluência, o espaço, o peso e o tempo. Após pesquisar as possibilidades de movimentos, era solicitado às alunas que organizassem pequenas partituras coreográficas a partir das experimentações realizadas e a partir das sensações do deslocar pelo espaço, sempre considerando o que os seus fragmentos textuais provocavam nos movimentos que estavam sendo realizados. A composição do trabalho intitulou-se "Morena" e foi apresentado por quatro alunas do 8º ano do ensino Fundamental II, na ocasião da Mostra Vi-vemos pela arte (Foto 7).

Foto 7: Apresentação na Mostra Vi-vemos pela arte. Arquivo pessoal da autora. 2016

Após a apresentação (foto 7), em 2016, propus ao colégio a criação da turma de Dança Contemporânea para que pudesse ser mais abrangente o ensino da dança por via da improvisação. A escola aprovou e iniciamos a turma de Dança Contemporânea, no ano de 2017. Vale salientar que a turma não está

6 O Diário de Bordo é um caderno ou pasta no qual o estudante registra as etapas que realiza no desenvolvimento do projeto

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inserida no currículo escolar da instituição, mas funciona como prática extracurricular da escola, como oficina.

A oficina de dança contemporânea acontece duas vezes por semana com duração de uma hora cada aula. As aulas ocorrem de uma maneira dinâmica, buscando o diálogo entre a professora e os alunos. Como referências para essas práticas utilizamos o processo de improvisação proposto pela professora Mara Francischini Guerrero, que descreve em seu trabalho duas formas de improvisação: a improvisação sem acordos prévios e a improvisação com acordos prévios. Dessa forma os alunos de 12 a 15 anos passaram a descobrir como os seus corpos podem sempre redescobrir novos movimentos através de estímulos conduzidos.

Dentre as práticas realizadas com alunas, iniciamos um processo de criação para o festival dos Jogos Internos da Escola, com o objetivo de promover a Dança Contemporânea na escola, já que ela não é tão conhecida pelo público escolar em geral. Ainda se ouve dentro da instituição as seguintes questões: que tipo de dança é essa? Como ela é? Tendo em vista, que até então a prática do Ballet Clássico era a mais difundida e apresentava uma grande popularidade.

Dessa maneira, iniciamos, em junho de 2017, o processo de criação em que trabalhamos com os fatores de movimento (Laban), com o intuito de criar pequenas partituras coreográficas criadas pelas alunas. Buscamos um diálogo com o sentir, ou seja, as alunas passaram a entender a importância do fazer-pensar a dança, elas não realizavam mais os movimentos apenas como reprodução, mas sim através das sensações e reações que os estímulos corporais produziam. A turma de Dança Contemporânea mergulhou em um mar de explorações no decorrer no ano letivo.

As aulas de dança tiveram como estrutura: alongamento, aquecimento, e experimentações referentes aos fatores de movimentos: espaço, peso, tempo e fluência. Dessa maneira pudemos observar que, através do trabalho com os

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fatores do movimentos de Laban, ocorre um esforço não apenas físico/mecânico, mas interno, as alunas apresentam sensações, emoções, direções, pensamentos e entre outras reações que são expostas através do movimento realizado pelas intérpretes e pelo diálogo entre elas.

Dessa maneira, durante as aulas seguimos roteiros de experimentação, baseadas nas ações do cotidiano referentes as sensações que essas lembranças remetiam, como por exemplo, uma aluna descreveu uma lembrança que era bastante forte para ela, a ação de andar de bicicleta. Dessa forma a aluna realizava movimentos baseados na pesquisa dos fatores do movimento, seguindo uma sequência de diversas possibilidades de experimentação de movimentos, como por exemplo: pesquisar os movimentos com o peso leve, tempo rápido, fluência contida e o espaço direto. Após a finalização de cada oficina fizemos círculos e discutimos sobre o que foi abordado na aula, e como se deu a experimentação daquele dia.

Durante o processo de criação as alunas utilizaram um diário de bordo, após todas as aulas elas faziam os seus relatos de experiências vivenciadas nas oficinas, dentre esses relatos podemos destacar dois trechos dos diários de bordos de duas alunas de 15 anos da turma do 9º ano.

"(...) Criatura abstrata Se desintegrando por lágrimas Vomitando pássaros sem asas

Correr sem sair do lugar Autodestruição que acalma

Almas poéticas

Corpo como espelho da alma Que dança em busca de calma Em busca de metades separadas

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Desintegra o carnal

Talvez me encontrei enfim Entre linhas, movimentos, Lágrimas e gritos mudos"

(Relato do diário de bordo da aluna do 9ºano)

"A dança contemporânea foi uma das melhores coisas que já me aconteceu. Finalmente achei algo que me complementasse, uma coisa que me fizesse

sentir mais viva. Um meio de liberar as minhas emoções em simples movimentos, que com capricho e intensidade se tornam tão lindos.

Ela faz com que nos sintamos conectados as emoções a tudo. Eu amo a dança contemporânea e tenho certeza que

não vou deixa-la tão cedo"

(Relato do diário de bordo da aluna do 9º ano)

O processo de criação foi permeado por experiências importantes para a discussão dentro do ambiente escolar, lembranças e ações cotidianas foram propostas no decorrer do processo, com o embasamento dos fatores do movimentos e das ações de movimentos de Rudolf Laban. Durante os dois meses de processo discutimos sobre o trabalho de Rudolf Laban , considerando nas ações básicas, os fatores do movimentos e o sentir na dança. As palavras de Tibúrcio são propícias nesse contexto "Para Laban cada gesto, por mais simples que pareça, revela aspectos da nossa vida interior" (TIBÚRCIO, 2011, p. 2).

Discutimos também sobre Pina Bausch, e utilizamos a ideia da repetição do movimento, ou seja, buscamos a ação do repetir para pensar o movimento, já que “a repetição é utilizada como forma de exaustão corporal para provocar

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novas realizações corporais, Bausch trabalha a repetição como um 'assalto' da ação do seu significado cotidiano, da sua funcionalidade na vida”. (ALVES e VIERA, 2016, p. 2)

Passamos a observar se o movimento que estava sendo realizado apresentava o mesmo peso, velocidade e direção que o movimento anterior. Porém a repetição (foto 8) também foi utilizada como conjunto de movimentos da partitura, apenas pensando na ação de repetir o movimento e levar ao apreciador questionamentos sobre essa ação.

Foto 8: Oficina de Dança Contemporânea baseada nos princípios da repetição de Pina Bausch. Arquivo pessoal da autora. 2017

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Foto 9: Oficina de Dança Contemporânea baseada na improvisação em Dança. Arquivo pessoal da autora. 2017

Dessa maneira surgiu a coreografia Sonhos, a qual foi apresentada nos Jogos Internos da Escola e no Projeto Vi-vemos pela Arte no Teatro de Cutura Popular, na cidade de Natal/RN, o qual reuniu diversas escolas da cidade, buscando um diálogo com outros estilos de dança e fomentando a nossa arte.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal discutir a Dança Contemporânea como referência para o ensino da dança na escola. Durante a feitura do texto pudemos entender o quanto a improvisação pode ser um potencializador das discussões sobre o meio social em que o aluno vive, como também ampliar o conhecimento da dança na escola, o qual está geralmente vinculado às danças que são mais divulgadas na mídia. O trabalho com a improvisação abre um leque de discussões e reflexões sobre a pluralidade da dança, a grande potencialidade de criar através das diversidades sociais e culturais dos alunos.

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Sendo assim, acreditamos que a Dança Contemporânea, especialmente o trabalho de Improvisação, abre novas possibilidades de pesquisa de movimentos, possibilitando uma ruptura na estética corporal dos bailarinos, não buscando um modelo corporal imposto socialmente como "padrão", mas sim abrindo espaços para diversas estéticas corporais. Através dos estudos de Rudolf Laban abre-se uma vasta possibilidade de pesquisa geatual, que podem considerar as ações do cotidiano e abrangendo qualquer repertório que o interprete traga corporalmente.

Com isso podemos compreender o quanto a Dança Contemporânea dentro do âmbito escolar é um incentivador do pensar–fazer a dança na escola, pois abre um diálogo sobre o dançar e aproxima os alunos dos processos de criação que podem incluir referências do cotidiano, que em outras situações não poderiam se tornar dança. A partir da Dança Contemporânea os alunos passam a compreender o quanto vivenciamos a dança no nosso cotidiano e não a enxergamos.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Referências

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