• Nenhum resultado encontrado

Matopiba: desenvolvimento rural em uma nova fronteira agrícola

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Matopiba: desenvolvimento rural em uma nova fronteira agrícola"

Copied!
151
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA- UFU

INSTITUTO DE ECONOMIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS- IERI PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA– PPGE

ELAINE CARVALHO DE LIMA

MATOPIBA: DESENVOLVIMENTO RURAL EM UMA NOVA FRONTEIRA AGRÍCOLA

UBERLÂNDIA-MG 2020

(2)

ELAINE CARVALHO DE LIMA

MATOPIBA: DESENVOLVIMENTO RURAL EM UMA NOVA FRONTEIRA AGRÍCOLA

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Economia do Instituto de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Economia.

Área de concentração: Desenvolvimento Econômico.

Linha de pesquisa: Políticas Públicas e Desenvolvimento Econômico.

Orientador: Prof. Dr. Antonio César Ortega

UBERLÂNDIA-MG 2020

(3)

2020 Matopiba [recurso eletrônico] : desenvolvimento rural em uma nova fronteira agrícola / Elaine Carvalho de Lima. - 2020.

Orientador: Antonio César Ortega.

Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Uberlândia, Pós-graduação em Economia.

Modo de acesso: Internet.

CDU: 330 1. Economia. I. Ortega, Antonio César,1960-, (Orient.). II.

Universidade Federal de Uberlândia. Pós-graduação em Economia. III. Título.

Disponível em: http://doi.org/10.14393/ufu.te.2020.427 Inclui bibliografia.

Inclui ilustrações.

Bibliotecários responsáveis pela estrutura de acordo com o AACR2: Gizele Cristine Nunes do Couto - CRB6/2091

(4)

https://www.sei.ufu.br/sei/controlador.php?acao=documento_imprimir_web&acao_origem=arvore_visualizar&id_documento=2305574&infra_siste… 1/2

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Economia

Av. João Naves de Ávila, nº 2121, Bloco 1J, Sala 218 - Bairro Santa Mônica, Uberlândia-MG, CEP 38400-902 Telefone: (34) 3239-4315 - www.ppge.ie.ufu.br - ppge@ufu.br

ATA DE DEFESA - PÓS-GRADUAÇÃO

Programa de Pós-Graduação

em: Economia

Defesa de: Tese de Doutorado, Nº 66, PPGE

Data: 29 de maio de 2020 Hora de início: 09:25 Hora deencerramento: 13:00 Matrícula do

Discente: 11613ECO004 Nome do

Discente: Elaine Carvalho de Lima Título do

Trabalho: Matopiba: desenvolvimento rural em uma nova fronteira agrícola Área de

concentração: Desenvolvimento Econômico Linha de

pesquisa: Polí cas Públicas e Desenvolvimento Econômico Projeto de

Pesquisa de vinculação:

As Polí cas Territoriais Rurais e a Ar culação Governo Federal e Estadual: Um Estudo de Caso da Bahia

Reuniu-se a Banca Examinadora, designada pelo Colegiado do Programa de Pós-graduação em Economia, assim composta: Professores Doutores: Carlos Alves do Nascimento UFU; Clesio Marcelino de Jesus UFU; Cris ane Aparecida de Cerqueira UESC; Henrique Rogê Ba sta UFMT; Antonio César Ortega -PPGE/UFU orientador da candidata. Ressalta-se que em decorrência da pandemia pela COVID-19 e em conformidade com Portaria Nº 36/2020, da Capes, O cio Circular nº 1/2020/PROPP/REITO-UFU e deliberação do Colegiado do PPGE, a par cipação dos membros da banca e da aluna ocorreu de forma totalmente remota via webconferência. A aluna par cipou desde a cidade de Manaus (AM). O professor Clesio Marcelino de Jesus par cipou desde a cidade de Patrocínio (MG). A professora Cris ane Aparecida de Cerqueira par cipou desde a cidade de Ilhéus (BA). O professor Henrique Rogê Ba sta par cipou desde a cidade de Monte Carmelo (MG). Os demais membros da banca par ciparam desde a cidade de Uberlândia (MG).

Iniciando os trabalhos o presidente da mesa, Dr. Antonio César Ortega, apresentou a Comissão Examinadora e a candidata, agradeceu a presença do público, e concedeu à Discente a palavra para a exposição do seu trabalho. A duração da apresentação da Discente e o tempo de arguição e resposta foram conforme as normas do Programa.

A seguir o senhor(a) presidente concedeu a palavra, pela ordem sucessivamente, aos(às) examinadores(as), que passaram a arguir o(a) candidato(a). Ul mada a arguição, que se desenvolveu dentro dos termos regimentais, a Banca, em sessão secreta, atribuiu o resultado final, considerando o(a) candidato(a):

Aprovada.

(5)

https://www.sei.ufu.br/sei/controlador.php?acao=documento_imprimir_web&acao_origem=arvore_visualizar&id_documento=2305574&infra_siste… 2/2

Programa, a legislação per nente e a regulamentação interna da UFU.

Nada mais havendo a tratar foram encerrados os trabalhos. Foi lavrada a presente ata que após lida e achada conforme foi assinada pela Banca Examinadora.

Documento assinado eletronicamente por Carlos Alves do Nascimento, Professor(a) do Magistério Superior, em 29/05/2020, às 14:23, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015.

Documento assinado eletronicamente por Antonio Cesar Ortega, Professor(a) do Magistério Superior, em 29/05/2020, às 14:23, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015.

Documento assinado eletronicamente por Clesio Marcelino de Jesus, Professor(a) do Magistério Superior, em 29/05/2020, às 14:29, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015.

Documento assinado eletronicamente por Cris ane Aparecida de Cerqueira, Usuário Externo, em 29/05/2020, às 14:39, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015.

Documento assinado eletronicamente por Henrique Rogê Ba sta, Usuário Externo, em 31/05/2020, às 19:45, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015.

A auten cidade deste documento pode ser conferida no site h ps://www.sei.ufu.br/sei/controlador_externo.php?

acao=documento_conferir&id_orgao_acesso_externo=0, informando o código verificador 2037694 e o código CRC 3FDC639B.

(6)

“A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”. Grande Sertão: Veredas, Guimarães Rosa.

(7)

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar a Deus, por ter me dado saúde, força e fé para a finalização desse trabalho.

Aos meus pais, por terem me incentivado e acreditado nos meus sonhos, mesmo diante de todas as dificuldades enfrentadas. Do mesmo modo, agradeço ao apoio das minhas irmãs, Duda e Érica, por sempre estarem presentes em todos os momentos da minha vida. Um agradecimento especial a Érica por ter vindo morar em Uberlândia, no meu segundo ano do doutorado, que tornou minha moradia mais leve. Aos meus cunhados, Vinícius e Samuel.

Ao meu noivo, Calisto, pelo amor, companheirismo e compreensão durante a realização desta tese. Por compartilhar comigo os sonhos e desafios dos últimos anos, pelo apoio nos momentos mais difíceis, especialmente quando achei que não teria forças para concretizar essa etapa.

Ao meu orientador, professor Dr. César Ortega, pela competência e maestria na condução da orientação, por ter acreditado e incentivado os direcionamentos da tese. Gratidão também pelas suas aulas inspiradoras!

À banca examinadora pelas contribuições na melhoria desta tese.

A todos os técnicos e docentes do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) pela contribuição no meu crescimento profissional, intelectual e pessoal.

Aos amigos que acompanharam e incentivaram este trabalho, Mari Little, Célia, Lucielen, Janaína e Mariama. Aos amigos que fiz em Uberlândia, que compartilharam momentos bons e também os desafios desse período, especialmente aos cearenses, Paulo e Daiane. Também ao Thiago, caixinha de fósforo, pela grande ajuda nas aulas de análise multivariada que foram fundamentais para finalização desta tese.

Ao Instituto Federal do Amazonas – IFAM, campus Manaus Centro, instituição na qual faço parte desde 2019, pelas novas amizades e pela compreensão dos colegas e gestores na conclusão dessa fase profissional.

Por fim, as pessoas que contribuíram, de alguma maneira, para a construção e finalização desse trabalho. Agradeço também a sociedade brasileira que contribuiu financeiramente durante meu período no curso de doutorado, garantindo meus estudos numa Universidade Pública, gratuita e de qualidade, meus mais veementes agradecimentos. E a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil – Código de Financiamento 001), pela bolsa concedida para o desenvolvimento dessa tese.

(8)

RESUMO

Nas últimas décadas, com a expansão da fronteira agrícola em direção ao Norte/Nordeste do Brasil, ocorreu neste território um crescimento da produção de grãos e a melhoria nos indicadores econômicos. Entretanto, muitos estudos têm evidenciado que os resultados não são traduzidos em melhores condições de vida e inclusão da população local. A presente tese buscou analisar as diferentes dimensões do desenvolvimento rural e a dinâmica da expansão do agronegócio no território do Matopiba. Para corroborar a análise, além da pesquisa bibliográfica, documental e visitas in loco, utilizou-se da Análise Fatorial (AF) para viabilizar a construção de um índice de desenvolvimento que permita compreender o grau de desenvolvimento dos municípios que compõem o Matopiba. O modelo de AF teve uma adequação global satisfatória e apontou a existência de correlações suficientes entre as variáveis para procedê-lo (teste de esfericidade de Bartlett e KMO). Isto significa que a variância total explicada foi superior a 0,70 da variância total das 43 variáveis originais, indicando ajuste adequado das variáveis latentes aos seus respectivos modelos teóricos. A extração dos fatores resultou em 11 constructos que foram utilizados para a construção do Índice de Desenvolvimento Rural (IDR) e possibilitou uma classificação em três níveis de desenvolvimento (baixo, médio e alto) entre os diversos grupos de municípios. Os resultados apontaram que a classificação e os valores discrepantes nos índices de desenvolvimento rural revelam a heterogeneidade do território do Matopiba, não só do ponto de vista da formação socioeconômica, decorrentes de legislações de cada estado, bem como aspectos geográficos e ambientais. De tal maneira que, a dinâmica de desenvolvimento econômico avança de forma desigual e não equilibrada ao longo do tempo.

(9)

ABSTRACT

In the last decades, with the expansion of the agricultural frontier towards the North/ Northeast of Brazil, there was a growth in grain production and an improvement in economic indicators. However, many studies have shown that the results are not translated into better living conditions and inclusion of the local population. This thesis sought to analyze the different dimensions of rural development and the dynamics of the expansion of agribusiness in the territory of Matopiba. To corroborate the analysis, in addition to bibliographic, documentary research and on-site visits, Factor Analysis (FA) was used to enable the construction of a development index that allows understanding the degree of development of the municipalities that compose Matopiba. The FA model had a satisfactory overall adequacy and pointed to the presence of reduced correlations between the procedure variables (Bartlett's test of sphericity and KMO). This means that the total explained variance was greater than 0.70 of the total variance of the 43 original variables, indicating adequate adjustment of the latent variables to their respective theoretical models. The extraction of the factors resulted in 11 constructs that were used to build the Rural Development Index (IDR) and enabled a classification in three levels of development (low, medium and high) among the different groups of municipalities. The results showed that the classification and the discrepant values in the rural development indexes reveal the heterogeneity of the Matopiba territory, not only from the point of view of socioeconomic formation, resulting from the laws of each state, as well as geographical and environmental aspects. In such a way that the dynamics of economic development advances unevenly and unbalanced over time.

(10)

LISTA DE FIGURAS/ QUADROS

Figura 1- Tipos de Inovação Tecnológica na Agricultura ... 23

Figura 2- Expansão da fronteira e ocupação agrícola do cerrado ... 37

Figura 3- Áreas do cerrado brasileiro ... 43

Figura 4- Áreas que compõem o Matopiba ... 43

Figura 5- Portos do Arco Norte ... 46

Figura 6-População extremamente pobre do Matopiba- por município (%) - 2010 ... 54

Figura 7- Localização do Oeste Baiano ... 65

Figura 8- Localização do Tocantins ... 69

Figura 9 - Localização do Maranhão ... 73

Figura 10 - Corredor da Ferrovia Norte Sul ... 76

Figura 11- Localização do Piauí ... 77

Figura 12- Dimensões do Desenvolvimento Rural ... 81

Figura 13- Autovalores por componentes principais ... 116

Figura 14- Cargas fatoriais após rotação ortogonal ... 117

Quadro 1 - Mesorregiões, microrregiões e municípios do Matopiba na Bahia ... 66

Quadro 2 - Mesorregiões, microrregiões e municípios do Tocantins ... 70

Quadro 3 - Mesorregiões, microrregiões e municípios do Maranhão ... 74

Quadro 4 - Mesorregiões, microrregiões e municípios do Piauí ... 77

Quadro 5- Variáveis do Banco de Dados ... 91

Quadro 6- Escalas de Interpretação dos valores do KMO ... 94

Quadro 7- Graus de desenvolvimento atribuídos aos municípios a partir do IDR ... 97

(11)

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - População no Matopiba por estado- 1991, 2000 e 2010 (em milhões) ... 48

Gráfico 2 - População urbana e rural (%) por estado no Matopiba- Censo 2000 e 2010 ... 50

Gráfico 3 - Os municípios mais populosos do Matopiba- Censo 2000 e 2010 ... 51

Gráfico 4 - Situação de pobreza e desigualdade do Matopiba e Brasil- Censo 2010 ... 53

Gráfico 5 - Participação relativa dos estados na produção de soja no Matopiba – 1995 a 2015 ... 60

Gráfico 6 - Preço da terra na região do Matopiba (em reais- R$) ... 104

(12)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Áreas e Territórios Legalmente Atribuídos no Matopiba ... 44

Tabela 2- Abrangência do Matopiba ... 45

Tabela 3 - População, área e densidade demográfica dos estados do Matopiba em 2010 ... 47

Tabela 4 - Taxa de crescimento populacional do Matopiba e Brasil- decênio 1990- 2010 ... 48

Tabela 5 - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal no Matopiba ... 51

Tabela 6 - Número de Estabelecimentos Agropecuários, 2006 e 2017, unidades... 55

Tabela 7 - Área dos Estabelecimentos Agropecuários, 2006 e 2017, hectares ... 55

Tabela 8 - Total de estabelecimentos por grupos de área (2017) ... 56

Tabela 9 - Área dos estabelecimentos por grupos de área (2017) ... 57

Tabela 10 - Número e área dos estabelecimentos por condição do produtor em relação às terras (2017) ... 58

Tabela 11 - PIB anual e Valor Adicionado Bruto (VAB) por grande setor- ranking municipal (2017) 59 Tabela 12 - Os 10 principais municípios em algodão, milho e soja em área plantada- 2018 ... 61

Tabela 13 - Produção agropecuária para atividades selecionadas em (1990 e 2018) % ... 62

Tabela 14 - Características das microrregiões da Bahia- Matopiba (Censo 2010) ... 66

Tabela 15 - Características das microrregiões do Tocantins- Matopiba (Censo 2010) ... 71

Tabela 16 - Características das microrregiões do Maranhão- Matopiba (Censo 2010) ... 75

Tabela 17 - Características das microrregiões do Piauí- Matopiba (Censo 2010) ... 78

Tabela 18- Testes de adequação: KMO e BTS ... 113

Tabela 19- Ranking das Comunalidades ... 114

Tabela 20- Autovalores, variância individual e variância acumulada ... 115

Tabela 21- Escores fatoriais, IDR e grau de desenvolvimento- Alto Desenvolvimento ... 125

Tabela 22 - Escores fatoriais, IDR e grau de desenvolvimento- Médio Desenvolvimento ... 127

Tabela 23- Escores fatoriais, IDR e grau de desenvolvimento- Baixo Desenvolvimento ... 128

(13)

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ADES - Associação de Promoção do Desenvolvimento Solidário e Sustentável CAIs - Complexos Agroindustriais

CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento

EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária EMAPA - Empresa Maranhense de Pesquisa Agropecuária EPAMIG - Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais

FAO - Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura GITE - Grupo de Inteligência Territorial Estratégica

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDH - Índice de Desenvolvimento Humano

IFPI - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí IPEA- Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

MAPA- Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

OECD - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico PADAP - Programa de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba

PAM - Produção Agrícola Municipal PBF - Programa Bolsa Família

PDA – Matopiba - Plano de Desenvolvimento Agropecuário do Matopiba PIB – Produto Interno Bruto

PND - Plano Nacional de Desenvolvimento

PNUD- Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

POLAMAZÔNIA -Programa de Polos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia POLOCENTRO - Programa de Desenvolvimento dos Cerrados

(14)

PRODECER - Programa de Cooperação Nipo-brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados

PRODEGRAN - Programa Especial da Região Grande Dourados RPAs - Regiões Produtivas do Agronegócio

SIDRA - Sistema IBGE de Recuperação Automática SNCR - Sistema Nacional de Crédito Rural

SUDAM - Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia SUDECO - Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste SUDENE - Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste TICs - Tecnologias de Informação e Comunicação

VAB - Valor Agregado Bruto

UAB - Universidade Aberta do Brasil UESPI - Universidade Estadual do Piauí UFPI - Universidade Federal do Piauí UFU- Universidade Federal de Uberlândia

(15)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 14

1 DINÂMICA AGROINDUSTRIAL BRASILEIRA E IMPACTOS NO CERRADO: ASPECTOS HISTÓRICOS E TEÓRICOS ... 20

1.1 UM BREVE RESGATE DO PAPEL DAS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS E SUAS PARTICULARIDADES NA AGRICULTURA ... 21

1.2 CONSTITUIÇÃO DOS COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO BRASIL ... 24

1.3 EXPANSÃO DA FRONTEIRA AGRÍCOLA NO CERRADO BRASILEIRO ... 29

2 MATOPIBA E A OCUPAÇÃO DE UMA NOVA FRONTEIRA AGRÍCOLA ... 40

2.1 O PLANO DE DESENVOLVIMENTO AGROPECUÁRIO (PDA) DO MATOPIBA: A OCUPAÇÃO DE UMA NOVA FRONTEIRA AGRÍCOLA ... 42

2.2 CARACTERIZAÇÃO DEMOGRÁFICA, SOCIAL E PRODUTIVA DO MATOPIBA . 46 2.2.1 Aspectos Populacionais do Matopiba ... 47

2.2.2 Características Sociais ... 51

2.2.3 Estrutura Produtiva, Agrária e Econômica ... 54

2.3 MATOPIBA: CARACTERIZAÇÃO GERAL POR UNIDADE FEDERATIVA DO MATOPIBA ... 63

2.3.1 Bahia- Oeste Baiano ... 64

2.3.2 Tocantins ... 68

2.3.3 Maranhão ... 72

2.3.4 Piauí ... 76

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS: O CARÁTER MULTIDISCIPLINAR DA ANÁLISE DO DESENVOLVIMENTO RURAL ... 80

3.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS: ETAPAS DA PESQUISA ... 86

3.2 ABRANGÊNCIA DO ESTUDO E DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS E FONTES DOS DADOS ... 89

3.2.1 Método de Análise: Análise Fatorial ... 92

(16)

4 MATOPIBA: LIMITES E PERSPECTIVAS AO DESENVOLVIMENTO RURAL .. 98

4.1 REGIÕES PRODUTIVAS DO AGRONEGÓCIO (RPAS) E SUA EXPANSÃO RECENTE NO MATOPIBA ... 98

4.2 PRINCIPAIS CONSEQUÊNCIAS SOCIOECONÔMICAS DO MATOPIBA ... 101

4.3 RESULTADOS QUALITATIVOS: IMPACTOS E DESAFIOS ... 106

4.4 RESULTADOS DA ANÁLISE FATORIAL: DIMENSÕES DO IDR NO MATOPIBA ... 110

4.4.1 Índice de Desenvolvimento Rural no Matopiba ... 124

CONCLUSÕES ... 131

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 135

(17)

INTRODUÇÃO

A agricultura brasileira passou por uma série de transformações em decorrência da disseminação do padrão tecnológico da Revolução Verde incentivado pelo Estado brasileiro, após a II Guerra Mundial. Tal processo visava maior oferta, competitividade e produtividade dos gêneros agropecuários para abastecer tanto o mercado interno, quanto conquistar maior espaço no mercado externo.

Desse modo, no período anterior a Revolução Verde, a agricultura ocupou um espaço importante no processo de industrialização do país, especialmente com o setor o cafeeiro que era voltado à exportação e que gerou mecanismos de transferências de recursos deste setor para o setor industrial emergente, sendo fundamental na geração de divisas para o processo de industrialização via substituição de importações.

No entanto, conforme Delgado (1985), em meados da década de 1960 a política de transferência de recursos do setor exportador para a economia entrou em estagnação diante dos rebatimentos da política valorizacionista do pós-guerra. Com efeito, pós 1965, foi criado um novo sistema creditício com a introdução dos aparatos monetários e financeiros de favorecimento à mudança da base técnica de produção rural com o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR). A criação do SNCR foi importante para dar sustentação ao processo de modernização da agricultura a partir da internalização da produção de máquinas agrícolas, insumos químicos modernos e inovações biológicas (raças melhoradas e sementes selecionadas). Esse processo atendia aos interesses da indústria do país e as necessidades dos agricultores (DELGADO, 1985).

Sendo assim, havia um consenso dos setores da burguesia industrial quanto à necessidade de ampliação do mercado interno como forma de garantir o consumo a partir da produção das indústrias nascentes. Dito isso, se consolida a industrialização da agricultura com a adoção do padrão tecnológico hegemônico mundialmente, e que implicou na adoção de novas relações de trabalho no campo e perda da autossuficiência desse setor, que se integra em complexos agroindustriais (GRAZIANO DA SILVA, 1996; DELGADO, 1985). Assim, a introdução de inovações tecnológicas no setor agropecuário incluía, entre outros fatores, melhorias genéticas, insumos agrícolas, máquinas, estruturas para armazenamento e secagem de grãos.

A partir da década de 1970, a nova estrutura do setor rural indicava que a dinâmica econômica não poderia ser mais compreendida pela análise da divisão do mercado interno e externo, e nem segmentando agricultura e indústria, mas sim por uma maior integração e

(18)

inter-relação entre os diversos setores da economia. Nesse momento, passa a predominar o capital financeiro e industrial num processo maior de acumulação global com liderança de grandes empresas nacionais e estrangeiras. Esta nova fase, portanto, fora marcada pela integração da agricultura à indústria, caracterizando um período de constituição dos Complexos Agroindustriais (CAIs) (MULLER, 1989; DELGADO, 2012; GRAZIANO DA SILVA, 1996).

No que diz respeito à expansão territorial da agricultura, Vieira Filho et al (2016) ressaltam que a partir da década de 1990 a expansão da fronteira se desloca para as áreas do Nordeste e, consequentemente, houve uma elevação da produção de grãos no país. Os autores evidenciam a importância do desenvolvimento da biotecnologia para adaptação de sementes às regiões do cerrado brasileiro, que foi fundamental para o aumento da produtividade, no uso mais eficiente dos recursos naturais e tendeu a propagar a monocultura globalizada como a melhor forma de produção de alimentos.

Nesse contexto, a expansão e ocupação de novas fronteiras agrícolas no país têm gerado uma série de discussões e debates. As transformações territoriais recentes decorrentes da expansão do agronegócio resultaram no surgimento de um novo território1 conhecido como MATOPIBA, sigla constituída pelas iniciais dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Nas últimas décadas, tal território tem passado por uma série de mudanças promovidas pelo setor privado e pelo Estado brasileiro, que resultaram em avanços nas pesquisas sobre as melhores técnicas de cultivares nesse espaço.

O Matopiba2 foi instituído em 2015 por meio do Plano de Desenvolvimento Agropecuário (PDA) do Matopiba e criação do Comitê Gestor via Decreto Federal nº 8447, de 6 de maio de 2015, no governo da ex presidente Dilma Rousseff. O PDA instituiu como área especial de planejamento estatal e confirmação do potencial de expansão agrícola nessa área (BRASIL, 2015).

Dessa maneira, a compreensão sobre a expansão da fronteira para áreas com aptidões agrícolas, como o Matopiba, perpassa pela escolha de incorporar terra nova nas fronteiras externas, em detrimento da intensificação da produção de terras já incorporadas (fronteira

1Na proposta governamental, a utilização da palavra território é de uso comum. Entretanto, defendemos que o conceito de território não foi abarcado em tal proposta, pois entendemos que (...) territórios não são entidades dadas de uma vez por todas por qualquer tipo de mão mágica ou de dotação natural. Eles são o resultado de formas específicas de interação social, da capacidade dos indivíduos, das empresas e das organizações locais em promover ligações dinâmicas, capazes de valorizar seus conhecimentos, suas tradições e a confiança que foram capazes, historicamente, de construir (...) (Abramovay, 2011, p. 1). Enfatiza-se, assim, que utilizaremos a palavra “território” ao decorrer do texto apenas para seguir a proposta do PDA-Matopiba.

2 Para caracterizar esse processo de expansão da fronteira agrícola, antes de ser oficializar com o nome de Matopiba, a área já foi conhecida como Bamapito, Mapito, Mapitoba.

(19)

interna). Ou seja, torna-se mais vantajoso incorporar essa nova fronteira, especialmente pela grande quantidade de terras a preços mais atrativos, em vez de incorrer em maiores custos na fronteira interna. Desse modo, destaca-se o papel substancial das inovações tecnológicas em terras antes vistas como inaptas para o cultivo, que foram transformadas por uma série de tecnologias e novos insumos. Nesse contexto, o progresso técnico viabiliza a capitalização da agricultura ao “fabricar mais terras” (GRAZIANO DA SILVA, 1981). Ademais, o próprio Estado tem promovido projetos de infraestrutura para facilitar o escoamento dos grãos, que incluem a construção de ferrovias e estradas que conectam aos portos graneleiros, como é o caso do Porto de Itaqui, no Maranhão.

Como salienta Balsan (2006), esse movimento para a ocupação de novas fronteiras tem imbricado à questão da renda da terra, visto que, muitas vezes, utilizam-se novas terras, não somente como reserva de valor ou especulação imobiliária, mas, agora, como capital produtivo. Dessa maneira, “(...) a propriedade privada da terra constitui-se uma condição necessária, mas não suficiente, para a existência da renda, seja ela diferencial ou absoluta3, ou seja, a renda diferencial da terra depende da intensificação da agricultura pelo capital” (BALSAN, 2006, p. 132). A renda da terra dá-se pelo caráter peculiar da propriedade privada, conforme Harvey (2013), quando afirma que:

Toda renta se basa en el monopolio de algún bien por determinados propietarios privados. La renta de monopolio surge porque ciertos agentes sociales pueden obtener una mayor corriente de ingresos durante un tiempo dilatado en virtud de su control exclusivo sobre algún articulo directa o indirectamente comercializable que es en ciertos aspectos cruciales, único e irreproducible (HARVEY, 2013, p.139). Um processo que continuamente reforça a desigualdade da distribuição de terras e a estrutura agrária altamente concentrada no país. É nessa perspectiva de ocupação de novas fronteiras agrícolas que também se acirram, historicamente, os conflitos por terra e impulso para políticas de Reforma Agrária. Conforme Castro e Chelotti (2018), ao relatarem o trabalho de Carlos Rojas4, “(...) a luta por terra, concebida em suas vastas dimensões, como luta e defesa do território não é somente uma disputa por solo, mas também pelo uso, gestão, administração, reprodução e manutenção em geral” (CASTRO, CHELOTTI, 2018, p. 61). Em

3 A renda diferencial é gerada pelo monopólio da exploração da terra, pelo"(...) fato de que o trabalho aplicado às terras melhores tende a ser mais produtivo, permitindo com isso a geração de um lucro adicional. (...)A renda diferencial é exatamente esse lucro extraordinário, acima do lucro médio, obtido pelos capitais que operam em condições mais favoráveis de produção” (GRAZIANO DA SILVA, 1981, p. 9). Ao citar Marx, Graziano da Silva (1981, p. 10) afirma que “(...) para a existência da renda absoluta é necessário além da propriedade privada da terra que a torna de fato o monopólio de uma classe, que a composição orgânica do capital, na agricultura propriamente dita, seja inferior à do capital social médio”.

4 ROJAS, C. A. A. Los movimientos Antisistemicos de America Latina y su lucha por la tierra em el siglo XXI. In: SAQUET, M. A., SUZUKI, J.C, MARAFON, J. (org) Territorialidades e diversidade nos campos e nas

(20)

direção oposta às lutas sociais pela terra, o Estado tem apoiado uma série de políticas que legitimam essa expansão da fronteira, seja por meio de arranjos institucionais, seja pela continuidade dos programas governamentais, investimento em infraestrutura e avanços nas pesquisas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA).

Dessa forma, a especialização na produção de commodities agrícolas no Matopiba se insere num contexto amplo de proposta governamental que busca viabilizar uma região planejada para o desenvolvimento do agronegócio. Tal cenário de articulação política entre o Estado e os atores hegemônicos do agronegócio conduziu a expansão considerável da produção agrícola, notadamente, soja, milho e algodão.

Nesse sentido, o Matopiba, que é considerada a última fronteira agrícola do país, decorre dessa ampliação do agronegócio pautado num modelo de produção altamente mecanizado. De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2015 o território foi responsável por aproximadamente 10% da produção de grãos do território nacional com perspectivas de triplicar nos próximos anos.

Dessa forma, a expansão do capital nessa região, que segue ditames do capital do agronegócio moderno, pode-se tornar hegemônica em relação às atividades pré-existentes nessa área. Nota-se que esse processo de especialização produtiva, baseado no agronegócio, tem constituído novas regiões econômicas crescentemente integradas a lógicas externas, o que pode ocasionar uma fragmentação e aumento da vulnerabilidade territorial (ELIAS, 2011).

Assim, são inúmeros os desafios que abarcam o Matopiba, posto que o atual cenário não apresenta perspectivas de inclusão da população e da economia local nessas áreas de expansão. Como consequência, o debate se acentua sobre os possíveis rebatimentos ao meio ambiente, culturas tradicionais da região, pobreza rural e produtividade da região (LIMA, 2019).

Em termos de estrutura agrária, o Matopiba é bastante diversificado. Além disso, abrange terras legalmente atribuídas que envolvem mais de três milhões de hectares de assentamentos rurais; mais de 200 mil hectares de áreas de quilombo; aproximadamente 4 milhões de hectares de terras indígenas; aproximadamente 6 milhões de hectares de unidades de conservação federal e 8 milhões com unidades de conservação estaduais (FONSECA; MIRANDA, 2014). Então, são desafios sociais e ambientais que deverão ser debatidos para uma melhor convivência em relação à presença do agronegócio, de tal maneira que o desenvolvimento de políticas públicas sejam focadas nas pessoas da comunidade com objetivo de combater a pobreza e a desigualdade na região.

(21)

Para Santos (2016), a expansão do agronegócio no Matopiba não se limita a uma reestruturação produtiva da agropecuária, mas tem reforçado problemas históricos no país, tais como, desarticulação dos trabalhadores rurais, concentração fundiária, expansão da monocultura, degradação ambiental, êxodo rural, entre outros.

O agronegócio no Matopiba tem alterado a região e funciona como uma porta de entrada de grandes investimentos, gerando novas demandas de comércio e serviços. A despeito da dinâmica do agronegócio ter tornado a região competitiva, ainda não é evidente como o desempenho do agronegócio tem afetado o desenvolvimento socioeconômico do Matopiba.

O atual cenário desvela, entretanto, possíveis tendências de exclusão da população mais pobre e do surgimento (ou ampliação) de conflitos fundiários. Dessa forma, as perguntas norteadoras da presente pesquisa foram as seguintes: como evoluiu a fronteira agrícola para o cerrado nordestino e, notadamente, para o Matopiba? O Projeto Matopiba tem ocasionado (ou intensificado) as desigualdades socioespaciais nessa região? Quais as características socioeconômicas do Matopiba e qual o Índice de Desenvolvimento Rural (IDR) dos municípios?

Isto posto, as motivações e consequências desse novo território ainda são pouco investigadas na literatura. Dessa forma, o presente estudo busca preencher tal lacuna ao ampliar as investigações sobre esse espaço de análise. Assim, a hipótese que servirá como elo condutor do presente trabalho é a seguinte: a forma de ocupação agrícola do Matopiba, que está concentrada em explorações de monoculturas, a partir de um moderno padrão tecnológico não se traduziu em desenvolvimento econômico para todos os municípios. Parte-se do pressuposto que há uma grande heterogeneidade entre os municípios, que poderá ser representado pelos diferentes níveis do IDR.

Dessa maneira, com o propósito de analisar a problemática que vem ocorrendo na área em questão, esta tese tem como objetivo geral: Analisar as diferentes dimensões do desenvolvimento rural e a dinâmica da expansão do agronegócio no território do Matopiba.

Nessa concepção, para atingir o objetivo geral, foram delimitados os seguintes objetivos específicos:

 Apresentar o processo de modernização da agricultura no Brasil e a expansão da fronteira agrícola no cerrado;

 Discutir a ocupação da fronteira agrícola nos cerrados do Matopiba e contextualizar o Plano de Desenvolvimento Agropecuário- PDA Matopiba;

(22)

 Analisar os dados socioeconômicos dos municípios incluídos no Matopiba e caracterizar o território sob a perspectiva do desenvolvimento rural;

 Identificar dimensões relevantes para o Desenvolvimento Rural no Matopiba; Em termos metodológicos, a presente tese utilizou as pesquisas qualitativa e quantitativa. A pesquisa qualitativa busca captar os aspectos do fenômeno estudado que, no caso desta tese, se deu a partir da seleção do território do Matopiba como objeto de estudo. Assim, em um primeiro momento, foram aplicadas as pesquisas bibliográfica, documental e de campo para atingir os objetivos. Posteriormente, recorre-se a pesquisa quantitativa, que pode ser caracterizada, conforme Richardson (1999), pelo emprego de quantificação e tratamento dos dados por meio de técnicas estatísticas. Assim, foram definidos os seguintes métodos, a saber: (i) análise estatística descritiva; (ii) Análise fatorial e (iii) cálculo do Índice de Desenvolvimento Rural (IDR) que foram tratados no capítulo 3.

Este trabalho encontra-se estruturado em quatro capítulos, além desta introdução e das considerações finais derivadas da pesquisa: (𝑖) o primeiro capítulo encontra-se a revisão bibliográfica relacionada ao delineamento adotado nesta tese, por meio de revisão histórica da modernização da agricultura e da expansão da fronteira agrícola sobre o cerrado (Capítulo I); (𝑖𝑖) Em seguida, apresenta-se a ocupação da nova fronteira agrícola e a constituição do Matopiba mediante o PDA-Matopiba. Além disso, foram destacados os dados sociais, demográficos e de estrutura produtiva da área de estudo (Capítulo II); (𝑖𝑖𝑖) encontra-se delineado os procedimentos metodológicos adotados para o desenvolvimento desta tese (Capítulo III); (𝑖v) têm-se os principais resultados e discussões com base no que foi proposto e das limitações encontradas na pesquisa. Apresenta-se por meio da caracterização do espaço de estudo. Para tanto, foi analisada a relação existente entre a ocupação da fronteira do Matopiba e seus impactos encontrados na literatura, bem como foi investigado e constatado os principais resultados do IDR (Capítulo IV). E finalmente, as conclusões em que reunimos os resultados alcançados nesse trabalho de tese, tendo como base os objetivos e nos desafios constatados ao decorrer do trabalho.

(23)

1 DINÂMICA AGROINDUSTRIAL BRASILEIRA E IMPACTOS NO CERRADO: ASPECTOS HISTÓRICOS E TEÓRICOS

Pretende-se, neste capítulo, realizar uma revisão histórica dos processos de expansão e modernização da agricultura brasileira. Neste caso, é importante destacar que a agricultura possui algumas particularidades que a distingue de outros setores, como as diferenças entre os tempos de produção e o tempo de trabalho que trazem alguns desafios ao pleno desenvolvimento da agricultura capitalista. Diferentemente do que ocorre com o setor industrial, em que o tempo de trabalho e o tempo de produção praticamente são os mesmos, na agricultura o período de produção é fortemente influenciado pelas leis da natureza (MANN; DICKINSON, 1987).

Dentro dessa perspectiva o modo de produção capitalista apresenta processos produtivos dinâmicos e intensos, porém, no caso da agricultura esta possui algumas barreiras que estão relacionadas às leis naturais que conduzem o processo produtivo. Para Mann e Dickinson (1987), enquanto houver essas barreiras que impedem a dominação social do tempo de produção no campo, o capitalismo considerará tais atividades como de alto risco. Assim, o progresso técnico pode representar uma maneira pela qual o capital suplante a barreira representada pela integração com a natureza.

No caso brasileiro, no imediato pós 2ª Guerra Mundial, o país atravessou uma série de mudanças na economia, especialmente com o avanço da industrialização e modernização. Nesse quadro, as inovações tecnológicas reorientaram a estrutura socioeconômica e política no campo, através da incorporação de novas técnicas e equipamentos produtivos.

Como será visto, o processo de modernização da agricultura brasileira, que ocorreu de forma mais efetiva na década de 1960, exigiu do Estado um papel atuante via criação e sistematização de incentivos governamentais. Alves, Contini e Hainzelin (2005) enfatizam três políticas decisivas no processo de modernização e integração da agricultura: crédito subsidiado via Sistema Nacional de Crédito Rural; grande extensão rural entre 1950 e 1970; intenso investimento em pesquisa agropecuária que se efetivou com a criação da EMBRAPA.

Atribui-se à tecnologia a função de elevar a produtividade dos fatores de produção e, consequentemente, alterar a base técnica da agricultura conduzindo-a ao estado tecnológico atual. Nesse contexto, instituíram-se o que se convencionou chamar Complexos Agroindustriais (CAIs), compreendido como o processo de integração indústria-agricultura. Embora a difusão do pacote tecnológico tenha elevado a produtividade agrícola, não houve uma difusão homogênea dos CAIs para todas as atividades agrícolas e para todo território

(24)

brasileiro. Apesar disso, não se pode analisar a agricultura brasileira em dissociação desse processo. Dessa forma, o foco das considerações que se seguem está voltado à compreensão do processo de modernização e posterior industrialização da agricultura, conforme diferenciou Graziano da Silva (1996).

1.1 UM BREVE RESGATE DO PAPEL DAS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS E SUAS PARTICULARIDADES NA AGRICULTURA

De acordo com Graziano da Silva (1981), o progresso técnico na agricultura contribui para a redução do trabalho necessário para produção, devido à introdução de máquinas, equipamentos, tecnologias, entre outros, aumentando a produtividade dos trabalhadores. Nesse sentido, os fatores naturais (clima, fertilidade do solo, disponibilidade de água, etc) e os fatores “fabricados” (meios de produção) são fundamentais para explicar o aumento da produtividade na agricultura. Para o autor, o progresso técnico na agricultura possui algumas peculiaridades das quais três merecem destaque:

I. As especificidades dos processos biológicos: perpassam pela dependência da produção agrícola sobre os processos biológicos. Tal dependência acarreta em processos de produção biológicos contínuos o que impossibilita a divisão do trabalho no interior do ciclo produtivo. Ademais, há dissociação entre o período de produção e o tempo de trabalho, visto que na agricultura perduram tempos de não trabalho no período de produção. Diante disso, o período produtivo dificilmente será reduzido por meio de inovações que não as biológicas e, mesmo assim, com resultados muitas vezes limitados;

II. Condicionantes naturais da produção agrícola: incluem o clima, luminosidade, vento, chuva, etc. Na agricultura existe uma interação entre processos biológicos e forças da natureza. Ou seja, o processo de produção na agricultura depende das forças naturais que são determinantes nessa atividade. A necessidade de interação entre os processos biológicos e forças da natureza faz com o que o progresso técnico na agricultura tenha especificidade quando comparado à indústria. Por exemplo, na indústria pode-se proteger o processo produtivo das condições climáticas e atmosféricas.

III. O papel da terra como meio produção: para a agricultura a terra é um meio de produção essencial, pois a atividade agrícola necessita da interação com o solo. Dessa maneira, o progresso técnico torna-se o viabilizador da capitalização da agricultura ao “fabricar mais terras” aos mais diferentes ramos de atividade.

(25)

Em suma, a difusão do progresso técnico na agricultura perpassa pelos obstáculos peculiares do setor, baseados em processos biológicos que sofrem interação com as forças da natureza. Além disso, o próprio monopólio da propriedade privada da terra torna-se um ponto desfavorável para a mobilidade do capital no campo, pois diante da escassez do fator terra, a ocupação por alguns proprietários provoca tal monopólio, impossibilitando que outros capitalistas possam explorar a atividade produtiva nas terras de melhor qualidade (GRAZIANO DA SILVA, 1981).

Conforme Cario e Buzanelo (1986):

(...) o entendimento da renda da terra requer de antemão o reconhecimento da importância da propriedade privada, da inserção cada vez mais acentuada da tecnologia nas relações de produção contemporânea, e ainda, acima de tudo, do conhecimento da lei do valor enquanto lei geral da acumulação capitalista. Requer também a compreensão da forma com que cada vez mais o capital subordina a renda da terra a seu interesse (CARIO; BUZANELO, 1986, p. 32).

Tais aspectos fazem com que as inovações tecnológicas tenham um caráter “incrustrado”, o que leva a processos de modernização muitas vezes parciais, sejam por produtos, regiões ou estágios do ciclo produtivo (GRAZIANO DA SILVA, 1981; 1999). Sendo assim, constata-se que a agricultura possui características complexas e heterogêneas que dificultam uma homogeneização total desse setor no sistema capitalista.

Conforme Graziano da Silva (1999), as inovações tecnológicas para a agricultura podem ser classificadas da seguinte forma: mecânicas, biológicas, físico-químicas e agronômicas. Evidentemente há outras inovações importantes, como é o caso da logística de transporte, armazenamento, infraestrutura, comercialização, entre outros, que tornariam extensa tal classificação. De fato, as inovações na agricultura têm finalidades diferentes no que concerne à utilização na produção, mas o ponto em comum perpassa pelo objetivo de aumentar a produtividade agrícola. De forma sucinta, a Figura 1 apresenta um esquema dos tipos de inovação do ciclo produtivo na agricultura.

(26)

Figura 1- Tipos de Inovação Tecnológica na Agricultura

Fonte: Elaborado a partir de Graziano da Silva (1999)

Dentre as inovações supracitadas, Graziano da Silva (1999) ressalta que as inovações biológicas merecem destaque, pois estas viabilizam outras inovações que geram efeitos positivos para o progresso da agricultura, além de superar os limites determinados pelas forças da natureza. Conforme Ortega e Jesus (2012, p. 58), as inovações biológicas "(...) afetam a velocidade de rotação do capital adiantado no processo produtivo, por meio da redução ou do alongamento do período de produção". É nesse cenário que a indústria se apodera de tecnologias que suplantam a restrição ambiental mediante de fontes exógenas de nutrientes e energia.

Sendo assim, buscar-se-á analisar as especificidades do progresso técnico na agricultura num contexto de industrialização da economia brasileira, enfatizando que a modernização agrícola5 no Brasil seguiu um movimento mais amplo baseado em modelos estruturados em outros países. Conforme Kageyama (1990), tal modernização incluía um pacote tecnológico de inovações que foram implementadas no país após a Segunda Guerra

5 Tal modernização assistida nos fins dos anos 1960 foi caracterizada, por alguns teóricos, como uma “modernização conservadora”. No Brasil, o trabalho seminal foi de Alberto Guimarães que defende que este termo se justifica “(...) porque, diferentemente da reforma agrária, tem por objetivo o crescimento da produção agropecuária mediante a renovação tecnológica, sem que seja tocada ou grandemente alterada a estrutura agrária” (Guimarães, 1977, p.3).

Inovações

tecnológicas na

agricultura

Biológicas Colocam a natureza à serviço

do capital, tornam a agricultura num ramo da indústria. Ex: variedades geneticamente modificadas

Físico-químicas Elevam a produtividade do solo por meio de métodos que

reduzam as perdas naturais, sejam por ataques de pragas, doenças ou ervas daninhas.

Ex: pesticidas, defensivos, adubação, etc Agronômicas

Modificam as formas de organização da produção com

a introdução de novas técnicas e práticas. Ex: rotação de culturas, técnicas de plantio direto, sistemas de manejo de solos, entre outros Mecânicas

Promovem a redução do tempo de trabalho e aumento

da intensidade do ritmo de trabalho. Ex: utilização de máquinas, colheitadeiras,

(27)

Mundial, tais como, produtos químicos, maquinário agrícola, novas variedades, entre outros. De modo geral, o processo de modernização trouxe a noção de que a agricultura passou a ser um ramo de produção, tal como na indústria, como veremos a seguir.

1.2 CONSTITUIÇÃO DOS COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO BRASIL

Inicialmente é necessário deixar claro que, antes do processo de modernização da agricultura brasileira, a maior parte das propriedades rurais empregavam tecnologias com menor grau de sofisticação e limitada a algumas culturas e partes das atividades produtivas, por exemplo, o café para exportação. Teixeira (2005) evidencia que esse processo tem início nos anos 1950 mediante importação de meios de produção mais avançados. Contudo, apenas na década seguinte que a modernização se efetivou com a introdução de um setor industrial pautado na produção de insumos e equipamentos para a agricultura.

Nesse quadro, a partir dos anos 1960, a modernização da agricultura brasileira acontecia mediante propósito de consolidação de um novo padrão de produção, a chamada Revolução Verde6, marcado pelo aumento das relações agricultura/ indústria e por mudanças nas relações de trabalho (MAZZALI, 2000). Desse modo, a base técnica da agricultura do país foi alterada e consolida-se o Complexo Agroindustrial (CAI). Conforme Mazzali (2000), a agricultura passa a ter uma dependência menor dos recursos naturais para sua reprodução.

Kageyama (1990) e Graziano da Silva (1996) argumentam que esse processo é marcado pela desarticulação do “Complexo Rural”, que antecede a existência dos Complexos Agroindustriais (CAIs)7. A ideia de complexo rural está associada ao conjunto de atividades desenvolvidas no interior das fazendas, alicerçadas na economia natural e com pouca divisão social do trabalho.

Nesse cenário, o setor rural tinha uma relação bastante limitada com as atividades desenvolvidas fora das fazendas, ou seja, não havia uma complexa conexão entre os diversos

6 Conforme Brum (1998), a Revolução Verde trata-se de um conjunto de inovações que objetivava a elevação da produção e da produtividade agropecuária no mundo, através da mudança tecnológica (pacote tecnológico): utilização de insumos e sementes selecionadas, combate às doenças e pragas, fertilizantes, experimentos na genética vegetal, inserção de equipamentos modernos e técnicas de correção do solo.

7

A literatura aponta a existência de diversas concepções do termo complexo agroindustrial, independentemente da formulação, observa-se que o complexo está relacionado ao processo de modernização da agricultura. Mafaron (1998) considera que a noção de Complexo Agroindustrial possui duas concepções, por um lado, tem-se a que abrange uma análitem-se mais “macro” constituída por vários sistemas e cadeias agroindustriais (MULLER, 1989). Por outro lado, há uma concepção relacionada a existência de vários complexos, numa análise “micro”, a partir da passagem dos complexos rurais aos complexos agroindustriais, considerando como resultado de um processo histórico de concertação e interesse dos agentes econômicos envolvidos nesse processo. (KAGEYAMA et al, 1987; SILVA, 1991).

(28)

setores da economia nacional (primário, secundário e terciário), a não ser com o mercado externo por meio de um único produto voltado para exportação. Logo, o complexo rural brasileiro tinha uma dinâmica atrelada às flutuações do comércio externo.

Entretanto, a produção de exportáveis envolvia uma parte dos meios de produção existentes e a outra parte era reservada à produção de bens de consumo para população local e utilizada nas fazendas. Ou seja, o complexo rural possuía um “departamento” de meios de produção, embora, como salienta Rangel (1961), o D18 era assentado em bases artesanais. Dessa forma, a divisão social do trabalho era bastante incipiente e não havia um mercado interno desenvolvido, o que dificultava a acumulação de capital.

Neste sentido, o fim do complexo rural e a consequente modernização agrícola podem ser compreendidos pelo desenvolvimento do mercado interno no Brasil e de avanço da divisão social do trabalho. Em termos históricos, é importante salientar que foi um processo que remonta aos anos 1850 com a Lei de Terras e o fim do tráfico negreiro, tal fato ganhou novos contornos com a crise de 1929 diante da reorientação da economia “para dentro”, e nos anos 1950 com a internalização do setor de bens de capital (D1).

Graziano da Silva (1996) destaca que a lenta decomposição do complexo rural pode ser apreendida por períodos históricos, os quais mostraram o desenvolvimento capitalista brasileiro com o aparecimento de novos setores. Um primeiro período, entre 1850 a 1890, foi de consolidação do complexo cafeeiro, marcado pela substituição do trabalho escravo pelo trabalho livre nas fazendas paulistas, apesar de ainda manter um D1 com bases artesanais. Ainda de acordo com o autor, o período de 1890 a 1930 foi o auge do complexo de café e houve expansão das atividades urbanas com o surgimento de outros setores, tais como, o setor de máquinas e equipamentos fora das fazendas. Temos nesse período os primórdios da indústria de bens de consumo não duráveis no país, como exemplo, a constituição da indústria têxtil.

Outro fator importante que explica a decadência do complexo rural é o processo de industrialização da economia brasileira a partir da década de 1930 com a política econômica de substituição de importação. Assim, se antes a economia nacional era dinamizada via mercado externo, após os anos 1930 no governo de Getúlio Vargas, o mercado interno passa a ter uma maior importância na dinâmica da economia nacional, portanto, o meio rural deveria compactuar com o crescimento industrial direcionado no país (TAVARES, 1977). Além do que, na visão do Estado, o campo estava "atrasado", especialmente, quanto aos aspectos

8 Departamento produtor de bens de capital. De acordo com Graziano da Silva (1996), os componentes do D1 da agricultura são: a indústria de tratores, fertilizantes, implementos, defensivos, etc.

(29)

produtivos e isto deveria ser superado pela inserção de métodos e técnicas modernas para ampliação da capacidade produtiva. O período de 1930 a 1960 caracteriza-se por uma maior integração dos mercados nacionais e a constituição do D1 industrial, que ficou conhecido pela industrialização pesada no Brasil (TAVARES, 1977).

Então, na década de 1960 surge um novo modelo econômico caracterizado pela modernização do setor agrário e constituição do Complexo Agroindustrial. Conforme Teixeira (2005), esse modelo estava alicerçado em dois aspectos. Por um lado, a oligarquia rural estava receosa com as pressões no campo pelos movimentos sociais e, por outro lado, nos setores mais modernos do capital urbano que buscavam aumentar seu poder de influência.

Desse modo, existia um consenso dos setores da burguesia industrial quanto à necessidade de expansão do mercado interno como forma de garantir o consumo das indústrias nascentes. Assim, a industrialização da agricultura é marcada pela adoção de máquinas e insumos, novas relações de trabalho no campo e perda da autossuficiência do setor.

Conforme Graziano da Silva (1996, p. 3):

O longo processo de transformação da base técnica - chamado de modernização - culmina, pois, na própria industrialização da agricultura. Esse processo representa na verdade a subordinação da natureza ao capital que, gradativamente, liberta o processo de produção agropecuária das condições naturais dadas, passando a fabricá-las sempre que se fizerem necessárias. Assim, se faltar chuva, irriga-se; se não houver solos suficientemente férteis, aduba-se; se ocorrerem pragas e doenças, responde-se com defensivos químicos ou biológicos; e se houver ameaças de inundações, estarão previstas formas de drenagem.

O desenvolvimento baseado no pacote tecnológico da “Revolução Verde” aumentou a dependência entre agricultura e indústria, especialmente mediante dois elementos: a agricultura passou a utilizar meios artificiais (insumos, produtos químicos) e a sociedade alterou a dieta alimentar ao consumir alimentos fornecidos pelas agroindústrias (derivados de soja, trigo, produtos enlatados, etc). Assim, os alimentos processados ganharam espaço no mercado e possibilitou a reprodução do capital agroindustrial (MATOS; PESSOA, 2011).

Portanto, o avanço tecnológico no campo propiciou grandes mudanças no que tange à apropriação parcial da natureza e a transformação desta em bens comercializáveis com alta produtividade. Ademais, a Revolução Verde trouxe como peça chave um maior domínio sobre a natureza pelo uso das inovações tecnológicas com intensificação da monocultura como a melhor forma de produção de alimentos.

(30)

Conforme salientam Santos e Silveira (2008), diante das inovações técnicas e organizacionais, a produção se estabelece no período técnico-científico-informacional em que novas atribuições são dadas aos territórios, que abarcam: “(...) o aproveitamento dos ciclos vagos no calendário agrícola ou o encurtamento dos ciclos vegetais, a velocidade da circulação de produtos e informações” (SANTOS; SILVEIRA, 2008, p.118). Sendo assim, o automatismo da indústria possibilita que a tecnologia usada no campo otimize os ganhos de produtividade com diminuição de custos, favorecendo a produção mesmo em condições naturais adversas.

Para Teixeira (2005), as alterações verificadas no processo produtivo no meio rural brasileiro estiveram relacionadas à formação do Complexo Agroindustrial que foi um marco da consolidação da modernização da agricultura do país. De fato, o Complexo Agroindustrial emerge dessa maior relação entre a indústria e agricultura com a internalização dos setores industriais para fornecer os meios de produção necessários à agricultura (insumos e bens de capital), transformação das relações de trabalho e consolidação do assalariamento nos setores mais dinâmicos da agricultura do Centro-Sul do país (MULLER, 1989).

As relações interdependentes da indústria, seja a jusante e a montante, promoveram a existência dos CAIs. Para Muller (1989, p. 41):

Entenda-se por Complexo Agroindustrial o conjunto de relações entre indústria e agricultura na fase em que esta mantém intensas conexões para trás, com a indústria para a agricultura e para frente, com as agroindústrias e outras unidades de intermediação que exercem impactos na dinâmica agrária. O Complexo Agroindustrial é uma forma de unificação das relações entre os grandes departamentos econômicos com os ciclos e as esferas de produção, distribuição e consumo, relações estas associadas às atividades agrárias.

A nova estrutura do setor rural apresentava a dinâmica emergente que não podia ser mais compreendida pela divisão entre mercado interno e externo. Nesse contexto, o capital financeiro e industrial passa a dominar num processo maior de acumulação global. Para Delgado (1985), a transição para o novo padrão de desenvolvimento da agricultura deve ser apreendida pelo movimento de integração de capitais. Assim, o autor afirma que: “(...) centralização de capitais industriais, bancários, agrários, etc., que por sua vez fundir-se-iam em sociedades anônimas, condomínios, cooperativas rurais e, ainda, empresas de responsabilidade limitada, integradas verticalmente (agroindústrias)” (DELGADO, 1985, p. 134).

Além disso, o Estado passou a atuar de forma mais ativa nesse processo, isto porque havia uma conexão do capital estatal com grupos rurais e multinacionais, que comumente

(31)

agregavam outras atividades para além do setor agrícola. Nesse cenário, entre os anos 1960-1980, grandes empresas globais tiveram seu poder de regulamentação ampliado (MULLER, 1989; TEIXEIRA, 2005). Neste sentido, de acordo com Graziano da Silva (1987, p. 20):

Esse processo traduziu-se na aplicação dos capitais em distintos mercados constituindo-se grandes grupos econômicos por meio de fusões, holdings e outros arranjos com o capital financeiro. É importante lembrar que um desses mercados- o de terras- passa a ter um papel de destaque nesse processo, ou seja, a propriedade da terra, ao permitir ganhos especulativos e ganhos de fundação (nas novas áreas de fronteira incorporadas ao mercado), tornou-se um ativo alternativo para o grande capital.

Neste contexto, a agricultura nacional se diversifica e ao mesmo tempo, diante das exigências concorrenciais, os produtores tornam-se mais especializados em uma cultura agrícola (produto).

Como salientam Mendes e Padilha Júnior (2007), a industrialização da agricultura, que resultou numa maior dependência ao setor industrial, provocou uma profunda mudança na concepção sobre a agricultura. Por conseguinte, o tradicional setor primário (caracterizado principalmente pelo tripé agricultura-pecuária-extrativismo) tem se transformado em agronegócio (diversificado-moderno-complexo), que se caracteriza por um conjunto de atividades ligadas a ampla cadeia produtiva agrícola.

Gonçalves Neto (1997) defende que na década de 1970 a agricultura passou a atender as necessidades da sociedade urbano-industrial. Em grande medida, os incentivos da política de crédito, iniciada em meados dos anos 1960, contribuíram para o novo cenário que se delineava. Ademais, o desenvolvimento econômico verificado no período, conhecido na literatura como o "milagre econômico", fez com que a agricultura brasileira não apenas atendesse às demandas da economia, como também fosse profundamente alterada em sua base produtiva.

No que tange à participação do Estado, alguns projetos e políticas foram importantes na consolidação de um novo patamar na agricultura. Destaca-se a criação do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), em 1965, instituído pela Lei 4.829/65, como o principal dispositivo da política agrícola do país que impulsionou a transformação da base técnica da produção agrícola por meio do desenvolvimento dos meios de produção (fertilizantes, defensivos, insumos) e dos bens de produção (colheitadeiras, equipamentos diversos, tratores, etc), ou seja, houve uma intensificação na relação agricultura/indústria. Dessa maneira, o SNCR foi importante na internalização de máquinas e insumos modernos, que atendia aos interesses da indústria do país e as necessidades de gerações de excedentes exportáveis.

(32)

Graziano da Silva (1996) pontua ainda que, no decorrer da década de 1970, o SNCR concedeu empréstimos com taxas de juros reais negativas, ou seja, o tomador pagaria um valor inferior ao valor presente adquirido.

Outras políticas também foram importantes nesse período, como a de garantia de preços mínimos e o seguro agrícola. A primeira garantia uma remuneração mínima mediante estabilização dos preços, notadamente em períodos de grandes variações dos preços no mercado e diante de condições climáticos desfavoráveis. O seguro rural servia de mecanismo de salvaguarda como consequências de perdas nas lavouras (MARTINE; BESKOW, 1987).

Nesse contexto, muitas políticas foram implementadas no meio rural brasileiro com o intuito de ampliar as fronteiras agrícolas do país, como será exposto na próxima seção. Ao decorrer dos últimos anos, as áreas de cerrado foram convertidas em áreas de agropecuária, com perda da vegetação originária.

1.3 EXPANSÃO DA FRONTEIRA AGRÍCOLA NO CERRADO BRASILEIRO

Nas últimas décadas, conforme Frederico (2013), o Brasil atravessou duas fases de modernização na agricultura: a primeira aconteceu no período de 1960 a 1980, com a intensificação da adoção das técnicas da Revolução Verde, a constituição dos CAIs e a intervenção do Estado; a segunda fase, como veremos, a partir dos anos 1990, com a propagação das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), surgiu uma agricultura científica globalizada (SANTOS, 2010).

De modo geral, as mudanças nos processos de ocupação do solo abrangem o avanço da fronteira agrícola, apesar das transformações antrópicas ao longo dos séculos, seja pelo manejo tradicional da agricultura de subsistência, pecuária, mineração ou construção de cidades (RIBEIRO, 2002). Em contraponto, há uma ruptura com os projetos de modernização no campo, tanto por pesquisas em fertilidade dos solos, incentivos migratórios de agricultores da região Sul do país, ou ainda, por meio da incorporação dos monocultivos, com destaque da soja. Os autores Pereira e Pauli (2016) contextualizam que a fronteira agrícola não abarca apenas a expansão produtiva em novas áreas, mas também o crescimento populacional, o processo de modernização no campo e seus impactos socioeconômicos e ambientais.

Para Carrijo (2008), a “fronteira agrícola” pode ser entendida como a mudança de padrão tecnológico relacionado à modernização da agricultura e a atração de investimentos. No Brasil, esse processo aconteceu com a ocupação de novas áreas agricultáveis mediante a propagação da Revolução Verde.

(33)

Nessa perspectiva, é importante mencionar que a expansão das fronteiras agrícolas ocorreu em áreas que possuíam uma relação com as particularidades dos biomas e suas biodiversidades e pode apresentar diversas acepções:

No plano social, (...) a fronteira representa uma orientação dos fluxos migratórios, especialmente das populações rurais. (...) Quando a fronteira se “fecha”, passa a haver uma multiplicação de pequenos fluxos migratórios, muitos sem direção definida (...) No plano econômico, a fronteira era uma espécie de “armazém regulador” dos preços de gêneros alimentícios de primeira necessidade consumidos pela população urbana (...) havia um suprimento do mercado nacional através escoamento dos “excedentes” da pequena produção, funcionando como estabilizador dos preços. Quando, entretanto, a fronteira se “fecha”, esse efeito de amortecimento tem de ser buscado na importação desses gêneros alimentícios e no tabelamento dos seus preços. No plano político, a fronteira tem sido a “válvula de escape” das tensões sociais no campo. (...) Quando a fronteira se “fecha”, acaba se tornando, ela mesma, uma região de conflitos pela posse da terra. (GRAZIANO DA SILVA, 1981, p. 118).

Para Graziano da Silva (1982) a ocupação da fronteira agrícola é resultado da “modernização dolorosa” no campo, pois não soluciona a questão do monopólio da terra, porque incorpora novos espaços de produção capitalista e intensifica o processo de concentração fundiária.

Essa forma de ocupação das terras no Brasil acontece desde o período colonial e se intensificou com a mudança no paradigma produtivo quando o país sai de um sistema de produção agroexportador para um país industrial pós 1930. Neste sentido, é nos anos 1970 que se intensifica o processo de avanço para áreas do bioma cerrado foi estabelecida na região Centro-Oeste e parte do Sudeste do país.

Por outro lado, a ocupação produtiva do cerrado, naquilo que se convencionou chamar de modernização agrícola, foi amparada por políticas públicas que impulsionaram o desenvolvimento da região, entre as quais, destacam-se: o Programa de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba (PADAP), executado pelo governo de Minas Gerais; o Programa de Desenvolvimento dos Cerrados (POLOCENTRO) e o Programa de Cooperação Nipo-brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados (PRODECER), estes últimos implementados pelo governo federal (PIRES, 2000). Além de tais programas, havia uma série de incentivos públicos que colaboraram para uma nova conformação no cerrado, como os subsídios creditícios, política de preços mínimos e as obras de infraestrutura.

Até meados dos anos 1970 predominava a ideia de que o cerrado, em decorrência dos solos ácidos, não oferecia potencial de exploração produtiva. Essa visão foi alterada com as práticas de produção modernas na agricultura brasileira que, através das iniciativas de

Referências

Documentos relacionados