I ~ _
PROGRAMA
DE POS
GRADUAÇAO
EM
ENGENHARIA
DE
ENSINO-APRENDIZAGEM
DE
PORTUGUÊS
COMO
LÍNGUA
4
8502 f¬Q
»-` WPRODUÇÃO
ESTRANGEIRA
ATRAVÉS
DE
UMA
FERRAMENTA
SUPORTADA
PELA INTERNET
Rita
de
CássiaMello
FerreiraDissertação
apresentada ao
Programa
de
Pós-Graduação
em
Engenharia
de
Produção
da
Universidade Federal de Santa Catarina
como
requisito parcialpara obtenção
do
títulode Mestre
em
FLORIANÓPOLIS
2001
Rita de Cássia Mello Ferreira
ENSINO-APRENDIZAGEM DE
PORTUGUÊS
COMO
LÍNGUA
_
ESTRANGEIRA
ATRAVES
DE
UMA
FERRAMENTA
SU
PORTADA
PELA
INTERNET.
li
Esta dissertação foi julgada e aprovada para a obtenção
do
título deMestre
em
Engenharia
de
Produção, noPrograma
de Pós-Graduação
em
Engenharia
de
Produção
da Universidade Federal de Sant.a”CÉtarina.Florianópolis,
27 de
julde
2001.Prof. Ricardo i anda Barci , Ph.D.
Coor
enak or do Cur
anca Examinadora
Prof. Fran `
ntišo Pereil Fialho, Dr.
Orientado
rofa. Albertina Felisbino, Dra
/
J>
DED|cATÓR|A
Ao
Felício.“SÓ se preserva aquilo que se
ama
AGRADECIMENTOS
Aos
meus
pais, José e Joana, quesempre
acreditaramem
meu
potencial enunca
mediram
esforços para que eupudesse
realizar osmeus
estudos.` .
A
minha
irmã Juliana e aomeu
irmãoThomaz
Junior, peloamor que
nos une e pela compreensao.,
.
A
amiga
Diane pelas palavras alegres e motivadorasque
sempre
me
dirigiudurante a realizaçao deste trabalho. _
À
Juliana, pela apoio e incentivo recebidos, principalmente, a respeitodo
ensino de língua inglesa.
À
professora colaboradora Lucilene Souza, pelasrecomendações
esugestões valiosas.
Ao
IuriCampana
pela criatividade e habilidade na construção da ferramentainformatizada.
Finalmente, agradeço ao professor Fialho,
como
facilitador, incentivadorRESUMO
O
domínioda
internetvem
crescendo gradualmente sobre os outros meiosde
comunicação, provocando a necessidade
de
repensar a postura da escoladiante
dessa
nova tecnologia.Pensando
nisso, o objetivo deste trabalho édisponibilizar, através
da
internet,um
recursode
apoio pedagógico ao ensinode
PLE -
Portuguêscomo
Língua Estrangeira. Mais precisamente, o trabalhotrata da
concepção
edo
desenvolvimentode
uma
Ferramentade
Ensinode
Lingua Brasileira para Estrangeiros
-
FELBRAS
-, suportada pormeios de
'N' '
._ _ ___; V__. _ _____r ¬_;__,/“'“"““"""""*"' ~- - .___ V€_A›¡_:__ _;___ ” ___” _ ..¬__,.__,_,_
informatica. Para justificar a criação dessa ferramenta, foi feita
uma
discussãodas questões cruciais para o ensino
de
linguas, especialmentedo
ensinode
língua estrangeira (L2): o conceito de língua e a importância da linguagem na
constituição do sujeito, da cultura, das ideologias, e, sobretudo, as teorias e o processo
de
ensino-aprendizagem deuma
língua estrangeira.Também
foi feitoum
breve histórico do ensinode
línguas estrangeiras no Brasil edo
ensino deportuguês
como
língua estrangeira. Por fim, idealizou-se, projetou-se, elaborou-se e disponibilizou-se para o aprendiz a ferramenta informatizada, suportada
pela internet, cujo finalidade é servir de instrumento de apoio ao desenvolvimento das habilidade
de
ler, escrever, ouvir e falar a linguabrasileira, aos alunos inscritos
em um
cursode
português brasileiro,ou
seja,um
cursode
português para estrangeiros a ser oferecido no Brasil.t
ABSTRACT
The
internetdomain
has been increasing in relation to the othermeans
ofcommunication.
As
a consequence, the need of rethinking abouthow
schoolsshould
behave
towards thisnew
technology has arisen. Taking thisnew
behavior into account, this work aims to provide a pedagogical supporting
resource based on internet for the teaching of Portuguese as a
second
language.
More
specifically, this work deals with the conception anddevelopment of a tool,
FELBRAS
(Ferramentade
Ensino de Língua Brasileirapara Estrangeiros). Tool for Teaching a Brazilian
Language
for Foreigners.A
discussion about the most important topics related to language teaching, mainly
about foreign language teaching, has been
done
to justify the creation of thistool. This discussion involves the concept of language and its importance in the
individual formation, the concept of culture, the ideologies, and, above all, the
theories and the foreign languages teaching-process. It
was
also important tocontextualize foreign language teaching in Brazil and Portuguese teaching as a
foreign language. Finally, a technological tool
based
on internetwas
idealized, projected, produced and offered for students. lts main objective is to be used asa support instrument for the development of reading, writing, listening,
and
speaking skills in the Brazilian language, that is, a Portuguese course for
foreigners to be offered in Brazil.
SUMÁRIO
DEDIQATÓRIA
... ._ niAGRADECIMENTOS
... _. ivREsu|v|o
... __ vABSTRACT
... _. viLISTA
DE
FIGURAS
... ._ ¡×CAPÍTULO
1INTRODUÇÃO
... _. 1 Justificativado
Trabalho ... _. Estabelecimentodo
Problema ... ._ Objetivos da Pesquisa ... _. 1 Objetivo Geral ... ._ 2 Objetivos Específicos ... _. 9 Hipóteses ... _. 10 1.5.1 Hipótese Geral ... _. 10 1.5.2 Hipóteses Específicas ... _. 10 1.6 Metodologiade
Pesquisa ... ._ 10 1.7 Limitações da Pesquisa ... _. 12 _\_À¿._\_\_L b-|f4>_J>4>w|\› úoâooomCAPÍTULO
2LÍNGUA
E
O
SUJEITO
DA
LINGUAGEM
... ._ 132.1
A
Língua e oConhecimento
... _. 132.2
A
Importância daLinguagem
na Constituiçãodo
Sujeito ... ._ 182.3 Conceitos de Língua .... ... ._ 19
2.4 Teorias Gerais
de
Aquisiçãoda
Linguagem
... _. 242.4.1 Behaviorismo ... ._ 24
2.4.2 Gramática Gerativo-Transformacional ... _. 26
2.4.3
Abordagem
Sócio-lnteracionista ... _. 302.5 Contribuições da Psicolingüística ... _. 33
CAPÍTULO
3DISCUSSÃO
SOBRE O
ENSINO
DE
LÍNGUA
ESTRANGEIRA
NO
BRASIL
... _. 413.1 Histórico do Português
como
Língua Estrangeira ... _. 453.2 Perspectivas Interculturais para o Ensino de
PLE
... _. 523.3
Na
direção do construtivismo no processo ensino-aprendizagem ... _. 553.4 Variantes e
normas
lingüísticas no ensino dePLE
... ._ 57CAPÍTULO
4
PLANEJAMENTO
DE CURSO:
TEORIA
E
PRÁTICA
... ._ 654.1
Abordagem
da Gramática e da Tradução ... ._ 684.2
Abordagem
Audiolingual ... _. 694.3
Abordagem
Comunicativa ... ._ 715
REFLEXOS DA
INTERNET
NA
SALA
DE
AULA
... .. 835.1 TecnoIogiaeTeoria da
Aprendizagem
... ._ 865.2
A
Aprendizagemde
Línguas- Através deum
SuporteTecnológico ... ._ 88
5.3 Elaboração de
uma
Ferramenta de Ensino de Portuguêscomo
Língua Estrangeira ... _. 92
5.4
Conexões
daFELBRAS
-
Ferramenta de Ensino da LínguaBrasi|eira...' ... ... ._ 96
6
CONSIDERAÇÕES
FINAIS..' ... .. 111Referências Bi§bIiográficas...' ... .. 115
Figura 1
-
A
principal diferença entre o ensino a distância e o presencialFigura 2
-
Telade
apresentação daFELBRAS
... _.Figura 3
-
Telade
apresentação dos links oferecidos pelaFELBRAS
.... _.Figura 4
-
Telado
ambiente de correspondências eletrônica ... ._Figura 5
-
Continuaçãodo
ambientede
correspondências eletrônica .... _.Figura 6
-
Telade
acesso ao /ink cultura brasileira ... ..Figura 7
-
Continuação da telade
acesso ao link cultura brasileira.. ... _.Figura 8
-
Telade
acesso ao /ink dos textos ... _.Este trabalho é
um
estudo sobre o tesouro mais valioso do serhumano,
a língua, elo
que
liga o serhumano
aum
grupo social,com
enfoque no ensinoe na aprendizagem do português
como
língua estrangeira.Além
dohomem, nenhum
outro animal, possui a faculdadede
falar.O
bebê
humano
é dotado do instinto do balbucio,que
o prepara para a fala.Após
o estágio
do
balbucio, a criançacomeça
a falar as primeiras palavras. da línguaa
que
está exposta e, assim, passa a sermembro
de
uma
comunidade
lingüística,que
é peculiar e diferede
todas as outrascomunidades
lingüísticasdo mundo.
O
contatocom
omundo
e diferentes interesses implicam o desejo e a necessidadede
comunicar-secom
outrascomunidades
lingüísticas.Para o indivíduo
que
aprendeuma
língua estrangeiraem
ambienteescolar, há pouca satisfaçao lúdica
em
relação à aquisiçao dessa nova língua, pois essa aprendizagem se faz atravésde
meios bastante artificiais, é imposta... _»
e
nao
incorpora as variaçoes da língua falada.. Considerando esses problemas e ainda outros inerentes ao processo
ensino/aprendizagem, discutiremos
como
deverá ser feita a aprendizagemde
uma
nova língua,uma
línguaque
deverá serdominada
pelo indivíduocom
razoável perfeição e possa assim efetivamente servir para comunicar-secom
boa proficiência. Neste sentido, os professores envolvidos nesse processo
devem
se fazer perguntas, como: Quais osmétodos têm
apresentado maiseficiência no processo
de
aquisiçãode
uma
língua estrangeira?“Qa'e1 enfoquese recursos
parecem
representar maioreconomia de
tempo?
E
o uso dasnovas
tecnologias no ensino presencial e no ensino a distância
podem
contribuir paramelhor formação do aprendiz estrangeiro?
Essas
e muitas outras questões,é contribuir
com
o ensinode
português para estrangeiros, disponibilizandoum
recurso didáticoque
auxilie o professor dentro e fora da sala de aula. Trata-sede
uma
ferramenta informatizada,com
vários recursosde
ensino, suportadapela internet.
É
certo afirmar que, paraum
professor obter bons resultados no ensinode qualquer disciplina, é imprescindível conhecer o assunto
com
profundidadeem
seus diferentes aspectos. Neste caso, a língua portuguesa e o processo deensino/aprendizagem. Isto significa que, para se ensinar
uma
línguaeficientemente, deve-se, antes
de
tudo, saber oque
é língua,como
funciona ecomo
é adquirida. Desta forma, o professorde
língua estrangeira se defrontacom
dois problemasque
podem
ser resumidos nas seguintes perguntas:O
que
ensinar?
Como
ensinar? Essas indagações influenciam todo o posicionamentodo
professor e sãoamplamente
discutidas e viabilizadasem
nosso trabalho.Ao
longo
do
presente estudo, tentaremos responder a essas perguntas: a primeira,mais especificamente na revisão das teorias lingüísticas; e a segunda, na
..‹
revisao dos estudos
de
psicolingüistica.Partindo
do
pressupostode
que
ohomem
éum
ser complexo,multifacetado, qualquer ciência
que
pretenda apresentar meios e alternativaspara construir conhecimentos e modificar comportamentos precisa incorporar
diferentes visões do objeto
com
o qual pretende trabalhar.Em
vista disso,consideramos
que
o presente estudotem
um
caráter multidisciplinar.Como
proposiçao final, tentamos caracterizar a necessidadede
um
novoenfoque para o ensino
de
língua estrangeira, mais especificamente no ensinode
português para estrangeiros,que
esteja, acimade
tudo, centrado nainteração dos envolvidos no processo. Essa nossa proposta deverá ser
baseada
na interatividade, na flexibilidade, na uniãode
teorias lingüísticaspara
a obtenção
de
resultados científicos e positivos para a aprendizagemde
uma
língua estrangeira. Esses resultados serão o
esquema
de
investigação,..
bilingüismo, da psicolingüística, das teorias da aquisiçao da linguagem,
da
informática, entre outras.
A
idéiada
ferramenta informatizadade
ensinode
língua portuguesa paraestrangeiros - a qual
denominamos
Ferramentade
Ensino de Lingua Brasileira para Estrangeiros-
FELBRAS
-
deverá atender a alguns anseiosdo
aprendiz:efetivamente deve desenvolver a capacidade
de
interaçãocom
todos osenvolvidos no processo, habilitar~se
ao
usoda
língua portuguesa nomenor
espaço
de tempo
possível me usarde
forma criativa essa língua, respeitando oponto
de
vista pragmático e contextualda
mesma.
A
ferramenta foi elaborada para adicionar tecnologia educacional,de
modo
a facilitar a aprendizagem e desenvolver habilidades.O
usode
uma
ferramenta tecnológica informatizada para o ensino provê variados tipos
de
input
que
vão adequar-se aos diferentes estilosde
aprendizagem epreferências
do
aprendiz, oque
deve favorecerum
processode
aprendizagem mais autônomo.Este trabalho está estruturado
em
seis capítulo.No
primeiro capítulo,apresentamos
uma
discussão sobre asconcepções
do ensino de línguamaterna,
bem
como
do ensinode
língua estrangeira. Essa discussão nosconduz
a problemática do processode
aquisiçao da linguagem, derivando daí~
os objetivos, as questoes e as hipóteses
que
orientam a nossa pesquisa.No
segundo
capítulo, a discussão centra-se sobre os principaisconceitos
de
língua e a importância da linguagem nas constituição do sujeito.Ainda analisamos a contribuição das teorias gerais de aquisição da linguagem
para a aprendizagem.
No
terceiro capítulo,expomos
um
breve histórico sobre o ensinode
línguas estrangeiras no Brasil. Ainda neste capítulo,
fazemos
uma
breveensino
de
portuguêscomo
lingua estrangeira, gerando, assim,um
direcionamento â teoria do construtivismo e
em
favordo
ensino das variedadesda lingua e sua importância para o ensino
de
português para estrangeiros.O
quarto capítulo é destinado à apresentaçãode
uma
síntese dosprincipais
métodos
e abordagens utilizados nos cursosde
(PLE) Portuguêscomo
Língua Estrangeira. Deste capítulotambém
constauma
reflexão sobre arelevância das questões lingüísticas e culturais nos materiais didáticos.
O
quinto capítulo contempla o quadro e amudança
das novastecnologias
em
salade
aula.Além
disso,fazemos
a apresentação de nossaferramenta informatizada
de
ensino a distância para o ensinode
Portuguêscomo
Língua Estrangeira.Por fim, o sexto capítulo é reservado às considerações finais, sugestões
1.2 Justificativa
do
trabalhoO
atual ensinode
língua materna fundamenta-se ainda na tradição greco-latina e objetiva a formaçãode
um
aluno ideal, universal e elitista, àmedida que
a clientela escolar era e continua,em
grande parte,sendo
formada pelas classes sociaiscom
maior poder econômico.Este ensino está centrado, teoricamente,
em
uma
unidisciplinariedade,tratando a língua pela variedade padrão gramatical,
que pode
ser definidacomo
aquela que,numa
comunidade
lingüística, é institucionalizadacomo
meiode comunicação
supra-regional,como
resultadode
processos sócio-políticos etradição histórica.
A
variedade padrão é normalmente codificada, atravésde
normas
para o uso oral e escrito.É
usadaem
contextos oficiais e sociais,em
situações formais.
Essa
variedade é ensinada na escola e seu uso estáassociado ao prestígio e a privilégios sociais.
Assim
sendo, a variedade padrão se diferencia das variedades regionaisda
língua,de
outras variedades sociais(a variedade padrão
também
éuma
variedade social) e das variedadesfuncionais.
Portanto, na prática
em
salade
aula, privilegia-se o ensino de regras gramaticais da língua exemplar e dos textos escritos. Metodologicamente, tal_.
ensino está direcionado à reproduçao
de
conteúdos previamente selecionadose planejados pelos professores a
fim
de
aperfeiçoar oseducandos
aum
modelo
padrão, ideologicamente prestigiado na sociedadeda
época. Logo, aprogramação
é feita previamente e está voltada para omodelo
escritodo
textoliterário,
sem
haver a preocupaçãocomas
dificuldadesdo
aluno ecom
as reaisnecessidades
de
aprendizagem. Desta forma, o alunotem de
seguiruma
programação
estanque para ser aprovado,sem
haver o questionamentodo
devido lugar da variedade gramatical padrão e de outras variedades nos
~ '
Em
síntese, pode-se afirmarque
asconcepçoes de
ensinode
português..‹ ~
como
língua estrangeiranao
diferem dasconcepçoes de
ensinode
português~
como
lingua materna.Nao
obstante,entendemos
«que ensinar língua paraestrangeiros requer conhecimentos teóricos e metodológicos diferentes dos
necessários para o ensino da língua materna, exigindo, ainda mais, estudos e
pesquisas.
Em
nossomodo
de
ver, a tarefa primordialdo
ensinoda
lingua consisteem
oferecer as condições pedagógicas necessárias para a aquisição e domínio das quatro habilidades básicasda
linguagem, para usonuma
ampla
escalade
~
situações
de
comunicaçao: falar, ler, escrever e ouvir.Esse
objetivo,que
éessencial ao ensino
de
língua materna,também
deve
ser perseguido no ensino~
da língua estrangeira, o
que
nem
sempre
é fácil,dadas
as condiçoes artificiaiscom
que
se tenta ensinar essa língua estrangeira.Além de
o aluno ser inseridonum
mundo
ideológico-cultural totalmente diversodo
seu,quase sempre
estãoausentesidos ambientes
de
ensino as situações contextuais ede
interaçãopresentes na aquisição e aprendizagem da lingua materna.
A
melhor maneirade
se adquirir e aprenderluma
segunda
línguaz éviver
num
ambiente socialem
que
se fala essa língua. Assim, a melhor maneirade
aprender inglês,alemão
ou espanhol, por exemplo, é viver nos paísesem
que
se falam essas línguas.Nesse
caso, as situaçõesde
interação verbal ede
~
concepção de
mundo
sao concretas, isto é, reais. Mas, considerandoque
issonem
sempre
é possivel, cabe aos especialistasem
ensinode
línguas buscarasuperação das dificuldades impostas pelas condições
em
que
se busca1
É necessário também diferenciar aprendizagem de aquisição. Entendese por aprendizagem,
atualmente, o desenvolvimento formal e consciente da língua, nonnahnente obtida através da explicitação
de regras.
A
aquisição é o desenvolvimento informal e espontâneo, inconsciente, de uma segunda língua, obtida através de situações reais, sem esforço consciente. Na aprendizagem, o enunciado tem origemna.lingua materna, Na aquisição, o enunciado já se origina diretamente na segunda lingua. ' “
2
Uma
distinção que também precisa ser feita referese aos termos segunda língua e língua estrangeira.
Essa distinção entre L2/LE é considerada muito importante para o planejamento adequado.
O
ensino de segunda língua é usado fora da sala de aula da comunidade em que vive o aluno (exemplo: situação deum
aluno brasileiro que sai para estudar alemão na Alemanha); a expressão língua estrangeira é usada quando
a comunidade não usa a língua estudada fora da sala de aula, isto é, o ensino de uma língua onde essa lingua não é a materna/oñcial (exemplo: situação do aluno que estuda inglês no Brasil).
aprender essa língua estrangeira fora
do
ambientede
interação. Neste sentido,~
espera se
que
as universidadesdêem
apoio à qualificaçao docente eao
desenvolvimento de pesquisa, concentrando recursos e esforços para se
multiplicarem o conhecimento e a tecnologia necessários para o ensino
inovador/criativo de Português para Estrangeiros.
No
casodo
ensino de português para estrangeiros feito aqui no Brasil,espera-se
que
partedo
problema-
mais especificamente, aqueleque
se refereà ausência dos meios
de
interação-
seja facilmente superado.Em
verdade, oaluno estrangeiro
que
aquivem
estudar português estánuma
situaçãosemelhante àquela do estrangeiro
que
vai estudar inglês nos Estados Unidos,por exemplo. Aparentemente, então, essa é
uma
situação privilegiada para aaquisição e aprendizagem
do
portuguêscomo
língua estrangeira.De
certo~
modo,
espera-seque
a 'aquisiçao' aconteça paulatinamente,mesmo
sem
oauxílio
da
escola. Porém, se o objetivo é, alémda
aquisição, alcançartambém
a aprendizagem do português,ou
adquirir essa lingua e aprendê-lacom
maisrapidez e eficiência, então é preciso criar situações
de
ensino aprendizagem,com
a orientaçãode
professor ecom
meios capazesde
oferecer essascondiçoes especiais.
É
nesse contextoque
se discutem os métodos, osmateriais e os meios
de
ensino-aprendizagem.Considerando o exposto e visando a contribuir para o desenvolvimento
do
ensinode
portuguêscomo
língua estrangeira, pretendemos propor odesenvolvimento
de
uma
ferramentade
ensino-aprendizagem atravésde
meiosinformatizados. E, para
que
isso possa ocorrernum
contexto de maior~
interaçao, essa ferramenta constituir-se-á
num
site através do qual o aluno teráinformações sobre o curso
de
Português para Estrangeiros, poderá comunicar-se
com
o professor ecom
outros estudantes, receber informações e ter acessoa diferentes materiais
de
ensino.H
Examinando
os problemas básicos já citados acima e ainda outrosaprendizagem de
uma
nova língua paraque
o aprendizvenha
a dominá-lacom
~
razoável perfeiçao e possa assim efetivamente comunicar-se
com
os falantes nativosde
nossa língua?Que
métodos têm
apresentado mais eficiência noprocesso
de
aquisiçãode
uma
língua estrangeira?Que
enfoquesparecem
representar maior
economia
detempo?
Essas e muitas outras perguntas,igualmente relevantes, os professores
de
línguas estrangeirastêm
feito nosúltimos cinqüenta anos, e as respostas encontradas
têm
variadoenormemente
através do tempo, conforme a ênfasedada
à ciência aque têm
recorridoem
_.
busca
de
soluçoes.1.3 Estabelecimento
do
problema
O
ensinode
línguas para estrangeiros e sua sistematização formal, noBrasil, começou, no início deste século,
com
a abertura das faculdadesde
Letras.
Nesse
sentido, a aprendizagemde
línguas estrangeiras foi proposta eentendida, no Brasil,
como
.traduçaodos
“bons livros”, o conhecimentode
regras gramaticais, a leitura e análise
de
textos literários.Com
o desenvolvimento dos estudos lingüísticos, progressivamente,foram surgindo necessidades
de
mudanças
e reformulações do ensinode
línguas, tanto da materna quanto
da
estrangeira, passando-se a privilegiarnão
apenas
a língua escrita,mas também
a oral, buscando-se desenvolver ashabilidades
de
falante/ouvinte e escritor/leitor. Assim, passou-se a aceitar eflexibilizar a
adoção
demétodos
e práticasbaseados
em
fundamentaçõesteórico-lingüísticas distintas,
mas
a relevância dessa situação eraque
a~ ~
reformulaçao estivesse apoiada teoricamente
em
descriçoes lingüísticas, isto é,partindo
sempre de
situaçõesde
usoda
língua no contexto social.Considerando
que
a língua estáem
constantemudança,
qualquer propostade
ensino-aprendizagem de
uma
língua viva, seja ela língua materna ou língua estrangeira,deve
pressupor e incorporarmecanismos de
ajustamento ePartindo desse pressuposto, o
que
deve ser levadoem
conta naelaboração de
uma
ferramenta informatizadade
ensino-aprendizagemde
Português
como
Língua Estrangeira?Em
outras palavras:de que
modo
osuporte tecnológico informatizado e,
em
particular, a internetpodem
contribuirpara o desenvolvimento
do
ensino de Portuguêscomo
Língua Estrangeira,assegurando melhoria
de
qualidade e maior eficiência?1.4 Objetivos
da Pesquisa
1.4.1 Objetivo geral
'Í' Desenvolver
uma
ferramenta tecnológica para o ensinode
PLE
-Português
como
Língua Estrangeira, no sentidode
contribuir para a melhoriado
ensino. -
1.4.2 Objetivos específicos
'Í' Discutir conceitos
de
língua, processos
de
aquisição e constituiçãodo
sujeito através da linguagem;'¡' Apresentar
um
panorama
histórico e aszperspectivas
do
ensino da Língua Portuguesacomo
Língua Estrangeira no Brasil;.;. Discutir e analisar diferentes abordagens
de
ensinode
LínguaEstrangeira e
de
Portuguêscomo
Língua Estrangeira;O 0.0
Examinar o material didático utilizado atualmente no ensino
de
Portuguêscomo
Língua Estrangeira;O
0.0
Focalizar a importância dos recursos computacionais informatizados para o
1.5 Hipóteses
Considerando
que
a proposta deste trabalho não é passívelde
comprovaçao
empírica, pelomenos
a priori, maisdo que
hipóteses,temos
pressupostos, os quais orientam o estudo.
1.5.1 Hipótese Geral (pressuposto)
'Í'
O
desenvolvimentode
uma
ferramenta tecnológica,via internet, tende a
contribuir para o processo ensino/aprendizagem da Língua Portuguesa para
Estrangeiros.
1.5.2 Hipóteses Específicas (pressupostos)
O
0.0
O
usode
uma
ferramenta tecnológica, via internet, por setratar
de
um
meiocomplementar
ao ensino presencial, possibilitará maior contatodo
aprendizcom
a língua, aomesmo
tempo
um
contato mais intensocom
o
professor,proporcionando, assim,
uma
auto-avaliaçãode
sua produção.0:0
Uma
ferramentade
ensino, via internet, disponibilizará material didáticocom
maior freqüência, mais qualidade e mais direcionado às necessidades
do
aprendiz.
°¡' Através
da
internet, será possível arealização
de
aulade
reforço, gruposde
discussão, salas
de
bate-papos e trocade
mensagens
eletrônicas entre osaprendizes e o professor e
também
entre os aprendizes.1.6 Metodologia
de Pesquisa
Esta pesquisa é do tipo exploratória, visando ao
desenvolvimentode
lnicialmente, faz se
uma
revisao da literatura sobre o ensino de línguas estrangeirasem
geral e, depois, mais especificamente, sobre o ensinode
Português
como
Língua Estrangeira no Brasil._
Na
segunda
parte da pesquisa, faz-seuma
análise dos materiais didáticos disponíveis nomercado
para ensinode
Portuguêscomo
LínguaEstrangeira.
Para isso, foram utilizados alguns
dados
edocumentos
fornecidos peloNúcleo
de
Pesquisa e Ensinode
Português-
Língua Estrangeira(NUPLE)
daUniversidade Federal
de
Santa Catarina, criadoem
1999.Esse
núcleo é~ L. ' '
vinculado
ao
Centrode
Comunicaçao
e Expressao daUFSC
etem
oenvolvimento dos Departamentos de Língua e Literatura Vernáculas (LLV) e
Língua e Literatura Estrangeiras (LLE). Dentre esses dados, consta
um
questionário
que
foi elaborado e aplicado à coordenaçãodo
Núcleode
Pesquisa e Ensino
de
Português-
Língua Estrangeira da Universidade Federalde
Santa Catarina.Através
desse
questionário, pretendeu-se obterum
melhor entendimentodo
ensinode
PLE
naUFSC.
Nossa
preocupação centrou-se no tipo de método,no material didático, na relaçao da língua
com
aspectos culturais e sociaisdo
país e, ainda, no usode
recursos tecnológicos.Para buscar subsídios necessários à elaboração
de
uma
ferramentade
apoio ao ensino
de
Portuguêscomo
Língua Estrangeira, via internet,fizemos
uma
revisão da literatura sobre a introdução da informática naeducação
noensino regular e especial, constatando
que
ocomputador
éuma
nova1.7 Limitações
da pesquisa
~
Os
dados
obtidos nesta pesquisa nao partiramde
um
conhecimento“experenciado”, isto é, vivido por nós. Partiram
sempre de dados
fornecidos porprofessores
que atuam
na área, atravésde
questionários, entrevistas e textos.Constitui,
também,
uma
limitação da presente pesquisa o desenvolvimentoparcial da ferramenta
de
apoio ao ensinode
PLE
via internet,uma
vez que,devido a restrições
de
tempo
emesmo
devido a restrições técnicas, decidimoslimitar o trabalho à proposta
de
criação e confecção de tal ferramenta,cAPíTu|_o
2
LÍNGUA
E
o
suJE|'ro
DA
|_|NGuAGEM
2.1
A
língua eo
conhecimento
Falar sobre o ensino
de
língua materna e do ensino da língua~
estrangeira passa necessariamente por
algumas
questoes cruciais, como:O
que
é língua? Qual a sua importância na constituiçãodo
sujeito, da cultura edas ideologias? ã
É
por esse motivoque
tivemos a preocupaçãoem
acrescentar a essetrabalho
um
estudo sobre a língua,com
a preocupação especialde
investigar oproblema
que
envolve o ensino e a aprendizagemde
uma
língua estrangeira.Na
aprendizagemde
línguas, oque
setem de
aprender é,também,
ouso do
que
se aprende. Isto quer dizerque
oque
se aprende e o seu usodevem
vir juntos no processode
ensinar/aprender línguas. Neste sentido, caracterizar o objetode
ensino acarreta dar conta dos conhecimentos e dos usosque
as pessoasfazem
destes conhecimentos ao agiremem
sociedade.Portanto, ao ensinar
uma
LE, é essencialuma
compreensão
teórica doque
é língua, tantodo
pontode
vista dos conhecimentos para usá-la, quantoem
relação ao uso
que
se faz destes conhecimentos para construir significados nomundo
social.A
línguaem
todos seus aspectos é extremamente complexa.Se
tal fato,próprio da ciência lingüística, estivesse restrito à complexidade,
em
simesma,
daquilo
que
é dado, é certoque
poucos seriam os caminhos para atingi-la.Todavia, a ciência é criação
do
objeto.O
real científico é o realque
a teoriaconstrói.
Assim
sendo, a língua adquire,em
decorrência do poderde
ideação edúvida
de que
a língua éuma
realidade.Todo
homem
'normal' faz uso dela,.-
diariamente.
Nao
só faz uso,mas também
lhe é essencialem
todas ascircunstâncias.
É
parte dele. Assim, o nosso própriopensamento
não existesem
a línguaque
o recobre. Para K. Diller, citado por Lima (1981, p.85-86),“uma
língua viva éuma
língua na qualconseguimos
pensar”, pois “não sepode
dizer
que
seconhece
uma
língua a não serque
se possa exprimirpensamentos
por meio deIa".A
língua veicula opensamento
que, por sua vez,~
se faz pela língua,
embora
nao exclusivamente.Alguns lingüistas acreditam
que
a linguagemdeve
ser compreendidaem
~
sentido mais amplo
que
o do simples falar, o_qualem
si nao éapenas
a~ ~
exteriorizaçao da idéia formulada, passível
de
comunicaçao.Se
assim fosse, osurdo-mudo deveria ser extremamente limitado
em
sua capacidade de pensar, oque não
acontece. Eletem
a sua “linguagem,sem
o poderda
fala”.~
Por tais razoes e outras, a lingüística, por mais
que
tenha contribuídopara outras, ciências e delas tenha recebido contribuições relevantes, ressente-
se ainda
de
teorias emétodos
convincentes e eficazes.O
lingüista, por maisdedicado
que
possa ser, sente-se insatisfeito.Não
são poucos aquelesque
abandonam
o estudo da linguagem logoque ensaiam
os primeiros passos.Como
dissemos acima, o objeto da ciência é construído pela teoria. Ora, asteorias 'necessariamente não
têm compromisso
com
o saber anterior, logo o conhecimentoque
se faz da linguagem édescompromissado
esem
objetivos cumulativos.Muitas questões fundamentais, após
quase
um
séculode
estudoslingüísticos, ainda
permanecem
sem
reposta. Tais questões dizem respeito àN ~
natureza, funçao e organizaçao
da
linguagem. Sabe-seque
a língua constitui-se
em
cada
membro
dacomunidade
e nele está. Entretanto, explicar estefenômeno
em
sua totalidade, cientificamente, éuma
tarefa extremamenteárdua e estéril.
No
atual estágio dos estudos lingüísticos, oque
se fazé
fenômeno.
Devemos
considerar esta totalidadeem
termos relativos, poisacreditamos ser impossível sua delimitação enquanto a própria lingüística
ainda não definiu sua abrangência. Acredita-se
que
a evolução dos estudoslingüísticos encarregar-se-á
de
aproveitar oque
lhe é pertinente e descartaraquilo
que
não é pertinente. Essa seleção deverá ocorrer naturalmente.O
mundo
nos édado
através dos sentidos. Isso, obviamente, nãonega
aorganização
do
conhecimento e a capacidade intelectiva.Conhecemos
aquiloque
queremos
ecomo
nos édado
conhecer, e o pré-saber,de
algummodo,
nos condiciona o conhecimento.
Não
estamos
discutindo critériosde
aceitabilidade.
Não
éuma
questão de se conhecer aquiloque de alguma
maneira está
de
acordocom
nosso sentimentosou
pré-saber.A
seleção é algo posterior ao conhecimento.As
restrições ou delimitações à exposição e acondições
que
nospodem
proporcionar novos conhecimentostem
a vercom
os riscos
que
tal fato acarreta, nãocom
a aceitabilidade.A
resistência, assim descrita, é mais inerente àquelesque
dealgum
modo
sesentem
satisfeitoscom
o conhecimentoque
organizaram efazem
'deleuma
máscara.A
ciênciacomo
conhecimento construído nãotem compromisso
obrigatóriocom
o pré- saber, embora, paradoxalmente, não possa existirsem
ele.Se
inúmeras teoriaspodem
ser constituídas para dar conta dofenômeno
linguagem,
também
é absolutamente certoque não
háuma
língua naturalsequer
que
se deixe dominar' plenamente.Cada
enunciado da língua éum
novo enunciado
em
relação à situação contextualem
que
é empregado.Se
uma
teoria se propusesse a dar contade
todas as situaçõesem
que
determinado enunciado pudesse ser empregado, logo constataria a
impossibilidade
de
tal empreendimento. Isso nos leva a concluirque
nenhum
lingüista poderá dar conta
de
todos osfenômenos da
linguagem, sobpena de
se propor a atingir o impossível.
A
mente
pretende refletir omundo.
De
que
maneira isso ocorrenão
nos cabe desenvolver aqui e,cremos
que, por maisavançados que
estejam os~
estudos neste sentido, ainda estamos longe
de
uma
explicaçaoadequada
econvincente.
Nosso
interesse, nesta discussão, é o uso da línguacomo
veículode
comunicação
e significação, especialmente, as relações internase
externasdalíngua. Aquilo
que
é dito, expresso e aquiloque
se pretende através daquiloque
é ditoou
expresso.Antes, pretendemos fornecer alguns esclarecimentos
que
sefazem
necessários.
A
linguagem não é aimagem
do mundo;
é instrumento mediador do conhecimentoque
construímos e domundo
como
tal.Uma
coisa é omundo
exterior ao indivíduo, outra é o conhecimentoque
cada indivíduo constrói. Entreuma
e outra realidade está a línguacom
dupla função: contrastarsistematicamente por
semelhança
(relação interna) e afastar unilateralmentepor contigüidade (relação externa). Neste sentido, a linguagem é
um
“poder-fazer-sabef' entre universo e indivíduo,
bem como
de
indivíduo para indivíduo.~
A
relaçao interna da linguagem representa a línguacomo
um
código.Assim, se
um
falante diz “Eu sou estudante”, paraque
um
ouvintecompreenda
a
mensagem
deve conhecer o sentidode
"Eu", "sou", “estudante”.Além
disso,o ouvinte
deve
conhecer ecompreender
as unidades lexicais da língua, aforma gramatical e as regras slntáticas
em
oposição a outras unidadesformaise regras
da
mesma
língua.De
modo
geral, o ouvintedeve
sercapaz de
interpretar
uma
seqüência da línguaem
oposição a outras seqüênciasda
mesma
língua. Todavia, não é suficiente conhecer o código para secompreender
a significação veiculada pelo enunciado.Não
basta conhecer asunidades, formas e regras da língua.
É
necessário conhecer o contexto sócio-histórico
em
que
o enunciado é produzido. Aliás, isto é tão verdadeque
a..-
seqüência isolada da situaçao
de
expressão,de algum modo,
nãotem
valorutilitário.
Se
o falante dizuma
seqüênciado
tipo “Juliana fez o trabalho”, o interpretante, alémdo
sentido das unidades (“Juliana", “fez”, “o”, "trabalho"),~
da seqüência, ou
mesmo
a intençao do falante ao dizer tal seqüência.Além
disso,
deve
conhecer o sentido histórico e culturalque
esses signos implicam.Observe-se,
como
exemplo,que
uma
perguntado
tipo “Está tudo azuI'?",que
equivale
em
português a “Está tudobem?”
ou “Está tudo certo'?", pode nãorepresentar
nada
em
outra língua, ou melhor, não ter omesmo
valor simbólico.Como
pode
ser observado, o códigoda
língua sótem
significaçãoem
relação ao contexto
que
o sustenta, dos valores simbólicos e das funções.Na
~
sucessão linear nao há
apenas
uma
escala quantitativa,mas
também
níveis qualitativos e estruturalmente diferentes.Retomando
nosso interesseem
sustentarque
a língua é veiculode
~
comunicação
e significaçao, diríamosque cada
falantetem
certa liberdade noque
diz respeito à organização e uso.A
liberdade não é plena,como
poderia sesupor.
De
certa maneira, o falante é livre para dizer oque
quiser, conquanto seja compreendido pelo seu ouvinte.A
linguagem é comunicação, contudonada
é transmitido se não for compreendido.É
por esta razão que,embora
serespeitem as regras do código, frases do tipo “As boinas
queimadas
destilaramo leite verde produzido pelos peixes
em
noitede
sábado”, forade
um
contextoespecífico,
nada
transmitem. Poderá havercompreensão
das relaçõesinternas,
mas
certamente não haverácompreensão
das relações externas.Como
já vimos,entendemos
a relação internacomo
a propriedadede
contrastes sistemáticos por semelhança, e a relação externa
como
apropriedade
de
afastamento unilateral por contigüidade.As
propriedadesdo
código, na frase
dada
acima, são compreendidas; oque não
secompreende
éa intenção
do
falante.A
frase é corretado
pontode
vista lingüístico quanto à sua ~inteligibilidade.
O
código naotem compromisso
com
o valorde
verdade.A
verdade ou a falsidade
de
um
enunciado éuma
alternativa prevista pela relação externa da linguagem.Desde que
se situe o universo do discurso e al l l l l l l l ~
intençao
do
falante na escolha desteou
daquele elemento do código, todo equalquer enunciado, por mais absurdo e estereotipado
que
seja,tem
valorlógico, sendo, portanto, capaz
de
comunicar.O
termo discurso, aqui neste caso, designade
um
modo
rigoroso, esem
ambigüidade, a manifestação
da
língua nacomunicação
viva.O
termo discursoopõe-se ao termo lingua,
que
recobre doravante a linguagem enquantoconjunto
de
signos formais, estratificadoem
escalões sucessivos, queformam
sistemas e estruturas.
O
discurso implica primeiro a participação do sujeito nasua língua através da fala do indivíduo. Utilizando a estrutura
anônima da
língua, o sujeito forma-se no discursoque
comunica ao outro.No
discurso, alíngua
comum
a todos torna-se o veículode
uma mensagem
única, própria da estrutura particularde
um
determinado sujeitoque
imprime sobre a estrutura obrigatória da línguauma
marca
específica,em
que
semarca
o sujeitosem
que
portal ele tenha consciência disso (cf. Kristeva, 1988).-z
2.2
A
importânciada linguagem na
constituiçaodo
sujeitoA
linguagem3 éuma
inesgotável riquezade
múltiplos valores. Ela éinseparável do
homem
e segue-oem
todos os seus atos.Para Louis Hjelmslev (1975. p. 1-2)., “a linguagem é
um
instrumento graçasao qual o
homem
modela
seu pensamento, seus sentimentos, suas emoções, seus esforços, sua vontade e seus atos, o instrumento graças ao qual ele influencia e é influenciado, a base última e mais profunda da sociedade humana.”3 Linguagem
é empregada aqui como sendo a capacidade própria da espécie humana de comunicar por
meio de
um
sistema de signos vocais, que coloca em jogo uma técnica corporal complexa e supõe aexistência de uma função simbólica e de centros nervosos geneticamente especializados. Esse sistema de
~ `
A
linguagem nao éum
simples acompanhante,mas
simum
fioprofundamente tecido na trama
do
pensamento; para o indivíduo, ela é otesouro da
memória
e a consciência vigilante transmitidade
pai para filho.Para o
bem
e para o mal, a fala é amarca
da personalidade, da terra natale
da
nação, o titulode
nobreza da humanidade.O
desenvolvimentoda
linguagem está tão inseparavelmente ligado à história e à personalidade
de
cada indivíduo (do local
onde
vive,do
país, do meioque
o cerca, da própriavida),
de
talmodo
que
é possivel indagar se a linguagem não passade
um
simples reflexo ou se
a
linguagem não é tudo isso: a própria fontedo
desenvolvimento dessas coisasj
À
primeira vista, pareceque
na criança,como
em
nós adultos, a linguagemsen/e para a
comunicação do
pensamento.Mas
as coisas não são assim tãosimples.
Em
primeiro lugar, o adulto, por meioda
palavra, procura comunicardiferentes
modos
de
pensar.Às
vezes, sua linguagem sen/ede
constatação:as palavras
fazem
parte das reflexões objetivas, informando epermanecendo
ligadas à consciência: “otempo
piora", “os corposcaem"
etc. Outras vezes,pelo contrário, a linguagem transmite ordens ou desejos, serve para criticar ou
ameaçar,
em
resumo, despertar sentimentos e realizar atos.2.3
Conceitos
de
língua “Tendo
explicitado a importânciada
língua e da linguagem para aI
~ ~
eaboraçao do
conhecimento e para a constituiçao do sujeito, é horade
falardos conceitos
de
língua mais importantes e a respeito da variação lingüística.Para Saussure (1969), a língua é
um
sistemade
valores quefseopõem
uns aos outros e
que
está depositadocomo
produto social namente
de
cada falantede
uma
comunidade; possuihomogeneidade
e por isso constitui-se nomodo
geral, o estruturalismo lingüístico4que
se seguiu à publicação do Cursode
lingüística gera/ (CLG),em
1915. Essa tônica no objeto da lingüísticaconsidera o fato
de que
cada língua estrutura-sede
forma particular de acordocom
a visãode
mundo
da comunidade,sendo
prejudicial à descriçãode
qualquer tipo
de
interferênciade
outros sistemas, ou seja, a língua éum
sistema organizado
com
leis próprias. “A lingüística [estrutural] é a ciênciaque
procura entender a língua
do
ponto de vistade
sua estrutura interna” (Gleason,1961, p. 2).
Para Saussure, a língua se situa dentro do circuito da fala, mais
precisamente no ponto
em
que
aimagem
acústica se associa aum
conceito,isto é, no ponto puramente psíquico
em
que
os signos5 lingüísticos seopõem
uns aos outros.
Noam
Chomsky,
nasegunda
metade
dos século XX, atravésda
conhecida Gramática Gerativa-Transformacional (cf. Syntactic Structures,
1957), dá total realce à lingua
come
umzconjuntode
regras, grande parte delasordenadas, permitindo ao falante gerar
um
número
infinitode
oraçõesgramaticais.
Em
oposição aomodelo
Standardda
teoria gerativa,que
concebe
as gramáticas essencialmente
como
regras (de reescrita e transformacionais),desenvolveu-se a Teoria Standard A/argada.
Nesse
modelo, a gramáticacontém
um
número
distinto eautônomo de componentes
e é caracterizada porum
pequeno número de
regras e por princípiosque
restringem a aplicaçãodessas regras.
Em
1981,Chomsky
voltou a reformular sua teoria propondo o modelode
Princípios e Parâmetros (cf. Faraco, 1998, p. 103-106),
que
incorpora osresultados teóricos da Teoria Standard Alargada,
mas com
uma
tendência a4
O
tenno estruturalismo se aplicou, confonne as pessoas e os momentos, a escolas lingüísticas bastante diferentes. Esta palavra é utilizada muitas vezes para designar uma dentre elas; outras vezes, para
designar várias delas e, noutras, ainda para designar a totalidade delas. Tem em comum certo número de
concepções e de métodos que implicam a defmição de estrutura em lingüística.(cf. Dubois et al., 1993). 5 Para
eliminar as regras,
ficando
omodelo composto
essencialmente por princípiosextremamente gerais, distribuídos por vários
componentes
(lexical, regrade
base, regra transformacional, interpretação dos pronomes, anáforas etc.), e~
cuja interaçao é relativamente complexa.
Nesta concepção, a Gramática Universal
contém
princípios rígidos, invariáveis,de
base inatista,que
caracterizam qualquer gramática.Esses
princípios são o da projeção,
que
consisteem
aplicar, a partir deuma
experiência finita,
um
sistemade
competênciacapaz de
lidarcom
um
conjuntoinfinito de expressões e propriedades complexas; e o princípio da dependência
estrutural,
que
determinaque
as regrasde movimento apenas
podem
mover
constituintes sintáticos.
Tudo
o mais são parâmetros, espéciede
“comutadoreslingüísticos”.
Nesse
modelo, a aquisiçãoda
gramática pela criança consisteem
aprender as formas lexicais,
com
as respectivas propriedades fonológicas, sintáticas e semânticas e a atribuir valorque
possuem
nessa língua os parâmetros da Gramática Universal.Ao
finalda
aquisição, a criançadomina
uma
gramática nuclear, que._.éum
sistema complexode
conexões entre osprincípios universais rígidos e os parâmetros, o qual determina especificamente
as propriedades
de
cada língua particular.Neste sentido, a gramática gerativa tende a se aproximar do
modelo
estruturalista, pois retoma a
abordagem
tipológica das línguas atravésda
fixação
de
determinados parâmetros-
ou
seja, critérios estruturais-
que
permitem reunir as línguas
em
subconjuntoscom
características partilhadas.Os
gerativistas, adotandouma
hipótese fortemente inatista,concebem que
amudança
lingüística é condicionada pela configuração biológicado
cérebro.Desse modo,
assimcomo também
faziam os estruturalistas, principalmente osnorte-americanos, as perspectivas teóricas
do
gerativismo excluem da históriadas línguas os falantes e sua complexa realidade históricoÀsociaI.
A
língua éreduzida a
uma
estrutura na qual operauma
gramáticasem
semântica, eíndices
em
vezde
signos. 'A
inovação da escolachomskiana
foi o fato de dar ênfase à criatividade,ou seja,
dá
contada
intuiçãodo
falante, enquanto anteriormente postulava-se aindividualidade
de
cada sistema lingüístico estruturado e organizadoem
simesmo.
N.Chomsky
buscava os universais lingüísticosque
explicariam afaculdade inata
do
homem
para a linguagem.Tanto a lingüística estrutural quanto a lingüística gerativa apresentam
um
caráter a-histórico, isto é, o aspecto sincrônico (estudo do sistema tal
como
elefunciona,
num
momento
dado
do
tempo) prevalece sobre o diacrônico (estudodos fatos de língua, na sua sucessão, na sua
mudança
de
momento
a outroda
história), pois, para a
massa
de
falantes, ele (o aspecto sincrônico) constitui averdadeira e única realidade
que
interessa ao lingüistauma
vez que,colocando-se na perspectiva diacrônica,
não
é mais a línguaque
percebe,mas
uma
série de acontecimentosque
a modificam.Nos
últimos anos, no entanto, questõesde
lingüística históricaparecem
estar voltando a interessar estudiosos, trazendo a perspectivade
olhar alinguagem
como
uma
realidade histórica e intimamente vinculada à vida sociale cultural dos falantes. V
-
Isso exige
um
rompimento radicalcom
aimagem
da língua cultivada pela~
tradiçao gramatical e veiculada pela escola,
imagem
que homogeneíza
arealidade lingüística e cristaliza
uma
certa variedadecomo
única, identificando-a
com
a língua e excluindo todas as outras variedadescomo
“incorretas".Os
estudosde
variação emudança
lingüísticatêm
mostradoque não
existe língua
homogênea:
toda e qualquer língua éum
conjunto heterogêneode
variedades. Neste sentido,quando
usamos
rótuloscomo
português, árabe,japonês, inglês, espanhol para designar realidades lingüísticas, nao
fazemos
referência a
uma
realidadehomogênea
ou aum
padrão único da língua,mas
entre si, como, por exemplo, o italiano da Calábria (sul
da
Península Itálica) e oitaliano de
Bérgamo
(norte).Cada
variedade resulta das experiências históricas e socioculturaisdo
~
grupo
que
a usa:como
ele se constitui,como
ésua
posiçao na estruturasocioeconômica,
como
ele se organiza socialmente, quais são seus valores evisão de
mundo,
quais são suas possibilidadesde
acesso à escola, aos meios~
de
informaçao, e assim por diante.A
esse respeito afirma o pensador russo Mikhail Bakhtin (1890-1975,em
publicação
de
1998, p. 98-99): “Todas as linguagens (variedades)do
plurilingüismo, qualquer
que
seja o princípio básicode
seu isolamento, são~
pontos de vista específicos sobre o
mundo,
formas da sua interpretaçao verbal,perspectivas específicas objetais, semânticas e axiológicas.
Como
tais, todaselas
podem
ser confrontadas,podem
servirde complemento mútuo
entre si,opor-se
umas
às outras e se corresponder dialogicamente.Como
tais, elas seencontram e coexistem na consciência das pessoas [...].
Como
tais, ainda, elasvivem verdadeiramente, lutam e evoluem no plurilingüismo social."
Do
pontode
vista exclusivamente lingüístico, isto é, quanto à estrutura~
imanente, as variedades se equivalem e nao há
como
diferenciá lasem
termosde
melhor ou pior,de
certo ou errado: todastêm
gramática e todassen/em
àexperiência
do
grupoque
as usa.A
diferença estáem
que algumas
variedades,~ ~
por razoes políticas, sociais ou culturais, adquirirem prestígio e outras nao.
De
acordocom
Preti (1997, p 90), "já se tornou lugar-comum afirmarque
uma
língua estranha é a primeira e maior barreira para aproximação eintegração sociaI". Pode-se considerar que, dentro
de
uma
mesma
língua, existe a variaçãode
dialetos sociais e registrosque
estabelece hierarquias, diferencia os conhecimentos lingüísticos dos falantes e marca-lhes o status e acultural e pode, conseqüentemente, aproximar ou afastar os interlocutores na
~
conversaçao.
O
ensinode
uma
língua, maternaou
estrangeira, engloba as diferentesvariedades lingüísticas.
Devemos
considerar que, antigamente, esse ensino sepautava pela
norma
cultade
cada língua,com
ligeiras incursões pela língua coloquial, caracterizandouma
homogeneidade
perigosaem
termosde
comunicação. Hoje, os estudos sobre variação lingüística
demonstraram
que,talvez, seja preferível usar
um
método baseado
no uso da língua, incorporandomodificações que,
embora
aindanão
incorporadas pela gramática culta,_»
favorecem
uma
interaçao mais fácil e mais “natural” entre os falantes.2.4 Teorias gerais
de
aquisiçãoda linguagem
Na
seqüência, trataremos das hipóteses e dosmétodos
dasduas
principais teorias relacionadas à aquisição da linguagem: o behaviorismo, o
gerativismo e a
abordagem
sociointeracionista.2.4.1 Behaviorismo
As
teoriasE-R
(estímulo-resposta) se dividiramem
dois ramos: obehaviorismo “puro”
de
Skinner,que
procura explicar todo ocomportamento
exclusivamente
em
termosde
estímulos e respostas manifestadas; e oneobehaviorismo,
que
postula a existênciade
mecanismos
internoscomo
mediadores entre estímulos e respostas manifestadas. Essa última definição
está mais perto das concepções atuais.
Em
nossas alusõesdefendemos que
alíngua'
tem
certoscomponentes
universais, considerandoque
isso sejaum
reflexo da estrutura mental do
humano.
O
termo behaviorista foi criado por J. B.Watson
nos primeirosanos do
conteúdos mental; defendeu, pelo contrário, as medidas objetivas do estímulo (ou input) ao organismo e sua resposta (ou output). lsto levou a conceber o
organismo, animal
ou humano,
como
uma
caixa preta vazia (Greene, 1976, p.36).
Para descrever o fundamento
de
Skinner,Greene
(1976, p.38)argumenta
que
o comportamento verbal é “a tentativade
uma
virtuose paraexplicar a linguagem
sem
levarem
consideração quaisquer eventos“mentalistas",
como
idéias, significados, regras gramaticais oumesmo
qualquercoisa
que
corresponda àafirmação de que alguém pode
falar inglês”.O
ensino behaviorista é apoiado mais na analogiado que
em
regraspara ensinar a estrutura
da
língua. Acreditam os behavioristasque
a criançaaprende sua língua por
um
processode
analogia, no qual ela tenta construirnovas formas por analogias
com
as formas da línguaque
já encontrou.No
ensino formal, esse processo
de
analogia é atingido por meioda
exercitaçãorepetido,
de
modo
a levar o aluno a produzir' sua nova respostaobedecendo
exatamente ao
esquema
de
sua resposta anterior.Como
acertadamentecomenta
Lima (1981, p.18), “para os~
behavioristas, nao há diferença entre a aprendizagem
de
uma
língua equalquer outra modalidade
de
aprendizagem”.Os
behavioristas sentemque
alíngua é basicamente
um
processode
“condicionamento” e, ainda,asseguram
que
a língua é“um
comportamento verbal condicionadoque
consistenuma
~ .-
coleçao complexa
de
ligaçoesde
estímulo resposta”.Cada
enunciado éproduzido
como
resposta aum
estímulo,que pode
ser verbal ou interna,como
é o caso, por exemplo,
de
uma
pessoaque
sente sede epede
um
copo de
água
a alguém. Essaconcepção de
chamada
“mecanista”,como
Bloomfieldpreferia denominá-la, porque “a