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Economia Angolana Boletim Económico - 2º Trimestre de 2010

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Economia Angolana

Boletim Económico - 2º Trimestre de 2010

Fase de ajustamento continua

A informação disponível à data da edição deste Boletim evidencia um comportamento da economia angolana ainda típico de uma fase de ajustamento, encontrando-se sujeita a políticas económicas – orçamental, monetária e cambial – claramente dirigidas ao reforço da sua solvabilidade externa.

Estas políticas estão agora enquadradas pelos objectivos acordados com o FMI no âmbito do

Stand By Arrangement (SBA) formalizado em Novembro de 2009 e que tem vindo a ser

implementado de forma satisfatória segundo avaliação recente do FMI, visando a estabilização da actividade económica a um nível consistente com a capacidade de geração de divisas internacionais.

Nesta edição incluem-se referências aos seguintes tópicos: - Expectativas de crescimento da economia em 2010

- Políticas de contenção da despesa e seus efeitos; o caso da acumulação de pagamentos em atraso

- Evolução favorável das reservas cambiais

- Atribuição de notação de “rating” à República de Angola - Evolução da taxa de câmbio

- Perspectivas orçamentais para 2010; a gestão da dívida pública - O recurso a endividamento externo

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I – Expectativas de crescimento em 2010

1. Na última edição deste Boletim, referente ao final de Março, expressamos algumas reservas quanto à possibilidade de verificação de um cenário de crescimento muito robusto da economia angolana no corrente ano, do tipo do que ocorreu em anos anteriores a 2009.

Essa avaliação era baseada em informação recolhida junto de fontes empresariais que davam conta de um abrandamento continuado da actividade em diversos sectores não petrolíferos, nomeadamente sinais de uma desaceleração do consumo privado.

2. Nessa altura a informação macroeconómica disponível era apenas a que havia sido divulgada pelo FMI em Novembro do ano passado, inserida no relatório que acompanhou a negociação do SBA, e que apontava para um crescimento do PIB de 7,1% em 2010, depois de um crescimento praticamente nulo em 2009.

3. Em relatório mais recente, de 24 de Maio último – “First Review under the Stand-By

Arrangement and Request for a Modification of a Performance Criteria” (adiante referido

apenas como Relatório), o FMI, para além de manter a estimativa de um crescimento muito baixo em 2009 (+0,7%) reviu ligeiramente em baixa, para 6,7%, a previsão para o corrente ano. Nessa nova previsão, o FMI aponta evoluções positivas da produção tanto no sector petrolífero (+5%) como nos demais sectores (+7,8%).

4. Tendo em conta as informações provenientes de sectores empresariais, é admissível que esta nova previsão do FMI quanto ao ritmo de crescimento da actividade económica em Angola possa vir a revelar-se ainda um pouco optimista.

Note-se por exemplo que ao nível do comércio com Portugal se assistiu a um sensível abrandamento no 1º trimestre do ano, traduzido numa quebra de quase 22% das exportações portuguesas de bens e de serviços para Angola, sobre o período homólogo de 2009, o que indicia uma desaceleração da actividade do País importador em relação ao ano anterior.

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II – Políticas de contenção da despesa interna e seus efeitos - o caso dos

“atrasados”

5. No Relatório acima mencionado, o FMI apresenta uma avaliação globalmente positiva das políticas de contenção da despesa, tanto da política monetária e cambial como da política orçamental, salientando que as mesmas conseguiram reduzir as grandes pressões que se haviam feito sentir no mercado cambial durante o ano anterior e que ainda eram bem evidentes na altura da fase de negociação do SBA em Setembro de 2009.

6. Sem prejuízo dessa avaliação global positiva, o FMI faz referência a alguns aspectos da implementação das medidas de contenção que carecem de ser melhorados, nomeadamente a questão da acumulação de dívidas do sector público por atraso de pagamento no mercado doméstico (“atrasados”) bem como a necessidade de melhorar a gestão da dívida pública: “Expenditure restraint guided by the 2009 supplementary budget delivered encouraging results

in terms of a tight fiscal stance, although the government continued to accumulate domestic arrears, reflecting ineffective domestic financing operations”.

7. Tal como mencionamos na edição anterior deste Boletim, continuamos a admitir que na origem da acumulação destes “atrasados”, que penalizam um número considerável de empresas e que à data da finalização deste Boletim continuavam sem solução concreta definida, estará uma aplicação retardada das medidas de controlo orçamental.

Queremos com isto significar que nestes casos as medidas de contenção terão sido aplicadas já depois de assumidos os compromissos contratuais de despesa, acabando por travar os pagamentos na fase de execução dos contratos.

O FMI também aponta deficiências na política de gestão da dívida pública, das quais tem resultado algum sub-financiamento do Estado, como outro factor explicativo dos atrasos de pagamento, recomendando por isso uma revisão da política de gestão da dívida pública (ver parágrafos 18 e 19, infra).

8. Acrescente-se que, como é salientado em nota recente do Banco Mundial (“Macro-Brief:

Angola, April-May”), esta questão dos “atrasados” pode vir a ter um impacto negativo com

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Com efeito, sendo muitas as empresas afectadas por estes atrasos de pagamento, assiste-se a um efeito de suspensão de pagamentos em cadeia (efeito “domino”), que tem como resultado a redução da actividade das empresas atingidas por este efeito, com suspensão de investimentos, despedimentos de pessoal, etc.

Igualmente afectada é a qualidade dos créditos concedidos pelo sistema bancário, cujas taxas de incumprimento tenderão a agravar-se em resultado do mesmo efeito.

9. Aguarda-se por isso que as Autoridades efectivem, mediante a apresentação de um plano concreto de regularização, os anúncios já feitos no sentido de repor a normalidade nestes “atrasados”.

A este respeito, importa referir que o Relatório do FMI contém uma informação bastante específica, ao referir que no âmbito do trabalho de revisão do Orçamento do Estado de 2010, o qual deverá estar concluído em Julho - Agosto próximos, deverá ser incluído um Plano de Acção concreto para eliminar o “stock” de “atrasados”.

Sendo assim, poder-se-á esperar que este Plano de Acção seja divulgado antes do final do 3º trimestre e comece a ser executado o mais tardar no último trimestre do ano.

III – Evolução favorável das reservas cambiais

10. No início do corrente ano verificou-se uma evolução positiva da posição das reservas em divisas internacionais, que em Fevereiro atingiram USD 13,7 mil milhões, um nível bastante superior ao que se registou ao longo do 2º semestre de 2009.

Esta melhoria ficou certamente a dever-se à recuperação dos preços internacionais do petróleo bem como ao menor dispêndio de divisas resultante das medidas de contenção da despesa já mencionadas.

11. De acordo com o mencionado “Relatório” do FMI, a balança de pagamentos correntes com o exterior deverá registar de novo um excedente no corrente ano (+2,7% do PIB) depois do défice de 2009 (-5,2% do PIB), graças aos mais elevados preços do petróleo.

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No entanto e segundo o FMI, este excedente poderá não se reflectir integralmente numa acumulação de reservas em divisas devido a dois factores: (i) a prevista emissão de dívida obrigacionista pela República no mercado externo ser inferior ao montante inicialmente admitido e (ii) maiores pagamentos pelas empresas petrolíferas, ao exterior, a título de recuperação de custos com investimentos na exploração dos jazigos de “crude”.

12. Em todo o caso, a previsão que continua explícita no SBA aponta para um nível de reservas oficiais em divisas, no final do corrente ano, de USD 17,2 mil milhões, muito próximo do que se verificava no final de 2008, ou seja uma recuperação quase integral das perdas ocorridas ao longo de 2009, mantendo-se para os anos seguintes uma tendência de crescimento.

O reforço continuado dos níveis de reservas em divisas internacionais constitui de resto um objectivo fundamental da política económica como bem evidencia o citado Relatório do FMI. 13. Relativamente à utilização da facilidade de crédito anexa ao SBA, cumpre referir que Angola utilizou até agora SDR 343,56 milhões (1 SDR = 1,47568 USD) de um limite de SDR 858,90 milhões aprovado pelo FMI.

IV – Atribuição de notação de “rating” à República de Angola

14. Acontecimento significativo neste trimestre foi a notícia da atribuição em Maio último de uma notação média de “rating” de longo prazo - “B+” - à República de Angola, pelas três principais agências de “rating”, Standard & Poor’s, Moody’s e Fitch.

Trata-se de uma notação equivalente à da Nigéria, que deverá permitir que a República de Angola efectue a sua primeira emissão obrigacionista nos mercados internacionais ainda no decurso de 2010, embora possivelmente por montante inferior aos USD 4 mil milhões que inicialmente estavam projectados.

De acordo com as referidas agências, a notação de “rating” atribuída a Angola é suportada principalmente (i) pelo forte ritmo de crescimento económico registado nos anos mais recentes, (ii) pela abundância de recursos naturais, especialmente as reservas de petróleo, (iii) pelos baixos níveis de dívida pública e de dívida externa e ainda (iv) pelas perspectivas futuras de contas públicas e de contas externas equilibradas ou excedentárias.

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V – A evolução da taxa de câmbio

15. Ao longo do corrente semestre, cumpre registar duas fases bem distintas no comportamento da taxa de câmbio USD/KWZ:

- Uma primeira fase que vai desde o início do ano até meados de Abril, caracterizada por um ritmo de ajustamento relativamente rápido, tendo essa taxa atingido um valor médio mais elevado de 94,155 (em 15 e 16 de Abril), reflectindo uma apreciação do USD de 6,4 % desde o início do ano, a qual se seguiu à apreciação de 15% registada no último trimestre de 2009; - Uma segunda fase, iniciada em 16 de Abril, durante a qual se assistiu a uma inesperada revalorização do KWZ, verificando-se um recuo gradual do valor médio da taxa USD/KWZ até atingir 92,582, valor este que se tem mantido com oscilações muito pequenas, nas últimas semanas (desde 29 de Maio).

Para melhor compreensão do que foi a evolução da taxa de câmbio do KWZ em relação ao USD e ao Euro, apresenta-se a seguir um quadro com a evolução das taxas de câmbio médias ao longo dos primeiros 5 meses do corrente ano (e em Junho para o USD).

USD EUR Janeiro 89,793 128,337 Fevereiro 90,266 123,421 Março 91,290 123,953 Abril 93,683 123,871 Maio 92,766 114,344 Junho (até 25) 92,570

16. A política de determinação da taxa de câmbio mereceu diversas observações no Relatório do FMI que, reconhecendo os importantes progressos realizados nos últimos meses, desde que foi retomada pelo BNA em Outubro de 2009 a prática regular dos leilões de divisas, recomenda no entanto a introdução de melhorias na operação desses leilões.

O principal objectivo das recomendações do FMI neste domínio consiste em assegurar que a taxa de câmbio resultante das operações de leilão de divisas seja uma taxa mais flexível, reflectindo com transparência a dinâmica da oferta e da procura do mercado (“a fully market

determined exchange rate”).

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Na perspectiva do FMI, o mecanismo de leilões de divisas ganharia em ser aliviado dos controlos administrativos ainda prevalecentes e de procedimentos discricionários na selecção das propostas dos concorrentes, o que implicará entre outras condições a clarificação e divulgação pelos operadores dos parâmetros utilizados no processo dos leilões.

17. Aspecto relevante do comportamento da taxa de câmbio USD/KWZ é a redução da diferença entre as taxas de câmbio oficial e do mercado paralelo que tem vindo a verificar-se desde o “pico” de 25% atingido em Setembro de 2009.

Essa diferença tem-se situado sempre abaixo de 10% no corrente ano, tendo mesmo atingido os 5% em Março e Abril, voltando a alargar ligeiramente em Maio.

VI – Perspectivas orçamentais para 2010 - a gestão da dívida pública

18. Depois do défice estimado de 2009 (equivalente a 4,4% do PIB numa base de caixa, 9,1% numa base “accrual”), o qual resultou duma queda da receita fiscal de 45% em relação à receita contabilizada em 2008, as expectativas apontam agora para a retoma de uma situação de “superavit” em 2010, baseada numa recuperação da receita fiscal para um valor bastante próximo do registado em 2008.

O “superavit” actualmente projectado para 2010, (de 0,7% do PIB numa base de caixa e de 5,2% numa base de “accrual”), ainda que menor do que os registados nos anos anteriores a 2009, representa uma considerável melhoria em relação à previsão do Orçamento aprovado que era ainda de défice.

Por sua vez, a despesa pública actualmente prevista para o corrente ano é ligeiramente superior à que foi contabilizada em 2008 (+1%), em resultado exclusivamente do crescimento das despesas de capital (+6%) uma vez que as despesas correntes deverão registar uma diminuição (-1,6%).

19. Um dos aspectos que merece especial destaque no Relatório do FMI é a gestão da dívida pública que, segundo aquele organismo, carece de importantes medidas de reforço.

A necessidade de melhorar a gestão da dívida pública explica-se por diversos factores para além da resolução do problema dos atrasados já referido neste texto.

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Desses factores cumpre destacar o maior contributo de financiamentos externos esperado para o financiamento do programa de renovação de infra-estruturas bem como a intenção de recorrer ao mercado externo para a colocação de uma emissão obrigacionista da República, situações que tornam urgente a introdução de melhorias na gestão da dívida pública.

20. Ainda segundo o FMI, a gestão da dívida pública em Angola deverá futuramente obedecer a uma estratégia de endividamento de médio-prazo (“Médium-Term Debt strategy”), que proporcione um quadro explícito e claro ao abrigo do qual as Autoridades possam efectuar escolhas devidamente informadas sobre a melhor forma de solucionar as necessidades de financiamento público.

Para esse efeito está prevista a criação de uma unidade orgânica especificamente incumbida da gestão da dívida (“Debt Management Unit”), dotada de meios humanos e materiais adequados à importância da sua missão.

VII – A política de endividamento externo

21. Um dos aspectos merecedores de particular atenção no âmbito do financiamento da economia é o recurso a financiamento externo, que no SBA tem objectivos anuais explícitos cuja eventual alteração pressupõe acordo entre o País e o FMI.

Assim, para o corrente ano, estava previsto o recurso a crédito externo por um montante que em termos contratuais ficaria sujeito a um limite de USD 2,5 mil milhões.

No âmbito da primeira revisão do SBA, agora concluída, Angola e o FMI acordaram a elevação desse limite para USD 6 mil milhões, tendo em consideração que dessa alteração não deverá resultar aumento da despesa orçamental mas simplesmente uma modificação da respectiva estrutura de financiamento.

Nesse limite de USD 6 mil milhões é incluída a prevista operação de emissão de obrigações no mercado internacional.

Acresce que o endividamento adicional líquido resultante destas operações, conjugado com reembolsos de contratos em vigor, deverá ser bastante inferior, da ordem de USD 1,3 mil milhões, equivalente a 1,5% do PIB segundo o FMI.

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22. Destes dados retira-se que o rácio de endividamento externo sobre o PIB deverá permanecer quase inalterado, em cerca de 20% do PIB, situação que se afigura bastante confortável face à capacidade de geração de divisas num cenário de normalidade no comportamento dos preços do petróleo.

Ainda segundo o FMI, cerca de 2/3 do financiamento externo a contratar em 2010 destinar-se-á a projectos de infra-estruturas – estradas, pontes, aeroportos, portos, caminhos-de-ferro, abastecimento de água e redes de comunicação.

VIII – Conclusão

Na sequência do severo choque externo a que foi submetida no 1º semestre de 2009, traduzido numa perda muito elevada dos termos de troca, a economia angolana procura adaptar-se a um novo ritmo de actividade que seja compatível com o objectivo prioritário de salvaguardar e reforçar a sua solvabilidade externa.

Sem prejuízo da prossecução desse objectivo, torna-se necessário ultrapassar algumas sequelas do choque sofrido em 2009 como é o caso atrás mencionado dos “atrasados” do sector público no mercado doméstico.

É bem provável, face à informação actualmente disponível, que no 2º semestre do corrente ano a estratégia macro-económica concertada com o FMI venha a consolidar os seus resultados, permitindo resolver entre outros problemas a referida questão dos “atrasados”.

Referências

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