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Universidade Federal da Fronteira Sul

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Academic year: 2021

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Vol. 6 n. 2 (julho a dezembro, 2015)

ISSN 1806-2695 (impresso) ISSN 2358-0399 (eletrônico)

Universidade Federal

da Fronteira Sul

(3)

A Revista Brasileira de Extensão Universitária é uma publicação semestral do Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Instituições Públicas de Educação Superior Brasileiras, cujo objetivo é possibilitar o intercâmbio de práticas, reflexões e resultados de ações de extensão desenvolvidas pelas Universidades, por meio de uma rede ampla e diversificada de atores e instituições sociais. É publicada em cooperação com a UFFS- Universidade Federal da Fronteira Sul.

Editor-Chefe

Geraldo Ceni Coelho, Universidade Federal da Fronteira Sul -UFFS, Brasil

Comissão Editorial

Geraldo Ceni Coelho, UFFS, Brasil

Paulo Henrique Caetano, Universidade Federal de São João del-Rei - UFSJ, Brasil

Carlos Alberto Soares, Universidade Federal Fluminense - UFF, Brasil

Mayco Morais Nunes, Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC, Brasil

Avaliadores (2013-2015)

Adriana Richit, Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS, Brasil Adriana Zilly, Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Brasil

Adriane de Andrade Silva, UFU - Universidade Federal de Uberlândia, Brasil

Aline Megumi Arakawa, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil

Ana Carolina Silva Siquieroli, Universidade Federal de Uberlândia - UFU, Brasil

Ana Paula Vieira, Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE, Brasil

Ângela Maria Hartmann, Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA , Brasil

Angela Maria Souza, Universidade Federal da Integração Latino Americana - UNILA, Brasil

Angélica Conceição Dias Miranda, Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Brasil

Ari José Sartori, Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS, Brasil Atilio Butturi Junior, Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS, Brasil

Carlos Henrique Ferreira Camargo, Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG, Brasil

Carmen Lúcia Lupi Monteiro Garcia, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UFRJ, Brasil

César Luis Siqueira Junior, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO, Brasil

Cipriano Maia Vasconcelos, Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN - CCS DSC, Campus Central, Brasil

Cristiane Paulin Simon, Departamento de Medicina Social, Instituto de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Triângulo Mineiro - UFTM, Brasil

Débora Tavares, Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS, Brasil

Demétrio Alves Paz, Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS, Campus Cerro Largo - RS, Brasil

Denise Barbosa de Castro Friedrich, Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF, Brasil

Dileno Dustan Lucas Souza, Faculdade de Educação/ PPGE - Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF, Brasil

Edson Trajano Vieira, Universidade de Taubaté -UNITAU, Brasil Eliza Vieira Davi, Universidade Federal de Uberlândia - UFU, Brasil Emiliane Nogueira de Souza, Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre - UFCSPA, Brasil

Fernanda Duarte Araújo Silva, Universidade Federal de Uberlândia - UFU, Brasil

Gisele Alves de Sá Quimelli, Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG, Brasil

Helena Maura Torezan-Silingardi, Instituto de Biologia, Universidade Federal de Uberlândia - UFU

Humberto Rocha, Universidade Federal da Fronteira Sul campus Chapecó, Brasil

Iara Thielen, Universidade Federal do Paraná, Brasil

Irlane Maia Oliveira, Universidade Federal do Amazonas - UFPA, Brasil

Izaura Maria Carelli, Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE, Brasil

Janice Reichert, Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS, Brasil Jean Von Hohendorff, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS, Brasil Jerônimo Sartori, Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS, Brasil

José Carlos Santos, Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE, Brasil

José Euzébio de Oliveira Souza Aragão, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP, Campus de Rio Claro, Brasil

Judite Scherer Wenzel, Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS Campus Cerro Largo, Brasil

Karen Santana de Almeida Vieira, Universidade de Brasília - UnB, Brasil

Kátia Suely Queiroz Silva Ribeiro, Universidade Federal da Paraíba - UFPB, Brasil

Lia Silva de Castilho, Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, Brasil

Lirane Elize de Almeida, Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE, Brasil

Livia Penna Firme Rodrigues, Centro de Estudos da Chapada dos Veadeiros - UnB Cerrado Universidade de Brasilia - UnB, Brasil Lucas da Rocha Ferreira, Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PGDR/UFRGS), Brasil

Luciana Karen Calábria, Universidade Federal de Uberlândia - UFU, Faculdade de Ciências Integradas do Pontal, Brasil

Luciano Gonda, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Brasil

Luis Alfredo Amaral, Universidade do Minho, Portugal Luís Fernando Santos Corrêa da Silva, Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS, Brasil

Luiz Antonio Farani de Souza, Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS, Brasil

Maíra Bonafé Sei, Universidade Estadual de Londrina - UEL, Brasil Manoel Maximiano Junior, Universidade do Estado do Pará (UEPA), Brasil

Marcelo Antonio Amaro Pinheiro, Universidade Estadual Paulista, UNESP-IB/CLP, Campus do Litoral Paulista, Brasil

Marcia Reami Pechula, Instituto de Biociências - UNESP Rio Claro, Brasil

Márcio Antônio Vendruscolo, Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS, Brasil

Marcio de Medeiros Gonçalves, Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Chapecó, Brasil

Marco Aurélio Spohn, Universidade Federal da Fronteira Sul -UFFS, Brasil

Mardiore Pinheiro, Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS, Campus Cerro Largo - RS

Maria Salete Marcon Gomes Vaz, Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG, Brasil

Maria Teresa Seabra Soares de Britto Alves, Universidade Federal do Maranhão - UFMA, Brasil

Marília Christina Arantes Melo, Universidade Federal de Uberlândia - UFU, Brasil

Melchior José Tavares Júnior, Universidade Federal de Uberlândia - UFU, Brasil

Monize Sâmara Visentini, Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS Campus Cerro Largo, Brasil

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Brasil

Paula Cristina Natalino Rinaldi, Universidade Federal de Uberlândia - UFU, Campus Monte Carmelo, Brasil

Paulino de Jesus Francisco Cardoso, Universidade do Estado de Santa Catarina- UDESC, Brasil

Paulo Henrique Caetano, Universidade Federal de São João del-Rei, UFSJ, Brasil

Pedro Augusto Pereira Borges, Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS, Brasil

Pollyanna Kássia de Oliveira Borges, Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG, Brasil

Priscilla Maria Peixoto Patricio, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ, Brasil

Raquel Crosara Maia Leite, Universidade Federal do Ceará - UFC, Brasil

Regina Lucia Monteiro Henriques, Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ, Brasil

Reinaldo Antonio Silva-Sobrinho, Universidade Estadual do Oeste do Paraná, UNIOESTE -, Brasil

Ricardo Key Yamazaki, Universidade Federal da Fronteira Sul campus Laranjeiras do Sul-PR, Brasil

Roque Ismael da Costa Güllich, Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS, Brasil

Sandra Batista de Deus, Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS, Brasil

Thiago Almeida Vieira, Universidade Federal do Oeste do Pará - UFOPA, Brasil

Vera Márcia Marques Santos, Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC, Brasil

Colaborador de Arte Gráfica

Everton Gabriel Bortoletti, Universidade Federal da Fronteira Sul UFFS, Brasil

Suporte Técnico

Diego dos Santos Borba, Universidade Federal da Fronteira Sul, Brasil

Enio Vicente de Limas, Universidade Federal da Fronteira Sul, Brasil

Brasil

Revisão Linguística (Inglês) Paulo Henrique Caetano, UFSJ, Brasil

Fernando Silva, Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, Brasil

Correspondência: Geraldo Ceni Coelho

Rodovia SC 484 km 02, Bairro Universitário • Chapecó • Santa Catarina • Brasil • CEP 89801-001

contato.rbeu@gmail.com

R454

Revista Brasileira de Extensão Universitária [Recurso eletrônico] / Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Instituições Públicas de Educação Superior Brasileiras. v. 6 n. 2, jul./dez. (2015)- Chapecó - SC, UFFS, 2015-. Semestral

ISSN: 2358-0399 (versão on-line)

1. Extensão Universitária – periódicos. 2. Universidade Pública – periódicos.

(5)

Revista Brasileira de Extensão Universitária

Sumário / Contents / Sumario

Volume 6, n. 2 (jul. - dez. 2015)

67 Editorial

Artigos / Articles / Artículos

69 O universo caipira que se revela em nós: um curso de extensão para além da

compreensão acadêmica

/

The “caipira” universe revealed in us: an extension course beyond academic understanding /

El universo “caipira” revelado en nosotros: un curso de extensión más allá de la comprensión

académica

Neusa de Fátima Mariano, Cristina de Souza Ferraz

77

Escrevendo os Caminhos da Extensão Universitária na UNILA

/

Writing the Paths of the University Extension Program at UNILA

/

Escribiendo los Caminos de la Extensión Universitaria en UNILA

Ângela Maria de Souza, Noemi Ferreira Felisberto Pereira

87

POPNEURO: Relato de um Programa de Extensão que busca divulgar e

popularizar a neurociência junto a escolares

/

POPNEURO: a Report of an extension Program that seeks to disseminate and popularize

neuroscience at school

/

POPNEURO: Relato de un Programa de Extensión que busca divulgar y popularizar la

neurociencia junto a las escuelas

Geórgia Elisa Filipin, Franciele Dorneles Casarotto, Bruno Machado Maroneze, Pâmela

Billig Mello-Carpes

97

Análise de ações extensionistas a partir de hortas escolares de base

ecológica, seus efeitos e desafios no contexto educacional

/

The analysis of extension actions regarding the implementation of school gardens of ecological

basis: its effects and challenges in the educational context

/

Análisis de acciones de extensión en la implementación de los huertos escolares a base ecológica,

sus efectos y desafíos en el contexto educativo

(6)

Entrevista / Interview / Entrevista

103

As ações de extensão universitária da modalidade Rondon

(7)

1 Universidade Federal de São Carlos, Campus Sorocaba, Professora do curso de Geografia do Departamento de Geografia, Turismo e Humanidades. Rua George Smith, 357, apto. 123 A. Lapa. São Paulo, SP. CEP: 05074-010. nfmariano@gmail.com (autora para correspondência) 2 Universidade Federal de São Carlos, Campus Sorocaba, Graduanda do curso de Geografia do Departamento de Geografia, Turismo e

Humanidades. cristinasouzaferraz@gmail.com

Revista Brasileira de Extensão Universitária v. 6, n. 2, p.69-76 jul – dez. 2015 e-ISSN 2358-0399

originais recebidos em 20 de outubro de 2015 aceito para publicação em 13 de dezembro de 2015

O universo caipira que se revela em nós: um curso

de extensão para além da compreensão acadêmica

Neusa de Fátima Mariano

1

Cristina de Souza Ferraz

2

Resumo: A cultura caipira é muitas vezes tida como algo atrasado,

ultrapassado, cuja sabedoria com base na prática cotidiana é comumente menosprezada diante da sociedade urbano-industrial. A partir desta problemática buscou-se, com a oferta do curso de extensão intitulado O Universo Caipira, trazer aos participantes uma reflexão acerca desta cultura singular que se perpetua na atualidade através dos modos de ser, agir e pensar, oriundos, sobretudo, do meio rural. Pretendeu-se chamar atenção para a cultura caipira, ainda fortemente presente na nossa sociedade, a partir de uma exposição de fotografias e objetos que a expressam. O universo caipira, que se revela no seio das contradições entre o tradicional e o moderno, revelou também aos participantes do curso e visitantes da exposição de fotografias, uma identidade até então adormecida.

Palavras-chave: Cultura, Fotografia, Identidade, Extensão Universitária.

The “caipira” universe revealed in us: an extension course beyond

academic understanding

Abstract: The “caipira” culture is often seen as backward, outdated and whose

wisdom commonly based on every day practices is underestimated in comparison to the urban-industrial society. From this perspective, based on the extension course entitled The “Caipira” Universe, we aimed at fostering the reflection of the participants regarding this unique culture that is still perpetuated through ways of being, acting and thinking, and which originated mainly in rural areas. The objective was to draw attention to the “caipira” culture, still strongly present in our society, by means of a photography exhibition and objects related to this cultural background. The rustic universe that is revealed in the contradictions between the traditional and the modern had also unveiled to the participants throughout the course and the ones attending to the exhibition an identity until then asleep.

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El universo “caipira” revelado en nosotros: un curso de extensión más allá de la

comprensión académica

Resumen: La cultura "caipira" es tenida como atrasada, obsoleta, cuya sabiduría basada en las prácticas cotidianas está

comúnmente infravalorada frente a la sociedad urbano-industrial. Vista a partir de esta problemática, se ha buscado, con base en el curso de extensión titulado El Universo "Caipira", proporcionar a los participantes una reflexión sobre esta singular cultura que se conserva en la actualidad a través de los modos de ser, actuar y pensar, que se originó principalmente en las zonas rurales. El objetivo del proyecto fue llamar la atención a la cultura "caipira", todavía muy presente en nuestra sociedad, por medio de una exposición de fotografías y objetos que la expresan. El universo “caipira”, que se revela en las contradicciones entre lo tradicional y lo moderno, también reveló a los participantes del curso y a los visitantes de la exposición una identidad hasta entonces dormida.

Palabras-clave: Cultura, Fotografía, Identidad, Extensión Universitaria.

Introdução

O Universo Caipira foi concebido como atividade de extensão do curso de Geografia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), onde também são realizadas pesquisas voltadas para a cultura popular, cujas reflexões permeiam o ramo da Geografia Cultural.

Antes de adentrar o texto sobre o desenvolvimento da proposta, cabe uma breve exposição relativa à categoria da atividade de extensão que proporcionou a realização deste trabalho. A chamada ACIEPE – Atividade Curricular de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão – ocorre durante um semestre e é voltada a alunos da própria universidade e ao público externo, abrangendo estudantes de outras instituições de ensino, professores do ensino fundamental e médio e demais profissionais. O objetivo da ACIEPE O Universo Caipira foi, em um primeiro momento, analisar a cultura caipira nas suas especificidades e contradições. Ao se tratar da lógica do tempo cíclico ainda presente nesta cultura, que porém apresenta tendência de ser sucumbida pelo processo de industrialização e economia de mercado, há um direcionamento para a compreensão das suas contradições, ao perceber a ruralidade emergindo do e no espaço urbano. Neste sentido, costumes, tradições e simbologias presentes na cultura caipira na atualidade mostram a permanência da cultura popular e espontânea que dialoga com distintas temporalidades.

Vale dizer que a ACIEPE está em consonância com a Convenção da UNESCO sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, assinada em 2005 na França, tendo sido promulgada em 2007 no Brasil, pelo Decreto n.º 6.177 (Brasil, 2007). Consta em seu Artigo 10 que as Partes (países envolvidos) deverão: “a) propiciar e desenvolver a compreensão da importância da proteção e promoção da diversidade das expressões culturais, por intermédio, entre outros, de programas de educação e maior sensibilização do público”.

A diversidade cultural está presente em expressões compreendidas como opostas, singulares e intraduzíveis, e ao mesmo tempo como universal, ou seja, uma totalidade que se mostra dinâmica, contraditória e desafiadora, como observa Barros (2008).

Bernard (2008, p. 48) chama a atenção para a necessidade da mobilização, dentre outros pontos por ele levantados, para a efetivação da Convenção. O autor convoca a sociedade civil e as universidades para o desafio, cujo foco estaria na difusão de ferramentas pedagógicas e na “multiplicação das carreiras do ensino e das formações específicas em matéria de diversidade das expressões culturais”.

Neste sentido, a atividade promovida pela UFSCar proporcionou aos envolvidos não só uma reflexão teórica sobre a cultura caipira, como também chamou atenção para a diversidade cultural e para a identificação que possuem com este universo.

Em 2014, na sua segunda edição (a primeira foi realizada em 2010), a ACIEPE O Universo Caipira teve a participação de dez alunos dos cursos de Geografia, Pedagogia, Biologia e Física, e de dois profissionais da área de promoção cultural como público externo. A proposta inicial foi montar uma exposição de fotografias a partir de um trabalho de campo realizado em Araçoiaba da Serra, município da região de Sorocaba, Estado de São Paulo. No entanto, um ambiente caipira com vários objetos deste universo foi sendo criado de forma a expressar sua religiosidade, crenças, trabalho no campo e cotidiano. A exposição ficou montada de novembro a março na biblioteca do campus Sorocaba. Posteriormente, o mesmo conjunto de fotos (quarenta ao todo) compôs a exposição no Núcleo de Extensão em Educação, Tecnologia e Cultura da UFSCar, localizado no centro da cidade de Sorocaba. Infelizmente não houve a possibilidade de monitorar um livro de registros para a obtenção do número exato de visitantes. Porém, foi colocado à disposição do público um caderno de impressões e mensagens. Por conta disso, a quantidade

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O universo caipira que se revela em nós | 71 de registros (trinta ao todo) não revela o número real de

visitantes.

Pretende-se expor neste artigo a valorização e vivência da cultura caipira e os elementos que a compõem, justificando a proposta da temática e trazendo à tona o conteúdo e os autores abordados durante o curso. Em seguida, os resultados da extensão são apresentados com base na avaliação da ACIEPE realizada pelos participantes, e com base nas mensagens deixadas pelos visitantes. Compreende-se, portanto, que os objetivos foram atingidos de forma eficaz, o que instiga a realizar outras edições e compartilhar novas experiências.

O Universo Caipira

Ao se pensar a cultura caipira nos dias de hoje, parece até que há um retorno ao passado, quando, no entanto, ela está bastante presente em nosso cotidiano. Mas como identificá-la? Como compreender determinadas ações, representações e expressões como participantes de uma cultura considerada rústica, atrasada e, enfim, estigmatizada pela sociedade dita moderna?

Faz-se necessário entender a constituição da cultura caipira e sua abrangência no território nacional como parte do processo de colonização. As missões jesuíticas tiveram importante papel na formação da cultura caipira, pois, com o objetivo de catequizar os nativos, unia elementos do catolicismo popular europeu aos costumes indígenas, como o canto e a dança, a celebração de datas religiosas com festas, procissões e encenações. Com o objetivo de salvar as almas consideradas pagãs, os jesuítas começaram a organizar os aldeamentos que, com o passar do tempo, vieram a se tornar vilas e cidades (PETRONE, 1995, p. 223), a exemplo do município de Carapicuíba, onde a Festa de Santa Cruz é ritualizada até hoje. O nativo era, então, alvo de disputa entre os bandeirantes, que visavam à expansão territorial e à riqueza, e os jesuítas, que queriam salvar sua alma. Neste processo, sobretudo com a expansão bandeirante e posterior estagnação, foi-se constituindo e se fixando uma cultura singular, ligada aos ciclos da natureza, com formas particulares de ser, pensar, agir e falar:

O equilíbrio é alcançado numa variante da cultura brasileira rústica, que se cristaliza como área cultural caipira. É um novo modo de vida que se difunde paulatinamente a partir das antigas áreas de mineração e dos núcleos ancilares de produção artesanal e de mantimentos que a supriam de manufaturas, de animais de serviço e outros bens. Acaba por esparramar-se, falando afinal a língua portuguesa, por toda a área florestal e campos naturais do Centro-Sul do país, desde São Paulo, Espírito Santo e estado do Rio de Janeiro, na costa, até Minas Gerais e Mato Grosso, estendendo-se ainda sobre áreas vizinhas do Paraná. Desse modo, a antiga área de correrias dos paulistas velhos da preia de índios e na busca de ouro se transforma numa vasta região de cultura caipira, ocupada por uma população extremamente dispersa e desarticulada (RIBEIRO 1995, p. 383).

Tornam-se cada vez mais evidentes, com o passar do tempo, os elementos que constituem ou que caracterizam a cultura caipira em suas várias dimensões do cotidiano. Para Vianna (2005), o homem rural possui quatro qualidades fundamentais: fidelidade à palavra dada, probidade (honestidade), respeitabilidade (solidariedade) e independência moral. Estas se encontram presentes a partir da religiosidade (promessas, por exemplo), das relações de trabalho (mutirão, ajuda mútua), da culinária (repartição de proteína, como lembra Candido, 2001), entre outros momentos. Destaca-se ainda o registro da cultura caipira imbuída destas quatro qualidades apontadas, na expressividade musical, nas histórias narradas e compreendidas muitas vezes como folclóricas e fantasiosas.

Dentre as festas da religiosidade popular que serviram como instrumento no processo de catequização e colonização estão a Festa de Santa Cruz, a celebração de Corpus Christi, a Festa do Divino Espírito Santo, a Folia de Santos Reis, a Dança de São Gonçalo etc. Com a dramatização, as festas apresentam caráter folclórico, na permanência de elementos presentes em festas pagãs como, por exemplo, o alimento, a dança e a música. Representações de um Portugal Medieval ainda podem ser visualizadas em Festas do Divino Brasil afora, em que há uma bandeira vermelha com uma pomba branca ao centro representando o Espírito Santo, e toda a corte do Império Divino, com Imperador e Imperatriz, geralmente personificados por crianças (MARIANO, 2007).

Outro festejo presente na cultura caipira é aquele em homenagem ao beato São Gonçalo do Amarante. O curioso com relação a São Gonçalo é que a sua imagem no Brasil difere da de Portugal (Amarante). Lá, a sua representação é a de um padre dominicano, e aqui é a de um pastor que traz uma viola nos braços, o que o torna padroeiro dos violeiros. A Festa de São Gonçalo só se realiza quando alguém vai pagar uma promessa. Para tanto, é chamado um grupo de dança de São Gonçalo que traz uma coreografia que remete a passos indígenas – resquícios da catequização jesuíta. Nesta festa, a distribuição de alimento faz parte da etiqueta e da representação da fartura, mesmo que seja somente pão e café (MARIANO, 2010).

Não é à toa que São Gonçalo é considerado protetor dos violeiros, pois a viola caipira tornou-se instrumento representativo ou até mesmo icônico da cultura caipira. Conforme Vilela (2014, p. 73), o homem do campo, por ter as mãos calejadas do trabalho na roça, foi criando formas harmoniosas e simples, porém “não convencionais”, de tocar viola, para poder cantar a própria história em acordes inéditos:

Os sons rústicos, raspados, estridentes, grosseiros, imperfeitos – adjetivos comumente atribuídos à música caipira – nada mais são que recursos sonoros diferenciados. Trata-se de timbres e texturas que as músicas clássica e popular são, na maioria das vezes, incapazes de produzir.

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Fogem ao padrão estético predeterminado em um mundo onde o ensino e as informações são normatizadas. Essa outra expressividade tem, no mínimo, algo diferente a ser mostrado.

E assim, ainda conforme Vilela, tem-se uma sonoridade a partir da viola que vem do período colonial com a catequização indígena (século XVI), quando foram criadas formas de expressão que se arraigaram no que veio a se constituir como cultura caipira, a exemplo do cururu. Este, mais presente na região do Médio Tietê (SP), consiste num desafio cantado, improvisado, que obedece a todo um ritual composto por vários personagens, como salienta Andrade (1992). Canturião é o cantor de cururu, sendo que aquele novato que está aprendendo é chamado de canturino. A pessoa que lança a rima para os cururueiros é considerado pedestre. A rima é compreendida como carreira, como por exemplo, a carreira do Divino, em que as rimas devem ser em ino, mesmo que o desafio não trate necessariamente da temática do Divino. Geralmente duas duplas de cururueiros se apresentam, cada uma composta por um tocador de viola e um canturião.

O baixão, canto em sílabas, é entoado cada vez que os cururueiros se apresentam, mas antes do tema ser anunciado, pois trata-se da marca da identificação do canturião.

Baixão é canto de chegada. Tem a função de um arauto cuja mensagem é: - Vou cantar. Sou trovador X e minha voz tem tais possibilidades, conforme estou demonstrando; minhas melodias são bonitas assim. Já que estou cantando, com este Baixão homenageio Fulano/a de Tal, que está presente, e para quem estou me dirigindo. No cururu há uma comunicação silenciosa, subjacente. (ANDRADE, 1992, p. 36).

Na viola, o cururu aparece como um ritmo, assim como a toada, o cateretê, a querumana, o pagode e a guarânia, entre outros. Estes ritmos se fazem presentes nas músicas caipiras comumente hoje chamadas „de raiz‟, que trazem como conteúdo histórias do cotidiano no campo, sejam elas saudosas, de um tempo que não existe mais, românticas e/ou trágicas, ou ainda, que narrem o trabalho na roça, ou do camponês que migrou para a cidade. Com o processo de modernização e novas tecnologias, além de uma dada „indústria cultural‟, a música caipira persiste, resiste neste universo, uma vez que traz consigo justamente a identidade de uma parcela da população, a memória que vem à tona, a própria história contada e cantada nos versos e na viola. Não cabe aqui considerar a música sertaneja romântica como um continuum da música caipira, pois são modalidades diferentes: enquanto esta traz um conteúdo de histórias de vida, a primeira atende ao mercado fonográfico.

Faz parte também deste conteúdo de histórias de vida do universo caipira as crenças em seres fantásticos, tais como o saci, o lobisomem, a mula sem cabeça, a mãe de ouro, o corpo seco, entre outros.

O saci tem ganhado notoriedade com a fundação da Associação Nacional dos Criadores de Saci de Botucatu, e a Associação dos Observadores de Saci de São Luiz do Paraitinga, ambos municípios do estado de São Paulo. A proposta é que o saci, um menino negro que usa uma touca vermelha e possui uma única perna, seja criado a cada momento em que se fala dele, em que se conta uma história sobre ele e suas travessuras. Para se „pegar‟ um saci é necessário que a pessoa coloque uma cruz no aro de uma peneira e também a desenhe na rolha de uma garrafa. O saci, que mora no bambuzal, manifesta-se no momento em que aparece um rodamoinho. Aí é só jogar a peneira para prendê-lo e, com muito cuidado, colocar a garrafa sob a mesma e tampá-la com a rolha. Ninguém consegue vê-lo, mas ele está lá. Para soltá-lo é só destampar a garrafa. Segundo Freire (2000) há dois tipos de sacis: o saci açu, que atinge até um metro e vinte de altura, e o saci pererê, que é o mais comum de ser encontrado.

O fato é que estas histórias tidas como lendas sempre trazem consigo um fundo moral. O saci é uma criança travessa que esconde as coisas, salga a comida, rouba roupas do varal. Pode trazer alegria, mas ao mesmo tempo atormenta quem está meio „atrapalhado‟, em desequilíbrio emocional.

O lobisomem, cuja crença é internacional e bastante antiga, também participa deste universo imaginário da cultura caipira. Este ser fantástico é o sétimo filho homem da família e nas noites de lua cheia sai pelas ruas em busca de alimento. O que o satisfaz é uma criança que ainda não tenha sido batizada. Aqui se tem a urgência de se batizar o bebê logo que ele nasce, para que não fique pagão e não corra o risco de ser atacado por um lobisomem.

Seguem neste sentido as outras histórias criadas no seio da cultura caipira, que sustentam uma religiosidade, uma moral, uma ética, e que contribuem para manter aquelas quatro qualidades citadas por Vianna (2005): fidelidade à palavra dada, honestidade, respeitabilidade e independência moral.

A ACIEPE O Universo Caipira pautou-se nestas questões referentes ao conceito de cultura caipira e aos elementos que a constituem: a religiosidade, a música, as crendices, entre outros pontos, como o estereótipo, ou seja, o caipira como sinônimo de atraso, como divulgou Lobato (1943) em seu artigo A Velha Praga.

As reflexões acerca da sobrevivência da cultura caipira diante do processo de modernização apontam para a necessidade de se pensar numa sociedade contraditória em seus movimentos. Ao mesmo tempo em que a cultura caipira tende a ser sucumbida pelas novas tecnologias e pela economia de mercado, ela se utiliza desta realidade para se autoafirmar. Desta maneira, o caipira consegue transitar em duas temporalidades distintas ao mesmo tempo: o tempo do relógio, marcado pela produção, e o tempo dos ciclos da natureza, a partir da leitura que sabem fazer sobre ela.

(11)

O universo caipira que se revela em nós | 73

Experiências partilhadas – o universo dos

alunos

Na ocasião do primeiro encontro da ACIEPE O Universo Caipira, os alunos foram convidados a expor suas motivações para dela participar. Uma vez que a grande maioria se relacionava com a área da educação, fosse pela prática docente e/ou como promotores culturais, foi recorrente a preocupação em se compreender e tratar adequadamente do tema. Ao mesmo tempo, os alunos admitiam ou suspeitavam ter significativa identificação com a cultura caipira.

No caso dos futuros professores, essas preocupações se referiam, sobretudo, a como trabalhar na escola e na comunidade algo que, apesar de aparentemente arcaico, ainda se faz presente não só em sua própria memória afetiva, como também, em algum grau, no seu cotidiano e no dos seus alunos, manifestando-se em músicas, festas, linguajar, crenças, costumes e valores.

Como afinal tratar dos mitos? A cultura caipira deve ser preservada ou definitivamente superada? E em ambos os casos, qual o papel que caberia à escola e aos professores?

A sequência de estudos, reflexões e discussões levou gradualmente os participantes a um maior conhecimento sobre os processos de surgimento e transformações da cultura caipira, e de sua inserção e permanência no espaço urbano. Somou-se ao conteúdo científico a riqueza das expressões populares, observadas pelos participantes por meio da literatura, filmes, imagens e músicas. A valiosa participação de palestrantes convidados – como o historiador de Sorocaba, Sr. José Rubens, e o Presidente da Associação Nacional dos Criadores de Saci, Sr. José Oswaldo –, também contribuiu para as reflexões do grupo quanto a aspectos históricos, antropológicos e mitológicos que integraram os estudos.

Concomitante a esses esclarecimentos, a forma colaborativa com que foram realizados os trabalhos superou a simples divisão de tarefas, sensibilizando o grupo para um sentido mais profundo de cooperação e de partilha, constituintes da etiqueta do universo caipira. A cada encontro, os participantes ofertavam ao grupo pratos da culinária caipira, o que, de alguma forma, revelava sua identificação com o tema, fosse por experiências passadas ou ainda presentes. Os encontros também contemplaram certo caráter ritualístico, uma vez que contos de Pires (1985) eram lidos pelos participantes como abertura e encerramento das atividades do dia. Os trabalhos foram conduzidos de forma que alimentos, memórias, crenças e saberes fossem compartilhados, propiciando uma imersão não somente nos conteúdos, mas também na própria autoidentificação dos alunos, em algum grau, como herdeiros, e ao mesmo tempo transformadores, dessa cultura, entendendo-a como viva e repleta de sentido, justamente pela sua capacidade de se ajustar a novos contextos.

Como resultado houve quebra de preconceitos, pois os alunos compreenderam que estereótipos relacionados a essa cultura surgem essencialmente de concepções vinculadas à ideologia do desenvolvimento que, questionável sob vários aspectos, entende como inferior lógicas e práticas sociais que não atendem a seus preceitos.

De fato, pode-se dizer que houve o entrelaçamento de forma e conteúdo, conferindo aos trabalhos um clima de celebração, fraternidade e aprendizado, aproximando o grupo do que possivelmente seria a essência de um bom “puxirão”.

O alcance extensionista – a exposição O

Universo Caipira

Os estudos e as discussões ao longo do curso fundamentaram o trabalho de campo realizado no município de Araçoiaba da Serra, onde ainda se pode observar aspectos bem definidos de uma ruralidade e identidade caipira. Conforme avaliação junto aos discentes, pode-se dizer que a ACIEPE propiciou a experiência de investigar e reconhecer elementos do universo caipira, por meio da paisagem e sobretudo através dos sujeitos, que despretensiosamente mantém essa cultura na lida cotidiana, neste caso entremeada tanto por elementos do rural quanto do urbano.

Pode-se dizer que evoluíram técnicas de coleta de informações e registros, conhecimentos e percepções dos participantes, o que acabou por refletir na forma com que o grupo resolveu compartilhar o resultado final dos trabalhos. O que a princípio foi pensado com uma exposição fotográfica, acabou extrapolando esse formato. Como já mencionado no início do texto, foi montado um ambiente que propiciou também ao espectador a identificação com algum elemento (objeto, imagem, música) do universo caipira ali representado, que o colocou em contato com sua “porção caipira”.

Assim, por meio de algumas imagens que compuseram a exposição, o leitor é convidado a entrar na casa caipira e respirar um pouco deste universo.

A primeira foto (Figura 1) apresenta uma casa simples, com quintal grande e bem arborizado. O aconchego da casa caipira e sua extensão ao quintal mostram o acolhimento, mas ao mesmo tempo a expansão; tanto a abertura para o mundo fora da casa, quanto para receber a vizinhança que chega e pede por este acolhimento. A casa caipira é simples e acolhedora.

Logo a seguir (Figura 2) estão presentes os elementos que compõem o quintal da casa caipira. Sempre há uma criação, geralmente de galo e galinhas, e uma horta. Desta forma, o alimento é produzido dentro dos limites da casa, com as próprias mãos. Obviamente há alimentos e utensílios que são industrializados, visto que a sociedade atual tem como base a economia de mercado.

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Mas enquanto existir o costume da criação de animais e do cultivo da horta no quintal, a resistência da cultura caipira far-se-á presente nesta forma de expressão. Ao adentrar a casa caipira, a etiqueta diz que o visitante é recebido com um café (Figura 3). Antigamente, a cozinha caipira possuía na sua estrutura um fogão feito de tijolo ou barro, que funcionava com lenha. Hoje, o café, ainda feito no coador de pano, encontra no fogão a gás a praticidade outrora inexistente.

Não há mais louça com fuligem do fogo, mas continua a prática de oferecer o café às visitas, ainda que em copos e em xícaras de jogos desfalcados. Estas fotos refletem a permanência da etiqueta na qual a recusa da oferta pode

significar uma ofensa. Figura 1. A casa. Fonte: Acervo da ACIEPE O Universo Caipira, nov./2014.

Figura 2. A criação e a horta. Fonte: Acervo da ACIEPE O Universo Caipira, nov./2014.

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O universo caipira que se revela em nós | 75

.

Figura 4. Imagens de santos e anjos revelam a devoção

da família.

Fonte: Acervo da ACIEPE O Universo Caipira, nov./2014.

Figura 5. Imagens de Jesus Cristo em vários cantos da

casa.

Fonte: Acervo da ACIEPE O Universo Caipira, nov./2014.

Ainda no interior da casa caipira, pode-se notar a manifestação da religiosidade católica. O altar montado em um dos quartos traz santos e anjos demonstrando a fé e a devoção da família (Figura 4). Mas pela casa toda essa expressão religiosa se faz presente, com altares menores e quadros (Figura 5) espalhados pela sala, copa e cozinha.

Além das fotos, vários objetos foram integrados à exposição, como por exemplo, canecas de alumínio, imagens de santos – como Nossa Senhora Aparecida e São Francisco de Assis, do benzedor João de Camargo e do Divino Espírito Santo –, formando um altar iluminado figurativamente por uma vela; grãos de café e o chapéu de palha, que representavam o trabalho na roça, além de uma vassoura rústica usada nos sítios para varrer chão de terra; uma garrafa com um saci dentro e ao lado a peneira utilizada para a sua captura, que remetiam ao imaginário caipira; um banco decorado com uma colcha de retalhos

sob almofadas coloridas, com o objetivo de trazer o ambiente do interior da casa; uma viola caipira com fitas coloridas ao lado do aparelho MP3 com fone, por onde era possível ouvir a música caipira (aqui, a revelação do tradicional e do moderno). A exposição contou ainda com bandeirinhas coloridas comumente usadas para enfeitar ambientes festivos. Nestas estavam registradas algumas falas de interlocutores durante o trabalho de campo realizado em Araçoiaba da Serra. O resultado foi muito significativo para os alunos, e também para muitos visitantes da exposição, o que se pôde concluir pelos comentários escritos no caderno de impressões e mensagens, conforme se pode conferir

:

Quando olhei as fotografias lembrei a minha infância e de quanto era bom viver no sítio. Às vezes me pergunto por que há tanto preconceito com a cultura caipira, ainda não encontrei respostas, porém acredito que trabalhos como este ajudam a valorizar esta cultura que é tão rica. (D.C.)

Os tempos podem até ter sofrido mudanças drásticas, mas pra quem teve a oportunidade de vivenciar mesmo que minimamente esse „Universo Caipira‟, como eu, vai sempre se lembrar de que a simplicidade das coisas são as que trazem mais alegria e prazer pra nossa vida! (D. N. O.)

Acredita-se, portanto, que o desenvolvimento deste trabalho tenha conduzido os participantes à construção de um conhecimento de fato transformador, assentado no resgate e valorização de uma face importante de sua identidade. Ao mesmo tempo, a experiência pôde instrumentalizá-los para a prática de uma docência que se contraponha à manutenção de preconceitos e estereótipos, que acabam ofuscando o brilho dessa cultura tão rica, sem, contudo, ter conseguido extingui-la.

Considerações finais

A ACIEPE O Universo Caipira – que teve como proposta inicial discutir sobre a cultura caipira, à luz da compreensão teórica sobre o tradicional e o moderno numa relação dialética – proporcionou do ponto de vista prático, o autoconhecimento dos alunos participantes e a identificação de quem também pôde apreciá-la.

Para além do estereótipo e da compreensão da cultura caipira como rústica, foi possível enxergá-la no interior de uma sociedade urbano-industrial, em que elementos desta cultura, ainda que fragmentados, estão presentes no cotidiano. São modos de ser, pensar e agir que revelam essa singularidade constituída, sobretudo, pelas qualidades apontadas por Vianna (2005). Com base na honestidade, na força da palavra, na solidariedade e moral, a cultura caipira transita entre o tempo da economia de mercado e o tempo da natureza, num

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diálogo em que ora uma ora outra lógica é acionada quando necessária, contribuindo para a sua perpetuação. Com a experiência desta atividade de extensão, foi possível compreender o papel da Universidade neste Universo Caipira, ou este Universo Caipira dentro da Universidade. Não se trata de divulgação, mas sim mostrar quem somos, em que acreditamos e que posturas devemos ter diante da nossa sociedade rica na sua diversidade cultural, em constante movimento e contradição.

Referências

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Como citar este artigo:

MARIANO, N. F.; FERRAZ, C. S. O universo caipira que se revela em nós: um curso de extensão para além da compreensão acadêmica. Revista Brasileira de Extensão Universitária, v. 6, n. 2, p. 69-76, 2015. Disponível em: <https://periodicos.uffs.edu.br/index.php/RBEU/article/view/30 75/pdf >

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1 Universidade Federal da Integração Latino-Americana. Pró-Reitora de Extensão. Docente no Curso de Antropologia e no Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Estudos Latino Americanos -IELA. angela.souza@unila.edu.br

2 Responsável pela Divisão de Acompanhamento das Ações de Extensão da PROEX (2013 a 2015). Mestranda do Programa de Pós-Graduação strictu sensu em Sociedade, Cultura e Fronteiras da Universidade Estadual do Oeste do Paraná UNIOESTE. Rua Áustria, 291, Jardim Europa. CEP: 85.859-316. Foz do Iguaçu-PR.noemi.ferreira@unila.edu.br (autora para correspondência)

Revista Brasileira de Extensão Universitária v. 6, n. 2, p.77-85 jul – dez. 2015 e-ISSN 2358-0399

originais recebidos em 10 de junho de 2015 aceito para publicação em 14 de dezembro de 2015

Escrevendo os Caminhos da Extensão Universitária

na UNILA

Ângela Maria de Souza1 Noemi Ferreira Felisberto Pereira2

Resumo: Esse artigo possui como objetivo principal analisar o processo de

consolidação da Extensão na UNILA - Universidade Federal da Integração Latino- Americana. A proposta do artigo consiste em compreender e analisar os instrumentos elaborados durante o processo de construção de documentos estruturantes da Extensão da UNILA, bem como as orientações e diretrizes que balizaram seu surgimento, no sentido de apresentar a concepção de extensão adotada, bem como os caminhos percorridos quando de sua construção. Neste sentido, através de levantamento documental, pesquisa bibliográfica e da participação cotidiana no trabalho extensionista, fez-se um levantamento das estratégias, procedimentos e dos princípios que possibilitaram a elaboração destes documentos que criam as diretrizes para as Ações de Extensão da UNILA. Conclui-se que a Política de Extensão Universitária da UNILA, bem como outros documentos relacionados, foram construídos a partir de discussões de atores sociais ativos e corresponsáveis pelo conteúdo e resultados auferidos pela extensão universitária. Evidenciou-se, ainda, que isso repercutiu no avanço qualitativo e, consequentemente, quantitativo, das ações extensionistas no período de 2010-2015.

Palavras-chave: Extensão Universitária, Política de Extensão, Integração.

Writing the Paths of the University Extension Program at UNILA

Abstract: This paper has as main objective to analyze the consolidation process of

the university extension program at UNILA - Universidade Federal da Integração Latino-Americana. The purpose was to analyze and to understand the tools developed during the process of structuring documents of the UNILA’s University Extension programs, and the guidelines and directives that guided its emergence, as well as to present the design adopted and the paths followed during its conception. In this sense, by means of archival work, literature and daily participation in extension activities, a survey was carried out to assess the strategies, procedures and principles that made possible the design of these documents and create the guidelines for extension projects at UNILA. It has been concluded that the University Extension Policy at UNILA, as well as other related documents, was conceived from discussions of active and co-responsible social actors for the content, and the results obtained by the university extension Furthermore, it was also evident that these measures reflected in the qualitative, and therefore, quantitative improvement of the extension actions in the 2010-2015 period.

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Escribiendo los Caminos de la Extensión Universitaria en UNILA

Resumen: Este trabajo tiene como objetivo principal analizar el proceso de consolidación de la extensión en UNILA -

Universidade Federal da Integração Latino-americana. La propuesta del artículo consiste en comprender y analizar las herramientas desarrolladas durante el proceso de construcción de los documentos estructurantes de Extensión Universitaria de UNILA, y las directrices y directivas que guiaron su emergencia, con el fin de presentar el diseño y los caminos seguidos durante su construcción. En este sentido, a través de una encuesta documental, de investigación bibliográfica y de la participación diaria en el trabajo de extensión, se ha hecho un estudio de las estrategias, de los procedimientos y de los principios que hicieron posible la preparación de estos documentos que crearon las directrices para las acciones de extensión de UNILA. Se ha concluido que la Política de Extensión Universitaria de UNILA, así como otros documentos relacionados, fueron construidos a partir de las discusiones de los actores sociales activos y corresponsables por el contenido y los resultados obtenidos por la extensión universitaria. Fue evidente también que esto se reflejó en la mejora cualitativa y por lo tanto cuantitativa de las acciones de extensión universitaria en el período 2010-2015.

Palabras-clave: Extensión Universitaria, Política de Extensión, Integración.

Introdução

A política de expansão do ensino superior implementada no Brasil durante os governos dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff (2002 – 2014) deram origem a 14 (catorze) novas Universidades. Dentre essas, foi criada pela Lei 12.189/10, no âmbito do poder executivo, a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), com a missão de contribuir para a integração solidária na América Latina e Caribe. Diferentemente das outras instituições idealizadas para expandir e interiorizar o ensino superior, a UNILA tem por vocação “ser uma universidade cuja missão será a de contribuir para a integração latino-americana, com ênfase no Mercosul, por meio do conhecimento humanístico, científico e tecnológico e da cooperação solidária entre as universidades, organismos governamentais e internacionais” (IMEA, 2009, p. 9).

A instituição pretende alcançar seus objetivos por meio da geração, transmissão, difusão e aplicação de conhecimentos produzidos pela indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão; e com a formação de cidadãos que, além de competentes nos diferentes campos do conhecimento, estejam comprometidos com a busca de soluções acadêmicas, científicas e tecnológicas para os problemas da América Latina e Caribe, de acordo com a Política de Extensão Universitária da UNILA (UNILA, 2014b).

O diferencial dessa instituição está, além de sua missão, na abrangência do público envolvido, uma vez que não se limita apenas aos brasileiros, mas inclui os demais países latino-americanos na formação de seu corpo docente e discente. Executar uma estratégia que responda simultaneamente as suas vocações educacionais nacional e latino-americana, numa região e territórios extremamente afetados por princípios capitalistas

neoliberais, povoados por desigualdades e exclusões sociais (FIORI, 1997), é desafiador.

Nesse contexto, é que a extensão universitária ganha grande importância, pois ela é o elo entre a universidade e a sociedade. Assim, a extensão desempenha uma atribuição extremamente relevante na inserção da UNILA na região, desenvolvendo ações no âmbito científico, artístico e cultural que compartilham conhecimentos produzidos.

Para um exercício de reflexão sobre este contexto, o artigo está organizado em três momentos. O primeiro aborda a metodologia desenvolvida para o estudo. Já no segundo desenvolvemos um breve retrospecto dos pontos basilares que entendemos fundamentais para a extensão universitária. Em seguida, delineamos a extensão universitária da UNILA, mostrando os caminhos percorridos no desenvolvimento e implantação da Política de Extensão Universitária da UNILA.

Parâmetros Norteadores

A pesquisa bibliográfica e documental é a base deste estudo1. A revisão bibliográfica sobre a extensão universitária se faz necessária porque “o estudo da literatura pertinente pode ajudar a planificação do trabalho e representa uma fonte indispensável de informações, podendo até orientar as indagações” (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 158). Esta pesquisa teve por objetivo compreender os diferentes conceitos que abrangem a extensão Universitária e suas implicações para o processo de consolidação de uma política de extensão universitária.

A análise documental utilizou como base, principalmente: Relatórios de Gestão da UNILA, Relatório da Comissão Própria de Avaliação (CPA),

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Caminhos da Extensão Universitária na UNILA | 79 Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), Política

de Extensão Universitária da UNILA (PUNILA), entre outros. A partir destes documentos, esta investigação averiguou as diretrizes e a concepção de extensão universitária que possibilitaram a elaboração e implantação da Política de Extensão Universitária da UNILA.

Neste sentido, torna-se importante lembrar que a UNILA foi criada com a proposta de ser uma Universidade voltada para o debate sobre as problemáticas latino-americanas, e nasce

comprometida com o destino das sociedades latino-americanas, cujas raízes estão referenciadas na herança da Reforma de Córdoba (1918), está voltada para o futuro visando contribuir, por meio do papel estratégico do conhecimento compartilhado na construção de sociedades sustentáveis no século XXI, fundadas na identidade latino-americana em sua diversidade cultural e orientação para o desenvolvimento, com justiça social e sustentabilidade socioambiental. (IMEA, 2009, p. 9)

Este comprometimento apontado no projeto de implantação da Universidade nos remete a uma reflexão mais intensa sobre a importância da Extensão neste contexto, tanto no sentido local, que abrange ações realizadas no espaço da fronteira entre as cidades de Foz do Iguaçu – Brasil, Ciudad del Este – Paraguai e Puerto Iguazu – Argentina, como no contexto mais amplo e transnacional, aumentando a importância da realização de intermediações e trocas de experiências extensionistas na América Latina.

Extensão Universitária e a Reconfiguração

Conceitual

A Extensão Universitária passou por várias ressignificações conceituais. De acordo com Nogueira (2001), no período de 1911 a 1968, a extensão se configurou como realização de cursos, conferências e prestação de serviços realizados como atividades desarticuladas do ensino e da pesquisa. De igual forma, não era considerado o saber popular, pois a comunidade era uma mera receptora. Segundo a autora,

A extensão praticada pelos estudantes universitários, no início da década de 60, é o primeiro aceno de mudança na sua concepção. É quando se vêem ações concretas na direção do compromisso com as classes populares, não de forma assistencial, mas com a intencionalidade de conscientizá-las sobre seus direitos (NOGUEIRA, 2001, p. 62).

Essas ações, no entanto, foram reprimidas durante a Ditadura Militar e, por conseguinte, a União Nacional dos Estudantes (UNE) foi dissolvida. Nogueira (2001)

afirma que mesmo com o retrocesso imposto à extensão Universitária pelo governo militar, as ideias delineadas pelos estudantes, no início dos anos 60, reapareceram e se consolidaram em discussões posteriores.

Esta nova concepção de extensão comprometida com as classes populares, com a integralidade entre extensão, pesquisa e ensino reflete um significativo avanço na primeira Política de Extensão Universitária do Brasil em 1975. Para Nogueira (2001),começou a ser considerada a relação entre ensino, pesquisa e extensão, ampliou-se as formas de como a extensão poderia se processar, e expandiu-se o público alvo das ações extensionistas. Dentro desta perspectiva, seguiu-se a discussão sobre a extensão universitária através do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras (FORPROEX) criado em 1987, dada a necessidade de institucionalização da extensão universitária. As discussões e reflexões do FORPROEX produziram/produzem uma série de documentos com diretrizes conceituais e políticas fundamentais para uma concepção de extensão dialógica, integradora e dialética, publicadas através da Coleção Extensão Universitária – composta por seis documentos – e a Política Nacional de Extensão Universitária.

A partir disso, a formação acadêmica universitária pressupõe a indissociabilidade entre extensão, pesquisa e ensino, e a prática vem mostrando que, para se fazer extensão, é necessário pesquisa, e que durante o desenvolvimento da atividade extensionista é desencadeado o processo de ensino, o que garante a indissociabilidade e, consequentemente, uma formação mais humanística e integradora para os interlocutores nela envolvida. Para Maria Nogueira (2001) a

extensão é um momento, uma etapa desse processo maior que vai desde a produção do conhecimento e sua sistematização à transmissão dos resultados. Assim ela não se caracteriza como atividade isolada do ensino e da pesquisa, ao contrário, ela é a dimensão da vida acadêmica que articula as outras duas, de forma indissociável, facilitando a interdisciplinaridade. A relação com a sociedade é necessária e indispensável, pois com ela se estabelece a troca entre o saber acadêmico e o saber popular. (NOGUEIRA, 2001, p. 69)

Para isso, se faz necessário partir de uma posição que considere uma concepção de extensão em que todos os atores sociais ensinam e aprendem, conforme nos ensina Paulo Freire (2006). Nesse sentido, alguns elementos fundamentais para o entendimento do termo extensão são apontados por Tommasino (2015):

· Processo educativo transformador sem estereótipos onde todos (educando e educador) aprendem e ensinam;

· Processo que contribui com a produção de conhecimento novo, vinculando criticamente o saber acadêmico com o saber popular;

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organizativas, associativas, grupais que podem levar a superar problemáticas significativas da sociedade;

· Processo que permite orientar linhas de investigação e planos de aulas;

· Processo que gera compromisso da universidade com a sociedade;

· Processo que em sua dimensão pedagógica constitui uma metodologia de aprendizagem integral e humanizadora;

· Processo que exige participação e envolvimento de todos os atores sociais e universitários nas etapas de planejamento, execução e avaliação;

· Processo que demanda a comunicação dialógica com o outro;

· Processo que demanda abordagem interdisciplinar;

· Processo que leva em consideração os tempos dos atores sociais envolvidos.

Esses elementos são essenciais dentro de uma ação extensionista para que exista a produção do conhecimento e o envolvimento real de todos os atores. Paulo Freire (2006) nos ensina que

O conhecimento exige uma presença curiosa do sujeito em face do mundo. Requer sua ação transformadora sobre a realidade. Demanda uma busca constante. Implica em invenção e em reinvenção. Reclama a reflexão crítica de cada um2 sobre o ato mesmo de conhecer, pelo qual se reconhece conhecendo e, ao reconhecer-se assim, percebe o “como” de seu conhecer e os condicionamentos a que está submetido seu ato. (FREIRE, 2006, p. 16).

Nessa perspectiva, a existência do diálogo é imprescindível para não existir a invasão do espaço do outro, para que não exista a superioridade de uns dos sujeitos sobre outros transformando pessoas em “coisas”

3,de modo a desconsiderar o homem como ser histórico e

a problematização dialógica a ela inerente. Assim, para que exista o respeito com a comunidade envolvida na ação extensionista é que precisamos do dialógico, pois “ser dialógico é não invadir, é não manipular, é não sloganizar. Ser dialógico é empenhar-se na transformação constante da realidade” (FREIRE, 2006, p. 28), excluindo toda relação na qual pessoas podem ser transformadas em objetos.

Portanto, para se fazer extensão deve-se partir do princípio de que não existe hierarquia entre os conhecimentos produzidos na universidade e o conhecimento popular. Assim, a extensão deve ser concebida no sentido de retroalimentação e troca de saberes com a participação dos agentes populares como sujeitos ativos e corresponsáveis pelo conteúdo e resultados auferidos pela extensão universitária.

Extensão na UNILA

A Extensão da UNILA começou seus trabalhos no segundo semestre de 2010, concomitantemente com as demais atividades acadêmicas. A Universidade contava com aproximadamente 200 alunos oriundos do Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina, subdivididos em seis cursos de graduação. Essa primeira comunidade acadêmica formada em agosto de 2010 foi a precursora de toda a discussão política acerca dos rumos da nova Instituição.

Foi um começo que demandava debates em torno da concepção na qual se alicerçaria a extensão na UNILA, bem como quais os objetivos que ela perseguiria. Dessa forma, a grande atividade que se apresentou como resultado do trabalho da extensão em 2010 foi o festival “Nuestra América”, espetáculo apresentado como atividade de encerramento do Módulo I do curso de extensão de capacitação técnica em música construída em parceria com a Universidade de Brasília (UnB)4. A atividade teve grande repercussão nos grupos artísticos da comunidade da fronteira trinacional e também no fortalecimento da UNILA com sua vocação Latino-Americana, pois buscou “explorar e recuperar as manifestações culturais que mais influenciaram a história e a consolidação política da América Latina” (UNILA, 2014a, p.60).

Já em 2011, iniciou-se a elaboração de documentos que expressavam as diretrizes gerais para a política de extensão da Universidade. Entre eles a publicação da Portaria/UNILA nº 76/2011, que instituiu o Programa de Bolsas de Extensão da UNILA – PROBEX - que estabeleceu como seus objetivos:

Incentivar a participação de Discentes, Servidores Técnico-Administrativos em Educação e Docentes nas atividades de extensão da UNILA; estimular o desenvolvimento da criatividade na busca da socialização de saberes, aprimorando o processo formativo de profissionais enquanto cidadãos; viabilizar a relação transformadora entre a universidade e a sociedade, priorizando as demandas de relevância social, com o intuito de melhorar as condições de vida das comunidades beneficiadas; proporcionar ao bolsista a aprendizagem de técnicas e métodos de pesquisa e de ações social e cultural, bem como estimular o desenvolvimento do pensar cientificamente e da criatividade, decorrentes das condições criadas pelo confronto direto com problemas sociais (UNILA, 2011).

No mesmo documento foi instituído o Comitê Assessor de Extensão (CAEX), o primeiro órgão colegiado com representação de todas as categorias da comunidade acadêmica: discente, docente e técnico administrativo, envolvidos de alguma maneira com atividades extensionistas. Uma das principais atribuições do CAEX era criar a política de administração do PROBEX. A partir da instituição do CAEX e do PROBEX, a

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