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AS DIMENSÕES CULTURAIS DE HOFSTEDE

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Academic year: 2021

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AS DIMENSÕES CULTURAIS DE HOFSTEDE

1. Introdução

Aprendi no único ano que frequentei no Instituto de Ciências Humanas (UNICAMP) - Antropologia, que cultura é a resposta oferecida pelos grupos humanos aos desafios da existência.

Já para o antropólogo americano Clyde Kluckholon a cultura é o modo de pensar, de sentir e reagir de um grupo humano, sobretudo recebida e transmitida pelos símbolos, que representa sua identidade específica: ela inclui os objetos concretos produzidos pelo grupo. O coração da cultura é constituído de ideias tradicionais e de valores que estão ligados.

Geert Hofstede é um psicólogo irlandês que compartilha da ideia de Kluckholon a respeito do que é a cultura de um grupo humano ou povo. A definição dele de cultura é mais objetiva: para ele é “a programação coletiva dos espíritos que distingue os membros de um grupo humano do outro”.

Na década de 70, Hofstede conduziu um estudo patrocinado pela IBM que visava entender porque é que suas filiais (no Brasil e no Japão, por exemplo) eram geridas de forma diferente, apesar dos esforços da Sede da empresa para por em prática normas e procedimentos padronizados para todas as filiais.

O estudo original contemplou 67 países, dos quais ele omitiu 27; portanto, foram divulgados os “escores culturais” de 40 países. Com o passar do tempo, o Instituto que leva o seu nome ampliou a pesquisa, e hoje é possível verificar esses escores para nada menos do que 102 países distintos, no site www.geert-hofstede.com.

O estudo aborda 6 (seis) dimensões culturais, segundo o autor, que ditam as diferenças nos comportamentos.

Sabemos que, muitas vezes, é necessária uma mudança cultural de um determinado grupo em que atuamos como gestores. Ainda que não tenhamos a pretensão de alterar completamente a cultura de um grupo estabelecido, é necessário entender as características das diversas culturas para lidar com

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integrantes desse grupo cultural e, muito frequentemente, intervir para alterar o que for possível.

Penso ser muito interessante esta abordagem. Mais abaixo, para cada

dimensão coloquei as características que a definem; o que significam tantos

valores altos como valores baixos, em uma escala de 0 a 10. Coloco também dicas para como proceder em culturas de alto índice e baixo índice em cada dimensão, tiradas do blog BlogTek, de meu amigo Rodolfo Stonner.

2. As seis dimensões culturais

2.1. Índice de Distância Hierárquica

Ligado ao estabelecimento e aceitação da relação desigual de poder. Alto PD: hierarquizada, desigual.

Baixo PD: igualitária.

Dicas: Para alto PD: procure a alta administração. Para baixo PD: envolva muitas pessoas.

2.2. Índice de Individualismo e Coletivismo Ligado exatamente ao que diz o nome. Alto INV: grande valor à privacidade. Baixo INV: privilégio para o coletivo.

Dicas: Para alto INV: não busque intimidade.

Para baixo PD: respeite tradições da coletividade.

2.3. Índice de Masculinidade

Reflete a tendência à separação de valores por sexo (competitividade - masculino x cuidado ao próximo - feminino).

Alto MAS: homem provedor, forte.

Baixo MAS: poder compartilhado, igualdade entre sexos. Dicas: Para alto MAS: cuidado ao se vestir e comportar.

Para baixo MAS: evitar posturas machistas.

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www.verriveritatis.com.br Ligado à ansiedade, rigidez.

Alto UAI: sociedades regradas, leis estritamente seguidas.

Baixo UAI: mais flexíveis, aceitam o risco, convivem com incertezas. Dicas: Para alto UAI: seja claro e conciso. Enfatize a fala com gestos e informações.

Para baixo UAI: fale com calma e pausadamente.

2.5. Índice de Orientação a longo prazo (obrigações sociais) Ligado às tradições e pragmatismo.

Alto LTO: mais tradicionais, menos criativas. Baixo LTO: predomínio da criatividade.

Dicas: Para alto LTO: evite mudança de regras.

Para baixo LTO: trate a todos com igual respeito.

2.6. Índice de Indulgencia consigo mesmo

Ligado ao controle ou não de impulsos e desejos. Alto IND: sociedades voltadas para o prazer e a alegria. Baixo IND: “O trabalho enobrece o homem”.

Dicas: Para alto IND: não tente ser professoral. Para baixo IND: seja pontual.

3. Comparações de alguns países de interesse

Procurando entender os povos que mais me interessam, seja porque trabalho com certa regularidade nesses países (da América do Sul), seja porque ocupam posição de destaque no mundo (os quatro maiores PIB), ou por minha simpatia a determinados países (caso de Holanda, Itália e Espanha) e até mesmo por curiosidades específicas (Austrália e África do Sul), pesquisei os seis indicadores citados para esses povos. E, é claro, também o nosso país.

O resultado de minha pesquisa está na tabela abaixo. Para cada

dimensão cultural destaquei o menor e o maior valor encontrado e a mediana

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www.verriveritatis.com.br Dimensão Cultural → PD Distancia hierárquica INV Individuo e Coletivo MAS Machismo UAI Aversão ao risco LTO Obrigações sociedade IND Indulgencia consigo África do Sul 49 65 63 49 34 63 Alemanha 35 67 66 65 83 40 Argentina 49 46 56 86 20 62 Austrália 36 90 61 51 21 71 Brasil 69 38 49 76 44 59 Chile 63 23 28 86 31 68 China 80 20 65 30 87 24 Colômbia 67 13 64 80 13 83 EUA 40 91 62 46 26 68 Espanha 57 51 42 86 48 44 Holanda 38 80 14 53 67 60 Itália 50 76 70 75 61 30 Japão 54 46 95 92 86 42 MEDIANA 50 51 62 75 44 60 P Menor valor G Maior valor M Mediana 4. Conclusão

Apesar de o estudo ter uma certa contaminação pelo fato de inicialmente ter estudado funcionários de uma mesma empresa, a qual certamente tem o peso de sua cultura organizacional, o quadro acima nos leva a constatações interessantes: mostra que os países podem ter sucesso tanto em culturas altamente hierarquizadas (China), como onde o tratamento é mais igualitário (Alemanha).

Como era nossa percepção, os EUA é o país mais individualista, enquanto que os países sul americanos são os mais coletivos, para mim influencia ainda das culturas tribais. Embora o individualismo exacerbado seja ao meu ver ruim, ele também está ligado a busca de resultados, o que mostra que algumas das tais “sociedades tribais” não estão conseguindo sucesso, como a Colômbia, por exemplo. No entanto, algumas culturas parecem conviver bem com o coletivismo, como o Chile e a China.

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Também “batendo” com minha percepção, Japão e Itália pontificam no aspecto “machismo”, enquanto o número da Holanda nesse requisito mostra o quanto é democrática este tão democrático país., inclusive quanto ao gênero homem/mulher.

Baixa aversão ao risco significa o quanto as pessoas estão dispostas a arriscar, o que coloca a China e os EUA em posição que explica o seu empreendedorismo. Mas alta aversão ao risco não significa baixo desempenho, como mostram os números do Japão e Espanha.

Já o nível de comprometimento com as obrigações para com a sociedade me pareceu ser determinante para o sucesso de um país nas questões mais cruciais, como a capacidade de viver em conjunto, com baixa criminalidade. Para mim, não é por acaso que a China, Japão, Alemanha, Holanda e Itália, nessa ordem, tem os índices mais altos nessa dimensão.

Já na dimensão “Indulgencia para consigo”, parece ser a causa das dificuldades em cumprir as obrigações para com a sociedade. A Colômbia, que há décadas convive com o narcotráfico e as FARC, é o que tem o índice mais alto; enquanto os mesmos China, Alemanha, Itália e Japão ocupam os postos dos mais baixos índices nesses quesitos. A exceção fica com a Holanda, o que talvez explicaria uma condição de equilíbrio entre as liberdades individuais (com consequente indulgencia individual) e as obrigações para com a sociedade.

Por fim, um dado que para mim parece alvissareiro: o Brasil se coloca, em quase todas as dimensões, em uma posição intermediária, sendo que em uma delas está literalmente com a mediana. Pode ser um sinal que temos condições de evoluir para sermos um país onde as pessoas tenham, em sua maioria, atividades adequadas para viver em sociedade e também ser feliz. Infelizmente ainda não é o caso, mas pode vir a ser. Depende de nós todos.

Luiz Alberto Verri

Julho/2014

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