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Síntese da matéria de 12º. Ano de Português - Preparação para o Exame

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Academic year: 2021

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Fernando Pessoa Ortónimo

Características temáticas

- Identidade perdida e incapacidade de definição; - Consciência do absurdo da existência;

- Para ele a realidade não é apenas aquilo que se vê superficialmente; - Tensão sinceridade / fingimento, consciência /inconsciência;

- Oposição: sentir / pensar, pensamento / vontade, esperança e desilusão; - Anti-sensacionismo: intelectualização da emoção;

- Estados negativos: solidão, cepticismo, tédio, angústia, cansaço, náusea, desespero;

- Inquietação metafísica; - Neoplatismo;

- Tentativa de superação da dor, do presente, etc., através da evocação da infância, idade de ouro, onde a felicidade ficou perdida e onde não existia o doloroso sentir;

- Refúgio no sonho, no ocultismo (correspondência entre o visível e o invisível); - Criação dos heterónimos (“Sê plural como o Universo!”);

- Intuição de um destino colectivo e épico para o seu País (Mensagem); - Renovador de mitos;

- A visão do mundo exterior é fabricada em função do sentimento interior; - Reflexão sobre o problema do tempo como vivência e como factor de

fragmentação do “eu”;

- O presente é o único tempo por ele experimentado (em cada momento se é diferente do que se foi);

- Tem uma visão negativa e pessimista da existência; o futuro aumentará a sua angústia porque é o resultado de sucessivos presentes carregados de

negatividade; Características estilísticas

- Simplicidade formal; rimas externas e internas; redondilha maior (gosto pelo popular) dá uma ideia de simplicidade e espontaneidade

- Grande sensibilidade musical:

o Eufonia – harmonia de sons;

o Aliterações, encavalgamentos, transportes, rimas, ritmo; o Verso geralmente curto (2 a 7 sílabas);

o Predomínio da quadra e da quintilha. - Adjectivação expressiva;

- Economia de meios:

o Linguagem sóbria e nobre – equilíbrio clássico. - Pontuação emotiva;

- Uso frequente de frases nominais;

- Associações inesperadas [por vezes desvios sintácticos – enálage]; - Comparações, metáforas originais, oximoros;

- Uso de símbolos;

- Reaproveitamento de símbolos tradicionais (água, rio, mar...). Temáticas

O sonho, a intersecção entre o sonho e a realidade (exemplo: Chuva oblíqua – “E os navios passam por dentro dos troncos das árvores”);

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A angustia existencial e a nostalgia da infância (exemplo: Pobre velha música – “Recordo outro ouvir-te./Não sei se te ouvi/Nessa minha infância/Que me lembra em ti.” ;

 Distância entre o idealizado e o realizado – e a consequente frustração (“Tudo o que faço ou medito”);

 A máscara e o fingimento como elaboração mental dos conceitos que

exprimem as emoções ou o que quer comunicar (“Autopsicografia”, verso “O poeta é um fingidor”);

 A intelectualização das emoções e dos sentimentos para a elaboração da arte (exemplo: Não sei quantas almas tenho – “O que julguei que senti”) ;

 O ocultismo e o hermetismo (exemplo: Eros e Psique)

 O sebastianismo (a que chamou o seu nacionalismo místico e a que deu forma na obra Mensagem;

 Tradução dos sentimentos nas linguagem do leitor, pois o que se sente é incomunicável.

Sinceridade/fingimento

- Intelectualização do sentimento para exprimir a arte  poeta fingidor; - Despersonalização do poeta fingidor que fala e que se identifica com a própria criação poética;

- Uso da ironia para pôr tudo em causa, inclusive a própria sinceridade; - Crítica de sinceridade ou teoria do fingimento está bem patente na união de contrários;

- Mentira: linguagem ideal da alma, pois usamos as palavras para traduzir emoções e pensamentos (incomunicável).

Consciência/inconsciência

- Aumento da auto-consciência humana (despersonalização); - Tentativa de resposta a várias inquietações que perturbam o poeta. Sentir/pensar

- Concilia o pensar e o sentir;

- Nega o que as suas percepções lhe transmitem;

- Recusa o mundo sensível, privilegiando o mundo inteligível;

- Fragmentação do eu  interseccionismo entre o material e o sonho; a realidade e a idealidade; realidades psíquicas e físicas; interiores e exteriores; sonhos e paisagens reais; espiritual e material; tempos e espaços;

horizontalidade e verticalidade.

O tempo e a degradação: o regresso à infância

- Desencanto e angústia acompanham o sentido da brevidade da vida e da passagem dos dias;

- Busca múltiplas emoções e abraça sonhos impossíveis, mas acaba “sem alegria nem aspirações”, inquieto, só e ansioso;

- O passado pesa “como a realidade de nada” e o futuro “como a possibilidade de tudo”. O tempo é para ele um factor de desagregação na medida em que tudo é breve e efémero;

- Procura superar a angústia existencial através da evocação da infância e de saudade desse tempo feliz.

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O poeta constata que não é ninguém, ele é nada – o sonho de ir mais além desaparece. Diz que não sabe nada, não sabe sentir, não sabe pensar, não sabe querer, ele é um livro que ficou por escrever. Ele é o tédio de si próprio: está cansado da sua vida, está cansado de si.

Poemas

- “Meu coração é 1 pórtico partido” - Fragmentação do “eu”. - “Hora Absurda” - Fragmentação do “eu”;

- Interseccionismo.

- “Chuva Oblíqua” - Fragmentação do “eu”: o sujeito poético revela-se duplo, na busca de sensações que lhe permitem antever a felicidade ansiada, mas inacessível;

- Interseccionismo impressionista: recria vivências que se interseccionam com outras que, por sua vez, dão origem a novas combinações de realidade/idealidade.

- “Autopsicografia” - Dialéctica entre o eu do escritor e o eu poético, personalidade fictícia e criadora;

- Criação de 1 personalidade livre nos seus sentidos e emoções e sinceridade de sentimentos;

- O poeta codifica o poema q o receptor descodifica à sua maneira, sem necessidade de encontrar a pessoa real do escritor;

- O acto poético apenas comunica 1 dor fingida, pois a dor real continua no sujeito que tenta 1 representação;

- Os leitores tendem a considerar uma dor que não é sua, mas que apreendem de acordo com a sua experiência de dor;

- A dor surge em 3 níveis: a dor real, a dor fingida e a “dor lida” ۰ A arte nasce da realidade;

۰ A poesia consiste no fingimento dessa realidade: a dor fingida ou intelectualizada;

۰ A intelectualização é expressa de forma tão artística que parece mais autêntica que a realidade;

۰ Relação do leitor com a obra de arte:

¤ Não sente a dor real (inicial): Essa pertence ao poeta;

¤ Não sente a dor imaginária: Essa pertence ao criador (poeta); ¤ Não sente a dor que ele (leitor) tem;

¤ Sente o que o objecto artístico lhe desperta: uma quarta dor, a dor lida ۰ A obra é autónoma, quer em relação ao leitor, quer em relação ao autor (vale

por si).

Há uma intelectualização da emoção: é recebido um estímulo (emoção) – dado pelo coração – que é intelectualizado – pela razão ; o que surge na criação são as emoções intelectualizadas. Ou seja, o pensar domina o sentir – a poesia é um acto intelectual.

- Ela canta pobre ceifeira – a ceifeira representa os sensacionistas e o seu canto seduz o poeta, que mesmo assim não consegue deixar de pensar; o poeta quer o impossível: ser inconsciente mas saber que o é, sentir sem deixar de pensar – o seu ideal de felicidade; acaba por verificar que só os sensacionistas são felizes, pois

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limitam-se a sentir, e tem então um desejo de aniquilamento; musicalidade produzida pelas aliterações, transporte, metáfora e quadra.

- Não sei se é sonho, se realidade – exprime uma tensão entre o apelo do sonho (caracterizado pela tranquilidade, sossego, serenidade e afastamento) e o peso da realidade; a realidade fica sempre aquém do sonho e mesmo no sonho o mal permanece – frustração; conclui que a felicidade, a cura da dor de viver, de pensar, não se encontra no exterior mas no interior de cada um.

- Não sei quantas almas tenho – o poeta confessa a sua desfragmentação em múltiplos “eus”, revelando a sua dor de pensar, porque esta divisão provém do facto de ele intelectualizar as emoções; a sucessiva mudança leva-o a ser estranho de si mesmo (não reconhece aquilo que escreveu); metáfora da vida como um livro: lê a sua própria história (despersonalização, distancia-se para se ver).

- Entre o sono e o sonho - símbolo do rio: divisão, separação, fluir da vida – percurso da vida; é a imagem permanente da divisão e evidencia a incapacidade de alterar essa situação (o rio corre sem fim – efemeridade da vida); no presente, tal como no passado e no futuro (fatalidade), o eu está condenado à divisão porque condenado ao pensamento (se fosse inconsciente não pensava e por isso não havia possibilidade de haver divisão); tristeza, angústia por não poder fazer nada em relação à divisão que há dentro de si; metáfora da casa como a vida: o seu eu é uma casa com várias divisões – fragmentação.

- Bóiam leves, desatentos - poema apresenta um conjunto de elementos que sugerem indefinição e estagnação, estados que provocam o tédio e o cansaço de viver (“bóiam”, “sono”, “corpo morto”, folhas mortas”, águas paradas”, casa abandonada”); todos estes elementos apontam para a dor, a incapacidade de viver, a angústia, o tédio; os seus pensamentos andam como que à deriva, não têm onde ficar, pois ele é nada; são insignificantes, sem consistência, vagos, sem conteúdo; impossibilidade do sujeito saír do estado de estagnação em que se encontra (entre a vida e a não vida); musicalidade: transporte, anáfora (repetição duma palavra), ritmo (lento, parado – como ele).

- Aqui na orla da praia, mudo e contente do mar - sujeito não quer desejar muito mais para além do que é natural e espontâneo na vida; tudo aquilo a que o homem se pode agarrar é imperfeito e inútil (ex: amor); a melhor maneira de passar pela vida é não desejar, não se sentir atraído por nada (apatia, cansaço total); revela um certo desejo de morte porque já n quer nada; desejo de comunhão com a natureza.

Fernando Pessoa conta e chora a insatisfação da alma humana. A sua precariedade, a sua limitação, a dor de pensar, a fome de se ultrapassar, a tristeza, a dor da alma humana que se sente incapaz de construir e que, comparando as possibilidades miseráveis com a ambição desmedida, desiste, adormece “num mar de sargaço” e dissipa a vida no tédio.

Os remédios para esse mal são o sonho, a evasão pela viagem, o refúgio na infância, a crença num mundo ideal e oculto, situado no passado, a aventura do Sebastianismo messiânico, o estoicismo de Ricardo Reis, etc.. Todos estes remédios são tentativas frustradas porque o mal é a própria natureza humana e o tempo a sua condição fatal. É uma poesia cheia de desesperos e de entusiasmos febris, de náusea, tédios e angústias iluminados por uma inteligência lúcida – febre de absoluto e insatisfação do relativo.

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A poesia está não na dor experimentada ou sentida mas no fingimento dela, apesar do poeta partir da dor real “a dor que deveras sente”. Não há arte sem imaginação, sem que o real seja imaginado de maneira a exprimir-se artisticamente e ser concretizado em arte. Esta concretização opera na memória a dor inicial fazendo parecer a dor imaginada mais autêntica do que a dor real. Podemos chegar à conclusão de que há 4 dores: a real (inicial), a que o poeta imagina (finge), a dor real do leitor e a dor lida, ou seja, intelectualizada, que provém da interpretação do leitor.

Quadro-Síntese: Temáticas

Estilísticas

Nível Fónico Nível Morfossintático e semântico

- Consciência do absurdo da existência, recusa da realidade, incapacidade de viver; - Oposições pensar/sentir, consciência/inconsciência, pensamento/vontade, esperança/desilusão Conduzem a: - Tédio; angustia;

melancolia; desespero; náusea; nostalgia de bem perdido (tema da perda); abdicação, desistência; abulia; dificuldade em distingir o sonho da realidade;

- Solidão, egotismo,

cepticismo, anti-sentimentalismo; - Inquietação metafísica, dor de pensar, dor de viver

Busca de superação através de:

- Evocação da infância (enquanto símbolo de uma felicidade);

- Ilusão no sonho; - Ocultismo (procura de uma correspondência entre o visível e o invisível);

- Fingimento (enquanto alienação de si próprio, processo criativo e máscara) – heteronímia.

Musicalidade: o Versificação regular e tradicional (vertente tradicionalista: predomínio da quadra e da quintilha e do verso curto (duas a setes sílabas)); o Rima, ritmo, aliteração, onomatopeia o Encavalgamento - Linguagem sóbria e nobre; - Expressividade dos modos e tempos verbais, com preferência pelo presente do indicativo; - Equilíbrio clássico; - Sintaxe simples; - Adjectivação expressiva - Paralelismos e repetições - Uso de símbolos: reaproveitamento de símbolos tradicionais; passagem de uma imagem-símbolo nacional à reflexão sobre o símbolo; - Imprevisibilidade: metáforas inesperadas; desarticulação sintáctica; - Expressividade da pontuação; interrogações, exclamações, reticências; - Uso de frases nominais; - Metáforas, comparações e imagens; - Antíteses; - Paradoxos; - Oxímoros.

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“Mensagem”

Contextualização

Integração de Mensagem no universo poético Pessoano:

Integra-se na corrente modernista, transmitindo uma visão épico-lírica do destino português, nela se salientando o Sebastianismo, o Mito do Encoberto e o V Império.

“Criar um novo Portugal, ou melhor, ressuscitar a Pátria Portuguesa, arrancando-a

do túmulo onde a sepultaram alguns séculos de obscuridade (...) E isto leva a crer que deve estar para breve o inevitável aparecimento do poeta ou poetas supremos [...] porque fatalmente o Grande Poeta, que este movimento gerará, deslocará para segundo plano a figura até aqui principal de Camões”

A citação transcrita aponta, logo de início, para o estado de desagregação em que se encontra a Nação portuguesa e que, de algum modo, fará despoletar a ânsia de renovação desejada por Fernando Pessoa e operacionalizada nos textos da Mensagem.

Fernando Pessoa acreditava que, através dos seus textos, poderia despertar as consciências e fazê-las acreditar e desejar a grandeza outrora vivenciada. Espera poder contribuir parar o reerguer da Pátria, relembrando, nas1ª e 2ª partes da Mensagem, o passado histórico grandioso e anunciando a vinda do Encoberto (3ª parte), na figura mítica de D. Sebastião, que anunciaria o advento do Quinto Império.

Preconizava para Portugal a construção de um novo império, espiritual, capaz de elevar os Portugueses ao lugar de destaque que outrora ocuparam a nível mundial. Esta projecção ficar-se-ia a dever a um “poeta ou poetas supremos” que, pela sua genialidade, colocariam Portugal, um país culturalmente evoluído, como líder de todos os outros.

Na realidade, Fernando Pessoa antevê a possibilidade da supremacia de Portugal, não em termos materiais, como no tempo de Camões, mas em termos espirituais É nesta nova concepção de Império que assenta o carácter simbólico e mítico que enforma a epopeia pessoana e que, inevitavelmente, destacará a figura deste super-poeta, em detrimento da de Camões.

O Sebastianismo

O sebastianismo é um mito nacional de tipo religioso.

«D. Sebastião voltará, diz a lenda, por uma manhã de névoa, no seu cavalo branco...» O sebastianismo, fundamentalmente, o que é? É um movimento religioso, feito em volta duma figura nacional, no sentido dum mito. No sentido simbólico D. Sebastião é Portugal: Portugal que perdeu a sua grandeza com D. Sebastião, e que só voltará a tê-la com o regresso dele, regresso simbólico (como, por um mistério espantoso e divino, a própria vida dele fora simbólica (mas em que não é absurdo confiar. D. Sebastião

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voltará, diz a lenda, por uma manhã de névoa, no seu cavalo branco, vindo da ilha longínqua onde esteve esperando a hora da volta. A manhã de névoa indica, evidentemente, um renascimento anuviado por elementos de decadência, por restos da Noite onde viveu a nacionalidade.

 D. Sebastião não morreu porque os símbolos não morrem. O desaparecimento físico de D. Sebastião proporciona a libertação da alma portuguesa;

D. Sebastião aparece cinco vezes explicitamente na Mensagem (uma vez nas Quinas, outra em Mar português e três vezes nos Símbolos). Aliás, pode mesmo dizer-se que o Brasão e o Mar português são a preparação para a chegada do Encoberto, na sua qualidade de Messias de Portugal.

D. Sebastião faz uma espécie de elogio da loucura (condenação da matéria e sublimação do espírito).

A vinda do Encoberto era apenas por ele encarada «no seu alto sentido simbólico» e não literal, como faziam os Sebastianistas tradicionais, de quem toma distância, e que esse Desejado não seria mais do que um «estimulador de almas

O Quinto Império era afinal «o Império Português, subordinado ao espírito definido pela língua portuguesa

O Quinto Império será «cultural», ou não será. E se diz, como Vieira, que o Império será português, isso significa que Portugal desempenhará um papel determinante na difusão dessa ideia apolínea e órfica do homem que toda a sua obra proclama.

Os Símbolos e os Mitos

Estrutura simbólica de Mensagem

Mensagem é a expressão poética dos mitos – não se trata de uma narrativa sobre os grandes feitos dos portugueses no passado, como em Os Lusíadas, mas sim, de um cantar de um Império de teor espiritual, da construção de uma supra-nação, através da ligação ocidente/oriente: não são os factos históricos propriamente ditos sobre os nossos reis que mais importam; são sim as suas atitudes e o que eles representam, sendo o assunto de Mensagem a essência de Portugal e a sua missão a cumprir. Daí se interpretem as figuras dos reis nos poemas de Mensagem como heróis mas mais que isso, como símbolos, de diferentes significados.

O três é um número que exprime a ordem intelectual e espiritual (o cosmos no homem). O 3 é a soma do um (céu) e do dois (a Terra). Trata-se da manifestação da divindade, é a manifestação da perfeição, da totalidade;

O sete assume também uma extrema relevância, senão vejamos, sete foram os Castelos que D. Afonso III conquistou aos mouros, sete são os poemas de Os

Castelos;

O sete corresponde aos 7 dias da criação, assim como as 7 figuras evocadas são também as fundadoras da nacionalidade (Ulisses fundou Lisboa, Viriato uma nação, Conde D. Henrique um Condado, D. Dinis uma cultura, D. João uma dinastia, D. Tareja e D. Filipa fundaram duas dinastias). Pessoa manteve na sua obra a ideia do número sete como número da criação. O sete é o número da perfeição dinâmica. É o número de um ciclo completo;

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O cinco está ligado às chagas de Cristo, às Quinas e aos cinco impérios sonhados por Nabucodonosar. Os quatro impérios já havidos foram a Grécia, roma, a Cristandade e a Europa pós-renascentista. Se o 5º império fosse material, Pessoa não teria dúvidas em apontar Inglaterra, mas como o 5º Império é o do ser, da essência, do imaterial, o poeta não tem dúvidas em apontar Portugal;

Também os nomes dados a cada parte e alguns nomes referidos nos poemas são também simbólicos:

Brasão: o passado inalterável;Campo: espaço de vida de acção;Castelo: refúgio e segurança;

Quinas: chagas de Cristo – dimensão espiritual;Coroa: perfeição e poder;

Timbre: marca – sagração do herói para missão transcendente;Grifo: terra e céu – criação de uma obra terrestre e celeste;

Mar: vida e morte; ponto de partida; reflexo do céu; princípio masculino;Terra: casa do homem; espelho do céu; paraíso mítico; princípio feminino;Padrão: marco; sinal de presença; obra da civilização cristã;

Mostrengo: o desconhecido; as lendas do mar; os obstáculos a vencer;Nau: viagem; iniciação; aquisição de conhecimentos;

Ilha: refúgio espiritual; espaço de conquista; recompensa do sacrifício;Noite: morte; tempo de inércia; tempo de germinação; certeza da vida;Manhã: luz; felicidade; vida; o novo mundo;

Nevoeiro: indefinição; promessa de vida; força criadora; novo dia; Síntese Temática da “Mensagem”

• O mito é tudo: sem ele a realidade não existe, pois é dele que ela parte;

• Deus é o agente da história; ou seja, é ele quem tem as vontades; nós somos os seus instrumentos que realizam a sua vontade. É assim que a obra nasce e se atinge a perfeição;

• O sonho é aquilo que dá vida ao homem: sem ele a vida não tem sentido e limita-se à mediocridade;

• A verdadeira grandeza está na alma; É através do sonho e da vontade de lutar que se alcança a glória;

• Portugal encontra-se num estado de decadência. Por isso, é necessário voltar a sonhar, voltar a arriscar, de modo a que se possa construir um outro império, um império que não se destrói, por não ser material: é o Quinto Império, o Império Civilizacional-Espiritual;

• D.Sebastião, além de ser o exemplo a seguir(pois deixa-se levar pela loucura/sonho), é também visto como o salvador, aquele que trará de novo a glória ao povo português e que virá completar o sonho, cumprindo-se assim Portugal. A estrutura tripartida da “Mensagem”

1ª Parte – BRASÃO: o princípio da nacionalidade (em que fundadores e antepassados criaram a pátria):

“Ulisses” – símbolo da renovação dos mitos: Ulisses de facto não existiu mas bastou a sua lenda para nos inspirar. A lenda, ao penetrar na realidade, faz o milagre de tornar a vida “cá em baixo” insignificante. É irrelevante que as figuras de quem o poeta se vai ocupar tenham tido ou não existência histórica! (“Sem existir nos bastou/Por não ter vindo foi vindo/E nos criou.”). O que importa é o que elas

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representam. Daí serem figuras incorpóreas, que servem para ilustrar o ideal de ser português.

“D. Dinis” – símbolo da importância da poesia na construção do Mundo: Pessoa vê D. Dinis como o rei capaz de antever o futuro e interpreta isso através das suas acções – ele plantou o pinhal de Leiria, de onde foi retirada a madeira para as caravelas, e falou da “voz da terra ansiando pelo mar”, ou seja, do desejo de que a aventura ultrapasse a mediocridade.

“D. Sebastião, rei de Portugal” – símbolo da loucura audaciosa e aventureira: o Homem sem a loucura não é nada; é simplesmente uma besta que nasce, procria e morre, sem viver! Ora, D. Sebastião, apesar de ter falhado o

empreendimento épico, FOI em frente, e morreu por uma ideia de grandeza, e essa é a ideia que deve persistir, mesmo após sua morte (“Ficou meu ser que houve, não o que há./Minha loucura, outros que a tomem/Com o que nela ia.”)

2ª Parte – MAR PORTUGUÊS: a realização através do mar (em que heróis empossados da grande missão de descobrir foram construtores do grande destino da Nação):

“O Infante” – símbolo do Homem universal, que realiza o sonho por vontade divina: ele reúne todas as qualidades, virtudes e valores para ser o intermediário entre os homens e Deus (“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.”)

“Mar Português” – símbolo do sofrimento por que passaram todos os portugueses: a construção de uma supra-nação, de uma Nação mítica implica o sacrifício do povo (“Ó mar salgado, quanto do teu sal/São lágrimas de Portugal!”)

“O Mostrengo” – símbolo dos obstáculos, dos perigos e dos medos que os portugueses tiveram que enfrentar para realizar o seu sonho: revoltado por alguém usurpar os seus domínios, “O Mostrengo” é uma alegoria do medo, que tenta impedir os portugueses de completarem o seu destino (“Quem é que ousou entrar/Nas minhas cavernas que não desvendo, /Meus tectos negros do fim do mundo?”)

3ª Parte – O ENCOBERTO: a morte ou fim das energias latentes (é o novo ciclo que se anuncia que trará a regeneração e instaurará um novo tempo):

“O Quinto Império” – símbolo da inquietação necessária ao progresso, assim como o sonho: não se pode ficar sentado à espera que as coisas aconteçam; há que ser ousado, curioso, corajoso e aventureiro; há que estar inquieto e descontente com o que se tem e o que se é! (“Triste de quem vive em casa/Contente com o seu lar/Sem um sonho, no erguer da asa.../Triste de quem é feliz!”) O Quinto Império de Pessoa é a mística certeza do vir a ser pela lição do ter sido, o Portugal-espírito, ente de cultura e esperança, tanto mais forte quanto a hora da decadência a estimula.

“Nevoeiro” – símbolo da nossa confusão, do estado caótico em que nos encontramos, tanto como um Estado, como emocionalmente, mentalmente, etc.: algo ficou consubstanciado, pois temos o desejo de voltarmos a ser o que éramos (“(Que ânsia distante perto chora?)”), mas não temos os meios (“Nem rei nem lei, nem paz nem guerra...”). O carácter épico-lírico - Lírico Forma fragmentária Atitude introspectiva A interiorização O simbolismo (3ªparte) - Épico:

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 O tom heróico (“O Monstrengo”)

 A evocação da história Trágico-Marítima (2ªparte)´ “Mensagem” vs. “Os Lusíadas”

Semelhanças: concepção mística e missionária/missionante da história portuguesa, preocupação arquitectónica: ambas obedecem a um plano cuidadosamente elaborado, o reverso da vitória são as lágrimas.

Diferenças:

۰ Os Lusíadas foram compostos no início do processo de dissolução do império e Mensagem publicada na fase terminal de dissolução do império;

۰ Os Lusíadas têm um carácter predominantemente narrativo e pouco abstractizante, enquanto que Mensagem tem um carácter menos narrativo e mais interpretativo e cerebral;

۰ No primeiro o Adamastor é sinónimo de lágrimas e mortes, sofrimento e audácia que as navegações exigiram, enquanto que no segundo simboliza os medos e terrores vencidos pela ousadia;

۰ Nos Lusíadas o tema é o real, o histórico, o factual (os acontecimentos, os lugares), em Mensagem o tema é a essência de Portugal e a necessidade de cumprir uma missão;

۰ Para Camões os deuses olímpicos regem os acidentes e as peripécias do real quotidiano, para Pessoa os deuses são superados pelo destino, que é força abstracta e inexorável;

۰ Nos Lusíadas os heróis são pessoas com limitações próprias da condição humana, mesmo se ajudados nos sonhos pela intervenção divina cristã ou pelos deuses do Olimpo, em Mensagem os heróis são mitificados e encarnam valores simbólicos, assumindo proporções gigantescas;

۰ Lusíadas: narrativa comentada da história de Portugal, Mensagem: metafísica do ser português; Lusíadas: heróis e mitos que narram as grandezas passadas. Mensagem: heróis e mitos que exaltam as façanhas do passado em função de um desesperado apelo para grandezas futuras;

A comparação entre "Os Lusíadas" e a "Mensagem" impõe-se pelo próprio facto de esta ser, a alguns séculos de distância e num tempo de decadência - o novo mito de pátria portuguesa.

Os Lusíadas Mensagem

 Homens reais com dimensões heróicas mas verosímeis;

 Heróis de carne e osso, bravos mas nunca infalíveis;

 Heróis mitificados, desincarnados, carregando dimensões simbólicas  Brasão → Terra → Nun’Álvares Pereira  Mar Português

Mar → Infante D. Henrique

O encoberto → Ar

→ D. Sebastião

(de uma terra de dimensões

conhecidas parte-se à descoberta do mar e constrói-se um império. Depois

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o império se desfez e o sonhos e o Encoberto são a raiz a esperança de um Quinto Império)

 Herói colectivo: o povo português  Virtudes e manhas

 Heróis individuais exemplares (símbolos)  D. Sebastião (rei menino) a quem

Os Lusíadas são dedicados; “tenro e novo ramo”

 D. Sebastião mito “loucura sadia”

Sonho, ambição

(repare-se que d. Sebastião é a última figura da história a ser mencionada, como se quisesse dizer que Portugal mergulhou, depois do seu desaparecimento num longo período de letargia)  Celebração do passado – história  Glorificação do futuro –

símbolos

 Messianismo a mola real de Portugal

  Narrativa comentada da história

de Portugal (cf. Jorge Borges de Macedo) Teoria da história de Portugal

 Metafísica do Ser português

 Três mitos basilares: o Adamastor o Velho do Restelo o A ilha dos amores

 Tudo é mito

“O mito é o nada que é tudo”

 Acção  Contemplação

 Altiva rejeição do real  Império feito e acabado  Portugal indefinido,

atemporal

  Saudade profética →

saudades do futuro  Façanhas dos barões assinalados  Matéria dos sonhos

 Temporalidade  Atemporalidade mística

 Síntese pagã e cristã  Síntese total (sincretismo religioso)

 D. Sebastião como enviado de Deus para alargar a Cristandade

 Portugal como instrumento de Deus

(os heróis cumprem um destino que os ultrapassa)

 Cabeça da Europa  Rosto da Europa que aguarda expectante o que virá O projecto da Mensagem é o de superar o carácter obsessivo e nacional d’Os Lusíadas no imaginário mítico-poético nacional. Os Lusíadas conquistaram o título de “evangelho nacional” e foram elevados à categoria de símbolo nacional. A

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Mensagem logo no seu título aponta para um novo evangelho, num sentido místico, ideia de missão e de vocação universal. O próprio título indicia uma revelação, uma iniciação.

Pessoa previa para breve o aparecimento do “Supra-Camões” que anunciará o “Supra-Portugal de amanhã”, a “busca de uma Índia Nova”, o tal “porto sempre por achar”.

A Mensagem entrelaça-se, através de um complexo processo intertextual, com Os Lusíadas, que por sua vez são já um reflexo intertextual da Eneida e da Odisseia. Estabelece-se portanto um diálogo que perpassa múltiplos tempos históricos. Pessoa transforma-se num arquitecto que edifica uma obra nova, com modernidade, mas também com a herança da memória.

Em Camões memória e esperança estão no mesmo plano. Em Pessoa, o objecto da esperança transferiu-se para o sonho, daí a diferente concepção de heroísmo. Pessoa identifica-se com os heróis da Mensagem ou neles se desdobra num processo lírico-dramático. O amor da pátria converte-se numa atitude metafísica, definível pela decepção do real, por uma loucura consciente. Revivendo a fé no Quinto Império, Pessoa reinventou uma razão de ser, um destino para fugir a um quotidiano

absurdo.

O assunto da Mensagem é a essência de Portugal e a sua missão por cumprir. Portugal é reduzido a um pensamento que descarna e especializa as personagens da história nacional.

A Mensagem é o sonho de um império sem fronteiras nem ocaso. A viagem real é metamorfoseada na busca do “porto sempre por achar”.

“A Mensagem comparada com Os Lusíadas é um passo em frente. Enquanto Camões, em Os Lusíadas, conseguiu fazer a síntese entre o mundo pagão e o mundo cristão, Pessoa na Mensagem conseguiu ir mais longe estabelecendo uma harmonia total, perfeita, entre o mundo pagão, o mundo cristão e o mundo esotérico.”

Quadro-Síntese

Temáticas

Estilísticas

Nível Fónico Nível Morfossintático e semântico - Nacionalismo mítico; - Sebastianismo e saudosismo; - Simbolismo templário e rosacruciano; - A ideia de predestinação nacional;

- A mitificação dos heróis; - Intuição de um destino colectivo;

- Ocultismo procura de uma correspondência entre o visível e o invisível. - Musicalidade: - Rima; - Ritmo; - Aliteração; - Versificação regular e tradicional: variedade atrófica, com predomínio da quadra e da quintilha; - Encavalgamento. - Expressão épico-lírica; - Linguagem metafórica, aforística, solene, simbólica; - Paradoxo, antítese e oxímoro; - Hiperbarto.

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Heterónimos

Comparação entre Alberto Caeiro e Ricardo Reis: A nível de conteúdo estes dois heterónimos aproximma-se principalmente pelo modo como tentam encarar a vida: tanto Caeiro como Reis, além de considerarem que a felicidade só se alcança através de uma vida serena e em comunhão com a natureza (aurea mediocritas), defendem a vivência plena do presente, sem preocupação nem com o passado nem com o futuro (carpe diem, desfrutar de cada momento).

No entanto, pode verificar-se que são grandes as diferenças entre eles. Enquanto que Reis é caracterizado pela intelectualização das emoções e pelo medo perante a morte, Caeiro é exactamente o poeta das sensações, considerando o pensamento como uma entrave à observação da natureza, e é o poeta que não se preocupa com a passagem do tempo. Outra grande diferença é que Caeiro acredita (num só) Deus enquanto elemento da natureza (tudo é divino), ao passo que Ricardo Reis crê em vários deuses pois identifica-se com a civilização grega.

A nível formal estes dois heterónimos são o oposto: de um lado temos Caeiro com a sua linguagem simples e familiar, a sua despreocupação a nível fónico, a sua irregularidade estrófica, métrica e rítmica e as suas frases essencialmente coordenadas; e, de outro, temos Ricardo Reis com toda a sua complexidade – estrofes e métrica regulares, predomínio da subordinação e linguagem erudita, cheia de simbolismos clássicos.

Comparação entre Alberto Caeiro e Álvaro de Campos: Não é de estranhar que estes dois poetas não tenham muito em comum, uma vez que um é o poeta natural e pacífico, e o outro é o poeta da modernidade, da técnica e é caracterizado por um certa violência e agressividade. No entanto, apesar destes contrastes, têm alguns pontos em comum, considerando a 2ªfase de A. Campos: ambos são poetas solitários, rejeitam a subjectividade da lírica tradicional, tentando ser objectivos na observação do real, e neles predominam as sensações visuais. As maiores divergências, a nível temático, verificam-se na concepção do tempo (para Caeiro só existe o presente, para Campos o presente é a concentração de todos os tempos), no objecto da sua poesia (Caeiro exulta as qualidades da natureza e Campos, na 2ªfase, exulta as da civilização moderna), e na atitude perante a vida (enquanto Caeiro é feliz, Campos – na 3ªfase – é um homem sem identidade e cansado de viver, pois a vida nunca lhe trouxe nada de bom).

A nível formal, apesar de ambos se caracterizarem pela irregularidade estrófica, métrica e rítmica, verifica-se que, enquanto Caeiro utiliza uma linguagem simples e com poucos artifícios, Campos distingue-se pelo recurso a um grande número de figuras de estilo (que tornam a compreensão da mensagem mais difícil), e

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por uma exuberância que choca evidentemente com a simplicidade e serenidade dos versos do mestre Caeiro.

Comparação entre Álvaro de Campos e Ricardo Reis: Álvaro de Campos foi um poeta que, pelo seu estilo eufórico e, mais tarde, disfórico, se afastou dos outros heterónimos, já que estes procuravam a serenidade, que Campos também procurava, de uma forma mais tranquila. Assim, são poucas as semelhanças entre RR e Campos: tanto Canpos (na 3ªfase) como Reis se angustiam perante a efemeridade da vida, consideram a infância como momento de maior felicidade e aceitam o seu destino (conformismo). No entanto, neste último ponto, os motivos para essa aceitação são diferentes: enquanto que Reis o aceita pois considera que essa é a melhor forma de ser feliz, Campos fá-lo numa atitude de resignação perante a vida, não deixando de se sentir infeliz por aquilo que ela lhe reservou. Aquilo que mais os distancia é a sua relação com a realidade – campos vive em eterno conflito com a humanidade e reis “dá-lhe conselhos” (através da 1ªpessoa do plural no imperativo) – e a solidão que caracteriza campos na 3ªfase.

A nível formal tanto um como outro apresentam versos brancos, embora Reis seja regular a nível estrófico e métrico. Pode verificar-se que Álvaro de campos, na 2ªfase, utiliza a ode como forma de expressão, tal como Ricardo Reis. Nestes dos heterónimos pode encontrar-se grande riqueza a nível estilístico, nomeadamente no que respeita a assonância e a aliteração, e uma utilização frequente do modo imperativo. No entanto, enquanto que Ricardo Reis submete a expressão ao conteúdo, Campos valoriza mais a expressividade dos seus poemas, sendo que esta acaba por se sobrepor ao seu conteúdo – ou acabar por resumir o último.

Características comuns aos três: encontram-se, nos heterónimos, dois factores comuns a todos eles. Primeiro, a descoberta de um equilíbrio entre o sentir e o pensar: Caeiro encontra-se através da natureza; Reis encontra-se através do equilíbrio entre a dor e o prazer; e Campos não se encontra. Em segundo lugar, verifica-se que todos associam à infância o momento em que foram verdadeiramente felizes – porque ingénuos e inocentes. No entanto, enquanto que Reis e Caeiro acreditam poder voltar a ser felizes como foram em criança, campos considera essa felicidade perdida, pois só é feliz se for inconsciente, o que só aconteceu na sua infância, na pré-consciência.

Alberto Caeiro

Para Caeiro fazer poesia é uma atitude involuntária, espontânea, pois vive no presente, não querendo saber de outros tempos, e de impressões, sobretudo visuais, e porque recusa a introspecção, a subjectividade, sendo o poeta do real objectivo.

Caeiro canta o viver sem dor, o envelhecer sem angústia, o morrer sem desespero, o fazer coincidir o ser com o estar, o combate ao vício de pensar, o ser um ser uno, e não fragmentado.

• Discurso poético de características oralizantes (de acordo com a simplicidade das ideias que apresenta): vocabulário corrente, simples, frases curtas, repetições, frases interrogativas, recurso a perguntas e respostas, reticências;

• Apologia da visão como valor essencial (ciência de ver)

• Relação de harmonia com a Natureza (poeta da natureza)

• Rejeita o pensamento, os sentimentos, e a linguagem porque desvirtuam a realidade (a nostalgia, o anseio, o receio são emoções que perturbam a nitidez da visão de que depende a clareza de espírito)

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Características da escrita - Verso livre; - Métrica irregular; - Pobreza lexical; - Adjectivação objectiva; - Pontuação lógica; - Predomínio da coordenação; - Comparações simples;

- Características orais: vocabulário corrente, simples, frases curtas, repetições, frases interrogativas, recursos a perguntas e respostas, reticências;

- Pouca subordinação;

- Ausência de preocupações estilísticas;

- Número reduzido de vocábulos e de classes de palavras: pouca adjectivação, predomínio de substantivos concretos, uso de verbos no presente do indicativo ou no gerúndio; - Polissíndeto: - Frases incorrectas. Objectivismo - Apagamento do sujeito; - Atitude antilírica;

- Atenção à “eterna novidade do mundo”; - Integração e comunhão com a Natureza; - Poeta deambulatório.

Sensacionismo

- Poeta das sensações tal como elas são; - Poeta do olhar;

- Predomínio das sensações visuais e das auditivas. Anti-metafísico

- Recusa do pensamento; - Recusa do mistério; - Recusa do misticismo. Panteísmo Naturalista

- Tudo é Deus, as coisas são divinas; - Paganismo;

- Desvalorização do tempo enquanto categoria conceptual; - Contradição entre “teoria” e a “prática”.

Ideologia da poesia de Caeiro

- Para Caeiro fazer poesia é uma atitude involuntária, espontânea e de impressões visuais, sobretudo;

- Recusa a introspecção e a subjectividade, sendo poeta do real objectivo; - Caeiro “canta” o viver sem dor, o envelhecer sem angústia, o morrer sem

desespero, o fazer coincidir o ser com o estar, o combate ao vício de pensar, o ser um ser uno e não fragmentado;

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- Apologia da visão como valor essencial (ciência de ver); - Relação de harmonia com a natureza 8poeta da natureza); - Rejeita o pensamento e a linguagem porque alteram a realidade; - Inocência e constante novidade das coisas;

- Mestre de pessoa e dos outros heterónimos; - Elimina a dor de pensar de Pessoa;

- Ele não quer pensar, mas não consegue evitar; - Escreve intuitivamente;

- Para ele a natureza é para usufruir não para pensar; - Desejo de despersonificação (de fusão com a natureza); - Valorização das sensações;

- Preocupação apenas com o presente; - É anti-religião; - É anti-metafísica; - É anti-filosofia. Características estilísticas - Verso livre; - Métrica irregular;

- Despreocupação a nível fónico;

- Pobreza lexical (linguagem simples, familiar); - Adjectivação objectiva;

- Pontuação lógica;

- Predomínio do presente do indicativo; - Frases simples;

- Predomínio da coordenação; - Comparações simples; - Raras metáforas. Biografia

A partir da carta a Adolfo Casais Monteiro: * Nasceu em Lisboa (1889);

* Morreu tuberculoso em 1915;

* Viveu quase toda a sua vida no campo; * Só teve instrução primária;

* Não teve educação, nem profissão; * Escreve por inspiração.

Filosofia de Caeiro: * É anti-religião; * É anti-metafísica; * É anti-filosofia. Fisicamente: * Estatura média; * Frágil;

* Louro, quase sem cor; * Olhos azuis;

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Quadro-Síntese:

Temáticas Estilísticas

- Objectivismo

- Apagamento do sujeito - Preferência pela exterioridade - Integração e comunhão com a natureza

- Sensacionismo: predomínio das sensações visuais ( o olhar) e auditivas

- Recusa do pensamento, do metafísico, do mistério, da filosofia e do misticismo.

- A ruralidade e o deambulismo - O paganismo

- A desvalorização do tempo: “Não quero incluir o tempo no meu esquema”

- Verso livre, portanto avesso a quaisquer esquenas métricos, rimáticos ou melódicos

- Prosaísmo da linguagem (simples e familiar)

- Raras assonâncias, aliterações ou onomatopeias

- Pobreza lexical

- Anáfora, anadiplose, paralelismo, assíndeto, polissíndeto, tautologia e

comparação (figura de estilo predominante) - Adjectivação pobre, descritiva e objectiva

- Raras metáforas, metonímias e sinestesias

- Preponderância do Presente do Indicativo (por traduzir realidade)

- Estilo discursivo - Marcas de oralidade

- Predomínio da coordenação e das frases simples

Ricardo Reis

Biografia:

- Nasce a 1887, no Porto

- É um pouco baixo, mais seco e mais forte que Caeiro. Tem a cara rapada e é moreno mate

- Surge como produto do pensamento abstracto de Pessoa

- Frequentou um colégio Jesuíta e estudou medicina; é latinista e semi helenista por auto – didactismo

- Habita no Brasil desde 1919 Características de escrita:

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- Exagerado

- Purismo da língua - Pagão

- Disciplinado mentalmente

- O Verso não tem rima, porque se os pensamentos são elevados as palavras também fluem superiormente

- Todos os seus poemas são Odes

- Recurso à assonância, à rima interior e à aliteração - Uso frequente do gerúndio e do imperativo

- Uso de latinismos

- Metáforas, eufemismos, comparações, imagens - Importância dada ao ritmo

- Estilo construído com muito rigor e muito denso (Ode) Ode:

- Versos decassílabos e hexassílabos (geralmente alternados) - Linguagem erudita (próxima do latim, muito cuidada) - Hipérbato (desorganização dos elementos da frase) - Transporte

- Tom Elevado Filosofia:

* “Epicurista triste”- (Carpe Diem)- busca do prazer moderado a da ataraxia; * Busca do prazer relativo;

* Estoicismo – aceitação calma e serena da ordem das coisas;

* Moralista – pretende levar os outros a adoptar a sua filosofia de vida; * Intelectualiza as emoções;

* Temática da miséria da condição humana do FATUM (destino), da velhice, da irreversibilidade da morte e da efemeridade da vida, do tempo;

* Espírito grave, ansioso de perfeição;

* Aceitação do Fado, da ordem natural das coisas;

A filosofia de Reis rege-se pelo ideal “Carpe Diem”, a sabedoria consiste em saber-se aproveitar o presente, porque se sabe que a vida é breve. Há que nos

contentarmos com o que o destino nos trouxe. Há que viver com moderação, sem nos apegarmos Às coisas, e por isso as paixões devem ser comedidas, para que a hora da morte não seja demasiado dolorosa.

Aceita a relatividade e fugacidade das coisas. Intelectualiza as emoções.

Temática da miséria da condição humana do destino, da velhice, da irreversibilidade da morte e da efemeridade da vida, do tempo.

Espírito grave, ansioso de perfeição. Neoclassicismo

- Poesia construída com base em ideias elevada - Odes (forma métrica por excelência

Paganismo

- Crença nos deuses

- Crença na civilização da Grécia

- Sente-se um “estrangeiro” fora da sua pátria, a Grécia Horacianismo

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- aurea mediocritas: a felicidade possível no sossego do campo (proximidade de Caeiro)

- Culto do Belo, como forma de superar a efermeridade dos bens e a miséria da vida

- Intelectualização das emoções - Medo da morte

- Quase ausência de erotismo, em contraste com o seu mestre Horácio Estoicismo

- Aceitação das leis do destino (“... a vida/ passa e não fica, nada deixa e nunca regressa.”)

- Indiferença face às paixões e à dor - Abdicação de lutar

- Autodisciplina

- Considera ser possível encontrar a felicidade desde que se viva em conformidade com as leis do destino que regem o mundo permanecendo indiferente aos males e às paixões, que são a perturbação da razão

Classicismo erudito:

- Precisão verbal

- Recurso à mitologia (crença e culto aos deuses) - Princípio de moral e da estética epicurista e estóica - Tranquila resignação ao destino

Epicurismo:

- Prazer do momento

- Caminho da felicidade, alcançada pela indiferença à perturbação - Não cede aos impulsos dos instintos

- Ataraxia (tranquilidade sem qualquer perturbação) - Calma, ou pelo menos a sua ilusão

- Ideal ético de apatia que permite a ausência da paixão e a liberdade - Busca da felicidade relativa

- Moderação nos prazeres - Fuga à dor

- Ataraxia (tranquilidade capaz de evitar a perturbação)

“Reis […] manifesta uma aguda mas estóica sensibilidade em relação ao tema da

passagem do tempo.”

Ricardo Reis, heterónimo de Fernando Pessoa, é o poeta clássico, da serenidade epicurista, que aceita, com calma lucidez, a relatividade e a fugacidade de todas as coisas. “Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio”, “Prefiro rosas, meu amor, à pátria” ou “Segue o teu destino” são poemas que nos mostram que este discípulo de Caeiro aceita a antiga crença nos deuses, enquanto disciplinadora das nossas emoções e sentimentos, mas defende, sobretudo, a busca de uma felicidade relativa alcançada pela indiferença à perturbação.

A filosofia de Ricardo Reis é a de um epicurismo triste, pois defende o prazer do momento, o “carpe diem”, como caminho da felicidade, mas sem ceder aos impulsos dos instintos. Apesar deste prazer que procura e da felicidade que deseja

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alcançar, considera que nunca se consegue a verdadeira calma e tranquilidade – ataraxia.

Ricardo Reis propõe, pois, uma filosofia moral de acordo com os princípios do epicurismo e uma filosofia estóica:

- “Carpe diem” (aproveitai o dia), ou seja, aproveitai a vida em cada dia, como caminho da felicidade;

- Buscar a felicidade com tranquilidade (ataraxia); - Não ceder aos impulsos dos instintos (estoicismo); - Procurar a calma, ou pelo menos, a sua ilusão;

- Seguir o ideal ético da apatia que permite a ausência da paixão e a liberdade (sobre esta apenas pesa o Fado).

Ricardo Reis, que adquiriu a lição do paganismo espontâneo de Caeiro, cultiva um neoclassicismo neo-pagão (crê nos deuses e nas presenças quase divinas que habitam todas as coisas), recorrendo à mitologia greco-latina, e considera a brevidade, a fugacidade e a transitoriedade da vida, pois sabe que o tempo passa e tudo é efémero. Daí fazer a apologia da indiferença solene diante o poder dos teus e do destino inelutável. Considera que a verdadeira sabedoria de vida é viver de forma equilibrada e serena, “sem desassossegos grandes”.

A precisão verbal e o recurso à mitologia, associados aos princípios da moral e da estética epicuristas e estóicas ou à tranquila resignação ao destino, são marcas do classicismo erudito de Reis. Poeta clássico da serenidade, Ricardo Reis privilegia a ode, o epigrama e a elegia. A frase concisa e a sintaxe clássica latina, frequentemente com a inversão da ordem lógica (hipérbatos), favorecem o ritmo das suas ideias lúcidas e disciplinadas.

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Quadro-Síntese:

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- O Epicurismo, busca de uma felicidade relativa, sem desprazer ou dor, através de um estado de ataraxia, isto é, uma certa tranquilidade ou indiferença capaz de evitar a perturbação

- O Estoicismo, crença de que a felicidade só é possível se atingirmos a apatia, isto é, a aceitação das leis do destino e da indiferença face às paixões a aos males

- O Paganismo

- A passagem inelutável do tempo - A precariedade da vida e a fatalidade da Morte

- A moderação dos desejos e dos prazeres

- O culto do belo, como forma de superar a transitoriedade da vida e dos bens terrenos

- As ameaças do Fatum (entidade implacável que oprime deuses e homens), da Velhice e da Morte

- O Elogio da vida rústica ( a “aurea mediocritas” de Horácio): a felicidade só é possível no sossego d campo

- O gozo do momento que passa, o “carpe diem” horaciano

- A tentativa de iludi o sofrimento resultante da consciência aguda da precariedade da vida, do fluir contínuo do tempo e da fatalidade da morte, através do sorriso, do vinho e das flores.

- A intelectualização das emoções - A intemporalidade das suas preocupações: a angústia do homem perante a brevidade da vida e a inevitabilidade da Morte e a interminável busca de estratégias de limitação do sofrimento da vida humana

- O autodomínio e a contenção dos sentimentos

- A quase ausência de erotismo, de amor autêntico

- Submissão da expressão ao conteúdo, às ideias

- A complexidade da sintaxe alatinada: o A antecipação do

complemento directo ao verbo

o A inesperada ordem das palavras que nos obriga a uma leitura silabada

- O uso de latinismo: atro, ledo, ínfero, inscientes, volucres, vila, etc

- A frequência da inversão (anástrofe e hipérbato) e da elipse

- As perífrases que remetem para um contexto religioso e mitológico grego ou laitno

- Estilo denso e rigorosamente elaborado.

- A preferência pela ode, com estrofes regulares em verso decassílabo, alternando ou não com o hexassílabo

- Uso frequente do gerúndio - Selecção cuidada de fonemas ou vocábulos sugestivos das ideias que pretende exprimir (a elevação, a nobreza, o

classicismo da linguagem poética)

- Verso branco ou solto, recorrendo embora, com frequência, à assonância, à aliteração e à rima interior

- Uso frequente do imperativo ( de acordo com a feição moralista das odes)

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Álvaro de Campos surge quando Fernando Pessoa sente “um impulso para escrever”. O próprio Pessoa considera que Campos se encontra no «extremo oposto, inteiramente oposto, a Ricardo Reis”, apesar de ser como este um discípulo de Caeiro.

Campos é o “filho indisciplinado da sensação e para ele a sensação é tudo. O sensacionismo faz da sensação a realidade da vida e a base da arte. O eu do poeta tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência ou possibilidade de existir. Este heterónimo aprende de Caeiro a urgência de sentir, mas não lhe basta a «sensação das coisas como são»: procura a totalização das sensações e das percepções conforme as sente, ou como ele próprio afirma “sentir tudo de todas as maneiras”. Engenheiro naval e viajante, Álvaro de Campos é figurado “biograficamente” por Pessoa como vanguardista e cosmopolita, espelhando-se este seu perfil particularmente nos poemas em que exalta, em tom futurista, a civilização moderna e os valores do progresso.

Cantor do mundo moderno, o poeta procura incessantemente “sentir tudo de todas as maneiras”, seja a força explosiva dos mecanismos, seja a velocidade, seja o próprio desejo de partir. “Poeta da modernidade”, Campos tanto celebra, em poemas de estilo torrencial, amplo, delirante e até violento, a civilização industrial e mecânica, como expressa o desencanto do quotidiano citadino, adoptando sempre o ponto de vista do homem da cidade.

O drama de Álvaro Campos concretiza-se num apelo dilacerante entre o amor do mundo e da humanidade; é uma espécie de frustração total feita de incapacidade de unificar em si pensamento e sentimento, mundo exterior e mundo interior. Revela, como Pessoa, a mesma inadaptação à existência e a mesma demissão da personalidade íntegra., o cepticismo, a dor de pensar e a nostalgia da infância.

Biografia

• Nasce em Tavira, em 1890

• Estuda engenharia mecânica e naval na Escócia

• “Filho indisciplinado da sensação e para ele a sensação é tudo. O sensacionismo faz da sensação a realidade da vida e a base da arte.”

• “Sentir tudo de todas as maneiras”

• Vanguardista e cosmopolita

• Único heterónimo que comparticipa da vida extra literária de Fernando Pessoa heterónimo

Fases

Primeira – decadentismo (1914)

Exprime o tédio, o cansaço e a necessidade de novas sensações (“Opiário”); o decadentismo surge como uma atitude estética finissecular que exprime o tédio, o enfado, a náusea, o cansaço, o abatimento e a necessidade de novas sensações. Traduz a falta de um sentido para a vida e a necessidade de fuga à monotonia. Com rebuscamento, preciosismo, símbolos e imagens apresenta-se marcado pelo Romantismo e pelo Simbolismo.

• Tédio, cansaço, necessidade de novas sensações

• Falta de um sentido para a vida

• Romantismo e simbolismo

• Nostalgia

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• Embriaguez do ópio

• Horror à vida

• Realismo satírico

• Vocabulário precioso e vulgar

• Imagens

• Símbolos

• Estilo confessional brusco

• Decassílabos agrupados em quadras

• “Opiário “

Segunda – Futurismo (1914 a 1916)

Nesta fase, Álvaro de Campos celebra o triunfo da máquina, da energia mecânica e da civilização moderna. Sente-se nos poemas uma atracção quase erótica pelas máquinas, símbolo da vida moderna. Campos apresenta a beleza dos “maquinismos em fúria” e da força da máquina por oposição à beleza tradicionalmente concebida. Exalta o progresso técnico, essa “nova revelação metálica e dinâmica de Deus”. A “Ode Triunfal” ou a “Ode Marítima” são bem o exemplo desta intensidade e totalização das sensações. A par da paixão pela máquina, há a náusea, a neurastenia provocada pela poluição física e moral da vida moderna.

• Elogio da civilização industrial e da técnica

• Triunfo da máquina, beleza dos “maquinistas em fúria”

• Intelectualização das sensações, delírio sensorial

• Não aristotélica

• Sado masoquismo

• Cantar lúcido do mundo moderno

• Influência de Walt Whitman

• Vertigem das sensações modernas

• Volúpia da imaginação

• Hipertrofia ilimitada do eu

• Energia explosiva

• Impulsos inconscientes

• Verso livre, longo

• Estilo esfuziante, torrencial

• Anáforas, exclamações, interjeições, apóstrofes e enumerações

• Fantasia verbal

• Volúpia de ser objecto

• Vítima

• Dispersão

• “Ode triunfal”

Terceira fase – Pessoal ou Intimista (1916 a 1935)

Perante a incapacidade das realizações, traz de volta o abatimento, que provoca “Um supremíssimo cansaço, /íssimo, íssimo, íssimo, /Cansaço…”. Nesta fase, Campos sente-se vazio, um marginal, um incompreendido. Sofre fechado em si mesmo, angustiado e cansado. (“Esta velha angústia”; “Apontamento”; “Lisbon Revisited”).

• Melancolia

• Devaneio

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• Cepticismo

• Dor de pensar

• Saudades da Infância ou do Irreal

• Dissolução do eu

• Conflito entre a realidade e o poeta

• Cansaço, tédio e abulia

• Angústia existencial

• Solidão

• “Aniversário” e a “Tabacaria” Traços da sua poesia

• Poeta modernista

• Poeta sensacionista

• Cultor das sensações sem limite

• Poeta de verso livre

• Poeta de angústia existencial e da auto-ironia Traços estilísticos

• Verso livre em geral muito longo

• Assonâncias, onomatopeias, aliterações

• Grafismos expressivos

• Mistura de níveis de língua

• Enumerações excessivas, exclamações, interjeições e pontuação emotiva

• Desvios sintácticos

• Estrangeirismos e neologismos

• Subordinação de fonemas

• Construções nominais, infinitivas e gerundivas

• Metáforas ousadas, oximoros, personificações, hipérboles

• Estética não aristotélica na fase futurista.

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Temáticas Estilísticas - Apologia da civilização mecânica,

da indústria, da técnica (futurismo e sensacionismo): tentativa de romper com o subjectivismo da lírica tradicional

- Atitude escandalosa, chocante: transgressão de uma atitude moral estabelecida

- Traços de filosofia e anti-poesia

- Sadismo e masoquismo

- Ilusão: sonho; retorno impossível à infância; viagem

- Mais evolutivo que qualquer dos outros heterónimos (três fases)

- Última fase: conflito realidade/poeta: cansaço existencial, náusea, tédio, abulia; estranheza da realidade solidão; isolamento; dissolução do “eu”; ritmo lento

- Exclamação, apóstrofe repetida, interjeição, gradação (ascendente e descendente)

- Repetição, simetria de construção, assonância, aliteração, rima interior, enumeração desordenada, polissíndeto

- Construções nominais e infinitivas - Verso livre e, em geral, muito longo (duas ou três linhas) e com encavalgamento

- Onomatopeia - Grafismo inovador - Oxímoro

- Uso expressivo da pontuação: exclamação, interrogação, reticências

- Estrangeirismos, neologismos e susbstantivação de fonemas

- Metáfora, personificação e hipérbole

“Os Lusíadas”

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Características gerais do género épico:

o Uma acção épica expressiva de grandeza e heroísmo de uma forma solene

o Um protagonista que, além da sua alta estirpe social, devia revelar grande valor moral

o Unidade de acção

o Os episódios dão extensão à epopeia, mas servem, sobretudo, para a enriquecer, sem quebrar a unidade de acção

o A intervenção do maravilhoso na acção

o A utilização do modo narrativo, pelo poeta em seu próprio nome ou assumindo personalidades diversas

o A reduzida intervenção do poeta Características do género épico em “Os Lusíadas”:

a) A acção é a descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama, como acontecimento culminante da História de Portugal até à data da composição da obra e definidor do perfil do herói, isto é, o Povo Português, “o peito ilustre lusitano”

Haviam determinadas qualidades que a acção de uma epopeia devia reunir: a unidade, a variedade, a verdade e a integridade.

1. A unidade é, porventura, a característica fundamental, dado que exige que todas as suas partes ou séries de acontecimentos constituam um todo harmonioso

2. A variedade é conseguida através da inserção de episódios, cuja função é embelezar a acção e quebrar a monotonia de uma narração continuada, mas sempre sem prejudicar a unidade, através do estabelecimento hábil de uma relação como o acontecimento ou a figura de que a acção se ocupa em cada momento.

São variados os tipos de episódios que encontramos em “Os Lusíadas”:  Mitológicos  Bélicos  Líricos  Naturalistas  Simbólicos  Humorístico ou herói-cómico  Cavalheiresco

3. A verdade consiste no tratamento de um assunto real ou, pelo menos, verosímil

4. A integridade exige a estruturação de uma narrativa com princípio, meio e fim (introdução, desenvolvimento e conclusão)

b) A personagem - (os sujeitos ou heróis da acção) – o povo português, um herói colectivo, que na obra é simbolicamente representado por vasco da Gama

c) O maravilhoso, que consiste na intervenção, de entidades sobrenaturais na acção, umas favorecendo, outras dificultando. Cada interventor tem as suas razões para desejar o sucesso ou o insucesso dos marinheiros portugueses. d) A forma: “Os Lusíadas” são uma narrativa em verso, dividida em dez cantos, com um número aproximado de cento e dez estrofes cada. As estrofes são oitavas em verso decassilábico, geralmente heróico

O esquema rimático é fixo – ABABABCC – sendo, portanto, a rima cruzada nos seis primeiros versos e emparelhada nos dois últimos.

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Quadro-Síntese:

ELEMENTOS CONCRETIZAÇÃO EM “OS LUSÍADAS” CARACTERÍSTICAS - A acção acontecimentos representados ao longo da obra - viagem de Vasco da Gama, acontecimento culminante da história de Portugal

- Unidade ligação entre as diversas partes

- Variedade inserção de episódios para quebrar a monotonia e embelezar a acção

- Verdade assunto real, ou, pelo menos, verosímil

- Integridade criação de uma intriga com principio, meio e fim

- A personagem os agentes ou heróis da acção - Vasco da gama - O Povo Português - Camões - Etc

- individual e principal, com uma dimensão simbólica ( um povo de marinheiros)

- herói colectivo, fundamental numa epopeia

- herói individual

- Não são meros símbolos, têm paixões humaníssimas, identificam o êxito e o fracasso, a vitoria e a derrota - O maravilhoso

intervenção de seres sobrenaturais na acção

- Júpiter, Vénus, Marte, Baco, etc.

- Deus ( A Divina Providência Cristã)

- Pagão deuses pagãos - Cristão desuses do

cristianismo

- Misto mistura dos dois anteriores

A forma

- dez cantos

- narrativa em versos

decassílabicos, geralmente heróicos, agrupados em oitavas

- rima cruzada nos seis primeiros versos e emparelhada nos dois últimos

- esquema rimático: ABABABCC

A estrutura externa

A obra distribui-se por dez cantos, cada um deles com um número variável de estrofes (em média cento e dez). O número total de estrofes da epopeia é de mil cento e duas. As estrofes são oitavas, isto é, constituídas por oito versos. Os versos são decassilábicos, na sua maioria heróicos (acentuados nas 6º e 10ª sílabas), surgindo, também, por vezes, o verso sáfico (acentuado nas 4º, 8ª e 10ªsílabas).

O esquema rimático é o mesmo em todas as estrofes da obra - ABABABCC, sendo, portanto, a rima cruzada nos seis primeiros versos e emparelhada nos dois últimos.

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“Os Lusíadas” apresenta as tradicionais três partes lógicas: introdução, desenvolvimento e conclusão.

Assim, das quatro partes de uma epopeia clássica (proposição, invocação, dedicatória e narração) constituem as três primeiras a introdução (I, 1-18 ); a narração constituirá o desenvolvimento; e considerar-se-á concluída quando os marinheiros entrarem “pela foz do Tejo ameno” (X, 144). A conclusão, ou epílogo, inclui as restantes doze estrofes do canto X (145-156) e exprime um desabafo desencantado perante a Musa e uma exortação final a D.Sebastião, prometendo cantar-lhe os feitos futuros.

Introdução (proposição, invocação e dedicatória) A proposição

Consiste na apresentação do assunto (Canto I, 1-3), em que Camões proclama cantar as grandes vitórias e os homens ilustres (“As armas e os barões assinalados”), as conquistas e navegações no Oriente (reinados de D. Manuel e de D. João III), as vitórias em África e na Ásia (desde D. João I a D. Manuel), que dilataram “a Fé e o Império” e, por último, todos aqueles que “por obras valorosas se vão da lei Morte libertando”, todos aqueles que, no passado, no presente e no futuro, mereceram, merecem ou vieram a merecer a imortalidade” na memória dos homens.

Predomínio da função apelativa, pelo uso do conjuntivo com sentido de imperativo (cessem, cale-se, cesse) e pela repetição daquelas formas verbais sinónimas.

A invocação

Consiste em pedir ajuda a entidades mitológicas, chamadas Musas. Isso acontece várias vezes ao longo do poema, sempre que o sujeito da enunciação sente faltar-lhe a inspiração suficiente, seja em resultado da grandeza da tarefa que se lhe impõe, seja porque as condições são adversas. Todavia, no canto X, estrofe 145, Camões dirige-se, finalmente, à Musas (Calíope) para um lamento sincero e a confissão de “não mais” poder “cantar a gente surda e endurecida”.

Predomínio, ainda, da função apelativa da linguagem, pelo uso do imperativo, do vocativo, e da repetição anafórica.

Pretende Camões, nestas duas estrofes, que as tágides lhe dêem um estilo sublime, à altura dos feitos que se propõe narrar e de forma que a gesta lusíada se torne conhecida em todo o universo. Não lhe interessa, agora, a inspiração lírica e bucólica que as Musas lhe prodigalizaram. Pretende agora voar mais alto.

A dedicatória

A dedicatória (I, 6-18) é o oferecimento do poema a D. Sebastião. O carácter oratório do discurso é que determina o uso da 2ª pessoa do plural (“vós”), do modo imperativo (“inclinai”, “ponde”) e de numerosas apóstrofes.

D. Sebastião encarna toda a esperança do poeta que quer ver nele um monarca poderoso, capaz de retomar a “dilatação da Fé e do Império” e de ultrapassar a crise do momento.

Camões dirige-se a D. Sebastião, usando repetidamente a cerimoniosa 2ª pessoa do plural e sucessivas apóstrofes e perífrases altamente elogiosas, vendo nele o depositário providencial da independência da Pátria e a garantia

Referências

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