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Oficina de Diálogo e Convergências no Território Serra Catarinense. Lages - SC, 17 e 18 de novembro de 2010

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Oficina de Diálogo e Convergências no Território Serra Catarinense

Lages - SC, 17 e 18 de novembro de 2010

Súmula do Relatório:

A Oficina de Diálogo e Convergências no Território Serra Catarinense constituiu um dos eventos preparatórios ao Encontro Nacional de Diálogo e Convergências: Agroecologia,

Saúde e Justiça Ambiental, Soberania Alimentar e Economia Solidária, a realizar-se em

Salvador - BA no primeiro semestre de 2011. Trata-se de iniciativa de diversas redes e organizações1 que compartilham uma leitura comum a respeito da crise civilizatória que vivemos (incluídas aí as crises econômica, socioambiental, energética e alimentar) e dos problemas concernentes ao modelo de desenvolvimento hoje dominante no País, e que perceberam a necessidade política de contribuir para a reversão da fragmentação do campo democrático e popular que existe no Brasil e construir novas convergências juntando suas forças.

Neste contexto, a Oficina realizada em Santa Catarina consistiu num exercício no sentido de avaliar como a disputa do território vem se construindo, como a experiência coletiva da Rede de Agroecologia do Território Serra Catarinense pode constituir um campo de diálogo entre diferentes organizações e redes que atuam no enfrentamento ao agronegócio, bem como analisar as consequências que esta interação pode resultar na promoção da agricultura familiar de base agroecológica.

Para fomentar os debates, foram apresentadas as experiências da Rede de Agroecologia do Território Serra Catarinense, da Cooperativa Ecoserra, do FBSSAN - Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, da RBJA - Rede Brasileira de Justiça Ambiental, dos Fóruns Brasileiro e Catarinense de Economia Solidária, do MMC - Movimento de Mulheres Camponesas e da área de comunicação da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio / Fiocruz.

Diálogos sobre Economia Solidária

- A partir da II Conferência de Economia Solidária, o movimento começou a pleitear a criação de um ministério. Na campanha do 2o. turno das eleições presidenciais o movimento questionou o fato de a Dilma não ter tocado na questão da Economia Solidária. A assinatura do decreto que cria o Sistema Nacional de Comércio Justo e Solidário (Decreto 7.358/2010) e do decreto que dispõe sobre o Programa Nacional de Incubadoras de Cooperativas Populares - PRONINC (Decreto 7.357/2010) representa um passo importante na criação do marco legal. O movimento também está avaliando como 1 Articulação Nacional de Agroecologia (ANA); Associação Brasileira de Agroecologia

(ABA-Agroecologia); Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES); Rede Brasileira de Justiça Ambiental (RBJA); Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN); Grupo de Trabalho de Saúde e Ambiente da Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (ABRASCO); Rede Alerta contra o Deserto Verde (RADV); Marcha Mundial das Mulheres (MMM); e Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB).

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positivos os resultados políticos das eleições e planeja agora trabalhar em duas frentes: incidência sobre parlamentares eleitos para que o projeto de lei da Economia Solidária seja apresentado no Congresso e, paralelamente, seguir com a coleta de assinaturas para dar peso político à proposta. Quem sabe possamos no Encontro de Diálogo e Convergências avançar nessa discussão de fundo e passar a lutar pela criação de um Ministério do Desenvolvimento Territorial, ao invés de apenas “Economia Solidária”? - O Fórum Catarinense de Economia Solidária costuma se reunir a cada dois meses. Destas reuniões participam representantes de dois empreendimentos de cada região (um rural e um urbano) e um gestor. Ultimamente tem havido uma certa dificuldade de envolver e fazer representar os empreendimentos urbanos neste colegiado. O Fórum está se refortalecendo e a participação dos empreendimentos do meio rural tem sido muito importante.

- Existem as feiras organizadas pelo movimento da Economia Solidária, as feiras organizadas pelos grupos da Agroecologia, e outras reúnem os dois movimentos. Encontros como esta Oficina Territorial são importantes para que as pessoas possam se enxergar no conjunto, encontrar afinidades e se articular.

- O mapeamento da Economia Solidária realizado no Brasil não foi conduzido pelos

Fóruns de Economia Solidária, mas sim pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Em SC foram mapeados quase novecentos empreendimentos da Economia Solidária, mas estes empreendimentos não estão nos Fóruns (onde estão eles?). Na verdade, nem sabemos se estes empreendimentos identificados de fato existem e se são mesmo de economia solidária. Seria ótimo se conseguíssemos fazer um cruzamento entre o mapa da Economia Solidária e o do Agroecologia em Rede no Território Serra Catarinense: os atores locais conhecem muito a região e podem ajudar a identificar os empreendimentos autênticos.

Diálogos sobre Segurança e Soberania Alimentar e Nutricional

- Cristina Ramos, que é membro do Consea Nacional, também tem participado das discussões sobre alimentação adequada no estado de SC. As organizações do estado estão começando a se aproximar dos Conseas municipais e fazer a ponte entre eles, o Consea estadual e o nacional. Também têm mantido relação razoável com a Secretaria de Assistência Social, Trabalho e Emprego, onde estão vinculados os conselhos, e já fizeram vários diálogos com o novo secretário, que quer continuar no cargo no próximo governo. - As organizações de SC estão enfrentando dificuldade para implementar no estado a Lei Orgânica da Segurança Alimentar e Nutricional (Losan), especialmente no que diz respeito à composição do Consea e à participação da sociedade civil. Mas têm conseguido dialogar bem com outras instituições, particularmente o Ministério Público Estadual, que criou um GT para controlar o uso de agrotóxicos em SC. Através de Termo de Cooperação firmado entre o MP, a Vigilância Sanitária e outros órgãos estaduais foi criado um programa de monitoramento de resíduos de agrotóxicos em alimentos vendidos no Ceasa. Houve também uma aproximação com a coordenação geral da Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAM).

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- A Cidasc (Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina) está também realizando um trabalho de monitoramento de resíduos de agrotóxicos em água em Campos Novos e os dados são alarmantes. É preciso também fazer essa discussão com eles.

- Para que as pessoas possam exercer seu direito de ter acesso a alimentos diversificados e saudáveis é preciso, antes, que haja a produção. E essa produção ainda é proporcionalmente pequena. Isso também mostra a importância de divulgar e reproduzir as iniciativas em agroecologia, e também de aproximar o consumidor do produtor. É preciso levar em conta também que a agroecologia tem promovido a melhoria da alimentação nas próprias famílias agricultoras.

- É preciso avançar na questão da formação das/os nutricionistas. O movimento agroecológico deve também buscar uma articulação com as/os nutricionistas e sensibilizá-las/os quanto à importância dos alimentos produzidos localmente e sob manejo agroecológico.

- Uma estratégia interessante é levar escolas para dentro das feiras. Algumas experiências, como a realização de um concurso para crianças apresentarem trabalhos na feira ou a apresentação de teatros de bonecos, tiveram resultados muito positivos.

Diálogos sobre Justiça Ambiental

- Há mais de um ano a nova Lei da Defensoria Pública determinou que todos os estados devem ter Defensoria Pública, com defensores concursados. Mas Santa Catarina ainda não tem. Atualmente a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) tem um contrato com o governo do estado para cumprir o papel da Defensoria – e há, por este motivo, forças políticas que trabalham contra a criação da Defensoria Pública em SC. Existe, por outro lado, um movimento no estado cobrando a sua criação, envolvendo sobretudo a Cáritas e os Promotores Populares Legais.

- A legislação ambiental impede o aumento das áreas de monocultura de pinus pelas empresas, mas elas estão contornando a restrição na região ao firmar contratos com pequenos proprietários. Propõe-se que as organizações articuladas na Rede de Agroecologia busquem documentos que possam comprovar informações como esta para subsidiar a equipe do Mapa da Injustiça Ambiental na construção de um caso sobre o pinus na Serra Catarinense. Depois que o caso estiver registrado no Mapa, as organizações poderão usar essa ferramenta nas ações de luta no território.

- Há outros casos a serem investigados também. Por exemplo, o município de Bom Retiro tem o maior índice de casos de crianças nascendo com lábio leporino (dez casos por ano). Qual será motivo? Será efeito de agrotóxicos? Questões como esta precisam ser investigadas e trazidas para discussão na Rede de Agroecologia. Há ainda conflitos antigos na região relacionados à expulsão de camponeses de comunidades afrodescendentes, ao uso da água (incluindo a sobre-exploração da água pelo pinus e

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pelas barragens e a consequente falta de água para moradores e para geração elétrica em pequenas usinas), a conflitos com indígenas, à terra, ao agronegócio, aos agrotóxicos... É importante que as organizações escolham ao menos um caso entre estes para investigar a fundo e incluir no Mapa de Injustiça Ambiental.

Diálogos sobre Gênero

- O I ENA (Encontro Nacional de Agroecologia) foi um marco importante para o tema do Gênero. Ele trouxe a possibilidade de a agroecologia discutir um modelo diferenciado de produção e, ao mesmo tempo, discutir temas como a divisão sexual do trabalho, a não remuneração da mulher e a ocupação de espaços políticos. Foi a partir do ENA que criou-se o GT-Gênero da ANA e começou-criou-se a discutir a criação de um projeto conjunto dentro da Rede de Agroecologia do Território Serra Catarinense sobre Gênero, Educação e Agroecologia. Vários projetos foram aprovados e levaram ao fortalecimento dos grupos de mulheres na região. Hoje há 21 grupos de mulheres, envolvendo 101 mulheres em 2 territórios, que estão discutindo várias questões na Rede de Agroecologia.

- Um aspecto a se observar é que o trabalho das mulheres desta região inclui atividades de formação técnica, o que é algo bastante diferente. No passado havia um percentual mínimo de mulheres no Brasil que participavam de cursos da assistência técnica tradicional (como de apicultura, por exemplo). O movimento “Nenhuma Mulher sem Documento”, pelo reconhecimento das mulheres trabalhadoras, foi muito importante e contribuiu para esta mudança.

Diálogos sobre Comunicação

É importante pensarmos na importância da comunicação como um direito humano. E para acessarmos e divulgarmos informações relevantes precisamos utilizar os diversos veículos de mídia alternativos que existem.

Na região está sendo discutida a criação de um projeto de comunicação – de fato é importante investir nesta proposta. É preciso, inclusive, observar que os produtos agroecológicos estão recebendo destaque na mídia e os agricultores estão sendo procurados. É preciso disputar os espaços existentes para a comunicação com a sociedade, mas é também importante criarmos nossos próprios meios de comunicação.

Comercialização de produtos agroecológicos

- Políticas de compra institucional de alimentos da agricultura familiar como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos, gerido pela Conab) e o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) têm sido grandes promotoras da agroecologia. Em muitos lugares, entretanto, grupos e organizações de agricultores familiares têm encontrado dificuldades para estabelecer contratos com prefeituras para o abastecimento da merenda escolar. É importante fazer com as escolas – alunos e professores – a discussão sobre o PNAE, apresentando o trabalho que vem sendo desenvolvido pelos agricultores e suas organizações. Nos municípios onde se conseguiu fazer essa discussão

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com professores a avaliação foi muito positiva.

Rumo ao Encontro Nacional de Diálogo e Convergências

- Quando o Centro Vianei for organizar a apresentação da experiência no território para subsidiar os debates no Encontro Nacional de Diálogo e Convergência, é preciso ter em conta que esta discussão só faz sentido se for útil no próprio território.

- Nota-se que as novas políticas de acesso aos mercados, como o PAA e o PNAE, têm possibilitado grandes mudanças na região. É preciso avaliar essas mudanças em maior profundidade, bem como avaliar as estratégias locais de acesso aos mercados, como as feiras, a venda direta e as entregas em domicílio. Isso é importante para desmentir a visão dominante de que a agricultura familiar não tem muita participação na economia. No debate foram relatados também exemplos de dificuldades para operar os programas de compra institucional – ou seja, entre a construção da política e a sua implementação concreta há um longo caminho. Esta sistematização vai ajudar a montar esse quadro. - É importante envolver a questão da Educação no Campo entre os temas a serem discutidos no Encontro Nacional de Diálogo e Convergências, possivelmente no debate “Construção compartilhada do conhecimento”. O Centro Vianei poderá ajudar a fazer a articulação com as organizações de Santa Catarina que atuam nesta área, bem como já começar a fazer a articulação no nível do território.

- Foi ressaltada a ausência do MAB (Movimento de Atingidos por Barragens) e do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) nos debates. É importante buscar a articulação com esses movimentos no território. A participação deles é também fundamental para ajudar a construir a leitura sobre o território.

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A Memória Completa da Oficina de Diálogo e Convergências no Território da Serra Catarinense, os arquivos em Power Point apresentados durante o evento e a lista de participantes estão disponíveis em http://pratoslimpos.org.br/?page_id=2004

Referências

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