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RELAÇÕES DE GENERO E BULLYING: UMA ANÁLISE DO DISCURSO NA MÍDIA IMPRESSA PEDAGÓGICA

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Academic year: 2021

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Talita Maria Cesar Nascimento Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco talitinha.nascimento@gmail.com Auta Jeane da Silva Azevedo Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco autissima@gmail.com

Introdução

Ao observar o crescimento da atenção acadêmica ao fenômeno chamado bullying, despertou-nos o interesse em analisar em que medida ele aparece “travestido” ou disfarçado, quando na verdade, trata-se de velhas formas de manutenção das relações de poder entre os sujeitos, como por exemplo, as relações de gênero. Nesse caso, são designados papéis específicos para homens e mulheres que já começam a se configurar desde a escola quando são definidos os papéis das meninas e dos meninos.

Nosso pressuposto é que esses papéis sociais contribuem para construir maneiras específicas de manifestação da violência na escola, onde os meninos expressam de forma diferente das meninas sua agressividade. Ou seja, as práticas de bullying tem se manifestado de diferentes formas entre meninos e meninas como bullying direto e bullying indireto respectivamente.

A pergunta que orienta a condução deste estudo é a seguinte: as manifestações de bullying na escola estão baseadas nas relações de gênero construídas socialmente? Nesse sentido, nosso objeto de investigação é o bullying escolar e sua relação com as questões de gênero.

Nosso objetivo é analisar o discurso sobre gênero contido nas conceituações e caracterizações de bullying encontradas na revista Nova Escola que abarca questões relativas a educação e sua intersecção com diversas outras temáticas. Trata-se de uma mídia impressa de grande circulação no país. No caso da cidade do Recife, em particular, todos os professores da rede municipal de educação possuem assinatura da revista, subsidiada pela prefeitura.

Procuramos assim compreender a rede discursiva que vem se constituindo sobre essa temática em artefatos culturais que incidem nas relações de gênero e nos processos de subjetivação. Elegemos para tanto, a teoria dos Estudos Culturais que nos possibilita investigar produtos de mídia enquanto artefatos culturais cuja produção e consumo se

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situam na estruturação das relações sociais. Nos ancoramos nas postulações teóricas e metodológicas de Michel Foucault, a partir da análise arqueológica das regras do discurso que subsidia a compreensão das condições internas de produção e existência do discurso sobre gênero no que concerne ao bullying escolar.

1. Percursos do fenômeno bullying

O Bullying é uma palavra de origem inglesa que compreende todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, ocorridas sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor e angústia, realizadas dentro de uma relação desigual de poder.1 Em países como Noruega e Dinamarca, emprega-se a palavra mobbing, na Suécia e Finlândia encontramos mobbning. De acordo com Cléo Fante (2005), esses termos são utilizados com significados e conotações diferentes.

As primeiras pesquisas em torno do problema bullying foram desenvolvidas na Noruega pelo pesquisador da Universidade de Bergen, Dan Olweus, que permitiu diferenciá-lo de outras possíveis interpretações, como incidentes e gozações ou relações de brincadeiras entre iguais, próprias do processo de amadurecimento do indivíduo.

Em países como os Estados Unidos, um dos que mais apresenta casos em todo o mundo, as pesquisas sobre o assunto foram mais intensificadas. No Brasil, o bullying ainda é pouco discutido e pesquisado, passando a ganhar mais popularidade muito recentemente e pode ser considerado um fenômeno social aparentemente novo, ganhando a atenção de estudiosos de várias áreas de conhecimento. Essa atenção crescente é importante na medida em que serve para despertar a sociedade para as consequências desta modalidade de violência, principalmente nas escolas.

Com essa discussão sobre o fenômeno do bullying é possível notar a comoção gerada com a divulgação de casos graves de violência em escolas fora do Brasil, nos diversos meios de comunicação, como foi o caso da escola de Columbine no Colorado (EUA). No dia 20 de abril de 1999 dois jovens alunos de uma escola da cidade, utilizando bombas e explosivos, fizeram 25 mortos. Com acontecimentos como esse percebemos uma maior preocupação dos profissionais em educação no tocante ao conhecimento do fenômeno e o que gera esse tipo de violência.

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A exposição do problema no Brasil vem ganhando espaço nos meios de comunicação, que divulga reiteradamente casos de bullying no país. Um dos muitos exemplos pode ser visto em matéria do jornal Diário de Pernambuco do dia 31 de agosto de 2006, um fato ocorrido em Petrolina, município de Pernambuco. Uma menina de 13 anos foi espancada até a morte por seis colegas a 50 metros da escola onde estudava, porque se negava a entrar na turminha. Em anos seguintes, diversos casos tiveram atenção da mídia em todo país, levando o assunto para jornais, revistas, telejornais, internet e até novelas na TV.

Tal projeção levou inclusive, o Estado de Pernambuco a ser o primeiro a aprovar uma lei antibullying no ano de 2009 que dispõe que toda escola, pública e privada deve trazer em seu projeto pedagógico ações de prevenção e combate a essa forma de violência. Recentemente um caso de grande repercussão no cenário midiático brasileiro foi o chamado “Massacre de Realengo”. Um ex-aluno de uma escola no bairro do Realengo no Rio de Janeiro, que teria sido vítima de bullying na infância, atirou contra outros alunos e professores dessa mesma escola em abril de 2011.

Nesse sentido, as discussões em torno do assunto vêm sendo levantadas em diversas esferas sociais, como a esfera acadêmica, educacional, no campo da saúde coletiva, psicologia e na esfera jurídica. (CLÉO FANTE, 2005; ARAMIS NETO; 2006, MARCOS ROLIN; 2010, E ANA BEATRIZ SILVA; 2010).

A temática do bullying e sua presença nos espaços escolares têm tomado lugar expressivo no campo dos debates educacionais contemporâneos. Esta crescente preocupação com o assunto tem aberto caminho para estudos e pesquisas que vem sendo realizadas nos últimos anos, enfatizando a relevância do tema como uma problemática que se faz presente no panorama educacional brasileiro. Tais estudos enriquecem as discussões no campo da educação e possibilitam diferentes caminhos e percepções a respeito das inúmeras demandas circulantes no cotidiano escolar, bem como os encaminhamentos para as práticas e formação docente.

2. O bullying reforçando as relações de poder desiguais entre homens e mulheres

O tema das relações de gênero vem ganhando espaço e legitimidade nas análises sociais e políticas, assim como no campo da educação. Até o início da década de 90 esse conceito tinha seu uso restrito ao mundo acadêmico e aos grupos feministas e de

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mulheres. Hoje se discute gênero em variados contextos e lugares, mesmo que em alguns casos não se tenha muita noção do que se trata. No entanto, por ser uma ideia recente existem ainda muitas dúvidas sobre seu significado e uso (CAMURÇA; GOUVEIA, 2004). É importante lembrarmos que a propagação do conceito de gênero é um resultado da intervenção do movimento de mulheres nas sociedades contemporâneas.

O conceito de gênero é pertinente para explicar muitos dos comportamentos de mulheres e homens em nossa sociedade, nos ajudando a compreender grande parte dos problemas e dificuldades que as mulheres enfrentam no ambiente de trabalho, na vida pública, na sexualidade, nos direitos sexuais e reprodutivos (ou na ausência deles), na família.

É a partir da observação e do conhecimento das diferenças sexuais que a sociedade cria ideias sobre o que é ser homem, o que é ser mulher, o que é masculino, o que é feminino, as representações de gênero. Com isso se estabelecem também as ideias de como deve ser a relação entre homem e mulher, a relação entre as mulheres e a relação entre os homens. Isso quer dizer que a sociedade cria as relações de gênero, as noções de masculinidade e feminilidade.

Na sociologia e na antropologia dos sexos, masculinidade e feminilidade designam as características e as qualidades atribuídas social e culturalmente aos homens e às mulheres. São as relações sociais de sexo, marcadas pela dominação masculina, que determinam o que é considerado “normal” – e em geral interpretado com “natural” – para mulheres e homens (CAMURÇA; GOUVEIA, 2004).

Na maioria das vezes, o que é masculino tem mais valor. Assim, as relações de gênero produzem uma distribuição desigual de poder, autoridade e prestígio entre as pessoas, de acordo como seu sexo (Id.; Ibid.). Por isso é possível afirmar que as relações de gênero são relações de poder. Nessas relações de poder, os papéis sociais e sexuais são determinantes. São eles que definem o que é permitido ou não às mulheres.

No entanto as figuras do homem e da mulher não se restringem apenas aos papéis sexuais e sociais, ao ser do homem e da mulher. As figuras masculinas e femininas ultrapassam bastante esses limites. Trata-se de construções sociais e culturais de grande complexidade, modeladas que são por regras e códigos simbólicos meticulosos (BUTLER, 2013). Construções que influenciam diretamente a formação das identidades masculinas e femininas das pessoas, influenciando os comportamentos

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masculinos e femininos em diversos espaços. O bullying é uma das formas de manutenção desses comportamentos estereotipados e da “experiência comum de subjugação das mulheres” (Id.,Ibid.).

Nesse processo de estereotipia sobre masculinidade e feminilidade, os estudos sobre bullying têm oferecido inúmeros enfoques e instrumentos para sustentar antigos estereótipos de gênero (MEURER, 2009). “Apesar de ter sofrido consideráveis modificações, de uma forma geral o estereótipo da mulher continua resistindo ao tempo e às culturas” (Id., Ibid., p.34), moldando o modo como as mulheres agem e se comportam.

Já na constituição da identidade de gênero na infância, observamos como o masculino se constitui pela hiperatividade dos meninos, que se confunde seguidamente com agressividade. Em contraste, no modelo da típica mulher, ela é tida como mais passiva, emotiva, submissa, compassiva e irracional, demonstrando certa permanência da ideia defensora de uma indiscutível superioridade masculina e a das mulheres como constituindo um grupo com menores capacidades intelectuais e físicas, com menor discernimento diante das diversas situações da vida (BELO; GOUVEIA; MARQUES, 2005, p. 7).

Percebemos então, que desde a infância as crianças vão aprendendo a se adaptar a esses modelos de masculinidade e feminilidade. Os meninos são orientados para a virilidade e as meninas para a fragilidade. A virilidade é imposta aos meninos durante sua socialização, para que eles se distingam hierarquicamente das mulheres. A virilidade é a expressão coletiva e individualizada da dominação masculina (CAMURÇA; GOUVEIA, 2004). Já a fragilidade é apreendida como uma característica intrínseca da mulher. Percebemos nos autores que tratam de bullying na escola a reprodução desses estereótipos de virilidade e fragilidade, como vamos detalhar mais adiante neste texto.

3. Discurso e Estudos Culturais: produzindo significados e identidades

Com o intuito de traçar um percurso coerente entre teoria e metodologia, escolhemos trabalhar sob a perspectiva dos Estudos Culturais, por ser um caminho que nos dá suporte teórico-metodológico para investigar produtos de mídia como artefatos culturais que, através de relações de poder, constituem as práticas sociais e produzem identidades culturais. Os Estudos Culturais ampliam a visão sobre as diversas expressões da mídia, de simples veículos de informação e entretenimento, para elementos culturais disseminadores de conhecimentos, como pedagogias culturais

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produtoras de subjetividade. Nesse sentido, concordamos com Giroux (1995), quando afirma que:

Os/as professores/as devem ampliar a definição de pedagogia a fim de ir além de uma limitada ênfase no domínio de técnicas e metodologias. [...] a pedagogia representa um modo de produção cultural implicando na forma como o poder e o significado são utilizados na construção e na organização de conhecimentos, desejos, valores. (GIROUX, 1995, p. 100).

Ao longo de sua estruturação enquanto campo de estudo interdisciplinar, os Estudos Culturais se apoiaram em diferentes teorias, dentre elas, história da arte, estudos de gênero, linguística, teorias da linguagem, análise textual (visual e verbal), estudos do cinema, mídia, comunicações, cultura popular, recebendo forte influência da teoria foucaultiana do discurso. Esta conexão entre Foucault e os Estudos Culturais permite analisar as condições de construção desses discursos e os significados que a partir daí são produzidos pela revista Nova Escola sobre as relações de gênero na escola no contexto do bullying, objeto de análise da pesquisa ao qual esse texto se refere.

Para tanto, recorremos ao pensamento de Foucault numa perspectiva de que os discursos são feitos de signos, mas vão além da designação das coisas. Para ele, os discursos são práticas que formam os objetos que falam, incluindo o sujeito fundador dos discursos. Para Foucault (2012, p 66.) “o discurso é um conjunto em que podem ser determinadas a dispersão do sujeito e sua descontinuidade em relação a si mesmo”.

O conceito de Discurso a partir do pensamento de Michel Foucault nos aponta para a prática discursiva sem limitá-la à fala. Em A arqueologia do saber, o autor aponta alguns aspectos do Discurso:

[...] não mais tratar os discursos como conjunto de signos (elementos significantes que remetem a conteúdos ou a representações), mas como práticas que formam sistematicamente os objetos que falam. Certamente os discursos são feitos de signos; mas o que fazem é mais que utilizar esses signos para designar coisas. É esse mais que os torna irredutíveis à língua e ao ato da fala. É esse “mais” que é preciso fazer aparecer e que é preciso descrever. (FOUCAULT, 2012, p. 59-60).

Com suporte nos pressupostos foucaultianos sobre e discurso e produção de saberes e identidades dialogando com os interesses dos Estudos Culturais, consideramos que os produtos midiáticos se constituem como práticas sociais que produzem discursos e significados. Nessa direção, pretendemos analisar o discurso da revista Nova Escola ao orientar os professores quanto ao entendimento sobre o bullying e sua relação com as questões de gênero no contexto escolar.

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Pesquisas desenvolvidas do ponto de vista dos Estudos Culturais analisam a revista Nova Escola como artefato cultural da mídia disseminador de conhecimentos, de “verdades” e de formação identitária. Entre esses estudos, destacamos o trabalho de Marzola (2004), instigante pesquisa intitulada Os sentidos da alfabetização na revista Nova Escola. Nesse estudo, a autora traz como problemática a relação dos discursos produzidos e postos em circulação pela revista Nova Escola e a produção de identidades profissionais. Segundo a autora, “o discurso da revista constitui, assim, identidades profissionais com as quais seus leitores e leitoras procuram se identificar e, com isso, verem reconhecidas suas posições” (p. 94).

A opção pela análise do bullying, nessa perspectiva e no contexto dos discursos da Nova Escola, se dá, portanto, pela relevância que a revista possui no cenário educacional, como veículo de informação voltado para o público docente de ensino fundamental, com grande circulação e aceitação entre os professores. Ela tem uma significativa capilaridade nos ambientes escolares em diferentes momentos da prática pedagógica, sendo, portanto, elemento de apoio na constituição da prática docente. Essa revista tem tematizado diversas problemáticas educacionais relacionadas à prática docente, currículo, avaliação, materiais didáticos, diversidade cultural, violência na escola e bullying, entre outros temas.

4. Um caminho arqueológico para pensar bullying e gênero na escola

Numa perspectiva qualitativa e pós-estruturalista de pesquisa, este estudo traz uma aproximação com a análise arqueológica do discurso de Michel Foucault, enquanto uma via metodológica que nos permite evidenciar as condições históricas de possibilidade da forma de vida cotidiana. Trata-se da análise histórica das condições de existência e funcionamento dos saberes e modos de ser, das práticas discursivas. Foucault (2012) diz que:

A descrição arqueológica dos discursos se desdobra na dimensão de uma história geral; ela procura descobrir todo domínio das instituições dos processos econômicos, das relações sociais nas quais pode articular-se uma formação discursiva (FOUCAULT, 2012, p. 201).

Michel Foucault nos apresenta a análise arqueológica do discurso como “nada além e nada diferente de uma reescrita: isto é, na forma mantida da exterioridade, uma

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transformação regulada do que foi escrito. Não é retorno ao próprio segredo da origem; é a descrição sistemática de um discurso-objeto”. (FOUCAULT, 2012, p. 171).

Seguindo as bases teóricas já explicitadas dos estudos culturais e da análise de discurso de Michel Foucault, o arquivo de que se ocupa este trabalho, a revista Nova Escola, é tratada aqui como produto cultural de mídia impressa, cuja organização sistemática dos enunciados nos aproxima não só dos próprios enunciados como também nos mostra como eles estão postos, como se formam, se transformam e funcionam.

A Nova Escola é certamente o periódico pedagógico mais popular entre a classe docente; é sem dúvida o veículo de comunicação e informação dirigido a um público profissional específico mais conhecido e amplamente divulgado e distribuído. Com forte subsidio do MEC, a revista é hoje distribuída gratuitamente para professores de ensino fundamental da rede pública de grandes cidades do país, como é o caso de Recife. Como um produto midiático de consumo, ao longo dos anos, desde a sua criação, se constitui um importante instrumento de apoio para o exercício da atividade docente, tratando de temas circulantes no cenário educacional brasileiro, técnicas e dicas de como planejar aulas, por em pratica projetos e ações diversas na escola, e ainda levando discussões da esfera cientifica ao conhecimento dos leitores por meio de uma linguagem mais simplificada e atraente ao seu público alvo.

Estudar o discurso bullying e gênero da revista Nova Escola sob o olhar da arqueologia de Foucault é estudar como o discurso se constitui, observando características homogêneas e contraditórias que se posicionam tanto interna quanto externamente ao próprio discurso que controlam o que pode e o que não pode ser dito.

5. O feminino e o masculino no bullying mantendo condutas na escola

É importante ressaltar que este artigo é um recorte de uma pesquisa de mestrado que vem sendo desenvolvida no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco. Trata-se de um estudo ainda em andamento, o que nos permite apresentar aqui alguns resultados ainda parciais da problemática anunciada.

A questão do bullying é vista neste estudo como uma formação discursiva, que tem suas regras de funcionamento e o mesmo tempo tem outros discursos atrelados a essas regras. Nesse sentido, as observações feitas até aqui nos levaram a resultados parciais que queremos evidenciar na tentativa de compreender que o discurso sobre

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bullying é composto por certas regras de formação que sustentam velhas formas de manutenção das relações de poder entre os sujeitos dentro da escola, principalmente no que diz respeito as relações de gênero, gerando assim um discurso intrínseco ao bullying. Na medida em que são designados papéis específicos para cada indivíduo envolvido no cenário do bullying, enquadrando crianças como “vítimas”, “agressores” e “espectadores”, e ainda delimitando a participação de homens e mulheres de maneiras bem distintas, percebemos o funcionamento de regras de normalização de identidades. Regras estas que já começam a acomodar desde a escola os papéis das meninas e dos meninos.

Esta observação nos leva a entender que esses papéis sociais contribuem para construir maneiras específicas de manifestação da violência na escola. Onde os meninos expressam de forma diferente das meninas sua agressividade, ou seja, as práticas de bullying tem se manifestado de diferentes formas entre meninos e meninas, como bullying direto e bullying indireto respectivamente. E ainda, que esse tipo de demarcação de papéis perpetua ideais historicamente atribuídos aos comportamentos masculino e feminino, em um espaço de intensa convivência com diferenças das mais diversas, sejam elas sociais, econômicas, religiosas, sexuais e de gênero que é o espaço escolar.

Nossas análises nos fazem refletir ainda sobre o lugar onde esses discursos circulam, neste caso a revista Nova Escola, uma revista popular no cenário educacional que permeia a pratica de docentes de todo país. A nosso ver, ao trazer para suas páginas a discussão do bullying com tantas delimitações de conduta que serão significadas pelo seu público alvo - os professores, a revista consegue atribuir ao seu discurso um regime de verdade que provém da fala de especialistas das mais diversas áreas de conhecimento científico e asseguram a veracidade de toda a informação encontrada na revista.

Por isso entendemos que o consumo de produtos de mídia tem impacto na vida cotidiana das pessoas, uma vez que existe uma centralidade dos artefatos culturais na construção de visões de mundo e de sujeitos. Nessa direção, a Nova Escola se constitui como um artefato cultural de mídia, cujo consumo por uma classe profissional de ampla dimensão demográfica ocasiona a produção e reprodução de significados diversos e identidades. No contexto deste estudo, percebemos a reprodução das velhas identidades de gênero e identidades profissionais no cenário escolar.

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6. REFERÊNCIAS

BUTLER, Judith P. Problemas de gênero. Feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2013.

CAMURÇA, Silvia ; GOUVEIA, Taciana. O que é gênero. Recife: SOS CORPO – Instituto Feminista para a Democracia, 2004.

HIRATA, Helena [et al] orgs. Dicionário Crítico do Feminismo. São Paulo: Editora Unesp, 2009.

TELES, Maria A. A. Breve história do Feminismo no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1993.

MARZOLA, Norma. Os sentidos da alfabetização na revista Nova Escola In: COSTA, Marisa Vorraber (Org.). Estudos Culturais em educação: mídia, arquitetura, brinquedo, biologia, literatura, cinema... Porto Alegre, Ed. UFRGS, 2004.

MEURER, Bruna. Desvelando o bullying nos contextos de trabalho através de trajetórias femininas. Porto Alegre, 2009

FANTE, Cleo. Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. Campinas, SP: Verus, 2005.

FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 2009.

______. Arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2012.

GIROUX, Henry. Memória e pedagogia no maravilhoso mundo Disney. In: SILVA, Tomaz Tadeu da (Org.). Alienígenas na sala de aula: uma introdução aos estudos culturais em educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.

HALL, Stuart. A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções culturais do nosso tempo. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 22, nº2, p. 15-46, jul./dez. 1997.

SILVA, Ana Beatriz B. Bullying: mentes perigosas nas escolas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010.

SILVA, Tomaz Tadeu da (Org.). O sujeito da educação: Estudos Foucaultianos. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.

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