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PERSPECTIVAS DA PESQUISA ETNOGRÁFICA NO ENSINO RELIGIOSO: A VALIDAÇÃO DOS INDICADORES DE ANÁLISE UTILIZANDO UM SOFTWARE DE ANÁLISE QUALITATIVA

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DE ANÁLISE QUALITATIVA

RODRIGUES, Edile M. Fracaro — PUCPR — edile@celulas.com.br

VOSGERAU, Dilmeire Sant’Anna Ramos — PUCPR — dilmeire.vosgerau@pucpr.br JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo — PUCPR — srjunq@uol.com.br

Eixo: Educação, Comunicação e Tecnologia / n. 09

Agência Financiadora: Sem Financiamento

Introdução

Vários movimentos sociais pela igualdade de direitos marcaram a década de 1960. As rebeliões estudantis que aconteceram na França e as lutas contra a discriminação racial e social provocaram o interesse dos pesquisadores para o uso de uma abordagem antropológica ou etnográfica para investigar o que estava se passando dentro das escolas e das salas de aula (ANDRÉ, 2007, p. 20). Ainda segundo a autora, “os métodos qualitativos também ganhavam popularidade porque buscavam retratar os pontos de vista de todos os participantes, mesmo dos que não detinham poder nem privilégio”, o que se alinhava perfeitamente com os ideais democráticos que surgiam nesse momento da História.

Todo sujeito é político, religioso, social, lúdico, racional, individual, mas não é nada disto isoladamente. “E, embora mantenha uma relação consigo mesmo, é no limiar do encontro com o outro que constrói sua identidade” (MATO, 1998, p.282).

A caracterização social do sujeito e dos papéis por ele exercidos é necessária para reconhecer o quanto as relações sociais são efetivas na formação do indivíduo, pois ao pensar, o homem estabelece sistemas de representações, de conceitos e de mediações que lhe possibilite avançar para além de suas contradições.

Ao mesmo tempo em que uma formação mais ampla é valorizada, percebe-se uma sociedade que privilegia o ter e não o ser, o descartável e não os valores reais, a razão e não a afetividade. Tendo a visão de que o Ensino Religioso precisa ser entendido a partir de uma visão mais ampla que reúna todas as áreas do conhecimento, conforme salienta a própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação (BRASIL, 1996), é que algumas pesquisas (LONGHI,

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2004, SCHLÖGL, 2005; CORRÊA, 2006; OLIVEIRA et al., 2006) têm se desenvolvido para que, orientados por critérios éticos, a religiosidade presente em cada um possa ser desenvolvida de maneira dialógica e reverente ante as diferentes expressões religiosas.

As diferentes formas de interpretações da vida, as formas de compreensão do senso comum, significados variados das experiências percebidos pelos participantes, são o campo da etnografia que tenta mostrar essa diversidade de significados. Assim, a etnografia não é somente a transcrição de textos, levantamento de genealogias, mapeamento campos, manutenção de um diário, mas a percepção do significado das perspectivas imediatas que um grupo particular de pessoas faz, o que Geertz denomina como uma "descrição densa"1.

Para orientar o currículo para toda rede pública estadual, a SEED — Secretaria de Estado de Educação do Paraná — construiu, com o auxílio de equipes pedagógicas dos Núcleos Regionais de Educação e de técnicos-pedagógicos da SEED, um documento orientador, as Diretrizes Curriculares da Educação Básica no Paraná. Essas diretrizes orientam a organização as disciplinas que compõem a base nacional comum e a parte diversificada, estando entre essa disciplina o Ensino Religioso.

Para debater essas Diretrizes, na semana de 23 a 26 de outubro de 2006 em Curitiba (PR), a Secretaria de Educação do Estado do Paraná promoveu um Simpósio de Ensino Religioso. Estiveram presentes mais de 350 professores que atuam nessa área do conhecimento. Na ocasião, foi proposto aos participantes que elaborassem um desenho e uma frase com o objetivo de expressar o papel do Ensino Religioso na educação dos alunos do Ensino Fundamental do Estado do Paraná.

Com o material coletado nesse evento, pretende-se responder “Qual a compreensão que o professor possui acerca do papel do Ensino Religioso como componente do currículo do Ensino Fundamental?”. Sendo que para esse artigo, buscou-se apresentar a etapa inicial de nossa pesquisa, na qual foi proposto como objetivo identificar e validar os indicadores a serem aplicados na análise de duzentos e dezessete (217) documentos.

A busca destes indicadores se deve ao fato de que, mesmo que a pesquisa etnográfica já esteja presente em vários estudos no campo educacional, no que tange ao Ensino Religioso, estudos dessa natureza ainda são recentes. Isso acarreta algumas dificuldades para os pesquisadores que vão adentrar nesse campo, pois possuem pouco referencial teórico e metodologias para sustentar e encaminhar a análise de dados de suas pesquisas, ainda mais

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quando se tem diferentes tipos de dados como é o caso dessa pesquisa, que utiliza imagens e textos como fonte de informações.

Essa preocupação com o rigor metodológico de análise é compartilhada com André (2007) que comenta sobre a complexidade e cuidados necessários quando se utiliza dados cuja forma de apresentação tem origem em desenhos, fotografias, histórias em quadrinhos ou vídeos.

Além disso é preciso ser bastante persistente, não hesitando em fazer uma, duas, ou até dez versões do caso até que realmente se consiga expressar a riqueza, a complexidade e o movimento do que foi observado, ouvido, partilhado (ANDRÉ, 2007, p. 63).

Devido às diferentes fontes e a quantidade de documentos utilizados, buscamos também verificar, nessa etapa, como um software de análise qualitativa de dados poderia contribuir para uma visão aprofundada dos fenômenos inerentes do processo do Ensino Religioso.

O Ensino Religioso Fenomenológico

Para entendermos uma sociedade é preciso entendê-la como um todo, observando suas “relações intergeracionais, relações de gênero, de classe e também os fatos sociais que ocorrem nesse contexto” (MATTOS, 2001).

Mas o papel da etnografia não é reproduzir uma realidade, mas interpretá-la. Assim, a descrição etnográfica é marcada pela história de vida do pesquisador e de seus traços distintivos como idade, sexo, cor, classe social, instrução etc. “Não é portanto, isenta de valor” (ANDRÉ, 2007, p. 117).

Santos (2000) enfatiza a necessidade de se congregar no mesmo campo cognitivo o discurso científico, político, estético e religioso. O autor defende a tese de que as formações sociais capitalistas são constituídas por seis conjuntos de relações sociais que são as matrizes das comunidades interpretativas principais existentes na sociedade. Esses conjuntos ou espaços-tempos são: o espaço doméstico, o espaço da produção, o espaço do mercado, o espaço da comunidade, o espaço da cidadania e o espaço mundial.

Ao promover o diálogo dos discursos da ciência e do senso comum nesses seis espaços estaremos construindo um conhecimento emancipatório, uma educação que considere a comunicação, a subjetividade, as reflexões, as ações, as observações, as impressões, as irritações, os sentimentos e a fé (SANTOS, 2000, p.110).

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A família e a Igreja são os espaços por excelência da reflexão do conhecimento religioso, mas a escola pode ser um espaço privilegiado para se realizar tais discussões, longe de quaisquer formas de proselitismo e dar a todo indivíduo a oportunidade de refletir sobre as questões fundamentais de sua existência.

O papel da instituição educativa na formação do indivíduo, inserido em uma determinada cultura e meio social, visando uma educação do ser integral vem sendo amplamente discutido. Porém, não é competência exclusiva das instituições de ensino. O artigo 1º da Lei nº 9394 de 1996, que trata das Diretrizes e Bases da Educação Nacional apresenta que,

a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e de pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais (BRASIL, 1996).

O Brasil, rico em sua diversidade de origem, construída por várias raças, culturas, religiões, permite a convivência de uma pluralidade de manifestações. Essa é a razão do que faz do Brasil, Brasil.

A caracterização social do sujeito e dos papéis por ele exercidos é necessária para reconhecer o quanto as relações sociais são efetivas na formação do indivíduo, pois ao pensar, o homem estabelece sistemas de representações, de conceitos e de mediações que lhe possibilite avançar para além de suas contradições.

O papel da educação escolar é formar o cidadão no sentido mais pleno possível para que conheça e transforme sua situação social e existencial. Mas, não é só a ação do ensino que garantirá esses resultados, já que a qualidade de vida das pessoas depende da união de múltiplos fatores da sociedade como um todo. A escola entendida como um espaço de formação e informação certamente favorecerá a inserção do aluno no dia-a-dia, nas questões sociais marcantes e em um universo cultural maior.

Nesse contexto é que se faz necessário entender o Ensino Religioso, numa abordagem fenomenológica que observa as diversas manifestações religiosas de forma cultural, seja por meio do estudo das Religiões Comparadas ou buscando as histórias das Religiões. Para Passos (2006) o Ensino Religioso como ensino da religião na escola deve ser entendido “sem o pressuposto da fé (que resulta na catequese), sem o pressuposto da religiosidade (que resulta na educação religiosa), mas com o pressuposto pedagógico (que resulta no estudo das religiões)” (PASSOS, 2006, p. 24).

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A pesquisa social

A pesquisa social “apóia-se em dados sociais — dados sobre o mundo social — que são o resultado, e são construídos nos processos de comunicação” (BAUER et al., 2003, p. 20).

Os autores distinguem dois modos de dados sociais: a comunicação formal que exige conhecimento especializado e a comunicação informal que, apesar de poucas regras explícitas, possibilita às pessoas falar, desenhar ou cantar do modo que queiram. Assim, os mesmos autores fazem distinção de três meios pelos quais os dados podem ser construídos: texto, imagem e materiais sonoros, pois o interesse da pesquisa social está

na maneira como as pessoas espontaneamente se expressam e falam sobre o que é importante para elas e como elas pensam sobre suas ações e as dos outros. Dados informais são gerados menos conforme as regras de competência, tais como capacidade de escrever um texto, pintar ou compor uma música, e mais do impulso do momento, ou sob a influência do pesquisador (BAUER et al., 2003, p.21). Os significados e as perspectivas que se busca na etnografia, são, muitas vezes, inconscientes para as pessoas que os possuem. “Estas são, às vezes, pouco articuladas para explicitar concretamente sua compreensão sobre como vivem e porque agem desta ou daquela forma” (MATTOS, 2001). Assim, espera-se que os documentos coletados no Seminário de Ensino Religioso em 2006, possam colaborar na identificação da concepção do Ensino Religioso como componente curricular.

A semiologia2, ciência que estuda a vida dos signos no seio social, contribui mais quando entendida como parte da lingüística. “Por exemplo, o sentido de uma imagem visual é ancorado pelo texto que a acompanha, e pelo status dos objetos” (PENN, 2003, p.321).

Para a autora, a maioria das imagens está acompanhada de algum tipo de texto. Isso realça a uma diferença importante entre imagens e texto: a imagem é sempre ambígua, polissêmica. Daí ser fundamental que algum tipo de texto acompanhe a imagem para que ambos, imagem e texto, contribuam para o um sentido mais completo.

Para Penn (2003, p.333) “não há uma única maneira de se apresentar os resultados de análise semiológicos” e destaca três estágios para se empreender uma análise semiológica:

1. A escolha do material. 2. Um inventário denotativo.

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3. Os níveis mais altos de significação.

Como a pesquisa será desenvolvida a partir de desenhos e frases elaboradas por professores do Ensino Religioso tendo como objeto de estudo a compreensão que o professor tem acerca do papel do Ensino Religioso como componente curricular, buscou-se fazer um inventário denotativo. Esse inventário consiste em identificar os elementos presentes nas imagens e nas falas dos sujeitos envolvidos na pesquisa e, com base no referencial teórico e dos indicadores que emergirão da própria pesquisa, analisar as significações e significados presentes nos documentos analisados.

Encaminhamento do Processo de Identificação dos Indicadores

O componente inovador da pesquisa3 que está sendo desenvolvida é a análise dos desenhos utilizando o software ATLAS.ti. O primeiro contato com esse software ocorreu no primeiro semestre de 2007, participando do Seminário de Pesquisa IV: análise de dados qualitativos com recursos tecnológicos do programa de pós-graduação stricto sensu da PUCPR. Com o objetivo de enfocar uma estruturação lógica e coerente desse recurso tecnológico para análise de imagens e ampliar a credibilidade da pesquisa, foram separados trinta (30) dos duzentos e dezessete (217) documentos coletados durante o Seminário de Ensino Religioso (2006).

Um “jornal de bordo” foi desenvolvido durante a realização da disciplina para auxiliar no registro e futura descrição do caminho percorrido. Neste jornal abordamos desde a inserção dos documentos no programa ATLAS.ti até a descrição dos procedimentos realizados nas diferentes etapas da análise de conteúdo.

Sem a pretensão de fazer uma profunda análise semiológica, mas tendo como objetivo validar o inventário levantado, foram discutidos os indicadores levantados com o grupo de estudantes de mestrado e doutorado, participantes do seminário. Isto permitiu validar os indicadores da pesquisa sobre o papel do Ensino Religioso como componente do currículo do Ensino Fundamental nas escolas públicas do Paraná, e aumentar a fidedignidade desses indicadores colaborando para a interpretação das percepções dos dados.

Ressaltamos que, cinco dos participantes da discussão eram oriundos de diferentes áreas: um Mestre em Educação — Doutorando em Educação, dois Pedagogos — Mestrandos

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O Papel do Ensino Religioso como Componente do Currículo do Ensino Fundamental nas Escolas Públicas do Estado do Paraná

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em Educação, um professor da Educação Especial — Mestrando em Educação, uma Professora de Análise Qualitativa de Dados — Doutora em Educação. Durante o processo, tiveram conhecimento do referencial de ensino religioso utilizado (SEED, Diretrizes Curriculares da Educação Básica no Paraná, Curitiba: SEED, 2006; bem como do referencial utilizado sobre análise de imagens: PENN E., 2003, BAUER et al, 2003; BARTHES R., SANTAELLA L.; e análise de conteúdo BARDIN L., 1977).

O processo de preparação dos dados

Os duzentos e dezessete (217) documentos recolhidos no Simpósio da SEED foram numerados aleatoriamente numa ordem crescente. Os trinta (30) primeiros documentos foram então preparados para a inserção no ATLAS.ti.

Além de digitalizar as imagens, foi criado um arquivo Word “Identificação” para cada sujeito contendo informações como Gênero, Formação, Tempo de docência e Tempo de docência no Ensino Religioso, a frase elaborada sobre o papel do Ensino Religioso como componente curricular e alguma informação complementar que porventura constasse do documento produzido pelo sujeito da pesquisa.

Assim, dois documentos digitais foram criados a partir dos documentos elaborados pelos sujeitos envolvidos na pesquisa, totalizando sessenta (60) documentos. Também foi criada uma tabela de referência (Quadro 1) para auxiliar a conferência dos dados dos trinta (30) sujeitos e relacioná-los com o seu texto, sua imagem e a identificação pelo próprio ATLAS.ti para cada documento inserido.

Ident. Arq. Texto Ident.Arq. Imagem Identif. Atlas-Ti

S001 P1 P31

S002 P2 P32

S003 P3 P33

S004 P4 P34

S005 P5 P35

Quadro 1 - Tabela de referência.

A criação dos códigos

Código (code) é um indicador que ajuda na análise qualitativa para identificar um agrupamento de citações (quotations) que têm elementos comuns e um significado próprio para a pesquisa a ser desenvolvida. O código, portanto, permite agrupar as unidades de sentido, citações do texto ou elementos da imagem. Os códigos apresentados nesse trabalho foram criados a partir de referencial teórico, de análise subjetiva da pesquisadora, de

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elementos comuns presentes nas imagens e de complementação entre os documentos criados para auxiliar na análise sobre a compreensão do professor sobre o papel do Ensino Religioso como componente curricular.

Os códigos dos indicadores que ajudarão no levantamento do perfil do professor de Ensino Religioso são: CD- genero; CD-formacao; CD-tempodocencia e CD-tempodocER (Quadro 2).

É importante destacar que se verificou a necessidade da criação de códigos mais detalhados em relação a gênero e formação. A especificação do indicador FORMAÇÃO, por exemplo, subdividido em graduação, especialização ou pós-graduação será importante para um futuro cruzamento de dados.

Quadro 2 - Códigos para identificação do perfil do professor.

No Quadro 3 são apresentados os códigos oriundos do referencial teórico, como também aqueles que têm sua origem na exploração dos dados.

Quadro 3 - Códigos oriundos do referencial teórico e da exploração dos dados.

As memórias do processo da criação de códigos (memos — pequenos textos interpretativos, autores que referendem a informação codificada e outras informações sobre a citação consideradas importantes) facilitam a análise de dados e a passagem para o nível conceitual de análise. No Quadro 4 estão presentes os códigos, a descrição de cada um deles

CD- gênero Gênero do sujeito

CD- formação Formação do sujeito

CD- tempodocência Tempo de docência do sujeito.

CD- tempodocER Tempo de docência no ER

CD- igualdade Referente ao desenho ou à opinião do professor sobre o papel do ER no currículo do Ensino Fundamental nas escolas públicas. CD- imagem e texto Imagem e texto se complementam.

CD- opinião Frase que o sujeito expressou o papel do ER no currículo do Ensino Fundamental nas escolas públicas do Estado do Paraná. CD- recorrente-ave Elemento do desenho que é percebido em mais de documento.

CD- recorrente-casa Elemento do desenho que é percebido em mais de documento.

CD- recorrente-cruz Elemento do desenho que é percebido em mais de documento.

CD-

recorrente-fighumana Elemento do desenho que é percebido em mais de documento. CD- recorrente-mundo Elemento do desenho que é percebido em mais de documento.

CD- recorrente-planta Elemento do desenho que é percebido em mais de documento.

CD- recorrente-sol Elemento do desenho que é percebido em mais de documento.

CD- respeito Respeito às diferenças referentes ao desenho ou à opinião do professor sobre o papel do ER no currículo do Ensino Fundamental nas escolas públicas. CD- sagrado Referente ao transcendente, sagrado, Deus

CD- texto sem imagem

CD- universo O desenho remete a uma universalidade ou é imagem recorrente.

CD- valores A imagem ou a frase passa o ER no sentido de trabalhar valores, moral e ética...

CD- complementar Frase ou palavra que complementa a opinião.

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e as impressões da pesquisadora. Algumas impressões que foram codificadas como memos no ATLAS.ti, pela repetição no processo de codificação, se transformaram em códigos.

Quadro 4 - Memos que se transformaram em códigos.

A análise textual

A partir do arquivo Word “Identificação” de cada sujeito foi possível selecionar elementos para a codificação de Gênero, Formação, Tempo de docência e Tempo de docência no Ensino Religioso, além da frase elaborada sobre o papel do Ensino Religioso como componente curricular e alguma informação complementar que porventura constasse do documento produzido pelo sujeito da pesquisa. Essa codificação e anotações facilitaram o levantamento do perfil dos trinta (30) sujeitos analisados no relatório.

Treze professores foram codificados com CD-genero e cinco deles são do gênero masculino. Dez profissionais dessa área do conhecimento foram codificados com CD-formacao. Somente um deles é pós-graduado em Ensino Religioso. Os demais têm a seguinte formação:

• um professor tem especialização em Ensino Religioso, • um professor é formado em Pedagogia Religiosa, • um é licenciado em História,

• três indicaram formação em História, mas não especificaram se são licenciados ou não,

• dois tem formação em Pedagogia e História,

CD- apesar do texto

Apesar de a imagem estar acompanhada de um texto, tive dificuldade de apreender o significado. Lembrando que o que o proposto foi criar uma frase e um desenho que demonstrasse o papel do ER no currículo do Ensino Fundamental nas ecolas públicas do Estado do Paraná. Esse código era uma memo.

CD- áreas do

conhecimento O desenho remete a uma relação com outras áreas do conhecimento. Esse código era uma memo. CD- confessionalidade Algum elemento do desenho remete a uma confessionalidade. Esse código era uma memo.

CD- imagem ancorada

"a imagem é sempre polissêmica ou ambígua. É por isso que a maioria das imagens está acompanhada de algum tipo de texto: o texto tira a ambigüidade da imagem - uma relação que Barthes denomina de ancoragem, em contraste com a relação mais recíproca de revezamento, onde ambos, imagem e texto, contribuem para o sentido completo."

Penn in: Dauer e Gaskell. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

Esse código era uma memo.

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• um é bacharel em teologia e ainda tem uma formação técnica em processamento de dados.

Nesse primeiro momento supomos não haver uma relação entre gênero e formação, pelo menos nesses trinta primeiros documentos analisados, mas deixamos para tirar uma conclusão mais efetiva na análise conceitual dos dados. Percebemos neste momento a importância do pesquisador não tirar conclusões ou estabelecer relações precipitadas da análise.

Quatorze professores foram codificados com CD-tempodocencia e a experiência de cada um deles varia de um ano a trinta e dois anos de prática em sala de aula. Quinze professores foram codificados com CD-tempodocER e quatro deles têm experiência de um ano em sala de aula. Esse tempo se estende a quatorze de prática docente.

O que causa preocupação é que apenas três dos dez sujeitos codificados com CD -formacao possuem formação específica em Ensino Religioso, já que o trabalho docente é exercido por uma pessoa concreta, inserida em um contexto social e em uma realidade histórica.

Exercitando a consciência de si mesmo e a realidade histórico-social que o envolve, o homem estabelece um diálogo entre a essência do sujeito e sua realidade histórica. O trabalho docente é exercido por uma pessoa concreta, inserida em um contexto social e em uma realidade histórica. Para Tardif (2002, p. 71), “A socialização é um processo de formação do indivíduo que se estende por toda a história de vida e comporta rupturas e continuidades”. O papel do professor não é de apenas receber formação e nela apreender conhecimento, mas protagonizar o processo de construção do conhecimento, favorecendo assim seu progresso profissional e a investigação da sua práxis.

Foi importante observar os dois tipos documentos (Word e imagem) produzidos a partir do documento do sujeito da pesquisa para constatar que dez dos trinta desenhos produzidos pelos professores só faziam sentido quando observados com o texto, como por exemplo, o desenho do sujeito 006 (Figura 1).

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Texto do Sujeito 006: “Conhecer o diferente para ter paz interior e transmitir paz”

Figura 1 - Dados coletados do Sujeito 006.

Nesse caso, um documento complementa o outro, pois só o desenho (no inicio opinião da pesquisadora, comprovada depois pelo grupo) parecia não apresentar uma relação com o Ensino Religioso. No entanto, texto e desenho apontam para a o respeito à diversidade religiosa e traz um conceito de globalidade.

A partir da análise do documento Word foi possível verificar que esse sujeito é do sexo feminino, tem licenciatura em História e Pedagogia e está no exercício da docência há quatro (4) anos e há dois (2) anos no Ensino Religioso.

A análise conceitual

O estabelecimento de relações entre citações (quotations), e descrições criadas durante a análise textual é a primeira atividade da análise conceitual. Esse processo pode se dar durante ou após a análise textual.

O pesquisador começa a descobrir que diferentes partes do texto (fala do entrevistado, descrições etc.) estão relacionadas entre si e passa a estabelecer relações de associação, pertença, causa, contradição, identidade e propriedade entre os dados levantados. Essa etapa de estabelecimento de relações após a codificação funciona como uma revisão das diferentes citações selecionadas e identificadas nos códigos.

No ATLAS.ti, os códigos criados e as memos ligadas a códigos podem ser agrupados em famílias para elaboração de teias (Redes-Networks Views) que dêem suporte aos resultados

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encontrados. Essas teias ajudam na análise conceitual, pois permitem visualizar as conexões existentes entre as informações codificadas na fase de análise textual.

Nesta fase, um desenho chamou a atenção pela elaboração e clareza de idéias, o do sujeito 007 (Figura 2)

Texto do Sujeito 007: “Tão importante quanto seguir uma tradição religiosa é conhecer e respeitar os demais”

Figura 2 - Dados coletados do Sujeito 007.

A Figura 3 – teia produzida no software Atlas.ti, permite sintetizar todas informações coletadas do sujeito 007.

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Já o Sujeito 027 (Figura 4) chamou a atenção pela simplicidade e eficiência ao transmitir sua opinião “Respeito, direito de todos!” Seus indicadores foram CD-respeito e CD-pluralidade.

Figura 4 - Desenho produzido pelo sujeito 027.

Para Penn (2003, p. 331), “teoricamente, o processo de análise nunca se exaure e, por conseguinte, nunca está completo”, sendo sempre possível uma nova leitura ou um novo significado para se aplicar à imagem.

Mas com o exemplo dos sujeitos 007 e 027 pode-se concluir que eles têm claro o papel do Ensino Religioso como componente curricular do Ensino Fundamental. Eles demonstram respeito à pluralidade religiosa e ao que diz o artigo 1º da Lei nº 9394 de 1996, que trata das Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

Considerações finais

Todo esse caminho percorrido de validação de indicadores se fez necessário porque as pesquisas sobre o Ensino Religioso ainda são recentes no contexto brasileiro e constituem e uma área com poucos estudos empíricos que possam fundamentar os novos estudos.

As reflexões e discussões geradas durante as análises textuais e conceituais, procedimentos estes, direcionados pelo próprio software, nos permitiram lançar um olhar sobre o campo religioso dentro de sua diversidade tão rica.

Visto que o software ATLAS.ti está sendo utilizado na análise de dados e imagens, podemos verificar a versatilidade dessa ferramenta na análise de conteúdo para:

• Contemplar aspectos diferentes e importantes durante o processo de codificação dos dados bem como o aspecto científico dado ao tratamento dos mesmos.

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• Facilitar a análise dos documentos — sem o suporte desse programa seria mais difícil tanto o manuseio quanto a análise dos documentos produzidos pelos sujeitos da pesquisa.

• Possibilitar uma análise mais profunda na compreensão do objeto de estudo da pesquisa que está sendo desenvolvida — a criação das teias e mapas conceituais é essencial no cruzamento de informações.

Depois desse processo, podemos concluir que um tratamento aprofundado de um grande volume de dados, principalmente sendo de formatos distintos, requer uma validação dos indicadores para que o pesquisador possa se sentir mais seguro do referencial a ser utilizado em sua pesquisa.

Como já foi dito, causa preocupação a falta de uma formação específica para o professor de Ensino Religioso. Esse fato foi verificado durante a análise dos dados dos trinta (30) sujeitos contemplados neste artigo.

Ter ciência dos cinco eixos que organizam os conteúdos do Ensino Religioso (Culturas e Tradições Religiosas, Teologias, Textos Sagrados, Ritos e Ethos) é tarefa precípua do professor de Ensino Religioso, pois essa área interessa-se por todas as crenças bem como suas manifestações, ações, instituições, rituais e tudo o que tem a ver com o universo religioso.

Concebendo o professor como profissional reflexivo e pesquisador de sua própria prática, é preciso pensar nos tipos de saberes docentes e como eles podem ser apropriados e produzidos pelo professor por meio de uma prática pedagógica reflexiva e investigativa. A seriedade do Ensino Religioso aponta para a necessidade de uma formação de professor que possibilite uma visão dessa área do conhecimento que vá além da exposição de valores, mas garanta uma atuação que leve à criação de um espaço privilegiado de reflexão.

REFERÊNCIAS

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ANDRÉ, M. E. D. A. Etnografia da prática escolar. Campinas, SP: Papirus, 13ª ed., 2007. BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977

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Implicações para a formação docente. Curitiba: PUCPR, 2006.

LONGHI, Miguel. O Ethos no currículo do Ensino Religioso. Curitiba: PUCPR, 2004. MATO, Junot Cornélio. Professor Reflexivo? Apontamentos para o debate. In: GERALDI et al (Org) Cartografias do trabalho docente. Campinas: Mercado das Letras, 1998.

MATTOS, C L. G. de. Abordagem etnográfica na investigação científica. Disponível em <http://www.ines.org.br/paginas/revista/A%20bordag%20_etnogr_para%20Monica.htm>. Acesso em: 17 set. 2007.

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PENN, G. Análise semiótica de imagens paradas. In: BAUER, M. W. e GASKELL, G.

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SANTOS, Boaventura de Sousa. A crítica da razão indolente — Contra o desperdício da

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SCHLÖGL, Emerli. "Não basta abrir as janelas" — O simbólico na formação do

professor. Curitiba: PUCPR, 2005.

TARDIF, M.. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 6ª ed., 2002.

Referências

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