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PRODUÇÃO DE SABÃO COM GORDURA RESIDUAL: CONTEXTUALIZANDO O ENSINO DE QUÍMICA NA EJA

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Academic year: 2021

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PRODUÇÃO DE SABÃO COM GORDURA RESIDUAL: CONTEXTUALIZANDO O ENSINO DE QUÍMICA NA EJA

Tatielle Pereira Silva1*, Daniela Marques Alexandrino1.

1Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Rodovia BR 415, Km 03, S/N, 457:00-000, Itapetinga –

BA, Brasil.

tatielle.pereira@yahoo.com.br

RESUMO

Este trabalho foi realizado durante o estágio supervisionado numa turma de 3º ano modalidade EJA da rede estadual de ensino na cidade de Itapetinga- BA e teve como objetivo contextualizar o ensino de química através de reações orgânica ocorridas na produção de sabão com gorduras residuais, trazidas pelos alunos de suas residências. Neste sentido, buscou-se com essa oficina, atribuir sentido e significado aos conteúdos escolares para que os jovens e adultos consigam enxergar a química como ciência presente no seu dia a dia, investigando novas posturas e forma de repensar uma aprendizagem significativa para esta clientela através de um planejamento adequado aos seus objetivos específicos.

PALAVRAS CHAVE

EJA, contextualização, sabão.

INTRODUÇÃO

O ensino de química na Educação de Jovens e Adultos é um desafio para o educador, por se tratar de uma turma que apresenta maiores dificuldades na aprendizagem, pois a maioria trabalha e/ou estão voltando à escola depois de muitos anos longe da realidade escolar. A EJA é uma modalidade de ensino reconhecida na LDB 9.394/96, que no seu art.37 destaca: “A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria” (BRASIL, 1996).

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De acordo com Bonenberger et al. (2006) muitas vezes os alunos da EJA apresentam dificuldades e consequentemente frustrações por não se acharem capazes de aprender química, e, por não perceberem a importância dessa disciplina no seu dia a dia.

Para Peluso (2003):

[...] Se considerarmos as características psicológicas do educando adulto, que traz uma história de vida geralmente marcada pela exclusão, veremos a necessidade de se conhecerem as razões que, de certa forma, dificultam o seu aprendizado. Esta dificuldade não está relacionada à incapacidade cognitiva do adulto. Pelo contrário, a sensação de incapacidade trazida pelo aluno está relacionada a um componente cultural que rotula os mais velhos como inaptos a frequentarem a escola e que culpa o próprio aluno por ter evadido dela.

Especialmente no contexto da Educação de Jovens e Adultos, não basta apenas informar os alunos, mas capacitá-los para aquisição de novas competências, preparando-os para lidar com diferentes linguagens e tecnologias e para responder apreparando-os desafipreparando-os de novas dinâmicas e processos (PICONEZ, 2002).

Para que o processo ensino-aprendizagem aconteça de fato, faz-se a necessário contextualizar as aulas de química. A contextualização e a interdisciplinaridade são eixos centrais organizadores das dinâmicas interativas no ensino de Química, na abordagem de situações reais trazidas do cotidiano ou criadas na sala de aula ou por meio da experimentação (BRASIL, 2008).

Existe também a necessidade de um ensino de química na EJA para a formação de cidadãos, e dessa forma despertar os sujeitos a sua importância, segundo Santos e Schnetzler (2000), o ensino de química para o cidadão deve estar centrado na inter-relação de dois componentes básicos: a informação química e o contexto social, pois para o cidadão participar ativamente da sociedade precisa não só compreender a Química, mas a sociedade em que está inserido. [...] Defende-se a abordagem de temas sociais que não sejam pretensos ou meros elementos de motivação ou de ilustrações, mas efetivas possibilidades de contextualização dos conhecimentos químicos, tornando-os socialmente mais relevantes (BRASIL, 2008).

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Essa atividade foi desenvolvida como parte do estágio supervisionado realizado em uma turma de 3º ano EJA, turno vespertino, numa escola da rede estadual de ensino da cidade de Itapetinga-BA, com 20 alunos matriculados, na faixa etária de 20 a 46 anos. Saliento que todos trabalhavam no período noturno.

Foram trabalhados conteúdos de Química Orgânica e para culminância, realizamos no laboratório da escola uma oficina de produção de sabão a partir de óleo residual e glicerina. Essas execuções foram importantes para que os alunos conseguissem vislumbrar a química enquanto ciência presente no seu dia a dia.

Inicialmente, foi proposto aos alunos para que levassem óleo de fritura (residual), essências, forminhas, entre outros para fabricação do sabão. e então observar os grupos funcionais existentes, reações químicas, estado físico da matéria entre outros conteúdos presentes, conforme a imagem 1:

Imagem 1: materiais para produção do sabão e a turma.

Nessa atividade os alunos identificaram a presença da química expressas na tabela 1, abaixo:

Produção de Sabão Conteúdos de Química abordados

Óleo residual Funções orgânica, reciclagem.

Reação de saponificação Resultado de uma reação acido-base

Limpeza Moléculas anfipáticas e hidrofílicas.

Tabela 1: Conhecimentos químicos observados na fabricação de sabão.

Após a realização dessa atividade, foi proposto um debate sobre a importância da química e a presença dela no cotidiano dos alunos. Pedimos aos alunos que

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respondessem um questionário com 4 questões subjetivas para avaliação, onde podemos citar:

1) Onde você encontra a Química no seu dia a dia? 2) Você aprende mais nas aulas práticas?

3) Que método de ensino você prefere?

4) Você conseguiu enxergar a química na produção de sabão?

RESULTADOS

Com a aplicação dos questionários, podem-se observar os resultados obtidos com a pesquisa, os quais estão expressos abaixo.

1- Dê exemplos de onde você encontra a Química no seu dia a dia.

Medicamentos 25% dos alunos

Meio ambiente 20% dos alunos

Alimentos 40% dos alunos

Produtos de limpeza 10% dos alunos

Não respondeu 5% dos alunos

Percebemos que a maioria dos alunos consegue exemplificar onde podemos encontrar química. Na medida em que incorpora relações tacitamente percebidas, a contextualização enriquece os canais de comunicação entre a bagagem cultural, quase sempre essencialmente tácita, e as formas explícitas ou explicitáveis de manifestação do conhecimento (FILHO, et al, 2008).

2- Você aprende mais nas aulas experimentais? Justifique.

Sim, pois consigo ver onde existe química, ficando mais fácil entender os assuntos.

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Sim, sem justificativa. 30% dos alunos. Não, porque nem todos podem participar

ativamente, só fico olhando.

15% dos alunos.

Observando as respostas vemos que os alunos gostam de aulas experimentais. A aula prática é uma maneira eficiente de ensinar e melhorar o entendimento dos conteúdos de química, facilitando a aprendizagem. Os experimentos facilitam a compreensão da natureza da ciência e dos seus conceitos, auxiliam no desenvolvimento de atitudes científicas e no diagnóstico de concepções não-científicas. Além disso, contribuem para despertar o interesse pela ciência (ALMEIDA, 2008).

3- Que método de ensino você prefere?

Gosto quando o professor dá exemplos do dia a dia nas aulas.

25% dos alunos.

Gosto quando fazemos experimentos. 40% dos alunos

Gosto quando vemos vídeos. 15% dos alunos.

Não gosto de química. 20% dos alunos.

Vemos que a maioria dos alunos gosta de aulas contextualizadas, com experimentos e vídeos, isso faz consonância com a importância de aulas mais dinâmicas, mais motivadoras, que o aluno se sinta importante no processo de aprendizagem. Contextualizar a química não é promover uma ligação artificial entre o conhecimento e o cotidiano do aluno. Não é citar exemplos como ilustração ao final de algum conteúdo, mas que contextualizar é propor “situações problemáticas reais e buscar o conhecimento necessário para entendê-las e procurar solucioná-las” (BRASIL,1998).

Diante do exposto, se faz necessário a prática de um ensino mais contextualizado, onde se pretende relacionar os conteúdos de química com o cotidiano dos meninos e das meninas, respeitando as diversidades de cada um, visando à formação do cidadão, e o exercício de seu senso crítico (ALMEIDA, 2008)

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4- Você conseguiu enxergar a química na produção de sabão? Como ficou seu conhecimento químico após a oficina?

Consegui perceber que a química está em tudo, inclusive no sabão. Eu aprendi muito mais depois da oficina.

55% dos alunos.

Eu enxerguei a química na produção de sabão. Eu não consegui aprender todos os conteúdos de química que envolve o processo.

35% dos alunos.

A química é muito abstrata e produzir sabão me ajudou a entender algumas coisas.

10% dos alunos.

Diante das respostas percebemos que a oficina de produção de sabão foi importante para a compreensão de alguns conteúdos químicos, principalmente no que diz respeito àqueles mais abstratos como ligações, reações. O êxito de aulas contextualizadas segundo tais direcionamentos pode ser alcançado também com aulas experimentais. Perspectivas construtivistas de ensino de química valorizam estratégias de ensino que promovam o estabelecimento de relações entre a química e o cotidiano (PEDROSA, 2001).

CONCLUSÃO

Diante da análise dos resultados, percebe-se que os alunos se sentem mais motivados para entender os conteúdos de química, quando se tem uso de aulas práticas e mais dinâmicas, possibilitando aos mesmos identificarem a presença da química no seu dia a dia, além da desmistificação da ciência. Nessa perspectiva evidenciou-se que o conhecimento transmitido pelo professor não é algo pronto e acabado. Sendo o conhecimento científico uma construção humana estando sujeita a acertos e erros (BUDEL, 2007).

Vemos a importância e a necessidade do aproveitamento durante as aulas da experiência de vida do aluno, estimulando ideias novas, deixando que o aluno busque em seu cotidiano solução para as situações-problema.

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Segundo Budel (2007), é um desafio lecionar a disciplina de química junto a este público. Logo, os professores que atuam junto a esta modalidade, devem repensar sua pratica pedagógica, buscando facilitar o processo de ensino/aprendizagem, levando os alunos a aprimorarem sua consciência crítica, tornando seus alunos letrados.

REFERENCIAS

ALMEIDA, L.C.; COSTA, I.;FERNANDES, H.S.; FARIA, F.F.; Alfabetização

científica nos espaços de educação formal. In:VIII Congresso Ibero Americano de

Extensão Universitária, pg.1144-1150, 2005. Rio de Janeiro. Disponível em:

http://www.pr5.ufrj.br/cd_ibero/biblioteca_pdf/educacao/98%20%20VIIIcong_ibero_al fab_vf.pdf

Acesso em 14-02-2013.

BRASIL. (1996). Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. LEI Nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. D.O.U de 23 de dezembro.

BRASIL, MEC. As Novas Diretrizes Curriculares que Mudam o Ensino Médio

Brasileiro, Brasília,1998.

BRASIL. (2008). Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais. Ensino Médio: Ciências da

Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Brasília: MEC.

BONENBERGER, C. J.; COSTA, R. S.; SILVA, J.; MARTINS, L. C. (2006). O Fumo

como Tema Gerador no Ensino de Química para Alunos da EJA. Livro de Resumos

da 29a Reunião da Sociedade Brasileira de Química. Águas de Lindóia, SP.

BUDEL, G. J. Ensino de Química na EJA: Uma proposta metodológica com

abordagem do cotidiano. UFPR: Curitiba.

CHIAPPINI, L. Aprender e ensinar com textos. 5ª. ed., São Paulo: Cortez, 2007. FILHO et al. Diferentes estratégias de ensino utilizadas em cursos de graduação. XIV Encontro Nacional de Ensino de Química (XIV ENEQ). Curitiba, 2008.

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PEDROSA, M. A. (2001) Integrando Inter-relações CTS em Ensino de Química,

Dificuldades, Desafios e Propostas. In: ENCIGA (Ed.). XIV de ENCIGA

(Associación dos Ensinantes de Ciencias de Galicia), 79-86.

PELUSO, T.C.L. Diálogo & Conscientização: alternativas pedagógicas nas políticas

públicas de educação de jovens e adultos. Tese de Doutorado. Universidade Estadual

de Campinas. UNICAMP. 2003.

PICONEZ, S. C. B. (2002). Educação Escolar de Jovens e Adultos. Campinas, São Paulo: Papirus, 2002.

SANTOS, W.; SCHNETZLER, R. Educação em Química: compromisso com a

Referências

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