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[Recensão a] SILVA, Maria de Fátima e BARBOSA, Tereza Virgínia Ribeiro (coord.) - Ensaios sobre Mário de Carvalho

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Academic year: 2021

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[Recensão a] SILVA, Maria de Fátima e BARBOSA, Tereza Virgínia Ribeiro (coord.)

-Ensaios sobre Mário de Carvalho

Autor(es):

Bernardes, José Augusto Cardoso

Publicado por:

Imprensa da Universidade de Coimbra

URL

persistente:

URI:http://hdl.handle.net/10316.2/27451

DOI:

DOI:http://dx.doi.org/10.14195/2183-1718_65_30

Accessed :

3-Nov-2017 23:19:11

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2013

IMPRENSA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA COIMBRA UNIVERSITY PRESS

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Humanitas 65 (2013)

Recensões 349

Silva, Maria de Fátima e Barbosa, Tereza Virgínia Ribeiro (Coordenação),

Ensaios sobre Mário de Carvalho, Coimbra, Imprensa da Universidade (Série Mito e (re)escrita), 2012.

1. Mário de Carvalho constitui um caso invulgar, no âmbito da literatura contemporânea escrita em Português. A invulgaridade do caso resulta, desde logo, da forma como este escritor vem construindo a sua obra, desde 1990, data da publicação de Contos da Sétima Esfera: numa série já vasta mas não caudalosa, coerência e inovação combinam ‑se num registo de notável simbiose. Isto significa que, em regra, cada livro parece constituir a continuação de caminhos antes trilhados; ao mesmo tempo, porém, cada novo volume não deixa de ser portador de importantes (e por vezes inesperadas) evoluções, quer no plano dos temas quer, sobretudo, no plano da forma.

A singularidade da obra do escritor resulta também da sua forte espessura cultural: nos contos e romances de Mário de Carvalho ecoa um lastro intenso onde se misturam vozes da cultura clássica e moderna. É esse lastro que faz dele um “escritor de memória”, como o são poucos mais em Portugal (Vasco Graça Moura, Manuel Alegre, Mário Cláudio, Maria Velho da Costa, Gonçalo M. Tavares...). Ao contrário do que sucede tantas vezes, porém, o diálogo com essas vozes fantasmáticas não se limita à citação ocasional e nada tem que ver com o vezo exibitivo. Vai muito mais além o dito diálogo: quer “converse” com Virgílio, Dante, Gil Vicente, Camilo, Eça ou Dostoievski, o autor em apreço revela sempre um conhecimento profundo do interlocutor, a que se junta uma preocupação atualizadora. Isto significa, na prática, que Mário de Carvalho faz da escrita uma forma de Colóquio elevado e aberto, envolvendo os “gigantes” que o precederam, em Latim, em Português e em outras línguas europeias. Falo de “gigantes” porque, na obra do autor, a ideia de cânone encontra ‑se muito presente, refletindo parâmetros de exigência que se aplicam aos ditos interlocutores e a si próprio. Essa conversa incide sobre muitos assuntos, ilustrando a ideia de que a escrita pressupõe um convívio aristocrático, feito de tempo, de silêncio e de constantes revisitações. Muitas vezes, essa conversa incide sobre a própria literatura, enquanto fenómeno feito de engenho e de arte, ou seja, de invenção e de oficina. De forma direta ou indireta o autor de Um

deus passeando pela brisa da tarde perscruta constantemente a essência da escrita, os seus fundamentos, as suas missões e ainda as suas estratégias. Essa dimensão autoreflexiva e quase ensaística é, de resto, consensualmente reconhecida como uma das componentes mais identificadoras da sua escrita.

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Por fim, é fundamental lembrar que na obra de Mário de Carvalho (em grande parte dela, pelo menos) perpassa um forte ethos satírico. Como é sabido, em si mesma, a sátira (e também a utopia) resulta de uma atitude de insubmissão nobre em relação à realidade. Em vários dos seus livros, a sátira surge mesmo combinada com paródia e melancolia (o sentimento de perda revela ‑se marcante no universo do escritor), o que se traduz em mais um interessante sinal de especificidade.

2. Estes indicadores de valia justificam o caloroso acolhimento do público (falo do público “exigente”, no qual se inclui a crítica académica). É isso que agora sucede com um volume integralmente dedicado ao autor, coordenado por Maria de Fátima Silva (Universidade de Coimbra) e Tereza Virgínia Ribeiro Barbosa (Universidade Federal de Minas Gerais), englobando 13 ensaios e um texto introdutório do próprio autor (expressamente escrito para o efeito). Não se trata ainda do Companion que a obra de Mário de Carvalho talvez já justificasse, embora, em meu entendimento, a prioridade deva ser concedida a uma edição global da obra, cronologicamente ordenada e escrutinada em termos de fixação de texto.

De qualquer forma, o volume agora vindo a lume passa a constituir pedra importante na bibliografia passiva do autor. Através de Ana Paula Arnaut, nele se discutem questões transversais como a feição pós ‑modernista da sua escrita (como era de esperar, a questão não fica encerrada), o diálogo íntimo e renovador com os autores clássicos (Maria de Fátima Silva, Virgínia Soares Silva e António Gonçalves Mendes), a questão articulada da sátira e da metaficcionalidade (Cândido Martins, Maria João Simões e Rosana Baptista dos Santos). Num outro plano, surgem ensaios sobre algumas obras particulares: desde aquelas que são consideradas como mais emblemáticas (A Paixão do Conde de Fróis, Um deus passeando pela brisa

da tarde, ou Era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto) até A

Arte de Morrer longe, um livro publicado em 2010, que, como bem mostra Tereza Virgínia Barbosa, ocupa espaço importante no macrotexto do autor, instituindo pistas que ajudam a ler livros anteriormente publicados.

3. Antes de meditar nos estudos que integram o volume, porém, o leitor é convidado a ler o curto texto do escritor a que já aludimos. E não pode deixar de o fazer com gosto e atenção. Nele se reconhecem, desde logo, as boas qualidades que identificam o seu estilo: a capacidade de evocar situações, a importância da memória, a (auto)ironia, a brevidade

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Humanitas 65 (2013)

Recensões 351

incisiva. No espaço de três páginas, o autor discorre ainda sobre a missão da Escola (da Escola de outros tempos e da Escola dos nossos dias). Mais do que isso, porém, esse texto constitui também como que um posiciona‑ mento cautelar de quem o assina perante os julgamentos alheios (aqueles de que foi objeto e também os que vão seguir ‑se). De um ponto de vista estético mas também de um ponto de vista humano, o artista não se revê na tendência catalogadora que anda associada à crítica universitária (“Era bom que a vida fosse simplificada, capaz de se conter em meia dúzia de carimbadas”, p.11). Parece ser esse, de facto, um dos seus principais temores, já manifestado, aliás, em algumas entrevistas. E não admira. Para qualquer escritor que lute contra as aparências e contra a superficialidade, o risco de se ver desfigurado e reduzido a meia dúzia de estereótipos, nem todos justos e acertados, constitui um bem justificado incómodo.

É verdade que hoje como ontem, não faltam críticos (dentro e fora da Universidade) que fazem do seu labor uma “revelação” esquematizada e simplificadora, aprisionando sentidos em vez de os libertar. Mário de Carvalho não tem escapado a essa orientação minimalista. Mas é preciso reconhecer que, a esse propósito, tem sido menos “sacrificado” do que outros. Pensamos sobretudo naqueles autores contemporâneos cuja pre‑ sença no cânone escolar vem sendo mais assídua. Por via dessa presença, a complexidade e o potencial de interpelação próprios da boa literatura quase se dissipam, dando lugar a breves tópicos de leitura: os que constam dos programas e dos manuais e aqueles, normalmente ainda mais pobres, que são glosados nas salas de aula. Ora, não tem acontecido assim com este escritor. Se exceptuarmos o caso de um ou outro texto (com destaque para A inaudita guerra da Avenida Gago Coutinho), Mário de Carvalho tem escapado ao procedimento normalizador que a Escola fatalmente impõe. E se, por um lado, isso pode constituir motivo de lástima (este autor reúne condições únicas para ter outro tipo de presença na disciplina de Português), apetece pensar, por outro lado, que esta quase ausência não deixa de constituir uma proteção benfazeja.

No modelar estudo que abre o volume, a propósito de O livro grande

de Tebas. Navio e Mariana, Maria de Fátima Sousa e Silva sinaliza um dos grandes lemas da criação do autor:

“...pela literatura, fazer vibrar emoções a propósito de uma remota Tebas” (p. 29).

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O facto de Mário de Carvalho fazer da sua obra um confronto com os grandes enigmas (como seja o Tempo, desde logo), faz dele um escritor que renuncia a concessões, para adotar um compromisso difícil e elevado. É por isso que o seu nome se situa, sem favor, na senda de outros que, antes dele, nobilitaram a Literatura, entendendo ‑a essencialmente como forma de interrogação inquietante e mobilizadora.

José AuGusto cArdoso BernArdes

Silva, Markus Figueira da: Epicuro: Sabedoria e Jardim, Relume ‑Dumará, Rio de Janeiro, 2003, 122 pp. Apresentação de Elena Moraes Garcia. O livro de Markus Figueira da Silva resulta de uma tese de douto‑ ramento defendida na Universidade Federal do Rio de Janeiro, orientada por Elena Moraes Garcia. Consta de seis capítulos, sendo o primeiro uma introdução e o último a conclusão. A ordenação dos capítulos obedece a uma sequência clara e lógica, estudando sucessivamente as concepções de Epicuro sobre a natureza (phýsis) (Capítulo 2), o corpo (sárkos) (Capítulo 3), a alma (psyché) (Capítulo 4) e, por fim, a ética (éthos) (Capítulo 5). O seu objectivo é circunscrito: “a partir da leitura dos textos e das suas respectivas traduções, [...] tecer uma análise interpretativa com a intenção de apresentar a noção de equilíbrio, articulada enquanto questão fundamental do pensamento epicúreo” (p. 19).

O livro apresenta sucintamente as fontes textuais para o estudo do pen‑ samento de Epicuro (pp. 18 ‑19), refere algumas das traduções disponíveis e, em notas, diversos aspectos da bibliografia secundária. Especialmente para o caso do conceito central do prazer, são úteis as breves comparações que esboça com o pensamento de Platão, Aristóteles e os Cirenaicos. Em geral, trata ‑se de uma exposição que, sem se perder na complexidade da análise filológica, apresenta uma visão panorâmica sobre o pensamento de Epicuro, recorrendo, quando necessário, também ao auxílio de textos de Demócrito ou Lucrécio.

Delimitado este quadro de abordagem, Markus Figueira apresenta o epicurismo como um percurso filosófico completo em si mesmo, que faz ligar, nos dois extremos da filosofia, uma concepção materialista e atomista da natureza a uma concepção da vida boa, decorrente da natureza e a esta

Referências

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