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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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CÍVEL

AGRAVANTE : INDÚSTRIAS TODESCHINI S.A. AGRAVADO : MOINHO CARLOS GUTH S.A.

RELATOR : DESEMBARGADOR Francisco Pinto RABELLO FILHO

Desembargador Rabello Filho

Agravo de instrumento – Decisão interlocutória – Ausência de qualquer fundamentação – Nulidade – Princípio da motivação das decisões judiciais – CF, art. 93, inc. IX – CPC, art. 165, 2.ª parte – Decisão cuja nulidade (constitucionalmente cominada) se declara.

As decisões interlocutórias também estão submetidas à exi-gência constitucional e legal de motivação, sem o que ficam con-taminadas pelo vício da nulidade.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de agravo de instrumento n.º 541982-3, de Curitiba, 18.ª Vara Cível, em que é agravante Indústrias Todeschi-ni S.A. e agravada, Moinho Carlos Guth S.A.

Exposição

1. Indústrias Todeschini S.A. interpõe o presente agravo de

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Desembargador Rabello Filho

direito1 da 18.ª Vara Cível de Curitiba na fase executiva da ação declaratória de

inexigibilidade de débito que move em face de Moinhos Carlos Guth S.A.

1.1. A decisão recorrida deferiu pedido formulado pela parte agravada

(fs. 228-229), que requereu intimação da parte agravante, através de seus advo-gados, para indicar, no prazo de 10 (dez) dias, a localização dos bens sujeitos à penhora, inclusive com seus respectivos valores, sob pena de incidência de multa processual de 20% sobre o valor atualizado da dívida exequenda, sem prejuízo de outras sanções, inclusive prisão dos administradores e responsáveis pela adminis-tração da devedora, por desrespeito à Justiça.

1.2. Sustenta a agravante:

i) a decisão é nula por ausência de fundamentação;

ii) total falta de embasamento legal que obrigue a indicação de bens à penhora, as-sim como a aplicação de multa de 20% sobre o saldo exequendo e a prisão dos administra-dores da agravante.

1.3. O digno juiz da causa prestou informações (f. 375) e a agravada

apresentou resposta (fs. 361-371).

Voto

2. O recurso merece conhecimento, na medida em que estão presentes

os pressupostos de admissibilidade recursal, assim os intrínsecos (cabimento, legitimação e interesse em recorrer), como os extrínsecos (tempestividade, regu-laridade formal, inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer e preparo).

1 Juiz Humberto Gonçalves Brito.

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3. A ausência de fundamentação

3.1. Para logo, brilha que a respeitável decisão interlocutória padece

de nulidade, constitucionalmente cominada.

3.2. Com efeito, já dispunha o Código de Processo Civil (1973), em

artigo 165, que sentenças e acórdãos devem seguir seu artigo 458, complemen-tando que “as demais decisões serão fundamentadas, ainda que de modo conciso” (art. 165). Essa exigência de fundamentação dos atos decisórios ganhou dignida-de constitucional expressa com a Carta Política dignida-de 1988, ao prescrever esta, em artigo 93, inciso IX, que “todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade [...]”.

3.3. Com essa consagração expressa de mais uma das garantias do

Es-tado de Direito contra o arbítrio – ainda que judicial –, não basta ao órgão juris-dicional, tanto que provocado, dizer que acolhe ou rejeita essa ou aquela postula-ção, que defere ou indefere esse ou aquele requerimento, ou – por outro giro ver-bal – que ordena que se proceda da maneira x ou y; será imprescindível que de-cline, sempre, a razão ou motivo por que assim decide; é a indispensabilidade da motivação.

3.4. No caso presente, não se trata sequer de decisão sinteticamente

(resumidamente, concisamente) ou até mesmo deficientemente fundamentada, quando se lhe poderia dar salvação; a situação, bem se vê, é de absoluta, de completa ausência de fundamentação. A digna juíza da causa limitou-se tão-somente a deferir o pedido formulado pela parte agravada (f. 20).

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3.5. À pergunta que – ante essa decisão – é feita pelo jurisdicionado,

visando a saber o fundamento desse decidir, não se encontra resposta. Assim, ante a decisão que deferiu o pedido da parte agravada, surge a indagação: por quê? A respeitável decisão atacada não contém resposta para essa pergunta. Não tem fundamentação. E motivação não tendo, de nulidade resta contaminada. In-contornavelmente.

3.6. Nulidade, é relevantíssimo insistir, constitucionalmente

comina-da, sendo de tal magnitude a exigência de fundamentação que erigida foi a pata-mar principial, com o que se fala em princípio da motivação das decisões judici-ais.

3.6.1. Consoante lembra Nelson Nery Junior é “Interessante observar que normalmente a Constituição Federal não contém norma sancionadora, sendo simplesmente descritiva e principiológica, afirmando direitos e impondo deveres. Mas a falta de motivação é vício de tamanha gravidade que o legislador constitu-inte, abandonando a técnica de elaboração da Constituição, cominou no próprio

texto constitucional a pena de nulidade”.2

3.7. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é abundante a

esse respeito,v.g.:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. LIMINAR. CONCESSÃO. DE-PÓSITO DE PARCELAS. SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO. FUNDAMEN-TOS DA DECISÃO. INEXISTENTES. NULIDADE CONFIGURADA.

I – Decisão que concede liminar em ação cautelar que objetiva depósito de parcelas do SFH em que o julgador se resume a dizer que se encontram presentes o fumus boni iuris e o periculum in mora, sem explicitar suas razões.

2 NERY JUNIOR, Nelson. Princípios do processo civil na Constituição Federal. 7. ed., rev. e atual. São Paulo: Revista dos

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II – A fundamentação das decisões judiciais é quesito essencial à sua validade, não podendo ser afastada por seu prolator sob pena de nulidade.

III – Recurso especial provido, anulando-se o decisum objurgado. 3

PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO. NÃO ENFRENTAMENTO DE QUESTÃO POSTA. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA PELOS SEUS PRÓPRIOS FUNDAMEN-TOS. FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO. VIOLAÇÃO DA LEI FEDERAL CONFIGU-RADA. MOTIVAÇÃO INEXISTENTE. 'DUE PROCESS OF LAW'. ART. 535, CPC. RECURSO PROVIDO.

I - A motivação das decisões judiciais reclama do órgão julgador, pena de nulidade, explicitação fundamentada quanto aos temas suscitados. Elevada a cânone constitucional, apresenta-se como uma das características incisivas do processo contemporâneo, calcado no 'due process of law', representando uma 'garantia inerente ao estado de direito'.

[...].4

3.8. No mesmo sentido: REsp 5663-SP, ROMS 14.581-RJ, HC

21006-PB, HC 23843-SP, RHC 13166-SC, RHC 14651-RJ, HC 23893-PA, HC 17674-MS etc.

4. Conclusão

4.1. Passando-se as coisas desta maneira, meu voto é no sentido de

que se dê provimento ao recurso, para que se declare a nulidade da respeitável decisão agravada, por absolutamente desmotivada, violadora, bem por isso, de exigência constitucional (CF, art. 93, inc. IX) e legal (CPC, art. 165, 2.ª parte).

3 STJ, 1.ª Turma, REsp 181835-SP, unânime, rel. min. Francisco Falcão, j. 4/3/2004, in DJU 17/5/2004, p. 108.

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Desembargador Rabello Filho

Decisão

5. À face do exposto, ACORDAM os integrantes da Décima Terceira

Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso, nos termos do voto do relator.

5.1. O julgamento foi presidido pelo Senhor Desembargador Cláudio

Andrade, sem voto, e dele participaram, além do signatário (relator), os Senhores Desembargador Gamaliel Seme Scaff e Juiz Luis Carlos Xavier.

Curitiba, 11 de fevereiro de 2009 (data do julgamento).

Desembargador Rabello Filho

Referências

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