• Nenhum resultado encontrado

FRATRIA E REDE FAMILIAR: MODOS DE VINCULAÇÃO NA CLÍNICA SOCIAL COM FAMÍLIAS

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "FRATRIA E REDE FAMILIAR: MODOS DE VINCULAÇÃO NA CLÍNICA SOCIAL COM FAMÍLIAS"

Copied!
5
0
0

Texto

(1)

FRATRIA E REDE FAMILIAR: MODOS DE VINCULAÇÃO NA CLÍNICA SOCIAL COM FAMÍLIAS

Alunas: Alessandra Halkjaer-Lassen, Flávia Parente, Isabella Sucrmont, Júlia Saraiva e Patrícia Costa

Orientadora: Andrea Seixas Magalhães Apoio Técnico: Cristina Gonçalves e Juliana Mendes

Introdução

A família contemporânea se estrutura como uma trama, constituída por laços complexos e diversificados, com ênfase nas dimensões socioafetivas. Neste grupo, as relações tendem a ser cada vez mais horizontalizadas, nas quais emergem questionamentos sobre o papel desempenhado pela fratria. Na clínica social com famílias, a relação entre os irmãos e os modos de vinculação fraterna, sobretudo, têm emergido como questão importante. Observamos que, independentemente da configuração familiar (família casada, recasada, separada e monoparental), as relações entre irmãos se transformaram. Esse fenômeno é mais evidente nas famílias recasadas, onde é mais frequente a presença de meio-irmãos e irmãos socioafetivos. Contudo, para além das nomeações recebidas nessas fratrias, ressaltamos que o que mudou foi o modo de vinculação familiar. Consideramos que a clínica social com famílias é um importante campo de pesquisa para o estudo da fratria, sobretudo, porque os sintomas trazidos pelas famílias expressam as transformações mais profundas da intersubjetividade familiar.

Objetivo

O objetivo geral deste projetoé desenvolver uma pesquisa sobre fratria e rede familiar, buscando aprofundar o conhecimento sobre modos de vinculação contemporâneos na clínica social com famílias. Pretendemos investigar os tipos de vínculo fraterno presentes nas diferentes configurações de família que buscam psicoterapia e as articulações estabelecidas entre irmãos e a rede familiar. Como objetivos específicos, pretendemos: a) identificar e investigar diferentes tipos de vínculo fraterno; b) analisar as repercussões da parentalidade no estabelecimento dos vínculos fraternos; c) investigar as repercussões geracionais na constituição dos vínculos fraternos; d) investigar as relações entre fratria e rede familiar; e) analisar o papel das relações fraternas na demanda de psicoterapia familiar. A partir dos resultados dessa pesquisa, buscamos contribuir com o desenvolvimento de subsídios teórico-clínicos para a psicoterapia familiar, assim como para outras modalidades de intervenção familiar no campo social e no campo da justiça.

Metodologia

Para atingirmos os objetivos propostos, estamos desenvolvendo esta investigação utilizando uma metodologia clínico-qualitativa [1] centrada em entrevistas clínicas com famílias e na aplicação da Entrevista Familiar Estruturada - EFE [2].

(2)

Participantes

Participam desta pesquisa vinte famílias encaminhadas para as equipes de Casal e Família do Curso de Graduação e do Curso de Especialização do Departamento de Psicologia da PUC-Rio.

Instrumentos e procedimentos

Para finalidade de identificação dos diferentes tipos de configuração familiar atendidos no SPA da PUC-Rio, a Ficha de Configuração da Família-FCF é utilizada. Nessa ficha, são registrados dados relativos a idade, sexo, escolaridade, profissão, estado civil, orientação sexual, configuração da família de origem, configuração da família atual, classe social, religião, renda familiar e contribuição individual de cada familiar para a renda total alcançada. Os dados clínicos são coletados durante o período da avaliação familiar, que consiste de quatro a seis sessões, aproximadamente. No processo de avaliação familiar, são realizadas entrevistas clínicas preliminares e a Entrevista Familiar Estruturada (EFE). As entrevistas e a aplicação do instrumento diagnóstico são realizadas por estagiários das equipes do Curso de Graduação do Departamento de Psicologia e do Curso de Especialização em Psicoterapia de Família e Casal. As equipes são supervisionadas pela pesquisadora proponente. As entrevistas são registradas segundo o modelo de relato clínico e a EFE será gravada e, posteriormente, transcrita.

Resultados Parciais

Neste primeiro ano, dedicamo-nos, sobretudo, ao levantamento de literatura pertinente ao tema estudado. Destacamos alguns eixos temáticos relacionados à fratria, tais como: dinâmica da relação fraterna, focalizando aspectos de competição e rivalidade, assim como companheirismo e solidariedade; comportamento de cuidado entre irmãos, incluindo irmãos com deficiência; interação social entre irmãos, enfocando comportamentos de ajuda, consolo, conforto, ensino e cooperação; complexo fraterno e suas repercussões na formação do ciúme e da inveja; e influência da posição do indivíduo na ordem de nascimento entre irmãos, considerada importante variável na personalidade do sujeito. Além disso, iniciamos a codificação dos dados clínicos, incluindo resumo de sessões clínicas e transcrição das EFEs aplicadas em cinco famílias atendidas durante esse período pela equipe de Psicoterapia de Família do SPA (Serviço de Psicologia Aplicada da PUC-Rio). O material clínico ainda está em processo inicial de coleta e transcrição para futura análise.

Neste relatório, apresentamos um resumo da revisão de literatura realizada até o presente momento. Este levantamento bibliográfico servirá como substrato teórico para futura discussão do material clínico a ser coletado e analisado nesta pesquisa.

Revisão da Literatura sobre Fratria

No campo da clínica, o conceito de fratria foi pouco valorizado até recentemente. As diversidades de configurações familiares e de novas formas de fratria levaram os clínicos a repensarem a especificidade da vinculação fraterna. Dentre os fenômenos que mais significativamente influenciam as transformações da fratria, destacam-se as recomposições familiares, a reprodução assistida e a adoção. Na família contemporânea, a partir de substratos distintos, as novas fratrias devem criar o que deve ser compartilhado, o que contribuirá para o sentimento de pertencimento à família [3] [4].

Considerando a diversidade e a multiplicidade de arranjos familiares possíveis na contemporaneidade, surgem novos modos de vinculação e novos tipos de fratria. Em algumas famílias, irmãos biológicos coabitam com meio-irmãos e/ou irmãos socioafetivos, podendo ter

(3)

até mais convívio com os irmãos socioafetivos do que com os biológicos, nos casos em que os últimos moram em casas separadas. Além de fatores como convivência e compartilhamento de experiências, temos também as diferenças de idade, gênero e outros fatores que modulam o tipo de vínculo estabelecido entre os irmãos. Haxhe [3] pontua que, em alguns casos, são estabelecidos laços fraternos entre irmãos socioafetivos, mas em outros há somente sentimentos fraternais ou mesmo certa indiferença e pouca intimidade. Além das “fratrias sem fraternidade”, discutidas por Caillé [5], deparamo-nos hoje também com fraternidades sem fratria.

MacKinnon [6] fez uma pesquisa na qual observou a relação entre a qualidade da relação fraterna e a qualidade da relação entre os pais, demonstrando que os filhos respondem à forma como seus pais se relacionam. Mosmann, Zordan e Wagner [7], por sua vez, nos trazem a ideia de que presenciar o modo como os pais resolvem seus conflitos, conversam entre si, demonstram afeto e adaptam-se às dificuldades da vida, favorece o aprendizado dos filhos sobre formas de relacionamento e de resolução de problemas. Portanto, o sistema familiar oferece as ferramentas para que se estruture uma relação fraterna de cunho mais ou menos positivo [8] [9].

A literatura aponta para estudos sobre o papel desempenhado pela fratria em situações de crise, como por exemplo, em separações conjugais. É importante ressaltar que o relacionamento entre irmãos se constitui de maneira franca, sendo fonte tanto de conflitos quanto de ajuda e companheirismo ao longo da vida [10] [11] [9]. Sendo assim, em momentos de crise, como muitas vezes ocorre nos casos de separação, existe a tendência de ocorrer maior aproximação e aumento de intensidade das relações entre irmãos, assim como maior interdependência entre eles. O vínculo fraterno, em muitas situações, pode funcionar como sustentáculo do equilíbrio familiar [12] [13].

A qualidade da relação fraterna é suscetível a influências como: relacionamento entre o casal parental e os filhos; gênero; diferenças de idade; temperamento dos irmãos; dinâmica familiar; e eventos que ocorrem ao longo do ciclo vital de cada indivíduo dentro da família [13] [10] [9]. Goldsmid e Ferés-Carneiro [13] apontam que, nas disputas entre irmãos, o caráter lúdico é mais evidenciado do que o agressivo. Estes jogos infantis entre irmãos tem como finalidade, sobretudo, a garantia de individualidade, o atendimento de interesses e, por vezes, o desfrute de vantagens.

Goldsmid e Ferés-Carneiro [13] também abordam a dinâmica da relação fraterna, focalizando seus aspectos de competição e rivalidade assim como os de companheirismo e solidariedade. Neumann e Zordan [14]investigam as reverberações da separação conjugal dos pais no relacionamento fraterno, indicando que a organização familiar dos pais, os padrões afetivos, o modo como os pais lidam com a ruptura conjugal e como reorganizam as relações coparentais são fatores que interferem no relacionamento fraterno após a separação.

Soares, Franco e Carvalho [15], por sua vez, dedicaram seus estudos no comportamento de cuidado entre crianças, em ambiente familiar, quando irmãos colaboram no cuidado de crianças com necessidades especiais. Os autores ressaltaram que tem-se evidenciado, nas últimas décadas, um interesse crescente pelo estudo da interação social entre crianças, com destaque para os comportamentos de ajuda, consolo, conforto, ensino e cooperação.

No âmbito psicanalítico, Teixeira [16] pesquisa o ódio compartilhado em relação ao pai onipotente e o desejo de matá-lo, concomitantemente com a culpabilidade e o arrependimento, trazendo esta irmandade como possibilidade de coesão grupal. Neste estudo, a autora traz como plano de fundo o artigo Totem e Tabu, de Sigmund Freud [17]. Goi [18] destaca outro eixo temático recorrente, o complexo fraterno, relacionado ao deslocamento do complexo de Édipo, e suas repercussões na formação do ciúme e da inveja.

(4)

Também foram levantadas pesquisas acerca da influência da posição do indivíduo na ordem de nascimento entre irmãos, como uma importante variável na personalidade do sujeito [19] [12].

Fatores positivos e negativos relativos à execução do projeto Fatores positivos:

A pesquisa está sendo desenvolvida com a participação de pesquisadores de diferentes níveis acadêmicos, favorecendo o intercâmbio e beneficiando a formação profissional. Participam alunos de iniciação científica, especialização, mestrado e doutorado, além de bolsistas de pós-doutorado e professores colaboradores da Linha de Pesquisa “Família, Casal e Criança: Teoria e Clínica”, vinculada ao Programa de Pós-graduação em Psicologia Clínica do Departamento de Psicologia da PUC-Rio.

Fatores negativos:

Na etapa da revisão da literatura, embora haja bastante material sobre o tema, a maior parte das pesquisas é dedicada a estudos com grandes amostras de população não clínica. Quanto à coleta de dados iniciada, como o material clínico da pesquisa é obtido através de avaliação psicodiagnóstica de famílias atendidas na clínica do SPA/PUC-Rio, dependemos da busca e da adesão das famílias ao tratamento psicoterápico.

Referências

1- TURATO, E. R. Tratado de metodologia da pesquisa clínico-qualitativa. Petrópolis: Vozes, 2003.

2- FÉRES-CARNEIRO, T. Entrevista Familiar Estruturada: um método clínico para avaliação das relações familiares. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005.

3- HAXHE, S. Nouvelles fratries? Carrefour des psychotherapies, p. 223-242, 2010.

4- HAXHE, S., & D’AMORE, S. La fratrie face au coming out. Thérapie Familiale, v.2, n.34, p. 215-230, 2013.

5- CAILLÉ, P. Fratries sans fraternité. Cahiers critiques de thérapie familiale et de pratiques de réseaux, v.32, p.11-22, 2004.

6- MACKINNON, C. E. An observational investigation of sibling interactions in married and divorced families. Developmental Psychology, v. 25, n.1, p. 36-44, 1989.

7- MOSMANN, C. P., ZORDAN, E. P.; WAGNER, A. A qualidade conjugal como fator de proteção do ambiente familiar. In: WAGNER, A. (org.). Desafios psicossociais da família contemporânea: pesquisas e reflexões. Porto Alegre: Artmed, 2011. p. 58-71.

8- KILLOREN, S. E., THAYER, S. M.; UPDEGRAFF, K. A. Conflict resolution between mexican origin adolescent siblings. Journal of Marriage and Family, v.70, n.5, p.1200-1212, 2008.

9- SILVEIRA, L. M. DE O. B. O relacionamento fraterno e suas características ao longo do ciclo vital da família. In WAGNER, A. (Coord). Família em cena: Tramas, dramas e transformações. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002. p. 93-112.

10- MCGOLDRICK, M., & WATSON, M. Siblings and the life cycle. In: MCGOLDRICK, M. & CARTER, B. The expanded family life cycle: individual, family, and social perspectives. 4.ed. Boston: Pearson Education, 2011. p. 149–162.

11- OSÓRIO, L. C. O que é família afinal? In: OSÓRIO, L. C. Casais e famílias: Uma visão contemporânea. Porto Alegre: Artmed, 2002.

(5)

12- FERNANDES, O. M., ALARCÃO, M., RAPOSO, J. V. Posição na fratria e personalidade. Estudos de Psicologia, v. 24, n.3, p. 297-304, 2007.

13- GOLDSMID, R.; FÉRES-CARNEIRO, T. A função fraterna e as vicissitudes de ter e ser um irmão. Psicologia em Revista, v. 13, n.2, p. 298-308, 2007.

14- NEUMANN, A. P & ZORDAN, E. P. As reverberações da Separação Conjugal dos Pais no Relacionamento entre Irmãos. Pensando Famílias, v. 17, n.2, p. 35-47, dez. 2013.

15- SOARES, M. P.G.; FRANCO, A. L.S & CARVALHO, A.M. A. Crianças que cuidam de irmãos com necessidades especiais. Psicologia: Teoria e pesquisa, v. 25, n.1, p. 45-54. 2009. 16] TEIXEIRA, L. C. Função paterna, fratria e violência: sobre a constituição do socius na psicanálise freudiana. Psico-USF, v.7. n. 2, p. 195-200, 2002.

17- FREUD, S. Totem e tabu (1913 [1912-13]). In: Edição Standard das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v. XIII. Rio de Janeiro: Imago, 1980.

18- GOI, S. B. S. O complexo fraterno: reflexões acerca do ciúme e da inveja entre irmãos. Revista Brasileira de Psicoterapia, v.16, p. 49-61, 2014.

19- MAGALHÃES, M. O. Relação entre Ordem de Nascimento e Estilos Interpessoais. Interação em Psicologia, v.13, n.1, p. 1-11, 2009.

Referências

Documentos relacionados

Quer dizer pode haver um reconhecimento da parte da direcção, da parte do director, e se calhar da parte do corpo docente e da escola de uma maneira geral, mas isto no nosso

Este estudo analisa o subsídio como instrumento econômico e critica o recente instrumento que instituiu o ICMS Ecológico na gestão ambiental do Brasil, sob dois aspectos principais: a

Contudo, pelas análises já realizadas, as deformações impostas às placas pelos gradientes térmicos devem ser consideradas no projeto deste tipo de pavimento sob pena de ocorrer

Hence, this Dissertation implements three major aggregate over-provisioning schemes such as MARA [14], COR [14] and Advanced Class-based bandwidth Over-Reservation (A-COR) in the

Refletir sobre como esses jovens e adultos pensam e aprendem envolve, portanto, transitar pelo menos por três campos que contribuem para a definição de seu lugar social:

Com este artigo pretendo alcançar dois objetivos: em primeiro lugar, contribuir para a descrição de uma característica interessante da língua portuguesa e que raramente é descrita

Ao se impor a simetria da Matriz de Interpolação, os resultados de potencial lque se apresentam na tabela VII.39) obtidos com o elemento interpolado se mostram