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RIBEIRO, C. S. G.

RIBEIRO, C. S. G.Comida como culturaComida como cultura 279279

História: Questões & Debates, Curitiba, n.

História: Questões & Debates, Curitiba, n. 54, p. 279-282, jan./jun. 2011. Editora UFPR 54, p. 279-282, jan./jun. 2011. Editora UFPR 

COMIDA COMO CULTURA

COMIDA COMO CULTURA

**

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Cilene da Silva Gomes Ribeiro

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MONTANARI, M.ANARI, M. Comida como culturaComida como cultura. São Paulo: Senac. São Paulo: SenacSão Paulo,São Paulo,

2008, 207 p.

2008, 207 p.

Massimo Montanari, historiador italiano, nascido em Imola em

Massimo Montanari, historiador italiano, nascido em Imola em

1949, é um dos mais importantes pesquisadores da História da

1949, é um dos mais importantes pesquisadores da História da

Alimen-tação. Especializado na época medieval, período sobre o qual leciona na

tação. Especializado na época medieval, período sobre o qual leciona na

Universidade de Bolonha, Montanari já estudou vários temas

Universidade de Bolonha, Montanari já estudou vários temas relacionadosrelacionados

à agricultura e a alimentação, sendo muitos deles apresentados e reunidos

à agricultura e a alimentação, sendo muitos deles apresentados e reunidos

nesta obra, publicada em 2004. O autor há muito tempo faz parte de uma

nesta obra, publicada em 2004. O autor há muito tempo faz parte de uma

lista seleta de autores preocupados em manter o debate em torno da

lista seleta de autores preocupados em manter o debate em torno da

im- portância histórico-antropológico-social da

 portância histórico-antropológico-social da agricultura e agricultura e da da alimentação,alimentação,

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sendo que seus principais trabalhos desde sempre mantiveram um objetivoprincipais trabalhos desde sempre mantiveram um objetivo

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 permanente na busca de tais correlca de tais correlações.ações.

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Em Comida como culturaComida como cultura, Montanari aborda questões culturais,, Montanari aborda questões culturais,

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-vem o comer e a

vem o comer e a fabricação de alimentos. O autor aborda a representaçãofabricação de alimentos. O autor aborda a representação

da natureza como parte da cultura alimentar dos diferentes povos e dos

da natureza como parte da cultura alimentar dos diferentes povos e dos conitos naturais que desenvolveram o ser humano e deniram

conitos naturais que desenvolveram o ser humano e deniram as autorreas autorre-

- presentações dos grupos

 presentações dos grupos sociais. Mesmo as sociais. Mesmo as escolhas feitas por escolhas feitas por caçadorescaçadores

e coletores primitivos eram determinadas por uma cultura de economia

e coletores primitivos eram determinadas por uma cultura de economia

(disponibilidade) e de medicina (digestibilidade e nutrição) que levou ao

(disponibilidade) e de medicina (digestibilidade e nutrição) que levou ao desenvolvimento de estruturas sociais especícas e de

desenvolvimento de estruturas sociais especícas e de diferentes tradições.diferentes tradições.

 Na obra, são

 Na obra, são apresentados dados sobre o apresentados dados sobre o comércio de alimentos,comércio de alimentos,

sobre as primeiras sociedades agrárias, sobre os pratos que sintetizaram

sobre as primeiras sociedades agrárias, sobre os pratos que sintetizaram

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* A A obraobra Il cibo come cultura Il cibo come cultura aqui resenhada foi originalmente publicada em italiano, no aqui resenhada foi originalmente publicada em italiano, no

ano de 2004.

ano de 2004. **

** Professora Professora do Cdo Curso urso de Nude Nutrição trição ão da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e Douto-ão da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e Douto-da Poda PoPontifícia Universidade Católica do Paraná e Pontifícia Universidade Católica do Paraná e ntifícia ntifícia Universidade Universidade Católica Católica do do Paraná Paraná e Doue DouDouto-Douto-to-

to-randa do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Paraná.

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RIBEIRO, C. S. G. Comida como cultura 280

História: Questões & Debates, Curitiba, n. 54, p. 279-282, jan./jun. 2011. Editora UFPR 

diferentes gostos e a atitude analítica do Iluminismo, que insistiu na sepa-ração dos sabores.

 Na primeira parte da obra, há a descrição da passagem da economia da predação para a economia de produção de alimentos. Ao longo dos anos,

isto representou uma mudança signicativa na relação entre os seres huma

-nos e os territórios, bem como na cultura dos homens e das sociedades, nas formas de poder político, no imaginário cultural, nos rituais religiosos, nas organizações e nas invenções das cidades. Com a domesticação das plantas e dos animais, o ser humano tornou-se “dono” do mundo natural, sentindo-se, de certa forma, independente do mesmo, colaborando para a elaboração da

idéia de um “homem civil”, daquele que pode construir “articialmente”

a própria comida. E, empenhando-se em diminuir as restrições territoriais,  buscando e conseguindo comida de diversas localidades, mais ou menos

distantes, celebrou a diversidade alimentar e, muitas vezes, os privilégios sociais existentes, culminando na lógica de uma aldeia global.

O autor relata ainda que a dinâmica entre a natureza e a cultura também se exprimiu na problematicidade da relação com o tempo, isto é, com os ritmos anuais de crescimento de plantas e animais, fazendo com que as ciências e as técnicas sempre estivessem a serviço do projeto de prolongar

ou parar os tempos da natureza, seja pela diversicação das espécies, seja

 pelas técnicas de conservação dos alimentos. Inventando ou desenvolven-do alimentos, os homens criaram os “produtos típicos”, construindesenvolven-do parte decisiva dos patrimônios gastronômicos de muitos locais.

 No capítulo “A invenção da cozinha”, relacionam-se as modali-dades de consumo alimentar e a seleção dos alimentos com base em

pre-ferências individuais e coletivas aos valores, signicados e diversidade de

gostos. O fogo é desvendado como elemento de conquista e como momento constitutivo e fundador da civilização humana, como transformador do pro-duto “da natureza” em algo profundamente diverso, tornando os alimentos melhores não somente do ponto de vista do sabor, mas também da segurança e da saúde, relacionando a gastronomia com a dietética.

Em muitas sociedades, a forma de preparo dos alimentos represen-tava diferentes maneiras de domesticidade ou de poder, além de contrapo-sições de gênero. A importância simbólica das técnicas de cozimento como

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História: Questões & Debates, Curitiba, n. 54, p. 279-282, jan./jun. 2011. Editora UFPR 

 No capítulo “O prazer (e o dever) da escolha”, o foco recai no gosto, que Montanari relata ser um produto cultural. Cita que o gosto é denido pelo cérebro, que é um órgão culturalmente – e, por isso, historicamen te – deter-minado, por meio do qual se aprendem e transmitem critérios de valoração. E, justamente por isso, sofre variações no espaço e no tempo: o que em um lugar ou época é considerado bom, em outro, pode não ser. Por isso, a denição do gosto faz parte do patrimônio cultural das sociedades humanas.

Remete-se, portanto, a duas acepções distintas do termo “gosto”. Uma é a do gosto entendido como sabor, sensação individual, experiência subjetiva, incomunicável. A outra é a do gosto percebido como “saber”, sendo uma avaliação sensorial do que é bom ou ruim, do que agrada ou desagrada, também enquanto realidade coletiva e comunicada.

Montanari fala da formação do gosto nos mesmos termos que Jean--Louis Flandrin, pois ambos acreditam que as escolhas baseadas no gosto são constructos sociais. Reforça, ainda, que há a necessidade de entender

os gostos sempre atrelados às suas formações e modicações no tempo, a m de saber sobre qual autoridade se avalia o gosto e quais alimentos são

mais práticos e econômicos, quais os que “convém comer” e quais, por sua raridade, passam a gerar prazer e fascínio.

As mudanças ocorridas no gosto, no aspecto das comidas, nas formas de servir os convidados e de como os mesmos têm escolhido seus alimentos no decorrer dos tempos, os medos, os modelos de beleza do cor- po e de como as relações de poder se transformaram ao longo dos tempos

também são ilustrados por Montanari.

O autor termina sua obra com o capítulo “Comida, linguagem, identidade”, no qual aborda, de forma esplêndida, as questões de convívio alimentar e das regras e simbologias envolvidas nesta sociabilidade, bem como as linguagens e a maneira pela qual o comportamento alimentar tornou-se um sinal social e de partilhas. Finaliza fazendo uma analogia entre comida e linguagem e ilustra os mecanismos de “substituição” e de “incorporação” dos produtos nos sistemas alimentares.

É importante destacar que a obra de Massimo Montanari, por  basear-se em uma pesquisa minuciosa e por ser conduzida com clareza de

idéias e argumentações, densa e bem escrita, é de grande valia não apenas  para historiadores da alimentação, mas também para todos os que acreditam

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RIBEIRO, C. S. G. Comida como cultura 282

História: Questões & Debates, Curitiba, n. 54, p. 279-282, jan./jun. 2011. Editora UFPR 

As histórias que contamos nos lembram que toda cultura, toda tradição, toda a identidade é um produto da história, dinâmico e instável, gerado por complexos fenômenos de troca, de cruza-mento, de contaminação. Os modelos e as práticas alimentares são o ponto de encontro entre culturas diversas, fruto da circu-lação de homens, mercadorias, técnicas, gostos de um lado para o outro do mundo (MONTANARI, 2004, p. 189).

Recebido em agosto de 2010. Aprovado em agosto de 2010.

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