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ESTUDO SOBRE O GERENCIAMENTO DE RESULTADOS CONTÁBEIS PELAS COMPANHIAS ABERTAS E FECHADAS BRASILEIRAS

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ESTUDO SOBRE O GERENCIAMENTO DE RESULTADOS CONTÁBEIS PELAS COMPANHIAS ABERTAS E FECHADAS BRASILEIRAS

Henrique Formigoni

Mestre em Ciências Contábeis – PUC/SP Doutorando em Ciências Contábeis – FEA/USP

Universidade de São Paulo

Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis

Endereço: Universidade Presbiteriana Mackenzie - Rua Major Sertório, 733 – 1º andar - Vila Buarque - CEP 01222-010 – São Paulo – SP

E-mail: hformigoni@mackenzie.com.br Fone: (11) 3214-5414 ou (11) 8273-9202

Edilson Paulo

Mestre em Ciências Contábeis – UnB Doutorando em Ciências Contábeis – FEA/USP FEA-USP - Departamento de Contabilidade e Atuária

Av. Prof. Luciano Gualberto, 908 - FEA3 - 1º andar CEP 05508-900 - São Paulo - SP

E-mail: e.paulo@uol.com.br Carlos Alberto Pereira

Doutor em Ciências Contábeis – FEA/USP FEA-USP - Departamento de Contabilidade e Atuária

Av. Prof. Luciano Gualberto, 908 - FEA3 - 1º andar CEP 05508-900 - São Paulo - SP

RESUMO

O objetivo deste estudo foi o de verificar se existem diferenças significativas de evidências de gerenciamento de resultados entre as companhias abertas e fechadas brasileiras. A pesquisa, do tipo exploratória e descritiva, foi baseada em uma amostra composta pelas companhias abertas e fechadas brasileiras, listadas entre as 500 maiores empresas em operação no Brasil, classificadas pelo volume de vendas no exercício de 2004, segundo a revista Exame Melhores e Maiores publicada em junho de 2005. A amostra final totalizou 347 empresas-ano, sendo 179 observações referentes às companhias fechadas e 168 observações de companhias abertas. A análise dos dados compreendeu o período de 2001 a 2004 e foram utilizados os modelos Jones Modificado e KS que permitem analisar o nível de gerenciamento de resultados por meio dos accruals discricionários. Os resultados obtidos permitiram verificar a existência de gerenciamento de resultados em ambos tipos de companhias, sendo mais freqüente nas companhias abertas para evitar a divulgação de perdas contábeis. Entretanto, com relação aos incentivos ligados à carga tributária, a hipótese não pode ser confirmada, pois os testes nos modelos utilizados foram, estatisticamente, não significantes.

Palavras-chave: Gerenciamento de resultados. Accruals discricionários. Companhias abertas e companhias fechadas. Informações para usuários externos. Qualidade da informação contábil.

(2)

1 INTRODUÇÃO

A informação contábil influencia as decisões individuais de seus usuários, afetando a alocação dos recursos e o funcionamento dos mercados, conseqüentemente, a eficiência da economia. Iudícibus (2004, p.25) afirma que “o objetivo básico da contabilidade, [...] pode ser resumido no fornecimento de informações econômicas para vários usuários, de forma que propiciem decisões racionais”. Bushman e Smith (2001, p.238) consideram o papel da informação contábil como mecanismo de controle que promove a governança eficiente das empresas. Mecanismos de controle corporativo referem-se aos meios necessários para que o agente (administrador) atue em pleno interesse do principal (acionistas).

Porém, mesmo existindo um conjunto amplo de normas contábeis, apresentam-se situações em que a regulamentação é flexível, permitindo que a subjetividade se faça presente no processo de mensuração e evidenciação dos números contábeis, possibilitando a discricionariedade no julgamento do administrador, quando da escolha entre os critérios alternativos a serem adotados pela Contabilidade.

Os incentivos para o comportamento oportunístico sobre as escolhas contábeis estão, normalmente, relacionados à regulamentação, contratos de dívidas, remuneração dos altos executivos e, emissão e negociação de títulos mobiliários (WATTS; ZIMMERMAN, 1986, p. 257-261; JONES, 1991, p.193; GIROUX, 2004, p. 22-23). Então, pode-se considerar que o comportamento oportunístico está presente nos diversos ambientes empresariais, sofrendo influência direta do sistema regulatório, da dinâmica do mercado de capitais de cada país e, também, do tipo de sociedade empresarial. Contudo, observa-se que as pesquisas empíricas nacionais e internacionais sobre o tema têm se concentrado nas companhias abertas.

No Brasil, verifica-se que os procedimentos e práticas contábeis adotados pelas companhias fechadas e abertas são, em grande parte, semelhantes, tendo como diretriz principal a Lei 6.404/76, sendo que devem divulgar, pelo menos, anualmente, suas demonstrações contábeis, não obstante o mercado normalmente exija maior qualidade e conteúdo informacional dos relatórios contábeis divulgados pelas companhias abertas. Isso se deve ao fato de que as sociedades abertas devem atender às exigências específicas da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e das práticas de Governança Corporativa.

Apesar das companhias fechadas basearem, grande parte, de suas práticas e procedimentos nas mesmas normas contábeis das companhias abertas, elas estão sujeitas a diferentes forças econômicas. Os administradores podem utilizar informações privadas para reportar resultados, refletindo, assim, de forma mais acurada o desempenho empresarial, conseqüentemente, mais informativo para os usuários externos. Entretanto, se o papel da informação contábil tem menor importância no processo de comunicação com os usuários externos, as escolhas contábeis são governadas por outros fatores, como a redução da carga tributária e a determinação do pagamento de dividendos. Além disso, os gestores podem utilizar a discricionariedade sobre os números contábeis para não refletir baixo desempenho econômico, atingir certas metas empresariais ou evitar violações às cláusulas contratuais (debt covenant).

Pode-se considerar, então, que as companhias abertas possuem diversos incentivos para gerenciar os resultados contábeis, dentre os quais, se destacam aqueles vinculados ao mercado de capitais, com o propósito de alterar a percepção do risco e retorno da empresa. Já, nas companhias fechadas, as motivações para o gerenciamento de resultados podem estar mais relacionadas à carga tributária e a obtenção de recursos junto às instituições financeiras. (BURGSTAHLER; HAIL; LEUZ, 2006, p.989-991)

Com base nesse cenário, pode ser levantada a seguinte questão: A prática de gerenciamento dos resultados contábeis é influenciada pelo tipo de sociedade anônima no Brasil?

(3)

Assim, o objetivo geral deste estudo foi verificar se o gerenciamento de resultados contábeis é, significativamente, diferente entre as companhias abertas e as companhias fechadas brasileiras, em relação aos incentivos de não divulgação de prejuízos contábeis e a redução da carga tributária.

Para atingir o objetivo geral deste estudo, desenvolveu-se uma pesquisa exploratória e descritiva. Para a avaliação do nível de accruals discricionários utilizaram-se os modelos Jones modificado (DECHOW; SLOAN; SWEENEY, 1995, p.199) e KS (KANG; SIVARAMAKRISHNAN, 1995, p. 358), tendo como amostra as companhias abertas e fechadas brasileiras, nos exercícios sociais entre 2000 a 2004. Na seqüência, é feita uma breve revisão dos principais conceitos envolvidos no tema. A seção 3 apresenta os procedimentos metodológicos adotados na pesquisa e, na seção seguinte, os resultados foram descritos e analisados. Finalizando o artigo, teceram-se algumas considerações sobre os resultados apurados.

2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Informação Contábil

Os relatórios contábeis são potencialmente meios importantes para a administração comunicar o desempenho empresarial e governança para os investidores (PALEPU; HEALY; BERNARD, 2004, p.8; IUDÍCIBUS; LOPES, 2004, p.88). Nesse sentido, torna-se de extrema importância assegurar a qualidade da informação contábil, pois esta influência a alocação de recursos, bem como a distribuição de riqueza entre os diversos agentes econômicos.

Observa-se que as informações geradas pela Contabilidade sofrem influência direta dos interesses pessoais dos administradores ou agentes. Esses interesses podem ser influenciados pelos mecanismos de remuneração, acordos contratuais, legislação societária, concorrência, dentre outros. Como a informação contábil é influenciada pela presença de critérios contábeis alternativos, os administradores podem escolher alternativas válidas, com o objetivo de apresentarem informações da forma desejada, impactando o desempenho ou a estrutura financeira da empresa (FIELDS; LYS; VICENT, 2001, p.260; FRANCIS, 2001, p.311).

Em termos de divulgação das informações contábeis, no Brasil, as companhias fechadas e as abertas têm, basicamente, as mesmas obrigações. A Lei das Sociedades Anônimas (LSA) determina que as sociedades anônimas publiquem, anualmente, o relatório da administração, as demonstrações financeiras, a convocação das assembléias e outros documentos. No caso das sociedades de capital aberto, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) determina, ainda, a apresentação periódica das demonstrações financeiras, informações anuais e informações trimestrais, assim como, extemporaneamente, quaisquer informações relevantes a respeito dos seus negócios (Instrução CVM nº 202/93).

A estrutura societária da empresa, também, pode afetar a qualidade da informação contábil. A esse respeito, Ball e Shivakumar (2005, p.88) expõem que as companhias fechadas apresentam maior tendência para resolver os seus problemas de assimetria informacional internamente do que as companhias abertas. Entende-se que as conseqüências desse fato devem ser objeto de investigações, por meio de pesquisas que busquem compreender a relação entre o ambiente econômico e financeiro dessas sociedades e a qualidade da informação contábil.

O mercado de capitais cria uma demanda por informações que sejam úteis para a avaliação e monitoramento da firma, sendo que o investidor não tem acesso privado às informações das atividades exercidas pela empresa, devendo confiar nas informações publicamente divulgadas, como por exemplo, as demonstrações contábeis. Porém, quando o conteúdo informacional não é adequado, os investidores podem se tornar relutantes ao

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fornecimento de recursos financeiros para as firmas. Portanto, os gestores das companhias abertas têm fortes incentivos para melhorar a qualidade da informação contábil reportada para os usuários externos.

Por outro lado, as companhias fechadas têm sua estrutura societária relativamente concentrada e, espera-se, que o processo de comunicação seja eficiente através dos canais privados. Nesse ambiente, as informações contábeis têm menor importância de comunicação sobre o desempenho empresarial, tendo assim relativamente menores incentivos para reportar com maior qualidade os números contábeis.

Observa-se que existem situações específicas para que as companhias abertas e fechadas tenham fortes incentivos para gerenciar os resultados contábeis, mas não está bem definido se o tipo de estrutura societária afeta diferentemente o comportamento oportunístico dos gestores. Beatty, Ken e Petroni (2002, p.568) apresentam evidências de que bancos, que têm títulos negociados em bolsa de valores, empregam maior gerenciamento de resultados contábeis do que os bancos constituídos como companhias fechadas.

Outra situação, é que o sistema tributário pode afetar diferentemente o processo de mensuração e evidenciação contábil. Como as companhias fechadas têm menor necessidade de utilizar as informações contábeis, comparativamente, em relação às abertas, para comunicar o desempenho empresarial da empresa para os usuários externos, espera-se que os seus gestores tenham maiores preocupações em minimizar a carga tributária, afetando o conteúdo informacional da contabilidade.

Ball e Shivakumar (2005, p.85) expõem a importância de pesquisas em companhias fechadas, por serem representativas para as economias locais. Com base nos rankings da revista Exame Melhores e Maiores, publicados nos anos de 2001 a 2006, verifica-se que a soma das receitas brutas das companhias fechadas representa, em média, 40% da receita bruta total das 500 maiores empresas, nesse período. Apesar da relevância econômica das companhias fechadas para a economia brasileira e de outros países, pode-se verificar que as pesquisas empíricas pouco tratam sobre as características da informação contábil dessas empresas.

Por fim, considera-se que o processo de mensuração do accruals depende dos incentivos das firmas em relação às informações contábeis reportadas, portanto é provável que seja diferente entre as companhias abertas e fechadas. Assim, Burgstahler, Hail e Leuz (2006, p.995) consideram que a maior regulação contábil das companhias abertas inibe o comportamento oportunístico, fazendo com que essas empresas tenham menor nível de accruals discricionários, em comparação às companhias fechadas.

O gerenciamento de resultados contábeis ocorre, quando gestores utilizam o julgamento no processo de mensuração e evidenciação, alterando as informações contábeis reportadas e, desta forma, afetando a percepção do usuário da Contabilidade sobre a verdadeira situação econômica da firma, ou influenciando partes contratuais externas que dependam dos números dos relatórios divulgados, a fim de alcançar determinados objetivos (HEALY; WAHLEN, 1999, p. 368).

Scott (2003, p.369) afirma que o “gerenciamento de resultados é a escolha por um administrador da política contábil de forma que atinja alguns objetivos específicos”. Numa visão oportunística, o gerenciamento de resultados contábeis ocorre no manuseio dos números contábeis com a intenção de atender um benefício particular. O gerenciamento de resultados contábeis, diferentemente da fraude contábil, concentra-se nos limites prescritos pela legislação contábil, sendo difícil o adequado entendimento da diferença entre gerenciamento de resultados e fraude contábil. A fraude contábil é praticada mediante violação dolosa das práticas contábeis geralmente aceitas.

Sunder (1997, p.50) considera que o administrador exerce, dentro dos limites normativos, julgamento sobre as escolhas contábeis, como, por exemplo, critérios de

(5)

mensuração das transações ou eventos econômicos e sobre o momento do anúncio dos resultados e publicação das demonstrações contábeis.

Os critérios alternativos estabelecidos no sistema contábil criam oportunidades para que os administradores escolham uma das alternativas válidas, podendo retratar as informações da forma desejada, assim, conseqüentemente, distorcendo a análise do desempenho empresarial. Segundo Stolowy e Breton (2004, p.6), essa prática é motivada pelas possibilidades de transferência de riqueza entre a companhia e a sociedade (custos políticos), fontes de recursos (custo de capital) ou em benefício dos próprios administradores (planos de compensação); sendo que as duas primeiras situações tentam beneficiar a empresa e seus proprietários, diferentemente do que ocorre na última situação.

O gerenciamento de resultados contábeis pode ser realizado através do julgamento dos gestores sobre as escolhas contábeis, afetando o reconhecimento dos accruals. Existe, ainda, a manipulação das atividades reais da empresa, com o intuito de apresentar informações contábeis mais satisfatórias, mas que não passam pelas escolhas contábeis. Isso pode ser efetuado de diversas maneiras como, por exemplo, a concessão temporária de descontos sobre o preço de venda, o envio de produtos a diversos clientes (mesmo que exista a possibilidade de inúmeras devoluções posteriores) ou uma elevação brusca do nível de produção com o intuito de reduzir os custos dos produtos vendidos através da diluição dos custos fixos (ROYCHOWDHURY, 2006, p.336).

Em obediência ao regime de competência, o reconhecimento contábil das transações e eventos econômicos que não geram entradas ou saídas de disponibilidades, ou seja, não geram fluxos de caixa, são considerados como accruals. Os accruals podem ser classificados em accruals não-discricionários (nondiscretionary), que são aqueles inerentes às atividades da empresa, ou em accruals discricionários (discretionary), que são aqueles artificiais e teriam como objetivo somente manipular o resultado contábil.

Xiong (2006, p.216) explica que o gerenciamento dos resultados contábeis não pode ser medido diretamente e, assim, a literatura fornece diversos modelos operacionais para detecção essa prática. Nesse sentido, Dechow, Sloan e Sweeney (1995, p.201) afirmam que a análise de gerenciamento dos resultados contábeis é feita, geralmente, através da mensuração agregada dos accruals não-discricionários e dos accruals discricionários. Os modelos para detecção de gerenciamento de resultados consideram que os accruals discricionários são proxies de earnings management.

Com base em pesquisas anteriores, observa-se que as empresas brasileiras com resultados negativos, ou que tenham grande variabilidade de lucros, manipulam os accruals contábeis visando divulgar melhores desempenhos (MARTINEZ, 2001, p. 121; ZENDERSKY, 2005, p. 110). Apesar de existirem trabalhos no contexto brasileiro sobre o gerenciamento de resultados e sobre a influência da divulgação dos relatórios contábeis no mercado de capitais, essas são analisadas de forma independente, não havendo, até então, uma pesquisa sobre o relacionamento entre ambos.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 3.1 Tipo e Método de Pesquisa

Para fins de atingir o objetivo deste trabalho, realizou-se uma pesquisa exploratória que buscou conhecimentos mais concretos, incorporando características não claramente explícitas, bem como procurando dimensões não conhecidas e que necessitem ser mais bem compreendidas no ramo do conhecimento (BEUREN, 2003, p.80). Especificamente, esta pesquisa buscou obter maiores conhecimentos sobre o gerenciamento de resultados contábeis no âmbito das companhias abertas e sua relação com o anúncio dos relatórios financeiros,

(6)

procurando evidências sobre a existência ou não de associação entre a época da divulgação e os accruals discricionários nos números contábeis. Quanto ao método, caracteriza-se como quantitativo com emprego de modelos operacionais através da regressão linear múltipla e pelo teste de diferenças de médias. Foram utilizados os softwares SPSS® versão 15 e EViews® versão 5 para a análise estatística realizada neste trabalho.

3.2 Seleção e Composição da Amostra

A amostra deste estudo foi composta pelas companhias abertas e fechadas brasileiras, listadas entre as 500 maiores empresas em operação no Brasil, classificadas pelo volume de vendas no exercício social de 2004, segundo a revista Exame Melhores e Maiores publicada em junho de 2005. A análise da amostra ocorreu sobre as demonstrações contábeis referentes ao exercício social de 2001 a 2004. As informações necessárias para a pesquisa foram obtidas dos bancos de dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Economática e das próprias demonstrações contábeis publicadas.

Para seleção da amostra, foram excluídas as sociedades anônimas que não divulgaram suas demonstrações contábeis no período analisado, bem como aquelas que possuem dados insuficientes para análise do comportamento dos resultados contábeis, despesas com imposto de renda e contribuição social sobre o lucro líquido e accruals.

As sociedades abertas que efetuaram a primeira oferta pública de ações durante o período compreendido neste estudo, ou seja, passaram de companhia fechada para companhia aberta, foram excluídas no ano em que esse fato ocorreu, a fim de se evitar a possibilidade de viés amostral. Além disso, foram excluídas as companhias nos períodos em que passaram pelo processo contrário, ou seja, fecharam o capital social da empresa.

A amostra final foi composta por 54 companhias fechadas e 50 companhias abertas, perfazendo um total de 347 empresas-ano, sendo 179 observações referentes a companhias fechadas e 168 observações referentes a companhias abertas.

3.3 Desenvolvimento da Hipótese e Definição dos Modelos Empregados

Como exposto anteriormente, os números contábeis podem ser gerenciados com o objetivo de afetar a avaliação do desempenho dos usuários externos e essa prática discricionária pode estar relacionada ao propósito em não divulgar perdas contábeis e/ou reduzir a carga tributária. Diante do exposto, adotaram-se as seguintes hipóteses de pesquisa:

Hipótese 1: Existem evidências significativas de que as companhias abertas e fechadas brasileiras gerenciam, diferentemente, os resultados contábeis para evitar a divulgação de perdas contábeis.

Hipótese 2: Existem evidências significativas de que as companhias abertas e fechadas brasileiras gerenciam, diferentemente, os resultados contábeis para influenciar a carga tributária.

Com relação à primeira hipótese, espera-se que o nível de gerenciamento de resultados contábeis avaliado pelos accruals seja maior para as companhias abertas, pois estas têm incentivos ligados ao anúncio de seus resultados anuais aos diversos agentes econômicos. Outro por lado acredita-se que, devido aos incentivos relacionados à primeira hipótese, as companhias abertas têm menores motivações para reduzir a carga tributária através da mensuração dos accruals, comparativamente, em relação às companhias fechadas.

Para verificar se comportamento dos accruals discricionários está relacionado aos incentivos para não divulgar perdas contábeis ou redução da carga tributária, a análise foi

(7)

efetuada com base modelo geral para detecção de gerenciamento de resultados contábeis proposto por McNichols e Wilson (1988, p.5):

(

it

)

it

it PART

DA =

α

+

β

+

ε

em que:

DAit = accruals discricionários reais da empresa i no período t;

PARTit = conjunto de variáveis particionadas que capturam os fatores que presumidamente

motiva o gerenciamento dos accruals na empresa i no período t;

εi,t = fatores aleatórios não relacionados à hipótese específica de gerenciamento de

resultados da empresa i no período t;

Para confirmar a hipótese deste trabalho, espera-se que o coeficiente β seja, significativamente, diferente de zero (β1 > 0 ). De forma consistente com trabalhos anteriores,

o modelo deve controlar características peculiares de cada setor econômico com o intuito de reduzir a probabilidade das estimativas contaminadas pelos efeitos setoriais, minimizando a influência de fatos particulares de gerenciamento de resultados e de tributos não observáveis.

Os accruals discricionários (DAit), neste trabalho, foram estimados por meio do

modelo Jones modificado (DECHOW; SLOAN; SWEENEY, 1995, p.199) e modelo KS (KANG; SIVARAMAKRISHNAN, 1995, p. 358), descritos a seguir.

O modelo de Jones modificado busca controlar o efeito das mudanças nas circunstâncias econômicas da empresa sobre os accruals, além de reduzir o incremento nas contas a receber das variações da vendas, assim levando em consideração a possibilidade da manipulação das vendas a prazo. O modelo é descrito da seguinte maneira:

        +         +         = − − − ∆ ∆ A PPE A CR R A NDA it it it it it it it 1 2 1 1 1 1 β β α (1) em que:

NDAit = accruals discricionários da empresa i no período t;

∆Rit = variação das receitas líquidas da empresa i do período t-1 para o ano t;

∆CRit = variação da conta duplicatas a receber (clientes) da empresa i do período t-1 para

o t;

PPEit = saldo final das contas Ativo Imobilizado e Ativo Diferido da empresa i no

período t;

Ait-1 = Ativo total da empresa i no período t-1;

α, β1 e β2 = coeficientes estimados pela equação 2.

O modelo original de Jones (1991, p. 211), utilizado para estimar os parâmetros da equação 1, é descrito da seguinte forma:

i it it i it it it i IT IT A PPE A R A A TA ε β β α +       +         +         = − − − − ∆ 1 2 1 11 1 1 1 (2) em que:

TAit = total dos accruals da empresa i no período t;

∆Rit = variação das receitas líquidas da empresa i do período t-1 para o ano t;

PPEit = saldo final das contas Ativo Imobilizado e Ativo Diferido da empresa i no período

t;

Ait-1 = Ativo total da empresa i no período t-1;

εit = termo de erro.

(8)

(

)

(

)

A Depr Div PC Disp AC Ac t t t t t t t 1 − − − − − = ∆ ∆ ∆ ∆ (3) em que:

Act = accruals (operacionais) totais da empresa no período t;

∆ACt = variação do ativo corrente (circulante) da empresa no final do período t-1 para o

final do período t;

∆PCt = variação do passivo corrente (circulante) da empresa no final do período t-1 para o

final do período t;

∆Dispt = variação das disponibilidades da empresa no final do período t-1 para o final do

período t;

∆Divt = variação dos financiamentos e empréstimos de curto prazo da empresa no final do

período t-1 para o final do período t;

Deprt = montante das despesas com depreciação da empresa durante o período t;

At-1 = ativos totais da empresa no final do período t-1.

Os accruals discricionários da empresa i no período t, são calculados da seguinte forma (DECHOW; SLOAN; SWEENEY, 1995, p.203):

t t

t TA NDA

DA = − (4)

em que:

DAt = accruals discricionários da empresa no período t;

TAt = accruals totais da empresa no período t (equação 3) ;

NDAt = accruals não-discricionários da empresa no período t (equação 1);

Kang e Sivaramakrishnan (1995, p.199) propõem um modelo (modelo KS) para mensuração dos accruals do gerenciamento dos resultados descrito da seguinte forma:

(

δ

)

φ

(

δ

)

φ

(

δ

)

ε

φ

φ

it it it it it

R

D

PPE

TA

= 0+ 1 1 + 2 2 + 3 3 + (5) em que:

TAit =accruals totais da empresa i no período t, ponderados pelos ativos totais no final

do período t-1;

Rit = receitas líquidas da empresa i no período t, ponderadas pelos ativos totais no final

do período t-1;

Dit = montante dos custos e despesas operacionais da empresa i no período t, excluídas

as despesas com depreciação e amortização, ponderadas pelos ativos totais no final do período t-1;

PPEit = saldo das contas do Ativo Imobilizado e Ativo Diferido (bruto) empresa i no final

do período t, ponderadas pelos ativos totais no final do período t-1;

δ1 = CRi,t-1 / Ri,t-1;

δ2 = (INVi,t-1 + DespAnteci,t-1+ CPi,t-1) / Di,t-1;

δ3 = Depri,t-1 / PPEi,t-1;

CRi-1t = saldo da conta duplicatas a receber (clientes) da empresa i no período t-1;

Ri,t-1 = receitas operacionais líquidas da empresa i no período t-1;

INV i,t-1 = saldo da conta estoques da empresa i no período t-1;

DespAntec i,t-1 = saldo da conta despesas antecipadas da empresa i no período t-1;

CP i,t-1 = saldo das contas a pagar no curto prazo da empresa i no período t-1;

Depr i,t-1 = montante de despesas com depreciação e amortização da empresa i no período t-1;

PPEi,t-1 = saldo das contas do Ativo Imobilizado e Ativo Diferido (bruto) empresa i no final

(9)

εit = erro da regressão.

Todas as variáveis são ponderadas pelo ativo total no final do ano t-1.

O valor estimado dos accruals discricionários pode ser calculado diretamente pelo erro da regressão (equação 5). Cabe ressaltar que o modelo KS utiliza o método de Variáveis Instrumentais para estimar os parâmetros da regressão.

De forma consistente com trabalhos anteriores, o modelo controlou características peculiares de cada setor econômico, com o intuito de reduzir a probabilidade das estimativas serem contaminadas pelos efeitos setoriais, minimizando a influência de fatos particulares de gerenciamento de resultados e de tributos não observáveis.

Para analisar se os accruals discricionários são significativamente diferentes ao longo do período, realizaram-se os testes de hipóteses para diferenças entre médias F ANOVA (paramétrico) e Kruskal-Wallis (não-paramétrico), bem como os testes post hoc (Turkey, Scheffé e Bonferroni). Adicionalmente, foi efetuada a análise de correlação entre as variáveis ‘lucro liquido do período t’ (LLt) e ‘despesas com imposto de renda e contribuição social

sobre o lucro líquido do período t’ (IRCSt).

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Inicialmente, são apresentadas as estatísticas descritivas das variáveis ‘lucro liquido do período t’ (LLt) e ‘despesas com imposto de renda e contribuição social sobre o lucro líquido

do período t’ (IRCSt) (Tabela 1). Pode-se verificar que todas variáveis, segundo o teste

Kolgomorov-Smirnov, não seguem uma distribuição normal.

Tabela 1 – Estatísticas descritivas das variáveis

Kolmogorov-Smirnov Z

Variáveis Companhia Tipo de Média Desvio-padrão

statistic p-value observações

LLt Fechada 0,023 0,137 1,538 0,018 179 Aberta 0,066 0,113 1,722 0,005 168 Total 0,044 0,128 2,353 0,000 347 IRCSt Fechada -0,011 0,030 0,989 0,282 179 Aberta -0,015 0,025 1,189 0,118 168 Total -0,013 0,027 1,378 0,045 347

Analisando o histograma para o resultado contábil (Figura 1), verifica-se que existe uma maior concentração nos dois grupos imediatamente após o resultado nulo (ponto de referência). Conforme Burgstheler e Dichev (1997, p.104), espera-se que os resultados tenham uma distribuição normal e que, portanto, pode-se considerar que existem evidências de comportamento discricionário com a intenção de não apresentar prejuízos contábeis, pois existe uma concentração maior de observações no intervalo de freqüência (classe) imediatamente acima do resultado nulo, comparativamente, em relação às observações da classe abaixo dessa referência.

Comparativamente, observa-se na Figura 1 que a diferença entre as observações nas classes imediatamente acima do resultado nulo e as classes imediatamente abaixo do resultado nulo, é mais acentuada para as companhias abertas do que para as companhias fechadas. Essa evidência corrobora com a primeira hipótese deste trabalho, na qual se afirma que as companhias abertas têm maiores incentivos para evitar a divulgação de perdas contábeis do que as companhias fechadas.

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Figura 1 – Histograma comparativo entre os resultados líquidos das companhias abertas e fechadas brasileiras

Em relação à análise do comportamento das despesas com imposto de renda e contribuição social sobre o lucro líquido das companhias abertas e fechadas brasileiras, observa-se, na Figura 2, que não existe uma maior concentração nos grupos imediatamente após o ponto de referência para essa despesa. Portanto, não se pode afirmar, que as companhias abertas e/ou fechadas brasileiras gerenciam seus resultados contábeis para afetar a carga tributária.

(11)

Figura 2 – Histograma comparativo entre as despesas com imposto de renda e contribuição social sobre o lucro líquido das companhias

abertas e fechadas brasileiras

Buscando melhores evidências empíricas, analisaram-se as hipóteses deste trabalho por meio da abordagem dos accruals agregados. As regressões para mensurar os accruals discricionários foram estimadas através da abordagem cross-sectional, sendo utilizado o estimador de White para obter o erro-padrão robusto em relação a heteroscedasticidade. Mesmo com a utilização da correção de White, foram realizados testes para verificar se existe ou não presença de heteroscedasticidade após o procedimento anteriormente indicado, através do Teste geral de heteroscedasticidade de White, pois esse método não é sensível ao pressuposto de normalidade e não necessita de ordenamento crescente dos dados como no teste de Goldfeld-Quandt (GREENE, 2003, p.222-223).

Na Tabela 2 são apresentadas as estimativas dos parâmetros e testes estatísticos do modelo Jones modificado e KS, regredidas para toda a amostra, sendo que a variável dummy ‘Bolsa’ indica que a empresa é uma companhia aberta (bolsa = 1) ou companhia fechada (bolsa = 0).

Com base no teste de Jarque-Bera, os modelos operacionais rejeitam a hipótese nula de normalidade, porém, baseado no teorema do limite central, Wooldridge (2002, p.167) afirma que os estimadores do método dos Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) satisfazem a normalidade assintótica, ou seja, eles aproximadamente têm distribuição normal em amostras de tamanhos suficientemente grandes, o mesmo ocorrendo para a estimação por variáveis instrumentais. Portanto, o pressuposto da normalidade pode ser relaxado nas inferências sobre os parâmetros dos modelos, pois seus coeficientes são consistentes e não-viesados assintoticamente. Constatou-se através do Variance Inflation Factor que todos os modelos analisados não possuem problemas de multicolineariedade na especificação, pois para essa estatística, os valores estimados estão próximos de 1.

Do mesmo modo, os testes de White detectaram heteroscedasticidade em todos os modelos, enquanto que o teste Breusch-Godfrey evidencia ausência de correlação serial nas

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variáveis, portanto, os estimadores do MQO não serão mais eficientes. Cabe ressaltar, que a presença de heteroscedasticidade não provoca viés ou inconsistências nos estimadores.

Mesmo relaxando os pressupostos da análise de regressão múltipla, os modelos Jones modificado e KS possuem baixo poder explicativo, pois seus R2 são baixos.

Observa-se que no modelo Jones modificado foi incluído o termo de intercepto, pois a especificação, sem ele, faz com que a regressão passe através da origem e, consequentemente, os coeficientes β’s estimados serão estimadores enviesados de β’s real. Além disso, sem a inclusão do intercepto na especificação do modelo, não fica garantida a consistência do valor estimado para R2, podendo, inclusive, assumir um valor que não esteja entre 0 e 1.

(WOOLDRIDGE, 2002, p. 58-59; GREENE, 2003, p.36-37).

Deve-se considerar, também, que a suposição de que os accruals totais tendem a zero é muito restritiva e sem fundamentação teórica adequada, pois considera-se que, devido ao regime de competência adotado pela Contabilidade, o montante do fluxo de caixa dificilmente será igual ao resultado contábil, esperando-se que haja algum accrual no período.

Tabela 2 - Estimação dos modelos operacionais no contexto brasileiro

Jones KS

coeficiente p-value coeficiente p-value

Constante -0,090 0,000 -0,034 0,314 1/Ait-1 20505,53 0,018 ∆Rit 0,065 0,099 PPEit 0,009 0,773 -0,599 0,099 Rit -0,017 0,904 Dit -3,67E-03 0,000 Bolsa 0,036 0,014 0,038 0,171 R2 0,059 0,075 R2 ajustado 0,047 0,048 Akaike criterion -1,348 -1,788 Schwarz criterion -1,290 -1,685 Estatística F 5,012 0,000 2,808 0,003 Durbin-Watson 1,946 1,380

White Heteroskedasticity Test 33,093 0,001 36,720 0,000 Breusch-Godfrey Serial

Correlation LM Test 0,000 1,000 0,000 1,000

Jarque-Bera Test 53,098 0,000 58,647 0,000

Variance Inflation Factor 1,062 1,081

Observações 347 347

De outra forma, a Tabela 3 apresenta as estimações para os mesmos modelos operacionais, de forma separada para cada tipo de sociedade anônima. Mas, como podem ser observados, os resultados apontam as mesmas características em cada modelo, apresentadas na Tabela 2. Portanto, não existe diferença nas estimativas dos parâmetros para os modelos Jones modificado e KS.

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Tabela 3 - Estimação dos modelos operacionais no contexto brasileiro Companhias Abertas Companhias Fechadas

Jones KS Jones KS coeficient p-value coeficient p-value coeficient p-value coeficient p-value Constante -0,057 0,008 0,004 0,819 -0,088 0,000 -0,118 0,105 1/Ait-1 32780,43 0,012 14145,73 0,210 ∆Rit 0,038 0,384 0,094 0,150 PPEit 0,010 0,793 -0,611 0,098 0,006 0,910 -0,346 0,660 Rit -0,018 0,902 0,431 0,034 Dit -3,66E-04 0,000 -0,185 0,199 R2 0,065 0,069 0,053 0,071 R2 ajustado 0,047 0,048 0,035 0,049 Akaike criterion -1,730 -1,777 -1,055 -0,841 Schwarz criterion -1,655 -1,693 -0,979 -0,670 Estatística F 3,691 0,013 3,341 2,989 0,033 2,371 0,037 Durbin-Watson 1,979 2,050 2,085 2,251 White Test 25,334 0,003 35,616 0,000 22,280 0,008 5,437 0,007 Breusch-Godfrey LM Test 0,092 0,955 1,580 0,454 2,500 0,287 2,028 0,363 Jarque-Bera Test 6,423 0,040 54,744 0,000 17,320 0,000 93,033 0,000 VIF 1,069 1,074 1,056 1,023 Observações 168 168 179 179

Devido à limitação de páginas, a partir deste ponto, optou-se apresentar a análise com base nas estimativas descritas na Tabela 2, que foram calculadas para toda amostra e que utiliza a variável dummy ‘Bolsa’ para indicar se a empresa é uma companhia aberta (bolsa = 1) ou companhia fechada (bolsa = 0).

Tabela 4 – Teste geral para detecção de gerenciamento de resultados Evitar perdas contábeis Carga tributária

Jones KS Jones KS coeficient p-value coeficient p-value coeficient p-value coeficient p-value Constante -0,014 0,484 0,015 0,524 0,001 0,954 0,006 0,878 DummyLLit 0,008 0,658 0,014 0,534 DummyIRCSit -0,008 0,609 -0,039 0,036 Bolsa 0,010 0,534 -0,021 0,374 0,000 0,974 0,000 0,997 R2 0,003 0,004 0,000 0,034 Estatística F 0,337 0,714 0,175 0,839 0,138 0,871 2,205 0,115 Durbin-Watson 1,713 0,754 1,865 0,912 White Test 6,814 0,078 0,757 0,684 8,650 0,034 0,231 0,972 Breusch-Godfrey LM Test 0,033 0,984 0,000 1,000 0,000 1,000 0,000 1,000 Jarque-Bera Test 66,812 0,000 57,468 0,000 49,193 0,000 63,370 0,000 Observações 168 168 179 179

De acordo com a Tabela 4, observa-se que nenhum dos incentivos testados neste trabalho explica o comportamento dos accruals discricionários calculados através do modelo Jones modificado e KS.

Com relação à hipótese de que as companhias gerenciam os resultados contábeis para evitar a divulgação de perdas contábeis, os testes estatísticos apresentados na Tabela 4 não corroboram as evidências apontadas na análise anterior, baseada no histograma, pois seus parâmetros não são estatisticamente significativos.

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Quanto à hipótese de gerenciamento de resultados para reduzir a carga tributária, da mesma forma, pela análise do histograma, a abordagem dos accruals agregados não pode comprovar a suposição descrita.

Vale ressaltar que, foram feitas transformações nas variáveis originais para minimizar os problemas relacionados aos pressupostos da normalidade e da homoscedasticidade, mas, os resultados não foram diferentes dos apresentados neste trabalho. Como não houve alteração nas evidências empíricas, e devido a limitação de páginas, não são descritas as estimações com base nas variáveis transformadas.

Com o objetivo de apresentar outras evidências sobre o comportamento dos números contábeis das companhias abertas e fechadas, foram feitos testes de hipótese para diferenças de médias. Para comparar as diferenças entre as médias das variáveis, deve ser observado o pressuposto de homogeneidade de variância das variáveis (NEWBOLD, CARLSON e THORNE, 2002; ANDERSON, SWEENEY e WILLIAMS, 2002).

Os resultados apresentados na Tabela 5 indicam que somente as variáveis ‘despesas com imposto de renda e contribuição social sobre o lucro líquido’ (IRCSt) e a variável ‘accruals discricionários pelo modelo KS’ (Daks) apresentam evidências estatísticas para não rejeitar a hipótese nula (H0: σ0= σj), ou seja, as variâncias das amostras são homogêneas, levando-se em consideração um nível de significância de 5% (α = 0,05), enquanto que as demais variáveis testadas não possuem variáveis homogêneas.

Tabela 5 - Teste de Homogeneidade de Variância –(teste Levene)

Modelos Levene Statistic p-value LLt 4,143 ,043 IRCSt 2,924 ,088 DAjm 7,001 ,009 DAks 1,347 ,248

Para verificar se as diferenças entre as médias são estatisticamente significantes, foram realizados os testes F ANOVA, Welch e Brown-Forsythe, sendo que os dois últimos são preferíveis quando o pressuposto da homogeneidade das variâncias não é observado (MERINO e DÍAZ, 2002). Buscando maior robustez estatística nesta pesquisa, foi efetuado o teste não-paramétrico Kruskal-Wallis para verificar se os accruals discricionários são significativamente diferentes, pois nesse teste não se faz necessário observar os pressupostos dos testes anteriores (NEWBOLD; CARLSON; THORNE, 2002, p. 594-596; ANDERSON; SWEENEY; WILLIAMS, 2002, p.513).

Conforme os resultados relatados na Tabela 6, não existem evidências de que a variável ‘despesa com imposto de renda e contribuição social sobre o lucro líquido’ (IRCSt), a variável ‘accruals discricionários pelo modelo Jones modificado’ (Dajm) e a variável ‘accruals discricionários pelo modelo KS’ (Daks) utilizadas nesta pesquisa sejam significativamente diferentes entre as companhias abertas e companhias fechadas.

Tabela 6 - Teste de diferenças entre as médias das variáveis analisadas

ANOVA Welch Brown-Forsythe Kruskal Wallis

Modelos

F p-value statistic p-value statistic p-value statistic p-value

LLt 9,877 0,002 9,954 0,002 9,954 0,002 8,856 0,003

IRCSt 1,942 0,164 1,931 0,166 1,931 0,166 1,478 0,224

DAjm 0,000 1,000 0,000 1,000 0,000 1,000 0,002 0,961

DAks 0,000 1,000 0,000 1,000 0,000 1,000 0,022 0,883

Confirmando a primeira hipótese, observa-se que, com base em todos os testes, os resultados contábeis das companhias abertas têm comportamento diferente em relação aos das

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companhias fechadas. As evidências estatísticas apresentadas nesta seção, também foram comprovadas pelos testes post hoc Tukey, Scheffé e Bonferroni, cujos relatórios dos dados foram suprimidos deste trabalho, devido à limitação de páginas.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo buscou evidências empíricas que pudessem contribuir para a reflexão e discussão sobre a qualidade dos números contábeis, por meio da compreensão dos fatores institucionais que influenciam as demonstrações contábeis e a tomada de decisão dos agentes econômicos. Especificamente, este trabalho abordou a prática do gerenciamento de resultados nas demonstrações contábeis das companhias abertas e fechadas brasileiras.

A compreensão do comportamento oportunístico nos relatórios contábeis é de extrema importância, pois auxilia a análise econômica e financeira das empresas, contribuindo, principalmente, para a alocação dos recursos financeiros, para o estabelecimento das relações contratuais e para o processo regulatório da Contabilidade.

Apesar da relevância econômica das companhias fechadas para a economia em diversos países e, em particular, para a economia brasileira, pode-se verificar que as pesquisas empíricas que versam sobre as características da qualidade da informação contábil dessas empresas são reduzidas.

Este trabalho analisou se existem diferenças significativas entre as companhias abertas e fechadas com relação ao gerenciamento de resultados contábeis. Para tanto, utilizaram-se os modelos Jones modificado e KS que permitem analisar o nível de accruals discricionários.

A análise dos dados forneceu evidências empíricas significativas de que os resultados contábeis são gerenciados com maior freqüência pelas companhias abertas do que pelas companhias fechadas para evitar a divulgação de perdas contábeis. Com relação aos incentivos ligados à carga tributária, a hipótese não pode ser confirmada, pois os testes nos modelos utilizados foram, estatisticamente, não significantes.

Os resultados obtidos permitem, portanto, aceitar somente como válida a hipótese assumida nesta pesquisa, de que as companhias abertas têm maiores incentivos para gerenciar os resultados contábeis a fim de não divulgarem perdas contábeis, em relação ao das companhias fechadas.

Diante dos resultados apresentados e considerando-se as diferenças das características institucionais e organizacionais entre as companhias fechadas e abertas, bem como a relevância econômica desses dois tipos de sociedades, a divergência da prática oportunística entre elas deve ser considerada pelos agentes econômicos em suas decisões. Entende-se que os investidores, as instituições financeiras e de créditos e as outras fontes de financiamento das empresas brasileiras devem procurar um melhor entendimento do efeito do gerenciamento dos resultados sobre os números contábeis das empresas, antes de estabelecerem algum tipo de relação contratual, pois tal fato afeta a decisão de alocação dos recursos.

Nesse sentido, com o intuito de contribuir para a ampliação das pesquisas empíricas sobre as características da informação contábil para usuários externos, sugere-se que os novos estudos analisem a qualidade dos números contábeis para outros tipos de sociedades, como, por exemplo, as sociedades por cotas de responsabilidade limitada. Além disso, sugere-se o desenvolvimento de novos modelos econométricos que levem em consideração as características da economia brasileira.

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