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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

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Academic year: 2021

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Registro: 2016.0000593668

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº 2059343-34.2016.8.26.0000, da Comarca de Mirassol, em que é agravante TERSEL EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS LTDA., é agravado MARCELO GAZZI TADDEI (ADMINISTRADOR JUDICIAL).

ACORDAM, em 2ª Câmara Reservada de Direito Empresarial do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores CARLOS ALBERTO GARBI (Presidente), CAIO MARCELO MENDES DE OLIVEIRA E FABIO TABOSA.

São Paulo, 15 de agosto de 2016.

CARLOS ALBERTO GARBI – RELATOR –

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Agravo de Instrumento nº 2059343-34.2016.8.26.0000 Comarca: Mirassol (3ª Vara)

Agravante: TERSEL EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS LTDA. Agravado: MARCELO GAZZI TADDEI

Interessados: ITAÚ UNIBANCO S/A, UNIÃO, BANCO BRADESCO S/A, FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO, MUNICÍPIO DE MIRASSOL - SP, COSMOL INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE MOLAS EIRELI EPP, Fátima Ferro e Aço, CONTBAN LOCAÇÃO DE CONTAINER E BANHEIRO QUÍMICO LTDA. e STP SISTEMAS DE TRANSPORTES PRÁTICOS LTDA ME

[VOTO Nº 23.841]

RECUPERAÇÃO JUDICIAL. REMUNERAÇÃO DO ADMINISTRADOR JUDICIAL. FIXAÇÃO PROVISÓRIA NO DEFERIMENTO DO PEDIDO RECUPERACIONAL. IMPOSSIBILIDADE. DESCONHECIMENTO DA SITUAÇÃO DA EMPRESA E DO PROCESSO. REMUNERAÇÃO QUE DEVE CONSIDERAR DIVERSOS FATORES AINDA DESCONHECIDOS NA FASE INICIAL DO PEDIDO. RECURSO PROVIDO.

Recuperação judicial. Administrador Judicial. Função de extrema importância para o desenvolvimento e para o bom andamento do processo. Auxiliar do Juiz.

Remuneração do Administrador Judicial. A remuneração deve ser fixada conforme o trabalho que o profissional realiza. Lei nº 11.101/2005. Previsão de um limite à referida remuneração. Devem ser considerados diversos fatores no arbitramento da remuneração, ainda

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desconhecidos na fase inicial do pedido, como a situação documental e econômico/financeira da empresa, a posição dos credores e a viabilidade de soerguimento. Tampouco se sabe, nessa fase inicial do pedido, como será o processamento da recuperação judicial, como se portarão as demais partes envolvidas e como será elaborado o plano de soerguimento.

Arbitramento da remuneração provisória na decisão que deferiu o processamento da recuperação judicial. Fase em que a situação da empresa ainda é desconhecida. Remuneração que deve ser fixada adequada e oportunamente.

Recurso provido.

Insurgiu-se a agravante contra decisão proferida no processo no qual tramita sua recuperação judicial que fixou a remuneração do Administrador Judicial.

Alegou a recorrente, em síntese, que pediu sua recuperação judicial; que o D. Magistrado deferiu o processamento de seu pedido e nomeou Administrador Judicial; que foi fixada a remuneração do profissional em 4,% sobre o passivo, devendo ser paga mensalmente a quantia de R$ 4.000,00; que o percentual fixado não está de acordo com os critérios da Lei nº 11.101/2005; que impugna apenas o percentual fixado; que o Tribunal costuma fixar a remuneração do Administrador Judicial entre 2% a 3% do passivo submetido à recuperação judicial; que

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deve ser considerado sua capacidade de pagamento; e que deve ser fixada em 2% do passivo a remuneração do referido profissional. Pediu a antecipação da tutela recursal e, a final, o provimento do recurso.

Deferido o pedido liminar, foram dispensadas as informações. O Administrador Judicial apresentou manifestação na qual pediu a manutenção da decisão.

A Procuradoria de Justiça, pelo parecer da Dra. Maria Cristina

Pera João Moreira Viegas, opinou pelo provimento do recurso.

É o relatório.

A agravante requereu a recuperação judicial em 21 de janeiro de 2016, tendo sido deferido o processamento do pedido na decisão impugnada, que também nomeou o Administrador Judicial, fixou sua remuneração provisória em 4,5% do valor devido aos credores submetidos à recuperação judicial e determinou o pagamento mensal de R$ 4.000,00, mediante depósito.

A recorrente impugnou o percentual fixado pelo D. Magistrado, alegando que está em desconformidade com a Lei nº 11.101/2005 e com a jurisprudência do Tribunal.

A função do Administrador Judicial na recuperação judicial e na falência é de extrema importância para o desenvolvimento e o bom andamento do processo. O profissional, segundo a doutrina de SÉRGIO

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CAMPINHO, atua “para auxiliar na organização dos processos de

recuperação judicial e falência. Naquela, funciona como um verdadeiro fiscal do devedor empresário na execução de suas atividades, podendo, até mesmo, vir pessoalmente dirigi-las, nas situações em que seja o mesmo delas afastado e até que se nomeie um gestor judicial; nesta, funciona como administrador da massa falida, agindo na defesa dos interesses que a compõem, sendo, ainda, o seu liquidatário. Seu ofício mostra-se, pois, indispensável à administração dos respectivos processos e surge como fonte segura parta o atingimento de suas finalidades” (Falência e Recuperação de Empresa, Ed. Renovar, 7ª ed.,

p. 60).

Na mesma linha anotam ALFREDO LUIZ KUGELMAS e FABRÍCIO GODOY DE SOUSA: “O administrador judicial é uma

pessoa, que pode ser física ou jurídica, que tem por função principal auxiliar o juiz durante o processo de recuperação judicial ou de falência” (O Papel do Administrador Judicial na Recuperação e na

Falência, in 10 anos de Vigência da Lei de Recuperação e Falência, coords. Carlos Henrique Abrão, Fática Nancy Andrighi e Sidnei Beneti, Ed. Saraiva, 2015, pg. 174).

E também nesse sentido conclui MARLON TOMAZETTE: “Ele

será o principal braço de atuação do juiz nos processo de falência e recuperação judicial. Cabe a ele trazer ao juiz os subsídios necessários para o melhor andamento dos processos de falência e recuperação judicial. Em razão disso, pode-se afirmar que ele exerce um múnus

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público” (Curso de Direito empresarial, Ed. Atlas, 2014, pg. 109).

Verifica-se, assim, que esse profissional, pessoa física ou jurídica, é obrigatoriamente nomeado pelo Juízo Recuperacional para ajudá-lo no bom e escorreito andamento do processo. O Administrador Judicial deverá colher e prestar informações relevantes para o processo, juntar os documentos que se mostrarem necessários, apresentar os relatórios e as petições que a lei lhe incumbe, participar das assembleias, das reuniões e das audiências e comunicar-se com os credores.

A par disso, referido profissional também deve atuar como verdadeiro fiscal da empresa e de seus gestores durante o período em que tramita o processo de recuperação. Daí por que, como visto, a doutrina é remansosa no sentido de que o Administrador Judicial é auxiliar do Juiz, assim como são os demais profissionais que atuam no processo complexo de recuperação judicial (como os peritos e os gestores). Nesse sentido, O Egrégio Superior Tribunal de Justiça já decidiu:

“O síndico, assim como seu sucedâneo - administrador judicial - não exerce profissão. Suas atividades possuem natureza jurídica de órgão auxiliar do Juízo, cumprindo verdadeiro múnus público, não se limitando a representar o falido ou mesmo seus credores. Cabe-lhe, desse modo, efetivamente, colaborar com a administração da Justiça”

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01.06.2010)

Tampouco há dúvida de que todo trabalho deva ser remunerado, premissa essa que também decorre do princípio da vedação ao enriquecimento sem causa, e que o Administrador Judicial, diante da complexidade de atos e de atividades que deve realizar e diante da já mencionada importância de seu trabalho, deva ser adequadamente compensado.

O que não se pode admitir é a fixação de remunerações totalmente fora dos parâmetros da proporcionalidade e da razoabilidade, em valores milionários, que tornam esta relevante atividade judicial em fonte de lucro e remuneração não encontrada no mercado. O Administrador Judicial deve ser remunerado conforme o trabalho que realiza e de acordo com a atividade profissional que desenvolve, convindo anotar que o art. 24 da Lei nº 11.101/2005 estipula critérios exemplificativos para o arbitramento e fixa apenas um limite máximo à referida remuneração, nada dispondo sobre a aplicação obrigatória de percentual com base no passivo ou no ativo da empresa recuperanda.

Na fixação da remuneração do Administrador Judicial devem ser considerados diversos fatores, e não apenas os valores envolvidos na causa. Devem ser consideradas a complexidade do processo, a existência de pluralidade ativa no pedido, a massa de credores e a as diversas atividades que serão desenvolvidas pelo profissional, como relatórios, petições, acompanhamentos e manifestações. Também devem ser

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consideradas a complexidade da empresa em crise econômico-financeira e a conduta processual e extraprocessual dos sócios ou acionistas, situação que pode facilitar ou dificultar o trabalho do profissional.

Também deve ser considerada a estrutura de trabalho que deverá dispor o Administrador para desenvolver suas atividades, o tempo despendido para o trabalho no processo e a necessidade de auxílio de terceiros para bem cumprir o seu mister.

São diversos fatores que devem ser sopesados no arbitramento da remuneração do Administrador Judicial, que deve ser fixada, assim, conforme cada caso, observando-se apenas o teto estabelecido no § 1º, do mencionado art. 24, da Lei de Falências e de Recuperação de Empresa.

Portanto, não cabia a fixação da verba na fase inicial do processo e em patamar tão elevado (4,5% sobre os débitos da agravante sujeitos à recuperação judicial R$ 13.623.685,77), quando ainda não se tem informações sobre a empresa que pediu a recuperação, sua efetiva situação documental, negocial e econômico/financeira, sobre a posição dos credores e sobre a viabilidade de soerguimento da recorrente.

Logo, e considerando que o Administrador Judicial será continuamente remunerado pelos depósitos mensais no valor de R$ 4.000,00 que foram determinados na decisão (e que não foram impugnados pela recorrente), não se justifica a manutenção do arbitramento dos honorários provisórios na decisão que determinou o

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processamento do pedido recuperatório da recorrente.

Referida remuneração deverá ser posteriormente fixada, quando houver nos autos outras informações sobre a efetiva situação da empresa e elaborado o plano de recuperação judicial, quando será possível avaliar a capacidade e a possibilidade de pagamento pela agravante, podendo ser submetida a questão, inclusive, aos credores reunidos em Assembleia.

Assim, tem razão a agravante em sua irresignação, de modo que a decisão recorrida deve ser reformada para que conste que a remuneração devida ao Administrador Judicial é, por hora, apenas aquela mensal determinada, devendo ser oportuna e posteriormente estabelecidas as remunerações provisória e a definitiva.

Nesse sentido, é o parecer da D. Procuradoria de Justiça:

“Como se depreende dos comentários já transcritos, a lei prevê a remuneração máxima a que faz jus o administrador judicial, na recuperação judicial; 5% do valor devido aos credores submetidos ao processo recuperatório. Quer dizer que, em nenhuma hipótese a remuneração pode ultrapassar esse percentual. Igualmente, não significa que em todo e qualquer caso se mostra pertinente a fixação da remuneração no grau máximo, cabendo ao juízo recuperacional, caso a caso, observados os parâmetros legais estabelecidos, determinar a remuneração que se mostre adequada ao caso concreto.

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Na espécie, o arbitramento foi determinado logo no início do processo recuperatório, sem qualquer observância dos critérios legais.

(...)

Inolvidável que a finalidade precípua do processo recuperatório insculpida no artigo 47 da Lei 11.101/05, é a superação da situação de crise econômico-financeira em que se encontra o devedor. Dessa forma, não podem os referidos honorários serem fixados, desde logo, em valor tal que possam agravar, mais, a crise econômica instalada.

A relatoria, como de praxe, detectou o equívoco e afastou a fixação da remuneração provisória, remetendo ao juízo, no momento oportuno, o arbitramento, permanecendo a remuneração mensal, contra a qual não se insurgiu a recuperanda.

Frente ao exposto, somos pelo provimento do recurso, tornando definitiva a antecipação da tutela recursal”

Pelo exposto, DOU PROVIMENTO ao recurso para afastar a fixação da remuneração provisória do Administrador Judicial, que deverá ser oportuna a e adequadamente fixada nos termos explicitados.

CARLOS ALBERTO GARBI

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