SECÇÃO GRÁFICA
Departamento de Cultura Restauradoe Encadernado 3/<rím (Itabr ^nritm ílibrítrn jGrmmtJlntticrstttr<$
The
John
CárterBrown
Library *#•#
@
•$*
Brown
University 4* «$ Purchasedfrom the «$^
LouisaD. SharpeMetcalfFund a>A
PRIMAVERA.
CANTATA.
POR
FRANCISCO VILLELÀ
BARBOSA.
Impressa no Tom.
VL
Part. I. dasMemorias
da AcademiaReal das Sciencias de Lisboa,
LISBOA
Na
Typografia
da
mesma
Academia.
i
8
i 9.( 3 )
A
PRIMAVERA*
CANTATA.
Tlu<; a XC1 Koíi 8" tlaf" KOt^<"' aíiaui '>
Meleagro Idyll. á Primav.
Porque não cantara
também
o VateA
risonha, a formosa Primavera?Trad. por J. B. A. S.
L
_A
onde
em
tuasmargens,
pátrioRio,
Que
do
primeiromez
tomaste onome,
Pasce
o
sidéreoCapro
o verde esmalte,
E
de
teus crystaesbebe
aonda
pura ,(Meta
antigado
Sol, centro hojede
outro.Cujo
lúcido Império abrange os pólos)Com
providentemão
aNatureza
O
asylo preparou da Primavera.Alli não
murcha
a rosa: alli os troncosDe
floressempre
novas se atavião. Alli(em
quanto as negrasTempestades
Sobre as azas de Boreas carrancudo
Arripiao
do
Inverno a hirsutagrenha,
Nos
Ceos
rola o trovão, cae o diluvio(4)
E
do
Seprentriao alaga as plagas)Se
acolhe aDeusa
com
as Graças todas:Mas
apenas viçosa aamendoeira
Dá
signalde
acordar ás nuas plantas,
go
pressuroso carroPhebo
atoma
:alli volta
com
elle alegre e rindo.Quão
doce
he
vela entãocom mão
curiosaToucar
a densacoma
do
arvoredo,E
sobreo
verde dos macios vallesDesdobrar
a cheirosa bordadura,
Em
que
arte emimo
dispendêra Flora !Quão
docehe
velado sanhudo
InvernoTriumphante
correrem
róseo carroOs
tapizadoscampos
!Vão
anteEUa
Os
capripedes Satyrosdançando:
Fazem-lhe
corte as Graças prazenteiras:•Namorados
de
vela os bosques cantão :Os
arbustos , os plátanos florescemCom
seu hálitodoce perfumados
;
E
os virgíneos botões, abrindo os lábios,
Com
pudibundo
riso se franqueiãoAo
pranto creador damadre
Aurora.Cantai,
ó
Pastoras,A
Deusa
da selva ,Que
veste de relvaAs
yossascampinas
,
E
os valles matizaDe
soltas boninas.E
Tu,
que a natureza estudas eamas,
Anãraàd)
escuta o canto: ser-te-hão gratosOs
sons da pátriaMusa
, e o nobre assumpto.Com
a lyra nasmãos
, na bocca oshymnos
,E
te convida para os flóreos vallesA
saudar as matutinas graçasDa
formosa Estação , Aurorado
anno.Venturoso
o mortal, que contemplala
Pode
longe daCorte
estrepitosa,E
se aprazde
trocar os áureos tectosPelos verdes docéis da
umbrosa
selva !Das
symmetricas praças abhorrido,Corre
estas veigas plácidas,sem
ordem,
Habitadas da franca Singeleza.Das
flores pelo calyce orvalhadoDo
tranquillo prazer o néctar gosta:E
se adornado de virentes folhasNo
curvoramo
amadurece
oOuro
;
Encetado
sem
crime, então lhe deixaA
fragrância nasmãos
, omel
nos lábios.Mas
que augusto espectáculo se ostenta!
Eis das
moças
Titaes aPrimogenia
,
Que
do
primeiro Sol dourarao
berço,E
o fulgido Oriente assignaláraCom
accesorubim
sobre o horizonte !De
brincado lavor vistosas galasTrajão os
Ceos
; e oscampos
a esmeralda:E
asmontanhas
de pérolas se toucão.Taes
do
Éden
os jardins se nos pintarão,Que
a innocencia floriu,murchara
a culpa:De
cujos restossempre
preciososSaudosa a Natureza , de
anno
aanno
,
'
Com
pincel immortal reforma o quadroj
Não
de teus camarins, Mortal vaidoso,Para ornar as paredes ociosas :
No
Sanctuario está daNatureza,
E
mui
longede
vós ,Homens
vulgares ,Para
quem
sobre os valles esmaltados(6)
Salve pois , Estação linda ,
Que
almanova
dás aomundo!
Tua
vinda,
Teu
jucundo
Riso
alegra a terra e ar.Ja
dos ígneos horizontesDesce
á terra alma scentelha :Sobre
as fontes-
Ja
se espelhaO
verdejante pomar.Ja
nãomuge
o trovão roucoNas
profundas cavidades:
Nem
tãopouco
Tempestades
Sobre
a costaouço
roncar.Ja
có
os sóccosquebra
a neveO
coradoLavrador:
Ja
se atreveSem
pavorA
seuscampos
visitar.Sob
o jugo
os boismettendo
Canta
aamor; mas
sem
apego
Descrevendo
Torto
rego
,Que
hade
breve semiar.Rejeitando
o tojo bravo,Tenros
prados tosa a ovelha:
Vai o
favoLoura
abelha Fabricando a susurrar*(7)
Cobre povo
de
mil floresTodo
o valle, emonte
agreste:Traja as cores
,
Que
o celesteArco
em
chuvas lhevem
dar.>
Salve pois , Estação linda
,
Que
alma nova dás aomundo
!Tua
vinda,
Teu
jucundo
Riso
alegra a terra e ar.Mas
que
fogo divino,
que
ar mais puroMe
inflamma o coração,me
espertao
sangue ?Quão
formosaManhã
coroa osmontes
!Espargindo
ouro e lirios se annunciaO
Rei
dos Astros.Como
alegre surgeEm
pompa
conduzindo
a Primavera!
Soa
nos bosquesemplumada
Orchestra:
Ardem
aromas sobreo
altarde
Flora:
E
adora ao Sol alvoroçada aTerra
!O'
tu , fonte de luz ,Alma
do
mundo
,
Principio omniparente , e bemfazejo
,
Tu
, que fazes volver a roda ingenteDa
carbunclea carroça luminosa ,Onde
as quatro Estações gyrão perennes,
Sentado
no
teu Sólio de diamantes,
Os
meus
hymnos
protege,
agoraque
altoLa
do
animal lanígero celesteAmbos
os pólos ves equidistantes,
E
igualmente nos dás a luz e as trevas.Foste de adoração o
digno
objectoDas
profanasNações
,que
te incensarão!
Recebendo
de ti alento e vida,
Gratidão lhes dictou cânticos sacros :
Levantárão-te altar teus benefícios.
(
8)
Louvai
pois , viventes ,O
lúcidoNume
,
Que
próvidolume
Reparte
entre os entes ;E
o
frouxoembrião
Na
madre
profundaAnima
, e fecundaDa
térrea extensão.Ja no
árctico póloCom
jasmins e ouroDo
celesteTouro
Orna
o fulvo collo:
Que
submissohumilha,
Em
amor
acceso,
Ao
formoso pesoDa
Agenoria
filha.E
a terra , aque
deraNome
a gentilMoça
,Com
graçasremoça
,E
folga na sphera.Depois
ledomora
Cõ
osLumes
irmãos,
E
os fructos louçãosNos
ramos
colora.Para elles copeia
Da
tenraDonzela
A
cor da tez bella ,Que
o
pejo afogueia.Mas
eis aTarde de
primores rica !Em
mimos
cô aManhã
rivalizando,Da
creadora Estação variao
ornato ,(9
)Seguida dos Favonios innocentes
Desce
do Phebeo
carro, e a par có aDeusa
Em
floridos vergéis passeia e brinca.Co
aAmizade
entretida , aAmor
attenta,
Aqui^ tece grinaldas j la
sem ordem
Labyrinthos enreda , enleia sombras
:
Entre o
myrto
cheiroso o arroio escuta ,E
em
cochinsde
verdura afaga osSomnos.
Engolfada
em
taes lidas não receiaA
paz daNatureza
ver turbada....
Quando
do
Occaso
súbitonegrume
Surge
, e sobre o horizonte aNévoa
pousa.Do
Inverno fugitivo Austro junctaridoOs
dispersos destroços , a reforça :Cresce
, as azas extende , avulta, e voa.He
cerradoEsquadrão de
feiasNuvens:
Cobre
parte dosCeos
: ferozameaça
Disputar
do hemispherio
a posse á Deusa,Ai
dos encantos seus !Quem
os defende?Dá
signal oTrovão
:começa
a lucta.Quanto
me
agrada ver estes combates !Tudo
he
bello nosCeos,
té seus furores:lnda entre elles reluz da
Deusa
aimagem
!Em
seu auxilioPhebo
acodeprompto
:Ardente
setta rápido dardeja ,Que
o seio rasga da assombrosa Treva.Dissipa-se a tormenta: as
Nuvens fogem,
Dando
em
tributo aljôfares á terra.Venceu
aDeuza
emfim
, e a luz resurge.Como
hemimosa
então a NaturezaCô
a boccaem
riso , e as faces orvalhadas!
Tal
aDonzela
,que
travessoamante
Em
amorosos brincosmagoara
: (a)**•
(#)
Como
dama que foi do incauto amanteEm
brincos amorosos maltratada , &c.( io )
Chora
, e se ri, e- alegre entre queixosaLhe
embebe
na alma divinaes delicias !De
pavoneasplumagens
guarnecidoíris levanta o arco
do
triumpho.O
Sol lhe doura apompa
: as flores se erguim
Adornadas
de líquidos diamantes,
De
enfeitar-lhe a coroa cubiçosas :E
das aves,
que
attonitas nos bosquesPela densa
ramagem
se esconderão,
Harmonioso
bando
os ares cruza ,Celebrando
a Victoria , aPaz
, e a Deusa.Os
ledos pastoresDe
tantosEncantos
,E
ricos primores ,Das
frautas nos sonsCom
hymnos
Divinos
Descantão
os dons.E
tu ,Eco
, as frases yQue
escutas, A's grutas Ensinas loquazes.Nas
azas entãoOs
Ventos
Attentos Suspensos estão.
Porem
ja lança languido surrisoPhebo
sobre os outeiros empinados.Augusta sombra
aNatureza
involve^E
doce luz a escuridão prateia.( '«
)
E
nocturnos Festins tecendo encantos.Seus mysterios entáo
Amor
celebra.Do
ethereo pavilhão se extende opanno
Bordado
da mais rica pedraria.Do
etntropende
do
suberbo tectoArgênteo
Lustre ,que
illumina a scena.Eu
vos saúdo , óNoite
, óLua
, ó Astros ,Que
daQuadra
gentil soisornamento
!Nos
festejos có aTerra
oCeo
compete
,E
fulgores disputa aNoite
ao Dia.Em
áureo e vasto circulo os PlanetasFormão
attentos nitido cortejo,
A' formosa Estação reconhecidos.
Nella o
primevo
impulso receberão ,Quando
do
mundo
namimosa
infância ?As
prescriptas carreiras ensaiando ,Pela abobada azul
promptos
rodarão.Veneranda
memoria
, anciã , sagrada ,Que
repetem fieis á vozdo
Eterno !Fervem
millumes
No
Ceo
sereno ,Que
ao brilhoameno
Fazem
ciúmesDo
verde prado,
Também
bordado
De
seus fulgores :São
estrellasno
ceo,no
campo
flores.Ventos
mais doces sobre as crespas vagas , Sobre as verdes searas sederramão
,
As
perfumadas azas extendendo.Quaes
se repartemdo
Oceano
o
império:
Quaes
se dividem asamenas
várzeas.Suaves Viraçóes, aquelles cruzão
Os
undosos districtos socegados :( i*i
y
E
ao voto ardente de saudosaEsposa
Prósperos soprão , borrifando os
Deuses
,
E
os pintadosHeroes
da erguida poppa.Brincóes
Favonios
, estes se divertem ,Ora
levando ás sequiosas plantasA
amiga
geração nas férteis azas:Ora
brincando cô os anneis dispersosDa
louraCamponeza
,
que
cantandoEntre os dedos de neve o fuso volve.
Neptuno
brandoAs
vagasdoma.
Dos
marestoma
Zephyro
omando,
Que
Euro
excessivo,E
Africo altivo,
Exercitavão
Nas
salgadascampanhas
,
que
guardavao.Então
despertaGyra
aambição/
Oh
como
vãoPor
via incertaGravidas quilhas
,
Das
Mais
e FilhasSempre
choradas •Das
recentes Esposas detestadas!Ja
a novos portosA
frota aborda :A
industria acordaNos
Génios
mortos :E
aomutuo
bem
Correndo
vem,
Inda singelas ,
Firmes dando-se as
mãos
as Artes bellas.( 13 )
Porem
quem
como
Tu,
IllustreAndrada
,
Na
malfadada, ingrata Idade nossa,H.i que assim possa
sempre
estudioso,E
proveitoso dispender da vidaEm
melhor lida o seumelhor
thesouro:
Na
Lyrade
ouro ora altos sonstangendo,
Oi
regendo
os Lusitanos choros,
Donde
sonoros alvosCysnes
voão,
Que
omundo
atroaocom
eterno brado,
O
Tempo
, oFado
ameaçando
, e a Inveja,
Que em
vão praguejavendo
a luz Phebea* Salve, Assemblea de Varões Sapientes,
Astros luzentes sois da
Lusa
Sphera:Va
de eraem
era vossafama
e gloria.Fiel Flistoria
põe
a salvo os queamão
,E
a Pátria afamao por trabalhos nobres.Que
não descobres , ó sagaz Talento !Cada
elementosubmettendo
anormas
yAs
artes formas , e dás leis aos usos.Em
vão reclusos seus thesouros tinhaCom
mão
mesquinha
aNatureza
ignava.Industria cava as preciosas minas :
Cria oíKcinas pertinaz trabalho :
Retinne
omalho
, range a lima , eruge
Eólo
, emuge
a lavareda ondeando.De
quando
em
quando
geme
a selva ; ç as praiasBaixão as faias das frondosas serras ,
E
a extranhas terras- levão úteis seres.Pomona
eCeres
orna aMãi
Cybele
;
E
de Semeie
guia o filho as danças,Prendendo
as tranças pampinosas vides.Sempre
assim lides, geração
humana
!Riqueza
mana
das profícuas Artes,Que
mal
repartes , caprichosa Sorte.Porem
importe para obem
de
tudo Primeiro o estudo, que nos traz ventura*(
H
)Formosa
e pura só a dá SapiênciaA'
consciência , que despiu cuidados,
Por
livres pradosextendendo
a vida.Alli guarida foi achar
Yerdade
,
Quando
áCidade
de entre ardis fugindoNo
seio lindo a recatou Virtude,
E
ao pastor rude a confiouem
guarda.Muito
pois tarda para ser ditoso,
Quem
cuidadoso alli não busca abrigo;Onde
o
perigoda
ambição
salvando,
E
contemplando
a universal belleza ,Que
aNatureza
tem
tão rica ornado,
Por
seu dourado código instruido,
Cante
embebido
na lição celesteA
mão
que
veste á Primavera as flores,
E
áAurora
as galas de gentis primores.No
palácio daRiqueza
Não
habita a sã Ventura :So
a encontrao que
a procuraNo
seio da Natureza.Lê
pois ,Andrada
ditoso ,No
grande livrodo
mundo
,Em
quanto osom
no
profundoCerca
o leitodo
ocioso.Nas
purasmanhans
suaves,
Quando
o Sábio ocampo
estuda?
O
Rouxinol
o saúda,
E
ledas cantão-lhe as aves.Nas
longas tardes calmosasO
abriga docel frondoso ,E
brincarno
leito hervoso( ij )