AÇUDE EPITÁCIO PESSOA – BOQUEIRÃO (PB)
SITUAÇÃO HÍDRICA E PERSPECTIVAS COM A CHEGADA DA ÁGUA
DA TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO
Frederico Moyle Baeta de Oliveira1& Andréa Pimenta Ambrozevicius2*
O açude Epitácio Pessoa localiza-se em Boqueirão (PB) e é a principal fonte de abastecimento de Campina Grande e adjacências. O açude vem sofrendo com a estiagem desde 2012, tendo atingido seu menor volume histórico em abril de 2017. Com a redução do volume do açude, a Agência Nacional de Águas (ANA) e a Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba (AESA) vem agindo, de forma conjunta, para minimizar os efeitos do seu deplecionamento e garantir os usos prioritários por lei, consumo humano e dessedentação animal. Assim, irrigação e outros usos consuntivos foram restringidos e racionamento de água foi implantado em Campina Grande. O início da pré-operação do eixo leste do Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional (PISF) trouxe expectativas – o aumento gradativo do nível do reservatório traz a perspectiva da retomada dos usos múltiplos da água, desde que assegurado o abastecimento dos municípios. ANA e AESA têm acompanhado a situação hídrica do açude, realizado ações de fiscalização e promovido reuniões com os usuários de água.
Palavras-Chave – Epitácio Pessoa, crise hídrica, PISF.
AÇUDE EPITÁCIO PESSOA – BOQUEIRÃO (PB)
HYDRIC SITUATION AND PERSPECTIVES ABOUT
INTEGRATION
PROJECT OF THE SÃO FRANCISCO RIVER WITH
THE NORTHEASTERN HYDROGRAPHIC BASINS (PISF)
The reservoir Epitacio Pessoa is located in Boqueirão (PB) and it is the main source of water to Campina Grande and surrounding areas. Since 2012 the reservoir has been facing hard scarcity of water, and it reached the lowest historical volume (11.97 hm3, 3% of total capacity) in April 2017.
The National Agency of Water (ANA) and the Executive Agency for Water Management of Paraíba State (AESA) have been acting to minimize the effects of the depletion and to guarantee priority uses, established by law - human and animal consumption. Thus, irrigation and other consumptive uses were restricted and water rationing was implemented in Campina Grande. The beginning of the pre-operation of the east axis of the Integration Project of the São Francisco River with the Northeastern Hydrographic Basins (PISF) brought expectations – because of the gradual water increase in the reservoir, the municipalities’ water supplies will be ensured and then there is a perspective of return of multiple uses of water. ANA and AESA have monitored the water situation in the reservoir, reached enforcement actions and promoted meetings with water users.
Keywords – Epitácio Pessoa, water scarcity, PISF.
1 Agência Nacional de Águas – ANA frederico.oliveira@ana.gov.br 2 Agência Nacional de Águas – ANA andrea.pimenta@ana.gov.br *Autor correspondente
AÇUDE EPITÁCIO PESSOA
O açude Epitácio Pessoa, mais conhecido como Boqueirão, foi construído pelo Departamento Nacional de Obras Contra Secas – DNOCS, entre os anos de 1951 e 1956, tendo sido inaugurado em janeiro de 1957. Localizado no município de Boqueirão (PB), está inserido na bacia hidrográfica do rio Paraíba – figura 01, situado a cerca de 45 km do município de Campina Grande.
A bacia hidrográfica do rio Paraíba ocupa uma área de 12.389 km2, o que representa 22 % de toda a área territorial do estado da Paraíba. O açude, que é atualmente o segundo maior do estado (com volume total de aproximadamente 411 hm3), localiza-se na microrregião do Cariri Oriental,
sendo responsável pelo abastecimento hídrico de mais de 400.000 habitantes na cidade de Campina Grande e de outros municípios próximos.
A água do açude também é utilizada para consumo humano em comunidades localizadas em seu entorno, e para fins de irrigação, dessedentação de animais e recreação.
O açude vem sofrendo com a forte estiagem que assola o semiárido brasileiro desde 2012, tendo atingido seu menor volume histórico (11,97 hm3, correspondente a 3 % da sua capacidade total)
no mês de abril de 2017 – figuras 02 a 06. Com a redução do volume do açude, a Agência Nacional de Águas (ANA) e a Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba (AESA) vem agindo, de forma conjunta, para minimizar os efeitos do seu deplecionamento e garantir os usos prioritários na região afetada.
Figura 02. Evolução do açude Epitácio Pessoa, no período de 1994 a 2017.
Figuras 03 e 04. Açude Boqueirão em abril/2013, no início do último ciclo de estiagem e em dezembro/2016, próximo ao atingir o menor volume histórico.
Figuras 05 e 06. Açude Boqueirão em maio de 2013 e em abril de 2017, com a torre de tomada d’água em obras.
Em junho de 2013, em razão do baixo volume acumulado no reservatório e da priorização do uso para consumo humano e dessedentação animal, considerando a perspectiva de agravamento da estiagem, foi restrito o uso de água para irrigação.
Até junho de 2014, a regra em vigor consistia na redução das áreas irrigadas, obedecendo ao limite de cinco hectares por usuário, e na redução do período de captação para todos os usos, com exceção dos usos considerados prioritários por lei. Em junho de 2014, o volume de armazenamento do açude atingiu valores inferiores a 30%, quando se determinou a suspensão de todos os usos não prioritários. Nessa ocasião, foi negociado um período para que os irrigantes terminassem a colheita das culturas permanentes e então cessassem a irrigação.
Além disso, em 2015, foram impostas limitações à captação da Companhia de Águas e Esgotos da Paraíba (CAGEPA) no açude, por meio da Resolução Conjunta ANA/AESA n°960/2015, que mantinha suspensos os usos consuntivos não prioritários e estabelecia limitação da captação dos Sistemas de Abastecimento de Água do Cariri e de Campina Grande, o que levou a companhia a implementar um sistema de racionamento de água em Campina Grande, principal município abastecido pelo açude.
Posteriormente, foi publicada a Resolução Conjunta ANA/AESA n°1397/2016, que manteve os usos consuntivos não prioritários suspensos, manteve restrita a captação dos Sistemas de Abastecimento de Água do Cariri e de Campina Grande e estabeleceu ainda a obrigatoriedade de a operadora do sistema público de abastecimento monitorar a qualidade de água no ponto de captação com frequência semanal, para evitar problemas de saúde pública relacionados ao controle de cianobactérias e cianotoxinas.
O cumprimento da suspensão do uso da água para irrigação foi verificado por meio de ações de fiscalização, realizadas pela ANA e AESA, incluindo acompanhamento das áreas irrigadas por meio de análise de imagens de satélite.
Em 2017, nova Resolução Conjunta foi publicada, considerando as mudanças no cenário hidrológico com a pré-operação do PISF - Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional.
PERSPECTIVAS DO PISF PARA O AÇUDE EPITÁCIO PESSOA
O Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional (PISF) é um conjunto de obras de infraestrutura hídrica concebido para aumentar a garantia de disponibilidade hídrica para a região atendida, direta e indiretamente. O principal objetivo do sistema é garantir segurança hídrica para o abastecimento de uma população de cerca de 12 milhões de habitantes, em 390 municípios e 294 comunidades rurais nos estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte.
O PISF foi outorgado pela Resolução ANA n°411/2005, alterada pela Resolução ANA n°1133/2016, com vazão firme de 26,4 m3/s e excepcionalmente 114,3 m3/s, em função do nível de
Sobradinho.
O empreendimento é dividido em dois eixos de transferência de Água (figura 07): Eixo Norte – em obras, e Eixo Leste – iniciou sua pré-operação em fevereiro de 2017. O Eixo Leste atravessa os municípios pernambucanos de Floresta (onde está a captação no reservatório de Itaparica), Custódia, Betânia e Sertânia, terminando em Monteiro, na Paraíba. A partir de Monteiro, a água do percorre o rio Paraíba por 145 km, passando pelos açudes de Poções e Camalaú, até o açude Epitácio Pessoa.
Figura 07. Mapa geral da infraestrutura hídrica do PISF, com destaque para Eixo Leste, que atende o açude Boqueirão.
A água do PISF chegou à saída do canal em Monteiro (PB) no dia 08/03/2017, desaguando no leito do rio Paraíba. Após passar pelos açudes de Poções e Camalú, a água chegou ao açude Epitácio Pessoa no dia 18/04/2017. Com a recuperação paulatina do reservatório, em julho de 2017 a CAGEPA – Companhia de Água e Esgotos da Paraíba foi autorizada a aumentar a vazão de captação de água (Resolução Conjunta ANA/AESA n° 1292/2017), podendo, dessa forma, cessar o racionamento imposto anteriormente aos Sistemas de Abastecimento de Água do Cariri e de Campina Grande. No entanto, essa vazão de captação autorizada não foi plenamente retomada, devido à
dependência de nível mínimo no reservatório para que os conjuntos elevatórios instalados operem com sua capacidade instalada e para que ocorra operação por gravidade. A AESA vem acompanhando o enchimento do açude – figura 08.
Figura 08. Evolução mensal do armazenamento no açude entre 2016 e 2017 (elaborado a partir de dados da AESA).
Após alguns problemas, tais como a interrupção temporária do fluxo de água para o açude, devido ao rompimento de um trecho do canal adutor em Custódia (PE), e da redução da vazão afluente, devido a problemas nas estações de bombeamento e usos irregulares da água do PISF, aumentaram as discussões sobre a segurança hídrica do Boqueirão e, nesse contexto, sobre a pertinência do racionamento de água para abastecimento público e da manutenção de outros usos.
Com a perspectiva da recuperação do açude Epitácio Pessoa, verificou-se uma pressão dos setores usuários para autorização do uso das águas do açude. Em abril de 2017, a ANA, juntamente com a AESA e Comitê da Bacia Hidrográfica do rio Paraíba, realizou uma reunião com os interessados, com o objetivo de apresentar a situação do açude e debater as restrições ao uso da água, considerando a chegada da água do PISF – figura 09. Outras reuniões foram realizadas e, em julho de 2017, a ANA e AESA publicaram a Resolução Conjunta nº 1292/2017, que estabelece condições de uso da água no Sistema Hídrico Rio Paraíba - Boqueirão, válidas durante o período de pré-operação do PISF, incluindo autorização de uso da água para culturas de subsistência – até 0,5 ha por propriedade. O cumprimento das restrições de uso da água está sendo fiscalizado por ANA e AESA. No entanto, as vazões que afluem ao Boqueirão não estão estabilizadas e as simulações de seu enchimento e retomada dos usos não prioritários são estimativas. Ademais, existe a necessidade de realização de obras em reservatórios localizados ao longo do eixo leste e outras questões relativas ao arcabouço regulatório do PISF, modelo tarifário e condições operacionais ainda estão em discussão e devem estar implementados quando da operação propriamente dita.
Diante deste cenário, a definição de critérios de gestão dos recursos hídricos torna-se necessária, com o objetivo de se garantir a segurança dos sistemas de abastecimento público que dependem do açude, bem como permitir os usos múltiplos da água. A alocação de água deve ser realizada de forma a garantir a sustentabilidade das atividades ao longo do tempo.
49,1 46,5 43,5 41,0 38,2 35,6 32,7 30,2 27,6 24,9 22,2 19,8 17,3 15,3 13,1 14,2 22,5 28,2 31,8 34,6 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0
Volume (hm³)
Figura 09. Reunião em abril de 2017 com os usuários de água, promovida pela ANA em parceria com AESA e Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Paraíba, para apresentar a situação do açude Boqueirão, perspectivas com a chegada da água do PISF e debater restrição de uso da água.
SITES PARA CONSULTA
Situação reservatórios e rios federais, boletins sobre PISF: http://www2.ana.gov.br/Paginas/servicos/salade situacao/default.aspx Sistema de acompanhamento de Reservatórios – SAR: http://sar.ana.gov.br/
Alocações negociadas de Água e Marcos Regulatórios ANA:
http://www2.ana.gov.br/Paginas/servicos/outorgaefiscalizac ao/alocacao_agua.aspx
Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil – Encarte Especial sobre a Crise Hídrica: http://conjuntura.ana.gov.br/docs/crisehidrica.pdf
Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil – última edição 2016:
http://www3.snirh.gov.br/portal/snirh/centrais-de-conteudos/conjuntura-dos-recursos-hidricos
Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional – PISF: http://www2.ana.gov.br/Paginas/projetos/pisf.aspx
http://www.mi.gov.br/web/projeto-sao-francisco
Bacia Hidrográfica do rio Paraíba:
http://www.aguasdaparaiba.com.br /comites.php?id=2
AESA - Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba: