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JORNALISMO E ÍTALO CALVINO: APROXIMAÇÕES NECESSÁRIAS PARA O MILÊNIO

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Academic year: 2021

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JORNALISMO E ÍTALO CALVINO:

APROXIMAÇÕES NECESSÁRIAS PARA O MILÊNIO

Pollyanna Teixeira Braz de Morais1, Tayná Cunha de Araújo2 e Daniela Rabelo3 RESUMO

Comunicar é necessário. E nesse processo a sua conseqüente interação com o receptor de forma sistêmica e integrada. É no comunicar que o jornalista traduz a sua essência. As aproximações necessárias da comunicação, Jornalismo e propostas de Ítalo Calvino – leveza, rapidez, exatidão, visibilidade, multiplicidade e consistência, para o próximo milênio, direcionadas ao campo jornalístico, permitiram agregar valor a sua prática. Este estudo tem por objetivo estabelecer a relação entre comunicação, Jornalismo e Ítalo Calvino – aproximações necessárias para o milênio. Demonstrou-se com ele que o tecer em conjunto de diversos saberes e os diversos códigos em uma visão pluralística e multifacetada do mundo deve ser uma condição natural do comunicador.

Palavras-chave: Jornalismo; Comunicação; Ítalo Calvino.

“Sem comunicação, de fato, o homem não pode existir como pessoa humana”, afirma Juan Bordenave em seu livro Além dos meios e mensagens (1998). Através dessa afirmação percebe-se a importância do comunicar para a sociedade. E o quão essencial ela se torna nas vidas e no dia-a-dia de cada indivíduo.

A comunicação é um fator de grande importância. Sem ela cada pessoa seria um mundo fechado em si mesmo. Ou seja, não haveria a relação dos indivíduos entre si e também com os meios de comunicação - relações essas que levam à troca de experiências e obtenção de maiores informações. Define-se então que a comunicação “serve para que as pessoas se relacionem entre si, transformando-se mutuamente e a realidade que as rodeia” (BORDENAVE, 2005, p. 36).

Em seu livro “Seis propostas para o próximo milênio”, Ítalo Calvino busca transmitir e situar na perspectiva desse milênio valores que lhe são particularmente caros. São eles: leveza, rapidez, exatidão, visibilidade, multiplicidade e consistência. Analisando a importância de cada uma dessas propostas para todas as áreas resolveu-se então relacioná-las com o conceito de comunicação e agregá-relacioná-las ao trabalho do jornalista.

1

Estudante de Publicidade e Propaganda, 6º semestre, Faculdade Juscelino Kubitschek/Anhanguera,

pollyannatbm@gmail.com.

2

Estudante de Jornalismo, 6º semestre, Faculdade Juscelino Kubitschek/Anhanguera,

tynalindinha@gmail.com.

3

Professora dos Cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Relações Públicas da Faculdade Juscelino Kubitschek/Anhanguera, daniela.a.rabelo@gmail.com.

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Inicia-se então pela leveza, aspecto de grande valia para toda e qualquer forma de comunicar. Calvino exemplifica a leveza em pelo menos três acepções distintas:

“1) Um despojamento da linguagem por meio do qual os significados são canalizados por um tecido verbal quase imponderável até assumirem essa mesma rarefeita consistência;

2) A narração de um raciocínio ou de um processo psicológico no qual interferem elementos sutis e imperceptíveis, ou qualquer descrição que comporte um alto grau de abstração;

3) Uma imagem figurativa da leveza que assuma um valor emblemático”. (CALVINO, 1990, p. 39)

O ser humano busca na leveza uma reação ao peso do viver, já que as diversas situações em que passa durante sua vida trazem consigo um peso inestimável. Ao pensar na comunicação a leveza torna-se um fator fundamental. Ao comunicar-se deve se tentar subtrair ao máximo esse peso adquirido. Ele naturalmente, advém da rotina, dos problemas e da jornada de trabalho, por exemplo. A comunicação deve, portanto, conter elementos leves, evitando que o peso do dia-a-dia torne-se esmagador.

A leveza aqui, não se refere os aspectos vagos, aleatórios, que se dissolvem com facilidade, é possível trabalhar, seja em matérias jornalísticas, peças publicitárias, em um planejamento estratégico, ou em qualquer outra forma de comunicar, uma linguagem leve, mas que seja precisa e determinante. “As imagens de leveza que busco não devem, em contato com a realidade presente e futura, dissolver-se como sonhos”. (CALVINO, 1990, p. 20)

Percebe-se, então, que ao buscar variáveis que se encaixem nesse quadro, pode-se encontrar várias opções que levem ao fim desejado: uma comunicação leve que ao mesmo tempo interaja com o receptor e o faça se interessar pelo que está sendo passado. Mas para isso é necessário que o comunicador conheça o lado contrário, ou seja, a comunicação que contém elementos “pesados”. Calvino afirma que: “Não podemos admirar a leveza da linguagem se não soubermos admirar igualmente a linguagem dotada de peso”. (CALVINO, 1990, p. 27)

Portanto, cabe ao comunicador conhecer ao máximo essa linguagem. Escolhendo a partir daí os melhores elementos para sua comunicação.

O segundo ponto abordado por Calvino é a rapidez. Mas o que tem a rapidez haver com a comunicação? Tudo. Todos sabem que tempo é uma riqueza e, quanto mais tempo se economiza, mais tempo se pode perder. Nos dias atuais tudo é muito rápido.

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Desde a comida que se compra até a maneira de encontrar alguém que esteja do outro lado do mundo. O fato é que as pessoas hoje não podem se “dar o luxo” de perder seu tempo (precioso) já que o mundo, cada vez mais, implanta novas tecnologias que sempre tornam as coisas muito mais velozes.

O homem então busca sempre acompanhar a velocidade das máquinas para conseguir se firmar no mercado. Se isso não acontecer, o risco de perder o seu lugar é muito grande.

E com a comunicação não seria diferente, já que é necessário existir uma adaptação a tudo que está acontecendo, no mundo. Quando se busca sinônimos de rapidez o que se encontra é: agilidade, mobilidade, desenvoltura; elementos que se enquadram perfeitamente nos aspectos abordados. A definição de mobilidade que melhor se encaixa no assunto tratado aqui é: “que obedece às leis do movimento; deslocamento de indivíduos, grupos ou elementos culturais no espaço social”. (Dicionário Michaelis, 2008). Trazendo essa definição para o cenário da comunicação percebe-se que é exatamente isso que deve acontecer, uma adaptação ao movimento contínuo existente nas sociedades.

Calvino traz um pensamento sobre a rapidez que está muito relacionado com a comunicação e com a maneira das pessoas receberem as informações:

“A rapidez e a concisão do estilo agradam porque apresentam à alma uma turba de idéias simultâneas, ou cuja sucessão é tão rápida que parecem simultâneas e fazem a alma ondular numa tal abundância de pensamento, imagens ou sensações espirituais, que ela ou não consegue abraçá-las todas de uma vez nem inteiramente a cada uma, ou não tem tempo de permanecer ociosa e desprovida de sensações”. (CALVINO, 1990, p. 55).

A partir dessa definição de Calvino, pode-se compreender então que o processo de comunicação se torna tão veloz que o indivíduo ou não consegue absorver tudo que lhe é passado de uma só vez, ou de maneira alguma fica ocioso. Pois obtém um grande número de informações durante todo o seu tempo. Portanto comunicar deve ser um processo rápido, mas que de maneira nenhuma sufoque o receptor.

Para finalizar a abordagem desse segundo valor essa última citação de Calvino sobre a rapidez traz mais claramente como esse elemento está inserido na vida de cada pessoa:

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“A velocidade mental não pode ser medida e não permite comparações ou disputas, nem pode dispor os resultados obtidos numa perspectiva histórica. A velocidade mental vale por si mesma, pelo prazer que proporciona àqueles que são sensíveis a esse prazer e não pela utilidade prática que se possa extrair dela. Um raciocínio rápido não é necessariamente superior a um raciocínio ponderado, ao contrário; mas comunica algo de especial que está precisamente nessa ligeireza”. (CALVINO, 1990, p. 58).

Um terceiro valor que Calvino tenta passar é a exatidão. E começa falando que: “a linguagem me parece sempre usada de modo aproximativo, casual, descuidado” (CALVINO, 1990, p. 72).

É visível a insatisfação do autor quando aborda a maneira como as pessoas fazem uso da linguagem. Analisando esse pensamento, nota-se, infelizmente, que na comunicação muitas vezes essa linguagem é usada da mesma maneira, se não pior.

O maior problema detectado é a falta de preocupação dos próprios profissionais de comunicação em relação ao uso da linguagem. É comum encontrar grandes erros na linguagem escrita, como por exemplo, textos prolixos, incoerentes, erros gramaticais e de concordância. Da mesma maneira na linguagem falada, com uso de palavras chulas, uso excessivo de gírias, erros de concordância, dentre outros.

Calvino traz três diferentes definições de exatidão, mas que estão relacionadas entre si. São elas:

“1) um projeto de obra bem definido e calculado;

2) a evocação de imagens visuais nítidas, incisivas, memoráveis;

3) uma linguagem que seja o mais precisa possível como léxico e em sua capacidade de traduzir as nuanças do pensamento e da imaginação” (CALVINO, 1990, p. 71 e 72).

Com isso pode-se então dizer que é necessário um cuidado e uma preocupação muito maior com o uso da linguagem seja ela culta ou coloquial. E de preferência que a comunicação seja feita, então, de forma precisa, ou seja, que o comunicador por sua vez evite ficar se prolongando demais em determinados assuntos. Sendo que esses podem estar claros mesmo quando abordados de maneira objetiva. Pois como foi dito anteriormente, o tempo é algo precioso e, quanto mais precisa for a comunicação se obterá uma maior economia deste.

Finalizada a abordagem da exatidão, parte-se então para o quarto valor, que talvez o mais complexo dos seis. É esse a visibilidade. Aqui, talvez se detenha um pouco

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mais na área de publicidade, já que será falado bastante sobre a importância da parte visual que é usada com mais freqüência pelos profissionais dessa área como uma forma de interagir com o seu público alvo.

A visibilidade é definida por Calvino como: “Um processo de associações de imagens que é o sistema mais rápido de coordenar e escolher entre as formas infinitas do possível e do impossível” (CALVINO, 1990, p. 107).

Sendo assim percebe-se que as imagens são, mais do que nunca, um fator determinante na comunicação. Porém não basta usar qualquer tipo de imagem, ou usá-la apenas por serem “bonitinhas” e deixar, assim, o anúncio mais interessante. Assim como na linguagem escrita e falada deve-se tomar um extremo cuidado com o uso de seus elementos, na linguagem visual não é diferente. O uso das imagens deve ser feito com seriedade. Mais do que isso com um propósito bem definido já que, na maioria das vezes, ele é o elemento principal de um anúncio, ou campanha.

Partindo do princípio de que no fim escolhe-se o que é mais interessante, agradável ou divertido, as imagens devem então adquirir uma forma nítida na mente da pessoa que a está vendo, pois segundo Calvino: “estamos correndo o perigo de perder uma faculdade humana fundamental: a capacidade de por em foco visões de olhos fechados, de pensar por imagens”. (CALVINO, 1990, p. 107 e 108).

É possível então perceber que a visibilidade está relacionada com os três valores citados anteriormente. Nesse aspecto, mais do que nunca, esses valores adquirem uma importância muito maior. Para que essa relação se torne mais clara pode-se exemplificar da seguinte maneira: o uso das imagens é uma ferramenta que pode ser usada para que se obtenha uma comunicação mais rápida. Mas é necessário tomar cuidado para que essa comunicação não fique confusa e muito menos pesada. Sendo assim, a leveza é um fator fundamental. A exatidão por sua vez deve estar inserida justamente para que não exista essa confusão (já que, na maioria das vezes, a linguagem escrita será menos usada) e a mensagem seja passada de maneira correta atingindo assim o seu real objetivo.

“As soluções visuais continuam sendo determinantes, e vez por outra chegam inesperadamente a decidir situações que nem as conjecturas do pensamento nem os recursos da linguagem conseguiriam resolver” (CALVINO, 1990, p. 106).

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Multiplicidade, esse é o quinto valor descrito por Calvino. E talvez, mais do que todos os outros, seja o que tenha uma relação de mais proximidade com a comunicação. Pensa-se em multiplicidade quando se fala da existência de uma rede de relações. E também de uma pluralidade das linguagens como garantia de uma verdade que não seja parcial.

O jornalista deve ser o profissional que tem uma “visão de vários mundos”. Uma multiplicidade de métodos interpretativos, maneiras de pensar e estilos de expressão. Isso se deve ao fato de ter que trabalhar com vários públicos diferentes, de culturas, valores e maneiras de pensar totalmente diversificadas.

O grande desafio, portanto torna-se saber tecer em conjunto os diversos saberes e os diversos códigos em uma visão pluralística e multifacetada do mundo.

Calvino cita um exemplo super interessante de um romancista que para escrever sua obra leu uma grande quantidade de livros dos mais variados assuntos.

“Flaubert, para alimentar sua aventura capítulo por capítulo, tem que adquirir uma competência em cada ramo do saber, edificar uma ciência que seus dois heróis possam destruir. Para tanto lê manuais de agricultura orgânica e horticultura, de química, anatomia, medicina, geologia... Numa carta de agosto de 1873 diz haver lido com esse objetivo, anotando-os, 194 livros; em junho de 1874, a cifra já havia subido para 294; cinco anos mais tarde pode noticiar a Zola: acabei minhas leituras e não abro mais livro algum até a conclusão de meu romance. Mas em correspondência de data pouco posterior, já vamos reencontrá-lo às voltas com leituras eclesiásticas, passando depois a ocupar-se de pedagogia, disciplina que vai obrigá-lo a reabrir um leque das ciências mais díspares. Em janeiro de 1880 escreve: sabe quantos livros tive de absorver para os meus dois simplórios? Mais de 1500” (CALVINO, 1990, p. 129).

Que se siga como o exemplo Flaubert, que não se limitou em nenhum momento e buscou conhecer um pouco de cada área para realizar assim um trabalho completo e adepto a variados estilos.

Por fim, temos um valor que é na verdade o conjunto de todos os cinco elementos citados: a consistência.

Infelizmente essa conferência, que seria a última dessa série não chegou a ser nem ao menos escrita devido à morte súbita do autor.

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Mas pode-se definir consistência como estado ou qualidade de consistente. Solidez, perseverança, constância. Elementos que devem estar sempre presentes na comunicação.

Finaliza-se então esse trabalho com uma citação de Bordenave onde diz que: “A comunicação é muito mais que os meio de comunicação social. Estes meios são tão poderosos e importantes na nossa vida atual que as vezes esquecemos que representam apenas uma mínima parte de nossa comunicação total” (BORDENAVE, 2005, p. 18)

Sendo assim acredita-se que a comunicação é um conjunto de vários elementos que juntos dão a forma consistente a qual se quer chegar.

Referências

BORDENAVE, Juan E. Diaz. O que é comunicação. São Paulo: Brasiliense, 2005

BORDENAVE, Juan E. Diaz. Além dos meios e mensagens: Introdução à comunicação como processo, tecnologia, sistema e ciência. 8.ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1998

CALVINO, Italo. Seis propostas para o próximo milênio. 2. ed. São Paulo: Companhia das letras, 1990

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