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P1 Módulo I (50% da nota final), 5a-feira, 6 de julho de 2017, SBC.

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1 Disciplina: Estado e Desenvolvimento Econômico no Brasil Contemporâneo 2017.II, DAESHR005- 13SB / DBESHR005- 13SB / NAESHR005- 13SB

Professor: Demétrio G. C. de Toledo, Bacharelado em Relações Internacionais

P1 – Módulo I (50% da nota final), 5a-feira, 6 de julho de 2017, SBC.

Nome: Nota: RA:

Instruções para realização da P1

Leia atentamente e responda todas as questões na tabela da folha de respostas com caneta azul ou preta. Rasuras no preenchimento da tabela implicarão a anulação da questão.

Questão 1

i.

ii.

iii.

Questão 2

i.

ii.

iii.

Questão 3

i.

ii.

iii.

Questão 4

i.

ii.

iii.

Questão 5

i.

ii.

iii.

Questão 6

i.

ii.

iii.

Questão 7

i.

ii.

iii.

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2 1. Segundo Bresser-Pereira (2006), o desenvolvimento resulta sempre em redução da

pobreza e da desigualdade? Ele sempre é justo?

i. A médio prazo, o desenvolvimento econômico implica sempre melhoria dos padrões médios de vida da população, mas daí não se pode deduzir que o desenvolvimento produza em termos práticos a constituição de uma sociedade mais igualitária. No entanto, em um prazo maior ou menor esse desenvolvimento acabará implicando na piora dos padrões de vida médios. O desenvolvimento econômico poderá, portanto, ser extraordinariamente injusto. Por isso, e por outras razões, do ponto de vista ético ou normativo, o desenvolvimento não pode ser entendido como único objetivo político da sociedade.

ii. A médio prazo, o desenvolvimento econômico implica sempre piora dos padrões médios de vida da população, mas daí não se pode deduzir que o desenvolvimento produza em termos práticos a constituição de uma sociedade mais desigual. Pelo contrário, historicamente, temos longos períodos em que o desenvolvimento econômico é claramente distribuidor de renda, e, no curto prazo, pode mesmo implicar em melhora desses padrões. Em um prazo maior ou menor esse desenvolvimento acabará implicando na melhoria dos padrões de vida médios. Os muito pobres e destituídos poderão, por curto tempo, em nada se beneficiar do desenvolvimento; mesmo os trabalhadores semiqualificados poderão também ser excluídos dos frutos do desenvolvimento enquanto houver oferta abundante de mão-de-obra rebaixando os salários. O desenvolvimento econômico poderá, portanto, ser extraordinariamente injusto. Por isso, e por outras razões, do ponto de vista ético ou normativo, o desenvolvimento deve ser entendido como único objetivo político da sociedade.

iii. A médio prazo, o desenvolvimento econômico implica sempre melhoria dos padrões médios de vida da população, mas daí não se pode deduzir que o desenvolvimento produza em termos práticos a constituição de uma sociedade mais igualitária. Pelo contrário, historicamente, temos longos períodos em que o desenvolvimento econômico é claramente concentrador de renda, e, no curto prazo, pode mesmo implicar em deterioração desses padrões. Em um prazo maior ou menor esse desenvolvimento acabará implicando na melhoria dos padrões de vida médios. Os muito pobres e destituídos poderão, por longo tempo, em nada se beneficiar do desenvolvimento; mesmo os trabalhadores semiqualificados poderão também ser excluídos dos frutos do desenvolvimento enquanto houver oferta abundante de mão-de-obra rebaixando os salários. O desenvolvimento econômico poderá, portanto, ser extraordinariamente injusto. Por isso, e por outras razões, do ponto de vista ético ou normativo, o desenvolvimento não pode ser entendido como único objetivo político da sociedade.

2. Segundo Furtado (1992), o que é o desenvolvimento? Qual a relação entre desenvolvimento e subdesenvolvimento?

i. O desenvolvimento é o processo social em que a assimilação de novas técnicas e o consequente aumento de produtividade conduzem à melhoria do bem-estar de uma população com crescente homogeneização social. O subdesenvolvimento é a situação em que aumentos de produtividade e assimilação de novas técnicas não conduzem à homogeneização social, ainda que causem a elevação do nível médio de vida da população.

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Entre as economias desenvolvidas e as subdesenvolvidas não existe uma simples diferença de etapa ou de estágio do sistema produtivo, mas também de função ou posição dentro de uma mesma estrutura econômica internacional de produção e distribuição. Isso supõe, por outro lado, uma estrutura definida de relações de dominação.

ii. O desenvolvimento é o processo social em que a assimilação de novas técnicas e o consequente aumento de produtividade conduzem à melhoria do bem-estar de uma população com crescente homogeneização social. O subdesenvolvimento é a situação em que aumentos de produtividade e assimilação de novas técnicas não conduzem à homogeneização social, ainda que causem a elevação do nível médio de vida da população. As economias desenvolvidas e as subdesenvolvidas situam-se em diferentes etapas ou estágios históricos, o que explica as diferenças de função ou posição dentro de uma mesma estrutura econômica internacional de produção e distribuição. Isso supõe, por outro lado, uma estrutura definida de relações de dominação.

iii. O desenvolvimento é o processo social em que a assimilação de novas técnicas e o consequente aumento de produtividade conduzem à melhoria do bem-estar de uma população com crescente homogeneização social. O subdesenvolvimento é a situação em que aumentos de produtividade e assimilação de novas técnicas não conduzem à homogeneização social, ainda que causem a elevação do nível médio de vida da população. Entre as economias desenvolvidas e as subdesenvolvidas existe uma simples diferença de etapa ou de estágio do sistema produtivo, gerando distintas funções ou posições dentro de uma mesma estrutura econômica internacional de produção e distribuição. Isso supõe, por outro lado, uma estrutura definida de relações de não de dominação, mas de complementaridade.

3. Segundo Furtado (1999), a política de defesa do café, ao sustentar os preços do produto, criou as condições para o colapso da economia cafeeira, mas também as condições para a industrialização. Isso se deveu a:

i. Ao sustentar os preços do produto, a política de defesa do café incentivou o aumento da produção, que pressionou para baixo os preços do café e causou perda de lucratividade do setor. A política de defesa do setor cafeeiro nos anos da grande depressão, no entanto, concretiza-se num verdadeiro programa de fomento da renda nacional. Ao manter se a procura interna com maior firmeza que a externa, o setor que produzia para o mercado interno passa a oferecer melhores oportunidades de inversão que o setor exportador. Cria-se, em consequência, uma situação praticamente nova na economia brasileira, que era a preponderância do setor ligado ao mercado interno no processo de formação de capital, iniciando a industrialização por substituição de importações.

ii. O colapso da economia cafeeira foi causado pela política de defesa do café, que consistiu na proibição de novas expansões da produção cafeeira, de modo a reduzir a oferta do produto no mercado internacional e manter seu preço elevado. A proibição de novas expansões, no entanto, fez com que o produto brasileiro perdesse mercado internacional para outros países produtores, destruindo a economia cafeeira do Brasil. Sem alternativas, o Brasil teve que recorrer ao investimento no setor industrial. Deste modo, a política de defesa do café.

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4 iii. A política de defesa do café gerou um aumento brutal da quantidade de divisas na economia brasileira, que se a fonte básica de financiamento do processo de industrialização brasileira. Essa política evitou o estrangulamento externo, permitindo que o Brasil continuasse a importar todos os bens de capital necessários para a sua industrialização, substituindo por produtos importados os bens antes produzidos no país (daí o nome industrialização por substituição de importações). Contudo, o crescimento expressivo do setor industrial fez com que a oligarquia cafeeira se desinteressasse pela produção de café e transferisse seus investimentos para o setor industrial. O abandono completo do setor cafeeiro levaria ao estrangulamento externo que, conforme mostrou Maria da Conceição Tavares (1972), interrompe o processo de substituição de importações.

4. Segundo Bresser-Pereira (1981), o Estado Populista na América Latina caracteriza-se por um conjunto de ideologias sob muitos aspectos progressistas e correlacionadas. Quais são essas ideologias? Quais os principais traços de cada uma delas?

i. Os traços básicos dessa ideologia são o industrialismo (opõe-se ao agriculturalismo; é a afirmação da necessidade e da viabilidade da industrialização como forma de superação do subdesenvolvimento); o nacionalismo (que denuncia o velho imperialismo, via divisão internacional do trabalho, propõe a proteção governamental à indústria, critica a importação indiscriminada de cultura e tecnologia estrangeiras e afirma a viabilidade de uma nação independente com base no desenvolvimento industrial); o liberalismo econômico (defende o livre-mercado e a necessidade de manter as funções estatais o mais restritas possível); o desenvolvimentismo (subordina todos os demais valores ao objetivo do desenvolvimento econômico através da industrialização); a afirmação da existência de conflitos profundos de classe (exigindo que o Estado arbitre o conflito de classes entre oligarquia cafeeira, burguesia industrial e trabalhadores); e a tese da burguesia nacional (responsável pela liderança do pacto social que une todas as classes e do processo de industrialização).

ii. Os traços básicos dessa ideologia são o industrialismo (opõe-se ao agriculturalismo; é a afirmação da necessidade e da viabilidade da industrialização como forma de superação do subdesenvolvimento); a crítica do nacionalismo (que defende a necessidade de participação de capitais estrangeiros no processo de industrialização nacional); o antiliberalismo econômico (defende o intervencionismo moderado do Estado e a necessidade de planejamento econômico indicativo, defende a intervenção do Estado para proteger e orientar a industrialização); o desenvolvimentismo (subordina todos os demais valores ao objetivo do desenvolvimento econômico através da industrialização); a afirmação da inexistência de conflitos profundos de classe (o desenvolvimento econômico beneficia todas as classes); e a tese da burguesia transnacional (responsável pelo estabelecimento de laços econômicos e políticos entre a burguesia nacional e a burguesia estrangeira das empresas multinacionais, viabilizadora do processo de industrialização).

iii. Os traços básicos dessa ideologia são o industrialismo (opõe-se ao agriculturalismo; é a afirmação da necessidade e da viabilidade da industrialização como forma de superação do subdesenvolvimento); o nacionalismo (que denuncia o velho imperialismo, via divisão internacional do trabalho, propõe a proteção governamental à indústria, critica a

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importação indiscriminada de cultura e tecnologia estrangeiras e afirma a viabilidade de uma nação independente com base no desenvolvimento industrial); o antiliberalismo econômico (defende o intervencionismo moderado do Estado e a necessidade de planejamento econômico indicativo, defende a intervenção do Estado para proteger e orientar a industrialização); o desenvolvimentismo (subordina todos os demais valores ao objetivo do desenvolvimento econômico através da industrialização); a afirmação da inexistência de conflitos profundos de classe (o desenvolvimento econômico beneficia todas as classes); e a tese da burguesia nacional (responsável pela liderança do pacto social que une todas as classes e do processo de industrialização).

5. Na opinião de Corsi (in: Pires 2010), qual o papel desempenhado pelo populismo na sustentação política de Vargas e na sua derrubada? E o papel desempenhado pelo nacionalismo?

i. O populismo, segundo Fonseca (1987, p. 429-431), teria duplo caráter. De um lado, representava uma forma de ideologia e de controle e de conflitos de classe que assegurava a dominação da burguesia, do outro, ‘supunha atendimento a determinadas reivindicações operárias e sindicais e certo grau de mobilização e inserção das massas no sistema político muito além das admitidas comumente nos meios empresariais. A participação da classe trabalhadora na vida política do país era a questão central naquela conturbada conjuntura. O nacionalismo era fundamental para a sustentação política do governo e de seu projeto, pois as medidas desenvolvimentistas e nacionalistas aglutinavam o apoio de trabalhadores, de setores das classes médias, de setores da burguesia industrial e da corrente nacionalista do exército. As fortes mobilizações dos trabalhadores em 1953 e 1954, cujo ímpeto assustou os empresários, e a tentativa de Vargas de impedir o crescimento de um sindicalismo independente, por meio da satisfação de algumas de suas reivindicações, levaram o grosso da burguesia, que teria horror à mobilização popular, a se aglutinar em torno da UDN contra o populismo trabalhista, o que foi decisivo para a derrubada de Vargas.

ii. A política populista de Vargas era uma ideologia que consistia na manipulação das classes populares em benefício da classe dominante brasileira, ou seja, o populismo, como toda ideologia, universalizava os interesses de uma classe particular. O nacionalismo era fundamental para a sustentação política do governo e de seu projeto, pois as medidas desenvolvimentistas e nacionalistas aglutinavam o apoio de trabalhadores, de setores das classes médias, de setores da burguesia industrial e da corrente nacionalista do exército, escondendo o caráter de manipulação das classes populares da política populista. No entanto, a proposta de Vargas de desenvolvimento, durante o Estado Novo, tinha no financiamento interno um de seus pilares fundamentais, logo, ela era nacionalista apenas no discurso. A denúncia do caráter antinacionalista e entreguista do SGV pelos comunistas e pela burguesia nacional levou ao colapso do pacto populista, que perdeu o componente nacionalista que lhe dava sustentação. O consequente acirramento da luta de classes desembocaria, uma década depois, no golpe de 1964.

iii. O SGV não foi, segundo Fonseca (2010), um governo populista, mas sim nacional desenvolvimentista. Nesse sentido, Corsi (2010) se equivoca ao adotar a tese do “imaginário populista” (cf. Fonseca 2010), mas acerta ao caracterizar o SGV como nacionalista (ou

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6 nacional-desenvolvimentista, na definição de Fonseca 2010). O nacionalismo foi fundamental para a sustentação do SGV na medida em que permitiu aglutinar as forças sociais - trabalhadores, setores das classes médias, setores da burguesia industrial e a corrente nacionalista do exército – no enfrentamento da penetração da economia brasileira pelos capitais estrangeiros, que empregaram tanto o financiamento externo de nosso desenvolvimento (que resultava em endividamento externo) como a ação de multinacionais para dominar e desnacionalizar a economia brasileira. Estava claro para aqueles grupos sociais, em especial a burguesia industrial, que o Brasil não poderia nem deveria contar com o financiamento externo de seu desenvolvimento sob risco de se tornar um país ainda mais dependente. As vacilações de Vargas em relação a esse ponto, no entanto (o nacionalismo de Vargas não era anti-imperialista, pelo contrário, propunha desde o Estado Novo um desenvolvimento fortemente articulado ao capital estrangeiro) fez com que as classes populares se aliassem às dominantes e derrubassem seu governo, além de tudo mergulhado em um mar de lama.

6. Segundo Fonseca (2010), o SGV é ortodoxo, populista ou nacional-desenvolvimentista? Por quê?

i. O SGV foi um governo afinado com o que se convencionou denominar de Nacional-Desenvolvimentismo, este entendido mais precisamente como um projeto de longo prazo centrado na industrialização, implementado com auxílio de medidas governamentais voltadas a incentivar a substituição de importações e com prioridade ao mercado interno. O projeto, tal como se entende, excluía o capital estrangeiro e os setores agrários; estes, inclusive, embora divididos, tentaram se articular para resistir ao Nacional-Desenvolvimentismo, que os excluía do pacto social.

ii. O SGV foi um governo afinado com o que se convencionou denominar de Nacional-Desenvolvimentismo, este entendido mais precisamente como um projeto de longo prazo centrado na industrialização e na modernização do setor primário, implementado com auxílio de medidas governamentais voltadas a incentivar a substituição de importações e a diversificação da produção primária, com prioridade ao mercado interno. O projeto, tal como se entende, não excluía o capital estrangeiro nem os setores agrários; estes, inclusive, embora divididos, mais o apoiaram do que lhe fizeram oposição, embora se registrem resistências entre os segmentos ligados à exportação.

iii. Segundo a periodização proposta por Fonseca (2010), no início do SGV houve certo predomínio da busca da estabilidade; seguiu-se-lhe um período de “randomização”, o qual se caracteriza por políticas alternadas e simultâneas de contração e expansão da demanda; finalmente, nos últimos meses de governo, detecta-se a preponderância desta última, com abandono do combate à inflação como prioridade. O SGV, portanto, foi, segundo Fonseca (2010), um pouco de tudo: ortodoxo, populista, ortodoxo e populista ao mesmo tempo, e finalmente Nacional-Desenvolvimentista. Por isso, pode-se definir o SGC de diversas formas, não sendo possível defini-lo exclusivamente como Nacional-Desenvolvimentista, já que esse projeto só vigorou nos meses finais do SGV.

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7 7. De acordo com Brum (2013), de que modo se deu a penetração do capital estrangeiro no Brasil durante o governo JK? Quais as funções que o capital estrangeiro desempenhou nessa fase do desenvolvimento econômico brasileiro?

i. O capital estrangeiro não chegou a penetrar no Brasil por meio de investimentos externos diretos e entrada de multinacionais em grau significativo no governo JK. Nessa época, o capital estrangeiro entrou no país lançando mão sobretudo de dois mecanismos: a aquisição de empresas nacionais, uma vez que àquela altura o processo de industrialização já estava quase completo e o país dispunha de uma quantidade razoável - para um país de industrialização tardia - de empresas com alta intensidade tecnológica e capacidade de exportação; e pela privatização das empresas estatais constituídas nas décadas anteriores, sobretudo no primeiro e no segundo governos Vargas, já que um dos objetivos assumidos de JK era “encerrar a era Vargas no Brasil”.

ii. O governo JK é marcado por uma ambiguidade em relação ao histórico de dependência da economia brasileira em relação aos capitais externos, que anteriormente vinham colocando limites ao processo de industrialização por substituição de importações nas suas fases de estrangulamento externo. Por um lado, o Brasil necessitou do ingresso de multinacionais em sua economia para enfrentar a escassez de capital nacional e o baixo domínio de tecnologias avançadas, fatores de que as multinacionais dispunham em elevado grau. Por outro lado, o ingresso das multinacionais, ao aportarem somas vultosas de capital externo e passarem a produzir no Brasil o que antes era importado (dessas mesmas empresas), eliminou o estrangulamento externo da economia brasileira, já que o país reduziu drasticamente sua necessidade de divisas para importar os produtos que agora eram produzidos internamente. As grandes restrições de remessa de lucros para o exterior, por sua vez, forçavam as multinacionais a reinvestir seus lucros no país, iniciando um novo padrão de acumulação de capital da economia brasileira por meio da associação benigna (winwin) com os capitais estrangeiros, que estavam preocupados em barrar, em conjunto com seus respectivos Estados-nacionais, o avanço do comunismo no Brasil, e por isso apoiaram o avanço do processo de industrialização.

iii. O processo de industrialização, que avançara até então sob a liderança da empresa nacional, tomou outro rumo, passando gradualmente para o comando do capital internacional. As empresas multinacionais foram assumindo o controle dos ramos de ponta da indústria de bens duráveis, ao mesmo tempo que consolidavam uma posição de destaque nas indústrias de bens de capital e bens intermediários. Dessa forma, o capital nacional passou a assumir papel decisivo no segundo estágio do processo de substituição de importações. Ao instalar subsidiárias no Brasil, as multinacionais garantiam para sim um mercado que já era seu: antes, vendiam-nos os produtos industrializados fabricados nas suas matrizes; a partir de então, passaram a fabricá-los ou montá-los aqui, fazendo uso vantajoso da matéria-prima e da mão de obra barata e utilizando componentes essenciais e tecnologia importados de suas matrizes no exterior.

8. Segundo Souza (2008), qual foi o papel desempenhado pelo Estado na formação da indústria de base da economia brasileira no período JK? Por que esse papel foi executado pelo Estado, e não por capitais privados?

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8 i. O papel desempenhado pelo Estado na formação da indústria de base da economia brasileira no período JK foi basicamente político; no entanto, houve consequências econômicas não-intencionais muito importantes. Face à crescente radicalização da política brasileira, que havia tido no episódio do suicídio de Vargas um de seus momentos mais dramáticos, JK se viu obrigado a contemplar um amplo espectro de grupos sociais no Estado brasileiro, concedendo poder político e econômico aos mais diferentes grupos. Desde a modernização do Estado por Vargas na década de 1930, as posições na burocracia estatal estavam plenamente ocupadas, não havendo espaço, portanto, para acomodar mais apoiadores. A solução encontrada por JK, que se mostraria brilhante a curto prazo, mas que explodiria décadas mais tarde, foi criar empresas estatais e alocar nelas aliados do governo. O processo de centralização do poder do Executivo nacional durante o JK foi obra sobretudo dessa estratégia de cooptação por meio de cargos em empresas estatais.

ii. O setor de meios de produção tende a possuir uma taxa de lucro inferior à do setor de bens de consumo duráveis. Por isso, se tornava pouco atrativo para os investimentos de capital privado, além de exigir uma massa de capital bastante elevada. Além disso, o capital estrangeiro, que dispunha de tecnologia para o setor de meios de produção, não tinha interesse em desenvolvê-lo num país da periferia, pois preferia obter superlucros na venda de seus produtos fabricados nas suas matrizes. Por tudo isso, não havia outra forma de desenvolver o setor de meios de produção interno que não fosse através de empresas públicas, que podem funcionar sem lucro ou com uma baixa taxa de lucro, como foi o caso da siderurgia e da química. Essa produção por empresas estatais permitia que o setor de meios de produção interno transferisse renda para os demais setores, vendendo seus produtos por preços abaixo do valor, o que estimulava o investimento industrial.

iii. JK inaugurou a intervenção do Estado na economia por meio da constituição de empresas estatais, uma vez que, como se sabe, até então os investimentos nas indústrias de base no Brasil foram todos realizados por capitais estrangeiros (por exemplo, a usina siderúrgica de Volta Redonda) ou privados (caso da Eletrobrás). JK foi levado a essa estratégia por motivos econômicos e geopolíticos. Quanto aos primeiros, a indústria de base é composta por alguns dos setores mais rentáveis da economia capitalista, como o setor de petróleo e gás; JK viu no investimento nesses setores a oportunidade de reduzir a dependência da economia brasileira como um todo e particularmente do processo de industrialização por substituição de importações do financiamento externo, dados os altos retornos desses setores. Quanto ao segundo conjunto de motivos, JK antevia a constituição no Brasil de uma civilização do automóvel (em função da atração de empresas multinacionais do setor automotivo e dos grandes investimentos previstos no Plano de Metas na área de transportes, em especial na expansão da infraestrutura rodoviária) e, portanto, os riscos da dependência de fontes externas de petróleo provenientes de uma região altamente conturbada como o Oriente Médio.

Referências

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