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O USO DE RECURSOS ARTÍSTICOS COMO FERRAMENTA PARA PSICÓLOGOS EM TRABALHOS GRUPAIS NOS CENTROS DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (CRAS)

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O USO DE RECURSOS ARTÍSTICOS COMO FERRAMENTA PARA PSICÓLOGOS EM TRABALHOS GRUPAIS NOS CENTROS DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA

SOCIAL (CRAS)

Jamille Julia Lucri* (Departamento de Psicologia Social e Institucional, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil); Amanda de Medeiros Silva* (Departamento de Psicologia Social e Institucional, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brasil); Graziela Lastória Bonatti (Departamento de Psicologia Social e Institucional, Universidade Estadual de Londrina, Londrina–PR, Brasil); Prof. Dr. Rafael Bianchi Silva (Departamento de Psicologia Social e Institucional, Universidade Estadual de Londrina, Londrina–PR, Brasil),

contato: amanda.medeiros1040@gmail.com jamille.lucri@gmail.com grabonatti1580@gmail.com tibx211@yahoo.com.br

Palavras-chave: Psicologia. Grupos. Arte. Assistência Social

Introdução

As políticas sociais foram estabelecidas no Brasil a partir do governo de Getúlio Vargas (1930-1945). Todavia, a Assistência Social só foi vista como um direito e uma garantia de proteção social a partir da Constituição de 1988. Segundo Costa (citado por Romagnoli, 2012), antes disso política se fundamentava pelo clientelismo e pautada na concessão de benefícios e doações.

Na tentativa de modificar esse panorama, em 1993 foi criada a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) a qual permitiu, anos mais tarde, que o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) entrasse em vigor. Assim, o SUAS passa a ser implantado em todo território nacional com o propósito de efetivar uma rede de proteção social e ações pautadas na prevenção, no desenvolvimento global das famílias e das comunidades (Costa & Cardoso, 2010, p.2).

Por meio dessa nova política são criados os Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) com o intuito de fornecer programas socioassistenciais às famílias e indivíduos em seu contexto comunitário, visando a orientação e o convívio sociofamiliar à população em situação de vulnerabilidades. O Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF) passa a ser ofertado nos CRAS em 2003, ainda preservando o intuito da prevenção de riscos através da

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garantia dos direitos relacionados à família, como a convivência familiar e comunitária dos usuários.

É consoante a essa atuação no âmbito do contexto familiar e comunitário que o psicólogo começa a exercer seu trabalho. Nessa direção, as “Orientações Técnicas Sobre o PAIF” (Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à fome, 2012a) e as “Referências Técnicas para atuação do (a) psicólogo (a) no CRAS/SUAS” (Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas, 2007), foram construídas no intuito de servir de embasamento e parametrização para o trabalho de atendimento e acompanhamento das famílias no CRAS.

Um ponto importante levantado no MDS (2012a) diz respeito a priorização da modalidade de trabalho em grupos, sendo o profissional psicólogo um dos profissionais mais envolvidos, cotidianamente, com a prática grupal. Embora, acredite-se que o profissional psi seja o mais informado e o que possui mais habilidades para conduzir grupos, Flor e Goto (2015) pontuam que tal profissional se apresenta com pouco suporte e temeroso nesse manejo. Embora este tipo de trabalho seja privilegiado pela instituição ele acaba se materializando no formato de palestras. Muitos dos participantes entrevistados pelos pesquisadores abordaram a dificuldade que encontram em trabalhar com atividades grupais, além da dificuldade em estabelecer os temas dos grupos ou mesmo saber como tais grupos funcionam.

Partindo dos impasses que os psicólogos vêm apresentando na condução de grupos nesse contexto, propomos pensar os recursos artísticos como ferramentas possíveis para auxiliar no desenvolvimento de práticas grupais dentro dos CRAS, visto que o próprio documento orientador das atividades dos profissionais da assistência social salienta a importância de ações culturais como práticas artísticas, a fim de desenvolver o trabalho com as famílias do PAIF. Como é expresso:

... o PAIF, portanto, deve se valer de ações culturais, tais como: apresentações musicais, teatrais, dança, exposições de artes plásticas, fotografia, artesanato e salas de memória comunitária a fim de estabelecer uma forma diferenciada e criativa de desenvolver o trabalho social com famílias. [...] pois a cultura é capaz de propiciar impressões e sentimentos que favorecem a reflexão e a assimilação de mensagens necessárias para o resgate de tradições, da história do território, das trajetórias familiares e da identidade da população,

constituindo-se como uma poderosa ferramenta apta a estreitar e empoderar as relações familiares e comunitárias... (MDS, 2012a, p.15, grifo nosso)

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Pontuado isso, colocamos a arte, aqui entendida a partir de sua potencialidade transformadora, haja vista que "a verdadeira natureza da arte sempre implica algo que transforma" (Vigotski, 2001, p. 307), como um recurso possível para os profissionais psi conduzirem os grupos do PAIF. Como atividade criadora capaz de reconfigurar elementos recortados da realidade utilizando-se da imaginação (Vigotski, 1990, citado por Reis, 2014), a arte pode ser concebida como produto cultural “mediador entre o indivíduo e o gênero humano” (Barroco & Superti, 2014, p. 23), a qual permite que outros possam compreender as atividades mentais implicadas pelo sujeito na sua criação. Desta forma, compreende-se esta como uma ferramenta, enquanto recurso da atividade usada a serviço do profissional (Clot, 2006), que vai de encontro com o que o documento estabelece como uma de suas diretrizes de atuação, permitindo o fortalecimento dos vínculos comunitários e familiares, a possibilidade de empoderamento e autonomia da população a ser atendida pelo serviço.

Busca-se, assim, apontar uma prática que viabiliza a expressão de vivências e que atua como potencializadora da produção autônoma e singularizada a partir do resgate do contexto criativo (Antoneli, Rogone & Barcelos, 2011), em consonância com a integração em comunidade e família, o fortalecimento de vínculos e o desenvolvimento de ação coletiva do trabalho em grupos. Para isso, colocamos a necessidade de analisar o contexto no qual o psicólogo foi inserido nessa política, em que são atribuídas a ele demandas e ações, nas quais em evidência tem-se o trabalho com grupos, visto que tal modalidade é priorizada nos CRAS em contrapartida ao atendimento individual.

Objetivos

A partir dos elementos tratados anteriormente, indica-se como objetivos desse trabalho: ● Analisar o contexto no qual o psicólogo foi inserido dentro da política de

assistência social.

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● Tecer reflexões acerca da utilização de atividades com uso de recursos artísticos como uma possível ferramenta de profissionais psi em atendimentos grupais nos CRAS.

Método

Como metodologia de pesquisa foi realizado um estudo qualitativo, o qual segundo Neves (1996) é entendido como um instrumento que busca traduzir e expressar os sentidos dos fenômenos do mundo social ou seja, demonstrá-los e estudá-los a partir do envolvimento dos seres humanos e suas intrincadas relações sociais, estabelecidas em diversos contextos (Godoy, 1995, p.21). Nesta perspectiva, desenvolvemos o estudo a partir de uma pesquisa bibliográfica, sendo esta “feita a partir de material já publicado em livros, artigos, periódicos” (Rodrigues, 2007, p.21) de forma a coletar dados e informações sobre a temática.

Para tanto a pesquisa dividiu-se nas seguintes etapas: a primeira destinada a coleta de dados acerca da inserção do psicólogo na Política de Assistência Social, especificamente no CRAS. Em seguida foi realizado um breve levantamento sobre a arte como um dispositivo que permite o trabalho com as subjetividades dos indivíduos. Por último, buscou-se explicitar a arte como um recurso possível em atividades grupais nos CRAS, visto que ela permite a potencialização da subjetividade, emancipação, fortalecimento de vínculos- objetivos norteadores do trabalho no PAIF.

Resultados e discussão

A compreensão da arte como uma via de acesso considerada como privilegiada aos conteúdos psíquicos parte da consideração realizada por Freud acerca da potencialidade do inconsciente se expressar por meio de imagens sendo este um meio através do qual vê-se a possibilidade de sofrer menos censura do que quando utilizadas as palavras (citado por Carvalho & Andrade, 1995). No Brasil, a utilização de recursos artísticos nos contextos da saúde tem

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início em instituições psiquiátricas. Destacam-se os trabalhos de Ulysses Pernambucano, responsável por articulações iniciais entre psiquiatria e arte e dos precursores Osório Cesar e Nise da Silveira (Sei, 2010). Esses últimos propuseram diferentes modos de tratamento, indicando formas de expressão da loucura na arte em resposta aos métodos como eletrochoque e lobotomia amplamente utilizados nas instituições psiquiátricas da época.

Por meio desses e outros precursores foi possível uma nova visão para o trabalho clínico com os usuários visto que os meios de atuação clínica foram ampliados. Assim, como aponta Campos (2000) houve a formação de uma clínica mais includente (clínica ampliada) a qual permitiu um novo olhar para a relação com os sujeitos e se preocupou em ampliar o atendimento clínico em diferentes contextos tendo por base uma visão para além da relação saúde-doença.

Paralelo a esse processo, Yamamoto e Oliveira (2010) apontam a recente inserção do psicólogo no campo da saúde (principalmente a partir dos anos 2000), fruto também da busca por novos espaços de atuação a fim suprir a escassez do mercado de trabalho para a clínica tradicional. Um desses novos espaços foi a política de Assistência Social recentemente implementada.

Dentre os desafios encontrados nessa nova configuração, os profissionais psi se deparam com a necessidade de articularem-se à alta demanda de atendimento no CRAS somada às indicações de atuação dadas pelos materiais de apoio e orientações técnicas. Assim, de maneira geral, as transformações sustentadas pelas propostas da reforma psiquiátrica resultaram na ascensão desses novos modos de atuação, os quais permitiram pensar sobre novos recursos para se trabalhar com as demandas sociais, e dentre os quais salientamos os dispositivos artísticos.

Especificamente no âmbito dos CRAS, conforme apontam Jordão e Vieira (2014), levantamentos apontam que as atividades artísticas nesse local são por vezes relacionadas às interações com o mercado de trabalho, como em oficinas de trabalhos manuais e aprendizagem de instrumentos necessários. Os autores ainda apontam a realização de oficinas artísticas como meio de viabilizar o desenvolvimento de ação coletiva, política e social, além do reconhecimento dos fenômenos criativos individuais favorecendo uma via de promover o “pensamento crítico, reflexivo e autêntico” (p. 130). Para tanto, o trabalho grupal se justificaria como uma forma de se

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tornar possível reinventar “novas formas de atuar no mundo, utilizando da criatividade, instrumento de enriquecimento do sujeito, o que possibilita a valorização das expressões e o fortalecimento das relações grupais” (Jordão & Vieira, 2014, p. 130).

Conforme aponta Lima (2004), ao serem criados esses espaços “privilegiados” na instituição, possibilita-se a articulação de experiências vividas dentro e fora do CRAS. A autora indica que o diferencial de tais atividades artísticas em grupo se dá ao propor a elaboração e/ou expressão de uma linguagem sem que por vezes sejam utilizadas as palavras, apresentando uma nova forma de atuação ao próprio técnico, mesmo em suas especificidades de trabalho. A partir disso, compreende-se que a escuta clínica do profissional psi, nesse contexto, pode ser ofertada mesmo àquilo que não se restringe à fala. Nesse espaço, ao se trabalhar em grupo ainda haveria a possibilidade do encontro entre sujeitos e subjetividades, criando-se canais de troca.

Diante disso, são várias as possibilidades de propostas com uso de arte e de recursos artísticos haja vista que diferentes dispositivos podem ser criados com base no levantamento da demanda a ser atendida no grupo. Em práticas com oficinas expressivas, por exemplo, aponta-se o cunho social e agregador da música e da dança, sendo a musicoterapia capaz de afetar desde os mecanismos bioquímicos até o bem-estar subjetivo (Zanello & Sousa, 2009), enquanto a dança não só teria caráter integrador de sentido psíquico e social, mas também poderia ser vista como “uma forma de emancipação, de descoberta, de resgate do sujeito” (Castro, 1992 como citado em Zanello & Souza, 2009, p. 132). A potência do trabalho com a música ainda é destacada considerando que, “quando criada coletivamente, aumenta as possibilidades de ser, estar, pensar e sentir dos participantes” (Arndt & Maheirie, 2017, p. 442). Com isso, permite-se através a ascensão, no campo comunitário, de uma voz por vezes desligada de seu valor, haja vista que “os espaços sonoros criados são formas de escutar as vozes de sujeitos até então considerados subalternos por posições hierárquicas cristalizadas” (Arndt & Maheirie, 2017, p. 449).

Através de outras técnicas, como desenho, modelagem, pintura e poesia, por meio de mediação ou também com oficinas, há uma possibilidade de reinvenção ao ser adotado o referencial de homem como ser criativo, cujo produto concreto pode expressar aspectos mesmo do que ele ainda pode vir a ser (Reis, 2014). Torna-se possível, experimentar um “modo outro de se relacionar com o território, com a comunidade, com o grupo e consigo mesmo” (Arndt &

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Maheirie, 2017, p. 448). Desta forma, partir dessa possibilidade de construção de modos de subjetivação na arte ou da reinvenção de si pode também potencializar o desenvolvimento de autonomia, além da interação em trabalhos coletivos com o que é do outro permitindo a experiência da diferença.

Mas qual a relação desses elementos com as propostas para os trabalhos realizados no âmbito nos CRAS? O Conselho Federal de Psicologia (CFP) disponibilizou uma cartilha “Parâmetros para a atual de assistentes social e psicólogos (as) na Política de Assistência Social” (2007) onde indica os princípios fundamentais do profissional Psicólogo dentro desse contexto de trabalho, entre eles, se encontra sua “responsabilidade social, analisando crítica e historicamente a realidade política, econômica, social e cultural” (p. 31), assim, seu trabalho é voltado para as questões subjetivas e sociais dos sujeitos possibilitando, por meio desta ação, uma escuta dos aspectos subjetivos envolvidos nas situações de vulnerabilidades vivenciadas pelas famílias. Sobre esse aspecto, entendemos, conforme afirma Reis (2014) que a arte é um poderoso meio para a expressão da subjetividade, ademais, vemos no segundo volume das “Orientações Técnicas Sobre o PAIF”, que os recursos artísticos usados em grupos “potencializam a aquisição de autoestima. Observa-se que os participantes sentem-se capazes de produzir algo, o que possibilita a descoberta de uma habilidade ou talento” (p. 49).

Ainda no mesmo volume do material é dito que um dos objetivos do PAIF é fortalecer a função protetiva da família e prevenir a ruptura dos seus vínculos. Um dos meios de efetivar esse objetivo é por meio do viés artístico. Assim, são previstos no PAIF a utilização de “ações nas áreas culturais para o cumprimento de seus objetivos, ampliando o universo informacional e proporcionando novas vivências às famílias” (MDS, 2012b, p. 38). Práticas como o artesanato são vistas como um incentivo para que as famílias participem de oficinas no CRAS, utilizadas de modo a fortalecer os vínculos comunitários e promover a inclusão social, uma vez que nelas os participantes podem expressar a história do território, bem como as vivências da comunidade permitindo e potencializando a construção de uma identificação grupal que é a base para o reconhecimento de problemáticas comuns e para o fortalecimento dos laços. Ao mesmo tempo, as práticas artísticas podem incentivar a criatividade dos integrantes do grupo, sensibilizar a

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comunidade para uma maior adesão às ações comunitárias sendo vistas como meios de integração social.

Outro ponto levantado pelos documentos e que converge para a possibilidade da aplicação artística em grupos é a necessidade de gerar emancipação, autonomia dos usuários do serviço assistencial. Como é colocado, o PAIF visa “o empoderamento dos sujeitos, à medida que proporciona não apenas a emancipação individual dos mesmos, mas também a aquisição de uma consciência coletiva da dependência social” (MDS, 2012a, p.36). O que a política pretende por meio dessa consideração é a saída do usuário da condição de sujeitado, ou seja, de dependência ou tutela do Estado, entendendo que por meio de características como empoderamento e protagonismo trabalhados nas diversas esferas do SUAS, via trabalho social, seja possível aos participantes da política adquirir o acesso à emancipação individual.

Nesse sentido, vemos os recursos artísticos como “pontes” para o desenvolvimento da autonomia dos usuários haja visto que, como demonstra Bezerra e Oliveira (2002), percebe-se que através da expressão artística há um alívio catártico, construtivo, que além de proporcionar prazer, restabelece o equilíbrio emocional do sujeito. Aliás, uma vez que o material expresso na produção artística provém das vivências afetivas do paciente, o fato de visitar tais vivências e poder experimentá-las outras vezes no processo criativo resulta, evidentemente, em reorganização emocional. Essa organização emocional e mental permite que o sujeito seja mais criativo, amplie seu modo de pensar, recrie novas possibilidades de existir.

Por meio de temas levantados como os mais recorrentes no território das famílias atendidas pelo CRAS, podem ser sugeridos recursos artísticos para trabalhar tais assuntos em grupo. Dessa maneira, além de propor com que cada sujeito faça sua reorganização mental, seja criativo, repense sobre seu cotidiano, ele acaba sendo inserido em experiências potencializadoras de participação cidadã, tais como espaços de livre expressão de opiniões, reivindicações, as quais são indicadas como de essencial valor no trabalho preventivo e protetivo com as famílias do programa.

As atividades artísticas auxiliam os usuários na tomada de decisão sobre a própria vida e de seu grupo, na vivência de experiências de escolha e decisão coletivas, reconhecimento de

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limites e possibilidades das situações vividas. Podemos ver, portanto, que tais práticas podem permitem aos usuários repensar sobre suas realidades, sair da condição de objeto para alcançar meios de se emancipar e criar novas possibilidades de viver.

Conclusão

Como visto ao decorrer do artigo, a Assistência Social no Brasil possui características próprias, tendo uma recente implementação como política pública. Dentro desse quadro, a inserção do psicólogo na equipe básica do CRAS é algo recente, o que vem suscitando dúvidas acerca das possíveis formas de atuação. Em suas parametrizações, a política de Assistência Social traz possibilidades de atuação para os profissionais técnicos sendo que dentre elas, a prática grupal é priorizada no trabalho com famílias. Nesse contexto, o psicólogo tem sido visto como o profissional mais apto no manejo dos grupos. Entretanto, muitos deles expressam uma grande dificuldade na condução dos grupos e em estabelecer os temas a serem debatidos (Flor & Goto, 2015).

Vemos que nos mesmos documentos que orientam o trabalho dos profissionais, é expressa a importância de ações que incentivem as manifestações culturais. Dessa maneira, visto que a arte é um tipo de manifestação cultural esperada pela política pública, acreditamos que possa ser um recurso mais explorado pelos profissionais psi para o manejo dos trabalhos grupais pois, por meio do viés artístico, pode-se, além de estimular a criatividade da população, fortalecer os laços da comunidade bem como o vínculo com a instituição, possibilitando o desenvolvimento da autonomia dos sujeitos e de potencialidades dos mesmos.

Assim, conforme aponta-se em estudos apresentados, aspectos importantes do sujeito na sua relação com seu contexto social, esfera subjetiva e mesmo expressão do que ele ainda pode vir a ser, se apresentam como relevantes ao ser proposta utilização de técnicas de cunho artístico, como dança, música, desenho, modelagem, pintura e poesia, utilizadas tanto como ferramentas para mediação como em oficinas.

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Com essas colocações apontadas, vemos os recursos artísticos como ferramentas possíveis aos psicólogos no trabalho com os grupos do CRAS, na medida em que esse viés corrobora com os objetivos propostos para o trabalho em grupos com famílias e a comunidade. Ademais, sana algumas das dificuldades encontradas pelos psicólogos no manejo dos grupos nesse local, além de facilitar a reflexão sobre as temáticas grupais a serem desenvolvidas. Destaca-se, portanto, a relevância de estudos e relatos futuros que apontem tais articulações entre arte e o trabalho com grupos nos CRAS.

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