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ESPELHO, ESPELHO MEU. O DESENHO DA FIGURA HUMANA EM MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA.

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Academic year: 2021

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Violência de gênero - ST 05 Fátima O. De Oliveira1

Graziela C. Werba2

Palavras-Chave: Violência; Figura Humana; Gênero

ESPELHO, ESPELHO MEU.

O DESENHO DA FIGURA HUMANA EM MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA.

RESUMO

O presente trabalho consiste em um estudo exploratório sobre o desenho da Figura Humana de mulheres em situação de violência. Foram coletados até o presente momento dezesseis desenhos da Figura Humana realizados por pessoas que buscaram atendimento na Clínica-Escola de Psicologia ULBRA Torres.3 A investigação está fundamentada em uma abordagem qualitativa

(VICTORA, 2000; MINAYO, 1999; THIOLLENT, 1992) e faz parte das linhas de pesquisas das autoras: Psicologia Social Crítica e Estudos de Gênero. Para a compreensão dos dados, estão sendo utilizados, além dos aportes teóricos já citados, conceitos relativos à violência e a interpretação do desenho da figura humana baseada em John Buck, criador da técnica projetiva HTP (House – Tree – Person).

Os primeiros resultados revelam dois traços em comum nos desenhos realizados pelas participantes da pesquisa. Primeiro notamos que em noventa por cento de todos os casos estudados os desenhos apresentaram um “vazio” no olhar, ilustrado pela ausência de pupilas. Esta marca significa culpa, vergonha, introversão e dependência. Segundo chamou nossa atenção também que ao serem indagadas sobre a idade da figura desenhada, uma grande parte das participantes da pesquisa se identificou com uma faixa etária inferior as suas próprias. Este dado pode ser interpretado como reação a traumas e/ou vontade de se fixar em uma época anterior mais feliz.

Além dos traços do desenho propriamente dito, consideramos também o seu tamanho e a localização do mesmo na folha. Segundo Retondo (2000), o papel representa o ambiente e neste caso, estas duas características revelam como a pessoa se adapta a ele. Constatamos até o momento 1 Psicóloga. Ms. em Psicologia Social e da Personalidade (PUCRS).Professora do Curso de Psicologia e Supervisora Clínica – ULBRA Torres

2 Psicóloga. Doutora em Psicologia (PUCRS).Professora do Curso de Psicologia e Supervisora Clínica – ULBRA Torres.

3 Uma parte dessa coleta foi realizada pela psicóloga Márcia Cândido de Assis, em outro local de atendimento. Também

participaram da coleta de dados, Osmarina da Rosa e Rafael Boff, ambos alunos do curso de Psicologia ULBRA Torres. Salientamos que toda a coleta de dados foi realizada a partir dos parâmetros estabelecido pelo Comitê de Ética da ULBRA.

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que setenta e cinco por cento dos desenhos coletados são de figuras pequenas e a maioria localiza-se na metade inferior da folha, o que significa sentimento de inferioridade com dificuldade de se colocar no meio, repressão da agressividade, comportamento emocionalmente dependente e humor mais deprimido.

A pesquisa se encontra atualmente na etapa da coleta e da organização dos dados.

Embora estes resultados revelem a existência de traços comuns nos desenhos realizados entendemos que somente ao final da pesquisa poderemos apresentar dados e conclusões mais consistentes sobre esta investigação.

GÊNERO, UMA NOVA ABORDAGEM PARA A FIGURA HUMANA

Em nosso exercício como supervisoras na Clínica-Escola de Psicologia ULBRA Torres, temos percebido a crescente demanda de pessoas, em especial, mulheres na situação de violência. Desde que o Serviço de Acolhimento a Pessoas em Situação de Violência iniciou no local citado, em março de 2003, a busca espontânea ou por indicação de terceiros para esse atendimento, é um desafio constante, tanto para as estagiárias, quando para nós supervisoras.

Acolher, compreender e ajudar pessoas em situação de violência é uma tarefa bastante difícil e por vezes, desgastante. Por isto, deve sempre ser realizada em equipe, preferencialmente transdisciplinar. É comum as pessoas, mais especificamente as mulheres em situação de violência serem revitimizadas durante sua trajetória para obter ajuda jurídica, policial e até mesmo, psicológica. Isto ocorre quando as pessoas envolvidas nesta rede não possuem qualificação específica para atender a esta população e se deixam guiar pelas representações sociais do senso comum, de que as pessoas permanecem nesta situação porque querem ou porque obtém “ganhos secundários” com o sofrimento vivido (STREY e WERBA, 2004).

Nosso entendimento é que a Psicologia Social Crítica e os Estudos de Gênero são abordagens muito apropriadas para melhor compreender e intervir na situação de violência. Todavia, em determinadas circunstâncias, como por exemplo, na necessidade de uma avaliação psicológica por solicitação jurídica, se exige o uso de instrumentos que demonstrem mais objetivamente, que sustentem “cientificamente” nossas ilações.

Nessa tensão transdisciplinar buscamos uma compreensão cada vez mais profunda das pessoas em situação de violência. Nossa formação social crítica nos coloca sempre diante da transitoriedade da condição humana, fugidia, portanto, a qualquer enquadramento. De outra parte,

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relativos e relativizados a todo momento para uma intervenção mais eficaz com as pessoas em situação de violência.

Outra experiência que nos impulsiona a buscar por um instrumento projetivo é o atendimento a crianças em situação de violência. Acreditamos que elas também serão beneficiadas se pudermos criar mais uma forma não verbal de detecção do fenômeno, já que é consenso entre as pesquisadoras e pesquisadores a noção do trauma causado pela exigência dos múltiplos relatos das agressões sofridas por estas crianças. Maior será o benefício, na nossa opinião, se este instrumento estiver adequado a uma abordagem de gênero que considere a relevância dos papéis e das vicissitudes de ser homem e ser mulher nas situações de violência.

A VIOLÊNCIA NO OLHAR

Talvez violência seja uma das palavras mais faladas em nossos dias. Nunca se estudou, pesquisou, filmou, fotografou, glamourizou e explorou tanto este fenômeno como nesses tempos de globalização. Apesar disso, os problemas relacionados ao campo da violência aparecem atualmente ainda percebidos como um elemento surpresa, embora façam parte do nosso cotidiano.

Conforme Maffesoli (2001), a violência é a expressão manifesta, viva e, principalmente física da agressão. Para ele a violência implica em um fator com o qual a humanidade convive desde os relatos bíblicos até os dias de hoje.

Uma das autoras mais reconhecidas no campo de estudos da violência, Arendt (2001, p. 14), defendia a idéia de que este fenômeno estava muito além de ser controlado:

A violência abriga em si mesma um elemento adicional de arbitrariedade;[...]Representa um papel mais fatídico nos negócios humanos do que no campo de batalha, e esta intrusão do totalmente inesperado não desaparece quando as pessoas o chamam de um “eventual casual” e tomam-no por cientificamente suspeito.

A violência apresenta-se então como um fenômeno psicológico, histórico, político e cultural sendo um fértil campo de estudos. Um dos aspectos que torna este tema mais complexo é justamente esta multiplicidade de áreas de estudo, bem como de aplicações do conceito. Ela sempre foi uma faceta da política, da educação, da cultura, da economia, das artes, enfim, de todas as porções da nossa sociedade. Uma das maiores marcas de nossa civilização é, sem dúvida, o talento para os atos violentos, como podemos comprovar fartamente nos registros da história dos holocaustos, passados e presentes. Todavia, nem sempre esse fenômeno foi tão visivelmente uma pauta exaustivamente debatida.

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A violência é ainda uma área de estudos e pesquisa a explorar, principalmente em seus aspectos psicossociais. Na presente investigação, pretendemos promover a interlocução entre os campos do psicodiagnóstico, da violência e dos estudos de gênero.

Ante este entendimento, passamos a apresentar agora nosso projeto de pesquisa e intervenção com pessoas em situação de violência. Partindo do grande tema: desenho da Figura Humana em pessoas em situação de violência delimitamos o campo para a Análise do desenho da

figura humana nas pessoas em situação de violência em Torres.

Nosso problema de pesquisa está formulado na seguinte pergunta: Quais as características

da figura humana desenhada por pessoas em situação de violência em Torres?

Para responder ao problema construímos três Questões Norteadoras:

1. Serão diferentes os desenhos da figura humana em pessoas em situação de violência das pessoas que não estão nesta situação?

2. Encontraremos características específicas nestes desenhos?

3. Será o desenho da figura humana mais um instrumento possível para a identificação de pessoas em situação de violência?

Como objetivo geral da investigação é: Realizar um estudo exploratório para o levantamento de características específicas do desenho da figura humana em pessoas em situação de violência. Os objetivos específicos são:

1. Analisar o desenho da figura humana em pessoas em situação de violência buscando detectar possíveis traços comuns a este grupo.

2. Compreender mais profundamente a construção da auto-imagem em pessoas em situação de violência.

3. Levantar subsídios para a construção de instrumento de avaliação psicológica para pessoas em situação de violência.

Para a coleta de dados, as técnicas utilizadas serão: 1. Teste gráfico projetivo da figura humana

2. Observação participante 3. Diário de campo.

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pesquisadas, tais como escolas ou outra instituição na qual se possa encontrar pessoas em situação de violência. Todas as pessoas participantes assinam o termo de consentimento informado.

O desenho da figura humana, por se tratar de uma técnica projetiva, está sendo analisado de acordo com o manual próprio da técnica proporcionando um entendimento dinâmico de cada pessoa em situação de violência.

O DESENHO DA FIGURA HUMANA

O desenho da figura humana, conforme Retondo (2000), pode manifestar três tipos de projeções: auto-imagem, eu ideal ou ideal de ego e/ou percepção das pessoas significativas (pais, irmãos, professores, etc).

Além do eu físico, o sujeito pode projetar no desenho o eu psicológico, nesse caso o indivíduo realiza um desenho pequeno apesar de não corresponder a seu real aspecto físico, projetando a idéia psicológica que tem de si mesmo, isto é, se vê como um ser impotente, dependente e necessitado de apoio.

Para Hammer (1991), o desenho da figura humana é determinado por fatores psicodinâmicos nucleares, ou seja, surge como resultado do conceito de “imagem corporal”. De acordo com este conceito, cada um leva consigo em seu aparelho psíquico uma imagem, física em sua estrutura e em grande parte inconsciente, do tipo de pessoa que é. Além do mais, esta imagem se baseia em parte nas convenções, sensações e na transposição simbólica das atitudes em características somáticas.

Segundo Cunha (2002), a utilização de testagem caracteriza-se como um processo científico, porque deve partir de um levantamento prévio de hipóteses que serão confirmadas ou não através de passos predeterminados e com objetivos precisos. Tal processo tem tempo limitado, são utilizados técnicas e testes psicológicos, seja para entender o problema à luz de pressupostos teóricos, identificar e avaliar aspectos específicos, seja para classificar o caso e prever o seu curso possível, comunicando os resultados, na base dos quais são propostas soluções, se for o caso.

As técnicas projetivas também se caracterizam por uma abordagem global à avaliação da personalidade e não na mensuração de traços separados, revelam aspectos latentes ou inconscientes.

O método projetivo originou-se de um ambiente clínico e permaneceu, predominantemente, um instrumento para o clínico e para a pesquisa.

O “objeto de estudo” da psicologia, o ser humano, está em constante transformação, modificando também, tanto o mundo ao seu redor, quanto o seu mundo interno. Esta especificidade

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do humano coloca a psicologia sempre como um campo a se avaliar e construir, exigindo portando, o compromisso permanente com o estudo e a pesquisa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARENDT, Hannah. Sobre a Violência. Traduzido por André Duarte. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1994.

CUNHA, Jurema Alcides. Psicodiagnóstico V. Porto Alegre: Artes Médicas, 2002.

GRASSANO, Elsa. Indicadores Psicopatológicos nas Técnicas Projetivas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996.

HAMMER, Emanuel F. Aplicações clínicas dos desenhos projetivos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1991.

MAFFESOLI, Michel. A Violência Totalitária. Porto Alegre: Sulina, 2001.

MYNAIO, Maria Cecília de S. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 11a ed. Petrópolis:

Editora Vozes, 1999.

RETONDO, Maria F. Manual Prático de Avaliação do http (Casa-Árvore-Pessoa e Família). São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000.

STREY; Marlene N; WERBA, Graziela C. e NORA, Thais C. “Outra Vez essa mulher?” Processo de atendimento a mulheres em situação de violência nas delegacias da mulher no RS. In: STREY, Marlene N. (Orgs.) Violência, Gênero e Políticas Públicas. Porto Alegre: EDICPUCRS, 2004. THIOLLENT, M. Metodologia da Pesquisa-Ação. São Paulo: Cortez, 1992.

VASCONCELLOS, Doris. Problemáticas da adolescência: entrevista com Catherine Chabert. Revista do CEAPIA, nº 9, set/1996.

VÍCTORA, Ceres G. (org). Pesquisa Qualitativa em Saúde: uma introdução ao tema. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2000.

Referências

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