• Nenhum resultado encontrado

PREVENÇÃO À VIOLÊNCIA SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "PREVENÇÃO À VIOLÊNCIA SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES"

Copied!
16
0
0

Texto

(1)

127

PREVENÇÃO À VIOLÊNCIA SEXUAL DE CRIANÇAS E

ADOLESCENTES

Edgar Antônio Piva1

Carla Eloysa Garcia Enezita da Rocha

RESUMO

O presente artigo apresenta as ações realizadas pelo Projeto Ciranda, do PROGRAMA CEJURPS INTEGRAÇÃO: promovendo a Sustentabilidade Social, que visa à prevenção do abuso e violência sexual de crianças e adolescentes do município de Tijucas, através de atividades pedagógicas e assessoria dos educadores para que eles possam identificar e denunciar quando suspeitarem que algum aluno esteja sofrendo abuso sexual. O projeto promoveu várias ações: intervenções nas escolas do campo e da cidade, com alunos e educadores; mobilizações como a 10ª Semana Tijuquense de Combate ao abuso e Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes; o “Dia Estadual de Mobilização pelo Fim da Violência e Exploração Infanto-Juvenil”; Gincanas com crianças e adolescentes do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos; Programas de rádio; realização de uma oficina no VIII Simpósio das Licenciaturas, em Itajaí; bem como a participação e assessoramento no Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente.

Palavras-chave: Crianças e Adolescentes; Educadores; Violência Sexual.

INTRODUÇÃO

Até muito recentemente, a violência contra crianças e adolescentes era vista como um assunto proibido na sociedade. Entretanto esse tabu vem sendo quebrado, principalmente por conta das intervenções nas escolas e sociedade e da visibilidade social do mesmo. E o que tem sido encontrado é alarmante, não apenas na frequência de tais práticas, mas também em termos de consequências.

A violência sexual infanto-juvenil acontece em todo o mundo, tanto no universo familiar quanto em outros espaços sociais e tem mobilizado

1 Mestre em filosofia, professor da Universidade do Vale do Itajaí, coordenador do projeto de

extensão Ciranda. Os demais autores são acadêmicas bolsistas do projeto, dos cursos de pedagogia EAD e direito da UNIVALI.

(2)

128

diversos segmentos da sociedade, fazendo com que se pense em ações, fale-se delas e sejam elas criadas para lidar e enfrentar essa forma de violação de direitos.

Desde o início da década de 1990, o tema em questão está em destaque apresentando-se como problema a ser tratado para além do campo familiar, envolvendo setores sociais e sendo discutido por profissionais da saúde, do direito, da psicologia, da educação entre outros.

A partir da década de 90, sobretudo com o advento do Estatuto da Criança e do Adolescente (lei n° 8.069 de 13 de julho de 1990), a problemática da violência sexual infanto-juvenil foi enfatizada, sendo incluída na luta pelos Direitos Humanos de crianças e adolescentes preconizados na Constituição Federal do Brasil de 1988 e na Convenção Internacional dos Direitos da Criança. No ano de 2000 foi criado o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) que aprovou o Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Infanto-Juvenil.

Já em Santa Catarina, um dos marcos dessa luta foi à criação, em 1988, na cidade de Chapecó, do Fórum Catarinense pelo fim da Violência e da Exploração Sexual Infanto-Juvenil. A partir desta data ficou instituído o dia 24 de setembro como o dia estadual de combate e este tipo de violência.

As pesquisas realizadas anualmente pelo Laboratório de Estudos da Universidade de São Paulo (LACRI) mostrou um aumento significativo do numero de casos notificados de violência domestica em nosso país.

A maioria das vitimas são do sexo feminino, na faixa etária de 7 a 17 anos, cujos agressores são membros familiares (pai, avô, padrasto, tio) ou alguém muito próximo a vitima. Entretanto, não podemos desconsidera que estes dados revelam apenas a ponta do iceberg, uma vez que em um numero significativo de casos ainda permanece encoberto pela “lei do silêncio”.

A violência está associada a forma como a sociedade se organiza, distribui seus bens e serviços e constrói seus valores e normas. Não se muda uma cultura e uma sociedade de maneira repentina, mas sim

(3)

129

progressivamente, de maneira continua e perspicaz. A luta pela erradicação da violência contra a criança e o adolescente não compete apenas ao Estado, nos níveis federais, estaduais e municipais, mas também a toda sociedade, inclusive a universidade, cujo caminho deve seguir duas linhas de atuação: a intervenção e a prevenção.

O presente projeto privilegiou, em primeiro plano, a estratégia da prevenção pela educação das crianças e adolescentes ensinando-as a se defender em situações de abuso e pelo assessoramento dos profissionais de educação e saúde, lideranças comunitárias e gestores públicos. O aumento de demanda por parte das escolas, dos conselhos tutelares e dos gestores públicos municipais sobre a questão da violência sexual, justificou a criação de um projeto de extensão universitária voltado para este fenômeno. Desde sua primeira aprovação (edital 01/2014) o presente projeto desenvolveu várias atividades de prevenção junto às crianças e adolescentes bem como conscientizou e informou a comunidade local, dando visibilidade ao fenômeno da violência sexual contra crianças e adolescentes. Um dos resultados alcançados pelo projeto, como pelas demais organizações de defesa e proteção da infância e da juventude, foi a instituição, por parte dos gestores municipais, na forma da lei, de semanas de combate à violência e a exploração sexual contra crianças e adolescentes. Deste modo, no dia 07 de fevereiro de 2006, o prefeito municipal de Tijucas, Elmis Mannrich, através da lei n° 1983/2006, instituiu a “Semana Tijuquense de combate à violência, ao abuso e à exploração sexual contra crianças e adolescentes”, convocando as organizações governamentais e não-governamentais que atuam na defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes a promover ampla campanha de conscientização e de combate à violência, ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes no Município de Tijucas.

De 2006 a 2015, o projeto, juntamente com outras organizações governamentais e não-governamentais, participou da organização e realização de 10 (dez) Semanas de combate à violência sexual infanto-juvenil, assim como nos Mobilizações Nacional (18 de maio) e Estadual (24 de setembro).

Em todos estes eventos, o projeto trabalhou em parceria com o Conselho Tutelar, Conselhos de Direito da Criança e do Adolescente, CRAS e

(4)

130

CREAS do município de Tijucas e, em âmbito estadual, com o Fórum Catarinense pelo Fim da Violência e da Exploração Sexual Infanto-juvenil, formado por pessoas físicas e jurídicas, entidades e organizações não-governamentais catarinense.

Apesar dos progressos no combate à violência sexual, constata-se que muitos agentes comunitários que atendem crianças e adolescentes, profissionais da educação e da saúde, conselheiros tutelares, etc., não estão capacitados devidamente para identificar e atender as vítimas de abuso sexual. É preciso dar continuidade às ações preventivas junto às crianças e adolescentes, ensinando-as a se defenderem; dar continuidade às mobilizações públicas para conscientizar a sociedade civil, mas é preciso, também, capacitar e assessorar melhor os agentes sociais, especialmente os profissionais da educação, pois a escola é o lugar privilegiado para identificar casos de abuso sexual. Segundo o Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes, as escolas e as universidades podem ter um papel destacado no trabalho de orientação e prevenção.

1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O fenômeno da violência doméstica que atinge crianças e adolescentes de todas as classes sociais é consequência da conjugação de vários fatores psicológicos, sócio-econômicos e culturais. Somente um modelo explicativo multicausal pode dar conta deste fenômeno. Definimos violência doméstica infanto-juvenil como:

Todo ato ou omissão praticado por pais, parentes ou responsáveis contra crianças e adolescentes que – sendo capaz de causar dano físico, sexual e/ou psicológico à vítima – implica, de um lado, numa transgressão do poder/dever de proteção do adulto e, de outro, numa coisificação da infância, isto é, numa negação do direito que crianças e adolescentes têm de ser tratados como sujeitos e pessoas em condição peculiar de desenvolvimento (AZEVEDO e GUERRA, 2001, p. 12).

De acordo com nossa definição, a violência doméstica inclui diferentes tipos de violência: a física, a psicológica, a sexual, a negligência e o abandono.

(5)

131

A negligência é uma forma de violência caracterizada por ato de omissão do responsável pela criança ou adolescente em prover as necessidades básicas para seu desenvolvimento sadio. Normalmente a falta de cuidados gerais está associada com a falta de apoio emocional e carinho que leva a criança a acreditar que não tem importância para os pais, ou que eles não gostam delas.

O abandono é uma forma de violência muito semelhante à negligência: ele se caracteriza pela ausência do responsável pela criança ou adolescente na educação e cuidados da criança.

A violência psicológica é um conjunto de atitudes, palavras e ações para envergonhar, censurar e pressionar a criança de modo permanente. Ela ocorre quando falamos mal, rejeitamos, isolamos, exigimos demais das crianças e dos adolescentes, ou mesmo, os utilizamos para atender a necessidade dos adultos. Apesar de ser extremamente frequente, essa modalidade de violência é uma das mais difíceis de serem identificadas e podem trazer graves danos ao desenvolvimento emocional, físico, sexual e social da criança.

A violência física é o uso da força física de forma intencional, não-acidental, por um agente agressor adulto (ou mais velho que a criança ou o adolescente). A violência física pode ou não deixar marcas evidentes e nos casos extremos pode causar a morte.

A Violência Sexual consiste não só numa violação à liberdade sexual do outro, mas também numa violação dos direitos humanos da criança e do adolescente. O Estatuto da Criança e do Adolescente-ECA, juntamente com outras normas e acordos internacionais, fez com que o abuso e a exploração sexual de crianças e adolescentes deixassem de ser apenas um crime contra a liberdade sexual e se transformassem numa violação dos direitos humanos, ou seja, direito ao respeito, à dignidade, à liberdade, à convivência familiar e comunitária e ao desenvolvimento de uma sexualidade saudável.

É praticada sem o consentimento da pessoa vitimizada, quando cometida contra a criança, constitui crime ainda mais grave. Pode ser classificada como intrafamiliar, extrafamiliar e exploração comercial sexual. A

(6)

132

violência sexual contra crianças e adolescentes é definida por Azevedo e Guerra (2000, p. 11) como:

Todo ato ou jogo sexual, relação hetero ou homossexual entre um ou mais adultos (...) e uma criança/adolescente, tendo por finalidade estimular esta criança/adolescente ou utilizá-los para obter uma estimulação sexual sobre sua pessoa ou a de outra pessoa.

Esta relação geralmente se dá entre uma criança/adolescente e um adulto que tenha para com ela uma relação seja de consanguinidade, seja de afinidade ou de mera responsabilidade, caracterizando-se como uma relação que denominamos de incestuosa. Estas relações sexuais podem se manifestar de diferentes formas, desde carícias, manipulação da genitália, mama ou ânus, exploração sexual, voyeurismo, pornografia e exibicionismo, até o ato sexual com ou sem penetração. Cabe salientar que o abuso sexual pode, portanto, se dar com ou sem contato físico.

Não podemos deixar de enfatizar que os portadores de deficiência mental, tanto meninas como meninos, são “presas” fáceis do autor do abuso sexual, que se vale dos laços de confiança facilmente criados, da inocência e falta de educação sexual, da possibilidade do silêncio tendo em vista a acentuada credulidade da vítima a ameaças juntamente com o possível descrédito de denuncia vinda dessas crianças ou adolescentes, para mantê-los indefinidamente como objetos de gratificação sexual.

A violência sexual cometida contra essas crianças muitas vezes só é descoberta com o surgimento de uma gravidez. Mesmo nessas situações, o autor da agressão pode criar um estado de confusão mental que induz o portador de deficiência a identificar outras pessoas como seus agressores.

Segundo o Guia Escolar (2004, p. 52): Rede de Proteção à Infância, “há que se pensar em abuso sexual no portador de deficiência mental, além dos sinais comuns a todas as crianças e adolescentes, sempre que este apresenta resistência à higiene, a troca de fraldas, de roupas, ou durante o banho. Quando a vítima tem medo exagerado ou foge da presença de pessoas de determinado sexo ou de determinada pessoa. Ou ainda quando exibe comportamento sexual adiantado para sua idade física e, principalmente, mental”.

(7)

133

Nossa atenção estará voltada, sobretudo, à violência sexual, embora ela nunca apareça dissociada das outras formas.

Há a necessidade de que a violência sexual seja enfrentada, prevenida e evitada. “No eixo da prevenção, é clara a importância remetida à participação da escola no sentido de educar crianças e adolescentes sobre seus direitos e assegurar, assim, ações preventivas contra a violência sexual” (LANDINI, 2011, p. 94).

2 OBJETIVOS DO PROJETO

O objetivo geral é promover ações preventivas ao abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes através da conscientização e mobilização da sociedade civil, da realização de ações educativas junto às crianças, adolescentes e suas famílias e do assessoramento nos programas de formação e acompanhamento de profissionais da educação e gestores públicos.

Objetivos específicos: 1. Assessorar Programas e Projetos sociais que visam conscientizar e mobilizar a comunidade e grupos sociais no enfrentamento da violência sexual.

2. Educar crianças, adolescentes e suas famílias sobre seus direitos, visando o fortalecimento da sua autoestima e defesa em situações de abuso sexual;

3. Incentivar a participação de crianças e adolescentes nas mobilizações das campanhas nacionais e estaduais de enfrentamento da violência sexual infanto-juvenil.

4. Assessorar (Informar, orientar e acompanhar) profissionais da educação e gestores públicos sobre a prevenção à violência sexual.

5. Veicular informações de prevenção ao abuso sexual através da mídia escrita e falada.

(8)

134

6. Oportunizar possibilidades de aprendizagem, pesquisa e extensão para acadêmicos da Univali.

3 APRESENTAÇÃO DAS AÇÕES E RESULTADOS

Ação 1: Intervenções pedagógicas nas 7 (sete) Escolas do Campo, no Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, e na Escola Ensino Fundamental Santa Terezinha, com o objetivo de educar crianças e adolescentes sobre seus direitos, visando o fortalecimento da sua autoestima e defesa em situações de abuso sexual, como também informar, orientar e acompanhar profissionais da educação sobre a prevenção à violência sexual. Em cada escola foram realizadas 3 intervenções com cada turma de alunos e com os profissionais de educação.

Ação 2: Planejamento e realização da 10ª. Semana Tijuquense de combate ao abuso e à exploração sexual contra crianças e adolescentes. A 10ª. Semana ocorreu no período de 18 a 23 de maio de 2015, com a divulgação na imprensa, comércio e escolas. No dia 19/05 (terça-feira) foi apresentada a peça teatral – ISSO NÃO É BRINCADEIRA, pelo grupo Detalhe, de Indaial, no Anfiteatro Leda Regina de Souza, no período da manhã, para crianças de 6 a 12 anos, e no período da tarde, para adolescentes a partir dos 12 anos. A peça tratou sobre o tema da violência sexual contra crianças e adolescentes através da encenação de situações cotidianas de abuso ou exploração sexual. Algumas escolas se fizeram presentes. O grupo de teatro interagiu com a plateia que correspondeu totalmente com atenção e participação de todos. O encerramento da Semana ocorreu com a “Caminhada contra a Violência”, partindo da Concha Acústica e percorrendo as ruas centrais da cidade, com a participação das escolas, de um grupo de 13 acadêmicos do artigo 170 da Univali e da comunidade. Dando continuidade às atividades de encerramento, ocorreu no período da tarde, distribuição de 5 mil panfletos sobre prevenção à violência sexual nos semáforos, estabelecimentos comerciais e pontos diversos da cidade. A Semana foi organizada por vários órgãos e entidades, sob a responsabilidade da Prefeitura municipal, com a participação da Secretaria de Ação Social, Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente, Conselho

(9)

135

Tutelar, Secretaria de Cultura, Juventude e Direitos Humanos, CRAS, CREAS, PROJETO CIRANDA-UNIVALI e SESC Tijucas.

Ação 3: Planejamento e realização da semana do Dia 24 de Setembro, “Dia Estadual de Mobilização pelo Fim da Violência e Exploração Sexual Infanto-juvenil”. Em parceria com Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, a Secretaria Municipal de Educação, o CRAS, o CREAS, foi realizado um Concurso de Redação e Desenho, tendo como tema “A VIOLÊNCIA SEXUAL NA INTERNET”. Durante o período de 14 a 23 de setembro, todas as escolas do 1º ao 9° ano da rede pública e particular, de Tijucas, foram convidadas a trabalhar com seus alunos a confecção das redações e desenhos. Cada escola selecionou internamente 3 trabalhos de cada modalidade e enviou à equipe organizadora até o dia 24 de setembro, na Secretaria Municipal de Educação. No dia 25 de setembro, a equipe organizadora avaliou os trabalhos encaminhados pelas escolas e selecionou os três melhores trabalhos de cada atividade, conforme critérios definidos no concurso. As escolas participantes do concurso foram: EEB Alexandre Ternes Filho, EEF Santa Terezinha, CEP Manoel dos Anjos, EEF Ondina Maria Dias, APAE e Colégio de Aplicação da UNIVALI. O Projeto Ciranda fez a entrega dos prêmios aos ganhadores nas suas respectivas escolas. O primeiro lugar da redação e do desenho receberam como premiação um tablet; os segundos e terceiros lugares receberam livros de literatura Infanto-juvenil.

Ação 4: Gincana realizada com crianças e adolescentes, no Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, em parceria com o Projeto de Extensão “Cidadania em Foco”, com o objetivo de proporcionar um momento de lazer, bem como passar informações sobre a prevenção ao abuso sexual. A Gincana foi realizada nos períodos matutino e vespertino, totalizando 56 crianças e adolescentes.

Ação 5: Produção e gravação de 9 (nove) programas na rádio Vale de Tijucas (nos dias 28/3; 25/4; 23/5; 20/6; 15/8; 22/8; 10/10; 07/11 e 05/12), com duração de 10 minutos, divulgando ações do projeto e informações sobre a violência sexual. Em 5 dos 9 programas produzidos utilizamos um material da TV Futura, intitulado “Que exploração é essa?”, onde abordamos a exploração sexual

(10)

136

de crianças e adolescentes ocorridas nas estradas, já que o protagonista da série é um caminhoneiro. Lanchonete, hotel, praia, lan house e posto de gasolina, são locais de alto risco, mostrados nos episódios.

Ação 6: Realização de uma oficina sobre Violência sexual contra crianças e adolescentes, no mês de setembro, no VIII Simpósio das Licenciaturas, em Itajaí, com a participação de 13 acadêmicos dos cursos de Licenciatura da Univali.

Ação 7: Participação e assessoramento no Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente. Participação das reuniões ordinárias e extraordinárias do CMDCA representando a Univali e o projeto Ciranda, desenvolvendo as funções que são próprias aos conselheiros.

Ação 8: Organização de atividades que promovessem a aprendizagem, pesquisa e extensão de acadêmicos da Univali. 20 acadêmicos participaram nas diversas atividades programadas, isto é, nos dias de mobilização e nas intervenções nas escolas e até mesmo no produção científica: 10 acadêmicos do curso de Administração, 7 do curso de Direito, 2 do curso Pedagogia e 1 do curso de Educação Física.

4 RESULTADOS OBTIDOS

4.1 Dados quantitativos:

a) Aproximadamente 33 educadores (gestores, professores e conselheiros) receberam cartilha e assessoramento sobre violência sexual contra crianças e adolescentes; sendo 99 atendimentos realizados;

b) Realização de 9 programas de rádio, de duração de 10 minutos cada;

c) Aproximadamente 1.018 crianças e adolescentes da rede pública municipal de ensino e do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos receberam informações sobre a violência sexual e de como se prevenir;

(11)

137 4.2 Dados qualitativos:

a) melhoria na sensibilização e informação de alunos e educadores;

b) conscientização do papel preventivo da escola e dos educadores;

c) fortalecimento do protagonismo infanto-juvenil no combate ao abuso e à exploração sexual;

d) aprimoramento dos educadores na capacidade de identificação de sinais de abuso sexual, escuta e acolhimento das vítimas de violência sexual;

e) aumento da visibilidade do fenômeno da violência sexual para a comunidade em geral;

5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA COM EDUCADORES

Durante o ano de 2015, a equipe do Projeto Ciranda capacitou 33 educadores, entre professores e gestores, dos quais 22 responderam a um questionário com o objetivo de fazer um diagnóstico sobre o nível de conhecimento e as atitudes dos mesmos em face à violência sexual contra crianças e adolescentes, no qual deveriam assinalar 1(uma) das quatro opções: discordo, discordo parcialmente, concordo ou concordo parcialmente. Seguem as 11 (de A a K) afirmações cujos resultados serão apresentados no gráfico pesquisa 1.

A. As crianças são mais agredidas sexualmente por estranhos do que por familiares ou conhecidos da família.

B. As crianças mentem e fantasiam histórias sobre abuso sexual.

C. Não existem vantagens em denunciar, pois nada será feito ao agressor. D. A violência sexual é um problema que deve ser tratado na escola.

E. Eu tenho experiência para lidar com casos de violência sexual entre meus alunos.

(12)

138

F. O comportamento erotizado dos adolescentes é responsável pelo aumento dos casos de abuso sexual.

G. Ao suspeitar que um aluno esteja sendo vítima de violência sexual o professor deve chamar os pais para conversar

H. É necessário investigar a veracidade dos casos antes de fazer a denuncia.

I. É importante que o tema violência sexual seja discutido na formação de professores.

J. É papel do professor denunciar às autoridades competentes casos de suspeita de violência sexual contra crianças e adolescentes.

K. Em casos apenas de suspeita que um aluno esteja sendo vítima de violência sexual, é apropriado fazer a denúncia às autoridades competentes.

Em seguida os educadores responderam a 2 (duas) perguntas:

1. Você teve algum contato com o tema da violência sexual em algum momento da sua formação profissional, alguma palestra, algum curso? Qual?

A B C D E F G H I J K Discordam 14 15 16 2 13 10 4 3 0 2 0 Discordam Parcialmente 4 3 4 1 2 4 2 2 0 0 0 Concordam 0 2 0 14 1 4 13 16 21 16 15 Concordam parcialmente 4 2 2 5 6 4 3 1 1 4 7 0 5 10 15 20 25

Quan

tid

ad

e

Gráfico 1

(13)

139

2. Em sua prática pedagógica você costuma abordar a temática da violência sexual?

Num primeiro momento os educadores responderam individualmente ao questionário e em seguida iniciamos a reflexão sobre o tema a partir das respostas dadas por eles. Depois da conversa sobre o questionário, alguns queriam alterar as respostas, pois mudaram seu ponto de vista.

Observamos que 59% (gráfico 2) dos educadores tiveram alguma formação sobre o tema, principalmente através da formação continuada. Em fevereiro de 2015, a pedagoga do CRAS, ex-bolsista do projeto Ciranda, ofereceu

41%

59%

Gráfico 2

Não

Sim

41%

59%

Gráfico 3

Não

Sim

(14)

140

uma capacitação para os professores da rede pública municipal sobre violência sexual contra crianças e adolescentes. Assim, 41% dos educadores entrevistados ou não participaram da formação ou simplesmente esqueceram. Porém, 13 dos 22 entrevistados afirmaram que não tinham experiência para lidar com casos de violência sexual entre seus alunos (gráfico 1, afirmação E) e 50% (gráfico 3) costumam abordar o tema da violência sexual em sala de aula. Embora a grande maioria concorde que a violência sexual deva ser trabalhada na escola (gráfico 1, afirmação D), discutida na formação dos professores (afirmação I) e que o professor tem um papel importante na prevenção e denúncia dos casos de violência sexual (afirmação J), a maioria não se sente preparada para lidar com o problema (afirmação E).

Na afirmação G (gráfico 1), a maioria (13) respondeu que ao suspeitar que um aluno esteja sendo vítima de violência sexual os pais deveriam ser chamados pela escola ou professor para conversar. Salientamos que esse procedimento não é o mais conveniente, pois as pesquisas apontam que aproximadamente 70% dos casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes são praticados por algum membro da família. Os educadores entrevistados estão cientes desse fato, pois na afirmação A, 18 dos 22 entrevistados responderam que as crianças são mais agredidas sexualmente por familiares ou conhecidos da vítima do que por estranhos. O abuso sexual é predominantemente uma forma de violência intrafamiliar. A atitude de chamar os pais revela-se inadequada, pois a escola talvez esteja se defrontando com os possíveis agressores, os quais tendem a negar e a mudar de endereço. A atitude mais adequada é comunicar às autoridades competentes, especialmente ao Conselho Tutelar, ou na ausência deste, à Polícia ou Ministério Público.

Ainda com relação a atuação do professor, notamos que, a partir da resposta às afirmações H e K, percebemos uma contradição. Na afirmação H, 16 educadores afirmaram que antes de fazer a denúncia é necessário investigar a veracidade dos casos, enquanto na afirmação K, 15 educadores concordaram que em caso apenas de suspeita é apropriado fazer a denúncia. Na conversa com os educadores percebemos de modo geral que a maioria deles quer ter a certeza do caso antes de fazer a denúncia assumindo um papel de investigação que é do

(15)

141

Conselho Tutelar ou da Polícia. Ora, conforme reza o artigo 245 do Estatuto da Criança e do Adolescente, não é necessário que o abuso sexual seja confirmado para que seja objeto de denúncia. Casos de suspeita devem ser compulsoriamente denunciados pelo médico, professor ou responsável por estabelecimento de atenção à saúde e à educação. O papel de investigação cabe ao Conselho Tutelar e aos serviços especializados como os profissionais da saúde, da assistência social, entre outros.

Alguns educadores relataram que passaram por dificuldades quando ofereceram denúncia de casos de violência sexual na escola, pois a comunidade e principalmente o agressor teve conhecimento do educador que fez a denúncia. Assim, sugerimos a possibilidade da denúncia anônima através do disque 100, no qual o denunciante não precisa se identificar. Muitos não conheciam tal serviço.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a apresentação e análise dos resultados da pesquisa a proposta de intervenção junto aos 33 educadores do município de Tijucas realizada pelo projeto Ciranda apresentou alguns resultados positivos. No percurso da intervenção, a maioria das escolas e dos educadores foram muito acolhedores, outras ofereceram certa resistência. Alguns educadores diziam que a escola e os educadores estavam sendo sobrecarregados, assumindo uma responsabilidade a mais.

Ficou explícita a manifestação por parte dos educadores sobre a importância da escola e dos educadores discutirem o problema da violência sexual, assumindo uma postura proativa na prevenção e no acolhimento as possíveis vítimas. Os educadores podem auxiliar os alunos a se defenderem de situações de risco.

Sugerimos que as escolas incluam no Projeto Pedagógico o tema da violência sexual como parte da educação sexual, o que já está previsto nos temas transversais contidos nos PCNs e na Proposta Curricular de Santa Catarina.

(16)

142

REFERÊNCIAS DAS FONTES CITADAS

Azevedo, M. A. Guerra, V. N. A. Infância e violência doméstica: fronteiras do conhecimento. 3 a. Ed. SP: Cortez editora, 2000.

Azevedo, M. A. Guerra, V. N. A. Mania de Bater: a punição corporal doméstica de crianças e adolescentes no Brasil. SP: Iglu, 2001.

Brasil. Estatuto da criança e do adolescente (1990) 6 ed. Brasília: Câmara dos deputados Coordenação de Publicações, 2008.

Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos: Apresentação dos temas transversais. Secretaria de

Educação Fundamental. Brasília: MEC/ SEF, 1998.

Guia Escolar: Métodos para Identificação de Sinais de Abuso e Exploração Sexual

de Crianças e Adolescentes. 2 ed. ver. e atual. Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos e Ministério da Educação, 2004.

Jasper, A. - Piva, A. E. Cartilha: Formação de Educadores - Prevenção ao Abuso e Exploração Sexual Infanto-juvenil. Tijucas, 2011.

LANDINI, T. S. O professor diante da violência sexual. São Paulo: Cortez. (Coleção educação e saúde; v.4), 2011.

OLIVEIRA, C. Soares. Formação de professores e concepções sobre a violência

entre crianças e adolescentes. Bauru: Dissertação de mestrado, 2001.

Santa Catarina, Secretaria de Estado da Educação e do Desposto. Proposta

Curricular de Santa Catarina: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio:

Disciplinas curriculares. Florianópolis COGEN, 1998, 244 p.

SANTOS, Rita de C. F. dos. Violência Sexual e a formação de educadores: uma proposta de intervenção. Presidente Prudente: dissertação de mestrado, 2011.

Referências

Documentos relacionados

Os elementos do processo usados para representar os relacionamentos intencionais internos aos atores são: os relacionamentos “meios–fim”, que possuem o papel

Além do regime normal do trabalho nocturno, admite-se a prestação de trabalho extraordinário em período nocturno, não podendo para o efeito ultrapassar a 7 horas semanais. Trabalho

SERVIÇO DE ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL Crianças / Adolescentes de 0 a 18 anos SERVIÇO DE CONVIVÊNCIA E FORTALECIMENTO DE VÍNCULOS ProjetoCAE (Conhecimento Além da Escola) 30 R.Luiz

15/06/2021- Vídeo informativo e explicativo sobre o atendimento ao público prioritário elaborado pela Técnica do Serviço Social enviado aos grupos de wathsapp contendo usuários

– O aluno, com anuência do orientador, deverá encaminhar ao colegiado do PPGENF da UNIFAL-MG, a indicação de 06 (seis) membros para compor a Banca Examinadora, sendo 04

O objetivo desta pesquisa é identificar a percepção que professores e alunos da educação técnica têm dos processos de ensino e de aprendizagem em andamento nesse

No dia 22/09 houve contato com o CRAS I, para acompanhamento em conjunto dos usuários acompanhados pela desproteção (13-12-Vunerabilidade que diz respeito a pessoa com deficiência)

Introdução: A ventilação mecânica não invasiva (VNI) é uma estratégia usada para prevenir as complicações pulmonares que ocorrem no pós-operatório de pacientes submetidos