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PROCURADORIA DE JUSTIÇA EM MATÉRIA CÍVEL

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Academic year: 2021

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APELAÇÃO N.º 0192370-4

APELANTE: SUL AMÉRICA COMPANHIA DE SEGURO

APELADO: TEREZINHA ALVES DOS SANTOS CUNHA, representada por MARIA DAS GRAÇAS SANTOS CUNHA

ÓRGÃO JULGADOR: TERCEIRA CÂMARA CÍVEL

RELATOR: FRANCISCO EDUARDO GONÇALVES SERTÓRIO CANTO

PARECER

Trata-se de Apelação interposta em face de sentença (fls. 135-137) proferida nos autos da Ação Cautelar Inominada que tramitou em anexo a Ação Ordinária de Revisão de Cláusula Contratual cumulada com Obrigação de Fazer, a qual julgou procedente o pedido cautelar, tornando-o definitivo, declarando a nulidade da cláusula contratual que excluía a cobertura o tratamento fisioterápico domiciliar para ora Apelada, bem como condenou a recorrida em custas e honorários de advogado.

A empresa apelante (fls. 140-155), preliminarmente, pede o julgamento do Agravo retido, nos termos do artigo 523 do Código de Processo Civil. Faz uma breve síntese dos autos e passa a aduzir que a sentença desconsiderou a cláusula 6, item 6.9, das condições do Contrato de Seguro pactuado pelas partes, na qual há previsão de negativa de cobertura. Ressalta que a referida cláusula foi redigida de forma clara e expressa, não se constituindo numa cláusula abusiva. Invoca o artigo 1.460 do Código Civil, aduzindo ser legal a negativa de cobertura em comento, o princípio da proporcionalidade e da segurança jurídica. Afirma ser a responsabilidade da Apelante limitada aos riscos estipulados no contrato firmado pelas partes. Por fim, pré-questiona artigos do Diploma Civil, do Código de Defesa do Consumidor e da Constituição Federal.

Em resposta (fls. 134-143), a apelada oferece contra-razões, em peça única, dirigindo-se tanto ao processo principal quanto ao cautelar anexo a estes autos. Rebate os argumentos do agravo retido interposto nos autos do processo cautelar. Em seguida, adentra no mérito dos recursos aduzindo que acertadamente decidiu o Juízo a quo, não devendo ser reformada a decisão de

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1º grau, de vez que a cobertura do tratamento requerido pela apelada é decorrente do agravamento da doença da qual a recorrida é portadora, tratamento este coberto pela recorrente. Refere-se ao direito constitucional à vida e à saúde e a irreversibilidade dos danos provocados pela ausência da cobertura contratual referida. Faz menção a interpretação dos contratos de adesão, nos quais a liberdade de escolha do indivíduo é limitada e também cita normas que entende aplicáveis ao caso, além de colacionar alguns julgados que considera pertinentes. Pede o não provimento da Apelação e a conseqüente manutenção da sentença.

Vieram os autos para manifestação deste órgão ministerial. Passa a opinar.

Recurso tempestivo, preparado e adequado.

Obrigatória a intervenção do Ministério Público nestes autos, em virtude da incapacidade da ora recorrida, incapacidade essa não apenas informada como de todo evidenciada em face do estágio avançado do mal de Alzheimer.

Deixa, porém, esta Procuradora de Justiça de suscitar nulidade, em face de ausência de intimação do parquet do 1º grau para acompanhar o feito, em razão de ausência de prejuízo para a incapaz.

Examinando o mérito desta apelação, observa-se que a sentença a quo com acuidade e segurança aplicou a legislação de regência e o Código de Defesa do Consumidor ao caso concreto.

Feitas essas considerações, passa-se ao exame do agravo, retido nos autos às fls. 113 a 123, tendo em vista o requerimento expresso da recorrente, o qual obedece ao disposto no art. 523 do Código de Processo Civil.

O referido agravo aduz, em suma, não estarem presentes os requisitos para concessão da tutela antecipada, alegando que o fumus boni iure não se fazia presente, pois inexistia cobertura contratual do tratamento buscado, além da obediência do Código de Defesa do Consumidor por parte da agravante.

Da leitura do agravo se observa que o mesmo não merece acolhida, de vez que o bem tutelado não podia, como não pode, esperar, pois diz respeito à saúde da agravada. Ademais, no momento em que um contrato de seguro de saúde é acordado entre as parte, a seguradora se compromete em fornecer os meios necessários para manutenção desse bem imprescindível ao ser humano.

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Veja-se, por oportuno, a situação de saúde da recorrida, descrita na declaração médica de fl. 34, datada de07/02/2008:

“(...) É portadora de quadro demencial do tipo alzheimer e evolui nas últimas semanas com disfagia, sem conseguir deglutir, há dois dias praticamente sem se alimentar mesmo e com excesso de salivação correndo o risco de asfixia pela disfagia.”

Dessa forma, opina pelo não provimento do Agravo retido nos autos. Convém mencionar, que a apelada juntou peça única para responder aos recursos, o que é possível em virtude de serem as ações conexas e haver sido proferida sentença única. Veja-se o julgado a seguir transcrito:

“É possível a interposição de apenas um recurso de apelação em face de decisão única que julga o mérito de duas ações judiciais distintas e conexas, implicando, evidentemente, o pagamento de um único preparo.” (TJMG: 100240449967420011 Rel.(a): LUCAS PEREIRA J. em 30/04/2008, Publicação: 21/05/2008). No mesmo sentido: TJPR - Agravo de Instrumento: AI 2498280 PR Rel.(a): Jurandyr Souza Junior J. em 10/08/2004, Terceira Câmara Cível (extinto TA) Publicação: 20/08/2004 DJ: 6690.

Examinando o mérito desta apelação, observa-se que a sentença a quo com acuidade e segurança aplicou a legislação de regência e o Código de Defesa do Consumidor ao caso concreto.

Restou clara a abusividade da cláusula 5, item 5.3 e 6.9, das condições do contrato de cobertura dos serviços de assistência médica e hospitalar (fls. 27 dos autos), com base nos artigos 46 do Código de Defesa do Consumidor (Lei n.º 8.078/90).

Não se deve perder de vista que a cura da patologia sofrida pela ora Apelada não pode ser impedida pelo plano de saúde não cobrir determinado tratamento para minimizar o agravamento da doença, conforme entendimento já corrente no Superior Tribunal de Justiça.

Da mesma forma, os tratamentos também não devem ser restritos com base em previsão contratual, devendo prevalecer o procedimento indicado pelo médico. Logo, se o problema de saúde for passível de cobertura, seu tratamento também o será. No caso dos autos, trata-se de mal de Alzheimer em estágio avançado, comprometendo a própria capacidade de se alimentar da paciente (cf. fl. 34).

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A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça sobre o caso em exame pode ser cristalizada no seguinte julgado, in verbis:

SEGURO SAÚDE. COBERTURA. CÂNCER DE PULMÃO. TRATAMENTO COM QUIMIOTERAPIA. CLÁUSULA ABUSIVA. 1. O plano de saúde pode estabelecer quais doenças estão sendo cobertas, mas não que tipo de tratamento está alcançado para a respectiva cura. Se a patologia está coberta, no caso, o câncer, é inviável vedar a quimioterapia pelo simples fato de ser esta uma das alternativas possíveis para a cura da doença. A abusividade da cláusula reside exatamente nesse preciso aspecto, qual seja, não pode o paciente, em razão de cláusula limitativa, ser impedido de receber tratamento com o método mais moderno disponível no momento em que instalada a doença coberta (STJ, REsp 668216 / SP - Rel. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito - j. 15/03/2007). (grifo nosso)

A necessidade, todavia, da proteção da Lei n.º 8.078/90 à segurada, que se vê dependente de atendimento domiciliar expressamente excluído por cláusula contratual, faz-se em face da violação da equidade dos deveres da partes envolvidas. Isso porque se há a cobertura da doença que acomete a recorrida, a exclusão desse atendimento esvazia tal cobertura, já que recomendado pelo profissional da área de saúde.

Assim, procura-se evitar que seja o particular compelido a pagar prêmio em razão de um serviço que não lhe será prestado, gerando, in casu, enriquecimento da empresa seguradora e violação irreversível ao direito à saúde1.

O Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco inclusive editou a súmula n.º 072, por entender que a assistência médico domiciliar dos contratos de plano de saúde, além de ser menos custosa, é um prolongamento do tratamento da doença abrangida pela cobertura, sendo abusiva, assim, a sua exclusão.

A seguir julgado da referida Corte Estadual, in verbis:

1 Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao

fornecimento de produtos e serviços que: IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas,

abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;

2

“É abusiva a exclusão contratual de assistência médico domiciliar (home care)” (DPJ 88 15.05.2007 p. 2).

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DIREITO PROCESSUAL. AGRAVO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS MÉDICO-HOSPITALARES. COBERTURA DA DOENÇA, TRATAMENTO E MEDICAMENTOS NO ÂMBITO HOSPITALAR. NEGATIVA DE FORNECIMENTO DE MEDICAÇÃO PARA TRATAMENTO DOMICILIAR. RECURSO IMPROVIDO. DECISÃO UNÂNIME.

Se o contrato na modalidade plano ou seguro de saúde fornece o medicamento caso o paciente encontre-se internado, com muito mais razão há de ser feito o tratamento fora da unidade hospitalar, uma vez que é menos oneroso até mesmo para a contratada, dentro da máxima de que "quem pode o mais, pode o menos". O tratamento

domiciliar afigura-se como um mero desdobramento do atendimento hospitalar cuja recusa restringe à prestação do serviço e assistência ao paciente. Recurso de Agravo que se nega

provimento. (TJPE, Recurso de Agravo 164817-1/01, Des. Relator Eloy D'Almeida Lins, 4ª Câmara Cível, j. em 31/7/2008, Publicação 177).

Ante todo o exposto, opina no sentido de negar provimento ao presente recurso, a fim de que seja garantido à paciente o tratamento domiciliar recomendado.

Recife, de 31 de março de 2010.

Theresa Cláudia de Moura Souto 15ª Procuradora de Justiça Cível

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