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revista N. 0 12/85 1 DEZEMBRO 150$00

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revista

1

N.

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12/85

1

DEZEMBRO

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12/85 DEZEMBRO

revista

Director: A. Gentil Martins Redactores: A. Osório de Araújo Tello Morais A. Castanhinha

"'

.

sumario

Editorial

Relações com o Governo

Defesa sócio-profissional Deontologia profissional Opinião

Vária

Na cape: Pintura a óleo do Dr. Mengo de Abreu 3 10 11 12

20

editorial

O <<QUADRO

PERMANENTE>>? ...

A. GENTIL MARTINS

Nada será mais perigoso para um governante, quando bem intencionado e desejoso de mudança mas sem experiência do sector, do que deixar-se enlear nas malhas da rede que lhe es­ tendam, diligentes e pressurosos, os membros do «quadro permanente». Não precisaremos de muito tempo para assistir - aliás já se pressentem movimentos nos bastidores - a uma subreptícia tentativa de movimento envolvente do novo gestor da pasta da Saúde, levada a cabo pela experimentada, persis­ tente e poderosa «geometria triangular» que domina ou ocupa toda a estrutura do Ministério da Saúde.

Não é que a situação seja inédita. Na realidade desde há muitos anos que aquelas hierarquias são vorazmente absorvidas ou dominadas e só mais tarde - nas vésperas ou depois da mudança - se terão apercebido do domínio a que estiveram submetidas e dos logros em que caíram. E de pouco lhes terá servido a convicção de que, prevenidos, não se deixarão enga­ nar: quando o descobrirem será demasiado tarde.

Não se julgue, porém, que queremos defender apenas a te­ se de que M. S. deve ser sempre e necessariamente gerido por um médico. O que se defende é que o responsável da Saúde, a nível de Governo, - seja ele médico, engenheiro, advogado ou qualquer outra coisa - para além de conhecer bem os pro­ blemas que irá enfrentar, entre a capacidade, o senso, o equilí­ brio e a coragem, de optar e decidir em consciência, depois de utilizar os seus próprios olhos e ouvidos na comparação entre o que dizem, não apenas os seus «leais» conselheiros, mas tam­ bém aqueles que directamente e no dia-a-dia vivem os proble­ mas - nomeadamente os médicos.

Será necessário que não se preocupe em agradar a gregos e troianos, que não utilize a simples média aritmética quando ouve ou vê posições contrárias e que, sobretudo, não compre os modelos, figurinos ou modas que algumas finas lojas inter­ nacionais têm para vender, quantas vezes já em saldo ... Propriedade, Administração e Redacção:

Ordem dos Médicos Aven. Almirante Reis, 242, 2. 0-Esq.

Tele!. 80 54 12 -1000 LISBOA Preço avulso: 150S00 1

i

PUBLICAÇÃO MENSAL 25 000 exemplares 1 1 Execução gráfica: Sociedade Tipográfica Rua de O. Estefânia, 195-A, B e D

Tclef.54 32 80 1000 LISBOA Depósito Legal n.º 7421/85

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Mas não é obviamente a temática do que deve ou não ser um ministro da Saúde e a sua atitude, que mais nos preocupa neste momento.

O nosso objectivo é antes pelo contrário alertar para a voracidade daquele quadro permanente que, nos últimos anos, se configurou numa geo­ metria triangular para dominar a gestão da Saúde em Portugal e cuja acção afinal, longe de a melho­ rar, apenas tem degradado a sua promoção efecti­ va e real junto do utente.

Muitos dos seus membros nunca foram ou então deixaram de ser prestadores de serviços directos ao utente: daí não possuírem a necessária sensibilidade humana que o contacto com o homem doente traz consigo - e parecerem apenas preocupados com números, estatísticas e dados financeiros!

É aliás muito difícil resistir à máquina trituradora, daquela «figura geométrica» triangular, caracteriza­ da por experientes cabeças e pés repousados - da­ do que raramente ou nunca os utilizaram para per­ correr os difíceis e agrestes caminhos do «exercício da Saúde». E é assim que, atrás das suas secretá­ rias, muitas delas produziram estudos ou optaram por figurinos que podendo ser úteis ou mesmo ex­ celentes para outras terras, não passam para o nos­ so País de teorizações sem nexo ou sentido das rea­ lidades: no fundo, sem pés nem cabeça!

Aquela «figura geométrica» ou «aquele quadro permanente» - que tem tido mais influência do que verdadeiro poder - conseguiu no entanto ir destruindo o pouco que de bom havia, para, aproxi­ mando-se da estaca zero, poder impor o seu esque­ ma: conservador, burocrático e limitativo dos direi­ tos dos doentes, reduzidos a um estatuto «primá­ rio» inaceitável.

Para isso, e paulatinamente, infiltrou os

circui-tos da informação e colocou estrategicamente as

l

suas peças; daí o ter conseguido, até agora, impor

as suas ideias e as suas obras.

O resultado está à vista e é pena, pois gastou-se dinheiro, tempo e feitio. E dinheiro temos muito pouco, o tempo continua a ser de vinte e quatro ho-ras por cada dia e alfaiates temos poucos ... mas o que interessa (?), se só temos utilizado e mal o pronto-a-vestir e mesmo esse de baixa qualidade

. salvo nos casos em que existiam casacas par virar ...

Tenhamos fé na justiça e na razão e esperança em dias melhores ... Um dia virá um Sistema de Saú­ de que tenha por base a liberdade, a relação perso­ nalizada doente/médico e a responsabilidade.

Se não há bem que sempre dure, também não há mal que se não acabe ....

RELATÓRIOS DE ESTÁGIO

2

AVISO IMPORTANTE

Avisam-se todos os médicos que pretendam candidatar-se a Exame de Especialista pela Ordem dos Médicos que o Conselho Nacional Executivo, reunido em 9 de Novembro de 1985, decidiu prorro­ gar o prazo de entrega dos relatórios dos estágios parcelares em atraso, correspondentes aos períodos posteriores a 1983, inicialmente marcado para 31 de Julho de 1985, para 31 de Dezembro de 1985.

A não entrega dos relatórios fará incorrer os faltosos na impossibilidade de se canditarem a exame.

Para os períodos de treino anteriores a 1983, como aliás já foi comunicado a todos os Colegas, bastará um relatório global correspondente a esse período, ou a apresentação de um currículo, caso já tenha estado elaborado.

Informam-se todos os Colegas que, perante qualquer eventual inquérito discipli­ nar a que possam ser sujeitos e quando pretendam que a Ordem dos Médicos seja e apoie no processo (ao abrigo do Art. 0 15. 0

, alínea d) do Estatuto da OM - Dec.-Lei n.º 28277 de5 de Julho de 1977), deverão informar-se na respectiva Secção Regional, pre­ viamente a ser ouvidos em auto, de quais os seus direitos solicitando, se necessário, apoio imediato à Consultadoria Jurídica da Secção.

Igualmente se aconselham todos os Colegas em tais circunstâncias a exigirem, durante todas as fases do inquérito, a presença do seu advogado.

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relações com o governo

MINISTÉRIO DA SAÚDE

SUBSÍDIO DE TRANSPORTE

A MÉDICOS

A Direcção-Geral de Cuidados de Saúde Primá­ rios expediu em 29 de Agosto último uma circular normativa, em que fixa novas normas de atribuição de subsídio de transporte e tempo perdido aos mé­ dicos.

Sobre o conteúdo dessa circular, a Ordem dos Médicos enviou ao Director-Geral daqueles serviços um ofício, em que se afirma:

«Concorda-se genericamente com a doutrina ex­ posta, mas não pode deixar de chamar-se a atenção de V. Ex.ª que o seu cumprimento só pode ter justi­ ficação quando efectivamente existam Médicos nas

zonas das A.R.S's capazes de exercer as funções daqueles Colegas que passarão a deixar de benefi­ ciar dos subsídios de transporte e deslocação.

Não se compreenderá que tais subsídios sejam retirados a Especialistas que exercem a sua activida­ de fora da zona de residência, quando nas A.R.S.'s vizinhas não existirem Colegas exercendo essa mes­ ma Especialidade nos Serviços Oficiais. A partir do momento em que a cobertura sanitária do País este­ ja completada, então sim, justificar-se-á plenamente o cumprimento integral da Circular. A sua imposição prematura e desfazada das realidades concretas de cada zona, como é o caso concreto de colegas de Abrantes e Tomar, não deixará de ser prejudicial às populações. Esperamos por isso que V. Ex.ª dê ins­ truções às A.R.S.'s no sentido de só implementar a referida Ordem de Serviço, desde que esteja assegu­ rada a cobertura integral das necessidades, em ac­ ção médica, dos doentes.».

9ACTUALIZAÇÃO qE VENCIMENTOS

DOS MEDICOS

Num outro ofício, também dirigido ao director­ -geral dos Cuidados de Saúde Primários, a Ordem dos Médicos denunciou o caso de médicos, depen­ dentes da ARS de Santarém, que não viram actuali­ zados os seus vencimentos, como médicos dos ex­ -SMS, isto «à revelia do que constava do ofício de 22 de Janeiro de 1985, n. 0 882, do gabinete do sr.

ministro da Saúde».

Ao fazer a denúncia, a Ordem dos Médicos exi­ giu a tomada de providências imediatas no sentido de regularizar tão flagrante situação de injustiça. MINISTÉRIO DO TRABALHO

EMPREGADOS DOS CONSULTÓRIOS

MÉDICOS

A Ordem dos Médicos protestou, em ofício diri­ gido em 28 de Outubro, ao Ministério do Trabalho,

contra «a dualidade de critério tida pelo Governo no tratamento que dá aos funcionários trabalhando pa­ ra os consultórios médicos, policlínicas, estabeleci­ mentos similares e outros e aquele que dá aos pro­ fissionais médicos quando funcionários desse mes­ mo Estado».

«Os aumentos salariais que recentemente têm ti­ do lugar através de sucessivas P.R.T's - acentua­ -se no referido ofício - são manifestamente incom­ portáveis para muitos dos Médicos e, por outro la­ do, perfeitamente desajustados do critério que o Governo tem seguido em relação aos seus próprios trabalhadores. Solicitamos que de futuro, efectiva­ mente, sejam tomadas em consideração as objec­ ções da Ordem dos Médicos, não só pela competên­ cia técnica que possui mas também pela representa­ tividade real que tem junto da Classe Médica.

Solicitamos por isso que de imediato a Ordem dos Médicos seja ouvida para o estabelecimento de eventuais correcções à recente Portaria Regulamen­ tadora de Trabalho publicada no Boletim de Traba­ lho e Emprego n. º 27 - 1 Série de 22 de Julho de 1985.

PRT PARA O PESSOAL

DOS CONSULTÓRIOS MÉDICOS

-O número 27 do «Boletim de Trabalho e Empre-go», que tem a data de 22 de Julho de 1985, publica a PRT (Portaria de Regulamentação do Trabalho) para os trabalhadores que prestam serviço em con­ sultórios médicos, policlínicas, estabelecimentos si­ milares e outros.

Entre as principais disposições dessa portaria, destacam-se as seguintes:

- Os trabalhadores abrangidos terão direito a um subsídio de refeição no valor de 140$00 por cada período de trabalho diário efec­ tivamente prestado;

- Para os trabalhadores, em regime de tempo parcial, o subsídio é devido desde que haja efectiva prestação de serviço em relação ao período de tempo a que está obrigado e o mesmo se prolongue para além das 14 horas ou das 20 horas;

- As disposições respeitantes à tabela salarial entram em vigor e produzem efeito a partir de 1 de Junho de 1985.

Em anexo à portaria vem publicada a tabela de remunerações mínimas a praticar, destacando-se, por exemplo, que um assistente de consultório pas­ sa a ganhar 25 750$00.

O mesmo boletim insere a PRT para Hospitaliza­ ção Privada, da qual extraímos a seguinte pas­ sagem:

«Assim, foi constituído, por despacho do Sr. Se­ cretário de Estado do Trabalho, publicado no Bole­ tim do Trabalho e Emprego, 1.ª série, n.º 10, de 15 de Março de 1985, uma comissão técnica encarrega­

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PRT para os trabalhadores ao serviço de casas de saúde.

Com base nos estudos realizados pela comissão técnica, para a qual foi solicitada a colaboração do Ministério da Saúde, e tomando em consideração os elementos de informação apresentados pelas repre­ sentações patronais e sindicais, foi elaborada a pre­ sente portaria, que visa actualizar as remunerações em vigor para os profissionais deste sector de activi­ dade.

Face à existência de duas CCT aplicáveis aos profissionais a abranger com a presente PRT, na ela­ boração da mesma, na parte que respeita às remu­ nerações mínimas, partiu-se, quanto a profissões e categorias profissionais comuns às duas conven­ ções, da tabela mais elevada - a do CCT entre a Associação Portuguesa de Hospitalização Privada e a FETESE - Federação dos Sindicatos dos Traba­ lhadores de Escritório e Serviços - e outra, publica­ do no Boletim de Trabalho.».

COMISSÃO PARA A INTEGRAÇÃO EUROPEIA

PROBLEMAS DA MEDICINA

NO PROCESSO DE ADESÃO À C.E.E.

A Ordem dos Médicos enviou, em 28 de Outubro último, o seguinte ofício ao presidente da Comissão para a Integração Europeia (Ministério das Finanças):

«Como é do conhecimento de V. Ex.ª, temos procurado esclarecer junto dessa Comissão as con­ dições em que foram negociados os problemas res­ peitantes à Adesão à Comunidade Económica Euro­ peia nos campos da Medicina e da Medicina Dentá­ ria.

Os esclarecimentos obtidos foram manifesta­ mente insuficientes por um lado e decepcionantes por outro, já que o Ministério da Saúde não soube sequer cumprir com a legislação portuguesa em vi­ gor.

Mais grave que isto, no entanto, é o facto de ter­ mos tido que procurar no estrangeiro a informação que não conseguimos obter em Portugal e que nos leva neste momento a presumir - quase podería­ mos dizer, a ter a certeza - que não foram devida­ mente acautelados os interesses dos Médicos Portu­ gueses. Isto é, aliás, particularmente relevante no que respeita ao exercício da Arte Dentária e à posi­ ção dos Médicos Estomatologistas, problema para o qual em devido tempo alertámos essa Comissão. Tanto quanto conseguimos saber, não está pre­ vista qualquer cláusula garantindo a livre circulação aos Médicos Estomatologistas pelos países em que esta Especialidade Médica não existe e os «respon­ sáveis pela Saúde Oral» são apenas Médicos Dentis­ tas (face às Directivas Europeias).

Dada a gravidade do assunto numa fase já tão adiantada do processo de Integração Europeia e que importa corrigir com a maior urgência, solicitamos a V. Ex.ª o esclarecimento urgente dos seguintes pontos:

4

- Quem individualmente, em que qualidade e com que habilitações, negociou a proble­ mática das Directivas Medicina e Medicina

Dentária em vigor na Comunidade Econó­ mica Europeia, por parte de Portugal?

2 - Qual o teor integral dos textos que foram negociados e que interessam ao campo da Medicina e da Medicina Dentária?

3 - Quais os mecanismos pelos quais será nes­ te momento possível, sob o ponto de vista formal, levar à correcção das anomalias que se pensa existirem?

Não tendo pois informação suficiente para ter certezas em relação às posições assumidas pelo Go­ verno Port guês em relação aos problemas acima citados, necessitamos neste momento e com a maior urgência e acima de tudo, uma informação clara e objectiva. Por outro lado, esta Ordem solicita que nenhum contacto oficial seja feito para a correc­ ção das anomalias que acima se referenciam, sem a participação directa da Ordem dos Médicos como legítima representante desses Profissinais e órgão técnico privilegiado, face à legislação Portuguesa,

para este tipo de negociações. Lamentaríamos que,� por insuficiente vontade por parte do Governo Por-W' tuguês, fôssemos obrigados a recorrer directamente às instâncias internacionais, no sentido de obter a justa e correcta solução dos problemas objecto

des-te ofício.

Consideramos igualmente fundamental que seja dado conhecimento a esta Ordem dos Médicos de todos os acordos estabelecidos bilateralmente com outros países, e nomeadamente, da Comunidade, no âmbito da Saúde, e que até agora não nos foram fornecidos.

Esperando de V. Ex.ª todo o interesse e urgência na resposta a dar a esta Ordem dos Médicos, envia os melhores cumprimentos, sempre ao dispôr.».

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

MEDICINA TROPICAL

Há cerca de dois anos entregou a Ordem dos Médicos ao Governo um importante estudo, ba­ seado em parecer do Colégio de Medicina Tropical e

­ através do qual se pretendia preparar uma futura cooperação com os países africanos de

expres-são portuguesa. A Ordem dos Médicos, apesar de várias insistências, nunca obteve resposta concreta quanto à vontade de implementar o projecto que apresentou, tendo tido no entanto recentemente in­ dicação - por parte da Direcção-Geral de

Coopera-ção do Ministério dos Negócios Estrangeiros - de que finalmente se encontra em estudo uma tabela de regalias específicas para os licenciados em Medi-cina que se proponham desenvolver acções de coo­ peração. Se bem que considerando manifesta­ mente insuficiente a forma «simplista» como o assunto está a ser encarado - já que muito

mais importante do que as condições de remu­ neração ou outras é a preparação básica

técni-ca que deverão ter todos os Médicos que pre­ tendem trabalhar nos países africanos de ex­ pressão portuguesa - já é um dado positivo que o assunto comece pelo menos a ser venti­ lado! ...

A Ordem tornou a insistir junto do Governo para que seja implementado o projecto acima

referi const muni País, tologi tivo d bro úl do En (( mar a dicina N respo joven Carre ce ao ment do in ra o reves -den de Br G procu macio sivida Educ que Odon A actua no q favor nidas pron dade as Es cieda Dent tério. Gabi

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referido e voltou a oferecer a sua colaboração construtiva e que considera da maior importân­ cia para os os referidos países e para Portugal.

CRIAÇÃO DAS AUTODENOMINADAS

«FACULDADES DE ODONTOLOGIA»

Perante notícias publicadas nos órgãos de Co­ municação Social, acerca da eventual criação, no País, das autodenominadas « Faculdades de Odon­ tologia», o presidente do Conselho Nacional Execu­ tivo da Ordem dos Médicos enviou, em 2 de Setem­ bro último, o seguinte ofício ao secretário de Estado do Ensino Superior:

«Vem a Ordem dos Médicos mais uma vez cha­ mar a atenção do Governo para o problema da Me­ dicina Dentária em Portugal.

Neste campo está o Governo a assumir a pesada responsabilidade dos prejuízos que sofrem muitos jovens portugueses que pretendem singrar numa Carreira Universitária e que, quase seguramente, fa­ ce aos dados publicamente conhecidos neste mo­ mento, virão a encontrar-se na situacão de terem si­ do inúteis todos os seus esforços (pelo aliciamento para um «Curso Superior» (?) sem existência legal! Isto à semelhança do que com graves culpas pa­ ra o Governo, pelas hesitações e demoras de que se revestiu a sua acção - sucedeu no caso da «auto­ -denominada» Faculdade de Medicinas Alternativas, de Braga.

Grupos de pressão mais ou menos poderosos, procurando actuar com a «política de facto consu­ mado», não podem de modo algum justificar a pas­ sividade - pelo menos aparente - do Ministério da Educação no caso da criação de novas faculdades, que os seus promotores pretendem denominar de Odontologia ou de Odonto-Estomatologia.

A verdade é que tais organizações continuam a actuar com a complacência e passividade do Gover­ no que, tendo obtido pareceres unanimemente des­ favoráveis de Comissões oficiais expressamente reu­ nidas em 1983 e em 1984, não voltou a reunir - tan­ to quanto publicamente se conhece - qualquer ou­ tra Comissão Técnica que se pronunciasse sobre o assunto.

Não podemos esquecer que as entidades que se pronunciaram sobre este assunto incluíam as Facul­ dades de Medicina do País, a Ordem dos Médicos, as Escolas Superiores de Medicina Dentária, a So­ ciedade Portuguesa de Estomatologia e Medicina

Dentária e representantes «laicos» do próprio minis­ tério. Agora tudo parece passar-se no interior dos Gabinetes e sem consulta das entidades acima refe­ ridas (ou seus responsáveis) as únicas que, no en­ tender desta Ordem dos Médicos, deveriam oferecer ao Governo garantias de uma solução correcta para o problema.

O Governo conhece bem que a designação de Odontologista em Portugal não corresponde àquela que é reconhecida internacionalmente nos países de Medicina avançada, já que, conforme foi repetida­ mente referido e é do conhecimento do ministério de modo algum os odontologistas portugueses (co� mo Classe) se podem considerar de nível universitá­ rio, pois cerca de 50% dos seus membros possuem apenas a chamada instrução primária e efectuaram

igualmente, apenas, um curso de reciclagem de um ano, seguido de prova de avaliação. Se isto de mo­ do algum retira a dignidade e o direito ao trabalho a esses profissionais, também de modo algum deve permitir que, perante o público, se venda «gato por lebre».

Numa Sociedade organizada cada profissão tem os seus direitos e os seus deveres, as suas capacida­ des e os seus limites; e as populações devem ser correctamente informadas da competência genérica e das habilitações daqueles a quem vão recorrer pa­ ra a prestação de serviços. Isto é tanto mais impor­ tante quando se trata de um assunto de gravidade, como é o problema da Saúde.

Considera a Ordem dos Médicos inadmissível que a criação de novas Escolas Superiores ou Facul­ dades, no campo da saúde oral, permita deixar de inteiramente respeitar a designação de Medicina Dentária.

A Ordem dos Médicos nunca se opôs a essa cria­ ção, quer a nível privado quer oficial, desde que re­ vestida das garantias de idoneidade e segurança de ensino, a que os portugueses têm direito. O que po­ derá estar em causa é apenas a oportunidade e o nú­ mero, quanto à sua criação; isto não pode ser avalia­ do de uma forma superficial dados os encargos eco­ nómicos, sociais e humanos que acarreta e as pers­ pectivas de demografia profissional já conhecidas (sem falar já dos resultados que neste campo teriam medidas profilácticas da higiene oral e que lamenta­ velmente o Governo não tem implementado).

Conhece igualmente bem o Governo que os ac­ tuais Odontologistas portugueses têm carteira pro­ fissional passada pelo Ministério do Trabalho e são uma Classe a extinguir progressivamente (mas sem perda de quaisquer direitos) por se ter verificado existirem outras formas melhores de assegurar a as­ sistência no campo da saúde oral. Este facto teve, aliás, não só a concordância de anteriores Governos como dos próprios representantes desses profissio­ nais, ou seja, do Sindicato dos Odontologistas, co­ mo se pode confirmar pelas actas do Grupo de Tra­ balho reunido em 1978 para preparar o Curso de re­ ciclagem e a legalização dos «Odontologistas» (en­ tão marginalizados), ao que a Ordem dos Médicos deu colaboração activa.

Exposta assim a inaceitabilidade de qualquer de­ signação que não seja a de Medicina Dentária, para qualquer nova Faculdade e, nomeadamente, para aquela que neste momento está projectado ser cria­ da na Faculdade de Medicina de Coimbra, importa igualmente referir a total inaceitabilidade de que o período de escolaridade nestas novas Faculdades seja diferente do das restantes Escolas Superiores de Medicina Dentária.

Se é natural que possa haver certa flexibilidade no «contel'.1do interno» de um «Curriculum Universi­ tário», não pensamos que a carga horária global possa de modo algum ser diferente de Faculdade para Faculdade, muito especialmente num país pe­ queno como o nosso.

Se há que pôr em causa os seis anos de escolari­ dade e o curriculum geral actualmente utilizado nas Escolas Superiores de Medicina Dentária, então que tal se faca; mas não criando nova estrutura que só servirá p·ara lançar mais confusão numa situação já

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suficientemente confusa! Se haverá que reduzir o curriculum da preparação do Médico Dentista para cinco anos, que tal se faça: mas a nível nacional.

Continuar persistindo em soluções pontuais e desgarradas, sem um conceito geral e uma sólida fundamentação das acções, consideramo-lo extre­ mamente grave.

A Ordem dos Médicos apoiou a criação, no cen­ tro do País, de uma Escola de Medicina Dentária. Mas não pode de modo algum deixar de manifestar a sua total discordância quanto àquilo que neste momento se passa ao nível da Universidade de Coimbra, pese embora o respeito que nos merecem os Colegas que ali trabalham.

Esperamos assim que o Governo proceda a uma urgente reavaliação de todo este problema, corrigin­ do as distorções existentes e salvaguardando os di­ reitos dos jovens candidatos a licenciados, para o que esta Ordem dos Médicos se põe desde já à intei­ ra disposição de V. Ex.ª

Devemos também lealmente informar que a Or­ dem dos Médicos se reserva o direito de trazer a pú­ blico as posições que acima referiu.».

O ofício mereceu o seguinte esclarecimento da Direcção-Geral do Ensino Superior, o qual foi trans­ mitido por nota à Ordem dos Médicos:

- No intuito de obviar aos inconvenientes de­ correntes da publicidade veiculada através de alguns órgãos de comunicação social, designadamente, a rádio e alguma impren­ sa escrita, foi elaborada minuta de comuni­ cado público pelo adjunto Dr. Castro Souti­ nho, já publicado, destinado ao esclareci­ mento do público, em geral, para a existên­ cia de «autodenominadas faculdades», anunciando a existência de «cursos supe­ riores» e alertando, em particular, as entida­ des suas promotoras para as consequências que uma tal prática poderá vir a implicar.

2 - Por outro lado, a Portaria n. 0 609/85, de

17 de Agosto (DR, 1 Série, (188)), de

17-8-85 autoriza a Universidade de Coim­ bra, através da Faculdade de Medicina a conferir o grau de licenciado em Medicina Dentária, ministrando, em consequência, o respectivo curso.

Ora, quanto a nós, uma das preocupa­ ções mais evidentes, das várias que se reti­ ram do ofício da Ordem dos Médicos, é a sua « ... total discordância quanto àquilo que se passa ao nível da Universidade de Coim­ bra ... », assunto que não cabe na esfera de competência da IESP e, que por isso mes­ mo, deverá, em nosso entender, transitar para a Divisão Pedagógica desta Direcção­ -Geral.

3 - Quanto à existência de «grupos de press[jo, mais ou menos poderosos, procurando ac­ t u ar c o m a « p o l í t i c a d e f a c t o consumado» ... no caso d a criação d e novas

Faculdades, que os seus promotores pre­ tendem denominar de Odontologia ou de Odonto-Estomatologia», como se afirma no parágrafo 4. º do ofício n. º 1 O 752 da Ordem dos Médicos, com efeito, com a publicação do Decreto-Lei n. º 100-8/85, de 8 de Abril, surgiram dois pedidos de autorização de criação e de funcionamento de três faculda­ des de Odontologia, designadamente, pela Associação ltaquerence de Ensino, para Lisboa, e pela CESPU, Cooperativa de Ensi­ no Superior Politécnico Universitário, CRL em Lisboa e no Porto.

Uma vez que, de harmonia com o preceituado no art. º 4. º do referido diploma, na apreciação de cada processo, para além dos pareceres de entida-des, organismos ou serviços com as competências expressas, designadamente, nas áreas indicadas nas alíneas a), b) e e) do n.º 1 do referido art.0 4.0

, no

seu n. º 2 prevê-se, ainda, a nomeação de uma co­

missão de especialistas, de reconhecido mérito, n ­

área que constituía o objecto de cada curso propos

to e em que, a Ordem dos Médicos terá, por certo, assento com especialistas na área de odontologia

que, na oportunidade, poder-se-ão pronunciar sobre a validade dos planos e programas de estudo, sobre

o equipamento científico, pedagógico e técnico, so-bre a qualificação de pessoal docente para o ensino a ministrar, para além da adequação do curso ao ob­ jectivo de formação que visa atingir.

Entretanto, foi criado um grupo de trabalho para estudar o assunto, no qual a Ordem dos Médicos es­ tará representada por um colega da Estomatologia.

UM CURSO DENOMINADO

DE «REABILITAÇÃO»

Texto de um outro ofício, também dirigido pelo presidente da Ordem dos Médicos, ao secretário de

Estado do Ensino Superior:

-«Venho mais uma vez junto de V. Ex.ª falar-lhe sobre a criação no ISEF (Instituto Superior de Edu­ cacão Física de Lisboa) de um curso denominado de «R�abilitação», que sendo um Curso Universitário, permite também Doutoramento, que levaria, esta­ mos certos, a que viessem até a existir Catedráticos em Reabilitação pelo ISEF! ...

Dado que não deveremos permitir mais confu­ sões no campo dos Cuidados de Saúde, seria talvez útil que entre outras coisas, o referido Curso passas­ se a ter a designação de «Curso de Reeducação» e não «Curso de Reabilitação» (para que não se possa confundir com o campo Médico da Medicina Física e de Reabilitação, modernamente conhecido como Fisiatria).

Esperando que V. Ex.ª não deixe de dar toda a atenção a este assunto, envia cumprimentos, sem­ pre ao dispor ... ».

Medicina Livre um direito inalienável

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ORDEM DOS MÉDICOS

CONSELHO NACIONAL EXECUTIVO

COMUNICADO

A Ordem dos Médicos congratula-se com a solidariedade manifestada pelos Médicos Radiologis­ tas, - apesar das tentativas de intimidação feitas por algumas ARS, face ao não cumprimento por parte do Ministério da Saúde dos compromissos assumidos. Não pode também deixar de louvar e agradecer o civismo e a compreensão manifestados pelas principais vítimas da atitude do Ministério da Saúde - os Doentes.

As actuais acções terminarão de imediato, logo que o ministério se decida a cumprir a sua palavra.

Lisboa, 2 de Outubro de 1985.

Pelo Conselho Nacional Executivo da Ordem dos Médicos

O Presidente

ORDEM DOS MÉDICOS

SECÇÃO REGIONAL DO NORTE

C O M U N I C A D O

Os médicos especialistas de Patologia Clínica e de Anatomia Patológica reuniram com o Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos em 30 de Setembro de 1985 para analisar a decisão do ministro da Saúde Maldonado Gonelha de homologar uma Convenção entre a Direcção-Geral dos Cuidados de Saúde Primários e uma Associação Patronal sem representatividade, tendo-se deliberado o seguinte:

- Rejeitar a referida Convenção por carecer de aval da Ordem dos Médicos, mantendo os mé­ dicos, transitoriamente, o sistema de facturação dos exames laboratoriais de acordo com a ante­ rior tabela negociada com a Ordem.

2 - Exigir o reinício imediato do processo de renovação da Convenção da Ordem de forma a estar concluído até 30 de Novembro de 1985.

3 - O Conselho Regional alerta a população de que os exames laboratoriais realizados ao abrigo da recente Convenção carecem de credibilidade e idoneidade da Ordem dos Médicos, podendo constituir um perigo grave para a saúde dos utentes.

Porto, 2 de Outubro de 1985.

O

CONSELHO REGIONAL

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ORDEM DOS MÉDICOS

SECÇÃO REGIONAL DO NORTE

COMUNICAD O

O Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos vem publicamente denunciar as afirmações do Dr. Leonel Barreira da Direcção-Geral dos Cuidados de Saúde Primários, em que refere que os doentes não atendidos gratuitamente nos consultórios de Radiologia deverão dirigir-se aos Serviços de Radiolo­ gia dos Hospitais para atendimento. De facto, tais afirmações revelam uma incompetência notória para o exercício das suas funções ou manifesto desrespeito para com a dignidade humana de quem tem de re­ correr aos serviços públicos de saúde, pois, como o referido funcionário deveria saber, os Serviços de

Radiologia dos Hospitais do Estado carecem de capacidade de resposta, em termos qualitativos e quanti­ tativos, para permitirem o estudo atempado dos doentes hospitalizados, que chegam a estar meses inter­ nados a aguardarem os exames que necessitem.

O Conselho Regional apela à consciência moral do sr. ministro Maldonado Gonelha para reiniciar de imediato as negociações com a Ordem dos Médicos, a fim de se encontrar uma solução negociada para o problema da Convenção dos Radiologistas.

Porto, 2 de Outubro de 1985.

O CONSELHO REGIONAL

ORDEM DOS MÉDICOS

SECÇÃO REGIONAL DO SUL

COMUNICADO N.

0

10/85

-Os Médicos aderentes ao Acordo para Clínica geral e Especialidades, celebrado entre a Ordem dos

Médicos e os ex-S.M.S., reunidos com o Conselho Regional do Sul em 9-10-85 para analizarem as con-

a..

sequências da situação actual da Convenção, deliberaram: w,

1 - Apoiar a não avalização de qualquer acordo a ser celebrado entre a Direcção-Geral dos Cuidados

de Saúde Primários e qualquer outra entidade que não seja a Ordem dos Médicos;

2 - Exigir o cumprimento da palavra do sr. ministro da Saúde, reafirmada na presença do sr. pri­ meiro-ministro, pela qual se comprometeu a aceitar a proposta do contrato-tipo acordada entre a Ordem dos Médicos e a Direcção-Geral dos Cuidados de Saúde Primários;

3 - Exigir o reinício imediato do processo de renovação da Convenção da Ordem dos Médicos com o Ministério da Saúde de forma a estar concluída até 30 de Novembro;

4 - A partir de 4 de Novembro, cobrar directamente aos utentes a diferença entre o quantitativo actualmente processado pela Direcção Geral dos Cuidados de Saúde Primários e o constante na Tabela da Ordem dos Médicos (C=75$00 e K=90$00).

Lisboa, 9 de Outubro de 1985. O CONSELHO REGIONAL DO SUL

COMPETE À ORDEM DOS MÉDICOS LUTAR PELA DIGNIDADE DOS

MÉDICOS, PELA QUALIDADE DA MEDICINA E PELA PROMOÇÃO DA SAÚDE

(10)

-ORDEM DOS MÉDICOS

COMUNICADO N.

0

12/85

Os médicos radiologistas da Região Sul, reunidos em 15 do corrente com este Conselho Regional, ao fazerem o ponto da situação sobre o conflito suscitado com o Ministério da Saúde, deliberaram, por unânimidade, dado não ter havido qualquer alteração por parte daquela entidade, manter as decisões to­ madas na reunião de 20 do mês findo, continuando a cobrar aos utentes das A.R.S. o quantitativo pre­ visto na tabela da Ordem dos Médicos (C-75$00 e K-90$00).

Lisboa, 16 de Outubro de 1985.

O

CONSELHO REGIONAL DO SUL

ORDEM DOS MÉDICOS

CONSELHO NACIONAL EXECUTIVO

COMUNICADO

O Conselho Nacional Executivo da Ordem dos Médicos, tendo tomado conhecimento do progra­ ma de governo apresentado na Assembleia da República e no qual

1. se explicita «ser o diálogo considerado necessário e positivo»;

2. se consagra a defesa do princípio do «direito à livre escolha do médico e dos outros profissio­ nais de saúde pelos didadãos»;

3. se afirma que «se o Rstado é o garante de que os cidadãos tem acesso à saúde, nem por isso lhe cabe assegurar directamente todos os cuidados respectivos, um importante papel deven­ do pertencer à iniciativa privada»;

4. se assegura que «serão tomadas medidas que garantam o exercício livre ou em regime de Convenção, dos profissionais de saúde»;

delibera:

1 - Indicar aos médicos convencionados que retomem o regime normal de trabalho previsto

nas actuais Convenções para os beneficiários das ARS.

li - Aguardar o início de um diálogo com o novo ministro da Saúde que espera venha a permitir desbloquear situações que o bom senso e sentido de justiça já anteriormente deveriam ter solucionado.

Ili - Tomar esta atitude sem prejuízo de novas acções públicas eventulamente a decorrer da evolução desse diálogo e das posições concretas assumidas pelo Governo.

IV - Prorrogar e desenvolver uma campanha de esclarecimento junto da Classe Médica e da opi­ nião pública em relação a urna luta não só justa como também indispensável à defesa da dignidade dos médicos, à salvaguarda de uma Medicina qualificada e à defesa do direito à saúde dos cidadãos.

17 de Novembro de 1985. Pelo Conselho Nacional Executivo O PRESIDENTE

A Ordem dos Médicos é a associação profissional dos médicos,

seja qual for o seu regime de trabalho

(11)

defesa sócio-profissional

DESTACAMENTO DE MÉDICOS

AN ESTESIOLOG ISTAS

A Ordem dos Médicos protestou energicamente, junto do Ministro da Saúde, contra o facto de, em vários hospitais, se estar a proceder à requisição de médicos para tentar colmatar as insuficiências de es­ pecialistas ao nível dos hospitais distritais.

«Tal atitude - afirma-se num ofício enviado àquele membro do Governo - é manifestamente ilegal e contrária aos direitos consignados pelo Esta­ tuto do Médico, já que o destacamento apenas pode ser feito em circunstâncias de emergência e não po­ de de modo algum ser considerada como tal a inefi­ cácia dos Servicos do Estado, ao não efectuar os Concursos para· preenchimento das vagas desses Hospitais carenciados.

Assim, solicitamos de imediato a cessação des­ ses destacamentos a menos que eles se realizem por vontade expressa dos Médicos intervenientes.

A Ordem dos Médicos lamentará ter que recorrer à via judicial para a qual dará todo o apoio aos que o desejem, no sentido de impedir mais este atropelo aos direitos dos Médicos. Confiamos que tal não se­ rá necessário, esperando a rápida intervenção de V. Ex.ª no sentido de cessarem de imediato tais im­ posições arbitrárias e ilegais.

Muito agradecendo que V. Exa. não deixe de in­ formar esta Ordem da posição que assumir sobre o assunto, envia cumprimentos, sempre ao dispôr ... ».

Em resposta, o Ministério da Saúde informou, através da Direcção-Geral dos Hospitais, que «não se trata de um problema apenas de concurso», acrescentando que «sobre a referida matéria não se conhecem outros destacamentos».

RESOLVIDO MAIS UM PROBLEMA

INDIVIDUAL

Num outro ofício, também dirigido ao ministro da Saúde, a Ordem dos Médicos alertou para o caso de um médico, exercendo funções no Hospital de Santo António do Porto, em regime de tempo com­ pleto e exercendo igualmente actividades nos ex­ -SMS do distrito do Porto, desde 1-1-77, o qual «viu recusada a continuidade dessa situação por indeferi­ mento do processo de acumulação que efectuou por solicitação dos Serviços Oficiais.».

Admitindo embora que «só por deficiente infor­ mação ou esclarecimento», o Ministro terá indeferi­ do o recurso interposto, e a Ordem dos Médicos não só exigiu a reparação da anomalia como a indemni­ zação dos prejuízos consequentes sofridos pelo re­ ferido médico.

Sobre o caso, a Secretaria-Geral do Ministério elaborou o seguinte parecer, que mereceu a concor­ dância do Ministro:

«Considerando que o requerente presta serviço nos ex-S. M. S. desde 1.1. 77 e optou pela manuten­ ção do regime que tinha naqueles Serviços, parece­ -nos que, nos termos do n. º 4 do despacho do se­ cretário de Estado da Saúde de 19.1.83, publicado na li série do Diário da República n.º 34, de 10.2.83, no seu caso, haverá apenas que atender à

compati-. bilidade material dos respetivos horários, os quais, porém, não poderão exceder 54 horas semanais, conforme despacho ministerial de 26 de Abril�

último.

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E, como os horários não são imcompatíveis e a duração total do trabalho não excede aquele limite, parece-nos de atender o pedido, nesse sentido for­ mulado pela Ordem dos Médicos e pelo médico refe­ rido, de revisão do despacho ministerial de indeferi­ mento de 28-8-84».

RECIBOS MÉDICOS AOS BENEFICIÁRIOS DA ADSE

A Secção Regional do Norte da Ordem dos Mé­ dicos, através da sua secção de Medicina Dentária, enviou ao director-geral da ADSE o seguinte ofício:

«Tendo a Seccão de Medicina Dentária da

Or-dem dos Médicos tido conhecimento que estariam a ser devolvidos os recibos passados pelos Médicos Dentistas aos beneficiários da ADSE, cumpre escla­ recer V. Ex.ª que aos "Diplomados pelas Escolas de Medicina Dentária", referidos no "Diário da Repú-­

blica" - li Série, de 11-5-85, corresponde efect1va­ mente o título de "Médico Dentista".

Aliás, tal título profissional está devidamente re­ conhecido pela Ordem dos Médicos e é oficialmente atribuído pelas Portarias n.05282/75, de 6 de Junho,

e 368/76, de 15 de Março, nos respectivos artigos 5. os

Porque a atitude que tem sido tomada, recente­ mente - e o não foi em anos anteriores - acarreta prejuízos de ordem económica e moral e afecta pro­ fundamente a dignidade profissional dos Médicos Dentistas, solicita a V. Ex.ª a sua melhor compreen­ são no sentido de ser corrigido o lapso referido e mandar considerar válidos os recibos e respectivas discriminações que têm sido recusados!

Em resposta, a direcção da ADSE informou que se deveu a um lapso a devolução de alguns recibos, e que a situação foi entretanto corrigida, até porque os «Servicos da ADSE têm uma listagem de todos os formados pelas Escolas Superiores de Medicina Dentária de Lisboa e do Porto, onde é verificada a identidade destes prestadores de cuidados de saúde».

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(12)

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SEGURO DE RESPONSABILIDADE CIVIL

UAP - ORDEM DOS MÉDICOS

Foi estabelecido entre a Ordem dos Médicos e a Companhia de Seguros UAP um contrato de Segu­ ro que garanta a Responsabilidade Civil profissional dos Médicos.

Assim, a seguir se divulgam as Condições Espe­ ciais da Apólice, bem como modalidades, capitais e prémios:

CONDIÇÕES ESPECIAIS

1 - DEFINIÇÃO DA GARANTIA RESPONSABI­ LIDADE CIVIL

PROFISSÕES MÉDICAS A - Objecto da Garantia

Art. º 1. 0

- Fica garantida a responsabilidade civil em que possa incorrer o Segurado por danos Patrimoniais e não Patrimoniais causados aos seus clientes e a outros terceiros em consequência de ac­ tos ou omissões no exercício da sua profissão, por ocasião de consultas, visitas ou tratamentos, bem como os causados aos doentes em consequência de actos, omissões e erros profissionais cometidos em diagnósticos, prescrições ou aplicações terapêuticas e no decurso de tratamentos ou intervenções cirúr­ gicas.

Art. 0 2. º - A ocorrência do evento deverá pro-duzir-se durante o período de vigência do seguro.

§ único - Em caso de dúvida acerca da data do evento, será considerado, para efeitos do presente seguro, o dia em que a vítima con­ sultou pela primeira vez o médico.

Art. º 3. º - Todos os eventos devidos a uma mesma causa e derivados de um mesmo erro profis­ sional, serão considerados como um só sinistro, ao qual se aplicarão os limites por evento, indicados na

iaPólice.

W Art. º 4. 0 - O seguro produz os seus efeitos em todo o Mundo mas exclusivamente em consequên­ cia de actos ou omissões profissionais que tenham lugar em Portugal Continental e Insular, e aos quais seja apenas aplicável o Direito Interno Português.

Art. º 5. º - Fica ainda incluído no âmbito de garantia do seguro os Danos Patrimoniais e não Pa­ trimoniais causados a terceiros pelo equipamento, mobiliário e tabuleta do consultório, bem como por auxiliares do Segurado (até 2), por si remunerados, quando no desempenho das suas funções.

Entende-se por «auxiliares» o pessoal habilitado que directamente colabore com o Segurado, mas não disponha de qualificação médica.

Art. 0 6. º - Nos eventos a coberto desta apóli­ ce e sob pena de à Seguradora não poder ser exigida nenhuma responsabilidade, fica-lhe assegurado o direito de orientar e resolver sobre os pleitos que de­ les possam resultar, obrigando-se o Segurado, para este efeito, a outorgar por documento bastante os necessários poderes a quem a Companhia lhe indi­ car e a fornecer e facilitar todas as provas ou ele­ mentos ao seu alcance, que aos preditos fins pos­ sam interessar.

Art.º 7.º - FRANQUIA

A cargo do Segurado ficará uma franquia a indi­ car nas condições particulares, em todo e qualquer evento de natureza material.

B - Exclusões Particulares

Art. º 8. º - Para além das exclusões previstas no art. º 3. º das Condições Gerais, não estão com­ preendidas no seguro:

a) Os danos intencionalmente causados pelo Segurado e/ou auxiliares;

b) Os danos causados ao cônjuge, ascendentes, descendentes e adaptados do Segurado, aos seus associados numa actividade profissional comum, aos seus colaboradores e auxiliares;

e) Os danos resultantes do exercício de activi­ dade profissional para a qual o Segurado ou os seus auxiliares não tenham a devida autori­ zação legal;

d) Os danos abrangidos por Responsabilidade Civil - Produtos, designadamente os resul­ tantes de utilização de medicamentos adulte­ rados;

e) Os danos resultantes de transplantações de órgãos e/ou enxertos, que não sejam os do próprio doente;

f) Multas ou outros pagamentos derivados ex­ clusivamente da responsabilidade criminal; g) Os danos resultantes de experiência medica­

mentosa e/ou operatória.

C - Extensão da Garantia de Defesa e Recurso

Art. º 9. º - Em virtude desta garantia, a Com­ panhia compromete-se:

1. º - A assumir perante os Tribunais Criminais a defesa da Pessoa segura no caso desta ser inculpada, a pedido do Ministério Pú­ blico, ou de Terceiro, em consequência de um dano abrangido pela presente apó­ lice;

2. º A promover e a tomar a seu cargo as des­ pesas inerentes ao recurso contra o res­ ponsável, amigavelmente e, na impossibi­ lidade disso, judicialmente no caso de uma Pessoa Segura sofrer um prejuízo originado por um Terceiro, prejuízo esse que teria sido coberto pela presente apóli­ ce se o dano tivesse sido causado pela própria pessoa segura.

O Segurado não poderá tomar a iniciativa do recurso sem o acordo prévio da Com­ panhia. Em caso de desacordo sobre a oportunidade de intentar um processo ju­ dicial, ou de transigir, aplicar-se-ão as normas de arbitragem previstas no ar­ tigo 9.

(13)

MODALIDADES, CAPITAIS E PRÉMIOS: a) Com carácter optativo, estabelecem-se os

montantes de garantias e prémios seguintes: Danos corporais, até 2000, 5000, 10 000 e 15 000 contos;

Danos materiais, até 1000, 1500, 2000 e 3000 contos;

Defesa e recurso, até 75, 100, 150 e 200 contos;

- Prémio liquidado: 2000, 3000, 4000 e 5000 escudos;

Prémio total: 2544, 3816, 5088 e 6360 escudos; - Custo da apólice (só no primeiro ano)

- 106$00.

b) Os capitais indicados são por acontecimento e por anuidade de seguro;

e) A franquia base em sinistros de danos mate­ riais, qualquer que seja a modalidade escolhida, é de Esc. 10

000$00,

por sinistro.

SITUACÃO DOS JOVENS

, MÉDICOS

«Os médicos licenciados em 1983 concluíram o período de formação do Internato Geral em 31 de Julho de 1985 com a duração de dezoito meses, conforme estipulado na Portaria 1223/82. De acordo com a mesma Portaria, o período desde de Julho de 1985 até Janeiro de 1986 é destinado à realização de concursos de acessos às carreiras médicas.

.

·-op1n1ao

Devido ao não cumprimento da Legislação, a si­ tuação é de total impasse para os referidos médicos e surgem informações vinculadas pelos responsá­ veis do Ministério, de que a partir de Janeiro de 1986, esses médicos serão desvinculados da Função

Pública sem qualquer alternativa.

O conjunto dos médicos que pretende agora lan­ çar no desemprego, sofreram já a selecção imposta pelo Numerus Clausus e não se compreende que num país onde a saúde continua a ser monopolizada pelo Estado, estes jovens médicos sejam abandona­ dos sem qualquer alternativa viável.

A situação da saúde no País, os custos de forma­ ção e as expectativas criadas, exigem que o Gover­ no dê garantias de trabalho a esses jovens médicos. Com essa finalidade, o Conselho Nacional Executivo propõe:

1.

º -

Que o Governo garanta a continuidade em funções a todos os médicos até à realização de concurso de acesso às carreiras médicas.

2.

º -

A criação de um sistema de saúde aberto que permita aos médicos que não encontrem lugar­ nas carreiras do Estado, exercer a sua profissão com dignidade.

3.

º -

Na ausência de criação de um tal sistema, solicitar a criação de vagas para todos os colegas formados.

O Conselho Nacional Executivo espera de V. EX.ª todo o interesse pela resolução deste assunto, mantendo-se como sempre à inteira disposição para dialogar sobre qualquer dúvida que esta problemáti­ ca venha a suscitar.»

ABORTO - ATENTADO A VIDA

por Agostinho de Almeida Santos

A problemática do aborto é tão antiga como a própria Humanidade. Filósofos da antiguidade dedicaram-lhe imensas reflexões e já Aristóteles, na sua obra "Política", concede certas conside­ rações ao tema, condenando a prática abortiva que rotula de acto criminoso. Também no célebre juramento hipocrático é vedada aos médicos a utilização dos métodos que conduzem ao aborto. Desde esses tempos remotos muitas discussões se têm gerado à volta do problema. Nos nossos dias, porém, factores diversos - biológicos, demográficos, socio-económicos, políticos e teológicos - têm tornado a questão motivo de acesas controvérsias.

Os movimentos chamados de libertação da mulher e alguns outros vêm pugnando pela lega­ lização, liberalização ou despenalização do aborto segundo tácticas bem codificadas e hoje co­ nhecidas e até desmitificadas. Entre nós, campanhas mais ou menos orquestradas têm trazido à opinião pública as mais desconcertantes ideias sobre o problema, por vezes de forma pouco esclare­ cida e na maior parte dos casos eivadas de paixão ou fervor que pouco tem a ver com a complexa, difícil e intricada problemática que está subjacente à questão do abortamento provocado.

Porque as posições se extremam e da confusão dificilmente nasce a luz, é necessária uma me­ ditação séria e uma análise profunda das implicações resultantes da prática do aborto. Tais razões levam a que se encare o assunto sob diversos prismas, embora sucintamente, para que na mente de cada um se possa estabelecer, de forma mais profunda, uma posição crítica e uma linha de orienta­ ção coerente. n t p n à V d o T p li g d d p g s d te

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(14)

A SOCIEDADE ACTUAL E O ABORTO

Apesar de grande percentagem de mulheres não recorrer ao aborto, existe o sentimento de que tal prática é relativamente frequente. No nosso país, embora os números exactos não sejam co­ nhecidos, nem com aproximação, há quem estime à volta de 100 000 o número de abortamentos pro­ vocados em cada ano, o que se presume exagera­ do, tendo em conta as estatísticas provenientes de outros países e feitas as respectivas comparações. Também a mortalidade em consequência da práti­ ca abortiva clandestina tem sido objecto de espe­ culações da mais variada índole. Existem, no en­ tanto, números oficiais fornecidos pelo Instituto Nacional de Estatística que cifram o número de mortes como consequência de aborto em 15, 20, 12, 13 e 10 respectivamente no decurso dos anos de 1971, 1972, 1973, 1974 e 1975, o que poderá, eventualmente, também não corresponder à reali­ dade, por somente fazer referência aos casos ofi-ialmente relatados. Entre o excesso e o defeito si­ uar-se-á provavelmente a autenticidade que não deixa, contudo, de se revestir de dramatismo.

Sejam quais forem os números reais, que conti­ nuarão desconhecidos, crê-se que a taxa de natali­ dade seja superior à de abortamentos, pelo que se poderá deduzir que a maioria das mulheres rejeita liminarmente o aborto como solução para a sua gravidez e respeita, por isso, a vida que traz dentro de si.

Tal não significa que a prática abortiva não seja defendida acerrimamente por algumas correntes de pensamento e por certos grupos de cidadãos. Che­ ga-se mesmo ao ponto de afirmar que a mulher é senhora absoluta do seu corpo e que o "pedaço

de carne" incluído na sua matriz é pertença sua,

pelo que pode conservá-lo ou extirpá-lo conforme deseje, da mesma forma que decide do destino de um pólipo ou de um mioma.É por demais evidente que esta posição tem de ser basicamente rejeitada, pois não pode reduzir-se a um simples aglomerado -e tecidos uma estrutura cujo coração pulsa entre - 18. 0 e o 24. 0 dias após a sua formação biológica

e na qual são detectáveis ondas cerebrais de activi­ dade nervosa decorridos apenas 43 dias sobre a fe­ cundação. Para além disso, é hoje facto assente que a partir das doze semanas de desenvolvimento embrionário o novo organismo pode considerar-se já como uma estrutura total onde apenas se vai ve­ rificar, depois, um crescimento e uma maturacão. Não havendo, portanto, uma variação quantitativa durante mais de dois terços de gestação, a circuns­ tância de se reconhecer o direito de liquidar um feto poderia levar ao reconhecimento, por uma mera questão analógica, do direito dos pais à destruição da vida dos filhos recém-nascidos, se eventualmen­ te surgissem motivações consideradas atendíveis. Se se considerar o feto pertença total da mãe que o alberga no seu ventre, abstraindo mesmo da parte que hereditariamente é pertença do pai, poderá che­ gar-se ao ponto de considerar o filho, após o nasci­ mento, exclusivamente dependente da mãe que de­ le poderia dispor de forma absoluta. E nesta lógica de pensamento, nem à sociedade, nem ao pai, nem sequer ao novo ser se outorgariam quaisquer

direi-tos, podendo mesmo o infanticídio vir a ser também tolerado, se não mesmo despenalizado ou legali­ zado.

Há, portanto, e desde já, que estabelecer uma diferença biológica fundamental entre o feto e uma outra formação orgânica. E no ponto de vista socio­ lógico é necessário não estabelecer confusões e pa­ ralelismos precipitados que permitiriam conclusões aparentemente lógicas mas profundamente aberran­ tes.

A Sociedade, se se quiser reconhecer civilizada, tem de se considerar, assim, o aborto como um acto pelo menos atentório da vida de um novo ser indefe­ so e admitir que, sejam quais forem as razões invo­ cadas para a sua prática, não pode deixar de se rotu­ lar, pelo menos, como um acto ilícito. É evidente que diversos argumentos podem ser invocados para justificar certos casos de aborto, realçando situa­ ções dramáticas que, no mínimo, se afiguram dig­ nas de consideração. Mas o que não é possível é transformar em lícito um processo intrinsecamente eivado de ilicitude. Nem a fome, nem as condições sociais podem servir de argumentos de peso a favor das práticas abortivas, pois se assim fosse não seria concebível que elas estivessem tão expandidas nos países superdesenvolvidos.

Também a pura presunção de malformações físi­ cas mais ou membros graves no feto não pode ser advogada, pois, além de não passar muitas vezes de mera probabilidade, resultante de investigações complexas e nem sempre fidedignas, uma actuação deste tipo condenaria grande número de seres per­ feitamente normais ou poderia privar a própria so­ ciedade de deformados como Beethoven ou de ce­ gos surdos e mudos como Helen Keller.

Para além da salvaguarda do princípio da própria vida, o que poderia também ser muito grave para a própria comunidade seria a tentação de certos siste­ mas procurarem na banalização do aborto o meio fá­ cil de resolver problemas demográficos, sociais ou eugénicos. Assim, através de uma solução simplista e eficaz, não haveria a responsabilidade de encon­ trar fórmulas bem mais difíceis para a solução de problemas resultantes da necessidade de melhores condições de vida e de reformulação dos critérios de vivência comunitária. E num campo mais restrito, a visão irresponsável do problema pode constituir pa­ ra os pais a maneira cómoda de se desembaraçarem de um filho que poderá vir a constituir um impedi­ mento ao gozo da vida ou um obstáculo ao desejado bem-estar quotidiano. O egoísmo feroz subjacente atais soluções, que subalterniza a procura de outros caminhos mais árduos, mas seguramente mais com­ pensadores, resulta muitas vezes num sentimento de culpa que se tenta atenuar pela rotulação legal de um acto formalmente condenável.

A não condenação do aborto pela sociedade tor­ naria certamente menos penosa a culpabilidade e re­ dundaria na procura sistemática da via menos espi­ nhosa que não é, em tais casos, a mais satisfatória. Tornar-se-ia, desta forma, o aborto como simples concretizacão de um direito intrínseco e destituído de quaisq�er consequências sociológicas. E aos seus promotores não caberia outra sanção social do que aquela que é imputada aos membros de um pe­ lotão de fuzilamento que, uma vez terminada a sua

(15)

tarefa, são reconhecidos como cidadãos que aca­ bam de cumprir apenas um dever, na base de um

exercício que lhes

é

outorgado.

Poderão a sociedade, os estados ou os legislado­ res deixar de condenar o aborto porque fenómeno social irreversível. Mas parece que mal irão a socie­ dade, os estados ou os próprios legisladores se não condenarem a droga, o roubo, a prostituição ou a violência convencidos de que tais realidades não deixam de existir pelo facto simples de serem alvo de punição como relatiamente a todas situações não é, efectivamente, a punição que as debela, embora não deixe de actuar como mecanismo profiláctico importante, parece necessário incentivar o respeito intransigente pela vida humana e procurar os meios de revigorar a família enquanto célula basi­ lar da sociedade, criando melhores condições de vi­ da e evitando a procura de meios fáceis de destrui­ ção. Torna-se, pois, fundamental incentivar a cons­ ciencialização pessoal dignificante e defender, à in­ transigência, os verdadeiros direitos humanos. Não

é com o sacrifício dos indivíduos a outros valores,

sejam eles quais forem, que a humanidade vai en­ contrar a força para suplantar as vicissitudes do pre­ sente e encarar as difíceis perspectivas do futuro.

O ABORTAMENTO NO PONTO DE VISTA MÉDICO E LEGAL

Nalguns países o aborto

é

permitido, face à lei civil, sejam quais forem as circunstâncias em que for solicitado. Noutros, porém, a legislação autoriza apenas em certas circunstâncias o abortamento, restringindo-o de acordo com o tempo de gestação e limitando a sua prática a situações concretas e em particular àquelas em que a saúde da mãe possa ser afectada pela prossecução da gravidez - o chama­ do abortamento terapêutico. Num terceiro grupo de países nenhuma forma da chamada interrupção vo­ luntária de gravidez é consentida pela lei.

Porque a actual legislação portuguesa contem­ pla apenas alguns casos concretos de abortamento provocado que deixaram de ser penalizados, referir­ -nos-emos somente a esta faceta do problema. É evi­ dente que em certas situações extremas e relativa­ mente raras o aborto dito terapêutico não deverá ser um acto ilícito, quer do ponto de vista legal, quer no conceito deontológico, quer até na implicação mo­ ral. Perante um caso em que a manutenção da gravi­ dez vai acarretar necessariamente a morte da mãe com a inevitável morte do feto, poderá sacrificar-se a vida deste na tentativa de salvar a vida da mãe, pois se assim não se proceder resultará a morte de ambos. A dificuldade reside apenas em poder afirmar as anteriores premissas, sendo portanto de apreciar tais situações num contexto de grande se­ riedade e recorrendo ao veredicto de mais do que mais de um especialista de reconhecida idoneidade.

O que anteriormente se postula não pode, po­ rém, transpor-se para os casos em que se trata ape­ nas de um risco de saúde para a mãe. É que se assim for poder-se-á cair na permissividade quase total pa­ ra as indicações médicas do aborto. De facto, a defi­ nição de saúde proposta pela Organização Mundial de Saúde pressupõe o estado de completo bem-es­ tar físico, mental e social do indivíduo. Nesta pers-14

pectiva é fácil e "estimulante" o alargamento das in­ dicações do aborto terapêutico com a finalidade de preservar a saúde da mãe. Compreende-se, pois, como uma legislação pouco precisa e mal funda­ mentada pode ser muito permissiva, tornando quase sempre terapêutico todo e qualquer aborto solicita­ do. Mesmo alguns estratagemas que os legisladores possam introduzir nos textos legais para obviar a que tais exageros redundem em meros fracassos. Aponta-se, apenas como exemplo, que no Estado da Califórnia foram praticados, em 1970, cerca de 63 mil abortos legais, tendo 98% sido justificados por motivo de doença mental da mãe. Eis o resultado ri­ dículo de uma situação a que não se poderá fugir. Eis o resultado ridículo de uma situação a que não se poderá fugir quando a finalidade

é

apenas camuflar a liberalização do aborto.

Também as malformações previsíveis do feto são outra das situações em que a prática abortiva é permitida face a certas legislações. Mas também aqui e em muitos casos a malformação ou deformi­ dade fetal não passa de presumível, na medida em que os parcos meios de detecção além de sofistica­ dos e ao alcance de um número limitadíssimo de centros ultra-especializados só são verdadeiramente concludentes em casos raros e sempre numa etapa da gravidez em que a legislação já não autoriza o aborto legal ou o restringe substancialmente. E as­ sim se assiste.ou à prática do aborto clandestino tar­ dio ou à sua realização legal antes de ser possível um diagnóstico exacto e, portanto, na base de uma me­ ra presunção a maior parte das vezes falaciosa e as­ sim executória de um ser perfeitamente normal.

E se ao menos tais legislações camufladamente exigentes mas concretamente permissivas tivessem conseguido uma diminuição da prática clandestina de abortos em condições ultraprecárias, poder-se-ia considerar o facto como uma atenuante. Mas a ver­ dade é que na maioria dos casos só se tem conse­ guido aumentar o número total de abortos, na medida em que a execução dos mesmos fora dos centros le­ galmente autorizados mantém-se nos níveis anteriores aos verificados antes da promulgação das leis regu­ ladoras. Neste sentido, é eloquente o estudo efec tuado por analistas da clínica Mayo que reuniram 22 relatórios provenientes de 10 países diferentes nos quais houve legalização do aborto. Por efeito das novas legislações não se verificou qualquer modifi­ cação nas taxas de abortamento clandestinos em 8 desses países. Nos restantes dois países a taxa au­ mentou mesmo após a legalização da prática aborti­ va. A explicação deste fenómeno, teoricamente inesperado, parece residir no desejo de restringir ao máximo o círculo de conhecimento de um acto cuja formalização se torna penosa, sejam quais forem as circunstâncias e de, simultaneamente, se despenali­ zar um procedimento que assim se procura banali­ zar.

É de admitir ainda que à medida que as facilidades forem sendo cada vez maiores, as indicações venham também a ser paralelamente alargadas. Assim se poderá cair na tentação das práticas abortivas de ín­ dole eugénica, judicial, social ou até puramente con­ traceptiva, o que, como se compreende, resulta sem­ pre e cada vez mais numa total desprotecção do feto e, até, consequentemente, do próprio ser humano.

A

Referências

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