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No Brasil, uma condição essencial para a execução

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Academic year: 2021

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Os laudos periciais contábeis e sua

adequação à norma técnica: estudo

exploratório no âmbito judicial em

Juazeiro (BA) e Petrolina (PE)

Luciano Santos da Gama

Bacharel em Ciências Contábeis pela Faculda-de Faculda-de Ciências Aplicadas e Sociais Faculda-de Petrolina (Facape), MBA em Contabilidade Pública e Res-ponsabilidade Fiscal pelo Centro Universitário Internacional (Uninter).

lucianogama9@hotmail.com lucianogama9@gmail.com luciano.gama@ifsertao-pe.edu.br

Ricardo Ferreira da Costa

Bacharel em Ciências Contábeis pela Universi-dade Federal de Pernambuco (UFPE), MBA em Finanças Empresariais pela Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-RJ) e doutorando em Contabilidade pela Universidade do Minho - Universidade de Aveiro – Portugal. É professor da Faculdade de Ciências Aplicadas e Sociais de Petrolina (Facape).

ricardo.costa@facape.br ricardofcosta@ua.pt

João Carlos Hipólito Bernardes do Nascimento

Bacharel em Ciências Contábeis pela Faculdade de Ciências Aplicadas e Sociais de Petrolina (Fa-cape), mestre em Ciências Contábeis pelo Ins-tituto Capixaba de Pesquisa em Contabilidade, Economia e Finanças (Fucape) e doutorando em Ciências Contábeis pela Universidade Fede-ral do Rio de Janeiro (UFRJ). Atua como pro-fessor da Universidade Federal do Piauí (UFPI). joaohipolito@ufrj.br

joaohipolito@ufpi.edu.br jchbn1@gmail.com

Agnaldo Batista da Silva

Contador, administrador, mestre em Economia e doutorando em Contabilidade pela Universi-dade do Minho - UniversiUniversi-dade de Aveiro – Por-tugal. Atua como professor da Faculdade de Ci-ências Aplicadas e Sociais de Petrolina (Facape). agnaldo.batista@facape.br

agnaldopetrolina@gmail.com absilva@ua.pt

N

o Brasil, uma condição essencial para a execução

dos trabalhos de perícia contábil é a observância

das normas técnicas do Conselho Federal de

Contabilidade (CFC), especialmente os preceitos normativos

acerca dos aspectos e características intrínsecas do laudo

pericial contábil. Nesse sentido, o presente estudo teve como

objetivo verificar se os laudos periciais contábeis emitidos

pela Justiça Federal, em Juazeiro (BA), e pela Justiça do

Trabalho, em Petrolina (PE), atendem à normatização técnica

da perícia contábil. Dessa forma, foram analisados seis laudos

contábeis na vara única federal em Juazeiro e cinco laudos

na 1ª e 2ª varas trabalhistas de Petrolina. Adicionalmente,

compararam-se os laudos das duas esferas, a fim de verificar

sua correspondência com a norma técnica. Como resultado,

notou-se a existência de inconsistências relacionadas à não

evidenciação da metodologia aplicada e à não identificação

das diligências realizadas. Foram notados, ainda, indícios de

que, na Justiça Federal, há ausência da síntese do objeto da

perícia e da conclusão do perito e, na Justiça do Trabalho, a

categoria profissional e o n.º de registro no Conselho Regional

de Contabilidade não foram adequadamente evidenciados nos

laudos periciais contábeis.

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1. Introdução

A perícia contábil, como uma das especialidades da Contabilida-de, exige do profissional conheci-mento técnico sobre a matéria e, sobretudo, o resultado do seu tra-balho deve ser bem fundamentado, de modo que possa ser útil à deci-são judicial.

Para Alberto (2012, p.35), a pe-rícia contábil é “um instrumento técnico-científico de constatação, prova ou demonstração quanto à veracidade de situações, coisas ou fatos oriundos das relações, efeitos e haveres que fluem do patrimônio de quaisquer entidades”.

No Brasil, para a realização dos trabalhos de perícia contábil, devem ser observadas as normas editadas pelo Conselho Federal de Contabili-dade (CFC). Essas normas devem ser obedecidas pelo contador na fun-ção de perito do juízo ou das partes e dividem-se em normas técnicas, a serem observadas pelo perito contá-bil na execução de seus trabalhos; e normas profissionais, aplicáveis ao contador na função de perito.

Sendo assim, uma condição es-sencial para a realização dos traba-lhos de perícia contábil é a obser-vância das normas brasileiras de contabilidade, especialmente os preceitos normativos acerca dos aspectos e características intrínse-cas na elaboração do laudo pericial contábil.

De acordo com Sá (2011, p. 42), o laudo pericial contábil “é o julgamento ou o

pronun-ciamento baseado nos conhecimentos que tem o

profissio-nal da con- tabili-

da-de e em face da-de eventos ou fatos que são submetidos a sua aprecia-ção”. Para Ornelas (2000, p. 87), “é a materialização do trabalho de-senvolvido pelo perito e é a própria prova pericial”.

Portanto, o laudo pericial con-tábil deve conter determinados as-pectos e características próprias que o fundamentem e, principal-mente, que respeitem a estrutura prevista nas normas brasileiras da perícia contábil.

Segundo as normas brasileiras de contabilidade aplicadas à perí-cia, conforme o CFC (2009, p. 11), o laudo pericial contábil “[...] não deve conter documentos, coisas e/ ou informações que conduzam à duvidosa interpretação, para que não induza os julgadores e interes-sados a erro”. Assim, essas normas são consideradas como um referen-cial para o perito-contador e, por-tanto, torna-se relevante analisar o conteúdo dos laudos periciais con-tábeis emitidos em relação às nor-mas brasileiras de contabilidade aplicadas à perícia contábil.

Dentro desse contexto, o obje-tivo deste trabalho é verificar se os laudos periciais contábeis emitidos pela Justiça do Trabalho, em Petro-lina (PE), e na Justiça Federal, em Juazeiro (BA), atendem às Normas Brasileiras de Contabilidade aplica-das à perícia contábil.

A análise se concentrou nos lau-dos periciais contábeis emitilau-dos no período de 2010 a 2013, tendo em vista que a Norma Técnica Brasilei-ra da Perícia Contábil emitida em 2009 somente teve vigência a partir de janeiro de 2010.

O presente estudo tem por mo-tivação a possibilidade de incre-mentar as pesquisas dessa nature-za em outro contexto e a realidade judicial, diferentemente dos estu-dos mais recentes realizaestu-dos que se

concentram exclusivamente nas varas judiciais das capitais.

Ademais, os resultados

desse estudo podem ser utilizados pelos organismos profissionais de contabilidade, a fim de estimular o aprimoramento técnico e a educa-ção continuada dos peritos contá-beis filiados.

O presente artigo está estrutu-rado, além desta introdução, em quatro seções. Inicialmente, é apre-sentada a fundamentação teórica, com ênfase nos estudos anteriores acerca do laudo pericial contábil e das normas brasileiras de contabili-dade da perícia contábil e seu histó-rico. Na segunda seção, apresenta-mos a metodologia adotada para o estudo. A terceira seção contempla a análise descritiva dos laudos peri-ciais contábeis analisados na Justiça Federal, em Juazeiro (BA), e na Jus-tiça do Trabalho, em Petrolina (PE). Por fim, a quarta e última seção evidencia as conclusões do estudo, suas limitações e pistas para a con-dução de pesquisas futuras.

2. Fundamentação Teórica

2.1 Estudos anteriores sobre

perícia contábil

Como parte da fundamenta-ção da decisão judicial, pressupõe-se que os laudos periciais contábeis sejam elaborados em consonância com as normas técnicas da perícia contábil. Estudos recentes demons-tram que os laudos periciais anali-sados em algumas esferas judiciais atenderam, em parte, à norma téc-nica vigente.

Alguns desses estudos anterio-res, que constam no Quadro 1, ti-veram como objetivo verificar o conteúdo dos laudos periciais con-tábeis emitidos em relação às Nor-mas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas à Perícia Contábil, dentro de contextos e realidades judiciais diferentes do presente estudo, que focaliza-se no âmbito judicial de duas cidades fora das capitais dos respectivos estados.

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Como se pode observar no Qua-dro 1, foram encontrados poucos estudos exploratórios recentes com abordagem dirigida aos laudos pe-riciais contábeis, o que pode estar relacionado com a dificuldade de acesso à documentação processual no âmbito judicial.

2.2 Normatização da perícia

contábil

A partir de 1992, o CFC vem es-tabelecendo critérios a serem ado-tados para os trabalhos de perícia contábil, por meio da emissão das Normas Brasileiras de Contabilida-de. As referidas normas

profissio-nais e técnicas aplicadas à perícia contábil vêm sendo atualizadas e aprimoradas e, em 2009, foram aglutinadas em apenas duas nor-mas gerais, com o objetivo de con-solidar a normatização anterior. No Quadro 2, é apresentado um bre-ve histórico das normas técnicas da perícia contábil.

Conforme evidenciado no Qua-dro 2, o CFC, por meio da Resolu-ção n.º 1.243/2009, aprovou a NBC TP – 01 Perícia Contábil, a qual pas-sou a vigorar em 1º de janeiro de 2010, revogando todas as reso-luções anteriores, o que significa que, a partir dessa data, o

perito-contador deverá utilizar como re-ferencial dos seus trabalhos as de-terminações constantes nessa nova normatização.

A partir da norma NBC TP – 01 Perícia Contábil, o CFC estabeleceu

[…] procedimentos técnico-cientí-ficos a serem observados pelo peri-to, quando da elaboração de perícia contábil, no âmbito judicial, extra-judicial, inclusive arbitral, mediante o esclarecimento dos aspectos e dos fatos do litígio por meio de exame, vistoria, indagação, investigação, ar-bitramento, avaliação, ou certifica-ção. (CFC, 2009, p. 3).

Quadro 1 – Resumo das recentes pesquisas sobre perícia contábil

Tipo de

estudo Autor/Ano Título Principais conclusões

Es tudo exp lo ra tó rio Cordeiro (2013)

Aderência dos laudos periciais contábeis da Justiça Federal em Goiânia (GO) à Resolução CFC n.º 1.243 de 2009, nos anos de 2010 a 2012.

Analisou onze laudos periciais contábeis envolvendo sistema financeiro de habitação, em dezesseis varas da Justiça Federal em Goiânia (GO), com relação à estrutura definida pela Resolução CFC n.° 1.243 de 2009. Os resultados obtidos demonstraram que os laudos seguem parcialmente a estrutura exigida pela referida resolução. Cestare,

Peleias e Ornelas (2007)

O laudo pericial contábil e sua adequação às normas do CFC e à doutrina: um estudo exploratório.

Analisaram dez laudos periciais contábeis nas doze varas de execuções fiscais, da Justiça Federal em São Paulo (SP). Os resultados demonstraram que não havia divergências expressivas entre os laudos periciais contábeis emitidos e as normas do CFC. Martins e

Ornelas (2007)

Aderência de laudos contábeis às normas técnicas do CFC, produzidos em processos envolvendo cartões de crédito, falência e sistema financeiro de habitação.

Avaliaram dez laudos periciais contábeis, de cada assunto, emitidos nas varas cíveis judiciais da Comarca de Natal (RN), em relação às normas periciais emanadas do CFC. Os resultados obtidos demonstraram que houve um grau de aderência satisfatório no atendimento às normas técnicas do CFC.

Fonte: elaborado pelo autor.

Quadro 2 – Histórico das normas técnicas da perícia contábil

Resolução CFC Norma Descrição

731/1992 NBC T 13 Perícia Contábil Primeira norma a tratar de perícia contábil, tratando apenas de aspectos gerais como: objetivo, planejamento e execução, procedimentos e laudo pericial. 858/1999 NBC T 13 Perícia Contábil Revogou a norma anterior, reformulando-a.

938/2002 NBC T 13 - IT 1 Termo de Diligência Esta Interpretação Técnica (IT) visa explicitar o item 13.3.4 da Resolução CFC n.º 858/1999 e estabelecer um modelo do termo de diligência. 939/2002 NBC T 13 - IT 2 Laudo e Parecer de Leigos Interpretação Técnica (IT) com o objetivo de explicar o item 13.4.2.2 da Resolução CFC n.º 858/1999, que trata dos procedimentos. 940/2002 NBC T 13 - IT 3 Assinatura em Conjunto O objetivo dessa Interpretação técnica (IT) foi abordar o item 13.4.2.3 da Resolução CFC n.º 858/1999, que também correspondente aos procedimentos. 978/2003 NBC T 13 - IT 4 Laudo Pericial Contábil Essa Interpretação Técnica (IT) visa explicitar o item 13.5.1 da Resolução CFC n.º 858/1999 acerca do conceito de laudo pericial contábil e, além de outros aspectos, estabeleceu a estrutura

mínima do laudo pericial contábil.

985/2003 NBC T 13.7 - Parecer Pericial Contábil Essa norma alterou a Resolução CFC n.º 858/1999, determinando o conceito, a estrutura e os procedimentos para a elaboração e a apresentação do parecer pericial contábil. 1.021/2005 NBC T 13.2 - Planejamento da Perícia Norma que estabelece os procedimentos a serem aplicados pelo perito-contador no planejamento da perícia, alterando a Resolução CFC n.º 858/1999.

1.041/2005 NBC T 13.2 - Laudo Pericial Contábil Revogou a Resolução CFC n.º 978/2003 e alterou a Resolução CFC n.º 858/1999, acrescentando, entre outros itens, o que trata do laudo e parecer de leigo ou profissional não habilitado. 1.243/09 NBC TP 01 - Perícia Contábil Norma em vigor, responsável por revogar todas as outras, consolidando todos os assuntos de cada norma em apenas uma.

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Entre outros aspectos aborda-dos, essa nova normatização prevê a estrutura mínima que deve ser ob-servada na elaboração e apresenta-ção dos laudos periciais contábeis. Nesse aspecto, Magalhães et al. (2001, p. 40) afirmam:

A apresentação do laudo pericial é fator de grande importância, pois, mesmo que o perito tenha realiza-do um excelente trabalho técnico ou científico, se não o apresentar de ma-neira adequada e com boa estética, isento de erros, rasuras e rabiscos, a receptividade por parte do juiz e das partes (advogados) pode ser afetada.

No presente estudo, a referida normatização foi utilizada para veri-ficar sua observância pelos peritos-contadores vinculados à Justiça Fe-deral, em Juazeiro (BA), e à Justiça do Trabalho, em Petrolina (PE).

Relativamente ao laudo pericial contábil, a norma NBC TP 01 do CFC prevê que o laudo pericial contábil e o parecer pericial contábil devem conter, no mínimo, os seguintes itens:

a) identificação do processo e das partes;

b) síntese do objeto da perícia; c) metodologia adotada para os

tra-balhos periciais;

d) identificação das diligências re-alizadas;

e) transcrição e resposta aos quesi-tos: para o laudo pericial contábil; f) transcrição e resposta aos quesi-tos: para o parecer pericial con-tábil, onde houver divergência, transcrição dos quesitos, respos-tas formuladas pelo perito-conta-dor e as respostas e comentários do perito-contador assistente; g) conclusão;

h) anexos; i) apêndices;

j) assinatura do perito: fará cons-tar sua categoria profissional de contador e o seu número de re-gistro em Conselho Regional de Contabilidade, comprovada me-diante Declaração de Habilitação Profissional (DHP). É permitida a utilização da certificação di-gital, em consonância com a le-gislação vigente e as normas es-tabelecidas pela infraestrutura de Chaves Públicas Brasileiras - ICP-Brasil. (CFC, 2009, p. 14).

Concluída a apresentação do ar-cabouço conceitual que suportou o desenvolvimento do presente estu-do, a seguir, são apresentados os procedimentos metodológicos ado-tados para a obtenção e posterior análise descritiva dos dados.

3. Metodologia

O objetivo de se realizar uma pesquisa é encontrar respostas para os problemas formulados (BEUREN, 2008; SEVERINO, 2007). Assim, diante da problemática esta-belecida e considerando seus obje-tivos, a pesquisa classifica-se como descritiva.

Quanto aos procedimentos, po-de-se enquadrar o estudo como uma pesquisa documental, tendo como base os laudos periciais con-tábeis emitidos nos processos judi-ciais da Justiça Federal em Juazei-ro (BA) e da Justiça do Trabalho em Petrolina (PE). Para Severino (2007), a pesquisa documental tem como fonte documentos, cujo conteúdo ainda não teve nenhum tratamento analítico, constituindo-se na maté-ria-prima a partir da qual o pesqui-sador vai desenvolver sua investiga-ção e análise.

De abordagem qualitativa, o es-tudo contém uma análise descriti-va dos resultados. De acordo com Beuren (2008), todos os estudos que envolvem análise descritiva se preocupam, fundamentalmente, em investigar as características de um determinado fenômeno.

A coleta dos dados foi realiza-da na vara única realiza-da Justiça

Fede-“

No Brasil, para a realização dos trabalhos de perícia

contábil, devem ser observadas as normas editadas

pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC).

Essas normas devem ser obedecidas pelo contador na

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ral Subseção Judiciária de Juazeiro (BA), e 1ª e 2ª varas da Justiça do Trabalho de Petrolina (PE). Tendo em vista que o procedimento con-siste na análise dos laudos periciais com a norma técnica de perícia con-tábil vigente, a investigação foi di-recionada para os laudos periciais contábeis dos anos de 2010 a 2013, já que a norma NBC TP 01 somente foi emitida em 2009, com vigência a partir de janeiro de 2010.

A escolha por essas duas esferas judiciais, em Petrolina (PE) e em Jua-zeiro (BA), deve-se principalmente pela necessidade de se analisarem os laudos periciais contábeis emiti-dos em contexto judicial diferente dos estudos anteriores, que foca-lizaram-se somente nas varas judi-ciais das capitais.

Desse modo, foram examina-dos seis lauexamina-dos periciais contábeis na Justiça Federal, em Juazeiro (BA), e cinco laudos na Justiça do Traba-lho, em Petrolina (PE). A quantidade de laudos periciais contábeis ana-lisados está relacionada à dificul-dade de acesso aos processos judi-ciais e, principalmente, à ausência de controle que identifique todos os processos em que demandaram laudos periciais contábeis pelas res-pectivas varas judiciais. Entretanto, essa quantidade está condizente com os estudos anteriores mais re-centemente realizados.

4. Análise Descritiva

dos Dados

A análise descritiva dos dados está estruturada em duas partes. Inicialmente, é evidenciada a aná-lise dos laudos periciais contábeis emitidos em cada esfera judicial. No segundo momento, é feita a análise conjunta dos laudos periciais contá-beis, de forma a identificar diferen-ças e semelhandiferen-ças entre os emitidos na esfera federal e os emitidos na esfera trabalhista.

Quadro 3 – Análise dos laudos periciais contábeis da Justiça Federal

Justiça Federal 1 2 Processos3 4 5 6 1. Identificação do processo e das partes Sim Sim Sim Sim Sim Sim 2. Síntese do objeto da perícia Não Não Não Não Não Não 3. Metodologia adotada para os trabalhos periciais Não Não Não Não Não Não 4. Identificação das diligências realizadas Não Não Não Não Não Não 5. Transcrição e resposta aos quesitos Sim Sim Sim Sim Sim Sim

6. Conclusão Não Não Não Não Não Não

7. Anexos Não Não Não Não Não Não

8. Apêndices Sim Sim Sim Sim Sim Sim

9. Assinatura do perito - n.º Registro CRC e DHP Sim Sim Sim Sim Sim Sim

Fonte: elaborado pelo autor.

4.1 Laudos periciais contábeis

da Justiça Federal

Na vara única da Justiça Federal, em Juazeiro (BA), foram analisados seis laudos periciais contábeis, des-critos no Quadro 3.

Conforme se observa, a identifi-cação do processo e das partes foi analisada pelo perito-contador na totalidade dos laudos analisados. Quanto à síntese do objeto da pe-rícia, esse importante elemento nor-mativo não foi identificado em ne-nhum dos laudos periciais contábeis analisados, o que pode pressupor a realização dos trabalhos de perícia contábil com base nos quesitos for-mulados pelo juízo e/ou pelas partes.

Esses resultados diferem dos es-tudos de Cestare, Peleias e Ornelas (2007), que analisaram dez laudos periciais contábeis na Justiça Fede-ral em São Paulo (SP) e concluíram que 80% deles contemplaram esse elemento. De forma semelhante, os resultados diferem do estudo de Cordeiro (2013), que analisou onze laudos periciais contábeis na Justiça Federal em Goiânia (GO), dos quais nove contemplaram o objeto da perícia contábil, representando quase 82% do total analisado.

Relativamente à síntese do objeto da perícia, Cordeiro (2013, p. 6) afirma que

uma das consequências de não se apor o tópico específico é que difi-culta a pronta consulta deste item,

ao mesmo tempo pode comprome-ter o entendimento da matéria cir-cunstanciada pelo laudo, fazendo com que o usuário do laudo tenha que retornar algumas páginas do processo para se inteirar sobre os fatos controvertidos.

Quanto à evidenciação da me-todologia adotada para os traba-lhos periciais, procurou-se analisar os métodos empregados e os ra-ciocínios elaborados constantes nos laudos periciais contábeis emitidos. Nesse quesito, nenhum laudo peri-cial contábil analisado contemplou a metodologia adotada nos trabalhos realizados. Importa salientar que a norma técnica da perícia contábil do CFC define a metodologia como o conjunto dos meios dispostos con-venientemente para alcançar o resul-tado da perícia contábil, de maneira que, ao final dos trabalhos, possa ser inserida no corpo técnico do laudo pericial contábil e do parecer pericial contábil (CFC, 2009, p. 12).

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Embora tenha sido mencionado pelo perito-contador que o laudo pe-ricial deveria considerar os estudos e critérios utilizados para a realização dos trabalhos, não foi localizada a re-ferida metodologia de forma estru-turada no corpo do laudo pericial. Tal ausência pode pressupor que houve uma preocupação maior do perito-contador em responder aos quesi-tos, sem determinar, especificamen-te, quais os estudos e critérios foram utilizados no seu trabalho pericial.

Em relação às diligências reali-zadas, os resultados apresentados revelam que em nenhum dos lau-dos analisalau-dos foram identificadas as diligências realizadas pelo peri-to-contador e, além disso, em dois deles, o perito-contador ainda afir-mou que não houve a necessidade de se realizarem diligências, pois considerou os elementos constan-tes nos autos suficienconstan-tes para a rea-lização do trabalho pericial.

Nesse aspecto, Alberto (2012) afirma que, se o objeto e os obje-tivos da perícia contábil tornarem necessária a pesquisa ou a verifica-ção de campo, o perito-contador deve buscar documentos, informa-ções ou outros elementos para que sirvam de subsídio à elaboração do laudo, pois é por meio das diligên-cias que muitas situações ocultas

podem vir à tona. Ornelas (2000, p. 70) observa que as diligências são “[...] a busca de elementos fáti-cos que vão permitir solucionar as questões contábeis submetidas a sua consideração técnica”.

No tocante à transcrição e res-posta aos quesitos, em todos os laudos periciais contábeis analisa-dos, os quesitos foram respondidos. Observou-se ainda que, em cinco laudos, os quesitos somente foram elaborados pelas partes, o que sig-nifica que em apenas um deles fi-cou evidenciado os quesitos do juiz.

Entretanto, primeiramente fo-ram respondidos os quesitos das partes e, por último, o perito res-pondeu aos quesitos do juiz. Em-bora, a norma técnica contábil não mencione essa obediência sequen-cial, Ornelas (2000) e Cestare, Pe-leias e Ornelas (2007) recomendam que, em respeito a uma questão hierárquica, devem ser respondi-dos, primeiramente, os quesitos do juiz e, em seguida, os das partes, na ordem em que forem juntadas ao processo.

Ainda acerca das respostas aos quesitos, Alberto (2012) afirma que estas devem ser realizadas com cla-reza e detalhes suficientes para se-rem entendidas, não se admitindo as respostas circunstanciadas em

simples “sim” ou “não”. Os resulta-dos analisaresulta-dos demonstram que as respostas aos quesitos foram feitas de forma clara e concisa.

Quanto à conclusão do lau-do pericial, apesar de sua impor-tância fulcral, nenhum dos laudos periciais analisados contemplou a conclusão pelo perito-contador, entretanto, em três deles, o peri-to-contador apenas determinou o valor da demanda.

Nesse aspecto, ao analisar a vi-são dos magistrados sobre os lau-dos periciais contábeis, nas varas ci-vis estaduais, na cidade de Maceió (AL), Anjos et al. (2010) constata-ram a falta de clareza da informa-ção contábil, especialmente a au-sência de laudos mais conclusivos, o que compromete a qualidade dos laudos emitidos.

Em estudo semelhante realiza-do por Junior et al. (2014), que bus-caram mensurar a qualidade e rele-vância do laudo pericial contábil na visão dos magistrados que atuam no Estado do Rio de Janeiro, 90% dos entrevistados afirmaram que o perito-contador deveria ir além da quesitação e apresentar sua própria conclusão sobre os fatos.

Relativamente à conclusão, a norma técnica que trata da perícia contábil menciona que

A quantidade de laudos periciais contábeis

analisados está relacionada à dificuldade de acesso

aos processos judiciais e, principalmente, à ausência

de controle que identifique todos os processos em

que demandaram laudos periciais contábeis pelas

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é a quantificação, quando possível, do valor da demanda, podendo re-portar-se a demonstrativos apresen-tados no corpo do laudo pericial con-tábil e do parecer pericial concon-tábil ou em documentos. É na conclusão que o perito colocará outras informações que não foram objeto de quesitação, porém as encontrou na busca dos ele-mentos de prova inerentes ao obje-to da perícia e que, de alguma forma, servirão de apoio para a opinião ou julgamento. (CFC, 2009, p. 12).

Os anexos do laudo pericial contábil não constaram em ne-nhum dos laudos analisados, o que pode significar que o perito-conta-dor considerou suficientes os do-cumentos constantes nos autos do processo. A norma técnica da pe-rícia contábil descreve que os ane-xos são documentos elaborados pe-las partes ou terceiros, arrecadados pelo perito durante as diligências (CFC, 2009).

No que diz respeito aos apên-dices, em todos os laudos periciais contábeis analisados o perito-con-tador elaborou planilhas eletrônicas para fundamentar suas respostas aos quesitos da perícia, entretanto, as planilhas utilizadas não consta-vam separadamente em uma seção para os apêndices.

Conforme a norma técnica da perícia contábil, apêndices são do-cumentos elaborados pelo peri-to com o intuiperi-to de complemen-tar a argumentação ou elementos de prova do laudo pericial contábil (CFC, 2009).

No que diz respeito à assinatu-ra do perito-contador, sua categoria profissional e o n.º de registro no Conselho Regional de Contabilida-de (CRC) Contabilida-de sua jurisdição, acompa-nhado da DHP, em todos os laudos periciais contábeis analisados cons-tam a assinatura do perito-conta-dor, sua categoria profissional e seu número de registro no CRC. Entre-tanto, a verificação de

regularida-de do registro profissional não foi comprovada, tendo em vista à au-sência da DHP em todos os laudos analisados.

A Declaração de Habilitação Profissonal (DHP) foi instituída pela Resolução n.° 871/2000, produzin-do efeitos desde 1º de agosto de 2000, estabelecendo que será utili-zada em qualquer documento vin-culado à responsabilidade técnica, especialmente, entre outros docu-mentos, nos laudos periciais con-tábeis. Mais recentemente, o CFC editou a Resolução n.º 1.402/2012, que instituiu a Certidão de Regula-ridade Profissional (CRP) em substi-tuição à DHP, que passou a vigorar a partir de 1º de setembro de 2012.

Além da análise estrutural dos laudos periciais, objeto desse estudo, no que se refere aos esclarecimentos prestados pelo perito-contador, dos seis laudos periciais contábeis anali-sados, em dois deles houve a neces-sidade de esclarecimentos.

Para Sá (2011, p, 61), “faz-se necessário o esclarecimento de um laudo todas as vezes que uma das partes interessadas entender que as respostas permitem dupla interpre-tação ou forem vagas ou sem obje-tividade”.

Como resultado desse estudo, constatou-se ainda que, embora os laudos periciais contábeis analisados tenham sido elaborados a partir de 2010, chama a atenção o fato de, em cinco deles, o perito-contador

mencionar a observância às normas brasileiras constantes das resoluções CFC n.º 857 e n.º 858 de 1999. En-tretanto, as respectivas resoluções foram revogadas pelas resoluções do CFC n.º 1.243 e n.º 1.244 de 2009, vigentes desde janeiro de 2010, o que evidencia a utilização pelo peri-to-contador de normas referenciais já desatualizadas, na época.

4.2 Laudos periciais contábeis

da Justiça do Trabalho

Na Justiça do Trabalho, 1ª e 2ª varas de Petrolina (PE), foram anali-sados cinco laudos periciais contá-beis, descritos no Quadro 4.

No que se refere à identificação do processo e das partes, verifica-se que em todos os laudos periciais contábeis analisados constam a adequada identificação do proces-so judicial, bem como das partes envolvidas no processo.

Em referência à síntese do objeto da perícia, em todos os laudos anali-sados o perito-contador descreveu o objeto da perícia, o que possibilita a adequada identificação do objeto da prova pericial, sob a qual objetivou a realização de seus trabalhos.

Alberto (2012, p. 128) salienta que a síntese do objeto da perícia trata-se da “determinação ou iden-tificação do objeto da prova pericial, que pode ser uma ou mais questões especiais, a prova de alguma situa-ção ou fato, a obrigasitua-ção de dar cons-tituída que se quer liquidar [...]”.

Quadro 4 – Análise dos laudos da Justiça do Trabalho

Justiça do Trabalho 1 2 Processos3 4 5 1. Identificação do processo e das partes Sim Sim Sim Sim Sim

2. Síntese do objeto da perícia Sim Sim Sim Sim Sim

3. Metodologia adotada para os trabalhos periciais Não Não Não Não Não 4. Identificação das diligências realizadas Não Não Não Não Não 5. Transcrição e resposta aos quesitos Não Não Não Não Não

6. Conclusão Sim Sim Sim Sim Sim

7. Anexos Sim Sim Sim Sim Sim

8. Apêndices Não Não Não Não Não

9. Assinatura do perito - n.º Registro CRC e DHP Sim Sim Sim Sim Sim

(9)

Quanto à metodologia adotada, em nenhum dos laudos analisados o perito-contador descreveu qual foi a metodologia utilizada, o que dificulta a identificação dos méto-dos e procedimentos técnicos ado-tados para a elaboração dos seus trabalhos periciais.

Em relação às diligências reali-zadas, embora seja um item exigi-do pela norma técnica, em nenhum dos laudos periciais contábeis ana-lisados houve menção acerca das diligências pelo perito-contador. Nesse caso, o perito-contador se li-mitou apenas em afirmar que seus trabalhos foram baseados na do-cumentação constante nos autos, como, por exemplo, folhas de pon-to, fichas financeiras, contrache-ques, entre outros.

Os resultados encontrados no estudo de Cordeiro (2013), na Jus-tiça Federal, em Goiânia (GO), reve-lam que 73% dos laudos periciais contábeis analisados deixaram de apresentar as diligências realizadas pelo perito. Segundo as normas de perícia contábil, as diligências refe-rem-se a todos os documentos, in-formações, entre outros procedi-mentos solicitados pelo perito em decorrência de suas necessidades para utilizá-los como elementos de prova (CFC, 2009).

No que diz respeito à transcri-ção e respostas aos quesitos, em nenhum dos laudos analisados, fo-ram elaborados quesitos, nem pelas partes, nem pelo juízo, para respos-tas pelo perito-contador.

Quanto à conclusão, pode-se verificar que o perito-contador ela-borou-a em todos os laudos peri-ciais contábeis analisados, porém, em um deles, utilizou o termo “con-siderações” e, em dois deles, utili-zou o termo “parecer”, em vez de “conclusão”.

Para Ornelas (2000, p. 90), é na conclusão que

[…] o perito expõe, sinteticamente, os fatos observados, suas conclusões e, eventualmente, oferece comentá-rios técnicos de questões sugeridas no decorrer do trabalho pericial re-lacionadas com o objeto da perícia e dentro de seus limites que não te-nham sido objeto de quesitos.

Segundo Alberto (2012, p. 128), a conclusão é “a condição de se des-tinar o laudo a dar liquidez à deci-são ou servindo de subsídio para a apreciação, judicial ou extrajudicial”.

Em referência aos anexos dos laudos periciais contábeis analisa-dos, o que foi considerado como anexo, na realidade, tratava-se de

apêndice, mostrando que não houve uma correta interpretação da norma técnica pelo perito-contador quan-to à identificação de um e de outro. Vale salientar que essa divergên-cia também esteve presente no es-tudo realizado por Cordeiro (2013), no qual constatou que nenhum dos laudos analisados apresentaram os apêndices, tendo em vista que o pe-rito-contador considerou apêndices como anexos. Dessa forma, em ne-nhum dos laudos periciais contábeis analisados, constam os apêndices.

Quanto à assinatura do peri-to-contador, n.º do seu registro no CRC e DHP, em todos os laudos pe-riciais contábeis analisados, o peri-to-contador apenas assina, sem evi-denciar o número do seu registro no CRC, tampouco consta a com-provação de sua regularidade pro-fissional pela ausência da DHP. A categoria profissional e o n.º de re-gistro no CRC do perito-contador responsável pelos laudos periciais emitidos constam somente no ini-cio do laudo pericial contábil.

Por fim, constatou-se que, em 60% dos laudos periciais contábeis examinados, houve a necessidade de esclarecimentos adicionais pelo pe-rito-contador e, ainda, em 20% de-les, os cálculos trabalhistas apresen-tados foram impugnados pelo juízo,

No que diz respeito à assinatura do perito-contador,

sua categoria profissional e o n.º de registro no CRC

de sua jurisdição, acompanhado da DHP, em todos

os laudos periciais contábeis analisados constam

a assinatura do perito-contador, sua categoria

(10)

gerando retrabalho ao perito-conta-dor, o que significa que houve atraso no prazo pericial assumido e, conse-quentemente, na resolução do pro-cesso judicial, contrariando a Cons-tituição Federal de 1988, no que se refere à celeridade processual, que, em seu Art. 5º, estabelece:

Art. 5° Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a in-violabilidade do direito à vida, à li-berdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...]

LXXVIII - a todos, no âmbito judi-cial e administrativo, são assegura-dos a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.

Semelhante ao estudo realizado por Zolet e Silveiro (2010), no qual analisaram a qualidade dos laudos periciais contábeis na visão dos juí-zes das comarcas de Francisco Bel-trão, Pato Branco e Dois Vizinhos, para 62,5% dos juízes são pedidos esclarecimentos nos laudos peri-ciais contábeis e, para 37,5% deles, geralmente os esclarecimentos são necessários. De qualquer modo, to-dos os magistrato-dos entrevistato-dos entendem que é muito necessária uma melhoria na qualidade dos lau-dos periciais contábeis. No estudo realizado por Ferreira et al. (2012), que analisaram a qualidade dos laudos periciais contábeis na visão dos magistrados nas comarcas tra-balhistas da cidade de Recife, 75% dos juízes responderam que solici-tam esclarecimentos após a entrega do laudo pericial, o que represen-ta um percentual basrepresen-tante elevado.

De modo geral, essa constata-ção se repete em outras instâncias judiciais, conforme demais estudos aqui relatados, o que poderia com-prometer a qualidade do laudo pe-ricial contábil.

4.3 Comparação entre os

laudos da Justiça Federal e

da Justiça do Trabalho

Como parte deste estudo, bus-cou-se ainda comparar os laudos periciais contábeis da Justiça Fede-ral, em Juazeiro (BA), e os da Justi-ça do Trabalho, em Petrolina (PE), e sua adequação às normas técnicas da perícia contábil do CFC, confor-me demonstrado no Quadro 5.

Conforme se observa, o estudo comparativo permite uma avalia-ção das diferenças e seme-lhanças quanto aos laudos periciais contábeis emi-tidos nas duas esferas judi-ciais, com o jetivo de se ob-ter uma visão geral de qual das duas es-feras judi-ciais aten-d e u , c o m

maior correspondência, às normas da perícia contábil vigentes, além de ampliar as visões de estudos anteriores que focalizam apenas na análise dos laudos em uma e/ ou outra esfera judicial. Como re-sultado, pode-se verificar que em ambas as esferas judiciais há a au-sência ou não correspondência de alguns itens importantes previstos nas normas técnicas.

Nesse aspecto, a síntese do obje-to da perícia esteve presente em obje- to-dos os lauto-dos emitito-dos na Justiça do Trabalho. Entretanto, na Justiça Fede-ral, em nenhum deles, e de maneira semelhante, a metodologia adotada para os trabalhos periciais e a identi-ficação das diligências realizadas não estiveram presentes nem na esfera federal nem na trabalhista.

Quadro 5 – Comparação entre as duas esferas judiciais

Percentual de itens J.F% J.T%

1. Identificação do processo e das partes 100 100

2. Síntese do objeto da perícia – 100

3. Metodologia adotada para os trabalhos periciais – –

4. Identificação das diligências realizadas – –

5. Transcrição e resposta aos quesitos 100 –

6. Conclusão – 100

7. Anexos – 100

8. Apêndices 100 –

9. Assinatura do perito – n.º Registro CRC e DHP 100 100 J.F = Justiça Federal e J.T= Justiça do Trabalho

(11)

Quanto à conclusão, apesar de atendida em todos os laudos peri-ciais contábeis da esfera trabalhis-ta, não esteve presente em nenhum dos laudos emitidos na esfera fede-ral. Em relação aos anexos, estes es-tiveram presentes apenas na esfera trabalhista, e os apêndices, apenas na esfera federal. A assinatura do perito, identificando sua categoria profissional e o n.º de registro no CRC, comprovado mediante a DHP, esteve presente de modo adequa-do apenas na esfera federal, porém sem a DHP.

5. Conclusão

Este estudo teve como objetivo verificar se os laudos periciais con-tábeis emitidos na Justiça do Traba-lho, em Petrolina (PE), e na Justiça Federal, em Juazeiro (BA), atendem às Normas Brasileiras de Contabili-dade Aplicadas à Perícia Contábil.

Como resultado dessa pesqui-sa, pode-se mencionar que foram encontrados indícios que permi-tem concluir que os laudos periciais contábeis não atendem, em sua to-talidade, aos requisitos técnicos dos elementos

estruturais previstos nas normas brasileiras de contabilidade aplica-das à perícia contábil.

Quanto à análise comparativa dos laudos periciais contábeis emi-tidos nas duas esferas judiciais, os principais itens, previstos na nor-ma técnica, ausentes estão rela-cionados à não evidenciação da metodologia aplicada e à não iden-tificação das diligências realizadas, itens considerados relevantes para a fundamentação dos trabalhos do perito-contador.

Relativamente à Justiça Federal, vale salientar, entre outros itens técnicos, a ausência da síntese do objeto da perícia e a conclusão, que em alguns laudos foram feitas de maneira breve. Quanto à Justiça do Trabalho, entre outros itens técni-cos ausentes, a categoria profissio-nal e o n.º de registro no CRC so-mente estiveram presentes no início do laudo pericial contábil.

Dessa forma, em consonância com estudos anteriormente reali-zados, os resultados apresentados evidenciam que os peritos-conta-dores da vara única federal de Jua-zeiro (BA) e a 1º e 2º varas do Tra-balho de Petrolina (PE), de

modo geral, não estão observando, em sua totalidade, as

orientações

técnicas constantes das Normas Brasileiras de Contabilidade para a perícia contábil, publicadas pelo CFC, o que pode justificar a quanti-dade de esclarecimentos adicionais requeridos aos peritos-contadores após a entrega do laudo pericial.

Ademais, tais inconsistências podem contribuir para o compro-metimento da qualidade do laudo pericial contábil emitido, dificul-tando a interpretação pelo juízo e, consequentemente, impossibilitan-do a celeridade impossibilitan-dos processos judi-ciais demandantes do laudo pericial contábil.

Tendo em vista que este estudo se aplica exclusivamente à Justiça Federal de Juazeiro (BA) e à Justiça do Trabalho de Petrolina (PE) e, ain-da, a uma quantidade limitada de laudos periciais contábeis analisa-dos, os resultados obtidos não po-derão ser generalizados para outras esferas judiciais, o que caracteriza uma limitação do presente estudo.

Quanto às sugestões de pes-quisas futuras, esforços podem ser direcionados a estender a análise comparativa dos laudos periciais contábeis emitidos em outras esfe-ras judiciais com as normas da pe-rícia contábil, até mesmo fora do âmbito judicial, como a pericial ar-bitral, ou seja, instância decisó-ria cdecisó-riada pela vontade das partes. Além disso, poderiam ser realizados estudos para analisar o papel do CFC quan-to à fiscalização desses laudos para atendi-m e n t o s à s normas de contabili-dade.

(12)

Referências

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CORDEIRO, J. F. Aderência dos Laudos Periciais Contábeis da Justiça Federal em Goiânia-GO à Resolução CFC n.° 1.243 de 2009

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MAGALHÃES, A. de D. F.; SOUZA, C. de; FAVERO, H. L.; LONARDONI, M. Perícia Contábil: uma abordagem teórica, ética, legal, processual; casos praticados. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2001.

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