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PARECER N.º PROCESSO ADMINISTRATIVO- DISCIPLINAR. DIRETOR DE

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PARECER N.º 13.758 PROCESSO ADMINISTRATIVO-DISCIPLINAR. DIRETOR DE ESCOLA ESTADUAL. IRREGULARIDADES ADMINISTRATIVAS. PENA DE DEMISSÃO PRECONIZADA. ATENUANTES. CONVERSÃO EM SUSPENSÃO POR SESSENTA DIAS SUGERIDA. OBEDIÊNCIA AOS PRINCÍPIOS DA

RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE.

O presente Processo Administrativo-Disciplinar, expediente n.º 88469-19.00/01-0, ora submetido a exame e parecer da Equipe de Revisão da Procuradoria de Probidade Administrativa e de Processo Administrativo-Disciplinar, originado da Portaria SE .º 00091/02, publicada no Diário Oficial do Estado de 17 de abril de 2002, pg. 37 (fl. 112 dos autos), pelo que resta indiciado o servidor WILSON RONALDO F. NASCIMENTO, matrículas n.º 12972029 e n.º 22972021, professor, o qual responde pelas infrações administrativas capituladas nos artigos 177, incisos III, IV, V e VII, 178, incisos XX e XXIV, c/c o artigo 191, incisos VI, VII, IX, XI e XVII, todos da Lei Complementar n.º 10.098/94, sendo esse último inciso, em tese, c/c os artigos 312 e 315 do Código Penal, bem como para apurar a não observância do artigo 11, incisos I, II e III, parágrafo único, art. 8º, art. 18, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII e IX, do Decreto 37.104, de 19 de dezembro de 1996 e artigo 66 da Lei n.º 10.576/95.

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O processo foi instalado com o intuito de apurar se o indiciado cometeu as faltas acima tipificadas, uma vez que lhe são imputadas as seguintes condutas: realizou compras sem o efetivo crédito; realizou pagamento com recurso da rubrica permanente em manutenção e vice-versa; solicitou emissão, por duas vezes, para um fornecedor, do mesmo material; pagou sem receber a mercadoria; comprou sem orçamento; tem dívidas no comércio em nome da escola; não tem controle do que a escola deve; tinha prática de pedir dinheiro emprestado para pagar despesas da escola, sem saldá-las; emprestou dinheiro da autonomia para o Sr. Marcelo Amaral, por meio dos cheques 501214 e 501215; não realizava reuniões para prestação de contas; não realizava reuniões para aprovação do Plano de Aplicação; assinou notas promissórias; não dava publicidade das verbas recebidas; tinha a prática de usar cheques em branco e assinados pelo presidente do CPM, os quais, posteriormente, estavam com agiota; solicitava orçamentos “casados”, para justificar os valores das notas fiscais pagas; emitia cheques pré-datados; usou da boa fé da comunidade escolar ao solicitar ajuda financeira e em materiais, vendendo rifa para saldar dívida do laboratório e da biblioteca, mesmo tendo recebido recurso da Secretaria da Educação para tal fim, sendo que toda a verba arrecadada com eventos na escola eram confiados a sua guarda; houve envolvimento com alunas; a escola tinha assistente financeiro em 1997, porém, em 1999, o indiciado não indicou ninguém, deixando a função em aberto até perder o direito; as licitações não foram realizadas de acordo com a lei; a vice-diretora tinha que sair da sala quando da chegada de fornecedor; apresentou notas fiscais de duas panelas que não estão na escola; “vendia” turnos em haver.

Durante a instrução, foi apresentada defesa prévia às fls. 230/234, foram analisadas as prestações de contas apensadas aos presentes autos, ouvidas quatro testemunhas indicadas pela Autoridade Processante e cinco testemunhas pela defesa, tendo havido desistência de uma. Houve requerimento de prova pericial, cuja justificativa às fls. 251/252 foram apreciadas, restando indeferida, conforme decisão da autoridade processante às fls. 283/284; apresentadas alegações finais às fls. 305/310, seguindo-se Relatório Final às fls. 311/331.

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Concluída a instrução do processo administrativo-disciplinar, culminou a Autoridade Processante por desclassificar a tipificação legal e recomendar o enquadramento apenas na infração aos deveres, especialmente na proibição do inciso XXIV do artigo 178 da Lei Complementar 10.098/94, a qual é cominada a pena de suspensão, a teor do artigo 189, inciso I, punição essa que se encontra acobertada pela prescrição, ex vi do inciso II do artigo 197 (12 meses), da mesma lei complementar, uma vez que o superior hierárquico tomou conhecimento dos fatos em 25 de setembro de 2001 (fl. 32 dos autos).

É o sucinto relatório.

Inexistem nulidades capazes de empecerem o exame meritório. O processo foi regularmente instaurado e instruído, respeitando-se os princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa, bem assim os preceitos legais de ordem procedimental, aplicáveis à espécie.

Em que pese terem sido bem analisadas, pela Autoridade Processante, as questões trazidas à apreciação, em seu bem lançado Relatório, merece, todavia, reparo, em parte, as conclusões apresentadas relativamente a aspectos sobre os quais adiante se enfrentará.

Quanto à preliminar suscitada pela defesa, andou bem a Autoridade Processante ao afastá-la, porquanto não há que se falar em apuração de crime em sede de processo administrativo disciplinar, competente que é, para tanto, o Poder Judiciário, para fins de aplicação das penas previstas no âmbito criminal. Há, todavia, em se caracterizando a possibilidade, ao menos em tese, de ocorrência de crime contra a Administração Pública, que ser considerada tal hipótese, porquanto condutas há que, previstas legalmente, trazem reflexos na seara Administrativa, sem prejuízo às demais conseqüências jurídicas, seja na esfera penal, seja na esfera cível, conforme prevê expressamente a Lei Complementar 10.098/94, em seu artigos 183 e 186, de sorte que a

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interpretação deve se dar de forma sistemática e teleológica; não se pune, por eventual crime, na seara administrativa, senão nos estritos limites da competência respectiva, ou seja, a sanção é de natureza estritamente disciplinar, restando incólume outras esferas do servidor assim penalizado, esferas essas tangíveis apenas pelos detentores das respectivas legitimidade e competência, devidamente definidas constitucional e infraconstitucionalmente, em sede de devido processo legal, sempre respeitada a ampla defesa. É a partir de tal enfoque que se torna possível estabelecer autonomias às respectivas esferas, as quais se excepcionam apenas nas hipóteses legalmente previstas, nas situações em que a majestade da decisão criminal se sobrepõe às demais, nas hipóteses fixadas. Tão somente e nada mais.

Assim, não há óbice a que a Administração apure situação que compreenda conduta que constitua crime em tese e, como tal, puna, porquanto a punição é de estrito caráter administrativo, não atingindo, pois, outras esferas, penalização essa que se dá na esfera de competência legalmente fixada, cuja autonomia apenas se submete à decisão criminal naquelas situações apontadas, casos em que, ocorrida absolvição no crime por qualquer daquelas hipóteses, e sendo o crime o fundamento único da anterior aplicação da sanção disciplinar, não havendo falta residual a sustentá-la, reverte-se a sanção administrativa e repõe-se o status quo ante, o mesmo ocorrendo relativamente a eventual condenação cível sob o mesmo fundamento.

Assim é que, pertinente apuração na seara administrativa de situação que constitua crime, ainda que em tese, aplica-se, em tais situações, a disposição do §2º do artigo 197 da Lei Complementar 10.098/84.

Nesse sentido:

MS 23242/SP – MANDADO DE SEGURANÇA. Min. CARLOS VELLOSO. J. 10/04/2002 – PLENO – DJ 10/05/2002. – PLENO - Unânime

Ementa

EMENTA: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO: DEMISSÃO. ILÍCITO

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ADMINISTRATIVO E ILÍCITO PENAL. INSTÂNCIA ADMINISTRATIVA: AUTONOMIA. PRESCRIÇÃO: Lei 8.112/90, art. 142. I. - Ilícito administrativo que constitui, também, ilícito penal: o ato de demissão, após procedimento administrativo regular, não depende da conclusão da ação penal instaurada contra o servidor por crime contra a administração pública, tendo em vista a autonomia das instâncias. II. - Precedente do STF: MS 23.401-DF, Velloso, Plenário. III. - Na hipótese de a infração disciplinar constituir também crime, os prazos de prescrição previstos na lei penal têm aplicação: Lei 8.112/90, art. 142, § 2º. Inocorrência de prescrição, no caso. IV. - Alegação de flagrante preparado: alegação impertinente no procedimento administrativo. V. - Mandado de segurança indeferido.

23401/DF – DISTRITO FEDERAL – MANDADO DE SEGURANÇA – Rel. Min. CAROS VELLOSO – J. 18/03/2002 – DJ. 12/04/2002 – PLENO – Unânime.

Ementa

EMENTA:CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO: POLICIAL: DEMISSÃO. ILÍCITO

ADMINISTRATIVO e ILÍCITO PENAL. INSTÂNCIA ADMINISTRATIVA: AUTONOMIA. I. - Servidor policial demitido por se valer do cargo para obter proveito pessoal: recebimento de propina. Improbidade administrativa. O ato de demissão, após procedimento administrativo regular, não depende da conclusão da ação penal instaurada contra o servidor por crime contra a administração pública, tendo em vista a autonomia das instâncias. II. - Precedentes do Supremo Tribunal Federal: MS 21.294- DF, Relator Ministro Sepúlveda Pertence; MS 21.293-DF, Relator Ministro Octavio Gallotti; MMSS 21.545-SP, 21.113-SP e 21.321-DF, Relator Ministro Moreira Alves; MMSS 21.294-DF e 22.477-AL, Relator Ministro Carlos Velloso. III. - Procedimento administrativo regular. Inocorrência de cerceamento de defesa. IV. - Impossibilidade de dilação probatória no mandado de segurança, que pressupõe fatos incontroversos, prova pré- constituída. V. - Mandado de Segurança indeferido.

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Nada há, pois, de inconstitucional em tal procedimento administrativo, restando insubsistente a preliminar, tendo sido correto o seu afastamento.

In meritis, entende-se que as provas trazidas aos autos, embora

afastem parte das imputações, não eximem o indiciado de responsabilidade a ensejar penalização de forma diversa da entendida pela douta Autoridade Processante, por serem bastante a comprovar a materialidade e a autoria de parte das transgressões disciplinares aludidas no vertente caso.

Com efeito, a tecitura probatória lastreia-se nos fatos apurados em sindicância, cujo relatório consta das fls. 98/102, bem como nos depoimentos prestados pelas testemunhas no presente feito, o qual também vem instruído com as prestações de contas em apenso.

No tocante à inversão de rubricas e utilização de vales, conforme apontado pela autoridade processante, tal foi reconhecido pelo indiciado, o qual justificou sua conduta referindo-se tratar-se de situações emergenciais.

Sua justificativa foi confirmada pela testemunha Celso Broda, em depoimento às fls. 268/269, que aduziu que, em face das constantes necessidades da Escola, tal procedimento acaba tendo de ser buscado, afirmação essa reforçada pelo depoimento de Maria Adelaide de Souza Leal, que disse, em seu depoimento de fls. 274 e ss., que tais inversões de rubricas restavam necessárias para o próprio funcionamento da Escola.

Não obstante, outras irregularidades restaram também apuradas e comprovadas nos autos, relativamente às quais o próprio indiciado admite, ao que se agrega a prova testemunhal colhida e a análise das prestações de contas em apenso.

Verificam-se, pois, como também apontado pela Autoridade Processante, tais ocorrências, consistindo em inversão de rubricas com utilização de recursos para material permanente em manutenção e vice-versa,

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assim como a compra de material para a escola sem existência de recurso para tanto, tendo havido emissão de cheques pré-datados e subscrição de notas promissórias e pedidos de empréstimos – confirmados pelos depoimentos colhidos – e, ainda, pagamento por material não recebido como duas panelas, um computador e uma impressora, sendo que tais equipamentos de informática, que, de fato, em um primeiro momento, não foram entregues em decorrência de débitos anteriores com o fornecedor, tendo sido entregues posteriormente, compostas as dívidas.

Nesse sentido, bem apontou a Autoridade Processante:

“A compra sem efetivo crédito, a inversão das rubricas permanente e manutenção, dívidas no comércio em nome da Escola, compras a prazo, assinatura de nota promissória, foram confessados pelo indiciado em seu interrogatório. Quanto à inversão da rubrica, há confirmação das testemunhas Celso Broda, Maria Adelaide Souza Leal e Márcia Beatriz Mallmann. Quanto à dívidas no comércio em nome da Escola e assinatura de nota promissória, a testemunha Maria Alice Oliveira de Souza afirmou que compareceram na Escola credores, inclusive com apresentação de nota promissória assinada pelo indiciado. Além disso, a testemunha Marcelo do Amaral, fornecedor da Escola, confirma que esta tem débitos. Também resta comprovada a emissão de cheques pré-datados, conforme se depreende dos depoimentos de Maria Alice Oliveira de Souza, Nara R. Peralta, Maria Salete Melgarejo Saldanha. O interrogatório, os depoimentos e a situação descrita deixam claro que houve compras sem o efetivo crédito, gerando dívidas em nome da Escola Estadual Barão de Lucena. O depoimento de Maria Alice, que era vice-diretora na época da gestão do indiciado, deixa claro que este solicitava que a vice saísse da sala quando da chegada de fornecedor.”

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“A prova carreada aos autos demonstra de forma inconcussa que houve pedido de empréstimos para pagamentos de débitos da Escola. O próprio indiciado afirmou que Geroni emprestou dinheiro para a banda da Escola. Confirmando a existência desses empréstimos, tem-se os depoimentos das testemunhas Cerso Broda, Maria Alice Oliveira de Souza e Maria Adelaide Souza Leal, bem como o depoimento da própria Geroni.”

Tudo isso redundou em aplicação indevida de verbas da escola e dívidas que restaram não pagas ao menos até quando do encerramento da instrução do presente feito, com o que o indiciado, definitivamente, descumpriu a legislação vigente, tendo havido, pois, aplicação irregular de recursos públicos, em afronta aos incisos II e III do art. 11 do Decreto 37.104 de 19 de dezembro de 1996, porque em desacordo com o artigo 8º do mesmo diploma legal que regulamenta o art. 66 da Lei n.º 10.576 de 14 de novembro de 1995, descumprindo, assim, os deveres funcionais, em especial aqueles previstos nos incisos III e IV do Decreto em tela, sendo que o Diretor de Escola assume as responsabilidades de ordenador de despesa relativamente ao gerenciamento de tais recursos, conforme dispõe o §1º do art. 66 da Lei 10.576/95, aqui referida.

No que se refere à licitação do laboratório de ciências, não se confirma irregularidade, como bem apontado pela autoridade processante.

De fato, foi observado procedimento pertinente, de acordo com a legislação, em especial a 8.666/93, conforme se verifica das fls. 1155/1234, referentes ao Expediente n.º 88.469-1900/01-0, em apenso, tendo havido publicação de edital de convite, formação de competente comissão de licitação, tendo sido apresentadas três propostas de empresas distintas que, segundo a prova testemunhal, foram encaminhadas em envelope lacrado, restando claro que o procedimento foi lícito, tanto que a respectiva prestação de contas recebeu Parecer Conclusivo da 28ª Coordenadoria Regional aprovando a execução dos recursos como de acordo com o plano de aplicação financeira previamente aprovado pelo Conselho, como consta da fl. 1239 do Expediente em foco.

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No que se refere à acusação de empréstimos de dinheiro da Escola para Marcelo do Amaral, o que restou apurado é que, de fato , houve tais empréstimos, os quais, todavia, fundavam-se em dívidas da Escola para com Marcelo, que era fornecedor de material de consumo e que recebera cheques emitidos pelo indiciado em nome da Escola para pagamentos dos materiais vendidos, sendo que houve devolução dos mesmos por falta de fundos. Marcelo então, credor da Escola, diante de dívidas que tinha de honrar, procurou o indiciado, resultando em tais empréstimos, que foi forma de compensação com as dívidas pendentes, sendo que, segundo depôs o indiciado, o dinheiro disponibilizado para os assim chamados “empréstimos” era recurso do laboratório de informática, restando claro que não foram relações de caráter pessoal que deram origem à operação, mas as próprias dívidas da escola para com aquele fornecedor, não tendo havido propósito de proveito próprio ou de terceiro, como apontado no Relatório.

Restou afastada, de outro lado, a imputação de que o indiciado não reunia o Conselho Escolar para fins de aprovação dos planos de aplicação dos recursos e das respectivas prestações de contas, como se depreende das folhas 05/07, 173/174, 186/188, 334/335/, 345/357, 452/453, 461/463, 594/595, 607/609, 749/750, 771/772, 891, 915/917, 1.045, 1.047, 1.1143, 1239/1.047, 1239/1.241, 1248, 1.279/1.281,1291/1292, 1.308/1309, 13317/1328 e, finalmente, 1.342/1343 dos Expedientes n.ºs 14.107-1900/00-8, 040.144-1900/00-7, 61.951-1900/00-6, 107.913-1900/00-5, 014816-1900/01-2, 66.750-1900/01-1, 66.751-1900/01-4, 66.752-1900/01-7, 88.043-1900/01-8, todos em apenso.

Na análise de tais expedientes verifica-se claramente que o indiciado reunia o Conselho Escolar, seja para o fim de apresentação de proposta de plano de aplicação dos recursos como, da mesma forma, para o fim de prestação de contas, contas estas depois apreciadas pela Coordenadoria Regional competente.

No que se refere à imputação de responsabilidade pela não solicitação de assistente financeiro, restou comprovado que, de fato, o indiciado

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janeiro de 1996, quando então foi informado que já não havia mais FG disponível, uma vez que a solicitação fora encaminhada intempestivamente.

Nesse aspecto, embora haja parcela de responsabilidade do indiciado, uma vez que tomou a providência de forma serôdia, não se lhe pode atribuir de forma integral eventuais dificuldades que a falta de assistente financeiro venha a ter causado, uma vez que, como demonstrado, havia indisponibilidade de função gratificada para tanto, sobre o que não tinha qualquer domínio o indiciado.

Quanto à acusação de que o indiciado “vendia” turnos em haver, não há prova nos autos em tal sentido, restando demonstrado, isto sim, o que foi inclusive confessado, é que havia compensação de trabalho extraordinário, nas situações em que os professores realizavam atividades escolares extraclasse, implicando em jornada para além da carga horária, sendo que tais compensações não trouxeram, entretanto, prejuízo às atividades normais de classe nem houve qualquer reflexo financeiro para o Estado.

Por fim, no que se refere à acusação de que o indiciado se envolvera com alunas da escola, nada restou provado nos presentes autos, tendo sido extremamente precária a instrução nesse aspecto.

Mesmo em se considerando os elementos pertinentes à questão, tem-se que o conjunto probatório restou por demais frágil, não sustentando um juízo de condenação.

Veja-se que, embora a prova testemunhal tenha apontado, predominantemente, no sentido de que não havia conhecimento direto, por parte das testemunhas ouvidas, quanto a eventuais envolvimentos do indiciado com alunas, há, de parte significativa dos mesmos depoimentos, de que conheciam notícia de reclamação formal de um pai, além do depoimento de Maria Adelaide Souza Leal de que sabia de comentários acerca de tais envolvimentos.

Consta, efetivamente, conforme cópia de Ata às fls. 29/31 que o pai de M.B.R.M. fez formal reclamação, uma vez que ao ir buscar a filha na

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escola, turno da noite, não a encontrou, tendo sido informado que havia saído mais cedo, tendo sido informado por uma professora, que presenciara o fato, que a sua filha tinha embarcado no carro do indiciado.

Segundo consta da mesma Ata, tal situação não teria sido fato isolado, havendo notícias de que a mãe da mesma aluna já teria pedido pessoalmente ao indiciado que se distanciasse da adolescente, assim como consta que já teria ocorrido outra situação envolvendo o indiciado com outra aluna que redundara na necessidade de retirada dessa outra aluna da escola.

Diante de tais elementos, até pela gravidade dos fatos, deveria já à época ter havido sindicância específica, o que não ocorreu, assim como, embora tecnicamente também fosse o mais correto – porque se impunha processo específico para tanto – nos termos da Lei Complementar n.º 11.487/2000 – a prova possível de ser produzida no presente feito se, de um lado, não afasta a hipótese, também não a confirma, sendo temerário qualquer juízo conclusivo, restando apenas a evidente insuficiência de prova.

Assim, afastadas as demais imputações, resta provado que o indiciado não operou com os recursos públicos com o zelo que se impunha, ainda que o tenha feito na perspectiva de atender a necessidades da própria escola, uma vez que no trato com a verba há que se observar as disposições legais.

Não é, o Administrador público, senhor da coisa pública e, ainda que eventualmente relevante a intenção com que atua, há que se submeter ao espaço legal; se é bem verdade que há espaços discricionários - e nos seus estritos limites movimenta-se o Administrador Público – há, também, espaços que se vinculam aos ditames legais e sobre os quais não pode o Administrador dispor, porquanto a legislação também expressa uma vontade, vontade que se impõe e se sobrepõe à circunstancial vontade do agente público que a opera. Do contrário, subverter-se-iam os princípios que regem o Estado Democrático de Direito, nunca perdendo de vista, na esteira dos ensinamentos de Celso Antônio Bamdeira de Mello, que dever-poder do Administrador é dever que

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instrumentalmente dispõe de poder para que os fins da Administração Pública sejam alcançados.

Considera-se, contudo e sempre, as circunstâncias específicas, de forma a bem aquilatar, caso a caso, as responsabilidades daquele que gere a coisa pública, no âmbito de sua competência.

Casos há, não se desconhece – porque o Direito o prevê – em que esta ou aquela norma, este ou aquele princípio restam afastados, quando as circunstâncias fáticas ou jurídicas assim apontem, de forma a permitir coerência intra-sistemática.

Não é, contudo, o caso dos autos.

Não se desconhece que parte das dívidas e das indevidas inversões de rubricas decorreram de necessidades da Escola, o que não é novidade na realidade administrativa das escolas públicas estaduais.

Da mesma forma, não se deixa de considerar que o indiciado, embora um tanto precipitadamente, assumiu, pela Escola, compromissos financeiros para a montagem do laboratório e de biblioteca para possibilitar a implantação do ensino médio naquela Escola, o que foi possível em função de ter havido tais providências por parte o indiciado.

Restou demonstrado que parte – e tão somente parte, fríse-se - do endividamento se deu porque, uma vez autorizado pela SEC, através da 28ª Coordenadoria, o indiciado montou aquelas estruturas considerando que havia sido prometido o envio dos recursos que, ao fim, acabaram não sendo enviados, residindo aí parte dos empréstimos contraídos e dívidas assumidas, não saldadas ou saldadas em parte com recursos de outras rubricas.

Tal aspecto, conforme apontado pela Autoridade Processante, não tem, nem poderiam, ter o condão de legitimar os procedimentos adotados, embora deva, como se fará, considerá-lo para fins mitigação da responsabilidade do indiciado.

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Há que se considerar, também, que a Escola, em que pese o endividamento, obteve avanços, tendo sido reconhecido o trabalho do indiciado, como, aliás, consta dos autos às fls. 322/323.

Conforme apontado no Relatório:

(...) Impõe-se analisar as circunstâncias em que esses fatos ocorreram, as quais, conquanto não justifiquem, amenizam a conduta do indiciado.

Com efeito, restou demonstrado nos autos que, para fins de implantação do Segundo Grau, havia necessidade de montagem de laboratório e biblioteca, sendo que a Coordenação da 28.ª CRE autorizou essa montagem, dizendo que a verba para tanto logo chegaria. Restou demonstrado, ainda, que, para implantação do Segundo Grau, haveria vistoria do Conselho Estadual de Educação, a qual seria em breve e que era imprescindível a existência de laboratório e biblioteca.(...)

(...) Está demonstrado, portanto, que, face à necessidade de montagem de laboratório e biblioteca para fins de vistoria a face à não chegada da verba na época própria, o indiciado acabou por inverter rubricas, pedir dinheiro emprestado e realizar compras sem o efetivo crédito. Tal situação inclusive gerou a existência de rifa para saldar dívida da compra de material do laboratório.

Saliente-se que essa circunstância não justifica a conduta do indiciado, apenas ameniza.”

Tais aspectos, pois, podem, e devem, de fato, ser considerados, mas tão somente para mitigação de pena. Não têm, os elementos em tela, conteúdo que autorize a desclassificação visualizada pela digna Autoridade Processante, malgrado os argumentos esposados para sustentá-la. Aquela Autoridade, mais adiante, admite:

“Não há dúvidas de que houve irregularidades administrativas na gestão do indiciado. O próprio indiciado as admite, consoante se verifica à fl. 1.311 dos volumes apartados. O indiciado não observou

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despesas possíveis de serem efetuadas. Observe-se a informação de fls. 1.130 e 1.131 dos volumes apensos.”

Assim, tem-se que a conduta do indiciado reúne todos os elementos caracterizadores das infrações previstas nos artigos 177 (“são deveres do servidor”), incisos III (“desempenhar com zelo e presteza os encargos que lhe forem incumbidos, dentro de suas atribuições;”), IV (“ser leal às instituições a que servir”), V (“observar as normas legais e regulamentares;”), combinado com o artigo 191 (“O servidor será punido com pena de demissão nas hipóteses de:”), incisos VI (“improbidade administrativa”), XI (“aplicação irregular de dinheiro público”), todos da Lei Complementar n.º 10.098/94, art. 11 (“A aplicação dos recursos observará”), incisos II (“a realização das despesas após o efetivo crédito do numerário na conta corrente bancária;”), III (“a utilização dos recursos somente para o pagamento das despesas previstas no artigo 8.º deste decreto, sendo vedada sua utilização para outros fins;”), parágrafo único (“É vedado o uso dos recursos destinados à investimentos para fins de pagamento de despesas de manutenção e desenvolvimento do ensino e vice-versa, sob pena de glosa das respectivas despesas”), art. 8º (“as despesas referidas no artigo 66 da Lei n.º 10.576, de 14 de novembro de 1995, compreendem: ...”), art. 18 (“Constituem-se responsabilidades do Diretor, dentre outras:), incisos I (“coordenar, em consonância com o Conselho Escolar, a elaboração, execução e avaliação do Plano Integrado da Escola;”), II (“elaborar, submeter a apreciação a aprovação do Conselho Escolar e executar o Plano de Aplicação Financeira, trimestralmente;”), III (“garantir o pleno funcionamento da escola, visando a melhoria contínua do padrão de qualidade, aplicando e utilizando com adequação e racionalidade os recursos disponíveis;”), com o que se impõe, forte no art. 191, incisos VI e XI, a imposição da pena demissória.

Sem embargo, na esteira do que já sustentado, seria desarrazoado e desproporcional a aplicação plena da pena, de sorte que, a fim de não restarem maculados princípios maiores, sugere-se a conversão da pena para sessenta dias de suspensão, forte dispõem o §1º do art. 187 combinado com o inciso IV do art. 189, ambos da Lei complementar 10.098/94.

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Por fim, também ao contrário do entendimento da Autoridade Processante, embora não possa, em sede do presente Processo Administrativo Disciplinar ser discutida a matéria, sendo inviável o pedido da defesa, recomenda-se seja o presente enviado ao órgão competente para fins de melhor avaliação das penalizações e glosas das contas do indiciado, uma vez que, conforme manifestação técnica dos Auditores do Tribunal de Conta do Estado, cedidos a esta Unidade, que passa a fazer parte do presente Parecer, vislumbra-se dupla penalização, uma vez que foi imposto ao indiciado a devolução de valores gastos em excesso nos recursos atinentes à Autonomia Financeira, que foram suportados com valores de saldos não utilizados nas rubricas Merenda Escolar e Informática, lá tendo sido, também, imposta a devolução dos saldos e aplicadas as glosas, com o que, estaria, em princípio, sendo cobrado indevidamente o valor de R$ 2.545,58 do indiciado, caracterizando eventual enriquecimento sem causa da Administração e ofensa ao princípio do non bis in

idem. Para tanto, recomenda-se sejam os Expedientes 88043.1900/01-8,

88041.1900/01-8 e 88042.1900/01-5 apensados e analisados, pelos setores competentes, conjuntamente.

Este parecer foi aprovado pela Equipe de Revisão, em reunião realizada no dia 1º de setembro de 2003, conforme Ata n.º 32 , na qual participaram além do signatário, os Procuradores do Estado Luiz Felipe Targa, Marília Vieira Bueno, Maria da Graça Vicentini e José Hermílio Ribeiro Serpa.

É o parecer.

Carlos César D’Elia Relator

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PROCURADORIA-GERAL DO ESTADO

Processo nº 088469-19.00/01-0

Acolho as conclusões do PARECER nº 13.758, da Procuradoria de Probidade Administrativa e de Processo Administrativo-Disciplinar, de autoria do Procurador do Estado Doutor CARLOS CÉSAR D’ELIA.

Submeta-se o expediente à deliberação do Excelentíssimo Senhor Governador do Estado.

Em 15.09.03.

Helena Maria Silva Coelho, Procuradora-Geral do Estado.

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GABINETE DO GOVERNADOR

Processo nº 088469-19.00/01-0

Aprovo o PARECER nº 13.758, da Procuradoria-Geral do Estado, cujos fundamentos adoto para aplicar a penalidade de 60 (sessenta) dias de SUSPENSÃO, como gradação de pena mais grave, conforme prevê o art. 187, § 1º, combinado com art. 189, inciso IV, ambos da Lei nº 10.098, de 03 de fevereiro de 1994, ao Professor WILSON RONALDO FLORIANO DO NASCIMENTO, matrículas nº 12972029 e nº 22972021, classe A, nível 3, lotado na Secretaria da Educação.

À Procuradoria-Geral do Estado para publicação do ato e anotações de estilo. Após, à Secretaria da Educação para providências cabíveis.

PALÁCIO PIRATINI, em Porto Alegre, 16 de setembro de 2003.

GERMANO ANTÔNIO RIGOTTO, GOVERNADOR DO ESTADO.

Referências

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