É através da cronologia do cotidiano que a
crônica é inserida na vida, criando um espaço
privilegiado para leitura deleite e a recriação.
Estejam convidados a conhecer o mundo fascinante
da “crônica”, surpreender-se em saber que ela não
é de agora, mas que os tempos sempre foram de
“crônica”.
Antes de nos aprofundarmos em nossa aula, veremos a origem da palavra
crônica:
O elemento radical dessa palavra vem do grego chronos, que significa
tempo.
Na tradução clássica, o deus Chronos representava o tempo! Esse mesmo
elemento está presente em muitas palavras, como cronograma e cronômetro
.
Você já leu uma crônica esportiva?
Crônica policial?
Crônica social?
Como já deve ter percebido, o foco do
nosso estudo é: Produção textual - crônica.
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Crônica refere-se a um gênero
textual que aparece em certos
jornais e revista e tem um espaço
reservado para uma determinado
assunto.
Boa parte do público leitor é
“fanático” por esse tipo de texto.
Muitas vezes, os que se interessam
por esportes gostam de ler a
crônica esportiva.
Um outro exemplo são as pessoas
que leem jornais ou revistas para
saberem o que está se passando
com as socialites; isso é uma
crônica da moda!
Portanto, diariamente,
encontramos crônicas sobre os
mais variados assuntos.
Elementos da crônica
- clara e objetiva;
- irônica;
- crônica ou séria;
- não escolhe assunto,
fala sobre tudo;
- conversa com todos;
- retrata o pitoresco das
cenas;
- aparecem nas revistas
e principalmente em
jornais;
- apresenta-se nos
diários pessoais.
- É um texto dissertativo que veicula pontos de vista do autor fazendo
reflexões.
- Enfoca fatos reais, podendo retratá-los ou não.
- Uso de linguagem padrão sem possibilidade de ambiguidade, deverá ser
claro e objetivo, algumas vezes, poderá assumir um tom informal.
- Descritivo, retratando de forma verbal, as pessoas e os fatos. Selecionando
os aspectos mais relevantes e significativos.
- É descritivo, pois a pretensão é despertar no ouvinte leitor a completa
impressão do objeto, pessoa ou espaço que está sendo descrito.
- O texto é narrativo, quando se refere aos fatos acontecidos.
- Texto curto, leve ou humorístico, algumas vezes, crítico, mostra o dia a dia
da sociedade.
- Parte de um fato, destacando a particularidade sobre o cotidiano como
ponto de partida para a produção textual.
- DICA:
- Observe a organização do texto, se está adequada à utilização dos sinais
de pontuação e a sua intenção, pois os gráficos serão significativos para o que
se pretende transmitir para o leitor.
- É indispensável que consiga perceber a particularidade que há, de
exclusivo, de fascinante, ou até mesmo engraçado nas situações do
cotidiano pelas quais passam para que então produza uma boa crônica.
.
Devido à linguagem apresentada
na crônica e à maneira de como
os
temas
são
abordados,
encontramos as características
da crônica em diversos gêneros
textuais.
As semelhanças percebidas nos gêneros, remete-nos à ideia de que, durante a história, sempre se escreveu a crônica.
Seja nas histórias que apresentam um romântico ou herói, um nobre ou plebeu. As pessoas sempre retrataram seu modo de viver em sua época. Apropriando-se de um tipo de texto breve, contanto histórias e tecendo comentários.
Atualmente, alguns compositores ainda fazem isso. Eles observam e retratam os fatos do cotidiano. Alguns de maneira poética, lírica acompanhados por músicas.
OS REPENTISTAS FAZEM CRÔNICAS QUANDO, EM VERSOS, CANTAM O COTIDIANO DA POPULAÇÃO.
CHEGANÇASou Pataxó,
sou Xavante e Cariri, Ianonami, sou Tupi Guarani, sou Carajá. Sou Pancararu, Carijó, Tupinajé, Potiguar, sou Caeté, Ful-ni-o, Tupinambá.
Depois que os mares dividiram os continentes
quis ver terras diferentes. Eu pensei: "vou procurar um mundo novo,
lá depois do horizonte, levo a rede balançante pra no sol me espreguiçar". Eu atraquei
num porto muito seguro, céu azul, paz e ar puro... Botei as pernas pro ar. Logo sonhei
que estava no paraíso, onde nem era preciso dormir para se sonhar.
Mas de repente
me acordei com a surpresa: uma esquadra portuguesa veio na praia atracar. De Grande-nau, um branco de barba escura,
vestindo uma armadura me apontou pra me pegar. E assustado
dei um pulo da rede, pressenti a fome, a sede, eu pensei: "vão me acabar". me levantei
de borduna já na mão. Ai, senti no coração, o Brasil vai começar.
Antonio Nóbrega e Wilson.
Eles vivem penando Aqui na Terra Esperando O que Jesus prometeu E Jesus prometeu Coisa melhor Pra quem vive Nesse mundo sem amor Só depois de entregar O corpo ao chão Só depois de morrer Neste sertão Procissão (Gilberto Gil) Olha lá Vai passando A procissão Se arrastando Que nem cobra Pelo chão
As pessoas Que nela vão passando
Acreditam nas coisas Lá do céu As mulheres cantando Tiram versos Os homens escutando Tiram o chapéu Eu também Tô do lado de Jesus Só que acho que ele Se esqueceu
De dizer que na Terra A gente tem
De arranjar um jeitinho
Pra viver
Muita gente se arvora A ser Deus
E promete tanta coisa Pro sertão
Que vai dar um vestido Pra Maria
E promete um roçado Pro João
OBSERVE A LETRA DA MÚSICA DE GILBERTO GIL, NELA SÃO APRESENTADOS ELEMENTOS DE
CRÔNICA, DESCREVENDO UMA PROCISSÃO , ATRAVÉS DELA PODEMOS FAZER REFLEXÕES
REFERENTES ÀS SITUAÇÕES DE UM POVO SOFRIDO DO SERTÃO.
Entra ano, sai ano E nada vem
Meu sertão continua Ao Deus dará
Mas se existe Jesus No firmamento Cá na Terra Isso tem que se acabar
Imagem: Carlos.anjos.lopes / Creative Commons
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A crônica não está presente
apenas nas músicas.
Antes disso, pode-se
encontrá-la na poesia , em busca de um
lirismo reflexivo.
Segue um exemplo do
poema de Manuel Bandeira,
cronista tanto em prosa como
em versos.
Dele, há vários
“poemas--crônicas”, como este :
Momento num café
Quando o enterro passou
Os homens que se achavam no café Tiraram o chapéu maquinalmente Saudavam o morto distraídos Estavam todos voltados para a vida Absortos na vida
Confiantes na vida.
Um no entanto se descobriu num gesto largo e demorado Olhando o esquife longamente
Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade Que a vida é traição
E saudava a matéria que passava Liberta para sempre da alma extinta
A crônica, na maioria dos casos, é um texto curto e narrado em primeira pessoa, ou
seja, o próprio escritor está "dialogando" com o leitor. Isso faz com que a crônica
apresente uma visão totalmente pessoal de um determinado assunto: a visão do
cronista.
Geralmente, as crônicas apresentam linguagem simples, espontânea, situada entre a
linguagem oral e a literária. Isso contribui também para que o leitor se identifique com
o cronista, que acaba se tornando o porta-voz daquele que lê.
AS FORMAS COMPOSICIONAIS DA CRÔNICA
O caráter episódico
Os episódios casuais do cotidiano vivido por seres comuns é que se
tornam os heróis do gênero.
O lirismo
O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; (...)
(trecho da crônica O amor acaba. Paulo Mendes Campos. In: O amor acaba. Editora Civilização Brasileira – Rio de Janeiro, 1999, pág. 21)
Leio no jornal a notícia de uma mulher que pariu no corredor do Hospital Fêmina. Jovem, negra, pobre, pariu no corredor do hospital, com poucos socorros, em pleno banco estofado, em meio a enfermeiras, médicos e pacientes. Somente abriu as pernas e deu à luz. Pariu no corredor do hospital. Gritou por ajuda, clamou por assistência médica. No entanto, o tempo não pôde esperar e acabou parindo em pleno corredor. Gestante pariu no corredor de hospital. A enfermeira disse que havia falta de quartos. Fêmina apresentava super lotação de parturientes. E a pobre negra somente abriu as pernas e
deu à luz.
Eis que de seu ventre surge um menino magro. De muito peso não é, mas tem peso de homem, de obra de ventre de mulher. É uma criança pálida e franzina. Mas tem a marca de
homem, marca de humana oficina.
Pariu no corredor do hospital. Entre diversas enfermeiras, médicos e pacientes. Mulher pobre. Sozinha. Miserável. Gestante. Jovem demais. Negra. Baixo nível. Ignorante. Um bicho, uma coisa - não foi tratada como digna parturiente. E pariu no corredor do hospital. E eis que de seu ventre salta uma criança pequena. É tão bela como um sim numa sala negativa. Não é responsabilidade dos profissionais, nem do hospital, nem das autoridades. O que têm a ver com o fato? Deixa a mulher parir em pleno corredor. E ela, o que faz? Jovem e destemida dá à luz sobre um banco estofado, sem recursos e com pouco auxílio. E eis que de seu ventre nasce o menino. Somente após o ocorrido, a jovem é amparada. Nos braços, o rebento abençoado infecciona a miséria com vida nova e sadia.
Então, já falamos muito sobre crônica. E aí, bateu uma vontade de se tornar um cronista?
Seguem
umas dicas para você elaborar uma excelente crônica.
Titulo sugestivo: o título tem que chamar a atenção do leitor. O que ele sugere? Apenas pelo titulo já dá para inferir o assunto da crônica?
Cenário curioso: eleve seu pensamento e imagine as pessoas com quem você convive, os lugares que frequenta, quais os assuntos que circulam no lugar onde você vive e, principalmente, o que tenha ocorrido no dia a dia que mais lhe chamou atenção.
Foco narrativo: você deverá escolher qual será o seu ponto de vista a apresentar. Escreverá em 1º pessoa (eu vi, eu senti) ou será autor personagem? Ou vai escrever na 3º pessoa (eles sentiram, ele fez)?
Personagem: deverá determinar o número de personagens que haverá em sua crônica. Serão reais ou feitos da imaginação? Poderá você ser uma delas?
Escrevendo uma crônica
Enredo: será feito a partir de um fato narrado de um episódio banal do dia a dia? Descrição narrada de que forma? Tom: poético, humorístico, irônico ou reflexivo.
Tempo: jamais deverá esquecer que a crônica acontece em um curto espaço de tempo, poderá ser em minutos, horas... Desfecho: como será o final da sua crônica? Aberto, surpreendente ou conclusivo?
Ao terminar de escrever a sua crônica, faça uma revisão de seu texto, observando se ele apresenta
todos os elementos do seguinte roteiro:
• Foi colocado o título?
• Está claro:
– quem são as personagens? – o que ocorreu (o fato)? – onde tudo aconteceu? – quando ocorreu o fato?
– o modo como tudo aconteceu? – por que tudo ocorreu? (motivos) – o desfecho do texto?