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Os V Jogos Mundiais Militares no Brasil e a reinserção do esporte militar na política esportiva nacional

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Academic year: 2021

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Frederico Jorge Saad Guirra

OS V JOGOS MUNDIAIS MILITARES NO BRASIL E A

REINSERÇÃO DO ESPORTE MILITAR NA POLÍTICA ESPORTIVA

NACIONAL

CAMPINAS

2014

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA

Frederico Jorge Saad Guirra

OS V JOGOS MUNDIAIS MILITARES NO BRASIL E A

REINSERÇÃO DO ESPORTE MILITAR NA POLÍTICA ESPORTIVA

NACIONAL

Tese apresentada à Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Doutor, em Educação Física na Área de Educação Física e Sociedade.

Orientador: Prof. Dr. Lino Castellani Filho

Este exemplar corresponde à versão final de Tese defendida pelo aluno Frederico Jorge Saad Guirra e orientada pelo Prof. Dr. Lino Castellani Filho.

Assinatura do Orientador

CAMPINAS 2014

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RESUMO

As duas primeiras décadas do século XXI vêm reservando ao Brasil uma série de megaeventos esportivos iniciados em 2007 com os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, seguidos da realização da V edição dos Jogos Mundiais Militares (JMMs), em 2011, da Copa das Confederações e da Gymnasíade, em 2013 e do Mundial de Futebol FIFA, em 2014, ainda vindo à frente os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, em 2016, a Copa América de Futebol, em 2017 e da Universíade, em 2019. Esses megaeventos integram as estratégias governamentais brasileiras para a almejada inserção protagônica do país no cenário mundial, em um movimento de reposicionamento geopolítico definidor, para tanto, de uma sincronia entre a agenda definida pelos segmentos conservadores do campo esportivo brasileiro — por si só, conservador — e a "nova" ordem político-econômica mundial, configurativa muito mais do quadro de atendimento dos interesses do desenvolvimento urbano centrado na lógica dos negócios, do que propriamente daquele vinculado à materialização de uma política esportiva. Essas ideias constituem o ponto de partida do presente estudo, que versará sobre o Esporte Militar, no Brasil, das quais deriva a questão central que norteia esta pesquisa: Qual o atual lugar do Esporte Militar na política esportiva brasileira? A resposta a esse questionamento concretiza o objetivo geral deste estudo, ou seja, analisar a estratégia de sua reinserção na política esportiva, tendo os V JMMs como elemento canalizador de suas ações, no âmbito dos megaeventos esportivos. As questões foram enfrentadas a partir dos dados obtidos em uma pesquisa de cunho documental/bibliográfico, tendo como referencial teórico o Materialismo Histórico-Dialético e ancorada em peças orçamentárias, dispositivos normativos, matérias jornalísticas, por meio dos quais se pretendeu desvelar as entrelinhas do discurso acerca da realização de uma edição dos JMMs no Brasil. Para dar conta de tal tarefa, o caminho percorrido incluiu os seguintes objetivos específicos: i) partindo da realização da V Edição dos JMMs, retornar às quatro edições anteriores, identificando a participação do Esporte Militar Brasileiro, em diálogo com a política esportiva, à época de cada uma delas; ii) analisar o “dia seguinte” aos JMMs, os investimentos realizados, seus legados, a preparação brasileira para as Olimpíadas de Londres, em 2012, os JMMs em 2015 e os Jogos Olímpicos, em 2016; iii) analisar criticamente a realização dos Jogos Mundiais Militares no Brasil à luz do referencial teórico adotado. Foi possível constatar que o posicionamento estratégico das Forças Armadas junto ao Governo Federal e às entidades de administração do esporte nacional, por meio da realização dos JMMs, no Brasil, fez parte de um planejamento muito bem articulado, voltado à desoneração dos Jogos Olímpicos de 2016, e à expansão do esporte de alto rendimento, por meio dos Programas de cunho esportivo do Governo Federal, em que os militares figuram como parceiros, derrubando a tese de que os JMMs serviram apenas como evento-teste para a realização da Copa do Mundo FIFA, em 2014, e os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Verão, em 2016.

Palavras-chave: Esporte Militar. Megaeventos Esportivos. Política Esportiva Brasileira. V Jogos Mundiais Militares.

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ABSTRACT

The first two decades of the twenty-first century come to Brazil reserving a number of mega sporting events started in 2007 with the Pan-American Games in Rio de Janeiro, followed the completion of the V edition of the Military World Games (MWG), in 2011, of the Cup confederations and Gymnasíade in 2013 and the FIFA World Cup in 2014, still coming forward the Olympic and Paralympic Games in 2016, the America's Cup Football in 2017 and the Universiade in 2019. These mega events integrate Brazilian governmental strategies for the targeted insertion of the protagonist the world stage, in a move of defining geopolitical repositioning, therefore, of synchrony between the schedule defined by conservative segments of the Brazilian sports field - alone, conservative - and the "new "global political-economic order, configurative much of the framework for meeting the interests of urban development centered on business logic, than that linked to the materialization of a sporting policy. These ideas constitute the starting point of this study, which will focus on the Military Sports in Brazil, which derives the central question guiding this research: What is the actual place of Military sports in Brazilian policy sporting? The answer to this question embodies the objective of this study, analyzing the yours strategy of reinsertion in sporting policy and the V JMMs as plumber element of their actions within the sports mega-events. The issues were addressed from the data obtained in a survey of documentary / bibliographic nature, having as theoretical-Dialectical Materialism History, anchored in budget pieces, regulatory requirements, newspaper articles, through which it was intended to unveil the subtext of the speech about performing an edition of JMMs in Brazil. To realize this task, the path taken included the following specific objectives: i) to present the context of realizing the V edition of the JMM; ii) analyze the following day to JMMs, investments, their legacies, Brazil's preparations for the London Olympics in 2012, the JMMs in 2015 and the Olympics in 2016; iii) to review the achievement of the World Military Games in Brazil in light of the theoretical framework adopted. It was found that the strategic positioning of the Armed Forces from the Federal Government and entities to administer the national sport, through the realization of JMMs in Brazil, was part of a well articulated plan, aimed at relief of the 2016 Olympic Games, and the expansion of high performance sport through programs sporty of the Federal Government, in which the military figure as partners, dropping the thesis that JMMs served only as a test event for the hosting of the FIFA World Cup in 2014, and the Olympic and Paralympic Summer Games in 2016.

Keywords: Military Sports. Sporting Mega-Events. Brazilian Sporting Policy. V Military World Games

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...01 2 A REALIZAÇÃO DOS JOGOS MUNDIAIS MILITARES NO

BRASIL...07

1.1 Qual o significado da realização de uma edição dos JMMs para a lógica esportiva

brasileira? Uma viagem à história dos Jogos Mundiais Militares... ...10

1.2 A primeira edição dos Jogos Mundiais Militares – Roma 1995...19

1.3 A Segunda edição dos Jogos Mundiais Militares – Zagreb 1999...24

1.4 A Terceira edição dos Jogos Mundiais Militares – Catânia 2003...28

1.5 A Quarta edição dos Jogos Mundiais Militares – Hydrabad 2007...33

1.6 A Quinta edição dos Jogos Mundiais Militares – Brasil 2011...39

1.6.1 A Construção das Vilas Militares...41

1.6.2 A formação da Comissão de Planejamento Operacional (CPO)...46

1.6.3 A formação da delegação militar brasileira e as modalidades disputadas...52

1.6.4 As modalidades disputadas e os resultados alcançados...54

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2 O QUE ESTAVA RESERVADO AO BRASIL NO “DIA SEGUINTE” À

REALIZAÇÃO DOS JOGOS MUNDIAIS MILITARES NO BRASIL...71

2.1 Recursos investidos ...72

2.2 Os legados deixados pelos Jogos Mundiais Militares...82

2.2.1 Os legados socioeducacionais...83

2.2.2 Os legados materiais...92

2.2.3 O legado advindo do Programa Atletas de Alto rendimento...98

2.3 Como o Esporte Militar brasileiro se prepara para a VI edição dos Jogos Mundiais Militares em 2015...104

3 DO UFANISMO À REALIDADE BRASILEIRA: UMA ANÁLISE CRÍTICA SOBRE A REALIZAÇÃO DOS JOGOS MUNDIAIS MILITARES NO BRASIL...119

3.1 O Brasil como sede dos Jogos Olímpicos em 2016...119

3.2 V Jogos Mundiais Militares no Brasil: posicionamento estratégico do Esporte Militar a serviço da agenda Rio-2016...132

3.2.1 O Complexo de Deodoro...144

3.3 A expansão do esporte de alto rendimento: o verdadeiro legado socioeducacional dos Jogos Mundiais Militares...155

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS...175

5 REFERÊNCIAS...183

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho, em especial, à minha amada esposa, Andrea, companheira de todos os momentos, e a meus três lindos e abençoados filhos, presentes de Deus em minha vida, Frederico Filho, Felipe e Davi, meus eternos amores, nos quais eu busco a minha paz e revigoro as minhas forças a cada instante, para suportar os desafios da vida.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a Deus, companheiro de todas as horas, por ter-me permitido concluir mais esta jornada em minha vida, robustecendo-me a cada instante para suportar os inúmeros obstáculos encontrados.

Agradeço aos meus pais, Aldemar e Celeste, pela paciência, compreensão, carinho, principalmente pelos ensinamentos que tanto me auxiliaram e auxiliam em meu cotidiano, seja na vida profissional, ou em meus desafios como pai e marido.

À minha família, tios, tias, primos, em especial às minhas irmãs, Flávia e Carolina, por todo o apoio a mim destinado, não só agora, mas em todos os momentos dessas mais de quatro décadas já vividas.

Aos meus sogros, carinhosamente chamados de “seu Valmir” e “dona Raimunda”, pelas palavras de motivação, e por, principalmente, terem assistido minha esposa, Andrea, e meus filhos, nos momentos de minha ausência, que não foram poucos. À minha companheira, Andrea, por ter conseguido cuidar tão bem de nossa casa, de nossos filhos, e que por tantas vezes abandonou seus afazeres pessoais para me receber nos tantos momentos de idas e vindas, ao longo desse trajeto. Agradeço, ainda, por toda compreensão, amor e carinho a mim dedicados nesses mais de treze anos de matrimônio. A meus filhos, Frederico, Felipe e Davi, pois cada um, à sua maneira, sempre me encheu de energia e vontade, para nunca desistir diante da saudade.

Não poderia deixar de agradecer ao Rodrigo, meu cunhado, por me receber em sua casa, em Goiânia, por inúmeras vezes, sempre prestativo e com palavras de motivação, quando as forças pareciam se esvair.

Aos tantos professores com quem tive contato na Faculdade de Educação Física, e na Faculdade de Educação da Unicamp, meu obrigado pela oportunidade de compartilhar o conhecimento e de tanto aprender com eles.

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Aos inúmeros colegas que estiveram ao meu lado nesses anos, dividindo o espaço das salas de aula, pelas palavras de carinho e de força.

A todos os funcionários da FEF/Unicamp, pela atenção a mim dispensada, sempre que precisei, muitas vezes, estando a distância.

Aos companheiros do Observatório do Esporte, embora muitos eu não conheça ainda pessoalmente, que muito contribuíram para minha formação profissional e humana, pela troca de experiências e pelo debate proporcionado em tantos momentos.

À minha banca de doutorado, em especial, ao Professor Dr. Fernando Mascarenhas Alves e ao Professor Dr. Augusto César Rios Leiro, pela contribuição com este estudo, desde a qualificação, trazendo para o nosso debate elementos de suma importância para a constituição desta tese. Às Professoras Dra. Elaine Prodócimo e Sílvia Cristina Franco Amaral, que acompanham a minha trajetória, desde a entrada no Mestrado.

Gostaria de agradecer ao meu eterno mestre, professor Nivaldo David, por ter-me apresentado, ainda na época de faculdade, uma Educação Física que ter-merecia ser vista

sob outros olhares, e que deveria ser construída no campo social, nos embates de cada dia. Gostaria de encerrar agradecendo de forma especial ao meu orientador,

Professor Dr. Lino Castellani Filho, homem de caráter ilibado, exemplo de professor e de amigo, pela grande oportunidade de me proporcionar a realização de um sonho que sempre foi tê-lo como orientador, e, principalmente, por ter-me oportunizado partilhar, nesses anos, do seu grande conhecimento, não só da Educação Física, mas também da vida, que leva com tanta simplicidade. Lino, o meu muito obrigado a você!

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 – Delegação Militar brasileira nos Jogos de Roma – Itália -1995...24

Figura 02 – Delegação Militar brasileira nos Jogos de Zagreb - Croácia - 1999...28

Figura 03 – Delegação Militar brasileira nos Jogos em Catânia – Itália - 2003...33

Figura 04 – Delegação Militar brasileira nos Jogos em Hyderabad – Índia – 2007...39

Figura 05 – Vila Branca – Marinha do Brasil...42

Figura 06 – Vila Verde – Exército Brasileiro...43

Figura 07 – Vila Azul – Aeronáutica...44

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LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Treinamento dos voluntários do Projeto Rondon

Esportivo...49

Quadro 2 - Instituições de Ensino Superior Credenciadas para participar dos Jogos

Mundiais Militares...50

Quadro 3 - Modalidades Esportivas realizadas nos V Jogos Mundiais

Militares...55

Quadro 4 – Atletas do Alto Rendimento nacional incorporados às Forças Armadas por modalidades esportivas...56

Quadro 5 – Investimentos realizados nos Jogos Mundiais Militares nos exercícios 2008, 2009, 2010 e 2011...74

Quadro 6 – Distribuição dos recursos federais por demandas dos Jogos Mundiais

Militares...75

Quadro 7 – Orçamento Geral da União para os V Jogos Mundiais

Militares...76

Quadro 8 – Distribuição dos gastos com os JMMs, segundo o Tribunal de Contas da União – TCU...92

Quadro 9 – Resultados mais expressivos das equipes militares brasileiras em preparação para os JMMs...106

Quadro 10 – Resultados obtidos no ano de 2009 no Programa Atletas de Alto

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS APO Autoridade Pública Olímpica

BENNET Instituto Metodista Bennet

CBCE Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte CBD Confederação Brasileira de Desportos CBF Confederação Brasileira de Futebol CCFEx Centro de Capacitação Física do Exército CDE Comissão de Desporto do Exército

CDFA Comissão Desportiva das Forças Armadas CDMB Comissão Desportiva Militar do Brasil CEFAN Centro de Educação Física Adalberto Nunes CET Companhia de Engenharia e Tráfego

CME Comissão Militar Esportiva CND Conselho Nacional de Desportos

CISM Conseil International Du Sport Militaire COB Comitê Olímpico Brasileiro

COI Comitê Olímpico Internacional CONFEF Conselho Federal de Educação Física CPO Comitê de Planejamento Operacional DDE Departamento de Desportos do Exército EAD Educação a Distância

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xxii EMFA Estado Maior das Forças Armadas EPT Esporte Para Todos

EsEFEX Escola Superior de Educação Física do Exército EUA Estados Unidos da América

FACHA Faculdades Integradas Hélio Alonso

FIFA Federation International Futebol Association FTESM Faculdade Souza Marques

IBMR Instituto Brasileiro de Medicina e Reabilitação IES Instituições de Ensino Superior

IOB Instituto Olímpico Brasileiro

IPEA Instituto de Pesquisas Econômicas Avançadas JMM Jogos Mundiais Militares

LMF Liga Militar de Futebol LSE Liga de Sports do Exérctio LOA Lei Orçamentária Anual MD Ministério da Defesa ME Ministério da Educação ME Ministério do Esporte OM Organizações Militares

ONU Organização das Nações Unidas PAA Programa Atletas de Alto Rendimento PCdoB Partido Comunista do Brasil

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xxiii PPA Plano Plurianual

PT Partido dos Trabalhadores R7 Rede Record

TCU Tribunal de Contas da União

SPEEL Seminário de Políticas Públicas em Esporte e Lazer UAM Universidade Anhembi Morumbi

UCB Universidade Castelo Branco UFF Universidade Federal Fluminense

UFRRJ Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro UERJ Universidade Estadual do Rio de Janeiro UNB Universidade de Brasília

UNESA Universidade Estácio de Sá UNIABEU Centro Universitário Abreu UNIAGRO Universidade do Grande Rio

UNILEVER Companhia multinacional que produz bens de consumo UNISUAM Centro Universitário Augusto Mota

UPP Unidade de Polícia Pacificadora

URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas UVA Universidade Veiga de Almeida

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A democratização das entidades de administração e prática esportivas urge ser realizada de modo a eliminar-se de uma vez por todas a configuração delas como verdadeiros feudos nas mãos de senhores feudais modernos que se eternizam no poder, fazendo uso privado da estrutura esportiva nacional que deveria estar a serviço de efetivar a máxima constitucional de termos o Esporte como direito social.

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INTRODUÇÃO

O

esporte brasileiro está cumprindo, no decorrer das duas primeiras décadas do século XXI, uma intensa e importante agenda esportiva, marcada pela chegada das principais competições mundiais em solo brasileiro. Para o Brasil, esse ciclo de grandes eventos esportivos teve seu início, em 2007, com os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, seguidos pela V edição dos Jogos Mundiais Militares, em 2011, a Copa das Confederações, e a Gymnasíade, em 2013, o Mundial de Futebol, em 2014, e seguirá com os Jogos Olímpicos e Paralímpicos em 2016, a Copa América, em 2017, e a Universíade, em 2019.

No entanto, a realização desses megaeventos em solo brasileiro responde muito mais à lógica de desenvolvimento urbano centrado no negócio imobiliário e turístico do que propriamente à da política esportiva, estabelecendo, assim, uma sintonia entre os interesses do setor conservador1 do campo esportivo brasileiro e a nova ordem político-econômica mundial. Vainer (2011) esclarece que esses megaeventos esportivos não acontecem por mero acaso, mas fazem parte de um novo modelo de planejamento urbano em que muito mais do que o atendimento aos interesses da população, estão os interesses voltados para o grande capital, os grandes negócios financeiros, transformando as cidades em empresas que concorrem no mercado com outras ‘cidades-empresas’, na busca de capitais, investimentos e pelos próprios eventos2. Para o mesmo autor esses megaeventos: “[...] realizam, de maneira plena e intensa, a cidade de exceção. A cidade dos megaeventos é a cidade das decisões ad hoc, das isenções, das autorizações especiais... e também das autoridades especiais" (VAINER, 2010, p. 11).

1 O setor conservador do campo esportivo brasileiro é constituído por entidades com personalidade jurídica de

direito privado (entidades de administração do esporte brasileiro) como a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), as Confederações, Federações e Clubes desportivos. Mais recentemente se aliou a este grupo um Conselho, o CONFEF (Conselho Federal de Educação Física).

2 Entrevista com o professor Carlos Vainer do IPPUR/UFRJ (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e

Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro), podendo ser vista na íntegra no endereço eletrônico:http://carosamigos.terra.com.br/index/index.php/cotidiano/1216-entrevista-carlos-vainer. Acessado em 06/06/2013.

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Tais fatos encontram terreno fértil principalmente quando se verifica, no Brasil, a ausência de um Sistema Nacional de Esporte, cujas competências e responsabilidades sejam bem definidas, e a presença de um Ministério que, aliado a entidades de administração do esporte em busca de legitimação e reconhecimento dentro do campo esportivo, torna sua agenda refém da agenda definida por esse grupo, ou seja, voltada para o esporte de alto rendimento, em detrimento da manifestação do esporte como prática social e conquista cultural do povo.

Nesse contexto, sobressai-se a realização da V edição dos Jogos Mundiais Militares e que chama a atenção e aguça o interesse do pesquisador pelo tema, num primeiro momento, pela curiosidade em busca do conhecimento acerca da especificidade do esporte militar. Em um segundo momento, chama a atenção, quando se questionam as possíveis razões que justificaram a escolha de um país, sem nenhuma tradição no esporte fardado, credenciando-o a sediar uma edição dos JMMs.

Essa falta de tradição parece não ter sido suficiente para impedir que o Brasil se candidatasse e vencesse, em 2007, a Turquia, em Burkina Faso, na África Ocidental, na disputa para sediar a V edição dos Jogos Mundiais Militares, que chegou ao Brasil no ano de 2011 com status de um megaevento esportivo. Também foi determinante para definir o objeto desta tese a constatação da insipiência de estudos sobre o Esporte Militar Brasileiro, motivador da, até certo ponto, “surpresa” demonstrada tanto pela mídia especializada, quanto pelo meio acadêmico.

A relevância dessa temática aumenta, quando se percebe que a escolha não se dá por obra do acaso, mas se alinha ao pensamento do governo brasileiro, num momento de reposicionamento do país no cenário mundial, dando visibilidade a ele e provocando a abertura de uma janela3 de oportunidades político-econômicas4 e de sua inserção, de forma

3 Termo utilizado por André Singer em entrevista ao Instituto Humano Usininos em 29 de novembro de 2010.

Entrevista na íntegra no endereço eletrônico:

http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=3674&secao=352. Acessado em 08/06/2013.

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André Singer em seu livro intitulado Os Sentidos do Lulismo, cita essa janela de oportunidades como a grande sacada de Lula, que tem: “[...] a percepção “de que havia uma janela de oportunidade para fazer uma política distributiva, mesmo mantendo a orientação macroeconômica que vinha do governo anterior. (...) Tenho a impressão de que isso não estava na previsão de ninguém”. O autor ainda complementa dizendo que: “A conjuntura econômica mundial favorável entre 2003 e 2008, não só por apresentar um ciclo de expansão

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protagônica, nesse cenário, utilizando como estratégia para atingir esse objetivo os megaeventos esportivos. Além disso, tais oportunidades propiciam, cada vez mais, a legitimação do discurso das entidades conservadoras do campo esportivo brasileiro, por meio do qual acreditam incluir o país entre as principais potências do esporte internacional. Diante de tais considerações, aumenta ainda mais a pertinência deste estudo, que elencou como seu objeto o Esporte Militar brasileiro, do qual emerge a questão central que norteará esta pesquisa: Qual o atual lugar do Esporte Militar na política esportiva nacional? Dessa pergunta central deriva o objetivo geral do trabalho, ou seja, analisar a estratégia de sua reinserção na política esportiva brasileira, tendo os V Jogos Mundiais Militares como elemento canalizador de suas ações no âmbito dos megaeventos esportivos. A hipótese inicial desta tese é a de que os JMMs em solo brasileiro aconteceram como parte de um planejamento estratégico advindo da parceria estabelecida entre o Comitê Olímpico Brasileiro, o Governo Federal e as Forças Armadas, objetivando o cumprimento de uma agenda pré-definida, com vistas a um projeto muito maior, ou seja, a subsequente participação brasileira nos Jogos Olímpicos de 2016, na cidade do Rio de Janeiro.

Outros questionamentos também relevantes para a compreensão da discussão acerca do assunto se materializam por meio dos seguintes objetivos específicos: i) partindo da realização da V Edição dos JMMs, retornar às quatro edições anteriores, identificando a participação do Esporte Militar Brasileiro em diálogo com a política esportiva, à época de cada uma delas; ii) analisar o “dia seguinte” aos JMMs, os investimentos realizados, seus legados, a preparação brasileira para as Olimpíadas de Londres, em 2012, os JMMs em 2015, na Coreia, e os Jogos Olímpicos, em 2016; iii) analisar criticamente a realização dos Jogos Mundiais Militares no Brasil à luz do referencial teórico adotado.

As questões foram respondidas por meio de uma pesquisa qualitativa, de cunho documental/bibliográfico, que se ancorou em matérias jornalísticas, em material impresso, como a revista Verde Oliva das Forças Armadas, e virtual, como a consulta a sites especializados do Conselho Internacional de Esporte Militar, da Comissão Desportiva capitalista como por envolver um boom de commodities, ajudou a produzir o lulismo. No entanto, foram as decisões do primeiro mandato, intensificadas no segundo, que canalizaram o vento a favor da economia internacional para a redução da pobreza e a ativação do mercado interno. Lula aproveitou a onda de expansão mundial e optou por caminho intermediário ao neoliberalismo da década anterior” (SINGER, 2012, p.16).

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Militar do Brasil, da Escola Superior de Educação Física do Exército, da Comissão Desportiva do Exército, do Centro de Capacitação Física do Exército; ao site oficial dos Jogos Mundiais Militares no Brasil e notícias da mídia em geral e esportiva. Foram utilizados também relatórios de acompanhamento dos Jogos, por meio da página eletrônica do Tribunal de Contas da União, do site Contas Abertas, e do Portal da Transparência do Governo Federal, com a ajuda dos quais tivemos a pretensão de desvelar as entrelinhas da organização e realização da V edição dos JMMs no Brasil.

O método utilizado foi o Materialismo Histórico-Dialético, o qual permitiu pautar-nos pela categoria da contradição, da não aceitação da forma linear como os fatos são colocados e aceitos, levando-nos a investigá-los à luz do seu movimento, “[...] visando, assim, ultrapassar os limites da lógica formal” (KOSIK, 1976). Para tanto, utilizamos uma técnica denominada triangulação de dados que, segundo Mynaio (2007), nos permite analisar a pesquisa, estabelecendo um vínculo entre pensamento e ação, relacionando as questões que se deseja investigar em relação a interesses e circunstâncias condicionados socialmente, sendo impossível conceber certo fenômeno como algo isolado, sem raízes históricas e sem vinculações estreitas e essenciais com a macrorrealidade social.

Além disso, as questões colocadas foram analisadas na interlocução com os seguintes autores: Castelan (2011), Castellani Filho (1985, 2008, 2009, 2010, 2012, 2014), Correa (2006), Gaffney (2011), Hobsbawn (2010), Kosik (1975), Lardies (1971), Linhales (2006), Mascarenhas F. (2012), Mascarenhas G. (2011), Mynaio (2007), Ferreira Neto (1998), Rolnik (2012), Trivinõs (2008), Vainer (2011).

Dessa forma, o estudo foi estruturado em três capítulos, assim dispostos:

No primeiro capítulo foi abordada, de forma mais descritiva, a realização dos V Jogos Mundiais Militares no Brasil, a partir do qual buscamos retornar à gênese do Esporte Militar na política esportiva brasileira, o surgimento do Conseil Internacional du Sport Militaire e, a partir dele, a criação dos Jogos Mundiais Militares; a participação brasileira nas quatro edições anteriores dos JMMs, dialogando com a política esportiva brasileira à época de cada uma delas, buscando identificar o lugar ocupado pelo Esporte Militar nessa política que credenciasse o país a sediar uma edição dos Jogos Mundiais Militares. No caminho percorrido, focalizou-se a construção das vilas militares, a configuração da CPO –

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Comissão de Planejamento Operacional dos Jogos -, a formação da delegação militar brasileira, vistos sob a lente da mídia em geral e da especializada e a opinião do público em geral.

No segundo, buscamos apresentar o “dia seguinte” aos V Jogos Mundiais Militares no Brasil, trazendo os legados por ele deixados, sob a ótica dos principais interessados, como as Forças Armadas, o Governo Federal e o Comitê Olímpico Brasileiro; os valores investidos, os legados socioeducacionais, os resultados obtidos e a preparação da delegação brasileira para os Jogos Olímpicos, em Londres/2012, os JMMs, em 2015, na Coreia do Norte e no Rio, em 2016, por meio da sintonia estabelecida entre a agenda esportiva civil e a militar tanto em nível nacional como internacional.

No terceiro capítulo, apresentamos uma análise crítica acerca da realização dos V Jogos Mundiais Militares no Brasil, tendo como ponto de partida a escolha brasileira para sediar os Jogos Olímpicos, em 2016, o posicionamento estratégico das Forças Armadas frente às entidades de administração do esporte nacional e à agenda Rio-2016, e à expansão do esporte de alto rendimento como o verdadeiro legado socioeducacional dos Jogos Mundiais Militares.

Nas Considerações Finais buscamos fazer uma síntese dos capítulos anteriores, com vistas à resposta à questão central deste estudo, também sob uma perspectiva crítica, retomando e avaliando os objetivos deste trabalho e o nível de satisfação obtido na sua contemplação.

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CAPÍTULO 1 - A REALIZAÇÃO DOS JOGOS MUNDIAIS

MILITARES NO BRASIL

É vital o historiador lutar contra a mentira. O historiador não pode inventar nada, e sim revelar o passado que controla o presente às ocultas. Eric Hobsbawn

Em julho de 2011, foi realizada, em solo brasileiro, a V edição dos Jogos Mundiais Militares, um megaevento esportivo que, durante os 09 dias de sua realização, transformou a cidade do Rio de Janeiro na capital mundial do esporte militar, trazendo para tanto uma grandiosa estrutura que contou com números impressionantes, como a presença de 110 países, 6.000 atletas que disputaram 459 medalhas de ouro, 459 de prata e 503 de bronze, 2.000 delegados e árbitros, e 1.706 oficiais. Somada a esses números, os Jogos ainda puderam contar com uma força de trabalho de 25.735 pessoas, sendo 2.267 voluntários, 17.952 militares de apoio, 4.647 terceirizados e 724 envolvidos nas operações do evento, superando em números os Jogos Pan-americanos – Rio 20075.

O Brasil foi escolhido para sediar os JMMs, em Ougadougou, capital de Burkina Faso, na África Ocidental, em maio de 2007, durante a 62ª Assembleia Geral do CISM (Conselho Internacional du Sports Militaire), que contou com a participação de 133 países. Apresentaram-se como candidatos a sediar os Jogos, em 2011, Brasil e Turquia, e o país latino-americano levou a melhor, sendo escolhido para sediar o evento, que aconteceria de 16 a 24 de julho de 2011, na cidade do Rio de Janeiro. O CISM justificou ser decisiva a

5 Dados retirados do site oficial dos Jogos, presente na página:

http://www.rio2011.mil.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2544%3Ajogos-mundiais-

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escolha do Brasil e da cidade do Rio de Janeiro, pelas já existentes estruturas esportivas construídas para a realização do Pan e do Para-Pan de 2007, que se alia à experiência na realização de grandes eventos e ao extremo interesse demonstrado pelas autoridades locais em sediar o evento, fato este que ajudou a “bater o martelo” a favor das Forças Armadas Brasileiras.

Para dar conta de tal tarefa, o Brasil já contava com uma instituição específica para as questões relativas ao Esporte de cunho militar, a Comissão Desportiva Militar do Brasil (CDMB), órgão subordinado ao CISM, criado em 1956, com sede em Brasília, integrando a estrutura do Ministério da Defesa, estando vinculada à Secretaria de Pessoal, Ensino, Saúde e Desporto. A CDMB possui como principal responsabilidade organizar e coordenar os assuntos referentes ao esporte militar no Brasil, por meio do qual trabalha em parceria com as Forças singulares na elaboração de competições esportivas entre as Forças Armadas, quais sejam: Exército, Marinha e Aeronáutica6. Atualmente, ela trabalha com 14 modalidades esportivas, priorizando as categorias com características essencialmente militares: Atletismo, Basquete, Cross-Country, Esgrima, Futebol, Judô, Natação, Orientação, Paraquedismo, Pentatlo Militar, Tênis, Tiro, Triatlo, Vôlei.

Essa comissão foi presidida à época dos JMMs pelo Vice-almirante Bernardo José Pierantoni Gambôa, que permaneceu no cargo por um período maior que o estipulado pelas normas do CISM, que prevê a passagem de comando a cada dois anos, em relação à presidência, por causa da escolha do Brasil para sediar a V edição dos Jogos Mundiais Militares. O Vice-almirante só foi substituído no ano de 2012 pelo General de Divisão Fernando Azevedo e Silva 7, que comandou o Centro de Capacitação Física do Exército (CCFEx), no Rio de Janeiro, por três anos, acumulando também a função de presidente da Comissão de Desportos do Exército (CDE), cargo que fez com que reunisse experiência na área de desporto militar.

A CDE realiza um trabalho similar ao da CDMB, em nível do exército, estando esta Comissão subordinada ao Centro de Capacitação Física do Exército (CCFEx), criado

6 Informações retiradas do site dos Jogos Mundiais Militares no Brasil, no endereço:

http://www.rio2011.mil.br/index.php?option=com_content&view=article&id=246&Itemid=103&lang=pt

7 Texto na íntegra no endereço eletrônico:

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em 1915, tendo como seu órgão precursor a Liga de Futebol Militar (LFM)8. Está localizada no histórico morro “Cara de Cão”, no bairro da Urca, dentro da Fortaleza de São João, e tem como principal objetivo planejar, organizar, dirigir coordenar, controlar e supervisionar a prática desportiva do exército brasileiro. À CDE coube a responsabilidade, o planejamento e a preparação dos selecionados militares brasileiros de 10 das 20 modalidades desportivas que seriam disputadas nos JMMs, perfazendo um total de 58% da delegação militar brasileira, cabendo à Marinha a preparação de 6 modalidades e à Aeronáutica, outras 4, conforme pode-se comprovar no anexo 1. As equipes preparadas pelo Exército utilizaram, como estrutura para o treinamento, a Escola Superior de Educação Física do Exército – EsEFEX9, instituição criada em 19 de outubro de 1933, no governo de Getúlio Vargas, que se tornou a: “[...] célula-mater na formação de profissionais para a área no país, sendo nomeado seu primeiro comandante o Major Raul Mendes de Vasconcelos”. (FERREIRA NETO, 1998, p. 296), e que conta atualmente com uma estrutura esportiva completa com campo de futebol, sala de musculação, pista oficial de atletismo e piscina semiolímpica.

Porém, antes da escolha brasileira para sediar a V edição dos JMMs, outras quatro foram realizadas, sendo a primeira na cidade de Roma, em 1995, a segunda, na Croácia, em 1999, a terceira, em 2003, em Catânia, na Itália, e a quarta, em Hyderabad, na Índia, em 2007. A edição brasileira no Rio de Janeiro em 2011 foi a quinta edição, e a sexta está prevista pra acontecer em Mungyeong, na Coreia do Norte, em 2015. Nesse sentido, para uma melhor compreensão do contexto da realização de uma edição dos Jogos Mundiais Militares no Brasil, emerge como premissa básica, a necessidade de retornar à realização de cada uma das quatro edições anteriores, analisando-as sob a ótica da criação do Conselho Internacional de Esporte Militar, trazendo dados da participação brasileira em

8 Informações retiradas da Revista Verde-Oliva do Exército Brasileiro, edição especial sobre o Exército

brasileiro nos V Jogos Mundiais Militares.

9 Na data de 19 de outubro, o Governo Vargas pelo decreto 23252, muda a denominação do CMEF para

Escola de Educação Física do Exército, dando-lhe nova organização, atualizando os seus currículos e ampliando os seus objetivos. Desde então, a EsEFEx assumiu uma função de formadora com atuação em todo o território nacional, frequentemente em condições pioneiras em diversas regiões. Esta vocação para influenciar a Educação Física em escala nacional – e mais tarde admitindo alunos do exterior – passou por estágios distintos, refletindo o próprio desenvolvimento do esporte e atividades físicas de lazer, ora em perspectiva militar (instrutores), ora civil (professores e médicos). Retirado do endereço eletrônico:

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cada um dos períodos correspondentes a uma edição dos Jogos, em interlocução com a estruturação do Esporte Militar na legislação e na política esportiva brasileira, à época. Buscar-se-ão, assim, elementos que nos ajudarão a explicar o porquê de uma mudança de postura das entidades que administram o esporte brasileiro em sediar, em um país sem nenhuma tradição nesse esporte, uma edição dos JMMs.

1.1– Qual o significado da realização de uma edição dos JMM para a lógica esportiva brasileira? Uma viagem à história dos Jogos Mundiais Militares.

O século XX tornou-se, sem sombra de dúvidas, um dos períodos mais conturbados e incertos da história da humanidade, marcado profundamente por conflitos bélicos e pelo neocolonialismo. Para Hobsbawn (2010), “[...] foi um século breve e extremado, sua história e suas possibilidades edificaram-se sobre catástrofes, incertezas e crises [...]”, tendo em sua primeira etapa a “Era da Catástrofe”, ocasionada por duas guerras mundiais, que ele classifica como um embate só: a “Guerra dos 31 Anos” (1914-1945), o que levou o mundo e principalmente a Europa, a presenciar um grande derramamento de sangue. Para o mesmo autor, o final da Segunda Grande Guerra Mundial trouxe consigo uma série de soluções que acompanharam o cenário político-econômico por várias décadas:

Os impressionantes problemas sociais e econômicos do capitalismo na Era da Catástrofe aparentemente sumiram. A economia do mundo ocidental entrou em sua Era de Ouro; a democracia política ocidental, apoiada por uma extraordinária melhora na vida material, ficou estável; baniu-se a guerra para o Terceiro Mundo. Por outro lado, até mesmo a revolução pareceu ter encontrado seu caminho para frente. Os velhos impérios coloniais desapareceram ou logo estariam destinados a desaparecer. Um consórcio de Estados comunistas, organizado em torno da União Soviética, agora transformada em superpotência, parecia disposto a competir na corrida pelo crescimento econômico com o Ocidente. Isso se revelou uma ilusão, mas só na década de 1960 essa ilusão começou a desvanecer-se. Como podemos ver agora, mesmo o cenário internacional se estabilizou, embora não parecesse. Ao contrário da Grande Guerra, os ex-inimigos – Alemanha e Japão – se reintegraram na economia mundial (ocidental), e os novos inimigos – os EUA e a URSS – jamais foram realmente às vias de fato. (HOBSBAWN, 1995, p. 57).

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É nesse contexto de devastação provocado pelos holocaustos das duas Grandes Guerras Mundiais, em meio à chamada “Era de Ouro”10 do capitalismo mundial e a guerra ideológica entre os EUA e a URSS, em busca de uma hegemonia política, econômica e militar do mundo denominada Guerra Fria11, que surge, em 1948, o CISM – Conseil Internacional du Sport Militaire, criado pela Bélgica, Luxemburgo, França, Dinamarca e Holanda, países do bloco aliado, vencedores da 2ª guerra, em Nice, durante um evento de esgrima, cujo principal intuito era integrar as nações que participaram dos grandes conflitos bélicos na primeira metade do século XX, na Europa. Esse Conselho tinha, ainda, por objetivo, contribuir para a paz mundial, por meio do esporte e pela união das Forças Armadas, utilizando como lema: “amizade através do Esporte”.

Na mesma década de 40, o Brasil vive em pleno Estado Novo, período em que Getúlio Vargas governou o Brasil, de 1937 a 1945, tendo como principais características a ausência de democracia, forte censura aos meios de comunicação e aplicação de um regime de caráter Populista. Segundo Souza (2012) 12, o Populismo era uma importante estratégia do ditador brasileiro que se ancorava em uma visível teatralização do poder, lugar de onde o líder carismático utilizava de grandes eventos e dos novos meios de comunicação para se dirigir à nação. Não fazendo questão de um intermediário que viabilizasse tal diálogo entre a população e o Estado, os governantes populistas utilizavam de um discurso direto e ao

10 Para o historiador Eric Hobsbawn (1995, p.171), a Era de Ouro do capitalismo se caracteriza por um lado

pela “profunda e irreversível” transformação econômica, social e cultural promovida pelo capitalismo, e por outro lado, pela grande aceleração da modernização de países agrícolas atrasados, inspirados pela Revolução Russa de 1917. Nesse período dá-se uma infinidade de “estratégias rivais” entre “capitalismo” e “socialismo”, protagonizados pelos EUA e a URSS e suas consequências concretas: as revoluções sociais, a Guerra Fria, a questão do “Socialismo Real”, e a situação do terceiro Mundo.

11 Definida por Hobsbawn (2010, p. 223) como sendo “[...] o período que vai desde o lançamento das

bombas atômicas até o fim da União Soviética, como um período não homogêneo, e que divide o mundo em duas metades tendo como divisor de águas o início da década de 1970”. A Segunda Guerra mal terminara e a humanidade já se encontrava mergulhada no que se pode encarar como uma Terceira Guerra Mundial. Ainda segundo o autor, a peculiaridade da guerra ideológica entre EUA e URSS, era a de que em termos objetivos não existia perigo iminente de guerra mundial, mas havia uma distribuição global das forças no final da Segunda Guerra, que equivalia a um equilíbrio de poder desigual mas não contestado em sua essência. A URSS controlava uma parte do globo ou sobre ele exercia predominante influência com o seu exército vermelho, e outras Forças Armadas comunistas e não se utilizava da força militar para tentar ampliá-la, os EUA sobre o resto do mundo capitalista, incluindo os oceanos e o hemisfério norte assumindo o que restava da velha hegemonia imperial das antigas potências coloniais, mas não intervinha na zona aceita de hegemonia soviética.

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mesmo tempo inflamado para conclamar o apoio popular. Na verdade, o Populismo de Getúlio era uma manipulação demagógica do poder burguês sobre o proletariado cujo principal objetivo era destituir as forças de oposição ao governo por parte dos trabalhadores (IANNI, 2006).

O Brasil vivia um governo de exceção sob os auspícios de uma ditadura que tinha por modelo o nazismo de Hitler e o fascismo de Mussolini, cujas ideias eram inspiradoras de todo o contexto sociopolítico brasileiro, incluindo nessa esteira, o esporte. Para Getúlio era fato importante levar ao povo brasileiro a imagem de uma nação em crescimento, possuidora de riquezas naturais inigualáveis e de um setor industrial em franco crescimento, sendo este capaz de projetar o Brasil para muito além de suas fronteiras territoriais. É no delineamento desse cenário que vimos emergir o primeiro dos sete (07) pontos que serão abordados ao longo deste capítulo, que nos conduzirão na tarefa de encontrar respostas à problematização inicial desta tese, ou seja, identificar qual o atual lugar do Esporte Militar na estrutura esportiva nacional, buscando elementos que sustentem nossa hipótese inicial de que a realização dos JMMs no Brasil só se justificou se olhada sob os interesses do Governo Federal e do COB, visando à realização dos Jogos Olímpicos, no Rio, em 2016.

Seguindo então a lógica do Governo getulista, o Brasil presencia o surgimento do primeiro dispositivo legal que trouxe consigo o claro intuito de disciplinar e organizar o campo esportivo brasileiro13, em 14 de abril de 1941, quando é assinado o Decreto-Lei 3.199 que criou em seu Art. 1º o CND – Conselho Nacional de Desportos, vinculado ao

13 Castellani Filho (2008) nos relata que, até então, o governo ainda não havia lançado seus olhares sobre o campo esportivo, e um fato fez com que fosse chamada a atenção do presidente, principalmente pelo seu resultado negativo culminando na ordem dada ao então Ministro João Lyra Filho da criação de um projeto que disciplinasse o esporte no Brasil, construindo amparos legais que organizassem esse campo, com o claro objetivo de incorporá-lo às ações governamentais para que o Estado pudesse, também, assim como na política, na economia, na educação, intervir no âmbito do esporte brasileiro. Além disso, até então, o Brasil permitia em sua organização esportiva que mais de uma Confederação tivesse comando sobre a mesma modalidade de esporte. Outro fator que poderia também ter contribuído para que o Estado lançasse os olhares sobre essa área e acelerasse sua intervenção sobre ela foi o fato de que, para o poder público, as disputas e rivalidades entre os grupos nesse campo eram focos de disputas políticas, motivo para impedir que opositores ao Governo fizessem campanha contra a forma autoritária de como ele conduzia os setores da vida social brasileira. O Estado interviria para garantir a neutralidade entre esses grupos, consolidando assim uma estrutura que garantisse o funcionamento do sistema esportivo brasileiro tendo por base princípios corporativos e arbitrários. (LINHALES, 2006).

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Ministério da Educação e Saúde, que tinha por objetivo primeiro orientar, fiscalizar e incentivar a prática dos desportos, em todo o país. (LARDIES, 1971).

Nesse mesmo documento, o esporte de ordem militar14 no Brasil aparece normatizado, pela primeira vez, no Art. 11, porém com sua organização à parte, juntamente com o esporte universitário, o esporte da juventude brasileira, da marinha, do exército e de outras forças policiais, como policiais militares e bombeiros, sempre sob a supervisão do CND e dirigido por Confederações e entidades especiais. Correia (2006, p.420) relata que “O esporte militar no Brasil até o final da década de 1940 desenvolveu-se de forma isolada em cada Força Singular (Marinha, Exército e Aeronáutica) e Auxiliar (Polícias Militares e Bombeiros dos Estados)15.”

De volta ao cenário mundial, houve várias tentativas de organizar competições esportivas entre os países das Forças Aliadas, após o final da Primeira Guerra, tentativas estas que não obtiveram muito êxito, caindo logo no esquecimento por parte dos órgãos militares. Porém, com o encerramento da Segunda Grande Guerra, em 1945, e por meio de um campeonato de atletismo realizado em Berlim, em 1946, entre os países que compunham as Forças Aliadas, foram nomeados o Coronel Debrus e o Major Mollet para criarem o CDFA-

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No Brasil desde o início do século XX existiram várias tentativas de dar ao esporte militar uma organização. Nesse sentido, é a partir da segunda década deste século principalmente no exército, que essa organização parece se delinear, com a criação da LMF – Liga Militar de Futebol em 1915, que modificaria seu nome para LSE – Liga de Sports do Exército em 1920. Em 1922, já sob o comando da missão militar francesa, comemorando o centenário da independência, a Liga cria a Comissão Militar Esportiva, que é designada para, em parceria com a Confederação Brasileira de Desporto, realizar, pela primeira vez na América do Sul, os Jogos Latino-Americanos, ficando responsável por conduzir os esportes tipicamente militares, como os Hípicos, o Atletismo, o Tiro, a Esgrima, o Futebol e o Pentatlo Moderno. Almeida (2010, p. 11) nos relata que: “A marinha também possuía uma Liga de Sports, porém seu principal intuito era a formação de monitores de educação física”. De 1922 a 1929, são realizadas algumas competições esporádicas dentro do exército, sendo que, nesse período, o esporte militar possuía extrema dificuldade para a realização de suas competições, suspendendo, então, as atividades da Liga Mesmo assim, em 1929, é realizada a I Olimpíada do Exército, e em 1930 é inaugurado o Centro Militar de Educação Física, que cria uma diretoria de Educação Física em substituição à LSE – Liga Sports do Exército, subordinada ao Ministro da Guerra, tendo como órgão técnico a futura Escola Superior de Educação Física do Exército, que foi criada em 1933, pelo então presidente da República Getúlio Vargas, em 19 de outubro de 1933, por meio do decreto 2.3252/1933.

15 Merece ser ressaltado no que tange à especificidade do Esporte Militar, que, desde o primeiro ordenamento

legal do esporte nacional, na década de 40 do século passado, ele tinha a prerrogativa de participar do esporte federado. Castellani Filho (2008) deixa clara a existência de um pseudo-sistema esportivo que normatizava apenas o esporte de alto rendimento, o esporte federado, estabelecendo a lógica de que tanto o esporte estudantil quanto o esporte militar poderiam participar de competições do esporte federado, não sendo a recíproca verdadeira, ou seja, o esporte federado (clubes) não poderia participar de competições organizadas pelo esporte estudantil e militar.

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Conselho Desportivo das Forças Armadas - que durou pouco tempo por conta de discordâncias políticas16. Porém,

O desejo dos militares de se encontrarem em arenas esportivas no lugar de campos de batalha não era uma novidade em 1948. Na realidade, os primeiros Jogos Inter-Aliados foram realizados logo após o fim da Primeira Guerra Mundial, a partir de uma iniciativa do General Pershing e de sua comitiva, contando com a participação de 18 nações representantes de cinco continentes. Em 1919, em Joinville, nos subúrbios de Paris, 1.500 atletas competiram em 24 modalidades diferentes diante de grande público.17

Com a criação do Conselho, começaram a ser realizadas, de forma mais efetiva, competições, em nível internacional, de modalidades esportivas com maiores características do esporte militar, como a esgrima, o pentatlo, as corridas e o tiro. Outro fato importante é que, aos poucos, diversos países foram aderindo ao CISM, dentre os quais podemos citar a Argentina e o Egito, em 1950, os Estados Unidos da América em 1951, e, em 1952, Paquistão, Síria, Líbano e Iraque, tendo o Brasil se filiado ao Conselho, em 1958. Na mesma década de 50, mais precisamente em 1951, no Brasil, por iniciativa do Departamento de Desporto do Exército – DDE - é fundada uma sede do Conselho Desportivo das Forças Armadas (CDFA), cujo principal objetivo era organizar as competições em nível militar no âmbito nacional18, porém seu reconhecimento, dentro da legislação esportiva brasileira, só acontece por meio do Decreto nº 38.778, de 27 de fevereiro de 1956, que “Dispõe sobre a criação da Comissão Desportiva das Forças Armadas” (LARDIES, 1971, p. 51).

16 Texto na íntegra no site: http://www.cism-milsport.org/eng/002_ABOUT_CISM/History/History.asp.

Acessado em 10/07/2012.

17http://www.30cismworldmilitaryvolleyball.com/index_port.asp. Site oficial do 30º Campeonato de Voleibol

Militar realizado no Brasil em julho de 2009. Acessado em 22/08/2012.

18 Segundo (CORREA, 2006), no Brasil, o esporte militar se desenvolveu isoladamente até a década de 40,

dividido em forças Singular (Marinha, Exército e Aeronáutica), e Auxiliar (Policiais Militares e Bombeiros dos Estados). Devido ao grande crescimento do CDFA, com as questões relativas ao Esporte Militar, e visando fortalecer cada vez mais a sua estrutura e comando, O CND (Conselho Nacional de Desportos) reconheceu de forma imediata, a importância do Conselho como formador de atletas de representação para os selecionados nacionais com ênfase no esporte olímpico, segundo Correa (2006), fato que acontece até os dias atuais em termos de entidades que dirigem o esporte nacional.

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Essa Comissão deveria, a partir de então, estar subordinada diretamente ao Estado Maior das Forças Armadas (EMFA), porém ainda ligada ao DDE e trazendo em sua composição, dirigentes esportivos do exército, da marinha e da aeronáutica, cujo presidente seria o oficial de maior hierarquia. No ano de 1958, o CDFA desvincula-se do DDE e se torna uma instituição própria, apenas vinculada ao EMFA. Ainda na década de 50, a CDFA se filiou ao CISM, ampliando, assim, sua participação em competições internacionais. Nas décadas de 60 e 70 o CISM realizou várias competições, em nível internacional, com o intuito de agregar cada vez mais as Forças Armadas de todo o mundo. Na década de 80 nota-se um grandioso crescimento dessa instituição provocado por importantes acontecimentos que modificaram todo o contexto social, político e econômico do mundo, como a Queda do Muro de Berlim, o Consenso de Washington e o fim da Guerra Fria. Só após tais acontecimentos o CISM atinge a universalidade e obtém o seu reconhecimento por parte do Comitê Olímpico Internacional (COI), impulsionando ainda mais o seu crescimento, recebendo em apenas quatro anos (1990 a 1994) a adesão de mais de 31 novos países. Outro importante fator que em muito contribuiu para o grande crescimento do CISM, no início da década de 90, foi a adesão dos países do leste europeu que compunham o Pacto de Varsóvia e que até então tinham em seu seio uma instituição muito parecida denominada SKDA, e que também passou a não existir após o declínio da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas).

Somente na década de 60 o Esporte militar começa a se integrar à lógica esportiva brasileira, momento em que destacamos um segundo ponto, quando a CDFA se une a Confederação Brasileira de Desportos (CBD)19 e outras entidades civis, em busca da

19 O Decreto-lei 3.199 de 14 de abril de 1941, estabelece as bases de organização de todo o país. No capítulo

III – Das Confederações Desportivas em seu Art. 12, Art. 12. Coloca as confederações, imediatamente colocadas sob a alta superintendência do Conselho Nacional de Desportos sendo estas as entidades máximas de direção dos desportos nacionais. Art. 15. Consideram-se, desde logo, constituídas para todos os efeitos, várias Confederações, dentre elas a CBD – Confederação Brasileira de Desportos. Parágrafo único. A Confederação Brasileira de Desportos, compreenderá o foot-ball, o tênis, o atletismo, o remo, a natação, os saltos, o water-polo, o volley-ball o hand-ball, e bem assim quaisquer outros desportos que não entrem a ser dirigidos por outra confederação especializada ou eclética ou não estejam vinculados a qualquer entidade de natureza especial nos termos do art. 10 deste decreto-lei; as demais confederações mencionadas no presente artigo têm a sua competência desportiva determinada na própria denominação. Retirado do endereço

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criação de novas competições, conhecimento técnico e experiência em administração desportiva, realizando uma série de intercâmbios internacionais. Em 1964, o Decreto nº 54.559, de 23 de outubro, do então Presidente da República, Castelo Branco, altera a formação organizacional da CDFA desligando-a da DDE e deixando-a subordinada diretamente ao EMFA. Na década de 70, consolida-se a semente plantada pela CDFA na década de 60, quando a seleção brasileira de futebol se sagra tricampeã, tendo realizado seu treinamento na EsSEFEx, estendendo-se à revelação de atletas, como o Cabo João do pulo, que era do exército, e o Taifeiro Nélson Prudêncio, que pertencia à Aeronáutica. Futuramente, por meio do Decreto 78.392 de 1976, regulamentado pelo Decreto 80.072 de 1983, a CDFA, se tornaria a atual CDMB (Comissão Desportiva Militar do Brasil). (CORREA, 2006).

Em 1975, o decreto-lei 3.199/41 dá lugar à lei 6.251, de 08 de outubro, regulamentada pelo Decreto 80.228/77, constatando que não foram alterados os parâmetros autoritários e políticos da lei vigente para o esporte, por buscar reafirmar a autoridade da intervenção do Estado sobre o campo esportivo. Tanto o Decreto-lei 3.199/41 quanto a lei 6.251/75 apresentam poucas modificações em seu texto com relação ao esporte militar, porém em seu Art. 34, a nova organização do Sistema Desportivo Nacional traz uma significativa alteração, quando autoriza as equipes do desporto militar a “[...] participar de campeonatos e torneios regionais e nacionais dirigidos ou organizados pelas confederações e federações dirigentes do desporto comunitário nas regiões sob a jurisdição destas entidades” (BRASIL, 1975, art. 34). É importante ressaltar que, na Lei, desporto comunitário é sinônimo de desporto Federado.

Também é importante ressaltar que tanto o Decreto-lei 3.199/41 quanto a Lei 6.251/75, os dois primeiros documentos oficiais do esporte brasileiro, são advindos de períodos autoritários de exceção e marcados por um forte clima de violência e repressão, física e ideológica, junto à população brasileira. Em 1975, período em que a lei entra em vigência, o Brasil vive os anos de chumbo da ditadura militar, momento em que o governo eletrônico http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1937-1946/Del3199.htm. Acessado em 09/05/2013.

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intervém na sociedade, tendo como parceiro para suas ações as Forças Armadas. Porém, essa proximidade parece ficar limitada a ações estratégicas do Governo, pois o esporte militar não consegue alçar voo na legislação esportiva, dando mostras de que permaneceria sempre em segundo plano e obediente às determinações do campo do alto rendimento, este sim, sempre amparado e sustentado na legislação esportiva, garantindo sempre uma adequação necessária em cada momento da história político-econômica do Brasil.

A apresentação desse novo quadro também modifica o contexto do Esporte Militar Brasileiro, principalmente quando fica constatado que a CDFA - que viveu na década de 60 seus tempos de glória, principalmente pela aproximação da CBD e das entidades civis - começa a ver, ao final da década de 70, no bojo das modificações ora apresentadas na legislação, que essa parceria começaria a dar sinais de ruptura, levando as Forças Armadas a uma perda substancial de recursos que eram destinados à realização de suas competições e que eram cedidos pelo Governo por intermédio da CBD20. Tal fato faz emergir o terceiro ponto que merece nossa especial atenção, pois, com todo o contexto delineado pela legislação em favor do esporte de rendimento, pelo alto investimento científico em pesquisas na área do Esporte Performance, da saúde e da prática da atividade física, o Esporte Militar adentra a década de 80 relegado a um isolamento ainda maior, proporcionado pelo novo momento do contexto esportivo nacional.

Na década de 80, a Comissão de Reformulação do Desporto Nacional21, Presidida por Manoel Gomes Tubino, reconceitua o esporte no Brasil para fins de definição

20 Texto na íntegra no endereço eletrônico disponível em: http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/26.pdf.

Acessado em 10/06/2013.

21 Manoel Gomes Tubino era Professor de Educação Física e Capitão de Fragatta da Marinha Brasileira nas décadas de 60 e 70. Na década de 80 ocupou o cargo de Presidente do Conselho Nacional de Desportos e em 1989 acumula o cargo de Secretário da SEED – Secretaria de Educação Física e Desporto do MEC. Na mesma década de 80 e em meio ao clima eufórico da “ampla democratização política” da Nova República e o fim do período de ditadura militar no Brasil. o governo institui, pelo Decreto nº 91.452, de 19 de julho de 1985, e regulamenta pela Portaria Ministerial nº 598, de 1º de agosto de 1985, a Comissão de Reformulação do Desporto Nacional, que seria Presidida pelo próprio Manoel Gomes Tubino. Essa comissão tinha a missão de dar novo conceito ao esporte, no Brasil, para fins de definição do Sistema Nacional de Desportos, e reformula o citado no Art. 10 da lei 6.251/75, indicando que: “[...] para efeito de caracterização e definição de sistemas e sub-sistemas do Sistema Desportivo Nacional que sejam reconhecidas as seguintes formas de organização desportiva”: Desporto Federado; II – Desporto Universitário; III – Desporto Escolar; IV – Desporto Classista; V – Desporto Militar; VI – Desporto Não-Formal ou de Promoção Social; VII - Desporto Profissional. Castellani Filho (1985) relata que o governo agiu com rapidez, constituindo comissões,

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do Sistema Nacional de Desportos. Neste documento intitulado “Uma Nova Política Para o Desporto Brasileiro – Esporte, Uma Questão de Estado” o Esporte Militar é tratado no documento elaborado pela Comissão de Reformulação, na Indicação nº 11, do Título: Do Esporte Militar, por meio do qual a Comissão reconhece que esse esporte, “[...] abrange as três (03) manifestações do conceito de Esporte indicado para o Brasil (Esporte Educação, Esporte Participação e Esporte Performance)”.

Nota-se que na Indicação nº 11 não se encontra estabelecido de que forma serão repassados recursos ao Esporte Militar, ficando isso a critério de uma legislação específica que lhe assegure condições para a realização de suas competições, mesmo sendo indicado no texto elaborado pela Comissão de Reformulação que “[...] o Brasil deva representar-se em todas as competições internacionais promovidas pelo CISM oferecendo todas as condições para uma boa representação nacional”. Outro fato que chama a atenção no texto da Comissão é a tendência explícita de direcionamento do Esporte Militar para os estudos voltados à área do treinamento e da performance, características marcantes do período e que vinham ao encontro dos anseios do esporte federado. Dessa forma, ainda percebe-se que, assim como nos primeiros ordenamentos da legislação esportiva brasileira, tanto o Esporte Militar quanto o Esporte Estudantil, que engloba o esporte universitário e o esporte escolar, permaneciam subordinados aos anseios do desporto de alto rendimento e do campo esportivo que o comandava (formado pelas Confederações, Federações e Clubes).

Ao contrário da apática e submissa realidade do Esporte Militar Brasileiro, o Esporte Militar em nível mundial, por meio do CISM, alia à sua crescente abrangência em número de países a ele filiados, as importantes parcerias firmadas com renomadas instituições esportivas internacionais para reavivar, na década de 90, o ideal que habitava o imaginário do General Pershing, em 1919, ao Final da Primeira Guerra Mundial, e o do Coronel Debrus e do Major Molet, na década de 40, que expressavam o desejo de realizar uma grande competição que agregasse delegações do mundo inteiro nas mais diversas propondo uma possível reformulação na legislação esportiva, e que tal estratégia tinha por principal objetivo desmobilizar as classes trabalhadoras, antecipando, assim, a proposição de reformas pelo governo antes que elas fossem encabeçadas pelo povo. Sob essa ótica, seria percebido: “[...] o porquê do caráter esdrúxulo das comissões constituídas, as quais possuem como único mérito, despertar a criatividade das ‘autoridades’ na busca de justificativas para a presença desta ou daquela personagem nas comissões” (CASTELLANI, 1985).

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