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Muitas histórias para contar: a trajetória profissional das diretoras de organizações militares da Marinha do Brasil

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Academic year: 2021

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Vanessa Coelho dos Reis

MUITAS HISTÓRIAS PARA CONTAR:

A TRAJETÓRIA PROFISSIONAL DAS DIRETORAS DE ORGANIZAÇÕES MILITARES DA MARINHA DO BRASIL

Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do Grau de Mestre em Serviço Social

Orientadora: Profa. Dra. Luciana Patrícia Zucco

Florianópolis 2017

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Este trabalho é dedicado a Deus, o meu Criador e Salvador, e a minha mãe, Dalila, que me gerou e me deu amor.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, em primeiro lugar, a Deus, o detentor de todo conhecimento e sabedoria, por ter me concedido um pouquinho de conhecimento para escrever esta dissertação.

À minha mãe, Dalila, por ter dedicado sua vida a mim. Muito obrigada!

À minha irmã, Izabel, pelo exemplo que é para mim – em sua dedicação em tudo o que faz – e me ajudar sempre que precisei; por ter torcido por mim durante todo esse trajeto. Muito obrigada!

À minha orientadora, Luciana, que sempre acreditou no meu potencial, me incentivou, me ajudou na construção e no desenvolvimento deste trabalho. Concluímos mais um. Muito obrigada pela amizade, companheirismo e cumplicidade!

Às amigas Valkiria e Mariana e ao amigo Claudinei, família maravilhosa, por terem me recebido em sua casa no período em que cursei as disciplinas e por terem me ajudado em tantos outros momentos. A amizade de vocês é muito preciosa para mim.

À CF Wilma, à CMG Vera e à CMG Gelza, sujeitas da pesquisa, pela confiança depositada em mim e pela disponibilidade em participar deste estudo.

À CT Luciana Mendes, colega de turma de CFO, por ter sido o elo entre mim e a Diretoria do Pessoal Militar da Marinha (DPMM). Obrigada por ter me ajudado sempre que solicitei!

Ao CMG Nelson e ao CMG Edson Alves. Enquanto Vice-diretores da DPMM disponibilizaram os dados referentes ao efetivo da Marinha. Muito obrigada pelo apoio e pela atenção!

Às professoras e aos professores do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social (PPGSS) da UFSC e dos outros Programas em que cursei disciplinas (na Psicologia e na História) pelo estímulo reflexivo em sala de aula, que contribuiu para a construção desta dissertação e para a minha prática profissional.

À coordenação, servidoras/servidores e estagiárias/estagiários do PPGSS pelo atendimento sempre prestativo e descontraído. Obrigada!

À Secretaria de Estado de Educação de Santa Catarina pela bolsa de estudo a mim concedida. Obrigada pelo apoio à minha formação e à realização dessa pesquisa!

Às examinadoras da banca de qualificação, Prof.ª Dr.ª Janine Gomes da Silva, Dr.ª Maria Rosa Lombardi e Prof.ª Dr.ª Teresa Kleba Lisboa, pelas importantes contribuições para o delineamento final da dissertação.

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Às examinadoras da banca de defesa, Prof.ª Dr.ª Nádia Xavier Moreira e Prof.ª Dr.ª Teresa Kleba Lisboa, e ao Prof. Dr. Marcos Fábio Freire Montysuma, por terem aceitado o convite de participarem da culminação deste processo. Obrigada pela cumplicidade e pelas valiosas considerações!

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RESUMO

O presente estudo analisou a trajetória profissional das Oficiais da Marinha do Brasil (MB) que ocuparam o cargo de titular de Organizações Militares (OM). Sistematizou, portanto, a história de algumas Oficiais desde o ingresso na MB, priorizando suas experiências como Diretoras. A construção desta investigação surgiu a partir de minha trajetória e inserção profissional na MB, ao ocupar o posto de Primeiro-Tenente do Quadro Técnico do Corpo Auxiliar. Soma-se a essa experiência a aproximação aos estudos feministas e de gênero no período de realização do curso de graduação em Serviço Social entre 2005 e 2009. O suporte teórico está ancorado nos estudos feministas, especificamente na epistemologia feminista. Para a construção e análise dos dados foi utilizada a abordagem metodológica de história oral, aplicada ao campo da memória, a partir da história temática. As sujeitas da pesquisa são Oficiais que foram titulares de OM entre 2002 e 2015. Constatei uma ausência na literatura de estudos sobre o acesso, a presença e o exercício das funções de comando pelas militares, bem como elas apreendem suas experiências em tais posições. Na MB, o exercício da direção pelas mulheres é recente, o que acentua a escassez de textos sobre a temática. Disso decorre a importância de publicizar o protagonismo das Oficiais e de visibilizar suas histórias como Diretoras de OM. Suas trajetórias profissionais apresentam singularidades, diversidades e pontos de encontro. As experiências, histórias e reflexões narradas, projetadas à luz das leituras feministas, reproduzem o cariz essencialista e estratificado das relações de gênero presentes no contexto institucional e social. Simultaneamente, produzem deslocamentos e ampliação de direitos para as mulheres no âmbito da MB, conformando-se em conquistas feministas, não conformando-sem desafios, preconceitos e superações.

Palavras-chave: Estudos Feministas. Mulheres nas Forças Armadas. Marinha do Brasil. História Oral.

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RESUMEN

El presente estudio analizó la trayectoria profesional de las Oficiales de Marinha de Brasil (MB) que han ocupado el puesto de titular de Organizaciones Militares (OM). Sistematizó, así, la historia de algunas Oficiales desde el ingreso en MB, priorizando sus experiencias como Directoras. La construcción de esta investigación surgió a partir de mi trayectoria e inserción profesional en MB, al ocupar el puesto de Primer-Tenente del Cuadro Técnico del Cuerpo Auxiliar. Se suma a esa experiencia la aproximación a los estudios feministas e de género en el periodo de realización del curso de graduación en Servicio Social entre 2005 y 2009. El soporte teórico está basado en los estudios feministas, especificamente en la epistemología feminista. Para la construcción y análisis de los datos se utilizó el abordaje metodológica de historia oral, aplicada al campo de la memoria, a partir de la historia temática. Las personas de la investigación son Oficiales que fueron titulares de OM entre 2002 y 2015. Se constató una ausencia en la literatura de estudios sobre el acceso, la presencia y el ejercicio de las funciones de comando por las militares, y como ellas comprenden sus experiencias en dichas posiciones. En MB, el ejercicio de la dirección por las mujeres es reciente, lo que acentúa la escasez de textos sobre la temática. De eso viene la importancia de tornar público el protagonismo de las Oficiales y de visibilizar sus historias como Directoras de OM. Sus trayectorias profesionales presentan singularidades, diversidades y puntos de encuentro. Las experiencias, historias y reflexiones narradas, proyectadas a la luz de las lecturas feministas, reproducen el cariz esencialista y estratificado de las relaciones de género presentes en el contexto institucional y social. Simultaneamente, producen desplazamientos y ampliación de derechos para las mujeres en el ámbito de MB, conformándose en conquistas feministas, no sin desafíos, prejuicios y superaciones.

Palabras-clave: Estudios Feministas. Mujeres en las Fuerzas Armadas. Marinha de Brasil. Historia Oral.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Efetivo de mulheres militares da MB por posto e graduação...40 Quadro 2 - Efetivo de homens na MB por posto e graduação...41 Quadro 3 - Efetivo das Oficiais e dos Oficiais da MB pertencentes aos círculos hierárquicos de Oficiais Superiores e de Oficiais-generais...44

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CAFRM - Corpo Auxiliar Feminino da Reserva da Marinha

CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CEFAN - Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes CF - Capitã de Fragata

CFO - Curso de Formação de Oficiais

CIAA - Centro de Instrução Almirante Alexandrino CIAW - Centro de Instrução Almirante Wandenkolk CMG - Capitã de Mar e Guerra

CMS - Centro de Manutenção de Sistemas da Marinha ComOpNav - Comando/Comandante de Operações Navais

CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil

DASM - Diretoria de Assistência Social da Marinha DPMM - Diretoria do Pessoal Militar da Marinha DSAM - Diretoria de Sistemas de Armas da Marinha

EAMSC - Escola de Aprendizes-Marinheiros de Santa Catarina EGN - Escola de Guerra Naval

EM - Corpo de Engenheiros da Marinha FGV - Fundação Getúlio Vargas

FTESM - Fundação Técnico-Educacional Souza Marques HNMD - Hospital Naval Marcílio Dias

HNRe - Hospital Naval de Recife

IASERJ - Instituto de Assistência aos Servidores do Estado do Rio de Janeiro

IPqM - Instituto de Pesquisas da Marinha MB - Marinha do Brasil

Md - Quadro de Médicos da Marinha

N-SAIPM - Núcleo de Serviço de Assistência Integrada ao Pessoal da Marinha

OM - Organização Militar

QAFO - Quadro Auxiliar Feminino de Oficiais QAFP - Quadro Auxiliar Feminino de Praças RM1 - Reserva de 1ª Classe da Marinha SciELO - Scientific Electronic Library Online SASM - Serviço de Assistência Social da Marinha SIPM - Serviço de Inativos e Pensionistas da Marinha SSPM - Serviço de Seleção do Pessoal da Marinha T - Quadro Técnico

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TTC - Tarefa por Tempo Certo

UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ... 15

1 MOTIVAÇÕES PARA A REALIZAÇÃO DA PESQUISA 19 2 DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA ... 27

3 A MARINHA DO BRASIL ... 37

3.1 O CENÁRIO DE PESQUISA ... 37

3.2 AS MULHERES NA MARINHA DO BRASIL ... 39

3.3 AS OFICIAIS E O CARGO DE DIREÇÃO ... 42

3.4 AS SUJEITAS DA PESQUISA ... 45

4 A HISTÓRIA ORAL E A HISTÓRIA DAS MULHERES . 49 4.1 HISTÓRIA ORAL E SEU DESENVOLVIMENTO ... 49

4.2 HISTÓRIA ORAL, MEMÓRIA E EXPERIÊNCIA ... 55

4.3 AS HISTÓRIAS DAS DIRETORAS DE ORGANIZAÇÕES MILITARES: VIVÊNCIAS, ENFRENTAMENTOS E DEMANDAS 58 4.3.1 A escolha pela carreira militar naval ... 59

4.3.2 O ingresso na Marinha do Brasil ... 63

4.3.3 A carreira na Marinha do Brasil ... 71

4.3.4 O acesso ao cargo de direção ... 92

4.3.5 O exercício da direção ... 100

4.3.6 Família e carreira militar naval ... 115

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 121

REFERÊNCIAS ... 125

APÊNDICE A – ROTEIRO DA ENTREVISTA ... 135

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APRESENTAÇÃO

Ensinavam-me, e eu aprendia:

O homo faber; o homo sapiens; o homem é um animal racional; os homens descobriram o fogo; os homens da pré-história; o homem é um animal religioso; os patriarcas; deus é pai; os faraós; o homem é um animal social; os filósofos gregos; os imperadores romanos; as eternas aspirações do homem; os guerreiros, os cavaleiros, os soldados, os marinheiros; os descobridores, os aventureiros, o homem da renascença; o homem tem sede de conhecimento; os físicos, os matemáticos; os homens lutam pela sua liberdade; os homens e a sua angústia vivencial; os operários, os capitalistas; os homens fazem o progresso técnico; os homens do governo; a declaração dos direitos do homem; os homens da imprensa; os homens lutam pelo poder; a exploração do homem pelo homem; milhões de homens morreram na guerra; os homens de boa vontade; a arte é uma necessidade do homem; o homem face à natureza...

Um dia, perguntei:

- ONDE ESTÃO AS MULHERES? (BARRENO, 1979)

Na pesquisa em tela analisei a trajetória profissional das Oficiais1 da Marinha do Brasil (MB) que ocuparam o cargo de titular2 de Organizações Militares3 (OM). Para a construção dos dados, utilizei a

1

As/os militares das Forças Armadas são ‘Oficiais’ ou ‘Graduadas/Graduados’ (ou Praças). Hierarquicamente, as/os Oficiais estão ordenadas/ordenados em nível acima das Graduadas/dos Graduados.

2

Titular é a/o militar nomeada/nomeado para comandar ou dirigir uma Organização Militar (OM), ou seja, é o Comandante ou Diretora/Diretor da OM. É importante esclarecer que em algumas OM a/o titular recebe a nomeação de Diretora/Diretor e, em outras, de Comandante, em função da Portaria nº 108 de 30 de março de 2004 que não esclarece a distinção entre Diretora/Diretor e Comandante, apenas designa a titularidade. A nomeação correspondente às mulheres titulares de OM é Diretora.

3

Conforme disposto no item 3 do artigo 2º da Lei nº 5.787, de 27 de junho de 1972, “Organização Militar é a denominação genérica dada a corpo de tropa, repartição, estabelecimento, navio, base, arsenal ou a qualquer outra unidade

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abordagem metodológica de história oral aplicada ao campo da memória (SALVATICI, 2005; PORTELLI, 1997), a partir da história temática (ALBERTI, 2013, 2004).

A trajetória profissional das titulares de OM foi circunscrita à carreira na MB, e se conforma em uma parte de suas histórias, que trazem em seu bojo as experiências. Deste modo, recorro à categoria experiência (SCOTT, 1998) para compreender não apenas as vivências, mas, principalmente, a estruturação dessas vivências e sua repercussão na constituição das identidades4 das Oficiais. Logo, o estudo teve como cenário a MB, as Diretoras como sujeitas, e como objeto de pesquisa a trajetória profissional dessas militares.

O suporte teórico está ancorado nos estudos feministas, especificamente na epistemologia feminista (HARDING, 2002; RAGO, 1998), e possui algumas particularidades. Dentre elas, destaco que a pesquisa é uma investigação realizada por uma mulher, ex-Oficial da MB; as sujeitas da pesquisa são mulheres; e essas mulheres contam suas histórias, que conformam o eixo estruturante da narrativa. Um dos objetivos da pesquisa foi projetar tais histórias, ao registrar as memórias das Diretoras e analisar a lógica de construção de suas experiências.

Nesse contexto de investigação, algumas questões foram trazidas à tona: Como se constituiu a liderança das Oficiais no cargo de direção? Quais as situações de enfrentamento vivenciadas pelas militares no cargo de titular de OM? As Diretoras assumiram características socialmente designadas ao masculino no âmbito da MB? A rede de características5 (NICHOLSON, 2002) que possuem e/ou assumem possibilitou o acesso ao cargo de direção? As Oficiais incorporaram em sua gestão as pautas feministas e as demandas das mulheres? Suas conquistas implicam em ampliação dos direitos das mulheres na administrativa, tática ou operativa, das Forças Armadas.” As OM são comandadas ou dirigidas por Oficiais. O Estatuto dos Militares (BRASIL, 1980), em seu artigo 36, dispõe que “o oficial é preparado, ao longo da carreira, para o exercício de funções de comando, de chefia e de direção.”

4

Considero como identidade a construção da percepção que a pessoa tem de si mesma, e como outras pessoas a percebem, moldando sua forma de se expressar no mundo (MORAES, 2002).

5

A rede de características refere-se à interconexão das diferenças com as semelhanças existentes no sujeito coletivo ‘mulher’, que possibilita sua unificação política. Neste estudo, recuperei essa concepção de Nicholson (2002) para ressaltar as particularidades e os pontos de convergência entre as Oficiais, que são apresentados ao longo do texto. Essa ideia está mais detalhada na seção quatro.

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Instituição? A configuração de suas vidas privadas influenciou a carreira e o acesso ao cargo de titular?

A composição expositiva da dissertação inicia com esta apresentação, prossegue com sua divisão em quatro seções, e é finalizada com as considerações. As narrativas e a análise da trajetória das Diretoras compõem toda a dissertação, estando concentradas na seção quatro.

Na primeira seção, intitulada ‘Motivações para a realização da pesquisa’, discorro sobre minhas experiências acadêmicas e como Oficial da MB, além de apresentar a produção de conhecimento sobre as mulheres nessa Força Armada. Estes dados e informações subsidiam o direcionamento do estudo e indicam sua relevância teórica e social.

Na segunda seção, denominada ‘Desenvolvimento da pesquisa’, explicito o percurso metodológico e a operacionalização dos dados. Neste sentido, detalho os elementos que fazem parte desse item, a saber: os objetivos do estudo; o desenho metodológico; o instrumento de coleta de dados; o processo de contato e aproximação com as sujeitas; a realização das entrevistas; o material coletado; e a forma de análise dos dados.

Na terceira seção, ‘A Marinha do Brasil’, elenco brevemente as características constitutivas e as especificidades da MB. Ressalto o pioneirismo do ingresso e da ascensão hierárquica da mulher na Instituição, assim como a atual configuração do efetivo6. Analiso também alguns dados que apontam a possibilidade de acesso das Oficiais ao cargo de direção, e traço um breve perfil das entrevistadas.

Na quarta seção, sob o título ‘História oral, memórias e mulheres’, recupero o surgimento, desenvolvimento e diferentes possibilidades de uso da história oral, com sua repercussão no Brasil. Além disso, empreendo uma discussão teórica sobre a história oral, a memória e a categoria mulher. Em seguida, exponho as memórias e as histórias das Diretoras de OM, analisando suas narrativas.

Nas considerações, retomo meus objetivos e perguntas norteadoras para tecer algumas ponderações sobre as similitudes e diversidades das trajetórias das Oficiais. Suas experiências, histórias e reflexões, projetadas à luz das leituras feministas, reproduzem o cariz essencialista e estratificado presente no contexto institucional e social, simultaneamente, à produção de deslocamentos e ampliação de direitos para as mulheres no âmbito da MB, conformando-se em conquistas feministas.

6

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1 MOTIVAÇÕES PARA A REALIZAÇÃO DA PESQUISA

A construção desta investigação surgiu a partir da minha trajetória e inserção profissional na MB, ao ocupar o posto7 de Primeiro-Tenente do Quadro Técnico do Corpo Auxiliar8. No ano de 2010, prestei o concurso público para ingresso no Quadro de Oficiais de Carreira9 da MB. Havia apenas uma vaga para o curso de Serviço Social, em que me formei. Após a realização de todas as etapas do processo seletivo, composto por prova escrita, avaliação física, avaliação de saúde e avaliação psicológica, fui aprovada e classificada em primeiro lugar.

Em março de 2011, iniciei o curso preparatório (e obrigatório) para o ingresso nos primeiros postos da carreira militar, denominado Curso de Formação de Oficiais (CFO), realizado no Centro de Instrução Almirante Wandenkolk (CIAW10), localizado na cidade do Rio de Janeiro. O curso era composto por disciplinas teóricas e práticas, e pela rotina inerente à vida militar. Durante o curso, eu era aspirante à Oficial; e na Marinha, a/o aspirante à Oficial é chamada/chamado de Guarda-Marinha.

Conclui o curso em dezembro de 2011, e fui promovida11 ao posto de Primeiro-Tenente. No ano seguinte, fui designada para a minha primeira Comissão12, na Escola de Aprendizes-Marinheiros de Santa

7

Posto é a posição ocupada pela/pelo Oficial na hierarquia militar. 8

De acordo com a Lei nº 9.519, de 26 de novembro de 1997, que dispõe sobre a reestruturação dos Corpos e Quadros de Oficiais e de Praças da Marinha, a MB é constituída pelos seguintes Corpos de Oficiais: Corpo da Armada, Corpo de Fuzileiros Navais, Corpo de Intendentes da Marinha, Corpo de Engenheiros da Marinha, Corpo de Saúde da Marinha, Corpo Auxiliar da Marinha, Quadro Suplementar e Corpo de Oficiais da Reserva da Marinha. Os Oficiais do Corpo Auxiliar exercem atividades de apoio técnico, gerenciais e administrativas em geral. O Quadro Técnico é um dos Quadros pertencente ao Corpo Auxiliar. Uma das profissões que compõem o Quadro Técnico é o Serviço Social. 9

Oficiais de Carreira são as/os Oficiais que possuem estabilidade e, por isso, podem ascender a postos mais elevados na Marinha.

10

O Centro de Instrução Almirante Wandenkolk é uma instituição de ensino da MB responsável por formar e capacitar as/os Oficiais para as diversas funções executadas nas OM.

11

Promoção é a assunção da/do militar ao posto ou à graduação hierarquicamente superior.

12

Comissão refere-se ao local de trabalho em que a/o militar desempenhará suas funções.

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Catarina em Florianópolis(EAMSC)13. Na EAMSC, atuei no Núcleo de Serviço de Assistência Integrada ao Pessoal da Marinha (N-SAIPM). Os N-SAIPMs, atualmente denominados de Núcleos de Assistência Social, são órgãos responsáveis pela prestação de assistência nas áreas de serviço social, psicologia e direito às/aos militares, seus dependentes e às/aos pensionistas14. No N-SAIPM da EAMSC, a equipe técnica multidisciplinar era composta por duas Assistentes Sociais, uma Psicóloga, um Bacharel em Direito, e uma Arteterapeuta. Em 2014, fui licenciada ex officio, por ter assumido cargo público em outra instituição federal.

No período em que permaneci na Marinha, principalmente na primeira (e única) Comissão, percebi e vivenciei situações que evidenciavam a presença de um ethos15 masculino que se sobrepunha às

mulheres e ao feminino. Além de sua construção histórica, que foi sendo estabelecida durante os séculos de participação exclusiva dos homens na Marinha, é possível apontar, igualmente, como fator de existência de tal

ethos na EAMSC, a grande quantidade de homens que ali trabalhavam

ou estudavam16.

Soma-se a essa experiência, a participação em duas pesquisas17 desenvolvidas no Núcleo de Estudos e Ações em Saúde Reprodutiva e Trabalho Feminino da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no período de 2006 a 2008. Esta resultou no Trabalho de Conclusão de Curso intitulado “Perfeito para ele. Perfeito para ela: Discursos sobre o masculino e o feminino nos anúncios publicitários de MEN’S HEALTH e NOVA”.

13

A EAMSC também é uma instituição de ensino, porém, destinada à formação de Marinheiros.

14

Informação obtida no site https://www.marinha.mil.br/dasm/?q=node/10. Acesso em: 16 nov. 2017.

15

Qualifico como ethos as características que constituem e organizam um determinado meio social, e que são expressas pelas/pelos sujeitas/sujeitos e pelas instituições inseridas nessa realidade.

16

Reporto-me aos alunos da EAMSC, que são Aprendizes-Marinheiros. Anualmente, ingressam aproximadamente 350 alunos.

17

As pesquisas das quais participei como bolsista foram: “O estado da arte sobre a paternidade”, coordenada pela Prof.ª Dr.ª Maria Magdala Vasconcelos de Araújo Silva, e “Sexualidade em discursos: um estudo sobre revistas femininas e masculinas”, coordenada pela Prof.ª Dr.ª Luciana Patrícia Zucco.

(21)

Esse percurso acadêmico promoveu uma proximidade aos estudos de gênero por meio de uma disciplina da graduação18 e da participação em eventos científicos, na condição de autora de trabalhos19. A discussão sobre os estudos de gênero realizada na academia foi recuperada na prática profissional na MB. Tal espaço ocupacional é um âmbito privilegiado para análise da hierarquia (relações de poder), base de sua organização. Esta análise se torna mais substantiva ao se vincular o exercício do poder às construções de mulher e de homem, assim como do feminino e do masculino, efetivadas na sociedade e na MB.

No contexto específico da MB, existem pesquisas sobre a participação das mulheres na Instituição (SELL, 2012; ALVAREZ, 2011; ALMEIDA, 2008; JÚNIOR, 1982). Porém, não há estudos que priorizem a história e as experiências das mulheres militares titulares de OM, a partir da narrativa das protagonistas. Nesse sentido, com vistas a identificar a produção de conhecimento sobre as mulheres na MB, a partir das leituras feministas e de gênero, realizei um mapeamento na Scientific Electronic Library Online20 (SciELO) Brasil, em fevereiro de 2017.

18

A disciplina “A questão de gênero no Brasil” era um componente curricular obrigatório, no ano de 2007, no Curso de Serviço Social da Escola de Serviço Social/UFRJ.

19

Trabalhos apresentados em eventos científicos: “Discursos sobre o feminino nas propagandas impressas” – XII Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social, 2010; “As Olympianas de NOVA” - XXX Jornada de Iniciação Científica e Cultural da UFRJ, 2008; “O Belo em MEN'S HEALTH” - XXX Jornada de Iniciação Científica e Cultural da UFRJ, 2008; “Sexo: o produto da mídia” - XXX Jornada de Iniciação Científica e Cultural da UFRJ, 2008; “Sexo em discursos” - Seminário Internacional Fazendo Gênero 8, 2008; “O Super Men's Health” - Seminário Internacional Fazendo Gênero 8, 2008; “Mulher de NOVA: um referencial de beleza e juventude” - Seminário Internacional Fazendo Gênero 8, 2008; “Mulher 'NOVA': um ideal de corpo e beleza” - VI Encontro da Rede Brasileira de Estudos e Pesquisas Feministas, 2008; “Os desafios da interdisciplinaridade: a experiência do PADI no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho” - 9º Congresso Brasileiro de Medicina de Família e Comunidade, 2008; “Sexualidade em discursos: um estudo sobre as capas das revistas femininas e masculinas” - XI Congresso Brasileiro de Sexualidade Humana, 2007; “Sexualidade e meios de comunicação de massa: uma análise da produção acadêmica” - XXIX Jornada de Iniciação Científica, Artística e Cultural da UFRJ, 2007.

20

“A Scientific Electronic Library Online – SciELO Brasil é uma biblioteca eletrônica que abrange uma coleção selecionada de periódicos científicos brasileiros.” Informação obtida no site http://www.scielo.br/

(22)

No levantamento foram utilizados, de forma agrupada, os descritores gênero, mulheres, Marinha do Brasil e militares no formulário de pesquisa21. Ao realizar a correspondência entre os descritores gênero e Marinha do Brasil, um (1) artigo foi referenciado. No entanto, esse artigo não desenvolve uma discussão sobre os estudos de gênero, tampouco sobre o contexto militar22. Por sua vez, na pesquisa com os descritores gênero e militares, 23 artigos foram levantados na página eletrônica. Desses, 11 articulam o contexto militar com os estudos de gênero23. Na associação dos descritores mulheres e Marinha

do Brasil, somente dois (2) artigos foram elencados. Porém, um deles

apenas relaciona o sujeito empírico mulheres à MB24. Por fim, na conjunção dos descritores mulheres e militares, obtive 16 artigos, e,

scielo.php?script=sci_home&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 15 fev. 2017. 21

Na SciELO Brasil (http://www.scielo.br), a pesquisa foi realizada no campo “todos os índices”, que comporta os itens palavras do título, autor, registro de ensaios clínicos, assunto, resumo, ano de publicação, tipo de artigo, afiliação-organização e afiliação-país. Acesso em: 15 fev. 2017.

22

O título do artigo é “Raiva, Stress Emocional e Hipertensão: um estudo comparativo” – 2015. Acesso em: 15 fev. 2017.

23

Os artigos são: “Lo personal es político?: repensar la historia de las organizaciones político militares” – Revista Estudos Feministas, 2015; “Pedaços de alma: emoções e gênero nos discursos da resistência” – Revista Estudos Feministas, 2015; “Subversivas: malas madres y famílias desnaturalizadas” – Cadernos Pagu, 2015; “Relações interprofissionais de saúde na Marinha do Brasil – uma análise na perspectiva de gênero” – Escola Anna Nery, 2014; “Estresse ocupacional em mulheres policiais” – Ciência e Saúde Coletiva, 2013; “Família de militares: explorando a casa e a caserna no Exército brasileiro” – Revista Estudos Feministas, 2013; “O equilíbrio de gênero nas operações de paz: avanços e desafios” – Revista Estudos Feministas, 2013; “Representações dos modelos clássicos militares no rei medieval português” – História, 2012; “Parirás sin dolor: poder médico, género y política em las nuevas formas de atención del parto em la Argentina (1960-1980)” – História, Ciências, Saúde-Manguinhos, 2011; “Mulheres no policiamento ostensivo e a perspectiva de uma segurança cidadã” – São Paulo em Perspectiva, 2004; “Identidade de gênero masculina em civis e militares” – Psicologia: reflexão e crítica, 1997. Acesso em: 15 fev. 2017.

24

O título do artigo é “Mulheres para a Marinha do Brasil: recrutamento e seleção das primeiras oficiais enfermeiras (1980-1981)” – Texto e Contexto – Enfermagem, 2012. Acesso em: 15 fev. 2017.

(23)

dentre esses artigos, nove (9) relacionam o sujeito empírico mulheres ao universo militar25.

Além da pesquisa na base de dados da SciELO, realizei no mesmo período um levantamento na página eletrônica de três26 periódicos de reconhecimento científico (Qualis27 A1 ou A2) que publicam artigos no âmbito do Serviço Social e áreas afins, a saber: Revista Katálysis, Revista Ser Social e Revista Serviço Social e Sociedade. Contudo, os descritores foram empregados isoladamente.

Na Revista Katálysis28, no período de 1997 a 2016, identifiquei: 28 artigos com o descritor Gênero; 29 artigos – Mulheres; zero (0) –

25

Os artigos são: “Relações interprofissionais de saúde na Marinha do Brasil – uma análise na perspectiva de gênero” – Escola Anna Nery, 2014; “Estresse ocupacional em mulheres policiais” – Ciência e Saúde Coletiva, 2013; “O equilíbrio de gênero nas operações de paz: avanços e desafios” – Revista Estudos Feministas, 2013; “Mulheres para a Marinha do Brasil: recrutamento e seleção das primeiras oficiais enfermeiras (1980-1981)” – Texto e Contexto – Enfermagem, 2012; “Prevalência do aleitamento materno e fatores associados à interrupção da amamentação em mulheres militares” – Revista Paulista de Pediatria, 2012; “Aspectos da adesão feminina aos valores militares: o casamento e a família militar” – História, 2010; “Enfermeiras brasileiras na retaguarda da Segunda Guerra Mundial: repercussões dessa participação” – Texto e Contexto – Enfermagem, 2009; “Desenvolvimento e validação de equações antropométricas específicas para a determinação da densidade corporal de mulheres militares no Exército Brasileiro” – Revista Brasileira de Medicina do Esporte, 2004; “Mulheres no policiamento ostensivo e a perspectiva de uma segurança cidadã” – São Paulo em Perspectiva, 2004. Acesso em: 15 fev. 2017.

26

Destaco que somente as Revistas Katálysis e Serviço Social e Sociedade são indexadas na SciELO Brasil.

27

A definição da terminologia ‘Qualis’ encontra-se no site http://www.capes.gov.br/avaliacao/instrumentos-de-apoio/classificacao-da-producao-intelectual, e refere-se ao conjunto de procedimentos utilizados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) para estratificação da qualidade da produção intelectual dos programas de pós-graduação. [...]. Dessa forma, o Qualis afere a qualidade dos artigos e de outros tipos de produção, a partir da análise da qualidade dos veículos de divulgação, ou seja, periódicos científicos. A classificação de periódicos é realizada pelas áreas de avaliação e passa por processo anual de atualização. Esses veículos são enquadrados em estratos indicativos de qualidade – A1, o mais elevado; A2; B1; B2; B3; B4; B5; C- com peso zero.” Acesso em: 14 fev. 2017.

28

A Revista Katálysis é um periódico do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e do Curso de Graduação em Serviço Social da Universidade

(24)

Marinha do Brasil; um (1) – Militares. Na Revista SER Social29, com periódicos datados de 1998 até 2016, foram elencados: 21 artigos – Gênero; 20 artigos – Mulheres; zero (0) – Marinha do Brasil; zero (0) – Militares. Na Revista Serviço Sociedade e Sociedade30, com publicações iniciando no ano de 2010 até 2017 (somente o primeiro número), o levantamento apontou: sete (7) artigos – Gênero; nove (9) artigos – Mulheres; zero (0) – Marinha do Brasil; zero (0) – Militares.

Nos periódicos pesquisados não há expressividade de pesquisas que abordem temáticas relacionadas ao contexto militar e aos sujeitos pertencentes a esse contexto. O assunto do único artigo31 levantado com o descritor militares restringe-se à conjuntura das ditaduras militares ocorridas na América Latina, e a articulação com os estudos de gênero inexiste. De modo semelhante, em toda a SciELO Brasil a quantidade de artigos é incipiente quando comparado à coleção de periódicos indexada32 na biblioteca eletrônica e, consequentemente, ao volume de artigos publicados anualmente.

A partir do levantamento realizado, corroboro a posição de Almeida (2008), ao afirmar que a produção de conhecimento sobre as Forças Armadas, a partir dos estudos de gênero, é escassa. Por esse motivo, a autora salienta a importância de investigações que contribuam para a ampliação do conhecimento nessa área. Nota-se, ainda, que há, na literatura, uma ausência de estudos sobre o acesso, a presença e o exercício das funções referentes a cargos de comando pelas mulheres e de como elas apreendem suas experiências nessa posição de chefia em Federal de Santa Catarina. A pesquisa foi realizada no site https://periodicos.ufsc.br/index.php/katalysis. Acesso em: 15 fev. 2017. 29

A Revista Ser Social é um periódico do Programa de Pós-Graduação em Política Social do Departamento de Serviço Social da Universidade de Brasília. O levantamento ocorreu na página eletrônica http://periodicos.unb.br/index.php/SER_Social. Acesso em: 15 fev. 2017. 30

A Revista Serviço Social e Sociedade é uma publicação da Editora Cortez, que contempla temáticas da área de Serviço Social e das Ciências Humanas e Sociais em geral. Encontra-se disponível eletronicamente em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=0101-6628&lng=em& nrm=iso. Acesso em: 15 fev. 2017.

31

O artigo é intitulado “Rede de movimentos sociais no mundo multicultural”, de autoria de Ilse Scherer-Warren.

32

A SciELO possui 285 periódicos com títulos correntes (ou indexados) e 69 com títulos não-correntes (ou seja, a indexação foi interrompida). Informação obtida em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_alphabetic& lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 15 fev. 2017.

(25)

um espaço de representação do masculino. Do exposto, entendo que a história das mulheres militares que ocuparam o cargo de direção não é publicizada. O protagonismo dessas mulheres não é tornado visível diante de uma trajetória consolidada e, por muitos anos, exclusiva aos homens.

As experiências das Diretoras são singulares e pioneiras no âmbito das Forças Armadas e requerem uma análise a partir da leitura dos estudos feministas. Os estudos feministas possuem um espaço privilegiado de discussão e intervenção na área das Ciências Humanas e Sociais (GOLDENBERG, 2005; PISCITELLI, 2004; LOURO, 1997; ROLNIK, 1996). O Serviço Social, como área do conhecimento e profissão (MOTA, 2013), integrante das Ciências Sociais Aplicadas (de acordo com a Tabela de Áreas do Conhecimento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico/CNPq), também inclui os estudos feministas como substrato teórico e político.

A/o Assistente Social, em sua atuação profissional, trabalha diretamente com sujeitos que possuem uma inserção (social, política e cultural) demarcada pela classe, credo, etnia/raça, orientação sexual, identidade de gênero, entre outros marcadores sociais. Ao atuar com esses sujeitos, a/o Assistente Social passa a conhecer suas experiências, concepções e aspirações. Muitas dessas experiências são vivenciadas em um contexto de desigualdade e de discriminação, incluída a opressão de sexo e de gênero.

Analisar as formas de expressão das relações de gênero e a construção social do sexo possibilita à/ao assistente social atuar em uma perspectiva de equidade de gênero. A/o profissional, igualmente, pode contribuir com a formação político-ideológica das/os usuárias/usuários que atende, para que estes busquem a consolidação e a ampliação de seus direitos.

(26)
(27)

2 DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA

As sujeitas da pesquisa são Oficiais que foram titulares de OM entre 2002 e 2015. Para situar o contexto narrativo, utilizei trabalhos acadêmicos sobre o ingresso da mulher na MB, legislações nacionais pertinentes à Marinha e documentos da Instituição. A história oral constituiu o desenho metodológico do estudo, desde a definição das sujeitas até o processo de coleta de dados e arquivamento das entrevistas.

Por meio da história oral, estabeleci as maneiras de me relacionar com as entrevistadas, contemplando a postura ética no contato inicial, na realização das entrevistas, na análise e na posterior devolução dos dados. Do mesmo modo, tal postura orientou a transcrição, que se configurou em um material de apoio para a análise, e a conservação das entrevistas em um local apropriado.

Com a história oral, confirmei a autoridade da narrativa oral e a importância do relato a ser contado pelas entrevistadas. As Oficiais tiveram liberdade para narrar suas histórias dentro de limites localizáveis no tempo. Tais limites foram estabelecidos a partir de um fragmento de suas histórias, objeto de estudo desta dissertação: a trajetória profissional. Este recorte foi uma delimitação específica das experiências vivenciadas pelas Oficiais. Assim, a perspectiva que subsidia essa delimitação é a história temática (ALBERTI, 2013, 2004). A história temática é uma das formas nas quais a história oral pode ser perspectivada. Por isso, também é denominada de história oral temática (ALBERTI, 2013). Ela corresponde à definição de um assunto, de um evento ou de um contexto particular, que será objeto de análise. Portanto, a história temática subsidiou a construção da fonte de dados e do roteiro da entrevista (ver Apêndice A). Ademais, possibilitou a imersão na trajetória vivenciada por cada entrevistada, projetando suas ações na história da MB. A construção histórica é uma ressignificação do passado no presente, sendo o foco de análise não apenas o detalhamento dos fatos ocorridos, mas a interpretação conferida a eles pelas Oficiais.

Por suas particularidades, a história oral pode ser inscrita na abordagem qualitativa (ALBERTI, 2013; MINAYO, 2010), valorizando as histórias narradas e os significados atribuídos a elas. Analisei as narrativas individualmente para evidenciar as percepções das militares sobre sua trajetória, correlacionando-as ao espaço ocupacional em que estavam (ou estão) inseridas, e evitei quaisquer generalizações dos resultados.

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Minha inserção e trajetória na MB foi o ponto de partida para a definição do objeto deste estudo. A possibilidade da pesquisa me instigou a realizar um levantamento informal na rede de internet da MB para verificar a presença de mulheres no cargo de direção. A partir da constatação da existência de Diretoras, busquei referências bibliográficas que me fornecessem subsídios para a delimitação do objeto e do referencial teórico-metodológico. O site da SciELO foi um dos principais meios utilizados para o levantamento bibliográfico, possibilitando a identificação da produção de conhecimento sobre as mulheres na MB, a partir das leituras feministas e de gênero.

A escolha das sujeitas integrou a definição do objeto, porque as Diretoras de OM seriam mulheres com formação universitária e um longo percurso de trabalho na MB. Deste modo, delimitei o objeto: a trajetória profissional das Oficiais da MB titulares de OM. Nesta trajetória, enfoquei o caminho percorrido pelas militares a partir do ingresso na MB até o acesso ao cargo de direção, identificando os fatores que favoreceram a escolha relativa à carreira militar.

A segunda etapa foi a preparação da entrevista, a escolha dos critérios de saturação da amostragem e a realização dos contatos iniciais com as informantes em potencial. O roteiro de entrevista, instrumento fundamental para a coleta de dados, foi organizado com base nos objetivos da pesquisa e no perfil das entrevistadas, assegurando a flexibilidade, característica orgânica da sua elaboração. Destaco que o roteiro não restringiu a fala das Oficiais, ao contrário, configurou-se como um elemento norteador, para que as questões analisadas e referenciadas pelos objetivos fossem contempladas nas narrativas.

Nos objetivos está expresso o período da história das Oficiais submetido à análise. Deste modo, estabeleci como marco inicial a formação profissional das militares, que se desdobrou no ingresso e na permanência delas na MB até o acesso ao cargo de direção. Além deste percurso temporal, compôs também o roteiro: os dados de identificação pessoal, a relação entre a vida familiar e a carreira militar, e o ‘lugar’ destinado e ocupado pela mulher na Instituição.

Solicitei à Diretoria do Pessoal Militar da Marinha33 (DPMM) alguns dados sobre o perfil profissional e militar das Oficiais titulares de OM. Estes dados foram sistematizados e enviados a mim em 23 de julho

33

As/os militares do serviço ativo pertencentes ao Corpo de Fuzileiros Navais não estão vinculadas/vinculados à DPMM, e sim ao Comando do Pessoal de Fuzileiros Navais. Por este motivo, o Corpo de Fuzileiros Navais não faz parte deste estudo.

(29)

de 2015. O documento encaminhado, referente ao período compreendido entre 2002 e 2015, continha as seguintes informações de 16 Oficiais (seis na ativa e 10 na reserva remunerada34): nomes; postos, com o Corpo e o Quadro; números de identificação pessoal (NIP)35; OM em que foram titulares; período em que estiveram na direção; OM em que serviam36 na época de solicitação dos dados, no caso das Oficiais que não foram transferidas para a reserva remunerada e das que exerciam a Tarefa por Tempo Certo (TTC)37; endereços eletrônicos

(e-mails); e números de telefone. Estes dois últimos itens não constavam

nos dados de todas as Oficiais. Foram disponibilizados apenas o número de telefone de nove Oficiais que estavam na reserva remunerada e o endereço eletrônico de cinco dessas Oficiais.

Em janeiro de 2016, iniciei o contato com as possíveis entrevistadas. O primeiro critério para a escolha das Oficiais foi o de estarem na reserva remunerada, pois poderiam apresentar maior disponibilidade por não possuírem um vínculo ativo com a Instituição. O segundo critério abarcou a possibilidade de contato via e-mail, presente na listagem encaminhada. O terceiro critério consistiu na composição de um quadro diversificado de entrevistadas (MINAYO, 2010), que considerasse as diferenças relacionadas ao ano de ingresso na MB, à formação profissional e à OM onde assumiram a direção.

Com base nos critérios elencados, enviei um e-mail para cinco Oficiais, onde me apresentava como pesquisadora e explicitava o motivo do contato, ressaltando a importância da pesquisa, a forma de coleta de dados e a garantia de sigilo das informações, conforme preconiza a Resolução nº 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde. Contudo, não houve resposta. O próximo passo consistiu no contato telefônico com três delas, em fevereiro do mesmo ano. Posteriormente, entraria em contato com outras Oficiais. Após transmitir as mesmas informações do e-mail e prestar os esclarecimentos conforme suas indagações, as três Oficiais aceitaram participar do estudo.

34

Ativa refere-se ao serviço ativo, ou seja, ao período em que a/o militar exerce atividades laborais. Reserva remunerada equivale à aposentadoria (no meio civil).

35

O NIP é um código numérico individual que identifica as/os militares na Instituição.

36

Termo utilizado nas Forças Armadas para designar a prestação do serviço militar.

37

A Tarefa por Tempo Certo (TTC) é a prestação de serviço por militares da reserva remunerada por um período de tempo determinado. O exercício de TTC foi regulamentado pelo Decreto nº 4.780 de 15 de julho de 2003.

(30)

Com o objetivo de ampliar e diversificar o corpus, defini outro critério, a saber: incluir no rol das entrevistadas as Oficiais do serviço ativo. A abordagem inicial ocorreu diretamente via OM em que serviam, por contato telefônico, pois a listagem da DPMM não continha seus e-mails e telefones. Em janeiro de 2016, contatei uma Oficial e ela aceitou conceder entrevista. Para formalizar os contatos realizados, minha orientadora encaminhou uma carta convite às Oficiais, reafirmando os objetivos do estudo e a importância da participação na pesquisa.

O roteiro foi submetido à avaliação por meio da realização da primeira entrevista, que contribuiu para a análise de sua aplicabilidade e para a aproximação aos primeiros resultados, apresentados aos membros da banca de qualificação do projeto. Encontrei a CMG Vera em sua residência, localizada na cidade do Rio de Janeiro – local indicado por ela. Marcamos a sessão para o dia 04 de outubro de 2016. No dia combinado, ela me recebeu em sua sala de estar. Iniciamos a entrevista um pouco depois das 14h, após eu informá-la que aquele contato era também um pré-teste. Essa explicação inicial contribuiu para que a CMG Vera assegurasse que poderia conceder outra entrevista caso fosse necessário: “Se você precisar complementar depois, não tem problema. Você entra em contato comigo, que a gente complementa.”

Posteriormente, continuei com a palavra e relatei, brevemente, meu percurso acadêmico e profissional. Apresentei, de maneira sucinta, o objeto, os objetivos e a justificativa do estudo. Destaquei a relevância dos aspectos éticos inerentes às pesquisas com seres humanos, que seriam respeitados na investigação. Em seguida, perguntei se ela tinha alguma dúvida sobre as informações socializadas até o momento; não havendo, prosseguimos com o roteiro.

A CMG Vera permaneceu tranquila durante toda a entrevista e estava nitidamente disposta a participar da mesma. Contou sua história com convicção, segurança e firmeza. Não houve nenhuma interferência externa de pessoas ou de circunstâncias. Terminamos a entrevista após, aproximadamente, uma hora e meia, por termos contemplado todo o roteiro e pelo esgotamento da fala da entrevistada.

Destaco que o período de duração depende de fatores situacionais, como fluidez da conversa e disponibilidade da entrevistada. Porém, Alberti (2013) aconselha o tempo máximo de duas horas por sessão. A autora também elenca procedimentos indispensáveis à consecução da entrevista, como: não se ater a perguntas fechadas, longas e indiretas, respeitar e valorizar os silêncios e esquecimentos, não

(31)

interromper a fala da/do entrevistada/entrevistado , escolher um local silencioso e propício para a entrevista; entre outros.

A abertura de sua casa para a realização da entrevista revela a confiança que a CMG Vera depositou na pesquisa e em mim. Demonstra, ainda, sua disposição e interesse em participar de um estudo em que seria protagonista. Neste sentido, ao relatar suas experiências e compartilhar seu espaço privado, ela dividiu comigo um pouco de sua vida.

Após a aprovação da pesquisa pelos membros da banca de qualificação, iniciei as entrevistas. Retomei o contato com a CMG Vera para realizarmos outra sessão, uma vez que foram feitos ajustes no roteiro, a fim de obter informações mais direcionadas aos objetivos da investigação. A principal sugestão da banca foi a inserção de um tópico que abordasse a relação entre a vida familiar e afetiva e a carreira militar.

As entrevistas foram realizadas entre novembro e dezembro de 2016, conforme disponibilidade das Oficiais, e em local indicado por elas. A primeira entrevista ocorreu com a CF Wilma. Agendamos o encontro para o dia 24 de novembro às 14h no Shopping RIOMAR, na cidade de Recife, Pernambuco. Encontramo-nos no local combinado e procuramos um ambiente tranquilo. Percebemos que um pequeno estabelecimento comercial gastronômico estava vazio, e ali, realizamos a entrevista.

E eu me senti muito gratificada de que você tivesse criado esse tipo de... de que nós, as mulheres, tivessem virado um assunto de mestrado, porque eu acho que é importante ainda… [...]. Fiquei muito feliz. [...]. Então... de você estar fazendo isso. Eu achei ótimo. Estou muito feliz. (CF Wilma, 2016).

Enquanto nos ambientávamos com o local, conversamos sobre a pesquisa, e perguntei se havia algum questionamento. Ela disse que não possuía dúvidas, e iniciamos a entrevista. Sua fala se manteve firme e segura, ficando evidente a confiança que a CF Wilma depositou no estudo e na pesquisadora. Como não teríamos outro encontro no período em que eu estava em Recife, todos os itens do roteiro foram abordados, sendo a entrevista encerrada após quase duas horas e vinte minutos.

A segunda entrevista foi, novamente, com a CMG Vera e ocorreu no dia 29 de novembro às 14h, em sua residência. O tempo de duração

(32)

foi mais curto, aproximadamente meia hora. Neste encontro, contemplamos as questões inclusas no roteiro.

A terceira entrevista, com a CMG Gelza, aconteceu no dia 1º de dezembro, na cidade do Rio de Janeiro. Inicialmente, marcamos às 14h no Centro de Manutenção de Sistemas da Marinha (CMS), OM onde ela era Diretora. No entanto, antes da entrevista, fui encaminhada ao Sr. Lúcio, engenheiro e assessor para administração e planejamento estratégico do CMS. Ele explanou sobre a criação, missão, direção e o efetivo dessa OM, além de exibir um vídeo institucional. Apresentou-me, também, os resultados de uma pesquisa de satisfação com as/os militares e servidoras/servidores do CMS.

Esse preâmbulo com o Sr. Lúcio, a respeito do funcionamento do CMS, indicou a preocupação da CMG Gelza em deixar visível seu desempenho e o trabalho realizado como gestora. Em seguida, fui encaminhada ao gabinete da Diretora Gelza. Participaram da entrevista o Sr. Lúcio e o Sr. Carlos Alberto, encarregado da Comunicação Social do CMS, ambos servidores civis. A presença deles era uma salvaguarda à CMG Gelza, pois ela mantinha um vínculo ativo com a MB. Outra demonstração de preservação e de resposta à institucionalidade foi sua ligação ao titular da Diretoria de Sistemas de Armas da Marinha (DSAM) para informá-lo e pedir autorização para a concessão da entrevista, pois o CMS é subordinado à DSAM, entretanto a comunicação com ele não foi possível nesse primeiro momento. Iniciamos a entrevista às 15h30, com a apresentação do estudo à CMG Gelza e aos demais presentes.

A fala da CMG Gelza, assim como a da CMG Vera e da CF Wilma, era precisa e segura. E sua disposição em participar do estudo era perceptível desde o primeiro contato, demonstração esta partilhada pelas demais entrevistadas. A disponibilidade apontou também para a intenção de projetar a mulher na MB. O fato de tomar posse e consolidar esse espaço foi marcado por desafios, desde o ingresso até o acesso ao cargo de direção. Elas se reconhecem como protagonistas dessa história, uma vez que fizeram parte das primeiras turmas e construíram a trajetória das mulheres na Marinha. Por vezes invisibilizada, tal trajetória, ao ser abordada em um estudo acadêmico, mostra a importância da MB como um espaço para/das mulheres.

Eu quero agradecer a oportunidade de me expressar, de ser entrevistada. É uma honra para mim fazer parte de uma pesquisa de... eu adoro estudar, então, eu adoro quem estuda. Parabéns aí

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pela iniciativa. E espero que esse trabalho renda bastantes frutos e dê exemplo para outras mulheres que quiserem entrar para Marinha, porque a Marinha é uma excelente casa, a Marinha é uma excelente casa. (CMG Gelza, 2016).

Como estávamos em seu ambiente de trabalho, a entrevista foi interrompida duas ou três vezes, sendo uma delas pelo titular da DSAM, em resposta ao contato da CMG Gelza. A presença de outros sujeitos e a necessidade de encerrar às 17h (horário de término do expediente de trabalho) intervieram na forma como conduzi a entrevista e a narrativa da entrevistada, pois influenciaram no tempo de duração da sessão, no conteúdo das falas e na postura das/dos partícipes. Em relação a este último ponto, a CMG Gelza, por estar no serviço ativo, lançou mão de atitudes e posicionamentos que demarcaram sua posição, como Diretora, e o contexto em que estava inserida. No entanto, em maior ou menor proporção, a fala e o comportamento das três entrevistadas encontravam-se localizados institucionalmente.

Todas as Oficiais tomaram ciência da existência e da importância da carta de cessão de direitos, sendo entregue a cada uma ao final da entrevista (ver Apêndice B). Esta carta, assinada por todas, permite o uso e a publicização dos dados (ALBERTI, 2013). A CMG Vera leu e assinou o documento em nosso segundo encontro. A CF Wilma e a CMG Gelza ficaram de posse da carta de cessão por um determinado período, para uma posterior leitura, e entregaram-na, assinada, alguns dias depois.

Na tentativa de ampliar os dados, solicitei à DPMM, em dezembro de 2016, a atualização da relação das Oficiais que foram Diretoras até o ano de 2016, assim como do efetivo institucional. Na listagem encaminhada, em março de 2017, figuravam mais três Oficiais, que tomaram posse no ano de 2016. Os seguintes dados foram disponibilizados: nomes; postos, com o Corpo e o Quadro; ano de ingresso na MB; OM em que foram titulares; período em que estiveram na direção; vínculo institucional (Oficial da ativa ou da reserva remunerada); OM em que serviam.

Em janeiro de 2017, encaminhei novamente e-mail de apresentação da pesquisa para uma Oficial da reserva remunerada, que contatei em janeiro de 2016. Como não obtive resposta, entrei em contato por telefone, igualmente, sem sucesso. Na ausência dos endereços eletrônicos das Oficiais, iniciei os contatos por telefone com

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as que se encontravam no serviço ativo. Em janeiro de 2017, liguei para uma Oficial e adotei os procedimentos de apresentação que havia empregado antes. Posteriormente ao telefonema, ela respondeu ao e-mail que enviei e solicitou informações adicionais. Forneci os esclarecimentos demandados, contudo, a Oficial não deu prosseguimento à comunicação.

Com esta configuração, retornei à listagem e selecionei mais duas Oficiais. Minha orientadora telefonou para uma Oficial, que estava na reserva remunerada. E, por e-mail disponibilizado no currículo lattes, entrei em contato com outra, também da reserva remunerada. Ambas aceitaram o convite, mas interromperam os contatos. Devido à dificuldade de acesso às Oficiais da reserva e da ativa, à disposição geográfica em que se encontravam (a maioria residia no estado do Rio de Janeiro), e ao tempo necessário para a finalização do estudo, a composição do corpus foi limitada às entrevistas realizadas.

Após a coleta dos dados, iniciei o processamento e a análise do material coletado. O processamento deu-se com a transcrição, processo lento e trabalhoso. Para ouvir as gravações, utilizei o reprodutor de mídia Windows Media Player, disponível em meu computador. Durante a escuta não entendia algumas palavras. Por esta razão, recorri ao programa InqScribe, que permite a reprodução pausada dos arquivos de mídia. Até o final do mês de janeiro de 2017 conclui a transcrição ipsis

litteris das três entrevistas. Foram registrados nos textos os elementos

paralinguísticos e também as interrupções, e outras produções do contexto narrativo. A conferência da transcrição, ou seja, a verificação da exatidão entre o conteúdo sonoro e o conteúdo escrito fez parte dessa etapa, e foi realizada com prudência (ALBERTI, 2013; BARDIN, 2011). Nesse sentido, trabalhei a conferência de fidelidade da narrativa, pois a parte escrita precisava corresponder ao que foi narrado oralmente. Em um segundo momento, retornei às transcrições para transpô-las para a norma culta, com a permissão das entrevistadas. Na sequência, encaminhei o material escrito e sonoro para as Oficiais. Elas puderam identificar as palavras das quais eu não compreendi a pronúncia, e alterar o texto – incluindo, modificando ou retirando conteúdos –, inclusive em relação à pontuação. Segundo Alberti (2013, p. 348), quando lhe é permitido, “o entrevistado tem a possibilidade de rever o que falou, fazer novas considerações, ampliar outras e, se achar conveniente, alterar algumas passagens.”

Depois da devolução, dei início ao processo de análise, tendo como suporte os textos alterados pelas entrevistadas. Utilizei a análise de conteúdo proposta por Bardin (2011), na modalidade temática. A

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análise temática, também nomeada de análise categorial, consiste na delimitação das unidades de registro, presentes no texto, a serem submetidas a um processo classificatório, organizando assim os núcleos de sentido. Seu objetivo contempla o conteúdo e a forma de expressão da mensagem.

Bardin (2011) exemplifica as unidades de registro como sendo palavras, frases, temas, personagens, acontecimentos, entre outros. O processo de classificação é realizado a partir da identificação do tema e dos sentidos a ele atribuídos. No tema estão condensadas as representações, os valores, os posicionamentos e as crenças das/os sujeitas/sujeitos. Os sentidos agrupam as unidades de contexto (narrativas), que são a base empírica da análise, em unidades de registros, que fazem parte dos núcleos temáticos.

Para tanto, utilizei as diferentes ‘leituras’ que realizei, do material, nos seguintes momentos: na produção da fonte – a entrevista; na escuta do áudio; no processo de transcrição; na conferência do texto; no texto corrigido pelas entrevistadas. Assim, ao me debruçar sobre o material escrito, possuía uma compreensão geral sobre ele, que foi aprofundada ao longo do processo analítico. Tal entendimento é resultado da concepção de que a fonte de pesquisa é a narrativa oral; e a narrativa transcrita é o material de apoio necessário à análise. Sendo assim, quando ocorreram dúvidas durante o tratamento dos dados, recorri ao conteúdo sonoro para saná-las.

A primeira leitura foi uma aproximação inicial a cada entrevista transcrita. Observei o encadeamento textual e os assuntos presentes nas narrativas. Nas leituras posteriores, me aprofundei no material e iniciei o processo de codificação.

A codificação ocorreu por meio de recortes textuais, unidades de contexto, impregnados de significação, que objetivam identificar os principais temas presentes nas narrativas das Oficiais (BARDIN, 2011). Desse modo, identifiquei, de forma preliminar, os temas presentes nos textos, bem como os elementos paralinguísticos. Os temas conduziram à construção de categorias analíticas. A esquematização temática do roteiro de entrevistas contribuiu para essa construção. A categorização não reduziu o conteúdo a ser analisado, mas o representou de forma sistematizada, projetando seus sentidos.

Nas categorias analíticas construídas, agrupei as narrativas relacionadas à temática. Cada história foi analisada individualmente para que a singularidade das trajetórias fosse projetada; quando possível (pois, não pretendia perder as características específicas das narrativas),

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evidenciava os nexos entre as histórias para mostrar suas similaridades e suas diferenças.

As entrevistas foram armazenadas em mídia digital (em formato de CD), compondo o acervo do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Serviço Social e Relações de Gênero (NUSSERGE) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), por um período de cinco anos após a conclusão do estudo. Os arquivos digitais não poderão ser reproduzidos sem autorização da UFSC e da pesquisadora responsável. Os resultados da pesquisa serão divulgados às entrevistadas, por meio do envio de uma cópia em PDF da dissertação, para seus respectivos endereços eletrônicos.

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3 A MARINHA DO BRASIL

A Marinha compõe as Forças Armadas do Brasil, juntamente com o Exército e a Aeronáutica. Suas protoformas remontam ao século XVI38 e, por isso, a elevam à condição de Força Armada mais antiga do país. Apesar de seu longo trajeto histórico, destaco que me aterei aos seus principais traços constitutivos. Dirigi um olhar mais detalhado ao ingresso e à permanência das mulheres na Instituição, bem como ao acesso delas à direção de OM. Por fim, apresento as Diretoras, sujeitas da pesquisa.

3.1 O CENÁRIO DE PESQUISA

As Forças Armadas são instituições militares responsáveis pela defesa e segurança do território nacional, subordinadas à Presidência da República, conforme preconizado no Estatuto dos Militares (BRASIL, 1980). A MB possui funções específicas atreladas ao emprego do poder naval39 no mar, em faixas litorâneas e em águas fluviais. Com os meios aeronavais e o pessoal habilitado a operá-los, a MB garante a prontidão necessária para operações de defesa do território brasileiro.

As bases das Forças Armadas, a hierarquia e a disciplina, constituem os parâmetros para os relacionamentos entre os/as militares e para o funcionamento e o desenvolvimento institucional. As regras e as normas da Marinha se relacionam diretamente com as características de sua missão40 e com sua base constitutiva – a hierarquia e a disciplina. O estrito cumprimento dessas normativas é um componente orgânico da carreira militar.

O ingresso na Marinha é possibilitado a todas as brasileiras/todos os brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos pelas legislações pertinentes. A carreira da/do militar da Marinha inicia após o período de formação em seus estabelecimentos de ensino.

38

Segundo relato constante na publicação Poder Naval (BRASIL, 1997, p. 26 e 27): “Somente a 20 de janeiro de 1567, quando Mem de Sá, no comando de uma esquadra, chegou ao Rio de Janeiro e ali travou uma batalha decisiva [...] foram os franceses expulsos da Baía de Guanabara. [...] Além de primeira defesa organizada contra uma agressão ao nosso território, o fato caracteriza, historicamente, o nascedouro da Marinha do Brasil [...].”

39

O poder naval corresponde ao aparelhamento operativo da Marinha, como navios, submarinos, aeronaves, viaturas e sistemas de armas.

40

Ver em: https://www.marinha.mil.br/content/missao-e-visao-de-futuro-da-marinha. Acesso em: 03 set. 2017.

(38)

A MB possui um amplo complexo de ensino constituído para a formação de militares. Esse complexo é dividido em dois níveis: um para Oficiais e outro para Praças41. Após a formatura, a aluna/o aluno é nomeada/nomeado no posto ou na graduação42 que lhe é correspondente.

Esses níveis hierárquicos – Oficiais e Praças – são, ainda, submetidos a mais uma divisão, denominada de ‘círculos hierárquicos.’ Os “círculos hierárquicos são âmbitos de convivência entre os militares da mesma categoria e têm a finalidade de desenvolver o espírito de camaradagem, em ambiente de estima e confiança, sem prejuízo do respeito mútuo.” (BRASIL, 1980).

A composição das subdivisões dos círculos hierárquicos referentes às/aos Oficiais e às/aos Praças da Marinha é configurada conforme preconiza o Estatuto dos Militares (BRASIL, 1980):

1. Oficiais:

a. Círculo de Oficiais-generais: Almirante, Almirante-de-Esquadra, Vice-Almirante, Contra-Almirante;

b. Círculo de Oficiais superiores: Capitão de Mar e Guerra, Capitão de Fragata, Capitão de Corveta;

c. Círculo de Oficiais intermediários: Capitão-Tenente; d. Círculo de Oficiais subalternos: Primeiro-Tenente,

Segundo-Tenente. 2. Praças:

e. Círculo de Suboficiais, Subtenentes e Sargentos: Suboficial, Primeiro-Sargento, Segundo-Sargento, Terceiro-Sargento; f. Círculo de Cabos e Soldados: Cabo, Marinheiro

Especializado, Soldado Especializado, Marinheiro, Soldado, Marinheiro-Recruta, Recruta.

A/o militar, após sua nomeação, é incorporado em uma OM, ou seja, é designado para servir43 em uma base militar da Marinha. As funções das OM são diversas, dentre elas, destaco as operativas e de assistência ao pessoal da MB. A função operativa destina-se à defesa e

41

Os centros de ensino destinados às/aos Oficiais ou futuras/futuros Oficiais são o Colégio Naval (Angra dos Reis/RJ), a Escola Naval (Rio de Janeiro/RJ), o Centro de Instrução Almirante Wandenkolk (Rio de Janeiro/RJ) e a Escola de Guerra Naval (Rio de Janeiro/RJ). Para as/os Praças são o Centro de Instrução Almirante Alexandrino (Rio de Janeiro/RJ) e as quatro Escolas de Aprendizes-Marinheiros (Florianópolis/SC, Fortaleza/CE, Recife/PE, Vitória/ES).

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Graduação é a posição ocupada pela Praça na hierarquia militar. 43

Termo que se refere ao serviço militar, ou seja, às atividades desempenhadas pelas/pelos militares.

Referências

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