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Vista do OS REFUGIADOS VENEZUELANOS E SUA RECEPÇÃO NA NOVA LEI DE MIGRAÇÃO | Acta Científica. Ciências Humanas

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RECEPÇÃO NA NOVA LEI DE MIGRAÇÃO

Alessandro Jacomini1 Gabriela Simoni Fernandes2 Letícia Maerki Maciel3 Resumo: O presente trabalho estuda a entrada de refugiados no Brasil, dando enfoque aos refugiados venezuelanos, às leis que os ampararam e à nova Lei de Migração que entrou em vigor em novembro de 2017, revogando o Estatuto do Estrangeiro, pois se tratava de uma legislação formulada na Ditadura Militar e, por tanto, carregava os ideais dessa época deixando a desejar alguns princípios dos Direitos Humanos, como a dignidade da pessoa humana. Para isso, utili-zou-se o entendimento de renomados autores como Florisbal Del’Olmo, Rosita Milesi, Ribeiro Leão, entre outros, e o método escolhido foi a análise documen-tal e análise bibliográfica, onde uma série de informações de artigos e livros referentes ao assunto foi encontrada, além, claro, da própria legislação. Também recorremos ao auxílio de informações eletrônicas, como o site da ACNUR que tem um trabalho efetivo com os refugiados. Através deste artigo pode-se com-preender o que a Nova Lei de Migração trouxe de ganhos e prejuízos aos refu-giados. Para isso, observar-se-á também a evolução desse conceito de refugiado através do tempo e, especificamente, no Brasil.

1 Doutor em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e professor ti-tular na graduação de Direto do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp). E-mail: alessandro.jacomini@unasp.edu.br

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Palavras-chave: Refugiado; Refugiado venezuelano; Estatuto do Estrangeiro; Nova Lei de Migração.

THE VENEZUELAN REFUGEES AND THEIR

RECEPTION IN THE NEW MIGRATION LAW

Abstract: The present study studies the entry of refugees in Brazil, focusing on Venezuelan refugees, the laws that protected them and the new Migration Law that came into force in November 2017, repealing the Foreign Statute, since it was a law in the Military Dictatorship and, therefore, carried the ideals of that time leaving to be desired some principles of the Human Rights, like the dignity of the human person. For this, the understanding of renowned authors such as Florisbal Del’Olmo, Rosita Milesi, Ribeiro Leão, among others, was used, and the method chosen was documentary and bibliographic analysis, where a series of information on articles and books related to the subject was of the legislation itself. We also use the help of electronic information, such as the UNHCR web-site that has an effective work with the refugees. Through this article one can understand what the New Migration Law has brought about of gains and losses to refugees. For this, the evolution of this concept of refugee through time and, specifically, in Brazil, will also be observed.

Keywords: Refugee; Venezuelan refugee; Foreign Status; New Migration Law.

Introdução

O presente trabalho aborda a problemática dos refugiados venezuelanos e a nova lei de migração. Os métodos de pesquisa escolhidos foram a análise documental e análise bibliográfica, onde uma série de informações de artigos e livros de renomados autores da área como Florisbal Del’Olmo (2014), Rosita Milesi (2003), Ribeiro Leão (2007), entre outros, referentes ao assunto foram comparadas. A nova Lei de Migração que entrou em vigor no mês de novembro de 2017, por se tratar de um assunto muito recente, possibilitou também a utili-zação de informações de jornais eletrônicos.

Uma parte do presente trabalho foi dedicada à construção histórica do conceito de refugiado e como isso se deu também no Brasil, pois é através das

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mudanças desse conceito no tempo, foi possível chegar a uma lei nova e tão abrangente quanto a proteção desses estrangeiros em situação vulnerável.

Buscou-se oferecer também um panorama geral sobre o período de gover-no do presidente Hugo Chavéz Frias, que é muito importante para se entender a história da Venezuela, já que ficou no poder por 14 anos, até a atual crise no governo de seu sucessor Nicolás Maduro.

As relações Brasil-Venezuela são um ponto importante, pois esses dois países sempre foram próximos no que se refere à economia. Antes mesmo da criação do MERCOSUL, ambos já realizavam exportação e importação entre si. Após esse pacto econômico, elas se intensificaram, todavia, sendo a crise na Venezuela não somente econômica, mas também política, pois além da falta de alimentos e itens básicos para a sobrevivência e altas taxas de violência, o país também se encontra com a sua democracia abalada, mo-tivo pelo qual os países integrantes do Mercosul decidiram suspender sua participação no bloco econômico.

Todos esses pontos abordados durante este estudo, ainda que de ma-neira sucinta, são os motivos que têm levado os venezuelanos a solicitar o refúgio para Brasil ou ainda, muitas vezes, a permanecer ilegalmente nas ci-dades fronteiriças. Nesse contexto, a nova lei de Migração veio para substituir o antigo Estatuto do Estrangeiro, prometendo mais agilidade aos processos jurídicos dos migrantes, trazendo modernização. Essa lei brasileira foi louva-da pelos institutos internacionais dos direitos humanos, já que vem contra o movimento de xenofobismo deste século, e garantindo a proteção do migran-te. Por isso, o estudo foi realizado dando foco a essa mudança na legislação, ainda que, correlata a ela, exista em vigor (não será revogada pela nova Lei do Migrante) a Lei do Refugiado.

Refugiado através do tempo

De acordo com Luiz Barreto (2010, p. 12), é possível dizer que existem re-fugiados desde o início da humanidade, como explica:

A pesquisa histórica identifica que regras bem definidas para refúgio já exis-tiam na Grécia antiga, em Roma, Egito e Mesopotâmia. Naquela época, o refúgio era marcado pelo caráter religioso, em geral concedido nos templos e por motivo de perseguição religiosa.

Foi a partir do século 20, especificamente da Segunda Guerra Mundial, que o conceito de refugiado sofreu mudanças, pois se identificou que o homem

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precisava ter sua dignidade respeitada, ou seja, os Direitos Humanos tornaram--se instrumento de proteção. Foi criada então a Declaração Universal Dos Di-reitos Humanos (1948) e, especificamente em relação aos refugiados, foi criado o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) em 1951 (RAMOS et al., 2011), juntamente com a Convenção das Nações Unidas sobre o Estatuto dos Refugiados. (MILESI, 2003, p. 13).

A definição de refugiado transcrita na Convenção sobre o Estatuto do Re-fugiado explica que:

[…] devido a temores fundados de ser perseguida por motivos de raça, re-ligião, nacionalidade, ou por pertencer a determinado grupo social ou opi-niões políticas, se encontre fora do país de sua nacionalidade e não possa ou, devido a tais temores, não queira recorrer à proteção de tal país […] (MILESI, 2003, p. 14).

Deve ficar claro também que: “quaisquer estrangeiros devem ter uma con-dição jurídica respeitadora da dignidade da pessoa humana, devendo ser trata-dos como homens e mulheres capazes de gozar totrata-dos os direitos daí decorren-tes” (MAZZUOLI, 2015, p. 783, ênfase acrescentada).

Conclui-se, portanto, que a definição de refugiado se tornou bastante dife-rente daquela encontrada entre as nações mais antigas, como Grécia e Roma. Ao longo dos séculos, essa definição se tornou cada vez mais aberta e mais abran-gente devido às próprias mudanças da sociedade e atualmente os refugiados passam por desafios como a xenofobia (MILESI, 2003, p. 11).

Esse sentimento xenofóbico encontra sentido no atentado do dia 11 de Setembro, como explica Rosita Milesi (2003, p. 16-17):

[…] O espectro do terrorismo fez com que numerosos países, historicamente acolhedores de refugiados, percebessem no estatuto do refugiado um meio utilizado por terroristas para ingressar nos países ocidentais. Alastrou-se um clima de desconfiança e suspeita em relação a todos os estrangeiros, princi-palmente àqueles provindos de determinadas áreas geográficas e pertencen-tes a determinados credos religiosos […].

Portanto, além de toda a vulnerabilidade em que o refugiado se encontra, pois está fugindo de algum conflito, alguma perseguição e/ou situação de risco, ele também enfrenta o medo de não conseguir ser acolhido, por conta do senti-mento xenofóbico que tem ganhado força neste século.

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Refugiado para o Brasil

Embora exista um sentimento xenofóbico na maioria dos países frente ao cenário atual de terrorismo, como explicado no tópico anterior, Rosita Milesi (2003, p. 10-11) elucida que: “[…] o Brasil importa-se com os refugiados e, na medida de sua capacidade, acolhe-os comprometendo-se a lhes dar assistência compatível àquela dispensada aos nacionais”.

Fato é que nenhum país é obrigado a receber refugiados, como explica Francisco Rezek (2011, p. 226): “Nenhum Estado é obrigado, por princípio de direito das gentes, a admitir estrangeiros em seu território, seja em definitivo, seja a título temporário”.

A princípio, o Brasil aderiu, no ano de 1960, à Convenção de 1951, mas viveu um período de Ditadura Militar (1964-1985) e muitos brasileiros foram forçados a sair do país. Nesse período foi criada também a Lei nº 6.815, de 19 de agosto de 1980 (Estatuto do Estrangeiro), que definia a situação jurídica do estrangeiro no Brasil.

Após o período da ditadura, não houve a necessidade de se criar uma lei específica aos refugiados, servindo como base sempre os ditames da Convenção de 1951 (BARRETO, 2010, p. 17-18).

No entanto, em 1992, o país começou a receber um número considerável de refugiados de diversos países e foi promulgada a Lei nº 9.474, em 22 de ju-lho de 1997, que criou o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare),4 “cuja principal atribuição é a de declarar o ‘status’ de refugiado, em primeira instân-cia”, ou seja, é a Conare que decide outorgar ou não refúgio aos que o solicitam (BARRETO, 2007, p. 5; VARESE, 2007, p. 9).

O CONARE é presidido pelo Ministério da Justiça e integrado pelo Itama-raty (que exerce a Vice-Presidência), pelos Ministérios da Saúde, Educação e Trabalho e Emprego, pela Polícia Federal e por organizações não-gover-namentais dedicadas a atividades de assistência: o Instituto Migrações e Di-reitos Humanos (IMDH) e as Cáritas Arquidiocesanas de Rio de Janeiro e São Paulo. O ACNUR também participa das reuniões do órgão, porém sem direito a voto […].5

O Brasil é considerado hoje, pela própria Organização das Nações Unidas (ONU), como um país que possui uma lei moderna, abrangente e generosa em

4 Disponível em: <https://bit.ly/2xEbTSj>. Acesso em: 25 mar. 2017.

5 /ŶĨŽƌŵĂĕƁĞƐŽďƟĚĂƐƉŽƌŵĞŝŽĚŽDŝŶŝƐƚĠƌŝŽĚĂƐZĞůĂĕƁĞƐdžƚĞƌŝŽƌĞƐ͘ŝƐƉŽŶşǀĞůĞŵ͗фŚƩƉƐ͗ͬͬ ďŝƚ͘ůLJͬϮdžďd^ũх͘ĐĞƐƐŽĞŵ͗ϬϱŽƵƚ͘ϮϬϭϳ͘

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relação ao refugiado (BARRETO, 2010, p. 19). Destarte, serão abordados aspec-tos dessas legislações de maneira mais específica.

Crise na Venezuela: do governo Chavéz a Maduro

O presente trabalho, como já citado anteriormente, tem enfoque no re-fugiado venezuelano, portanto, explanamos, ainda que de maneira sucinta, a construção histórica da crise na Venezuela.

A Venezuela é uma das maiores fontes de petróleo da América Latina, mas sua democracia sempre esteve em colapso. O país vive períodos entre demo-cracia e ditadura. A influência dos Estados Unidos, segundo Bellintani e Lima (2015), nasceu quando a Venezuela tentou planejar a exploração de seu petróleo, e o país concedeu aos estrangeiros o poderio sobre este bem, sendo um dos fatos que resultou em uma enorme crise em 1980.

Maciel (2007) observa que o pacto de Punto Fijo foi uma das bases para a democracia na Venezuela, que estabelecia a ordem entre os partidos políticos. Porém, com a crise, o governo do presidente Carlos Andrés Perez emprestou dinheiro do FMI, o que trouxe insatisfação entre a população, culminando na tentativa de golpe de Hugo Chavéz Frias em 1992 e sua eleição oficial para pre-sidente em 1998. Nesse ínterim, em 1999, uma nova constituição foi elaborada. Em relação aos Estados Unidos, este declarou a Venezuela como suspeita em seu documento anual de segurança, “contudo apesar dos atritos […] os Estados Unidos continuam sendo os maiores importadores do petróleo venezuelano” (MACIEL, 2007, p.12).

Os vínculos com Fidel e seu apoio ao programa nuclear iraniano acabaram por enquadrar a Venezuela na lista de países que não colaboram comple-tamente na luta contra o terror […] consequentemente o vizinho do norte impôs sanções à Venezuela, como a proibição de venda de armas norte--americanas […] contudo, a proibição não pareceu ser um problema para Hugo Chavéz, que recentemente comprou 55 aviões militares russos […] (MACIEL, 2007, p.11).

De acordo com Cardoso (2014), alguns conflitos atrapalharam a economia do país, como a tentativa de golpe militar de 2002. Para solucionar os conflitos, um referendo foi feito para saber se o presidente continuava no poder. Chavéz venceu com uma aprovação de quase 60%. “Fortalecido pela vitória no referen-do de 2004, Hugo Chávez anunciou em janeiro de 2005 a adesão de seu governo ao ‘Socialismo do século XXI’” (CARDOSO, 2014, p. 6).

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A vitória nas eleições de 2006 significou a possibilidade de aprofundamen-to da nova experiência política. A consolidação de um partido unificado de apoio ao governo, Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), e a não renovação da concessão para a Rede Caracas Televisión (RCTV) foram algu-mas das novas articulações políticas resultantes do fortalecimento do grupo chavista. […] a proposta de reforma de 2009 se concentrou no fim do limite para a reeleição dos políticos que ocupavam cargos. O referendo constitucio-nal consagrou a vitória da proposta do governo, por 55% dos votos a favor contra 45% dos votos contrários. Essa vitória possibilitou que Hugo Chávez fosse novamente candidato à Presidência nas eleições de dezembro de 2012 […] (CARDOSO, 2014, p. 7).

Hugo Chavéz ficou no poder até sua morte, em 2013, totalizando 13 anos de mandato, sendo substituído pelo eleito democraticamente Nicolás Maduro. O governo de Maduro não encontra apoio popular como seu antecessor por conta da baixa no valor do petróleo. De acordo com Vaz (2014), uma crise so-cial, política e econômica se instalou no país. A Venezuela não tem produtos básicos, não consegue investir na saúde e nos seus projetos sociais e a violência está crescendo exponencialmente por falta de segurança pública: “verifica--se que as políticas adotadas dentro do chamado novo socialismo do século XXI, parecem estar perdendo eco em virtude da falta de produtos básicos e de

primeira necessidade” (GOMES; WINTER; ROSSI, 2015, p. 7).

A onda de protestos aponta para a existência de uma fissura na sociedade venezuelana, em que a situação torna-se insustentável, vez que a oposição não reconhece a situação como um governo legítimo, porque entende que este não tem o apoio popular e, de outro lado, a própria situação procura se utilizar de meios democráticos e antidemocráticos, com o intuito de buscar a sua manutenção no poder (GOMES; WINTER; ROSSI, 2015, p. 6).

De acordo com Vaz (2014), é visível a deterioração do legislativo. Um dos conflitos é o do TSJ, que em 2016 assumiu as funções da Assembleia Nacional. “Fortaleceram-se as demandas dos militantes oposicionistas pela destituição dos juízes do Tribunal Superior de Justiça, pela independência do Legislativo e pela realização imediata de eleições gerais […]” (VAZ, 2014, p. 5).

Maduro então decidiu convocar a Assembleia Constituinte para a criação de uma nova constituição, o que chamou a atenção da Organização dos Estados Americanos (OEA), que se uniu para debater a crise venezuelana. “[…] o gover-no de Nicolas Maduro anunciou a decisão de retirar o país daquele organismo regional por considerar que a ação do Conselho de Ministros representava uma

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clara iniciativa de caráter intervencionista e um exemplo de ingerência indevida em assuntos internos.” (VAZ, 2014, p. 6).

Relações entre Brasil e Venezuela

A Amazônia tem uma grande extensão. Apesar de grande parte desta se encontrar no Brasil, há nove países onde ela está presente. Um deles é a Vene-zuela, fato que possibilitou a criação de um pacto entre os dois países: a Inicia-tiva Amazônica. “Brasília manifestava interesse em ampliar as fronteiras eco-nômicas e comerciais da região, dinamizando a aproximação com os países setentrionais da América do Sul, e nela envolvendo os estados amazônicos bra-sileiros” (GUIMARÃES; CARDIM, 2003, p. 67). Antes da criação do Mercosul, Brasil e Venezuela tinham um grande fluxo de relação econômica.

Em 1994, o Brasil ocupava o 11° lugar de destino das exportações vene-zuelanas, subindo para a posição de 8° em 1996 e para 3° em 1998. Em 1994, o Brasil era o 6° país do qual originavam-se as importações venezue-lanas, passando para 4° em 1996 e mantendo a posição em 1998. Em 2001 o Brasil exportou para a Venezuela US$ 120 milhões, principalmente em produtos eletrônicos e neste mesmo ano já importou US$ 107 milhões em petróleo bruto e óleos combustíveis venezuelanos. 75 Brasil e Venezuela assinaram um Acordo de Complementação Econômica em julho de 1994, que elimina restrições alfandegárias e outorga preferências sobre taxas de importação de produtos com origem nos países signatários (GUIMA-RÃES; CARDIM, 2003, p. 74).

Com a criação do Mercosul, o Brasil passou a ter uma relação internacio-nal mais intensa com os países da América Latina, e a Venezuela, apesar de não ter um PIB muito alto, entrou para o bloco econômico, segundo Bellintani e Lima (2015, p. 10), “devido a questões de política interna no Paraguai, […] foi possível à Venezuela ingressar no Mercosul. […] Para o Brasil, em virtude do petróleo, a Venezuela é um importante parceiro […]”.

Apesar do bloco econômico ter uma cláusula democrática firmada em Ushuaia, o que tecnicamente impediria a entrada da Venezuela, que em grande parte da sua história teve governos autoritários, segundo Florisbaldo (2014), era importante para os países latinos ter mais poder econômico, o que se daria com a entrada de mais um país para o Mercosul. Assim, desencorajando o projeto do Estados Unidos que queria criar um grupo econômico chamado Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Sendo este criado, o Mercosul perderia sua força e efetividade.

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Com a crise política em que se encontra a Venezuela, ela foi suspensa do bloco econômico Mercosul.6 As relações exteriores escreveram uma nota7 e o principal motivo foi a ruptura da ordem democrática pelo atual presidente ve-nezuelano Nicolás Maduro.

Uma crise diplomática se instalou na relação do Brasil com a Venezue-la, sendo iniciada pelo governo de Maduro, onde o atual diplomata brasilei-ro Ruy Pereira, em Caracas, foi declarado como persona non grata. Medida equalitária foi tomada com o embaixador da Venezuela no Brasil, Girard An-tonio Delgado Maldonado.8

Apesar do conflito, o presidente Temer não tem se pronunciado aberta-mente contra o governo de Maduro, e com a chegada de muitos refugiados ao estado de Roraima, com uma estimativa de 700 venezuelanos entrando em solo brasileiro por dia, medidas estão sendo tomadas pelo governo, como a edição da Medida Provisória 820/2018, um censo para se saber a quantidade exata, além de medidas de segurança como reforço militar na fronteira.9

Refugiado fronteiriço

6 Informação retirada do texto Venezuela é suspensa do Mercosul por “ruptura da ordem demo-ĐƌĄƟĐĂ͟, da Revista IstoÉ, publicado em agosto de 2017. Disponível em:

<https://bit.ly/2MIUC-CO>. Acesso em: 25 out. 2017.

7 Texto original: “O governo brasileiro acompanha com muita preocupação a escalada de ten-sões na Venezuela. Repudia o assédio cometido por grupos paramilitares contra o Congres-so venezuelano. Cumpre ao governo de Nicolás Maduro assegurar o mais abCongres-soluto respeito à integridade física dos congressistas, garantir a imunidade parlamentar e proceder à imediata restauração das competências da Assembleia Nacional. A violação sistemática do princípio da independência dos poderes é uma das provas mais ostensivas da situação autoritária em que vive a Venezuela. O governo brasileiro também condena o lançamento de granadas contra as instalações do Tribunal Supremo de Justiça a partir de helicóptero supostamente de proprieda-de da polícia venezuelana. É imperativo que a restauração do estado proprieda-democrático proprieda-de direito na Venezuela seja perseguida de maneira pacífica e em plena consonância com os ditames cons-titucionais”. Informação obtida na nota 211 Situação na Venezuela do Ministério das Relações

Exteriores, publicada em junho de 2017. Disponível em: <https://bit.ly/2N7tFIj>. Acesso em: 10

out. 2017.

8 Informações retiradas do texto Governo determina que membro da Embaixada da Venezuela

no Brasil deixe o país, de Ivan Richard Esposito para a Agência Brasil, publicado em dezembro

de 2017. Disponível em: <https://bit.ly/2l1Q9eg>. Acesso em: 25 mar. 2018.

9 Informações retiradas do texto Temer diz que Brasil está em “embate diplomático” em relação

à Venezuela, da Revista IstoÉ, publicado em fevereiro de 2018. Disponível em: <https://bit.ly/

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A Constituição Federal de 1988 traz, no caput do art. 5º: “aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liber-dade, à igualliber-dade, à segurança e à propriedade”. Mas:

[…] deve-se fazer a observação de que a referência aos “estrangeiros resi-dentes no País” é de ser interpretada de acordo com a moderna sistemática internacional de proteção dos direitos humanos, bem como com os valores constitucionais da cidadania e da dignidade da pessoa humana. Dessa forma, o entendimento do dispositivo deve ser no sentido de admitir a quaisquer estrangeiros (residentes ou não no Brasil) os direitos e garantias individuais mínimos consagrados pela Constituição (MAZZUOLI, 2015, p. 789).

Esse é o desafio enfrentado pelo governo brasileiro nos últimos dias, pois sem precedentes para o fim dessa situação, cada vez mais os venezuelanos se veem forçados a sair de seu país, em busca do mínimo para viver. Dos princi-pais países que receberam solicitação de refúgio nesse último ano, o Brasil está em segundo lugar.10

Existe um cuidado também nesse sentido com os indígenas que vivem na fronteira entre Brasil e Venezuela, pois estão sendo afetados pela situação, além claro da própria segurança dos refugiados que em algumas regiões vem sofren-do abusos e ataques de gangues (SPINDLER, 2017).

Recentemente, o presidente Michel Temer assinou um decreto referente à vulnerabilidade dos refugiados em Roraima (Decreto nº 9.285, de 15 de feve-reiro de 2018), pois cerca de 40.000 venezuelanos já entraram na cidade de Boa Vista, o que representa mais de 10% dos cerca de 330.000 habitantes da capital.

Obviamente, os abrigos estão lotados e muitos estão vivendo na rua em condi-ções precárias. Apesar das dificuldades enfrentadas, o presidente afirmou, em discurso, que não vai fechar as fronteiras.11

O governo estuda também a distribuição desses refugiados nos outros Es-tados do país, para possibilitar até mesmo uma oportunidade de emprego e melhores condições de atendimento nas vias públicas, como hospitais. No en-tanto, existe uma resistência por parte dos próprios venezuelanos que desejam permanecer em Roraima, tendo em vista ser mais próximo da fronteira (SOU-ZA, 2018).

10 Informações ditas pelo porta-voz do Acnur, Willian Spindler, no dia 17 de julho de 2017, em Genebra. Disponível em: <https://bit.ly/2wyYz12>. Acesso em: 05 out. 2017.

11 Informações retiradas do texto Com 40.000 venezuelanos em Roraima, Brasil acorda para sua

“crise de refugiados”, publicado pelo EL PAÍS em fevereiro de 2018. Disponível em: <https://bit.

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Toda essa crise chamou a atenção das Nações Unidas para Refugiados (Ac-nur), que voltou os seus olhos para o Brasil e, através de seu alto comissário Fili-ppo Grandi, em reunião com ministro das Relações Exteriores brasileiro, Aloy-sio Nunes Ferreira, no início do ano de 2018, aumentou sua atuação no país:

[…] assinaram mais cedo um acordo para a ampliação do escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) no país. O órgão já estava presente no Brasil, mas sob o guarda-chuva do sistema da Organi-zação das Nações Unidas (ONU). Na prática, o acordo não deve alterar os trabalhos já desenvolvidos pelo Acnur no país (SOUZA, 2018).12

Além disso, existe o Decreto nº 9.286, de 15 de fevereiro de 2018, que: “De-fine a composição, as competências e as normas de funcionamento do Comitê Federal de Assistência Emergencial para acolhimento a pessoas em situação de vulnerabilidade decorrente de fluxo migratório provocado por crise humanitá-ria” (Diário Oficial, 16 de fevereiro de 2018, p. 3).

E o Decreto nº 9.277, de 5 de fevereiro de 2018, que dispõe sobre a identifi-cação do solicitante de refúgio e sobre o Documento Provisório de Registro Na-cional Migratório, que facilitou o acesso do refugiado ao documento provisório que lhe possibilita atos como:

[…] II - permitirá ao seu portador o gozo de direitos no País, dentre os quais: a) a expedição da Carteira de Trabalho e Previdência Social provisória para o exercício de atividade remunerada no País; b) a abertura de conta bancá-ria em instituição integrante do sistema financeiro nacional; c) a inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas do Ministério da Fazenda - CPF; d) o acesso às garantias e aos mecanismos protetivos e de facilitação da inclusão social decorrentes da Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados, promulgada pelo Decreto nº 50.215, de 28 de janeiro de 1961, e da Lei nº 13.445, de 24 de maio de 2017; e) o acesso aos serviços públicos, em especial, os relativos à educação, saúde, previdência e assistência social. Parágrafo único.  O Do-cumento Provisório de Registro Nacional Migratório não substitui os docu-mentos de viagem internacional.

Todas as medidas presidenciais foram com base na Nova Lei de Migração, inclusive a Medida Provisória 820/2018.

12 Trecho retirado do texto Refugiados venezuelanos: Acnur promete ajuda internacional ao Brasil, de André de Souza, publicado em fevereiro de 2018. Disponível em: <https://glo.

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A nova Lei de Migração – nº 13.445/2017

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O projeto de Lei do Senado (PLS 288/2013), do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) foi sancionado no dia 24 de maio de 2017, a nova Lei de mi-gração foi criada para substituir o Estatuto do Estrangeiro (Lei 6815/1980), este feito na época da ditadura militar tinha um caráter defensivo.

Consagração máxima do paradigma da segurança nacional, garante ao Esta-do a possibilidade de discriminar, punir ou ejetar, de distintas formas, qual-quer estrangeiro que o Poder Executivo considerar como uma ameaça. […] Incompatível com o rol de direitos assegurados pela Constituição Federal de 1988 e com o direito internacional dos direitos humanos, o Estatuto do Es-trangeiro também não responde às necessidades econômicas dos imigrantes e do país (VENTURA; ILLES, 2010, p. 2).

A aprovação da nova lei não é uma exclusividade somente brasileira, pois embora não exista ainda um tratado global sobre o assunto, já possui grande visibilidade na agenda de organismos globais e vários países incluíram no seu ordenamento interno, nas últimas décadas, legislação sobre refugiados e grupos em situação de vulnerabilidade (NUNES, 2017, p. 14).

Para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, a adesão da nova lei no país foi um avanço,14 pois a nossa legislação passou a olhar os migrantes como pessoas que precisam da proteção do princípio da Dignidade Humana. Alguns pontos foram vetados pelo presidente Temer, os principais são:

• Autorização de residência às pessoas que entraram até abril de 2016 no país, independente de situação migratória prévia. Justificativa: o Estado deixaria de ter autonomia quanto à política de acolhida de estrangeiros e haveria dificul-dade em precisar data exata em que imigrante chegou ao país.

• Direito à livre circulação fronteiriça de povos indígenas e populações tradicio-nais. Justificativa: o dispositivo afrontaria a Constituição da República, no que tange à defesa do território nacional como elemento de soberania.

• Revogação de expulsões decretadas antes de 1988. Justificativa: as expulsões foram feitas em conformidade com o princípio de soberania nacional e tal

13 Disponível em: <https://bit.ly/2iSQUIk>. Acesso em: 25 mar. 2017.

14 Informações retirada do texto Comissão Interamericana aposta avanços na nova Lei de Mi-gração brasileira, escrito por Cristina Índio, editado por Amanda Cieglinski e publicado em

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cláusula poderia permitir processos de indenização contra o Estado, prejudi-cando as contas públicas.

• Proibição de expulsão por motivo de crime realizado no Brasil por imigrantes que tenham moradia no país por mais de quatro anos. Justificativa: Estado dei-xaria de ter autonomia para gerir sua política migratória (ENRICONI, 2017).15

Principais mudanças

A nova lei traz as definições de cada perfil, imigrantes, emigrantes, resi-dentes fronteiriços, visitantes e apátridas que se encontram no art. 1º incisos I, II, III, IV, V, VI. Muitos pontos foram mudados, mas as principais mudanças de acordo com o Senado são:16

Proteção aos apátridas

No Estatuto do Estrangeiro o apátrida é citado rapidamente, não há defini-ção do termo jurídico e a Convendefini-ção dos Apátridas não era sequer mencionada, a escassez do assunto trazia um sentimento de falta de direitos, com a nova lei de Migração houve a agilização do processo de interação entre os países para regularização dessas pessoas. O art. 26, § 2º diz que “Durante a tramitação do processo de reconhecimento da condição de apátrida, incidem todas as garan-tias e mecanismos protetivos e de facilitação da inclusão social relativos à Con-venção sobre o Estatuto dos Apátridas de 1954”.

Acolhida humanitária:

O estatuto do estrangeiro regulamentava o visto de modo diferente, como explica Mazzuoli (2015, p. 786):

Tem-se também o visto temporário, que é concedido ao estrangeiro que pre-tenda vir ao Brasil: a) em viagem cultural ou em missão de estudos; b) em viagem de negócios; e) na condição de artista ou desportista; d) na condição de estudante; e) na condição de cientista, professor, técnico ou profissional de outra categoria, sob regime de contrato ou a serviço do governo brasileiro; na condição de correspondente de jornal, revista, rádio, televisão ou agência de notícias estrangeira; e g) na condição de ministro de confissão religiosa ou

15 Trecho retirado do texto Nova Lei de Migração: o que muda?, de Louise Enriconi, publicado em 2017. Disponível em: <https://bit.ly/2wBxzQf>. Acesso em: 8 out. 2017.

16 /ŶĨŽƌŵĂĕƁĞƐƌĞƟƌĂĚĂƐĚŽƚĞdžƚŽŽŶĮƌĂĂƐƉƌŝŶĐŝƉĂŝƐŵƵĚĂŶĕĂƐƚƌĂnjŝĚĂƐƉĞůĂ>ĞŝĚĞDŝŐƌĂĕĆŽ͕ ĚĞDĂƌĐŽƐ^ĂŶƚŽƐ͕ƉƵďůŝĐĂĚŽĞŵϮϬϭϳ͘ŝƐƉŽŶşǀĞůĞŵ͗фŚƩƉƐ͗ͬͬďŝƚ͘ůLJͬϮƋyƌ&ttх͘ĐĞƐƐŽĞŵ͗ ϬϴŽƵƚ͘ϮϬϭϳ͘

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membro de instituto de vida consagrada e de congregação ou ordem religiosa (art. 1-3). O prazo de estada no Brasil, nos casos das letras b e e, será de até no-venta dias; no caso da letra g, de até um ano, e, nos demais casos (salvo a letra d, cujo prazo será de até um ano, prorrogável, quando for o caso, mediante prova do aproveitamento escolar e da matrícula), o correspondente à duração da missão, do contrato, ou da prestação de serviços, comprovada perante a autoridade consular, observado o disposto na legislação trabalhista (art. 14). Na nova lei, a criação de um visto temporário em casos de pesquisa aca-dêmica e problemas de saúde também protegem pessoas que estão fugindo de seus países, mas que não se encaixam na lei do refúgio, listada como um dos princípios.

Art. 14, §3o  O visto temporário para acolhida humanitária poderá ser

concedido ao apátrida ou ao nacional de qualquer país em situação de grave ou iminente instabilidade institucional, de conflito armado, de calamidade de grande proporção, de desastre ambiental ou de grave violação de direitos humanos ou de direito internacional humanitário […].

Regularização documental

No antigo Estatuto do Estrangeiro, quando encontrado de maneira irregu-lar no país, o estrangeiro era de imediato deportado pela Polícia Federal, con-forme elucida Mazzuoli (2015, p. 790):

[…] o Departamento de Polícia Federal (por meio dos seus agentes policiais federais) tem competência para deportar estrangeiros com entrada ou per-manência irregular no país (iniciativa local), sem envolvimento da cúpula do governo e independentemente de qualquer processo judicial […].

Outra questão é que no Estatuto do Estrangeiro, antes da efetivação da deportação, o estrangeiro poderia ser recolhido à prisão por 60 dias, o pedido era realizado pela Policia Federal para o juiz Federal, que decretaria a referida prisão (MAZZUOLI, 2015, p. 791).

Já na nova lei, o migrante pode regularizar sua condição dentro do país sem precisar ir ao seu país de origem para pedir um novo visto, também é um dos princípios. No Art. 3º, XV, diz que o “direito de sair, de permanecer e de reingressar em território nacional, mesmo enquanto pendente pedido de auto-rização de residência, de prorrogação de estada ou de transformação de visto em autorização de residência”.

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Outro ponto relevante é que a nova lei traz como princípio no seu art. 3, III, a não criminalização da migração, ou seja, nenhum estrangeiro pode ser preso por estar em situação irregular.

Manifestação política

No antigo Estatuto do Estrangeiro, conforme explica Mazzuoli (2015, p. 788): “O estrangeiro não tem direitos políticos no Brasil, mesmo quando aqui reside com ânimo definitivo, não podendo votar ou ser votado, o que só é ga-rantido aos nossos nacionais”.

Já na Nova Lei de Migração, agora podem participar de manifestações e formarem sindicato, sendo um princípio. Art. 3º, VII  “direito de associação, inclusive sindical, para fins lícitos.”

Ainda sobre os direitos a manifestação política no Brasil, “valeria acrescen-tar que a falta de direitos políticos tornava o estrangeiro inidôneo para propor a ação popular, uma forma de exercício da cidadania destinada à proteção do patrimônio público”. (MAZZUOLI, 2015, p.228)

Em relação ao refugiado, o texto da nova lei ratifica que as normas especí-ficas para os refugiados no Brasil não serão prejudicadas, mas:

[…] faz várias alusões aos refugiados e, ora distingue estes últimos dos de-mais imigrantes, prevendo condições diferentes a cada um, ora os trata de forma igualitária, sendo possível antever que de alguma forma eles serão afe-tados por suas normas.17

Conclui Elissa Macedo Fortunato que:18

[…] o Estatuto dos Refugiados tem enfoque na caracterização do refúgio e no procedimento de concessão da documentação, enquanto que a Lei de Mi-gração traz princípios humanitários e prevê direitos e deveres aos migrantes; assim, ela acabará sendo aplicável de forma complementar ao refúgio.

17 Trecho retirado do texto Como a nova Lei de Migração pode afetar os refugiados?, de Stéfanie Rigamonti, publicado em junho de 2017. Disponível em: <https://bit.ly/2Cd8nog>. Acesso em: 05 out. 2017.

18 Trecho retirado de entrevista feita com a advogada Elissa Macedo Fortunato para o texto

Como a nova Lei de Migração pode afetar os refugiados?, de Stéfanie Rigamonti, publicado em

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Desse modo, a nova lei é um avanço para a questão da migração como um todo, principalmente no que tange os Direitos Humanos, e seus efeitos ainda não podem ser avaliados de maneira muito profunda.

A aprovação no cenário internacional dos direitos humanos não reflete a aprovação dos nossos políticos. Há um pequeno percentual deles que diz não concordar com a nova lei. Um exemplo é o senador Ronaldo Caiado líder do DEM no Senado que, em entrevista para a TV Senado,19 diz que não concorda com a nova lei porque, para ele, está desatualizada pois, com o cenário atual do tráfico e terrorismo, não se pode facilitar a entrada de migrantes no país.

Esse discurso, que cai muito bem para o momento histórico atual, é o re-flexo do nacionalismo extremo e do xenofobismo, encabeçado pelos Estados Unidos, com os discursos de Trump e o ódio contra mexicanos ou qualquer tipo de migrante. Esse discurso de ódio se espalha pelo mundo, sua forma mais violenta foi o caso dos sírios na Europa.

Considerações finais

Inicialmente já fica claro que o conceito de refugiado é uma construção histórica, isto é, ele veio ganhando espaços, se tornando mais abrangedor após a catástrofe da Segunda Guerra Mundial, pois deu vida à concepção de Direitos Humanos e deu ao refugiado uma amplitude quanto ao quesito dignidade da pessoa humana, porque todo aquele que sofre perseguição é digno de refúgio e não pode, inclusive segundo a lei brasileira, ser enviado à fronteira que lhe coloca em risco.

A crise na Venezuela é o reflexo de uma má administração pública. A mor-te do ex-presidenmor-te populista Chavéz foi um duro golpe para a população acos-tumada com o ritmo desse governo. O atual presidente, mesmo eleito democra-ticamente, não tem mais a aceitação dos eleitores, situação muito parecida com os problemas que o Brasil enfrenta.

Com toda a onda de violência, falta de alimento, e colapso dos sistemas go-vernamentais, os venezuelanos em sua maioria de classe baixa, têm se instalado no estado de Roraima nas cidades fronteiriças, procurando estabilidade e recursos básicos para existência. A partir desse momento, possuem os mesmos direitos que os nacionais, direitos como: saúde, educação, enfim, os direitos

19 Opinião retirada da entrevista do senador Ronaldo Caiado Líder para o Senado Notícias na composição da matéria em vídeo entitulada Proposta de Lei de Migração prevê visto

humanitá-rio, publicada em abril de 2017. Disponível em: <https://bit.ly/2wG4KBd>. Acesso em: 08 out.

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básicos de qualquer ser humano. Nesse ínterim, nasce uma preocupação para o governo brasileiro que é: como assegurar direitos a esse fluxo de pessoas que aumenta todos os dias?

Percebesse que a ACNUR tem grande papel na manobra desses refugiados, tanto na entrada do pedido de refúgio quanto na proteção dos estrangeiros re-cém chegados. Portanto, é com as garantias do antigo Estatuto do Estrangeiro que se trabalhava essa proteção, não só do refugiado venezuelano, mas de todos aqueles que adentravam o país nessa condição, mesmo que essa lei fosse dos tempos da Ditadura Militar e tivesse um cunho de proteção da soberania do país, devido aos ideais da época.

A nova Lei de Migração do Brasil vem contra o discurso do extremo nacio-nalismo que os países pelo mundo têm demonstrado. Inclusive, é um discurso xenofóbico, pois utilizam o argumento do perigo de terrorismo. No entanto, é possível imaginar que é mais do que isso. Ainda que o terrorismo seja um pro-blema real, não é o maior deles. O Brasil se mostra humanitário, mais aberto em receber pessoas em situações caóticas, com uma lei nova e mais acessível a essas garantias tratadas na exploração durante o presente estudo do Estatuto do Refugiado, trazendo esperança aos refugiados de finalmente encontrarem um lugar para seguir com suas vidas e chamar de lar.

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