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A cachoeira de Paulo-Affonso : poema original brazileiro : fragmento dos - Escravos-, sob o titulo de Manuscriptos de Stenio

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C A S T R O A L V E S

A CACHOEIRA

nu

P A U L O - A F F O N S O

POEMA

BAHIA

I M P R E N S A E C O N Ô M I C A

22 — Rua dos Algibebcs — 22

(6)
(7)

CASTRO ALVES

* A C A C H O E I R A

DE

P A U L O - A F F O N S O

• : • . - . POEMA

* . " O R I G I N A L B R A Z I L E I R O

Fragmento' dos — E S C R A V O S — , sob o titulo de

MANUSCRIPTOS DE STENIO

B A H I A

I M P R E N S A ECONÔMICA

22 — Rua dos Algibcbcs — 22

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(9)

Je nc sais vraimcnt si j'aui-ai mérité qu'on dcposc MU jour mi lauricr sur mon cercucil. La jx«i.sif,

quclque soit mon amoin- pour cllc, n'a toujouvs été pmir moi <iu'un moycn consacré pour 1111 but saúil.

Je n'ai jamais attaehé un trop grand prix à Ia gloire de nies poemes, et peu mMmporte quVm Ic» loue, ou qu'ou les blâme. Mais c:e sei a un glaive. <iiie vous devez placer sur ma tombe, car j'ai été uu bravo soldat dans Ia guerrc de delivrancc de l'Im-manite.

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A TARDE

HiRA a JRA a hora em que a tarde se debruça Lá da rista das serras mais remotas... E d'araponga o canto, que soluça, Acorda os echos nas sombrias grotas; Quando sobre a lagoa, que s'embuça, Passa o bando selvagem das gaivotas.. . E a onça sobre as lapas salta urrando Da cordilheira os visos abalando.

(12)

A CACHOIURA DE PAULO-AFITONSO

Era a hora, em que os cardos rumorejam, Como um abrir de boccas inspiradas, E os angicos as comas espanejam Pelos dedos das auras perfumadas.. .

A hora, em que as gardênias, que se beijam, São tímidas, medrosas desposadas ;

E a pedra . . a flor... as selvas... os condor Gagueijam .. faliam... cantara seus amores !

Hora meiga da tarde ! Como és bella Quando surges do azul da zona ardente ! — Tu és do ceu a pallida donzella, Que se banha nas thermas do oriente..., Quando é gotta do banho cada estrella, •Que te rola da espadua refulgente... E — prendendo-te a transa a meia lua Te enrolas em neblinas semi-núa ! . . .

Eu amo-te, ó mimosa do infinito !

Tu me lembras o tempo, em que era infante. Inda adora-te o peito do precito

No meio do martjrio excruciante ;

(13)

.7

A CACHOEIRA DK PAÜÍ.O-AKFONSO

E, se não te dá mais da infância o grito Que menino elevava-te arrogante, E que agora os martyrios foram tantos, Que rcesmo para o riso só tem prantos ! . . .

Mas não me esqueço nunca dos fraguedos Onde infante selvagem me guiavas,

E os ninhos do soffrer que entre os sylvedos Da embaiba nos ramos me apontavas ; Nem mais tarde, dos lauguidos segredos Do amor do nenuphar que enamoravas.. . E as transas mulheris da granadilha !. .. E os abraços fogosos da baunilha !. ..

E te amei tanto —cheia de harmonias, A murmurar os cantos da serrana, A lustrar o broquel das serrauias, — A dourar dos rendeiros a cabana. . .

E te amei tanto — á flor das agoas frias — Da lagoa agitando a verde canna,

Que sonhava morrer entre os palmares, Fitando o ecu ao tom dos teus cantares !. .,

(14)

A CACHOEIRA DE PAULO-AFFOMSO

Mas hoje, da procella aos estridores, Sublime, desgrenhada sobre o monte, Eu quizera fitar-te entre os condores Das nuvens arruivadas do horieonte. . . — Para então —, do relâmpago aos livores Que descobrem do espaço a larga fronte, Contemplando o infinito... na floresta Rolar ao som da funeral orchestra ! !

(15)

M A R I A

UNDE vaes á tardesinha, Mucama tão bonitinha, Morena flor do sertão ? A gramma um beijo te furta Por baixo da saia curta,

Que a perna te esconde em vão.

(16)

A CACHOEIRA DE rAULO-AFFONSO

Mimosa flor das escravas ! O bando das rolas bravas Voou com medo de ti !.. .

Levas hoje algum segredo.. Pois te voltaste cora medo Ao grito do bem-fe-vi.

Sevão amores deveras ? Ah ! Quem dessas primaveras Podesse a flor apanhar ! E comtigo, ao tom d'aragem, Sonhar na rede selvagem. .. A' sombra do azul palmar !

Bem feliz quem na viola Te ouvisse a moda hespanhola Da lua ao frouxo clarão... Com a luz dos astros — por cirios, Por leito — um leito de lyrios... E por tenda a solidão .'

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O BAILE NA FLOR

Í J U E belias as margens do rio possante, Que ao largo espumante carapêa sem par !. Ali das bromelias nas flores douradas Ha sylphos e fadas, que fazem seu l a r . . .

E em lindos cardumes Subtis vagalumes Accendem os lumes P'ra o baile na flor.

(18)

A CACHOEIRA DE PAULO-AFFONSO

E então nas arcadas Das peflas douradas Os grillos em festa Começam na orchestra Febris á tocar... E as breves Phalenas Vão leves, Serenas, Em bando Girando, Walsando Voando No ar ! . . .

(19)

NA MARGEM

} AMOS ! vamos ! Aqui por entre os j uncos Eil-a a cama, em que eu pequena outr'ora Voava nas marêtas.. . Quando o vento, Abrindo o peito á camisinha hnmida, Pela testa enrolava-me os cabellos, lílla voava qual marêta brava No dorso crespo da feral enchente !

(20)

1 0 A CACHOEIRA DE PAULO-AFFONSO

Voga, minha canoa ! Voga ao largo !

Deixa a praia, onde a vaga morde os jmicos, Como na matta os caititus bravios. ..

Filha das ondas ! andorinha arisca ! Tu, que outr'ora levavas minha infância — Pulaudu alegre no espumante dorso Dos cães marinhos a morder-te a proa —, Leva-me agora a mocidade triste

Pelos ermos do rio ao íonge. .. ao longe..

Assim dizia a Escrava. . .

Iam cabindo Dos dedos do crepusc'lo os véus de sombra, Cora que a terra se vela, como noiva, Para o doce hyraeneu das noites límpidas...

Lá no meio do rio, que sciutilla, Como o dorso de enorme crocodillo, Já manso e manso escôa-se a canoa.

(21)

A CACHOEIRA DE PAULO-AFFONKO 1 1

Parecia, assim vista ao sol poente, Esses ninhos, que tombam sobre o rio, E onde em meio das flores vão chilrando — Alegres sobre o abysino —os passarinhos !. .

Tu guardas algum segredo ? . . . Maria, estás á chorar !

Onde vás ? Porque assim foges Rio á baixo á deslisar ?

Pedra, não t'"is o teu musgo ? Não Lens um favonio — flor ? Esi-iella — não tens um lago ? Mulher — não tens um amor ?

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(23)

A QUEIMADA

M E U nobre perdigueiro ! vem comigo. Vamos a sós, meu corajoso amigo,

Pelos ermos vagar !

Vamos lá dos geraes, que o vento açoita, Dos verdes capinaes n'agreste moita

(24)

A CACHOEIRA DE rAUl.O-AFFOXSO

Mas não !.. Pousa a cabeça era meus joelhos.. Aqui, meu cão ! . . . Já de listrões vermelhos

O céu se illuminou. Eis súbito, da barra do occidente, Doudo, rubro, veloz, incandescente,

O incêndio que acordou !

A floresta rugindo as comas curva.,, As azas foscas o gavião recurva,

Espantado a gritar.

O estampido estupendo das queimadas Se enrola de quebradas em quebradas

Galopando no ar.

E a chamma lavra qual giboia informe, Que, no espaço vibrando a cauda enorme,

Ferra os dentes no chão... Nas rubras roscas estorteja as mattas... Que espadanam o sangue das cascatas

(25)

A CACHOEIRA DE PATJL0-AFF0NSO 15

O incêndio — leão ruivo, ensangüentado, A juba, a crina atira desgrenhado

Aos pampeiros dos céus !. ..

Travou-se o pugilato... e o cedro t o m b a . . . Queimado,.. retorcendo na hecatomba

Os braços para Deus.

A queimada ! A queimada é uma fornalha ! A hirara pula ; o cascavel chocalha. . .

Raiva, espuma o tapir !

E ás vezes sobre o cume de um rochedo A corça e o tigre — náufragos do medo —

Vão trêmulos se unir !

Então passa-se ali um drama augusto. . . N'ultimo ramo do páu d'arco adusto

O jaguar se abrigou. ..

Mas rubro é o céu... Recresce o fogo em mares, E após tombam as selvas seculares...

(26)
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L U C A S

1|UEM fosse u'aquella hora, Sobre algum tronco lascado. Sentar-se no descampado Da solitária ladeira, Veria descer da serra,

Onde o incêndio vae sangrento, A passo tardio e lento,

Ura bello escravo da terra Cheio de viço e valor. . .

(28)

18 A CACHOEIRA DE PAULO-AFFONSO

Era o filho das florestas ! Era o escravo lenhador !

Que bella testa espaçosa, E sob o chapéu de couro Que cabelleira abundante ! De marchetada giboia Pende-lhe a rasto o facão. . . E assim... erguendo o machado Na breve e robusta mão... Aquelle vulto soberbo, —Vivamente alumiado, Atravessa o descampado, Como uma estatua de bronze,

Do incêndio ao fulo clarão.

Desceu a encosta do monte, Tomou do rio o caminho... E foi cantando baixinho, Como quem canta p'ra si.

(29)

A CACHOEIRA DE PAULO-AFFONSO 1!)

Era uma dessas cantigas Que elle um dia improvisara, Quando junto da coivára Faz-se o escravo — trovador ;

Era um canto languoroso, Selvagem, bello, vivace, Como o caniço que nasce Sob os raios do Equador.

Eu gosto dessas cantigas,

Que me vem lembrar a infância; São minhas velhas amigas,

Por ellas morro de amor.. . Deixae ouvir a toada Do captivo lenhador.

E o sertanejo assim solta a tyrana Descendo lento p'ra a servil cabana :

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T Y R A N A

« Minha Maria é bonita, Tão bonita assim não ha ; O beija-flor quando passa Julga ver o mauacá.

« Minha Maria é morena Como as tardes de verão; Tem as trancas da palmeira Quando sopra a viração.

« Companheiros ! o meu peito Era um ninho sem senhor ; Hoje tem um passarinho P'ra cantar o seu amor.

(31)

A CACHOEIRA DE PAULO-AFFONSO 2 1

« Trovadores da floresta ! Não digam a ninguém, não !.. Que Maria é a baunilha

Que me prende o coração.

<( Quando eu morrer só me enterrem Junto ás palmeiras do vai,

Para eu pensar que é Maria Que geme no taquaral...»

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A SENZALA

IJUAL o veado, que buscou o aprisco, Balindo arisco, para a serra corre. .. Ou como pombo, que os arrullos solta, Se ao ninho volta quando a tarde morre.

Assim, cantando a pastoril bailada, Já na explanada o lenhador chegou. Para a cabana da gentil Maria Com que alegria a suspirar marchou !

(34)

2 4 A CACHOEIRA DE PAULO-AFFONSO

Eil-a a casinha... tão pequena e bella ! Como é singela com seus brancos muros !

Que liso tecto de sapé dourado !

Que ar engraçado ! que perfumes puros !

Abre a janella para o campo verde, Que alem se perde pelos serros nus.. A testa enfeita da infantil choupana Verde liana de festões azues.

E este o galho da rolinha brava, Aonde a escrava seu viver abriga... Canta a jandaia sobre a curva rama E alegre chama sua dona amiga.

Aqui n'aurora, abandonando os ninhos, Os passarinhos vem pedir-lhe pão ; Pousam-lhe alegres nos cabellos bastos, Nos seios castos, na pequena mão.

(35)

A CACHOEIRA DF. PAUL0-AFF0NS0 25

Eis o painel encantado,

Que eu quiz pintar, mas não p u d e . . . Lucas melhor o traçara

Na canção suave e r u d e . . . Vede que olhar, que sorriso S'espande no bronzeo rosto, Vendo o lar do seu amor. . .

Ai ! Da luz do Paraizo Bate-lhe em cheio o fulgor.

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DIALOGO DOS ECHOS

VJ chegou-se p'ra a vivenda Risonho, calmo, feliz... Escutou... mas só ao longe Cantavam as juritis...

Murmurou : « Vou surp'rendel-a ! »• E a porta ao toque cedeu...

« Talvez agora sonhando Diz meu nome o lábio seu, Que a dormir nada prevê. . .h

(38)

.2 í i A CACHOEIRA DE PAULO-AFFONSO

« Como a casa está tão triste ! Que aperto no coração ! . . . Maria !. . Ninguém responde !

Maria, não ouves, não ?. . . Aqui vejo uma saudade Nos braços de sua cruz... Que querem dizer taes*prantos,

Que rolaram tantos, tantos Sobre as faces da saudade, Sobre os braços de Jesus ? . . . Oh ! quem me empresta uma luz ?. Quem me arranca a anciedade,

Que no meu peito nasceu ? Quem d'este negro mysterio Me rasga o sombrio veu ? . . . »

E o echo responde : — Eu !.

E chegou-se para o leito Da casta flor do sertão... Apertou co'a mão convulsa

(39)

A CACHOEIRA DE PAlXO-AFFOXSf. 2!>

O punhal e o coração ! . . . Stava inda tepido o ninho Cheio de aromas suaves. .. E — como a penna, que as aves Deixam no musgo ao voar — . Um anel de seus cabellos

Jazia cortado á esmo

Como reliquia no altar ! . . . Talvez prendendo nos elos Mil suspiros, mil anhelos, Mil soluços, mil desvellos,

Que ella deu-lhes p'ra guardar ! . . .

E o pranto em baga a rolar.. .

<( Onde a pomba foi perder-se t Que ceu minha estreita encerra ? Maria, pobre d\?ança,

Qne fazes tu sobre a terra ? »

(40)

A CACHOEIRA DE rAULO-AFFONSO

<t Partiste ! Nem te lembraste D'este martyrio sem fim ! . . . Não ! perdoa... tu choi'aste

E os prantos, que derramaste, Foram vertidos por m i m . . . Houve pois um braço extranho Robusto, feroz, tamanho,

Que poude esmagar-te assim ? . . . »

E o echo responde — Sim !

E rugiu : <( Vingança ! guerra ! Pela flor, que me deixaste, Pela cruz, em que resaste, E que teus prantos encerra ! Eu juro guerra de morte Á quem feriu desta sorte O anjo puro da t e r r a . . . Vè como este braço é forte! Vê como é rijo este ferro ! Meu golpe é certo... não erro.

(41)

A CACHOEIRA DE PAUI.O-AFFOXSo .'il

Onde ha sangue, sangue escorre !.. . Villão ! Deste ferro e braço,

Nem a terra, nem o espaço,

Nem mesmo Deus te soccorre ! ! . . . »

E o echo responde — Corre !

Como o cão elle em torno o ar aspira, Depois se orientou ;

Fareja as hervas... descobriu a pista E rápido marchou.

No entanto sobre as águas, que scjntillam, Como o dorso de enorme crocodillo, Já manso e manso escôa-se a canoa ; Parecia assim vista — ao sol poente — Esses ninhos, que o vento lança ás águas, E que na enchente vão boiando á tòa ! . . .

(42)
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O NADADOR

ÜlL-0 que ao rio arroja-se ; As vagas bipartiram-se ; Mas rijas contrahiram-se Por sobre o nadador... Depois s'entreabre lugnbre Um circulo symbolico... E o riso diabólico Do pego zombador !

(44)

M A. CACHOlíltJA 1>E TAULO-AFFOXSO

Mas não ! Do abysmo indomito Surge-me um rosto pallido, Como o Neptuno esquálido

Que amaina a crina ao mar ; Fita o batei longínquo Na sombra do crepúsculo, Rasga com férreo músculo O rio par á par.

Vagas ! Dalilas pérfidas ! Moças, que abris um túmulo, Quando do amor no cumulo Fingis nos abraçar !

O nadador intrépido

Vos toca as tetas cerulas... E após — zombando — as pérolas Vos quebra do collar.

Vagas, curvae-vos tímidas ! Abri fileiras pavidas

As mãos possantes, ávidas Do nadador audaz,

(45)

A CACHOEIRA DE l'Al'LO-AFFO.\S(.i

Bello de força olvmpica — Soltos cabellos humidos — Braços hercúleos, tumidos. . . E o rei dos vendavaes !

Mas ai ! Lá ruge próxima A correnteza horrida, Como da zona torrida A boicininga á u r r a r . . . E lá que o rio indomito, Como o corcel da TJkraui.i, Rincha á saltar de insania, Preme e se atira ao mar.

Tremeste ? Não, qu'importa-te Da correnteza o estridulo ? Se ao longe vês teu idolo, Ao longe irás também... Salta á garupa humida Deste corcel titanico. .. — Novo Mazzeppa oceânico —

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NO BARCO

— JLIUCAS ! —Maria ! murmuraram juntos. E a moça em pranto lhe cahiu nos braços. •Jamais a parasita em floreos laços

Assim ligou-se ao piquiá robusto. ..

Eram-lhe as transas á cair no busto Os esparsos festões da granadilha. . Tepido aljofar o seu pranto brilha, Depois resvala no moreno seio ..

(48)

A CACHOEIRA DE 1'ACLO-AFFOXNO

Oli! doces horas de suave enleio !

Quando o peito da virgem mais arqueja, Como o casal da rola sertaneja,

Se a ventania lhe sacode o ninho.

Coutae, ú brisas, mas contae baixinho ! Passac, ó vagas..., mas passae de manso ! Não perturbeis-lhe o plácido remanso, Vozes do ar ! emanações do rio !

« Maria, falia ! » — «. Que accordar sombrio ». Murmura a triste com um sorriso louco, « No Paraizo eu descansava um pouco... Tu me fizeste despertar na vida.. .

« Porque não me deixaste assim pendida Morrer co'a fronte occulta no teu peito ? Lembrei-me os sonhos do materno leito Nesse momento divinal... Qu'importa ?..

(49)

A CACHOEIRA DE PAUI.O-AFFONM) '.VJ

t Toda esperança para mim 'stá morta.. . Sou flor manchada por cruel serpente. . . Só de encontro nas rochas pode a enchente

Lavar-me as nodoas, ra'esfolhando a vida.

« Deixa-me ! Deixa-me á vagar perdida... Tu ! — parte ! volve para os lares teus. Nada perguntes.. . ó um segredo horrível. .

(50)
(51)

A D E U S

— A U E T S — Ai ! creança ingrata ! Pois tu me disseste — adeus — 't Loucura ! melhor seria

Separar a terra e os céus.

<( —Adeus ! — palavra sombria De uma alma gelada e fria Es a derradeira flor.

(52)

4-) A CACHOEIRA DH P A C I . O - A I - F C N . M I

— Adeus ! — miséria ! mentira De um seio, que não suspira, De um coração sem amor.

.( Ai, Senhor ! A rola agreste Morre se o par lhe faltou.

O raio que abraza o cedro A parasita abrasou.

<( O astro namora o orvalho : — Um é a estrella do galho, — Outro o orvalho da amplidão.

Mas, á luz do sol nascente, Morre a estrella — no poente \ O orvalho — morre no chão !

« Nunca as neblinas do valle Souberam dizerse — adeus -Se unidas partem da terra, Perdem-se unidas nos céus.

(53)

A CACHOEIRA DF. PATJLO-AFFOXSO 4'À

« A onda expira na plaga, Porem vem logo outra vaga P'ra morrer da mesma d o r . . .

— Adeus — palavra sombria ! Não digas — adeus —, Maria f Ou não me falles de amor !»

(54)
(55)

MUDO E QUEDO

£i CALADO ficou. .. Do pranto as bagas Pelo moreno rosto desusaram,

Qual da b'raúna, que o machado fere, Lagrimas saltam de um sabor amargo.

Mudos, quedos os dous neste momento Mergulhavam no dedalo da angustia, No labyrintho escuro da desgraça.. . Labyriufcho sem luz, sem ar, sem fio. .

(56)

4C) A CACHOEIRA DE PAVLO-AFFOXSO

Que dor. que drama torvo de agonias

Não vae n'aquellas almas ! . . . Dor sombria De ver quebrado aquelle amor tão santo, De lembrar que o passado está passado.. . , Que a esperança morreu, que surge a morte !. Tanta illusão !.. tanta caricia meiga !. . Tanto castello de ventura feito

A' beira do riacho, ou na campanha !.. Tanto êxtase innocente de amorosos !.. Tanto beijo na porta da choupana, Quando a lua invejosa no infinito

Com uma benção de luz sagrava os noivos !. .

Não mais ! não mais ! O raio, quando csgalha O ipé secular, atira ao longe

Flores, que ha pouco se beijavam n'hastea, Que unidas nascem, juntas viver pensam, E que jamais na terra hão de encontrar-se.

Passou-se muito terepo. . . Rio á baixo A canoa corria ao tom das vasas.

(57)

A CACHOEIRA DE PAULO-AFFONSO 4 7

De repente eilo. ergueu-se hirto, severo, — O olhar em fogo, o riso convulsivo — Em golfadas lançando a voz do peito !. . .

<( Maria ! diz-me tudo. .. Falia ! falia Em quanto eu posso ouvir... Creança, escuta ! Não vês o rio ? . . . é negro !. . é um leito fundo.. A correnteza estrepitando arrasta

Uma palmeira, quanto mais um homem !.. . Pois bem ! Do seio turgido do abysmo Ha de romper a maldição do morto ; Depois o meu cadáver negro, livido, Irá seguindo a esteira da canoa Pedir-te inda que falles, desgraçada,

Que ao morto digas o que ao vivo occultns ! . . .

Era tremenda aquella dòr selvagem, Que rebentava emfim, partindo os diques Na fúria desmedida ! . . .

(58)

4 8 A CACHOEIRA DE PAULO-AFFOXSU

Ia Lucas rolar. .

Um grito fraco, Uma tremula mão susteve o escravo. . . E a pallida creança, desvairada,

Aos pés caiu-lhe á desfazer-se em pranto.

EUa encostou-se ao peito do selvagem — Como u violeta, as faces escondendo Sob a chuva nocturna dos cabellos — ! Lenta e sombria após contou d'est'arte A treda historia desse tredo crime ! . . .

(59)

NA F O N T E

« UiRA hoje ao meio dia. Nem uma brisa macia Pela savana bravia Arrufava os hervaçaes. .. Um sol de fogo abrazava ; Tudo a sombra procurava ; Só a cigarra cantava No tronco dos coqueiracs.

(60)

5 0 A CACHOEIRA DE PAUI.O-AFFONSO

ti

<( Eu cobri-me da raantilha, Na cabeça puz a bilha, Tomei do deserto a trilha, Que lá na fonte vae dar. Cançada cheguei na raatta : Alli, na sombra, a cascata As alvas trancas desata Como ua moça á brincar.

I I I

« Era tão densa a espessura ! Corria a brisa tão pura ! Reinava tanta frescura, Que eu quiz me banhar alli.

Olhei em r o d a . . . Era quedo O mato, o campo, o rochedo. Só nas galhas do arvoredo Saltava alegre o sagüi.

(61)

A CACHOEIRA DE PAULO-AFFONSO

IV

«. Junto ás agoas crystalinas Despi-me louca, traquiuas, E as roupas alvas e finas Atirei sobre os cipós. Depois mirei-me innocente, E ri vaidosa... e contente. . Mas voltei-me de repente... Como que ouvira uma voz !

V

et Quem foi que passou ligeiro, Mechendo alli no engazeiro, E se embrenhou no balseiro, Rachando as folhas do chão ? . . . Quem foi ? — Da matta sombria Uma vermelha cotia

Saltou timida e bravia, Em procura do sertão.

(62)

5 2 A CACHOEIRA DE PArLO-AFFOJiSO

VI

« Chamei-me então de creança ; Á meus pés a onda mansa Por entre os juncos s'entrança Como uma cobra á fugir ! Mergulho o pé docemente ; Com o frio fujo á corrente... De um salto após de repente

Fui dentro d'agua cair.

VII

« Quando o sol queima as estradas, E nas várzeas abrasadas

Do vento as quentes lufadas Erguem novellos de pó,

Como é doce em meio as cannas, Sob um tecto de lianas,

Das ondas nas espadanas Banhar-se despida e só ! . . .

(63)

A CACHOEIRA DE. PAUI.O-AFFOXSO 5 3

VJII

•i Rugitavam os palmares... Em torno dos nenuphares Zumbiam pejando os ares Mil insectos de rubim... Eu n'aquelle leito brando Rolava alegre cantando... Súbito.. . um ramo estalando Salta um homem junto á mim

(64)
(65)

NOS CAMPOS

« r u G i desvairada ! Na moita intrincada,

Rasgando uma estrada, Fugaz me embrenhei. Apenas vestindo Meus negros cabellos, E os seios cobrindo Com os trêmulos dedos, Ligeira voei !

(66)

5G A CACHOEIRA DE PAVLO-AFFOKMJ

« Saltei as torrentes. Trepei dos rochedos Aos cimos ardentes. Nos invios caminhos, Cobertos de espinhos, Meus passos mesquinhos Com sangue marquei !

«( Avante ! corramos ! Corramos ainda ! . . . Da selva nos ramos A sombra é infinda. A matta possante

Ao filho arquejante Não nega um abrigo. . Corramos ainda ! Corramos ! avante !

« Debalde ! a floresta — Madrasta impiedosa

(67)

A CACHOEIRA DE PAULO-AFFOXSO 57

A pobre chorosa Não quiz abrigar !

« Pois bem ! Ao deserto !

« De novo é loucura ! Seguindo meus traços Escuto seus passos Mais perto ! mais perto ! Já queima-me os hombros

Seu hálito ardente. J á vejo-lhe a sombra

Na hnmida alforcbra. . . Qual negra serpente, Que vae de repente Na presa saltar l...

(68)

5 8 A CACHOEIRA DE PAU1.0-AFFONSO Na douda Corrida, Vencida, Perdida, Quem me ha do salvar ?

(69)

NO MONTE

« T A R E I . . . Volvi em torno os olhos assombrados. . . Ninguém ! A solidão pejava os descampados !. .. Restava inda um segundo.. . um só p'ra me salvar ,-Então reuni as forças, ao ceu ergui o olhar. . . E do peito arranquei um pavoroso grito,

Que foi bater em cheio ás portas do infinito ! [monte Ninguém! Ninguém me açode... Ai! só de monte em Meu grito ouvi morrer na extrema do horisonte!.. . Depois a solidão ainda mais calada

(70)

(50 A CACHOEIRA DE PAUL0-AKF0N.SO

« A i ! que pode fazer a rola triste Se o gavião nas garras a espedaça ? A i ! que faz o cabrito no deserto, Quando a giboia no potente aperto Em roscas férreas o seu corpo enlaça ?

« Fazem, como e u . . . Resistem, batem, luctam, E finalmente expiram de tortura...

Ou, se escapam trementes, arquejantes, A'ão, lambendo as feridas gottejantes, Morrer á sombra da floresta escura ! . ..

« E agora está concluída Minha historia desgraçada. Quando cahi — era virgem,

(71)

SANGUE DE AFRICANO

A Q U I sombrio, fero, delirante

Lucas ergueu-se como o tigre bravo... Era a estatua terrível da vingança... O selvagem surgiu... sumiu-se o escravo.

Crispado o braço, no punhal segura ! Do olhar sangrentos raios lhe rasaltam, Qual das janellas de um palácio em chammas As labaredas, irrompendo, saltaniê

(72)

0 2 A CACHOEIRA DE PAULO-AFFONSO

Com o gesto bravo, sacudido, fero. A dextra ameaçando a immensidade... Era um bronze de Achilles furioso No punho concentrando a tempestade !

No peito arcando o coração sacode O sangue que da raça não desmente, Sangue queimado pelo sol da Lybia, Que ora referve no Equador ardente.

(73)

A M A N T E

« JJASTA, creança ! Não soluces tanto.., Enchuga os olhos, meu amor, enchuga ! Que culpa tem a clicia dsscahida

Sj abelha envenenada o mel lhe suga ?

« Basta ! Esta faca já contou mil gottas ])e lagrimas de dor nos teus olhares. Surri, Maria ! Eila jurou pagar-t'as No sangue d'elle em gottas aos milhares.

(74)

64 A CACHOEIRA DE PAULO-AFFONSO

« Porque volves os olhos desvairados ? Porque tremes assim, frágil creauça ? Esfalma é como o braço, o braço é ferro, E o ferro sabe o trilho da vingança.

« Se a justiça da terra te abandona, Se a justiça do céu de ti se esquece, A justiça do escravo está na força... E quem tem um punhal nada carece ! . . .

te Vamos ! Acaba a historia. . . Lança a presa. Não vês meu coração, que sente fome ? Amanhã chorarás ; mas de alegria ! Hoje é preciso me dizer — seu nome ! »

(75)

A N J O

« A i ! que vale a vingança, pobre amigo, Se na vingança a honra não se lava ?.. . O sangue é rubro, a virgindade é branca -O sangue augmeuta da vergonha a bava.

« Se nós fomos somente desgraçados, Para que miseráveis nos fazermos ? Deportados da terra assim perdemos De além da campa as regiões sem termos.

(76)

6 0 A CACHOEIRA DE PAFLO-AFFONSO

« A i ! não manches no crime a tua vida, Meu irmão, meu amigo, roeu esposo !. . . Seria negro o amor de uma perdida Nos braços á sorrir de um criminoso !. .

(77)

DESESPERO

« L E I M E ! Pois será crime se a giboia

Morde silvando a planta, que a esmagara ? Pois será crime se o jaguar nos dentes Quebra do indio a pérfida taquara ?

« E nós que somos, pois ? Homens ? Loucura ! Familia, leis e Deus lhes coube em sorte. A familia no lar, a lei no mundo...

(78)

08 A CACHOEIRA DE PAULO-AFFONSO

« Tres leitos, que succedem-se macios, Onde rolam na santa ociosidade... O pae o embala... a lei o acaricia... O padre lhe abre a porta á eternidade.

« Sim ! Nós somos reptis... Qu'importa a espécie ? — A lesma é vil, — o cascavel é bravo.

E vens fallar de crimes ao captivo ? Então não sabes o que é ser escravo ! . . .

« Ser escravo — é nascer no alcouce escuro Dos seios infamados da vendida...

Filho da perdição no berço impuro Sem leite para a bocca resequida.. . É mais tarde, nas sombras do futuro, Não descobrir estrella foragida... É ver — viajante morto de cansaço —

(79)

A CACHOEIRA DE PAULO-AFFONSO 09

« Ser escravo — é, dos homens repellido, Ser também repellido pela fera ;

Sendo dos dons irmãos pasto querido, Que o tigre come e o homem dilacera... — E do lodo no lodo sacudido

Ver que aqui ou além nada o espera, Que em cada leito novo ha mancha nova... No b e r ç o . . . após no t o r o . . . após na cova ! . . .

« Crime ! Quem te fallou, pobre Maria, Desta palavra estúpida ? . . . Descansa ! Foram elles talvez ? ! . . . É zombaria. . . Escarnecem de ti, pobre creança ! Pois não vês que morremos todo dia Debaixo do chicote, que não cansa ? Em quanto do assassino a fronte calma Não revela um remorso de sua alma ?

« Não ! Tudo isto é mentira ! O que é verdade É que os infames tudo me roubaram...

(80)

7 0 A CACHOEIRA DE PAULO-AFFONSO

Esperança, trabalho, liberdade

Entreguei-lhes em v ã o . . . não se fartaram. Quizeram m a i s . . . Fatal voracidade ! Nos dentes meu amor espedaçaram... Maria ! Ultima estrella de minh'alma ! O que é feito de ti, virgem sem palma ?

« Pomba — em teu ninho as serpcs te morderam. Folha — rolaste no paul sombrio.

Palmeira — as ventanias te romperam. Corça — afogaram-te as caudaes do rio. Pobre flor — no teu cálice beberam, Deixando-o depois triste e vazio... — E tu, irmã ! e mãe ! e amante minha ! Queres que eu guarde a faca na bainha !

« Ó minha mãe ! ó martyr africana, Que morreste de dor no captiveiro ! Ai ! sem quebrar aquella jura insana, Que jurei no teu leito derradeiro,

(81)

A CACHOEIRA DE PAULO-AFFOXSO 71

No sangue desta raça impia, tyranna Teu filho vae vingar um povo inteiro !.. . Vamos, Maria ! Cumpra-se o destino... Dize ! dize-me o nome do assassino !. . . »

<t Virgem das Dores Vem dar-me alento, Neste momento De agro soffrer ! Para occultar-lhe Busquei a morte... Mas vence a sorte, Deve assim ser.

« Pois que seja ! Debalde pedi-te, Ai ! debalde a teus pés me rojei.. . Porem antes escuta esta historia.. . Depois delia... o seu nome direi ! »

(82)
(83)

HISTORIA DE UM CRIME

« TAZEM hoje muitos annos Que de uma escura senzala Na estreita e lodosa sala Arquejava ua mulher. Lá fora por entre as urzes O vendaval s'extorcia... E aquella triste agonia Vinha mais triste fazer.

(84)

74 A CACHOEIRA DE PAULO-AFFOXSO

« A pobre soffria muito. Do peito cançado, exangue, A's vezes rompia o sangue E lhe inundava os lençóes. Então, como quem se agarra A's ultimas esperanças, Duas pavidas creanças Ella olhava... c ria após.

« Que olhar ! que olhar tão extenso ! Que olhar tão triste e profundo ! Vinha já de ura outro mundo, Vinha talvez lá do céu.

Era o raio derradeiro, Que a lua, quando se apaga, Manda por cima da, vaga Da espuma por entre o véu.

« Ainda me lembro agora Daquclla noite sombria,

(85)

A CACHOEIRA DE PAÜLO-AFFONSO 7 5

Em que ua mulher morria Sem rezas, sem oração !. . Por padre — duas creanças... E apenas por sentinella Do Christo a face amarella No meio da escuridão.

« A's vezes n'aquella fronte Como que a morte pousava E da agonia aljofrava O derradeiro s u o r . . . Depois acordava a martyr, Como quem tem um segredo. Ouvia em torno com medo, Com susto olhava em redor.

« Emfim, quando noite velha Pesava sobre a mansarda, E somente o cão de guarda Ladrava aos ermos sem fim,

(86)

76 A CACHOEIRA DE PAULO-AFFONSO

Ella, nos braços sangrentos As creanças apertando,

N'um tom meigo, triste e brando Poz-se a faliar-lhes assim :

(87)

ULTIMO ABRAÇO

<c r i m o , adeus ! Já sinto a morte, Que me esfria o coração.

Vem cá.. . Dá-me a tua mão.. . Bem vês que nem mesmo tu Podes dar-lhe novo alento !. .. Filho, é o ultimo momento.. . A morte — a separação ! Ao desamparo, sem ninho, Ficas, pobre, passarinho,

(88)

7 8 A CACHOEIRA DE PA1JI.0-AFF0XS0

Neste deserto profundo, Pequeno, captivo e nú !. . .

« Que sina, meu Deus ! que sina Foi a minha neste mundo ! Presa ao céo — pelo desejo, Presa á terra — pelo amor ! . . . Que importa ! é tua vontade ? Pois seja feita, Senhor !

« Pequei ! . . . foi grande o meu crime, Mas é maior o castigo...

Ai ! não bastava a amargura Das noites ao desabrigo ; De espedaçarem-me as carnes O tronco, o açoite, a tortura, De tudo quanto soffri. Era preciso mais dores, Inda maior sacrifício. . .

Filho ! bem vês meu supplicio. .. Vão separar-me de ti !

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A CACHOEIRA DE PAUI.O-AFFONSO 7!>

« Chega-te perto... mais perto ; Nas trevas procura ver-te Meu olhar, que treme incerto, Perturbado, vacillante... .

Deixa em meus braços prender-te P'ra não morrer neste instante ; Inda tenho que fazer-te

Uma triste confissão.. . Vou revelar-te um segredo Tão negro, que tenho medo De não ter o teu perdão ! . . .

Mas não !

Quando um padre nos perdoa, Quando Deus tem piedade, De um filho no coração Uma mãe não bate á tôa.

(90)
(91)

MAE PENITENTE

•< UUVE-ME, pois !.. . Eu fui uma perdida ; Foi este o meu destino, a minha sorte... Por esse crime é que hoje perco a vida, Mas delle em breve ha de salvar-me a morte l

<c E minh'alma, bem vês, que não se irrita, Antes bemdiz estes mandões ferozes. Eu seria talvez por ti maldita, Filho ! sem o baptismo dos algozes!

(92)

82 A CACHOEIRA DE PAULO-AFFOXSO

ic Porque eu pequei.. . e do peccado escuro Tu foste o fructo cândido innocente,

— Borboleta, que sae do lodo impuro.. . — Rosa, que sae de — pútrida semente !

« Pilho ! Bem vês.. . fiz o maior dos crimes — Cr.ei um ente para a dor e a fome !

Do teu berço escrevi nos brancos vimes O nor.ie de bastardo —impuro nome.

« Por isso agora tua mãe te implora E á teus pés do joelhos se debruça. Perdoa á triste — que de angustia chora, Perdoa á martyr — que de dor soluça !

« Mus um gemido á meus ouvidos sôa. . . Que pranto é este que em meu seio rola ? Meu Deus, é o pranto seu que me perdoa. Filhu, obrigada pela tua esmola ! »

(93)

O SEGREDO

«AGORA vou dizer-te porque morro ; Mas has de jurar primeiro, Que jamais tuas mãos innocentes

Ferirão meu algoz derradeiro... Meu filho, eu fui a victima Da raiva e do ciúme. Matou-me como um tigre carniceiro,

(94)

8 4 A CACHOEIRA DE PAULO-AFFONSO

Uma branca mulher, que em si resume Do tigre — a malvadez,

Do cascavel — o rancor ! . . . Deixo-te p o i s . . .

— Um grito de vingança ? — Não, pobre creança ! . . . Um crime á perdoar... o que é melhor !.

« Depois, teve razão... Esta mulher É tua e minha senhora .'...

« Lucas, silencio ! que por ella implora Teu p a e . . . e teu irmão !. . .

>< Teu irmão, que é seu filho... (ó magoa c dor!) Teu pae —que é seu marido.. e teu senhor!...

« Juras não te vingar ? — O mãe, eu juro Por ti, pelos beijos teus !

(95)

A CACHOEIRA DE PAUJL0-AFF0NS0 8 5

<c — Obrigada! agora... agora Já nada mais me demora... Deus ! — recebe a peccadora ! Filho ! — recebe este adens ! » —

Quando, rompendo as barras do oriente, A estrella da manhã mais desmaiava, E o vento da floresta ao céu levava O canto jovial do bem-te-vi; Na casinha de palha uma creança, Da defunta abraçando o corpo frio, Murmurava chorando em desvario :

— Eu não me vingo, ó mãe... juro por ti !.,

Maria calou-se... Na fronte do escravo Suor de agonia gelado passou ;

Com riso convulso murmura : « Que importa Se o filho da escrava na campa jurou ? !.. .

(96)

8 0 A CACHOEIRA DE PAULO-AFFONSO

« Que tem o passado com o crime de agora ? Que tem a vingança, que tem com o perdão ? >• E como arrancando do craneo uma idéa

Na fronte corria-lhe a gélida mão.. .

<c Esquece o passado ! . . . Que morra no olvido... Ou antes relembra-o cruento, feroz !

Legenda de lodo, de horror e de crimes E gritos de victima e risos de algoz !

« No frio da cova que jaz na esplanada,

— Vingança — murmuram os ossos dos meus ! »

— « Não ouves um canto, que passa nos ares ? — Perdoa ! — respondem as almas nos ceús !

— « São longos gemidos do seio materno Lembrando essa noite de horror e traição ! »

— K E O flebil suspiro do vento, que outr'ora Bebera nos lábios da morta o perdão !.. . )>

(97)

A CACHOEIRA DK P.iüLO-AFFONSO 8 7

E descaiu profundo Em longo meditar . . Após sombrio e fero Viram-n'o murmurar :

« Mãe ! na região longínqua Onde tua alma vive,

Sabes que eu nunca tive Um pensamento vil. Sabes que esta alma livre Por ti curvou-se escrava : E devorou a bava...

E tigre — foi réptil!

«. Nem um tremor correra-me A face fustigada !

Beijei a mão armada Com o ferro que a feriu... Filho, de um pae miserrirao Fui o fiel rafeiro... Caíra, irmão traiçoeiro !

(98)

8 8 A CACHOEIRA DE PAULO-AFFONSO

K De tanto horror o cumulo, Ó mãe, alma celeste, Se perdoar qnizeste, Eu perdoei também. Sanctificaste os míseros; Curvei-me reverente A elles tão somente, Somente.

<( Ninguém ! que á nada humilho-me Na terra, nem no espaço ! . . .

Pode ferir meu braço... — « Lucas ! não pode, não ! Misero ! a mão que abrira De tua mãe a cova... O golpe hoje renova ! . . .

(99)

CREPÚSCULO SERTANEJO

A TARDE morria ! Nas águas barrentas As sombras das margens deitavam-se longas Na esguia atalaia das arvores seccas

Ouvia-se ura triste chorar de arapongas.

A tarde morria ! Dos ramos, das lascas, Das pedras, do lichen, das heras, dos cardos, As trevas rasteiras com o ventre por terra Sahiara, quaes uegros, cruéis leopardos.

(100)

9 0 A CACHOEIRA DE PAVLO-AFFOXSO

A tarde morria ! Mais funda nas águas Lavava-se a galhu do escuro engazeiro. Ao fresco*arrepio dos ventos cortantes Em musico estalo rangia o coqueiro.

Sussurro profundo ! Marulho gigante !

Talvez um silencio !.. . Talvez uma orchestra. Da folha, do calix, das azas, do insecto. . . Do átomo á estrella. .. do verme — á floresta !.

As garças mettiam o bico vermelho Por baixo das azas — da brisa ao açoite ; E a terra na vaga de azul do infinito Cobria a cabeça co'as pennas da noite !

Somente por vezes, dos jungles das bordas Dos golfos enormes d'aquella paragem, Erguia a cabeça surpreso, inquieto, Coberto de limos — um touro selvagem.

(101)

A CACHOEIRA DE PAULO-AFFONSO D l

Então as marrecas, em torno boiando, O vôo encurvavam medrosas, á t ô a . . . E o timido bando pedindo outras praias Passava gritando por sobre a canoa !.. .

(102)
(103)

O BANDOLIM DA DESGRAÇA

IJUANDO de amor a Americana douda A moda tange na febril viola,

E a mão febrenta sobre a, corda fina Nervosa, ardente, sacudida rola,

A gusla geme, s'estorcendo em ancias, Rompem gemidos do instrumento em pranto. Choro indizivel... comprimir de peitos.. Queixas, soluços... desvairado canto!

(104)

9 4 A CACHOEIRA DE PAUI.0-AFF0NSO

E mais dorida a melodia arqueja !

E mais nervosa corre a mão nas cordas ! .. Ai ! tem piedade das creanças louras

Que soluçando no instrumento acordas !.. .

• <( Ai ! tem piedade dos meus seios trêmulos. . Diz estalando o bandolim queixoso.

. . . E a mão palpita-lhe apertando as fibras.. E fere, e fere em dedilhar nervoso ! . . .

Sobre o regaço da mulher trigueira Douda, cruel, a execução delira ! . . . Então — co'as unhas cor de rosa, a moça, Quebrando as cordas, o instrumento atira !.

Assim, desgraça, quando tu, maldicta ! As cordas d'alma delirante vibras..., Como os teus dedos espedaçam rijos Uma por uma do infeliz as fibras !

(105)

A CACHOEIRA DE PAULO-AFFONSO 9 5

— Basta—, murmura esse instrumento vivo. — Basta —, murmura o coração rangendo. E tu, no entanto, n'um rasgar de artérias, Feres lasciva em dedilhar tremendo.

Crença, esperança, mocidade e gloria,

Aos teus harpejos, — gemebundas morrem ! . . . Resta uma corda. . . — a dos amores puros... E mais ardentes os teus dedos correm !. . .

E quando farta a cortezã cançada A pobre gusla no tapete atira,

Que resta ? . . . — ua alma, que não tem mais vida ! Olhos sem pranto ! desmontada lyra !.. .

(106)
(107)

A CANOA PHANTASTICA

f ELAS sombras temerosas

Onde vae esta canoa ? Vac tripolada ou perdida '( Vae ao certo ou váe á tôa ?

Semelha nm tronco gigante De palmeira, que s'escôa. . No dorso da correnteza, Como boia esta canoa !. . .

(108)

9 H A CACHOEIRA DE PAULo-AFFONSO

Mas não branqueja-lhe a vela ! N'agua o remo não resôa ! Serão phantasmas, que descem Na solitária canoa ?

Que vulto é este sombrio Gelado, ímmovel na proa ? Dir-se-hia o gênio das sombras Do inferno sobre a canoa !. .

Foi visão ? Pobre creança ! A luz, que dos astros côa, E teu, Maria, o cadáver, Que desce nesta canoa ?

Cabida, pallida, branca !.. . Não ha quem d'ella se dôa ? !. Vâo-lhe os cabellos á rastos Pela esteira da canoa !.. .

(109)

A CACHOEIRA DE PAUL0-AFF0NS0 99

E as flores roseas dos golfos, — Pobres flores da lagoa, Enrolam-se em seus cabellos E vão seguindo a canoa !.. .

(110)
(111)

O SAO FRANCISCO

LÍONGE, bem longe dos cantões bravios, Abrindo em alas os barrancos fundos ; Dourando o collo aos perennaes estios, Que o sol atira nos modernos mundos ; Por entre a grita dos feraes gentios,

Que acampam sob os palmeiraes profundos ; Do São Francisco a soberana vaga

Léguas e lesuas t.riumphante alaga !

(112)

10'2 A CACHOEIRA DE PATJL0-AFF0NS0

Ante-manhã, sob o sendal da bruma, Elle vagia na vertente ainda,

— Lympha amorosa — co'a nitente espuma Orlava o seio da Mineira linda ;

Ao meio dia, quando o solo fuma Ao bafo morto de ua calma infinda, Viram-no aos beijos dolamber demente As rijas formas da cabocla ardente.

Insano amante ! Não lhe mata o fogo O deleite da indígena lasciva.. . Vem — á busca talvez de desafogo Bater á porta da Bahiana altiva. Nas verdes cannas o gemente rogo Ouve-lhe á tarde a tabarôa esquiva.. . E talvez por magia. . . á luz da lua Molle a creança na caudal fluctua.

Rio soberbo ! tuas águas turvas Por isso descem lentas, peregrinas.. . Adormeces ao pé das palmas curvas Ao mnsico chorar das casuarinas !

(113)

A CACHOEIRA DE I>ATJLO-AFFONSO 103

Os poldros soltos — retezando as curvas, Ao galope agitando as longas crinas,

Rasgam alegres —relinchando aos ventos De tua vaga os turbilhões barrentos.

E tu desces, ó Nilo brazileiro, As largas ypoeiras alagando, E das aves o coro alviçareiro

Vae nas balsas teu hymno modilhando ! Como pontes aerias — do coqueiro

Os cipós escarlates se atirando,

De grinaldas em flor tecendo a arcada •São arcos triuraphaes de tua estrada !. .

(114)
(115)

A CACHOEIRA

MAS súbito da noite no arrepio

Ura mugido soturno rompe as trevas. . . Titubantes —no alveo do rio —

Tremem as lapas dos titâes coevas ! . . . Que grito é este sepulchral, bravio,

Que espanta as sombras ululantes, sevas É o braço atroador da catadupa

(116)

1 0 0 A CACHOEIRA DE rACI.O-AFFONKÜ

Quando no lado fértil das paragens Onde o Paraguassú rola profundo, O vermelho novilho nas pastagens Come os caniços do torrão fecundo ; Inquieto elle aspira nas bafagens

Da negra suc'ruiuba o cheiro imunindo... Mas já tarde. . . silvando o monstro vôa. . E o novilho preado os ares troa !

Então doudo de dor, sanie babando, Com a serpente no dorso parte o touro.. . Aos brarnidos os valles vão clamando, Fogem as aves em sentido choro... Mas súbito cila ás águas o arrastando Contrae-se para o negro sorvedouro... E enrolando-lhe o corpo quente, exangue, Quebra-o nas roscas, donde jorra o sangue.

Assim dir-sc-hia que a caudal gigante — Larga sucuruiuba do infinito — Co'as escamas das ondas coruscante Ferrara o negro touro de granito !. .

(117)

W 1

A CACHOEIRA DE PAULO-AFFONSO 1 0 7

Horrido, insano, triste, lacerante Sobe do abysmo um pavoroso grito.. . E medonha á suar a rocha brava

As pontas negras na serpente crava !.. .

Dilacerado o rio espadanando

Chama as águas da extrema do deserto... Atropella-se, empina, espuma o bando . . E em massa rúe no precipício aberto... Das grutas nas cavernas estourando O coro dos trovões travam concerto. .. E ao vel-o as águias tontas, eriçadas Caem de horror no abysmo estateladas. .

A cachoeira ! Paulo Affonso ! O abysmo ! A briga collossal dos elementos !

As garras do Centauro em paroxismo Raspando os flancos dos parceis sangrentos. Relutantes na dor do cataclysmo

Os braços do gigante suarentos

Agüentando a ranger (espanto ! assombro ! ) O rio inteiro, que lhe cae no hombro !

(118)

1 0 S A CACHOEIRA DE PAIT.O-AFFOXSO

Grupo enorme do fero Laocoonte

Vira a Grécia acolá e a luta estranha !. . . Do sacerdote o punho e a roxa fronte. . . E as serpentes de Ténedos em sanha !.. . Por hydra — um rio ! Por augure — um monte ! Por aras de Minerva — uma montanha ! E em torno ao pedestal laçados, tredos, Como filhos ehorando-lhe — os penedos.

(119)

UM RAIO DE LUAR

A L T A noite elle ergueu se hirto, solemne. Pegou da mão da moça. Olhou-a fito.. .

Que fundo olhar ! Ella estava gelada, como a garça, Que a tormenta ensopou longe do ninho

(120)

1 1 0 A CACHOEIRA DE PACLO-AFFc.NSu

Tomou-a no regaço.. . assim no manto Apanha a mãe a creancinha loura,

Tenra a dormir.

Apartou-lhe os cabellos sobre a testa Pallida e fria. . Era talvez a morte. . .

Mas a sorrir.

Pendeu-lhe sobre os lábios. Como treme No somno aza de pombo, assim tremia-lhe

O resomnar.

E como o beija-flor dentro do ovo, la-lhe o coração no niveo seio

A titilar.

Morta não era ! Emtanto um rir convulso Contrahira as feições do homem silentc

— Riso fatal.

Dir-se-hia que antes a quizera rija Inteiriçada pela mão da noite

(121)

A CACHOEIRA DE PAULO-AFFOXSo 1 1 1

Km momento de bruços sobre o abysmo Elle, cmbalando-a, sobre o rio negro

Mais s'inclinou. . .

Nesse instante o luar bateu-lhe em cheio, E um riso á flor dos lábios da creança

A flux boiou !

Qual o murzelo do penhasco á borda Empina-se'e cravando as ferraduras

Morde o escarceo ;

Ura calafrio percorreu-lhe os músculos... O vnlto recuou !.. A noite em meio

(122)

«.tu

(123)

DESPERTAR PARA MORRER

— « ACORDA ! » —- « Quem me chama r » — « Escuta ! » — <( Escuto. . . — « Nada ouviste ? » — « Inda não.. . » — « E porque o vento Escaceou.»

— « Ouço agora... da noite na calada Uma voz que resomna cava e funda

(124)

1 1 4 A CACHOEIRA DK PAULO-A^FOXSo

•— « Sabes que voz é esta ? »

— « Não ! semelh;i Do agonisante o derradeiro engasgo,

Rouco estertor. . . » E calados ficaram, mudos, quedos, Mãos contrahidas, boccas sem alento...

(125)

LOUCURA DIVINA

«. Oi JABES que voz é esta ? »

Ella scismava ! . . . — « Sabes, Maria ? >»

— « E uma canção de amores, Que além gemeu ! »

— « É o abysmo, creança ! . . . »

A moça rindo Enlaçou-lhe o pescoço :

— « Oh ! não ! não mintas Bem sei que é o céu ! »

(126)

110 A CACHOEIRA DE PAULO-AFFONSO

— « Doida! doida! é a voragem que nos chama !. . » — « Eu ouço a Liberdade ! »

— « É a morte, infante ! — « Erraste. E a salvação ! »

— « Negro phantasma é quem me embala o esquife ! » — « Loucura! É tua Mãe.. . O esquife é um berço,

Que boia n'amplidão !. »

— « Não vês os pannos d'agua como alvejam Nos penedos ?. . Que gélido sudario

O rio nos talhou ! »

— «Veste-me o setim branco do noivado. . Roupas alvas de p r a t a . . . alventes dobras...

Veste-me !.. Eu aqui estou ! >>

— « Já na proa cspadana, salta a espuma. . — « São as flores gentis da larangeira

Que o pego vem nos d a r . . . Oh ! nevoa ! Eu amo teu sendal de gaze !. Abram-se as ondas como virgens louras,

(127)

A C A C I i Ü E l U A IH-: l'AII.(i-A!'KOXS<i 1 1 7

<( As estrellas palpitam ! — São as tochas ! Os rochedos murmuram !. . — São os monges !

Resa um órgão nos céus !

Que incenso ! — Os rolos que do abysmo voam ! Que thuribulo enorme — Paulo Afibnso !

(128)
(129)

A' BEIRA DO ABYSMO

E DO INFINITO

A CELESTE Africana, a virgem — Noite Cobria as faces... Gotta a gotta os astros Cahiam-lhe das mãos no peito s e u . . . Um beijo infindo suspirou nos ares. ..

A canoa rolava !.. Abriu-se a um tempo O precipício !.. e o céu ! . . .

(130)
(131)

N O T A

Lê-se no DEZESEIS DE JULHO

« Depois de quatorze legoas de viagem, desde a foz do ltio de S. Francisco, chega-se a esta cachoeira, de que se contam tantas grandezas fabulosas.

«Para bem descrevel-a, imaginae uma collossal figura rle homem sentado com os joelhos e os braços levantados, <; o rio de S. Francisco cahindo com toda sua força sobre as costas. Não podereis ver sem estar trepado em um dos braços, ou em qualquer parte que lhe fique ao nivel ou á cavalleiro sobre a cabeça.

«Parece arrebentar de debaixo dos pés, como a formosa cascata de Tivoli junto á Eoma. Um mugir surdo e con-tinuado, como os preparos para um terremoto, serve de acompanhamento á musica estrondosa de variados c

(132)

diver-1 2 2 A CACHOEIRA DE PAULO-AFFOXSO

sos sons, produzidos pelos choques das águas. Quer ellas venham correndo velocíssimas ou saltando por cima das cristas de montanhas ; quer indo em grandes massas de encontro a ellas, e dellas retrocedendo : cahindo em bor-botão nos abysinos e delles se erguendo em humida poeira, quer torcendo-se rias vascas do desespero, ou levantai:do-se em espumantes escarcéos ; quer estourando como uma bomba ; quer chegando-se aos vae-vens, e bran-damente e com espadanas ou em flocos de escuma alvissinm como arminhos, — é um espectaculo assombroso e

admi-rável. • <c A-altura da grande queda foi calculada em 362 palmos.

Ha 17 cachoeiras, que são verdadeiros degraus do alto throno, onde assentou se o gigante de nome Paulo Affonso. <( Muitas grutas apresentam os rochedos deste Jogar, sombrias, arejadas, arruadas de crystalinas areias, banha-das de frigibanha-das lymphas.

« S. M, o Imperador visitou esta cachoeira na manhã de 20 de Outubro de 1859. O Presidente das Alagoas, Dr. Ma-nuel Pinto de Souza Dantas, teve a idéa de erigir um

mo-numento á visita imperial. »

( Transeripta do Diário da Bahia.)

(133)

ERRATA

Pag. 1, verso 2, em vez de rista, crista ; pag. 9, verso 2 em vez de cama, canoa; pag. 14, verso 16, em vez de

cstorteja, estortega; pag. 18, verso 14, em vez de fulo, f ulvo;

pag. 105, verso 7, em vez de braço, brado ; pag. 106, verso 1, em vez de lado, lodo.

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