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Centro Universitário Barão de Mauá

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Academic year: 2021

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Glicose e Triglicérides de Equinos Internados para Procedimentos Cirúrgicos

Não Emergenciais

Autores: David do Carmo

1

, Daniela Junqueira de Queiroz

1

Colaboradores: Bruno Soares Salvador

1

, Michele Padovan

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Centro Universitário Barão de Mauá

badicarmo@gmail.com, daniela.junqueira@baraodemaua.br

Resumo

Com o objetivo de se determinar a ocorrência de dislipidemias foi feita dosagem de glicose e triglicérides de 10 equinos internados para realização de procedimentos cirúrgicos não emergenciais submetidos à jejum alimentar. Para tanto colheu-se sangue dos animais no momento da admissão (T0), imediatamente antes do início do jejum de 12 horas (T1), imediatamente antes da indução anestésica (T2), logo após a recuperação (T3) e 24 horas após a recuperação anestésica (T24), e realizou-se as dosagens de glicose e triglicérides. Não se observou diminuição da glicose, ou mesmo aumento do triglicérides, sugerindo que o período de internação e o jejum não foram suficientes para alterar essa variáveis. No entanto dois equinos apresentaram hiperlipidemia em algum momento do período experimental. No T3 houve aumento da glicose provavelmente devido ao estresse advindo do procedimento cirúrgico e à xilazina utilizada na anestésico. Diante dos resultados encontrados os autores acreditam na necessidade de se monitorar equinos internados quanto ao desenvolvimento de dislipidemias.

Introdução

Devido à alimentação de baixa qualidade ou diminuição na ingestão de alimentos, especialmente quando há um elevado requerimento energético, como em casos de gestação e doenças sistêmicas, podem ocorrer síndromes relacionadas ao aumento dos níveis séricos de triglicérides, como hiperlipidemia e hiperlipemia (SEIFI et al., 2002). Essas síndromes acometem predominantemente pôneis, jumentos e mini horses, podendo também acometer equinos (WATSON, 1994; DUNKEL & McKENZIE, 2003).

Diversos estudos vêm sendo realizados a fim de determinar possíveis variações nas concentrações sanguíneas de glicose e

triglicérides em equinos submetidos à restrição alimentar devido a diferentes situações como jejum (LEMOS et al., 2010, QUEIROZ et al., 2017), internação hospitalar (OSIRO et al., 2010), exercício físico (COELHO et al., 2011) e condições patológicas diversas (DUNKEL & McKENZIE, 2003; RANJITHKUMAR, et al., 2013). Esses estudos demonstram a importância das dislipidemias em equinos ressaltando, inclusive, a grande incidência dessa síndrome em animais hospitalizados mesmo na ausência de fatores predisponentes, em razão apenas da mudança de rotina, ambiente e condições de manejo (OSIRO et al., 2010). Segundo Frape (2009) as dislipidemias apresentam prognóstico de reservado a desfavorável com alta taxa de mortalidade, justificando assim a preocupação em evitar estas condições.

Os triglicerídeos são formados por ácidos graxos de cadeia longa (AGCL), sua síntese ocorre nas células epiteliais do intestino e mamárias, adipócitos, hepatócitos e nos rins (Thrall et al., 2014). Ainda segundo Thrall et al. (2014) somente carnívoros e onívoros conseguem retirar o colesterol da dieta e os herbívoros necessitam produzir o colesterol, o qual é sintetizado pelo fígado, e a insulina é extremamente importante nesse processo pois ativa uma enzima específica 3-hidroxi-3metilglutaril-CoA (HMG-CoA) redutase, levando assim ao aumento da insulina após alimentação e diminuição no jejum.

As concentrações de glicose sanguínea dependem de vários fatores, como o tempo decorrente da última refeição, influência hormonal e uso de glicose pelos tecidos periféricos, obesidade, idade, excesso de alimentos energéticos, exercícios intensos, gestação, lactação e neoplasias. A glicose sanguínea pode ser avaliada por análises laboratoriais e, para tanto, é necessário amostra de soro ou plasma sanguíneo em tubos contendo anticoagulante fluoreto de sódio. Pode ser avaliada também utilizando-se aparelhos portáteis permitindo aferições rápidas (Thrall et al., 2014).

Devido à alta incidência de dislipidemias em equinos internados mais estudos precisam ser

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realizados a fim de se determinar com maior precisão os fatores predisponentes e a fisiopatogenia dessa síndrome. Apesar de frequente, essa síndrome é pouco investigada e diagnosticada no Brasil uma vez que os exames necessários para o diagnóstico não são realizados rotineiramente em animais hospitalizados.

Objetivos

O presente trabalho tem como objetivo avaliar as concentrações sanguíneas de glicose e triglicérides e determinar a ocorrência de dislipidemias em equinos internados para realização de procedimentos cirúrgicos não emergenciais submetidos a jejum pré-operatório.

Material e Métodos

Foram utilizados 10 equinos, tanto machos quanto fêmeas, internados no Hospital Veterinário do Centro Universitário Barão de Mauá para realização de procedimentos cirúrgicos não emergenciais. Todos os animais eram adultos e encontravam-se com os parâmetros vitais dentro da normalidade no momento da admissão. O presente trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa e Experimentação Animal (CEPan) do Centro Universitário Barão de Mauá sob o número de protocolo 313/18.

Para dosagem de glicose e triglicérides foram realizadas colheitas de sangue mediante venipunção da veia jugular externa com agulha 30X10, em seringas de 10 ml. Na sequência quatro ml de sangue foram acondicionados em tubo sem anticoagulante para a dosagem da concentração sanguínea de triglicérides e quatro ml em tubo contento fluoreto de sódio para a dosagem da concentração sanguínea de glicose. As amostras de sangue foram enviadas imediatamente ao laboratório de Análises Clínicas do Hospital Veterinário do Centro Universitário Barão de Mauá onde foi realizado centrifugação para separação do soro e plasma. Na sequência as amostras de soro e plasma foram acondicionadas em tubos de eppendorf e então congeladas em freezer - 18 C para posterior análise no mesmo laboratório em Analisador Bioquímico Automático utilizando-se kits comerciais da Labtestâ.

As colheitas de sangue foram realizadas no momento da admissão (T0), imediatamente antes do início do jejum de 12 horas (T1), imediatamente antes da indução anestésica (T2), logo após a recuperação (T3) e 24 horas após a recuperação anestésica (T24). As análises foram realizadas no laboratório do Hospital Veterinário do Centro Universitário Barão de Mauá em Analisador Bioquímico Automático utilizando-se kits comerciais da Labtestâ. Primeiro foram realizadas as análises de todas as amostras de

glicose e posteriormente de todas as amostras dos triglicerídeos. Todas as análises foram realizadas em duplicata e na sequência foi feita a média dos valores obtidos.

Os dados de glicose e triglicérides não apresentaram normalidade (Shapiro-Wilk, P<0,05) e por isso foram submetidos à análise de Friedman para amostras repetidas, seguido do teste de Student-Newman-Keuls (SNK, P≤0,05) no programa Sigma Plot 12.0.

Figura 1. Imagem fotográfica da colheita de sangue mediante venipunção da veia jugular externa de

equino para dosagem de glicose e triglicérides séricos.

Resultados e Discussão

Os valores de glicose e triglicérides, nos diferentes tempos, de cada um dos animais avaliados durante o período experimental encontram-se tabela 1.

Pode-se observar que os equinos 5 e 6 apresentaram valores de triglicérides acima dos considerados normais pela literatura em algum momento do período experimental (tabela 1). O equino 5 apresentou valores crescentes de triglicéride a partir do T0 até o T24 e a partir do T1 a concentração de triglicérides ultrapassou o que é considerado normal para a espécie equina. Já o equino 10 apresentou concentração de triglicérides acima do normal (329 mg/ dL) apenas no T24. De acordo com o grau de elevação dos triglicérides, utiliza-se o termo hiperlipidemia, para valores séricos de triglicérides acima de 100 mg/dL, porém permanecendo dentro do intervalo de 100 a 500 mg/dL sem lipemia visível da amostra sanguínea e sem manifestação clínica , ou hiperlipemia, para valores acima de 500 mg/dL (NAYLOR, 1982; McKENZIE, 2011). Diante disso

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pode-se afirmar que os equinos 5 e 10 desenvolveram um quadro de hiperlipidemia. Ainda de acordo com os mesmos autores concentrações de triglicérides acima de 500mg/dL estão associadas à lipemia visível da amostra

sanguínea, sinais clínicos e infiltração gordurosa do fígado e outros órgãos, como rins, miocárdio e músculos esqueléticos.

Tabela 1. Concentrações sanguíneas de glicose e triglicérides de equinos internados para realização de procedimentos cirúrgicos eletivos, submetidos a jejum pré-operatório, nos momentos T0 (admissão no

hospital), T1 (imediatamente antes do jejum), T2 (imediatamente antes da indução anestésica), T3 (imediatamente após a recuperação anestésica) e T24 (24 horas após a recuperação anestésica).

T0 Glicos e (mg/ dL) T0 Trigl. (mg/ dL) T1 Glicose (mg/ dL) T1 Trigl. (mg/ dL) T2 Glicose (mg/ dL) T2 Trigl. (mg/ dL) T3 Glicose (mg/ dL) T3 Trigl. (mg/ dL) T24 Glicose (mg/ dL) T24 Trigl. (mg/ dL) Equino 1 107 82,5 95 12,5 95 6 111,5 31,5 80 11 Equino 2 89 6,5 105,5 11 86 6 110 8,5 86,5 16 Equino 3 104,5 15 100,5 16 101 17 153 39 103,5 30 Equino 4 128 42 137 20,5 102 83 98,5 84,5 123 31 Equino 5 99,5 2 97 153 97 169 225 208,5 176 477 Equino 6 103 4 114 6,5 150 0,5 135,5 21,5 122 6 Equino 7 95 27 84,5 15 87,5 28,5 160 10,5 94,5 11 Equino 8 Equino 9 Equino 10 85 99 105 56 15 49,5 91,5 87,5 96,5 11 34 24 107,5 90 101 19,5 4 52 114,5 150,5 240,5 3 18 80 89,5 101 123,5 19 22,5 329

Ao se avaliar os animais em grupo, de acordo com a tabela 2, observa-se que a mediana das concentrações de triglicérides não mostrou diferença entre os diferentes momentos experimentais. Provavelmente isso se deve ao fato de que tanto o período de internação quanto o jejum pré-operatório aos quais os animais foram submetidos não foram suficientes para elevar o triglicérides. Queiroz et al. (2017) encontraram resultados semelhantes ao estudar a concentração de triglicérides de equinos idosos submetidos a jejum de 12 horas.

Cinco dos equinos que participaram do presente estudo eram animais sadios que estavam internados apenas para serem submetidos a procedimento de orquiectomia. Os outros cinco animais apresentavam afecções de resolução cirúrgica como sarcóide e carcinoma de células escamosas mas encontravam-se com os parâmetros vitais e exames laboratoriais dentro da normalidade no momento da admissão, sendo assim acredita-se que a maioria deles não apresentavam, e nem vieram a apresentar durante a internação, incremento significativo do requerimento energético. Em relação ao consumo de alimento também não se observou diminuição

voluntária da ingestão de alimentos durante o período de internação. Sendo assim, provavelmente esses foram os motivos pelos quais não houve aumento do triglicérides ao longo da internação nos momentos avaliados. Em relação à glicose, ao se observar a mediana das concentrações (tabela 2), percebe-se que houve aumento da glicose imediatamente após a recuperação anestésica (T3) quando comparado aos demais momentos. Acredita-se que esse aumento possa ser atribuído à ação hiperglicemiante da xilazina utilizada no protocolo anestésico e ao estresse decorrente tanto do procedimento cirúrgico quanto da recuperação anestésica. A xilazina é um a 2 agonista e o aumento da glicose sanguínea ocasionado por este fármaco é associado a uma redução na concentração plasmática de insulina (DAUNT et al., 2002). Taylor (1998), ao estudar resposta endócrina e metabólica de equinos submetidos à anestesia observou aumento tanto do cortisol quanto da glicose. No presente estudo observou-se aumento da glicoobservou-se, como já foi citado, porém não foram realizadas análises de cortisol.

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Tabela 2. Mediana (mínimo - máximo) das concentrações sanguíneas de triglicérides e glicose de equinos internados de equinos internados para realização de procedimentos cirúrgicos eletivos, submetidos a jejum pré-operatório, nos momentos T0 (admissão no hospital), T1 (imediatamente antes do jejum), T2 (imediatamente

antes da indução anestésica), T3 (imediatamente após a recuperação anestésica) e T24 (24 horas após a recuperação anestésica).

Variável Momentos de avaliação

T0 T1 T2 T3 T24 Triglicérides (mg/dL) 21,00a (2,00 - 113,50) 15,50a (6,50 - 153,00) 18,25a (0,50 - 169,00) 26,50a (3,00 - 208,50) 20,75a (6,00 - 329,00) Glicose (mg/dL) 101,25 a (85,00 - 128,00) 96,75a (84,50 - 137,00) 99,00a (86,00 - 150,00) 143,00b (98,50 - 240,50) 102,25a (80,00 - 176,00)

a-b Letras distintas na linha diferem pelo teste de SNK entre momentos (P≤0,05

Conclusão

Diante dos resultados apresentados conclui-se que o período de internação avaliado e o jejum pré-operatório de 12horas aos quais os animais foram submetidos não foram suficientes para causar diminuição da glicose ou mesmo elevar os níveis séricos de triglicérides. Conclui-se ainda que o estresse advindo do procedimento cirúrgico e a xilazina utilizada no protocolo anestésico foram responsáveis por causar aumento da glicose sanguínea.

Apesar dos resultados encontrados, a análise individual dos animais mostrou ocorrência de hiperlipidemia em dois equinos, levando os autores a acreditarem que períodos mais longos de internação e jejum poderiam evidenciar alterações expressivas na concentração sanguínea de triglicérides confirmando assim a necessidade de monitorar equinos internados, mesmo que sadios como no caso de animais a serem submetidos a procedimentos cirúrgicos eletivos, quanto ao desenvolvimento de dislipidemias.

Referências

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