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O PAPEL DA ESCOLA NA PRESERVAÇÃO E DIFUSÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO-CULTURAL: O CASO DO MUNICÍPIO DE SÃO BORJA-RS

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O PAPEL DA ESCOLA NA PRESERVAÇÃO E DIFUSÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO-CULTURAL: O CASO DO MUNICÍPIO DE SÃO BORJA-RS

Muriel Pinto1 Francine Carvalho Mendes2 Rosicler de Sá Espíndola3

RESUMO

O presente artigo elenca uma breve reflexão teórica sobre o papel da escola enquanto instituição formadora de conhecimento para a difusão e preservação do patrimônio cultural, ressaltando assim, as possibilidades e ações norteadoras para que haja uma maior preocupação e conscientização por parte dos atores sociais envolvidos no processo de ensino-aprendizagem. Para isso, o trabalho se baseia na proposta do projeto de “Educação Patrimonial para os docentes de São Borja”, trabalhado e discutido na esfera acadêmica, e que foi delineado por uma perspectiva pedagógica visando um processo de valorização, conhecimento e preservação do patrimônio cultural da cidade de São Borja, e também será guiado pela orientação metodológica criado pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), que aponta temas transversais que permitem refletir sobre as práticas a serem trabalhadas nas escolas. Nesse sentido, a construção teórica do artigo fará uma breve abordagem sobre a importância do despertar para as questões ligadas à temática do Patrimônio Cultural. Ressalta-se que, a abrangência do tema acaba sendo em sua maioria das vezes deixado de lado, seja pela falta de conhecimento de práticas neste âmbito, seja pelas visões muitas vezes restritas sobre os temas, que ainda hoje se mostram em sua maioria longe de serem articulados e trabalhados pelos professores em sala de aula.

Palavras-chave: Educação Patrimonial, Preservação, Valorização, Escola.

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Professor da Unipampa, Universidade Federal do Pampa, Campus de São Borja. Licenciado em Geografia. Mestre em Desenvolvimento Regional. Doutor em Geografia pela UFRGS, Universidade Federal do Rio Grande do Sul-Brasil. 2 Acadêmica do 7º semestre em Licenciatura em Ciências Humanas, da Universidade Federal do Pampa, campus São Borja. E-mail: francinecm2009@hotmail.com

3 Acadêmica do 7º semestre em Licenciatura em Ciências Humanas, da Universidade Federal do Pampa, campus São Borja. E-mail: rosiclerdesa@gmail.com

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1 INTRODUÇÃO

O despertar da escrita do artigo se deu no intuito de mobilizar uma maior reflexão da esfera social e educacional para a questão da Educação Patrimonial; temática esta trabalhada enquanto bolsistas de extensão do projeto intitulado: “Educação Patrimonial para os docentes de São Borja, e também pelo fato da própria graduação em licenciatura plena em Ciências Humanas, o que aponta para a futura profissão docente. Com isso, a reflexão partiu de uma justaposição de estar no “mesmo barco” enquanto futuras professoras da área de Humanas. Afinal, qual o papel enquanto professora seja de História ou Geografia para o estudo da história local? E como a escola enquanto instituição formadora de conhecimento tem a função social de difundir e valorizar estes temas tão específicos?.

Foi a partir destas indagações que surgiu o interesse em se investigar práticas educativas que apontem um caminho para a valorização das identidades histórico-culturais locais, que seja capaz de compor um estudo sobre o patrimônio histórico – material e imaterial.

Nesse sentido, para que isso seja viável, cabe descrever brevemente algumas abordagens teóricas a respeito da Educação Patrimonial (temática esta que vivenciamos enquanto bolsistas do projeto coordenado pelo Profº Me. Muriel Pinto no PROEXT-MEC 2014) e o estudo do patrimônio local da cidade de São Borja. Para isso, a proposta do artigo se dará através de uma abordagem cronológica voltada para o estudo da patrimonialização no Brasil, tendo como um dos materiais básicos de pesquisa a cartilha do IPHAN intitulada: Educação patrimonial: histórico, conceitos e processos, onde neste guia fica evidenciado a necessidade multidisciplinar e transdiciplinar em se trabalhar as questões referentes à preservação e valoração do patrimônio e história local.

Frente a isso, a questão principal a ser elencada no trabalho é a seguinte: Qual o papel da escola em gerar possíveis interligações entre história e patrimônio no campo de ensino? E qual o papel do professor em desenvolver formas de se instigar e trabalhar com a história local com os alunos? O intuito é ressaltar uma reflexão sobre as questões do estudo do patrimônio-histórico-cultural da cidade, pois para haver preservação é necessário o conhecimento, saindo da esfera do “macro” e ir para o “micro”, esmiuçar as origens, saber valorizar e conhecer as identidades locais e regionais, indo de uma perspectiva abrangente, para o campo específico do que é da “terra”, envolvendo assim, os fatores sociais e culturais na reflexão sobre o lugar de vivência do aluno e seu contexto na sociedade em que vive, e para que isso aconteça é necessário se trabalhar a Educação Patrimonial e integralizá-la no currículo escolar.

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2 EDUCAÇÃO PATRIMONIAL – UMA ABORDAGEM TEÓRICA

Para se compreender as dimensões do conceito de educação patrimonial, primeiramente deve-se destacar o significado da palavra patrimônio, pois logo que pronunciamos esta palavra vem a nossa mente a ideia de materialidade, ou seja, objetos de valor, herança, algo que se constrói e que se acumula com o tempo, mas cabe dizer também que a palavra patrimônio pode assumir valores não só financeiros, mas também afetivo e simbólico o que, é a ênfase central desta breve discussão do artigo.

O termo patrimônio, de origem latina (patrimonium), designa os bens recebidos por herança paterna, familiar, e, por extensão, vem sendo utilizado para nomear o legado de uma geração a outra, não apenas no âmbito da família, como também dos grupos sociais, dos Estados nacionais e mesmo da humanidade. A ideia de transmissão ao longo do tempo é, portanto, constitutiva da noção de patrimônio (LONDRES, 2012 p. 14)

No dicionário Priberam de língua portuguesa, o significado da palavra patrimônio remete-se a herança paterna ou bens de família. Isso mostra, em resumo, que patrimônio é um conjunto de bens deixados pelos antepassados, representados não apenas no seu sentido material, mas também na condição de bens que assumem uma dimensão imaterial e consequentemente simbólica.

Nesse sentido, o produto da construção coletiva de uma sociedade é o que as torna diferentes (ímpares), distinguindo-as assim uma das outras, criando o verdadeiro sentido de identidade cultural, ou seja, tudo que é produto da ação consciente e criativa dos homens sobre o meio em que vive é efetivamente denominado de patrimônio cultural.

A formação dessa “consciência preservacionista” junto às novas gerações é, portanto, fundamental para a continuidade da preservação dos bens culturais, cujo desaparecimento, sabemos bem, constitui, em geral, uma perda irreparável, seja de um monumento antigo, seja de uma espécie da fauna ou da flora, e também de conhecimentos, de formas de expressão, de modos de vida. (LONDRES, 2012, p. 15)

Conforme a citação de Cecília Londres, a consciência preservacionista tem o papel fundamental para que haja uma preservação dos bens culturais, e nesse contexto teórico, liga-se assim a outra palavra chave deste tópico, que é a Educação, pois para haver essa ‘consciência’ é necessário se ‘conhecer’, e justamente nesse ponto a educação é tida como o alicerce de toda e

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qualquer sociedade, pois através dela ocorre o desenvolvimento do conhecimento, as interações sociais e também a construção da cidadania em relação ao que se aprende e o que se ensina.

A origem da palavra educar vem do latim (exducere), e significa “conduzir de dentro para fora”, onde o foco de qualquer processo educativo deve ser, o aluno, e com isso, nesse processo de aprendizagem a eficiência é construída se o aluno for o protagonista no desenrolar do processo de ensino, e nesse ponto em específico o professor tem o papel de mediar, estimular e conduzir o ensino de forma que se construam cidadãos conscientes e comprometidos na sociedade em que vivem, onde: “nesse sentido, não se trata de “ensinar sobre” o patrimônio, mas de considerar os bens culturais, sua fruição, preservação e difusão, como um recurso precioso no processo educativo”. (LONDRES, 2012, p. 16).

Frente a isso, todo patrimônio cultural engloba um valor coletivo e constitui assim a riqueza e a herança de uma sociedade, por isso que estes bens (herança de um povo) devem ser transmitidos às futuras gerações como algo que identifica e personifica a cultural local e as diferencia assim das demais por ser algo único.

Nesse ponto, se destaca a Educação Patrimonial como sendo um suporte de conhecimento a promover no indivíduo a noção de cidadania, construindo, assim, de forma coletiva, o sentido de pertencimento a estes elementos. Ao se educar os indivíduos para que se tenha uma maior proteção e a valorização dos bens culturais estamos educando para a cidadania, fator este que é visto como um fato social determinante, pois para ser patrimônio cultural é necessário ser uma construção coletiva, baseada em significado e valores que são construídos e perpassados por diferentes esferas da sociedade.

Com isso, ao se pontuar algumas conceituações sobre Educação e Patrimônio faz-se necessário registrar em linhas gerais a experiência vivida enquanto bolsistas juntamente com outros acadêmicos no Projeto intitulado: Educação Patrimonial para os docentes de São Borja, coordenado pelo professor Me. Muriel Pinto, projeto este que teve a duração de um ano a contar de janeiro de 2014 e tendo seu fim em dezembro do mesmo ano. De maneira geral, o projeto proposto teve como objetivo central, contribuir com o processo de valorização e aprendizagem sobre a história, cultura, patrimônio, identidades, e espaços sociais da cidade de São Borja, através do desenvolvimento de cursos e oficinas de História local, Patrimônio Histórico-Cultural, valorização da memória, por meio de diferentes narrativas identitárias das quais fosse possível assim, construir metodologias didático-pedagógicas para realização de trabalhos, projetos e estudos na rede pública de ensino da cidade de São Borja.

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Conforme Pinto (2014) nesta perspectiva holística, o projeto buscou realizar uma reflexão voltada para uma desnaturalização dos conceitos e discursos culturais essencializados na cidade, que trata a cultura, a história, e as identidades como ações cristalizadas no tempo. Esta imutabilidade dificulta a interpretação das trocas culturais exercidas entre as diversas identidades samborjenses, como: a ribeirinha, trabalhista, missioneira, pampiana, fronteiriça, entre outras.

A temática do projeto voltada para uma valorização da história local despertou assim ao interesse enquanto futuras educadoras em se discutir, compreender e resgatar de uma forma coletiva estas construções atemporais que marcaram e marcam a cidade em que vivemos, seja pelo seu fator político, histórico ou social, pois sabemos que, as construções identitárias de um povo são marcadores culturais ímpares e que nesse processo em teorização do artigo, a escola enquanto instituição e os professores enquanto formadores de opinião e conhecimento têm o dever de promover, instigar e resgatar a importância de se conhecer suas origens e estudar assim a história local.

2.1 Memória e Patrimônio: breve resgate histórico através da Educação Patrimonial

Sabe-se que, as políticas culturais integralizadas no Brasil se deram por um constante processo de construção e desenvolvimento da preservação da memória nacional e local, onde o marco inicial foi à introdução do Decreto-lei nº 25, de 30 de novembro de 1937, durante o Estado Novo no governo de Getúlio Vargas. Esse Decreto – lei preconiza a organização e a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional:

Art. 1º Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interêsse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico. § 1º Os bens a que se refere o presente artigo só serão considerados parte integrante do patrimônio histórico o artístico nacional, depois de inscritos separada ou agrupadamente num dos quatro Livros do Tombo, de que trata o art. 4º desta lei. § 2º Equiparam-se aos bens a que se refere o presente artigo e são também sujeitos a tombamento os monumentos naturais, bem como os sítios e paisagens que importe conservar e proteger pela feição notável com que tenham sido dotados pela natureza ou agenciados pela indústria humana. (DECRETO-LEI nº 25/1937) Conforme embasamento teórico destacado em outras publicações é possível notar também que, esta época foi marcada pela busca de uma consolidação de uma nacionalidade “abrasileirada”, ou seja, o desenvolvimento de uma identidade nacional fora dos padrões europeus do período Imperial. Com isso, também nesse período foi criado e Serviço do Patrimônio Artístico Nacional

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(SPHAN) pela Lei nº 378, de 13 de janeiro de 1937, sendo visto como uma espécie de Aporte fundador da estatização da cultura no Brasil, tendo como diretor entre os anos de 1936-1967 o jornalista e escritor Rodrigo Melo Franco de Andrade.

Foi justamente neste período que se iniciou a chamada fase da ‘pedra e cal’ do governo de Getúlio Vargas, caracterizada pela valorização da arquitetura barroca colonial. Na gestão Gustavo Capanema, os maiores responsáveis pelo desenvolvimento de uma política cultural no Brasil foram os intelectuais da época, representantes da modernidade, que, apesar do regime autoritário implantado pelo Estado Novo, atuavam de maneira hegemônica onde buscavam consolidar uma identidade nacional embasada em um projeto de brasilidade.

Em resumo, a formação do Estado Nacional transcorre a partir de uma construção da história autêntica de uma nação listada pela idéia de uma identidade nacional, esta que assim fosse capaz de solidificar lugares de memória através de monumentos e/ou documentos no sentido de tornar-se assim uma proposta inserida nos currículos escolares.

Frente a isso, no que condiz aos processos de ensino, verifica-se que, a preocupação com o patrimônio cultural é visto mais claramente nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de 1997, onde este busca estimular um trabalho voltado à história local, as memórias e identidades. Nesse ponto em específico, a educação patrimonial é integrada nos objetivos do ensino fundamental como sendo uma forma de "conhecer características fundamentais do Brasil em suas dimensões sociais, materiais e culturais como meio para desenvolver progressivamente a noção de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinência ao país".

Diante destas breves retrospectivas históricas de conceituações, é importante se ressaltar que, todo este resgate histórico se dá sempre através da memória, esta que do ponto de vista de Jaques Le Goff (1990), é uma fonte que estabelece um “vínculo” entre as gerações humanas e o “tempo histórico que as acompanha”.

Nesse sentido, o resgate da história é construído através da memória, que em sua essência é a faculdade de reter idéias, sensações, impressões, estas que foram adquiridas anteriormente, ou seja, as lembranças – recordações que a posteridade guarda. Com isso, a memória, além de criar um “elo afetivo” que possibilita as pessoas a perceberem-se como “sujeitos da história”, ela desenvolve a consciência e o sentido de pertencimento do lugar onde vivem.

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3 AÇÕES METODOLÓGICAS: REFLEXÕES SOBRE A RELAÇÃO TEORIA-PRÁTICA

Ao se conceituar brevemente as questões pertinentes ao patrimônio, cabe entrar agora na seara das ações metodológicas voltadas para diversificar o ensino da história local e também despertar nos educandos este senso de ‘pertencimento’ ao lugar onde vivem. Nesse ponto como descreve Pimenta (2005): a atividade teórica por si só não leva à transformação da realidade; não se objetiva e nem se materializa, não sendo, pois práxis. Mas por outro lado, a prática também não fala por si só, ou seja, a teoria e a prática são inseparáveis como práxis.

Nesse sentido, cabe dizer que, o processo de formação docente, a partir de um contexto de práxis, na visão de uma construção de novos conhecimentos não se limita ao momento da sua graduação inicial, mas é um processo que se estende por todo o seu percurso profissional, onde nota-se que isso é um processo dialético, onde ele é um formador, formando-se e conhecendo, num amplo ‘devir’ nada acabado, mas passível sempre de construção.

Frente a isso, o presente projeto ocorrido na cidade de São Borja, coordenado pelo professor Me. Muriel Pinto e desenvolvido por um grupo de acadêmicos dos cursos de Relações Públicas – Ênfase em Produção Cultural e Licenciatura em Ciências Humanas, já descrito no artigo, engloba algumas ações metodológicas voltadas aos professores da rede de ensino da cidade, que depois de um resgate através de pesquisas em acervos e fontes primárias, teve sua culminância do projeto e se encerrou com a prática de oficinas e mini-cursos, contando com a presença de palestrantes de outras cidades e também de professores da Unipampa, as ações ocorreram entre os dias 24 a 28 de novembro de 2014 no campus da Unipampa da cidade.

Cabe destacar que, a realização das oficinas foi destinada aos docentes da rede pública de ensino e também para alguns acadêmicos de licenciatura, onde nestes dias aconteceram palestras voltadas ao mais diversificados temas:

 Arqueologia e Educação (Dra. Raquel Machado Rech);

 Projetos culturais (Dra. Carmen Regina Abreu Gonçalves);

 Contrabando e relações de fronteira (Dr. Edson Romário Monteiro Paniágua e Dr. Ronaldo Bernardino Colvero);

 Crenças e espaços sagrados (Maiquel Jardel Schneider, Dr. Evandro Ricardo Guindani e Dra. Yáscara Koga);

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 Elaboração da Obra didática e divulgação (Bel. Relações Públicas-Ênfase em Produção Cultural César Peixoto, Camila Cananea, Francine Mendes, Jardel Vitor, Me. Muriel Pinto, Maiquel Schneider, Paulo Bettim, Rosicler de Sá e Bel. Relações Públicas-Ênfase em Produção Cultural Ulisses Souza);

 História das Missões (Me. Rodrigo Ferreira Maurer);

 Cultura e Representações Sociais (Me. Tiago Costa Martins);

 Criatividade (Me. Antônio Celso Marques Dornelles);

 Educomunicação e ensino de Educação Patrimonial (Dr. Joel Felipe Guindani).

Ressalta-se que, a realização destas oficinas promoveu assim as discussões na esfera acadêmica e aos professores das áreas de Humanas da cidade e região no que diz respeito ao Patrimônio Cultural local e também a importância de se pensar e agir sobre a Educação Patrimonial da nossa cidade e também nas escolas, sair do senso comum e ir além, sendo um passaporte para futuras discussões sobre este tema.

3.1 O professor em perspectiva: reflexões sobre ensinar e aprender

Nesse ponto, a relação de “ser professor”, vem à tona ao ponto que, mais que ensinar conteúdos programáticos ou seguir cartilhas metódicas é a sensibilidade em ser capaz de despertar nos educandos à vontade e o interesse em aprender.

Nesse sentido, a instituição escola é o alicerce de toda e qualquer sociedade, pois é na escola que se começa o processo de formar cidadãos aptos e capazes de transformar o ambiente que os cercam.

Frente a isso, falar em Educação Patrimonial remete a primeiramente “conhecer” a fundo o que se pretende preservar, pois sem o conhecimento não há preservação nem o senso de pertencimento ao que se pretendem resgatar ou preservar.

Com isso, é necessário partir do princípio norteador de que, o professor deva ser um grande incentivador nesse processo, ou seja, como descrito em tópicos anteriores, esse ensinar sobre patrimônio requer antes de tudo se conhecer suas origens, saber a história, e juntamente no processo de ensino aprendizagem buscar diretrizes e os suportes necessários para poder englobar o “específico” no conteúdo geral do que se aplica na sala de aula.

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Ao adentrar-se na seara da sala de aula, enfatiza-se a primeira experiência de docência realizada no curso de Ciências Humanas (LIC), na disciplina de Estágio Supervisionado II enquanto professoras (estagiárias) de História e Geografia do Ensino Fundamental, onde nessa etapa da vida acadêmica nos deparamos com diversas realidades do ambiente escolar e da sala de aula em si, pois foi possível perceber que, parafraseando Paulo Freire: “o ato de ensinar inexiste sem o ato de aprender”, ou seja, foi uma experiência mais de aprendizado do que enquanto mediadoras do processo de ensino, a ação de estar à frente de uma turma fez por ser a comprovação de que a profissão de educadora requer atualização e aprendizagem diária.

Nesse ponto, foi possível compor a experiência anterior no Projeto de Educação Patrimonial que, ao retratar as ações metodológicas despertou discussões sobre a importância de se ter materiais didáticos sobre a história local e regional, e também a interação da comunidade escolar para a conscientização da preservação da nossa história local, o sentimento de pertencimento a uma ou outra identidade, seja ela missioneira, ribeirinha, fronteiriça, etc, desenvolvendo assim o senso crítico reflexivo nos alunos de valoração do que é próprio da região, ou do que é visto como um “marcador” do lugar onde vivem. Para isso, é necessário haver uma desnaturalização do que é visto como tradicional ou peculiar, as aulas de História ou de Geografia mais especificamente integram estas temáticas por serem áreas de ampla miscigenação, onde assim: “a Educação Patrimonial é um processo permanente e sistemático centrado no patrimônio Cultural, como instrumento de afirmação da cidadania. Objetiva envolver a comunidade na gestão do Patrimônio, pelo qual ela também é responsável, levando-a a apropriar-se e a usufruir dos bens e valores que o constituem”. (IPHAN).

Nesse contexto, elenca-se a real importância de se discutir a respeito do patrimônio cultural, como sendo um processo de integração curricular do que é mais específico e singular de um determinado povo ou de uma determinada região.

Através da Educação Patrimonial, o processo de ensino e aprendizagem pode ser dinamizado e ampliado, muito além do ambiente escolar onde toda a comunidade pode estar envolvida. Pode tornar-se um instrumento a mais no processo de educação que colabore com o despertar de uma consciência crítica e de responsabilidade para com a preservação do patrimônio - em toda sua expressão – e a percepção da relação entre esse com sua identidade pessoal e cultural. (QUEIROZ, 2004 s/p.)

Sendo assim, o processo de ensino aprendizagem deve ser ampliado, onde o professor utilizando-se das ferramentas e recursos existentes possa tentar incorporar nesse processo de “aprender a aprender” e saber despertar a consciência crítica e da importância em se preservar o patrimônio em toda sua dimensão.

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3.1.1 Exemplos de atividades a serem trabalhadas em sala de aula: extraídas do IEPHAN (Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais)

A – Observação e Registro

 Identificação dos objetos: função/significado; desenvolvimento da percepção visual e simbólica.

 Fixação do conhecimento percebido, aprofundamento da análise crítica.

 Desenvolvimento da memória, pensamento logístico, intuitivo e operacional.

1) Conceitos a serem trabalhados dentro de sala de aula: (Matérias: História – Geografia)

 Você sabe o que é um bem? Quais são os seus bens?

 E os bens de sua família? Por que eles são importantes?

 Quais são os objetos mais antigos da sua família?

 A quem pertenceram e a quem pertencem atualmente?

 Serviam ou servem para que?

 Você sabe o que é cultura?

 O que seria um bem cultural? Porque eles são importantes? Dê exemplos de bens culturais?

 Você sabe dizer quais são os bens culturais de sua Cidade?

 O que é Patrimônio Cultural?

 Quais os bens culturais tombados em sua cidade?

2) Jogo de Comparações – a ser trabalhado dentro de sala de aula: (Matéria: História - Geografia)

 Foto antiga de uma rua comparada com a foto atual.

 O que existia e que não existe mais.

 O meio de transporte do passado e o atual.

 Faça uma entrevista com um parente mais velho sobre a sua vida na infância e adolescência: onde morava, onde estudava, se trabalhava como brincava, lugares que freqüentava, músicas que ouvia, como se vestia.

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3) Questionário - Reconhecendo a cidade – a ser trabalhado dentro de sala de aula: (Matéria: História, Geografia, Educação Artística)

Você conhece a história da sua cidade? Como nasceu a sua cidade?

 Desenhe a planta da sua cidade localizando os lugares e os prédios ou casas mais importantes.

Conte quantas escolas, cinemas, igrejas, praças existem na sua cidade.

 Quais os lugares de diversão que você mais freqüenta. Escreva uma redação sobre este local.

Você sabe onde nasce o rio que passa por sua cidade? Qual a origem do nome do rio?

 Faça um desenho do rio desde a sua nascente até chegar a sua cidade, identificando os lugares por onde passa.

 Desenhe o caminho que você percorre para chegar na escola identificando as casas mais antigas.

Quais são as festas mais importantes da cidade e onde acontecem.

Descreva a festa que você considera a mais importante.

Em sua opinião, qual o bem cultural mais importante da cidade. Por que?

O que você acha que deve ser feito para se preservar os bens culturais da sua cidade.

OBS: Estas atividades podem ser contextualizadas com outros materiais didáticos disponíveis como fonte de pesquisa na internet, como: teses, monografias ou outras publicações existentes que retratem a história local.

Ressalta-se que existem fontes de pesquisas riquíssimas sobre nossa cidade e região e devem ser utilizadas como suporte para o desenvolvimento e criação de atividades em sala de aula.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

As discussões abarcadas pela teorização do artigo vão ao encontro de uma reflexão acerca da importância de se pensar a respeito da preservação do patrimônio histórico-cultural, onde o ambiente alicerçado para isso é a escola, fonte de difusão de conhecimento e o desenvolvimento pleno do cidadão.

Nesse sentido essas conceituações brevemente elencadas no artigo devem ser ressaltadas com todas as dimensões histórico-geográficas existentes juntamente com o intuito de se resgatar os valores materiais e imateriais que integram as questões de referentes ao sentido de pertencimento de um grupo a uma determinada região, afinal, para se preservar é necessário primeiramente se conhecer, onde assim, estas espacialidades sejam elas (representações sociais, paisagens culturais, lugares de memória, identidades territoriais, etc) possam ser salientadas e estudadas no âmbito escolar, onde o aluno tenha a conscientização destas concepções típicas da sua cidade e do lugar onde vive.

Nesse contexto, é importante enfatizar que, as marcas culturais presentes no espaço geográfico ou até mesmo as mudanças culturais das diferentes configurações do espaço com todas suas simbologias ou até mesmo as práticas sociais estão enraizadas no espaço e devem ser discutidas nas escolas, pois muitos alunos não reconhecem ou preservam porque não sabem dos significados ou valores.

Portanto, é necessário compreender criticamente que estas perspectivas voltadas para o patrimônio são um importante marcador cultural do espaço geográfico, pois todo fluxo seja ele social, cultural ou econômico remete a importância se estudar e preservar as memórias coletivas construídas em espaços sociais historicamente demarcados. Nesse sentido, o presente artigo elenca uma singela contribuição para se discutir o patrimônio local e regional da cidade de São Borja, onde as escolas enquanto instituições e os professores enquanto líderes sociais têm a importante missão de serem disseminadores do patrimônio-histórico-cultural e com isso a escrita do artigo serviu como uma ponte para maiores discussões acerca deste tema

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REFERÊNCIAS

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Referências

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