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A CONSTRUÇÃO DOS VALORES HUMANOS: UMA REFLEXÃO SOBRE OS LIMITES NA EDUCAÇÃO FAMILIAR E ESCOLAR.

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – UFBA

FACULDADE DE EDUCAÇÃO – FACED

CURSO: PEDAGOGIA

ALINE SANTOS LORDELO

A CONSTRUÇÃO DOS VALORES HUMANOS: UMA

REFLEXÃO SOBRE OS LIMITES NA EDUCAÇÃO FAMILIAR

E ESCOLAR.

Salvador

2011

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ALINE SANTOS LORDELO

A CONSTRUÇÃO DOS VALORES HUMANOS: UMA

REFLEXÃO SOBRE OS LIMITES NA EDUCAÇÃO FAMILIAR

E ESCOLAR.

Monografia apresentada ao Curso de Pedagogia, Universidade Federal da Bahia, como requisito final para a obtenção do grau de licenciatura em Pedagogia.

Orientador : Prof. Dr. Miguel Bordas

Salvador

2011

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3 ALINE SANTOS LORDELO

A CONSTRUÇÃO DOS VALORES HUMANOS: UMA

REFLEXÃO SOBRE OS LIMITES NA EDUCAÇÃO FAMILIAR

E ESCOLAR.

BANCA EXAMINADORA:

MIGUEL ANGEL GARCÍA BORDAS – Orientador ____________ Doutor em educação, Universidade Federal da Bahia (UFBA) Universidade Federal da Bahia

CLEVERSON SUZART SILVA___________________________ Doutor em Educação, Universidade Federal da Bahia (UFBA) Universidade Estadual da Bahia

ADRIANA DANTAS WANDERLEY DOS SANTOS____________ Mestre em educação, Universidade Federal da Bahia (UFBA) Universidade Federal da Bahia

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4 Dedico Aos meus amados pais, por serem a minha primeira e eterna fonte de conhecimento, e a todos que acreditam na educação como um poderoso e gratificante instrumento de transformação social.

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5 AGRADECIMENTOS

“Todos os dias você faz progresso, ainda assim, sempre terá distância a percorrer.”

À Deus todo poderoso, pois a caminhada foi dura e muitas vezes pensei em desistir. Algumas lágrimas escorreram em meu rosto, mas graças a Tua benção, saí mais forte e revigorada nesta caminhada. Tua mão me sustentou quando, por vezes, estive cansada de lutar. Agradeço-te por me dar força para concluir esta etapa tão importante. Obrigada pela vida!

Aos meus amados pais que se doaram inteiros e renunciaram aos seus sonhos, para que, muitas vezes, eu pudesse realizar os meus. Ao entrar para faculdade percebi o tamanho orgulho que sentiram e hoje vejo novamente nos olhos de vocês orgulho e felicidade ainda maior, e isso me resplandece. Agradeço a confiança e o amor.

Às minhas companheiras, parceiras e amigas: Maria do Socorro, Marília Ferreira, Natália Nardi, Renata Cordeiro, Sandreli Moura, que ajudaram a fazer da FACED um lugar eterno. Em especial Lítsia Coelho e Thaíse Rejala por toda colaboração e incentivo na reta final desta jornada.

Aos meus amigos amados Fernando Oliveira, Isis Palmeira, Mariana Carvalho, Michelle Ribeiro, Michelle Vasquez, Naiara Lordelo, Rebeca Limley e Suelen Vasquez por todo amor, compreensão e apoio dedicados. Por vocês serem companheiros e por estarem sempre presentes nos meus momentos de angústia e também nos de felicidade. Obrigada por me transmitirem tamanha segurança de que tudo sempre dará certo em nossas vidas. Vocês são os meus irmãos de alma!

Aos grandes e valorosos mestres, os quais eu tive imenso prazer de conhecer e hoje poder dizer com certeza que os melhores mestres não foram os que me deram as respostas, mas sim os que me estimularam ao questionamento. A construção do saber certamente perpassa por vocês. A todos, o meu respeito e eterna gratidão.

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6 Finalmente, agradeço ao professor Miguel Bordas, que com muita dedicação e competência me orientou no processo de construção da minha primeira grande produção acadêmica. Contribuindo fundamentalmente para o desenvolvimento deste trabalho.

Obrigada a todos vocês por não me deixarem paralisar por minhas próprias críticas. É importante ter todos vocês na minha vida torcendo por todas as conquistas. Sei que estão tão felizes quanto eu!

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7

RESUMO

O trabalho a seguir é o requisito final necessário para a conclusão do Curso de Pedagogia da Universidade Federal da Bahia. Trata-se de uma pesquisa que busca refletir a cerca da importância dos valores morais, e sobre como os limites (regras e normas, permissões ou proibições) são trabalhados na educação familiar e escolar, o que implica tratar também sobre questões que perpassam por princípios éticos e dilemas morais. Sabe-se que a família e a escola são os principais referenciais para a formação do educando ao longo da sua vida. Assim sendo, compreender a relação entre o contexto familiar e o contexto escolar em que as crianças e os jovens estão inseridos é fundamental para o processo de aprendizagem, pois são através dos dois contextos que serão desenvolvidos e aprimorados características como a socialização, afetividade, o respeito, etc. Desta forma, procura-se respostas para tentar compreender como as crianças e os jovens estão sendo educados através dos limites, princípios e valores transmitidos pela família e pela escola. Para tanto, alguns familiares, professores/ gestores, e educandos serão entrevistados com questionamentos propícios para investigação.

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8 SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 10

1. O MIMO E SEUS EXCESSOS ...13

2. FORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA MORAL ATRAVÉS DO RESPEITO ... 20

2.1 PRINCÍPIOS PARA A CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA INTELECTUAL E MORAL ... 23

3. LIMITES: PROIBIÇÃO OU PERMISSIVIDADE ... 26

3.1 A CONSTRUÇÃO DOS LIMITES NO PROCESSO EDUCACIONAL ... 28

4. ESCLARECIMENTO DE VALORES PARA A COMPREENSÃO DOS PRINCÍPIOS E LIMITES NA EDUCAÇÃO MORAL ... 32

4.1 ESTRATÉGIAS DE EDUCAÇÃO MORAL ... 32

4.2 METODOLOGIA EMPREGADA NA PESQUISA E RESULTADO ... 34

4.2.1 Escola Particular X ... 34 4.2.1.1 Professor (a) ... 35 4.2.1.2 Coordenador (a) ... 36 4.2.1.3 Diretor (a) ... 37 4.2.2 Famílias A e B ... 38 4.2.2.1 Família A ... 38 4.2.2.2 Família B ... 39 4.2.3 Crianças C, D e E ... 40

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9 4.2.3.1 Criança C ... 40 4.2.3.2 Criança D ... 41 4.2.3.3 Criança E ... 42 4.2.4 Jovens F, G e H ... 42 4.2.4.1 Jovem F ... 42 4.2.4.2 Jovem G ... 43 4.2.4.3 Jovem H ... 44 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 45 6. REFERÊNCIAS ... 50 APÊNDICES ... 52

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INTRODUÇÃO

Ao ingressar na Universidade Federal da Bahia, mais especificamente no curso de pedagogia, eu ainda estava muito temerosa diante das dificuldades profissionais que enfrentaria ao decidir seguir na profissão de magistério, pois, como é de conhecimento público, realmente ainda é uma profissão pouco valorizada no Brasil e muito depreciada socialmente.

No ano de 2009, ao cursar a disciplina Pesquisa em Educação, com a professora Maribel Silva, no quinto semestre, me deparei com a necessidade de escolher um tema e um assunto para realizar meu projeto de pesquisa, o qual me nortearia a elaborar a minha monografia. Como sempre me interessei muito pelas questões sobre valores humanos, princípios, ética e moral, acabei enveredando por estes caminhos, e fiz meu trabalho cujo título foi “A importância do desenvolvimento moral infantil para a socialização da criança e aquisição de valores.”. Daí em diante, procurei direcionar todos os meus estudos para o campo da moralidade e ética.

Em 2010, fui contratada como professora do grupo dois (onde também estagiava no primeiro ano do ensino fundamental, em turno oposto) por uma grande escola particular de Salvador, e no mesmo período cursei a disciplina Desenvolvimento Moral, ministrada pelo docente Miguel Bordas, e foi neste momento que concretizei minha decisão de seguir adiante com este tema para minha monografia. O professor Miguel trabalhou autores muito importantes como Piaget, Lawrence Kohlberg, Wallon, Vygotsky e Yves de La Taille; e na escola passei por diversas situações de conflitos entre teorias e práticas aprendidas e vivenciadas, onde pude perceber as dificuldades que a comunidade escolar enfrenta diante de valores e princípios familiares tão paradoxais entre si e com os da própria escola.

No decorrer dos meses fui me inquietando cada vez mais com os papéis que a escola e a família exercem na educação da moralidade das crianças, onde a ausência de limites, autoridade e disciplina podem acabar desencadeando diversos problemas psicológicos e sociais, incluindo a violência. A educação moral, na escola

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11 é discutida por muitos, inclusive os novos parâmetros curriculares nacionais, cuja finalidade é a formação para cidadania e tratar também da ética a ser trabalhada nas escolas (questão fundamental diante da atual crise moral), mostra a relevância de trabalhar o tema em sala de aula.

Alguns imaginam que estamos vivendo uma situação de ausência ou contradição de valores e regras, entendido como Anomia, segundo Piaget (1994). Particularmente acredito que estamos passando por um momento de reavaliar quais são os valores e princípios que a sociedade como um todo está querendo passar para as crianças e os jovens, e a importância de incluí-los nos projetos educacionais, tendo apoio e colaboração direta das famílias, onde se busca a integração e a união para um bem maior, que é a melhoria social.

Através das minhas vivências na escola, surgiu o desejo de pesquisar sobre como podemos tratar os limites (regras e normas, permissões ou proibições) na educação escolar e familiar? Está faltando limites às crianças, e até que fase da vida é necessário que eles sejam propostos ou impostos? Quais as consequências para a vida adulta?

O objetivo principal deste trabalho é refletir sobre a importância da família e da escola no processo de desenvolvimento de princípios morais, limites e valores nas crianças e nos jovens, a partir do estudo da literatura sobre o assunto e da pesquisa empírica a ser feita com os familiares, educandos e educadores de uma determinada escola de Salvador.

Os objetivos específicos intencionam evidenciar como os princípios e valores são importantes na vida das crianças e dos jovens, destacando o papel do adulto como figura norteadora dessa construção processual da moral e da ética; analisar como a família e a escola trabalham as questões da falta ou do excesso de limites na infância e na juventude; e identificar algumas das dificuldades vivenciadas pela escola e pela família na busca pela transmissão de uma educação de valores morais para as crianças e os jovens.

Baseando-me na literatura produzida sobre o tema e, para responder as questões propostas, realizei uma pesquisa do tipo qualitativa (estudo de caso) juntamente

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12 com coletas de dados bibliográficos sobre o tema, na biblioteca Anísio Teixeira da Faculdade de Educação da UFBA. Foram selecionados familiares, crianças, jovens, professores e gestores de uma escola particular X, de Salvador. Para tanto, foram entrevistados respondendo às perguntas elaboradas com o fim de coletar informações e, possibilitar base para o desenvolvimento e investigação da pesquisa. Para alcançar tais objetivos, o trabalho está dividido em cinco capítulos, conforme segue. No capítulo 1, abordarei a questão diante do perigo dos mimos e seus excessos, no trato familiar e escolar, para a personalidade ainda em formação. No capítulo 2, faço uma breve análise sobre a formação da consciência moral através do respeito e os princípios para a construção da autonomia intelectual e moral. No capítulo 3, discutirei os limites, buscando diferenciar o papel da família e o papel da escola no processo de construção dos princípios e valores, e suas consequências no comportamento social adulto. No capítulo 4, argumento sobre a importância do esclarecimento de valores dos indivíduos, e apresento a análise e interpretação dos dados da pesquisa. No capítulo 5, estão as considerações a respeito da pesquisa.

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1. O MIMO E SEUS EXCESSOS

No período da infância à adolescência ocorre a interiorização de valores como certo/errado, bom/mau, direitos/deveres e justiça. Sentimentos como culpa, remorso, e vergonha são comuns após atos transgressores das normas morais. Ao assumir a perspectiva do outro, nos tornamos mais racionais e compreensivos, para julgar de forma consciente o próximo.

A palavras ética vem do grego “ethos” que significa modo de ser, e moral tem sua origem no latim, que vem de “mores”, significando costumes. Sendo que Moral é um conjunto de normas que regulam o comportamento do homem em sociedade, e estas normas são adquiridas pela educação, pela tradição e pelo cotidiano. Ética é a forma que o homem deve se comportar no seu meio social. Durkheim (1985) explicava moral como à “ciência dos costumes”, sendo algo anterior à própria sociedade e tendo caráter obrigatório. E a diferença prática entre Moral e Ética é que esta é o juiz das morais, assim ética é uma espécie de legislação do comportamento moral das pessoas.

Um dos autores que apresentou uma produção de destaque no estudo do desenvolvimento moral e a consciência das regras foi Jean Piaget (1994), no livro “O Juízo Moral da Criança”. De acordo com este autor, “toda moral consiste num sistema de regras, e a essência de toda moralidade deve ser procurada no respeito que o indivíduo adquire por essas regras” (PIAGET, 1994, p. 23). Nesta obra, foi elaborada uma teoria do desenvolvimento moral que culmina nas tendências de desenvolvimento: anomia (é o deixar fazer, é a ausência de regras), heteronomia (regras legitimadas a uma autoridade, que pode ser: pais, professores, religião, etc.) e a autonomia (as regras ganham legitimidade sem nenhuma referência a algo que transcenda os indivíduos, são legítimas de acordo com suas próprias ideias).

Para as crianças pequenas (0 a 5 anos), as regras simplesmente existem, sem motivos para serem questionadas, apenas obedecidas. Através da interação com os outros é que as crianças entendem que há diferentes regras, de acordo com cada

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14 pessoa, sendo desta forma regras mutáveis; e os danos e a intencionalidade durante a quebra de regras passam a ser consideradas pelas mesmas. Para Piaget (1994), adaptar-se aos códigos morais, propiciando assim adquirir senso de valores, não resulta de simples maturação biológica ou apenas práticas de bons hábitos e a ocorrência de punição pelos maus. O desenvolvimento moral é complexo e multidimensional, que envolve fatores sociais e emocionais.

Para que as crianças (independente de classe social) se desenvolvam deve ser propiciado a elas um ambiente familiar, educacional e social saudável e enriquecedor, onde as mesmas possam ampliar seus horizontes, sentindo-se seguras para poderem avançar e obterem êxitos nas suas vivências, tornando o impossível possível, e que possam assim transpor limites. Mas, nem sempre é fácil para os pais compreenderem que há uma linha tênue entre o permitido e o proibido; que dar liberdade implica em dar também responsabilidade; e que os excessos podem acabar levando ao mimo exacerbado, questão a qual abordarei a seguir.

Pensar sobre a família é ter em vista que, como toda instituição social, apesar dos momentos conflituosos, é a única que cerca o indivíduo em toda a sua história de vida pessoal, segundo Prado (1981), é através dela que a criança vivenciará as suas primeiras experiências na educação e na sociedade. É com a família que a criança e o jovem aprendem a se adaptar às necessidades da vida, tornando-se flexíveis e negociáveis, independente das normas educacionais que são propostas ou impostas.

É no ambiente familiar, que o modo de ser da criança e do jovem é aprendido, podendo ser através da imitação de determinadas atitudes ou comportamentos diante de diferentes situações e, até mesmo a reação diante de certos conflitos podem vir a ser imitados no futuro. Assim, se aprende o modo de relacionar-se com outro, as crenças e os valores que irão traçar e definir sua personalidade. Segundo Prado (1981, p.13):

A família influencia positivamente quando transmite afetividade, apoio e solidariedade e negativamente quando impõe normas através de leis, dos usos e dos costumes.

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15 Contudo, o comportamento familiar mais comum é tentar oferecer a seus filhos tudo aquilo que estiver ao seu alcance (e algumas vezes até o que não está), para vê-lo feliz. Com a moderna necessidade de trabalhar, muitas vezes por longos períodos, e com a diminuição de tempo para convivência, os pais acabam sentindo culpa (muitas vezes inconsciente), e uma consequente necessidade de recompensar seus filhos, enchendo-os de mimos. Uma criança mimada (e não entendo mimo aqui apenas como generosidade material dos seus pais, mas também como termo de exagero de valor) sente-se muito amada, e se for em excesso, passa a crer que o outro não importa, tornando-se muitas vezes um adulto megalomaníaco onde impera a supervalorização de si mesmo, e que busca apenas a satisfação dos seus desejos.

A princípio, segundo Piaget (1994) na faixa etária que vai de 0 a 3 anos, o principal objetivo da criança é o prazer imediatista, querendo a todo custo realizar seus desejos e curiosidades, período este conhecido como hedonista (busca pela satisfação imediata do prazer como suprema norma moral) e egocêntrico (onde o “eu” torna-se o centro dos ideais). Entretanto, desde pequenas, as crianças são capazes de aprender a lidar com a responsabilidade, e a aquisição dessa responsabilidade torna-se obrigatória para uma vivência construtiva em sociedade. Na infância, por exemplo, os pais devem proporcionar às crianças a liberdade de brincar com os brinquedos, porém é preciso que estes mesmos pais compreendam que lhes cabe o papel de mostrar à criança que isso requer alguns cuidados como: guardá-los após o término da brincadeira; não danificá-lo; aprender a emprestar aos colegas; etc. Tal atitude desenvolve na criança o senso de responsabilidade e organização, que a mesma carregará ao longo de sua trajetória. Contudo, os pais,

por vezes acham que a criança é nova demais para assimilar esse ou aquele limite, um grande engano, pois hoje se sabe que a criança é como uma "esponjinha" e que consequentemente pode sempre absorver muitos ensinamentos, basta que a família tenha paciência, amor, e vontade para fazê-lo. “A aprendizagem é influenciar o comportamento inicial do aluno por meio das experiências vividas na escola, na rua, na família”. (SEAGOE,1978, p. 6).

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16 É preciso perceber também que toda essa falta de valores por parte dos filhos e a omissão dos pais, acaba por refletir igualmente no que deveria ser o bom relacionamento educador-educando. O relacionamento aluno-professor está tão deteriorado que é comum haver muitos conflitos entre eles. Os alunos tratam seus professores como simples empregados, extinguindo assim a relação saudável e respeitosa que deveria existir em todo ambiente escolar. Atualmente nota-se que o respeito está ausente em casa, nas escolas e nas práticas sociais de modo geral, enfim nas relações interpessoais. É necessário que os pais busquem fazer valer seus direitos e deveres como educadores e disciplinadores de seus lares e também o primordial papel de ensinar valores e princípios, hoje quase tão extintos. Szymanski diz (2001):

Uma instituição não substitui uma família, mas com atendimento adequado, pode dar condições para a criança e o adolescente desenvolverem uma vida saudável no futuro. (p. 53).

Entretanto, nas escolas também é comum o incentivo ao ego de alguns alunos, quando muitas vezes os professores elogiam demasiadamente determinadas crianças, e inferiorizam outras diante de resultados obtidos em exames ou outras atividades competitivas. Tal prática artificial leva a criança a crer que sua excelência inata lhe torna detentora da verdade absoluta, com resultados deploráveis para o convívio social. Há também o perigo da profecia auto-realizadora, onde o aluno visto pelo professor como menos capacitado, tem a tendência de se tornar fraco, e vice-versa; isto poderá vir a paralisá-lo diante dos obstáculos ao longo da vida. Mas como educar moralmente? Cito Yves de la Taille:

Educar moralmente é levar a criança a compreender que a moral exige de cada um o melhor de si, porque conhecer e interpretar princípios não é coisa simples: pede esforço, pede perseverança. Conseguir ser realmente justo é compreendimento inatingível para quem limita sua moral à morna obediência e meia dúzia de regras, por melhores que sejam. Conseguir ser realmente solidário não se confunde com a “boa ação” que reza que se dê uma esmola por dia.

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E para conseguir ser realmente honesto, não basta evitar apenas as más ações, é preciso também cultivas as virtudes. (1999, p. 47).

As virtudes nos humanizam, e estas são necessárias para a prática moral, onde a felicidade, generosidade e o aperfeiçoamento são considerados positivos. Sem as virtudes têm-se os vícios e pecados, onde denegrimos, excluímos e humilhamos. As ações virtuosas são mais agradáveis e prazerosas. Entretanto, as virtudes andam esquecidas, bem como a honra, a dignidade e respeito por si mesmo. As preocupações que a globalização traz consigo (onde muitos são educados para competir e estar sempre à frente do outro, ao invés de buscar superar os próprios limites, possibilitando assim o crescimento humano), acaba por incentivar ao egoísmo e individualismo, e desencorajando a propagação da generosidade, o que dificulta a proliferação de valores morais e éticos positivos no meio social.

Por outro lado, existem certos conflitos entre família e a escola devido às diferenças de ideologia, classes sociais, valores, crenças, hábitos e principalmente a forma de se comunicar. A família, muitas vezes tem modelos de comportamento e de pensamento extremamente opositor e diferente da escola dos seus filhos. Portanto, primeiramente é necessário que os pais façam a escolha da escola que se assemelhe a sua linha de pensamento, pois só em uma relação saudável e de parceria entre a família e a escola (independente da classe social), é que se conseguirá maior interesse de participação efetiva na educação dos seus filhos.

Para que as escolas consigam aproximar e promover uma maior participação dos pais na vida escolar de seus filhos, precisa antes de tudo, conhecer um pouco da realidade e do contexto dessas famílias e, perceber de que situação e ambiente familiar às crianças e os jovens vêm, observando seus comportamentos e atitudes, e por meio da compreensão e do respeito procurar estratégias diferenciadas e as mais adequadas às necessidades daquelas determinadas famílias, sem desvaloriza-las. Contudo, pelo fato de existirem alguns lares considerados socialmente como “bem estruturados”, cheios de afeto e amor, isso não deve ser visto como sinônimo imediato de que neste ambiente só haverá crianças de boa índole, pois nem sempre isto ocorre. Em muitos casos, pode gerar também filhos carentes, mal educados,

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18 que tentam chamar a atenção a todo custo dos que os cercam, já que, na muitas vezes os pais acabam por serem ultra permissivos, e consequentemente, acabam gerando filhos sem limites.

É preciso lembrar que “É na família que o indivíduo irá buscar energia, sustentação para enfrentar situações difíceis de serem vivenciadas”. (PORTES, 2000, p.70). Nesse sentido, a família deve realizar um trabalho no interior do lar para que os filhos aprendam a superar as adversidades e as situações difíceis como a ausência dos pais ou por ventura as dificuldades financeiras. A formação adquirida com a família, através de pais que sejam centrados, honestos e trabalhadores só irá favorecer seus filhos no desempenho escolar e no comportamento social.

A criança e o jovem também desempenha um papel importante e extremamente ativo na construção do seu sucesso escolar ao longo da jornada da educação infantil ao ensino médio. Para tanto, também é papel da escola proporcionar as mais variadas propostas curriculares e diferentes procedimentos metodológicos. Deste modo, é importante lembrar que “A pedagogia familiar não deve estar desarticulada da pedagogia escolar” (LIBÂNEO, 2000, p.85). As ações educativas sejam na escola, na família ou em outro ambiente como na comunidade, não acontecem separadamente ou isoladamente, pois uma acaba por influenciar a outra de forma implícita ou explicitamente. Se por algum fator ou circunstância, procederem de forma desarticulada e dissociada pode acabar por levar as crianças ou os jovens ao fracasso escolar, principalmente quando estes pertencem a uma classe economicamente baixa, tendo uma educação familiar diferente da educação escolar.

Contudo, “Não há uma forma única nem um modelo de educação (...), e o ensino escolar não é a sua única prática e o professor não é o seu único praticante” (BRANDÃO, 1993, p.9). A educação ocorre de várias formas e possui diferentes características. Ela pode acontecer através das experiências de vida em diferentes situações de trocas entre as pessoas, envolve importância de símbolos, poderes e crenças. Nesse sentido, percebe-se que o ensino formal e estático não é suficiente, e a escola tem que considerar as formas livres, familiares e comunitárias de educação, já que as diferentes práticas educativas acabam por influenciar no desenvolvimento e crescimento na infância e na juventude.

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19 Entretanto, crianças e jovens que crescem sem conhecer o sentimento de frustração ao longo da vida jamais terão noção de limites e, portanto também não conhecerão os limites dos outros, consequentemente terão mais dificuldade em respeitá-los. As crianças e os jovens passam a se imaginar como centro de importância, e tal atribuição de valor criam personalidades artificiais, desestruturadas e narcisistas (um grande perigo social), o que nos remete ao seguinte questionamento: que cidadãos são estes que estão sendo formados para o futuro da sociedade? Estariam eles preparados para assumirem a responsabilidade pelos seus comportamentos e atos futuros?

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2. A FORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA MORAL ATRAVÉS DO

RESPEITO

Analisando que, para Piaget (1994), o respeito seria um sentimento fundamentalmente necessário para a vida em sociedade e, que através dele as crianças e os jovens podem vir futuramente a internalizar noções de limites, espera-se que os mesmos compreendam que os espera-seus direitos terminam quando os dos outros começam. Assim, observa-se que o primeiro contato que as crianças têm na vida com este sentimento é passado através dos pais. Depois, alcançará a consciência de obrigação, para que o sujeito venha a se comportar moralmente.

As crianças obedecem a seus pais mais facilmente por que existe uma relação de amor e de troca benéfica, onde elas precisam se sentir seguras através da confiança que os pais te passam. Assim, através do amor fraterno, elas não irão sentir que as ordens estão sendo de modo coercitivo exterior (de fora para dentro), e irão absorver mais facilmente estas ordens.

Tendo em vista que, se o respeito é um sentimento que se desenvolve ainda na infância, o qual busca possibilitar um modo pacífico de convivência e interação entre os indivíduos, interessava a Piaget (1994) o tipo de relação social estabelecido entre os indivíduos. Ele diferencia dois tipos de relação social: a coação social e a cooperação. Onde ele define a coação social como “... toda relação entre dois ou n indivíduos na qual intervém um elemento de autoridade ou de prestígio.” e cooperação como “... toda relação entre dois ou n indivíduos iguais ou que acreditam ser iguais, ou seja, toda relação social na qual não intervém nenhum elemento de autoridade ou de prestígio.” (PIAGET, 1994, p. 225-226). A reciprocidade tem neste momento base inicial para o seu desenvolvimento, que é através da cooperação social.

Piaget (1994) encontra nos jogos, onde as crianças criam suas próprias regras, um modo coletivo igualitário, no qual temos então o nascimento da ideia de justiça nas

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21 crianças. Ainda segundo Piaget (1994), toda moral consiste num sistema de regras, sendo que a essência da moralidade deve ser procurada no respeito que o indivíduo tem por elas. Ele utilizou o jogo coletivo de regras como campo de pesquisa por considerá-lo um modelo para a moralidade humana, por que é uma atividade interindividual regulada por normas que podem ser modificadas sempre que preciso e, que nasce por meio de acordos comuns e aceito entre os jogadores, sendo que o respeito às normas desse jogo tem um caráter moral, a exemplo da justiça e da honestidade.

Assim, Piaget (1994) dividiu em três etapas importantes a formação e evolução da prática e da consciência de regras nos jogos: 1 - anomia (até 5/6 anos): as crianças dificilmente seguem as regras coletivas; 2 - heteronomia (até 9/10 anos): as crianças vêm às regras como algo imutável e, não como algo acertado entre o grupo, também fazem mudanças nas regras sem consultar aos demais, assim as crianças não compreendem a função social das regras nem o porquê delas existirem; 3 - autonomia: é a ideia adulta de regras e comportamento, onde o respeito às regras é visto como acordo mútuo e todos podem vir a legislar também.

Na fase da anomia, natural na criança pequena, não existe regras e normas. Para elas, se um bebê, por exemplo, está com fome, irá chorar para ser alimentado naquele instante. As necessidades primordiais humanas determinam as normas de conduta. No indivíduo adulto, a anomia caracteriza-se por aquele que não respeita as leis, pessoas, e as normas. Na medida em que a criança vai se desenvolvendo passa a perceber que existem regras de convivência. Ela descobre isso também nas brincadeiras com as crianças maiores, que são importantes para auxiliar as menores a passarem para a fase heterônoma. Do egocentrismo inicial, a criança gradualmente vai mudando e ampliando sua visão de mundo, passando a perceber que é um componente de um todo. Posteriormente, ela aprende a respeitar, ajudar e amar o próximo ao seu redor.

De acordo com Piaget (1994), o respeito é “... a expressão do valor atribuído aos indivíduos, por oposição às coisas ou aos serviços” (p. 127) e o valor seria “uma

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22 troca afetiva com o exterior, objeto ou pessoa” (Piaget, 1994, p.355). Neste contexto, torna-se função familiar e escolar ajudar a criança e o jovem a compreender como a noção de respeito é importante para a sua vida e para que futuramente ele possa exercer de modo significativo o seu papel social, e que possa refletir sempre sobre como os seus atos podem ter consequências positivas ou negativas.

Entretanto, sempre vemos na mídia casos de crianças e jovens com atitudes violentas ou agressivas, que assim os fazem por não medirem as consequências de suas ações. Nas escolas, são muito comuns os casos de meninos e meninas que agridem os colegas ou professores tanto de forma física quanto psicológica, por simples prazer, e por desconsiderarem ter punição por seus atos. O próprio sistema escolar muitas vezes se mostra como um espelho, refletindo momentos que demonstram a ausência parcial ou total de regulação social. Esses jovens se recusam a serem encaminhados para uma relação com o outro de modo saudável e pacífico.

Tanto para a família quanto para a escola não seria correto reprimir, de forma brusca, as crianças e os jovens neste momento conflituoso, mas sim ajudá-los na reinserção social analisando a situação de vida dos mesmos. Seria, neste caso, o conhecido “faça com os outros, o que gostaria para si”, pois é preciso fazer com que eles percebam o outro como ser também digno de ser respeitado e que possui valor. Dessa forma, a reflexão será maior, e talvez os danos ao próximo sejam menores. É através da internalização de sentimentos como o cuidado e respeito, que é possível se iniciar a reabilitação social destes.

A família, neste contexto, desempenha um papel fundamental, onde através do afeto, consegue ajudar a reeducar estes jovens mostrando como é importante respeitar e amar o próximo. É importante lembrar que escola e família fazem o papel de mediador social na vida das crianças. . A esse respeito Nogueira diz (2000):

Se a escola é uma instituição pública da qual os pais dos alunos fazem parte, este deve poder participar de tomadas de decisão em relação aos objetivos educacionais, à prioridade e às metas do projeto educativo. (p. 15)

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23 Este pensamento mostra que a família não pode mais apenas imaginar que ao justificar sua ausência, a escola sozinha irá dar conta do futuro da infância e da juventude. Certamente, a responsabilidade tem que ser compartilhada numa relação de cooperação, que possibilitará que as duas instituições consigam atingir suas metas educacionais com autonomia e respeito mútuo.

Uma condição importante nas relações entre família e escola, é a criação de um clima de respeito mútuo (...) tendo claramente delimitado os âmbitos de atuação de cada um. (SZYMANSKI, 2001, p.75).

Saber realizar uma parceria equilibrada e de qualidade com a família significa reconhecer a mesma com toda a sua estrutura, respeitando-a sem preconceito com um olhar aberto e respeitoso. Infelizmente, nem sempre ocorre esta articulação e união de modo positivo. Mas como fazer esta articulação entre a escola e a família? É possível pensar talvez que por meio de uma maior participação e troca; possibilitando também diálogos individuais e não tão formais com as famílias, mas combinar também reuniões de forma coletiva para intercalar com a socialização das ideias de outros familiares; e por meio de projetos de conscientização da relevância de unir a família à escola.

2.1

PRINCÍPIOS

PARA

A

CONSTRUÇÃO

DA

AUTONOMIA

INTELECTUAL E MORAL

Pensar sobre as relações sociais que as crianças e os jovens construirão ao longo da vida, significa pensar também sobre as regras de convivência já pré-estabelecidas tanto da família quanto da escola. Para Piaget (1994), um dos principais objetivos da educação (tanto familiar quanto escolar) é a busca contínua para a construção da autonomia do ser humano.

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24 Como já foi abordado anteriormente, na fase inicial da vida, a criança não toma para si as regras como sendo de cunho obrigatório, já que não existem normas propriamente ditas. Deste modo, Piaget (1994) chamou de anomia a esse período do desenvolvimento moral, por não haver ainda a consciência de obrigação nesse período, porque é por volta dos dois anos que ocorre a primeira noção de diferenciação entre o “eu” e o “outro”, condição básica necessária para que as trocas e interações sociais propriamente ditas, sejam possíveis e de concreto aconteçam. Assim, o pensamento de P. Bovet (1912, apud PIAGET, 1994, p. 527) foi confirmado pelo estudo sobre as regras do jogo: para que haja algum sentimento de obrigação é imprescindível que se estabeleça uma relação entre dois indivíduos.

A originalidade e o interesse dessa tese [de Bovet] consistem em definir o sentimento de obrigação não do lado apenas do sujeito, mas no interior de uma relação inter-individual. Dito de outra maneira, o sentimento de obrigação não somente tem origem em uma tal relação (como em Baldwin): ele a implica constantemente. (PIAGET, 1994, p. 527)

A autonomia intelectual, só é possível se for somada à autonomia moral, e é fundamental ter respeito por si e pelos seus semelhantes com suas particularidades e individualidades, pois estes igualmente sofrem com os mesmos problemas, defeitos, medos, carências, pois enfim, é um ser humano também. O respeito mútuo torna-se condição necessária para que haja a autonomia, sobre o seu duplo aspecto intelectual e moral.

Cabe a família e a escola a responsabilidade pela inserção da criança e do jovem no contexto social de modo positivo, ensinando aos mesmos a respeitar o outro, e possibilitá-los alcançar o conhecimento com total autonomia, pois “Ensinar é propiciar situação que permitam ao educando modificar o seu comportamento de determinado modo” (SEAGOE, 1978, p. 07).

Neste contexto, o círculo familiar e escolar precisa aprender a como construir e consolidar essa importante parceria, realizando no fazer juntos, o resgate dos valores, colaborando para a construção da identidade tanto na infância quanto na

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25 juventude e, a estimular a autonomia e cidadania. Ambas as instituições são relevantes e devem fazer parte do processo educativo para uma aprendizagem significativa e eficaz. Portanto, como afirma Szymanski (2001):

Ambas as instituições têm em comum o fato de prepararem os membros jovens para sua inserção futura na sociedade e para o desempenho de funções que possibilitem a continuidade da vida sócia. (p. 61)

Certamente, o papel das escolas vai muito além de meras transmissoras de conteúdo, já que é no ambiente escolar que o sujeito adquire uma enorme gama de aprendizados e consegue aperfeiçoar seu conhecimento possibilitando-o assim, viver em sociedade. Ainda de acordo com Szymanski (2001):

A escola tem um papel preponderante na contribuição do sujeito, tanto do ponto de vista de seu desenvolvimento pessoal e emocional, quanto da constituição da identidade, além de sua inscrição futura na sociedade. (p. 90)

Contudo, é importante ressaltar que as duas instituições são responsáveis pela formação da pessoa e do cidadão em si, mas assumem papéis diferentes com relação aos objetivos, conteúdos, transmissão de saberes, modo educacional, comportamentos, cultura, e muitas vezes sobre os valores e princípios a serem passados.

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3. LIMITES: PROIBIÇÃO OU PERMISSIVIDADE

Atualmente fala-se muito em limites, e em como educar. Este é um assunto que provoca grandes reflexões, em especial entre pais e educadores. Do pensamento inicial de oferecer uma liberdade mais ampla, geral e irrestrita, houve uma grande mudança e evolução para a tese dos limites. As crianças e jovens devem saber que há limites. Mas antes, é preciso compreender o que são estes limites, onde segundo o dicionário Aurélio o conceito de limite é: linha de demarcação; divisa, fronteira; ponto que não se deve ultrapassar.

Como espaços de convívio social, a família e a escola desempenham papéis fundamentais no processo de construção dos limites na infância e na juventude. Papéis estes compartilhados, porém distintos. As transformações sociais e econômicas das últimas décadas levaram a uma mudança na estrutura familiar em que pais e mães estão cada vez mais ausentes e as crianças perderam as referências, pois em muitos momentos não há mais nem a figura materna e nem a paterna no cotidiano dos filhos.

Segundo Yves de La Taille (1999), na sociedade atual, o que se é pedido aos pais é consentido com tanta facilidade que se perde o valor da conquista. Antigamente, os pais exerciam sua autoridade sem maiores questionamentos. Algum tempo depois, aquela geração quando assumiu o lugar de pais, agiu no extremo oposto com seus filhos. Chegou-se, inclusive, em alguns casos, a afirmar que não se podia dizer ‘não’ à criança, por que isso poderia ocasionar traumas à mesma. As consequências podem ser sentidas em comportamentos antissociais vistos atualmente.

Muitas vezes compensam-se as crianças e os jovens além do necessário pela ausência dos pais, os quais sentindo culpa pela ausência diária acabam deixando de exercer a autoridade, e de impor limites. Pensa-se demasiadamente que um presente ou uma permissão consentida mais rapidamente, conseguirão preencher o vazio que ficou pela ausência no acompanhamento da vida de seus filhos.

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27 Consequentemente como os filhos quase nunca são frustrados, não sabem esperar, não se sentem realizados, e estão sempre insatisfeitos.

A falta de limites afeta diretamente o desenvolvimento das dimensões da administração do tempo (desejo, espera, ação ética), e um exemplo é o sujeito deprimido, pois a falta de desejo está ligada à depressão, e a pessoa deprimida não deseja. A frustração causada pelo ‘não’ é necessária ao adequado desenvolvimento psicológico. Frustração não é sinônimo de trauma. Ao contrário, ela é imprescindível, desde que dentro dos limites de tolerância já construídos pela criança. Entretanto deve-se ter em mente que uma educação severa ou rígida exagerada pode gerar filhos tímidos, ou reprimidos ao extremo, os quais não se permitirão arriscar e buscar novas conquistas e objetivos próprios por medo da reprovação alheia, tornando-se inseguros e infelizes.

O que causa dano é o exagero do ‘sim’ ou do ‘não’. As famílias, com sua importante função na educação dos filhos, não se sentem em condições de trabalhar limites com os mesmos, ou por não saber como orientá-los, ou por não querer educá-los como foram antigamente por seus pais.

Os filhos esperam dos pais limites claros e bem definidos, assim sendo com base nos estudos de Piaget (1994), observa-se que a questão dos limites está relacionada ao desenvolvimento da moralidade na criança, sendo que este depende das relações sociais vivenciadas pela criança. De acordo com Piaget (1994, p.298):

As relações de respeito unilateral e de coação, que se estabelecem espontaneamente entre o adulto e a criança, contribuem para a constituição de um primeiro tipo de controle lógico e moral [...] Do ponto de vista intelectual, o respeito que a criança tem pelo adulto tem por efeito provocar o aparecimento de uma concepção anunciadora da noção de verdade: o pensamento deixa de afirmar simplesmente o que lhe agrada para se conformar com a opinião do ambiente.

Podemos perceber que quando pensamos na questão dos limites, inicialmente se fala no termo mais associado a regras e normas, permissões ou proibições,

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28 apresentadas às crianças de maneira externa, como imposições. Deve-se pensar a questão dos limites a ser entendida como um processo de construção na criança.

É importante que durante as conversas familiares seja esclarecido: quais os direitos de cada um; o que é um privilégio; quais os princípios da minha família (o que rege a família, aonde essa família quer chegar, seus valores, em quê acredita), etc. Isso se aprende no dia-a-dia, nas conversas do cotidiano, à medida que as coisas acontecem, ou numa oportunidade criada.

3.1 A CONSTRUÇÃO DOS LIMITES NO PROCESSO EDUCACIONAL

A família é vista como a primeira sede da socialização, e por ser a primeira instituição social com a qual a criança tem contato, ela acaba sendo o espaço no qual os valores e as normas sociais devem ser repassados às gerações mais novas. É na relação da criança com os adultos mais significativos em sua vida que, primeiramente, se estabelece a noção de limites, o respeito à autoridade e a capacidade de se colocar no lugar do outro.

A escola, por sua vez, além de ser uma instituição responsável pelo desenvolvimento do conhecimento formal, também desempenha um papel importante no estabelecimento dos limites. A aprendizagem escolar deve passar pela constituição social e pela preparação para o exercício da cidadania. Estas realizações envolvem não apenas o estabelecimento de limites, mas também a reflexão acerca desses limites.

Partindo do pressuposto de que as interações sociais vividas pelo sujeito podem favorecer tanto o desenvolvimento de valores éticos quanto a sua degradação social e moral, a escola tem desse modo um papel fundamental ao longo do processo na construção de valores, pois é uma instituição, por si só, socializadora. Assim, a escola deve ter cuidado com a escolha e utilização da metodologia a ser trabalhada com as crianças e os jovens.

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29 Com as mudanças estruturais nas famílias, causadas pela necessidade da mãe também entrar para o mercado trabalhista e precisar muitas vezes ausenta-se diariamente com jornadas de trabalho extensas, têm-se em consequência disso filhos que estão indo cada vez mais cedo para a escola. As crianças, muitas vezes apesar de ainda estarem na época da educação familiar, acabam passando pela educação “terceirizada”, onde passam a ter sua educação destinada a outras pessoas, que não a mãe e/ou o pai. sendo assim, o educador em questão (babás, parentes, creches) acaba por não conseguir exercer autoridade alguma junto à criança. Neste momento, pode-se perceber que todos estes fatores associados acabam culminando na indisciplina e na falta de limites, provenientes do aluno.

Algumas famílias esperam que as crianças entrem nas escolas para que as mesmas lhes forneçam não só educação, mas também a própria criação em si, ocorrendo assim uma inversão de papéis, pois o que antes era um dever dos pais, muitas vezes passa (ou pensa-se que passa) a ser dever e prioridade da escola. Contudo, será que estas famílias questionam se os professores estão preparados para tamanha responsabilidade? Será este o real papel da escola na vida de um futuro cidadão ainda em formação, em um processo longo, com uma jornada que passa da educação infantil até o ensino fundamental?

Diferentemente do que muitas famílias esperam certamente a grande maioria dos docentes não receberam em sua formação aulas de capacitação para exercer o papel de formador de personalidades em massa, já que isto sempre foi dever dos pais. Sendo assim, pode-se ver na prática o porquê do resultado das relações escolares ser, em certas situações, tão complicado ou até mesmo catastrófico. De fato, os pais devem ver as escolas como ambientes que complementem a socialização que deve começar no ambiente familiar em si.

Muitas vezes, segundo Yves de La Taille (1999), na busca por tentar solucionar problemas de conduta ou formação é essencial que pais e professores passem juntos por três estágios: 1- conscientizar-se do problema, ao invés de tentar escondê-lo ou ignorá-lo; 2- buscar informação, para poder assim conhecer possíveis soluções para resolver o mesmo; 3- por último, é o estágio da ação, podendo ser

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30 preventiva ou corretiva. Afinal, apenas reclamar constantemente sobre as dificuldades a serem enfrentadas na luta pela educação dos filhos não resolverá o problema.

A questão dos limites deve, permanentemente, ser discutida entre família e escola. A participação da família é muito importante para o melhor rendimento das crianças no espaço escolar. É necessário, também, que haja um consenso entre família e escola, adotando-se posturas semelhantes em relação a determinadas situações, como, por exemplo, quando ocorrem transgressões de regras. Deve-se sempre mostrar as consequências de suas escolhas: quando se erra o alvo, perde-se um privilégio. Mas a criança e o jovem precisam saber qual é o alvo, como acertar. Precisam saber que as consequências podem ser maiores ou menores, que certas perdas são reversíveis, e que determinados privilégios podem ser reconquistados.

As regras não são imutáveis e estáticas, mas há princípios imprescindíveis no momento de disciplinar. É importante também atentar-se para a diferença entre castigar (o que pode vir a bloquear para a vida, não educa, pode provocar baixa-estima, estimula a violência) e disciplinar (que faz crescer, desenvolve a autobaixa-estima, a ética, o senso de justiça). Uma coisa é castigar, outra, disciplinar.

Castigar qualquer um pode fazer (não querendo aqui dizer que deva ser feito pelos pais, escolas ou indivíduos), já disciplinar é um trabalho longo que exige antes de tudo muito amor, paciência, determinação, autoconhecimento e conhecimento do sujeito a ser disciplinado. Uma das missões do educador é tentar descobrir o que há de melhor em cada pessoa para poder conseguir, através das relações de troca, estimular essa criança ou jovem para que cultive seus melhores dons e que possa e queira dar o melhor de si.

É importante pensar sobre alguns princípios que podem ajudar no processo educacional das crianças e dos jovens, tanto no ambiente familiar quanto no ambiente escolar, como por exemplo: deixar claro que o que não será aceito é o ato transgressor, e não a criança ou o jovem para que ele não se sinta coagido ou rejeitado; buscar ser sempre um exemplo ético para os mesmos, pois os atos falam mais alto que palavras; falar a verdade gera confiança; mostrar compromisso com as

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31 palavras, pois não cumprir promessas gera insegurança, desconfiança, descrédito e estimula a falta de compromisso do outro; mostrar que o respeito é uma conquista, e não um simples ganho.

É necessário também haver uma boa relação entre famílias e escolas, relação esta em que deve existir respeito e valorização. A família precisa valorizar mais o trabalho da escola e a escola, por sua vez, precisa valorizar e respeitar mais os valores e culturas de cada criança e sua família.

Assim sendo, na atual configuração social em que as crianças ingressam cada vez mais cedo na escola, é difícil pensar que família e escola não exerçam ambas, papéis preponderantes na construção dos limites. Observa-se que a escola completa a socialização que começa no ambiente familiar, onde a criança tem o primeiro contato com o mundo das regras e dos valores. A escola e a família, por se constituírem em importantes espaços para trocas sociais, devem preparar as crianças e os jovens para o convívio, e para o exercício da cidadania. Deste modo, é importante que tanto a família quanto a escola estejam sempre abertas para o diálogo, mostrando-se presente incentivando e encorajando entre si e para com as crianças e os jovens

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4. ESCLARECIMENTO DE VALORES PARA A COMPREENSÃO

DOS PRINCÍPIOS E LIMITES NA EDUCAÇÃO MORAL

Na análise, o pesquisador entra em maiores detalhes sobre os dados decorrentes do trabalho estatístico, a fim de conseguir respostas às suas indagações, e procura estabelecer as relações necessárias entre os dados obtidos e as hipóteses formuladas. (LAKATOS; MARCONI, 1991, p.168)

Neste capítulo serão tratadas questões relacionadas às estratégias de educação moral para compreensão dos valores morais. Serão utilizadas referenciais teóricos sobre o tema juntamente com o resultado da pesquisa acerca das possíveis ações da família e da escola em prol do enfrentamento.

4.1 ESTRATÉGIAS DE EDUCAÇÃO MORAL

Ao pensar sobre estratégias para trabalhar com a educação moral, é preciso dizer que Esclarecimento de Valores é uma das técnicas mais utilizadas. Consiste na aplicação de um método que permita organizar e sistematizar os sentimentos, ideias, e os atos buscando como resultado um comportamento comum ético-social. Segundo Puig (1998, p.139), esclarecer os valores facilita tomar consciência dos mesmos, e agir de acordo com seus próprios critérios de escolha. Denomina-se este processo de valoração.

Dentre as técnicas de esclarecimento, pode-se fazer uso de: discussão dos dilemas morais; dilemas pessoais; perguntas esclarecedoras; entrevistas e diálogos esclarecedores, os quais contribuem para reflexão e ilustração dos valores pessoais de cada indivíduo. Através do uso dessas diferentes técnicas é possível que as pessoas se expressem de forma clara e objetiva a cerca de que valores e princípios regem as suas ações.

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33 De acordo com Serrano (2002, p. 129), as perguntas esclarecedoras e os diálogos esclarecedores podem ser usados frequentemente no dia-a-dia tanto pelos familiares quanto pelas escolas para trabalhar com as crianças e os jovens. Através também de conversas espontâneas, os pais ou professores podem obter respostas e comentários sobre a visão dos seus filhos ou educandos sobre os mais variados temas, e possibilitá-los analisarem não só as suas escolhas, mas principalmente o porquê das suas escolhas. Para tanto é preciso que seja indicado ao final das perguntas às razões do “por que sim” ou “por que não”, para que sejam justificados os motivos de seus atos.

Como já foi abordado nos capítulos anteriores, para discernir o que é certo ou errado, é preciso que o juízo moral esteja agindo segundo o princípio da justiça. Os dilemas morais propõem em suas questões saber qual a intencionalidade de justiça do indivíduo para resolver determinados conflitos.

É possível discutir-se problemas sociais de ordem moral usando dilemas na busca por respostas. Nos dilemas morais os valores entram em conflito, onde alguns desses valores podem sobrepor-se a outros. Portanto, geralmente não há apenas uma única solução para dado problema, o que leva a refletir e justificar a alternativa que for considerada mais justa.

Nas pesquisas de Kohlberg (1971) temos o dilema clássico de Heinz, onde a esposa de um homem pobre chamado Heinz esta morrendo de uma forma rara de câncer, e o farmacêutico da cidade, que possui o remédio para salvar sua vida cobra ao marido um preço exorbitante, além das posses de Heinz. Deveria este roubar o remédio e salvar a vida de sua esposa? Aqui há conflitos como o direito de viver ( da esposa de Heinz) e o direito à propriedade ( o farmacêutico). Kohlberg (1971, apud DEVRIES, 1998, p. 178) afirma que as pessoas possuem diferentes estágios de raciocínio, e portanto “ao avaliar o nível do julgamento moral, a ênfase está sobre o modo como as pessoas raciocinam, não sobre as ações específicas que defendem.” (DEVRIES, 1998, p.179).

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4.2 METODOLOGIA EMPREGADA NA PESQUISA E RESULTADO

Toda pesquisa de certa magnitude tem que passar por uma fase preparatória de planejamento. (CASTRO, 1976, p. 13 apud KÖCHE, 1997, p. 121).

Neste relatório consta o resultado da pesquisa sobre “A construção dos valores humanos: Uma reflexão sobre os limites na educação familiar e escolar”, realizada em uma escola particular de salvador X. Foram entrevistados profissionais que lidam com o público infanto-juvenil, dentro da Instituição formal de ensino que é a Escola, também familiares, crianças e jovens. Dentre os entrevistados, serão encontrados resultados provenientes de falas de docentes, gestores, pais, crianças e jovens; em um total de um (1) professor, dois (2) gestores, dois (2) pais, três (3) crianças e três (3) jovens.

Como técnicas e instrumentos foram utilizados questionários com quesitos abertos, no intuito de não haver influência nas respostas. As técnicas utilizadas para o Esclarecimento de Valores da escola e das famílias através do questionário foram: perguntas esclarecedoras e entrevista. As técnicas utilizadas para o esclarecimento de valores das crianças e dos jovens através do questionário foram: dilema moral (através do uso da fábula de Esopo: O cão e o ladrão); dilemas pessoais; perguntas esclarecedoras; entrevista e diálogos esclarecedores durante o processo.

Lembrando que não serão citados, por motivo de segurança e ética, o nome da escola e os nomes dos entrevistados, pois não influenciará no conteúdo da pesquisa. Os questionários foram aplicados a todos que se dispuseram a participar de forma espontânea, garantindo um cuidado ético com as informações que foram coletadas.

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35 Os entrevistados desta escola partículas X foram uma professora, uma coordenadora, uma diretora (a qual também é uma das donas da escola), dois pais, três crianças, e três jovens.

4.2.1.1 Professor (a)

A professora entrevista tem entre 30 e 35 anos e cursou o Ensino Superior em Pedagogia. Diz compreender os limites na educação das crianças e dos jovens como proporcionar aos mesmos a liberdade, porém sem deixar de lado o respeito ao próximo e ao educador.

Para ela, a transmissão de princípios e valores para as crianças e os jovens é através da interação entre a família e a escola, onde a colaboração precisa ser das duas partes. Identificou situações de falta de limites quando algumas crianças que se utilizaram do choro excessivo, sem motivo aparente, para manipular os pais e até mesmo tentar fazer com que a escola ceda aos seus desejos do momento.

Relatou que já teve algumas vivências de falta de limites das crianças, como por exemplo, um de seus alunos que não queria comer e então jogou todo o alimento no chão, e sua reação foi a de repetir a oferta do alimento à mesma.

Questionada sobre as dificuldades que as famílias e as escolas enfrentam para educar e dar limites às crianças e aos jovens, ela respondeu que pelo fato de os pais trabalharem muitas horas, estes não têm conseguido passar muito tempo com seus filhos, então a educação passa a ser unilateral, onde a escola é responsabilizada para estar educando seus alunos, e que os pais não entendem a importância de dar limites a seus filhos, onde dão muita liberdade, para justificar a ausência.

A professora disse esperar para o futuro que seus alunos, como cidadãos, que aprendam a respeitar o próximo, a natureza e que o amor prevaleça em seus atos.

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36 4.2.1.2 Coordenador (a)

A coordenadora entrevistada desta escola tem entre 40 e 45 anos, e é pós-graduada. Compreende os limites na educação das crianças e dos jovens como o ato de estabelecer uma referência para os mesmos, onde deve ser exercitado um combinado de comportamento na escola a partir do senso comum.

Para ela a transmissão de princípios e valores para as crianças e para os jovens ocorre através da repetição das ações, onde “se deve viver e agir de acordo com o que se é pregado, pois os discentes muitas vezes podem vir a se espelhar nas atitudes dos adultos mais próximos, portanto é importante ter cuidado com o que se é mostrado”, segundo ela.

Ela já identificou situações de falta de limites quando algumas crianças e alguns jovens mostraram resistência em colaborar e participar de alguns combinados básicos propostos pela escola, como por exemplo, aguardar sua vez na fila para realizar determinadas atividades.

Relatou que já vivenciou falta de limites quando solicitou que um aluno encaminha-se para um espaço da escola junto a encaminha-seu grupo, onde o mesmo encaminha-se recusou a ir, e só queria fazer o que lhe satisfizesse no momento, mesmo o adulto tentando mediar à possibilidade de fazer o seu desejo ser atendido depois.

Para ela, as maiores dificuldades que as famílias e as escolas enfrentam para educar e dar limites às crianças e aos jovens, se encontram no fato de que as famílias possuem pouco tempo disponível para os filhos, e quando estão com eles procuram, muitas vezes por culpa, compensar o tempo que não estavam juntos, sendo permissivos para não contrariá-los, transferindo o papel de dar limites apenas para a escola, fragmentando a ação e comprometendo a formação.

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37 A coordenadora disse desejar para o futuro de seus alunos, como cidadão, que eles possam ter a construção de suas vidas pautadas em valores como: a verdade, o bem, o belo. Que também tenham ações solidárias, justas e autossustentáveis.

4.2.1.3 Diretor (a)

A diretora entrevistada desta escola possui entre 35 e 40 anos, e não informou a escolaridade. Para ela, os limites na educação das crianças e dos jovens são compreendidos como necessários. Também analisa que a transmissão de princípios e valores às crianças e aos jovens deve ser feita através do diálogo, fazendo uso de combinados definidos pelas famílias, as crianças e os jovens.

A diretora identifica a falta de limites em crianças e jovens quando estes têm dificuldade para entender o outro, faltando assim compreensão com o próximo. Ela relatou que já vivenciou a experiência de falta de limites, onde um jovem estava com dificuldade de entender quais eram os combinados do momento direcionados àquele grupo do qual ele fazia parte, e o jovem “não gostou”, segundo ela, pois o seu desejo não foi realizado imediatamente, se sentindo frustrado. Ela então teve a atitude de conversar com o mesmo, mostrando para ele como aquele momento era significativo e importante.

Questionada sobre quais as maiores dificuldades que as famílias e as escolas enfrentam para educar e dar limites às crianças e aos jovens, a diretora respondeu “dizer não!”, e continuou dizendo, “muitas vezes os pais se sentem culpados pela falta de presença, carinho ou diálogo com seus filhos”.

A diretora deseja para o futuro de seus filhos e alunos que sejam felizes, e que ponham em prática todo aprendizado de valores, ações e ética.

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38 4.2.2 Famílias A e B

4.2.2.1 Família A

A mãe entrevistada possui entre 40 e 45 anos, dois filho com idades entre 3 e 15 anos, e é pós-graduada. Ela compreende os limites na educação das crianças e dos jovens como o ato de respeitar ao outro, ensinar a respeitar os adultos, os colegas, as pessoas que cercam seus filhos, os animais e também o ambiente onde vivem. “É muito importante se fazer ouvir, sem apelar para o autoritarismo, agressão física ou verbal”, disse ela.

Para ela, a transmissão de princípios e valores às crianças e aos jovens acontece sempre por meio de exemplo. Para as crianças menores, ela disse que se pode fazer uso de fábulas, histórias e músicas. Com os jovens ela diz, “pode ser feito o uso da televisão, porém sendo necessário ter a presença dos pais, mostrando o certo e o errado”.

Questionada sobre de que forma ela identifica uma situação de falta de limites em crianças e jovens, a mãe respondeu que através da falta de respeito, onde ressaltou “você identifica claramente quando vê a criança desrespeitando pais, professores e colegas. Quando não admite o Não vindo do outro”.

Ela relatou que já presenciou uma situação de falta de limites no momento em que, por exemplo, viu uma criança batendo na babá, no playground do prédio onde a família morou no passado. Ela perguntou a babá se a mão da criança sabia que aquilo acontecia e, procurou orientar a babá não só a relatar a mãe daquela criança, como também se impor perante a criança, por que a babá achava que na condição de empregada dos pais, não deveria reagir, mas sim aceitar a situação.

A mãe respondeu que as maiores dificuldades enfrentadas pelas famílias e pelas escolas para educar e dar limites às crianças e aos jovens seria a falta de tempo, o que acaba dificultando, porém não impede que as orientações sejam dadas.

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39 Segundo ela, “delegar completamente essa função aos outros, seja a babá, aos avós ou a escola é arriscado, na medida em que não se sabe exatamente se estes estarão seguindo as suas diretrizes, e é muito ruim para os filhos terem orientações diferentes e de várias direções”.

Para o futuro de seus filhos, ela deseja que eles se tornem pessoas felizes, que respeitem as outras pessoas com quem convivam, também respeitem o ambiente que os cercam, e que assumam as consequências de todos os seus atos.

4.2.2.2 Família B

O pai entrevistado possui entre 40 e 45 anos de idade, um filho com idade entre 10 e 15 anos, e Ensino Superior completo. Ele compreende que os limites na educação das crianças e dos jovens deve ser trabalhado através do diálogo. Também é importante ter uma família bem estruturada, assim como passar segurança nas ações para que os filhos tenham bons exemplos, os quais são fatores importantes para “construção do conhecimento do sujeito em formação”, segundo ele.

Para ele, é possível transmitir princípios e valores às crianças e aos jovens através de ações concretas e significativas, respeitando o contexto social que o sujeito está inserido.

Questionado sobre a forma que ele identifica uma situação de falta de limites nas crianças ou nos jovens, ele respondeu que identifica quando uma criança ou um jovem “acha que pode tudo”, e continuou dizendo, “estas crianças ou jovens costumam achar que seus desejos devem ser atendidos imediatamente, caso contrário apresentam comportamentos rebeldes, com irritações tornando-se muitas vezes agressivos ultrapassando os limites”.

Relatou que já vivenciou uma situação de falta de limites quando, ao sair da escola, viu que uma das crianças estava bebendo achocolatado dentro do carro de seu pai, e ao terminar jogou a caixa no chão do carro, e posteriormente, “o pai do garoto ao

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40 ver meu olhar surpreso, disse que quando o filho dele estiver mais velho, ele aprenderá o certo! E será que saberá o que é certo? A criança precisa aprender o que é certo e o que é errado desde cedo, e dizer não é extremamente relevante em sua formação”.

O pai respondeu que as maiores dificuldades que as famílias e as escolas enfrentam para educar e conseguir dar limites às crianças e aos jovens é que a educação doméstica está cada vez mais escassa, por vários fatores, e assim as famílias acabam delegando a outras pessoas que cuidem de seus filhos, incluindo esta responsabilidade as escolas. Disse ainda, “princípios e valores estão se perdendo pelo caminho, sobrecarregando as ações educacionais em ambientes escolares e por fim dificultando a aprendizagem do sujeito”.

Para o futuro de seu filho como cidadão, o pai deseja que o mesmo seja mais consciente, reflexivo, que valorize o respeito e ao outro, sendo solidário, e que tenha estes princípios como base para sua formação social, emocional e intelectual.

4.2.3 Crianças C, D e E

4.2.3.1 Criança C

A criança entrevistada é do sexo masculino, possui entre 3 e 6 anos, e estuda em uma classe separada de seu irmão gêmeo. Sobre a fábula de Esopo “o cão e o ladrão” , a criança respondeu que o cão não poderia ter comido o pão dado pelo ladrão, pois seria errado aceitar algo de estranhos. E segundo ele, “o cão não deveria ter latido para acordar o dono, deveria ter ficado quietinho, para o dono não acabar brigando com o cachorro por ter acordado ele”.

Questionado sobre o que ele faria se encontrasse um brinquedo em um banco de praça, ele respondeu que ninguém deveria pegar o brinquedo, porque o mesmo

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