Aplicações da Lei de Gauss
Exemplo 1: carga puntiforme na origem
Por simetria esférica, temos:
E (r) = ˆrE (r) .
Seja S a superfície de Gauss esférica, de raio r, centrada na origem. Então: ˛ S da ˆn · E = ˛ S da ˆr · E = ˛ S da ˆr · ˆrE (r) = E (r) ˛ S da = E (r) 4πr2. Utilizando a Lei de Gauss, concluímos que:
E (r) 4πr2 = 4πkq, ou seja, E (r) = kq r2. Logo, E (r) = kq r2ˆr, como esperávamos.
Consideremos uma esfera de raio a, centrada na origem, uniformemente carregada com carga total Q. Assim, a densidade de carga dentro da esfera é dada por:
ρ = 4πQ
3a3
= 3Q
4πa3.
Consideremos dois casos: • Dentro da esfera:
S é uma superfície de Gauss centrada na origem e de raio r tal que 0 6 r 6 a. Por simetria esférica, temos, como no exemplo anterior:
˛ S da ˆn · E = E (r) ˛ S da = E (r) 4πr2. A carga dentro de S, nesse caso, é dada por:
Q (dentro) = ρ4π 3 r 3 = 3Q 4πa3 4π 3 r 3 = Q a3r 3.
Utilizando a Lei de Gauss, temos:
E (r) 4πr2 = 4πkQ a3 r 3, ou seja, E (r) = kQr a3 . Logo, E (r) = ˆrkQr a3 , se 0 6 r 6 a. • Fora da esfera:
S é uma superfície de Gauss centrada na origem e de raio r tal que r > a. Por simetria esférica, temos, como no exemplo anterior:
˛ S da ˆn · E = E (r) ˛ S da = E (r) 4πr2. A carga dentro de S, nesse caso, é dada por:
Q (dentro) = ρ4π 3 a 3 = 3Q 4πa3 4π 3 a 3 = Q.
Utilizando a Lei de Gauss, temos:
E (r) 4πr2 = 4πkQ, ou seja, E (r) = kQ r2 . Logo, E (r) = ˆrkQ r2 , se r > a.
Exemplo 3: cilindro de seção reta circular uniformemente carregado
Consideremos um cilindro de seção reta circular e de raio a, cujo eixo de simetria coincide com o eixo z. Como o cilindro está uniformemente carregado, seja ρ sua densidade volumétrica de carga. Aqui, a simetria é cilíndrica e, portanto,
E (r) = %E (%) ,ˆ
onde estamos utilizando coordenadas cilíndricas e % é a distância de um ponto no espaço até o eixo z, com ˆ
%
indicando a direção radial cilíndrica, perpendicular ao eixo z, divergindo desse eixo.
Para esse problema, escolhemos a superfície de Gauss, S, como um cilindro nito, também circular, mas de altura L e raio %, que pode ser maior ou menor que a, isto é, a gaussiana serve para calcularmos o campo elétrico fora ou dentro do cilindro carregado, respectivamente. Assim, temos:
˛ S da ˆn · E = ˆ Slateral da ˆ% · E + ˆ Stampas da ˆn · E,
onde a primeira integral é sobre a superfície lateral do cilindro gaussiano e, a segunda, é sobre as tampas de cima e de baixo do cilindro. Como nas tampas as normais são ao longo do eixo z e o campo é radial, segue que:
ˆ
Stampas
da ˆn · E = 0. Na superfície lateral, temos:
ˆ Slateral da ˆ% · E = ˆ Slateral da ˆ% · ˆ%E (%) = E (%) ˆ Slateral da = E (%) 2π%L.
Dentro do cilindro carregado, a carga total no interior da superfície gaussiana é dada por: Q (dentro, 0 6 % 6 a) = ρπ%2L.
Note que
ρ 6= %;
o primeiro é a densidade de carga e o segundo é a distância radial. Utilizando a Lei de Gauss, temos: E (%) 2π%L = 4πkρπ%2L, ou seja, E (%) = 2πkρ%. Logo, E (r) = %2πkρ%,ˆ se 0 6 % 6 a.
Quando % > a, a única mudança nas equações acima ocorre no cálculo da carga total dentro da gaussiana: Q (dentro, % > a) = ρπa2L.
Nesse caso, a aplicação da Lei de Gauss resulta em:
E (%) 2π%L = 4πkρπa2L, ou seja, E (%) = 2πkρa 2 % . Logo, E (r) = %ˆ2πkρa 2 % , para % > a.
Expansão Multipolar do Potencial Eletrostático
Para uma distribuição volumétrica, o potencial escalar eletrostático é dado por:
φ (r) = k ˆ V d3r0 ρ (r 0) |r − r0|.
Consideremos que a distribuição de cargas está tão distante do ponto de observação, r, que temos |r| |r0|
para todo
r0 ∈ V.
Dessa forma, podemos expandir φ (r) como uma soma innita em potências de |r0|
|r|. Aqui usamos a notação:
Temos: 1 |r − r0| = 1 p(r − r0) · (r − r0) = q 1 r2− 2r · r0+ (r0)2 = 1 r q 1 − 2rr· r0 r + r0 r 2 = 1 r " 1 − 2r r· r0 r + r 0 r 2#−1/2 . Denamos: η ≡ −2r r · r0 r + r 0 r 2 e f (η) ≡ (1 + η)−1/2. Claramente vemos que
0 6 |η| 1, já que
r0 r
por hipótese. Sendo assim, consideremos a série de Taylor em torno de zero para a função f (η): f (η) = 1 −1
2η + 3 8η
2+ . . .
Se você duvida, vamos vericar em primeira ordem em η : 1 [f (η)]2 ≈ 1 1 − 12η2 = 1 1 − η +14η2 ≈ 1 1 − η = 1 1 − η 1 + η 1 + η = 1 (1 − η) (1 + η)(1 + η) = 1 (1 − η2)(1 + η) ≈ 1 + η, isto é, f (η) ≈ (1 + η)−1/2.
Vamos aproximar a função f até a segunda ordem em r0/r. Assim, η já é um polinômio dessa ordem e
precisamos desprezar termos de ordens superiores em η2 apenas, já que as outras potências mais altas de η
devem ser desprezadas por conterem somente termos de ordens superiores à segunda ordem de r0/r. Portanto,
η2 = " −2r r· r0 r + r 0 r 2#2 = 4 r r· r0 r 2 − 4r r· r0 r r0 r 2 + r 0 r 4 ≈ 4 r r· r0 r 2 .
Com isso, temos: 1 |r − r0| ≈ 1 r ( 1 − 1 2 " −2r r· r0 r + r 0 r 2# +3 2 r r· r0 r 2) = 1 r+ r · r0 r3 − 1 2 (r0)2 r3 + 3 2 (r · r0)2 r5 . Usando ˆr = r r, obtemos: 1 |r − r0| ≈ 1 r + ˆr · r0 r2 + 3 (ˆr · r0)2 − (r0)2 2r3 .
Portanto, o potencial escalar ca:
φ (r) ≈ k ˆ V d3r0ρ (r0) " 1 r+ ˆr · r0 r2 + 3 (ˆr · r0)2− (r0)2 2r3 # = k r ˆ V d3r0ρ (r0) + k r2 ˆ V d3r0ρ (r0) ˆr · r0 + k 2r3 ˆ V d3r0ρ (r0)h3 (ˆr · r0)2− (r0)2i. A carga total da distribuição é dada por:
q =
ˆ
V
d3r0ρ (r0) . O chamado momento de dipólo elétrico da distribuição é denido como:
p ≡
ˆ
V
d3r0ρ (r0) r0.
Assim, o potencial eletrostático acima pode ser escrito em termos de q e p da seguinte forma:
φ (r) ≈ k rq + k r2ˆr · p + k 2r3 ˆ V d3r0ρ (r0)h3 (ˆr · r0)2− (r0)2i,
já que o versor ˆr pode sair do integrando por não depender das variáveis de integração. O terceiro termo do segundo membro da equação acima pode ser escrito de uma forma a explicitar o chamado momento de quadrupólo elétrico.