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MESA REDONDA PROPOSTA DE TRABALHO. Título O Amor nas Psicoses: percursos clínicos

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Academic year: 2021

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MESA REDONDA

PROPOSTA DE TRABALHO

Título

O Amor nas Psicoses: percursos clínicos

Henrique Figueiredo Carneiro1

End.: Rua Aluysio Soriano Aderaldo, 150, apt. 202 – Cocó Fortaleza, CE. CEP: 60.191-260

E-mail: henrique@unifor.br

Thiago Costa Matos Carneiro da Cunha2

End.: Rua Costa Barros, 940, apt. 21 – Centro Fortaleza, CE. CEP: 60.160-280

E-mail: thiagoclio80@gmail.com

A experiência clínica das psicoses possibilita ao analista uma escuta apurada dos fenômenos mentais mais primitivos no sujeito. Os sintomas são ocasionados por uma escolha inconsciente do sujeito, através de sua etiologia sexual (Freud, 1894). No caso das psicoses, a impossibilidade de lhe dar com a castração influenciam tais escolhas. Seus limites discursivos, concebidos pela foraclusão do Nome-do-Pai, causam o desequilíbrio entre realidade e fantasia, e marcam a fenomenologia sintomática do psicótico a partir de suas alucinações verbais (Lacan, 1955-56).

Os significantes são trabalhados de forma frouxa, e suas quedas da cadeia que o sustentam é um perigo eminente – características da crise psicótica. Em tais crises, as representações são afetadas pela inflação do imaginário e o que se sucede é a caída do sujeito no real, desesperado por um suporte simbólico.

Deste modo, a pulsão comparece a cena do cotidiano de forma mais crua, e o efeito para o sujeito é a construção de saídas subjetivas a partir de seus desejos mais 1 Doutor pela Universidad de Comillas – Madrid (1997) e prof. titular do PPG-Psicologia da UNIFOR. Coordenador do LABIO e

presidente da CLIO – Associação de Psicanálise. Pesquisador Pq2 CNPq. Secretário Executivo e Pesquisador da ANPEPP - GT Psicopatologia e Psicanálise. Membro fundador da AUPPF. Editor da Revista Mal-estar e Subjetividade e do Latin American Journal of Fundamental Psychopathology On-line. Autor dos livros: AIDS A nova desrazão da humanidade (Ed. Escuta, 2000), Que Narciso é esse? (Livro eletrônico CNPq, 2007- http://www.cnpq.br/cnpq/livro_eletronico/index.htm) e A Soberania da clínica na psicopatologia do cotidiano - Org. - (Ed. Garamond, 2009).

2 Psicanalista. Mestrando de psicologia – UNIFOR. Vice-Presidente da CLIO – Associação de Psicanálise. Pesquisador do Laboratório sobre as Novas Formas de Inscrição do Objeto (LABIO). Representante Nacional dos Estudantes de Pós-Graduação em Psicologia – ANPEPP (2º Titular).

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primitivos, os quais, na maioria das vezes, não se encontram em sintonia com a ordem estabelecida pelas leis sociais.

A fantasia rompe com o princípio de realidade e abre espaço ao princípio do prazer (Freud, 1923). O recalque atua de forma particular, já que os ideais (eu ideal e ideal do eu) encontram-se superpostos. Consequências de um Outro que não se fez presente em seu desejo, através de suas demandas confusas e indecifráveis ao sujeito em constituição. Sem as leis que proporcionam a transparência e o reconhecimento dos sinais emitidos pelo Outro, a dimensão fálica se fragiliza. A castração é posta em suspensão.

Característica que guarda semelhança com o discurso capitalista. Nele o saber é posto de lado em detrimento do conhecimento científico e de seu valor mercadológico (Lacan, 1971-72). Os efeitos deste discurso para o sujeito se reverberam na clínica, principalmente, nas psicoses. Se o conhecimento é supervalorizado em detrimento do saber, a dessubjetivação é marca fundamental do discurso contemporâneo (Carneiro, 2004). O prazer encontra-se entregue, prioritariamente, ao sabor das pulsões, como se observa nos fenômenos psicóticos.

Por essas especificidades, dois casos são trazidos para a análise da condução do tratamento nas psicoses, a partir das intervenções empreendidas pelo analista. De antemão, se percebe nesses casos a influência desta marca discursiva contemporânea, representadas pela forma de amparo institucional realizado a uma órfã e na influência dos jogos violentos de videogames sobre um jovem, os quais impossibilitaram ainda mais a constituição de referenciais que os resgatassem de uma lógica psicótica.

O primeiro se trata de uma adolescente de 16 anos, M., que chega à instituição de saúde mental escoltada por uma assistente social e um policial. Sua história de vida é de abandono. Foi abandonada na lata do lixo por sua mãe. Desde então viveu em abrigos, sem qualquer figura de referência, a não ser a psicóloga do centro educacional, a qual se apresentou em sua vida tardiamente, quando já tinha aproximadamente 14 anos.

Inicialmente, seu discurso era delirante. Afirmava ter uma mulher e uma filhinha que era “a coisa mais importante” da sua vida. Em seu delírio usava todo tipo de droga, frequentava terreiro de macumba, apesar de não poder sair da instituição onde residia, e tinha um pacto com demônio.

Um momento crucial para o tratamento de M. se desenvolveu quando estava arrebatada por um sentimento de ódio muito forte contra a sua psiquiatra, então disse:

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“Eu vou matar ela. Porque eu não deveria fazer? Ninguém gosta de mim. Ninguém me ama. Você nunca disse que me ama ou que gosta de mim. Porque você não diz que gosta de mim?!”. Neste momento a paciente já ministrava uma caneta na mão, de forma ameaçadora, como se fosse uma arma. O analista a respondeu: “Não entendo o que você está falando. Você fala sobre isso, mas, no entanto, eu estou aqui toda segunda-feira, às 15 h, te esperando para conversar com você.” A paciente mudou o semblante e esboçou um sorriso se desculpando pelo que havia dito anteriormente.

O segundo caso é de um adolescente de 15 anos de idade. A mãe de G. só teve uma relação sexual, em toda sua vida, ainda assim à força, com um homem que por pouco tempo se relacionou com ela. Pai que nunca apareceu em sua vida. A gravidez foi indesejada, apesar de ter sido levada à frente. Sua mãe relatou que, por várias vezes, pensou em abandoná-lo. Outras vezes, afirmava não nutrir sentimentos de carinho em relação ao filho.

G. chegou à instituição de saúde mental sem querer aderir ao tratamento, só preocupado em jogar videogame e falar sobre armas, terrorismo e exército: o que via nos jogos. A saída, por certo tempo, foi sustentar a sua vontade de se tornar um jogador profissional de videogame. O fascínio às armas e a infligir sofrimento ao outro se fazia presente na tortura aos animais e na fala dirigida à sua mãe, única pessoa de seu convívio, já que não se sabia o paradeiro dos familiares e os avôs já haviam falecido.

Passava a maior parte do tempo jogando videogame em uma lan house (casa de jogos), próxima a sua casa. Depois de idas e vindas pelo mundo do videogame, se deparou com clipes de Rappers, da cultura Hip Hop americana. Certo dia, G. chegou ao atendimento perguntando o que poderia fazer para ser um rapper. Iniciou-se um processo de criação, primeiro de um nome, Phoenix (nome fictício), depois as ideologias que seriam defendidas por ele, o mesmo escreveu: “Não ao racismo; luta contra o preconceito; luta contra a violência; e ser a favor da paz”.

Passou a se vestir de forma caricatural da cultura Hip Hop e a se preocupar com outras questões do cotidiano: estudo, sua relação com a mãe, amizades. Hoje, Phoenix permanece em tratamento na instituição e faz parte de um grupo terapêutico.

As intervenções apresentadas estimulam as associações do paciente, sendo estas sustentadas por referências construídas no processo analítico que, por mais que estejam ancoradas em seus delírios, funcionam como suporte simbólico ao discurso e impedem a sua caída da cadeia significante.

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A segunda característica destas intervenções vem ao encontro da questão transferencial. O analista se distancia da posição de amante do sujeito, e opera a partir da posição de amante do saber que o sujeito constrói. Fazer com que o paciente ame (Lacan, 1960-61), esta é a função do analista, à medida que possibilita uma sustentação para a ressignificação da relação do sujeito com o Outro, que possa contribuir para a construção da resposta a pergunta: O que o Outro quer de mim? Principalmente esse Outro que abandona o sujeito, desde a sua história primeva, e que se traduz no lugar de onde psicótico fala. Pois, se existe o fenômeno da fala é para um Outro que esta se endereça (Lacan, 1955-56) e de onde advém a construção da fantasia do sujeito.

A metáfora fantasmática para estes pacientes foi constituída a partir do seu sentimento de abandono em relação à mãe, como uma resposta ao Outro. Para tal empreendimento, a primeira paciente criou uma filha e uma esposa, perfazendo uma família, a qual não tinha. Esta criação a organizava subjetivamente, pois proporcionava a preocupação de ser uma mãe cuidadosa e amorosa para sua filha, realizando algo que sua mãe não foi para ela. Este fato era extremamente doloroso para M. e permanecia adormecido. Esta foi a sua construção no decorrer de 1 ano e meio de tratamento.

Para G., a construção do personagem Phoenix serviu para poder entrar em contato com questões até então impossíveis, ao lugar que ocupara anteriormente, o qual trazia referenciais terroristas a sua subjetividade, de acordo com sua relação com Outro. G. renascia das cinzas através de Phoenix, e com ele poderia estabelecer laços sociais, na figura de um revolucionário, vítima da sociedade, que através de seus pensamentos e das músicas de outros rappers, expressava seus sentimentos de indignação contra o

Outro.

A importância de construir caminhos à clínica mobiliza a psicanálise a rever sua prática, em direção ao tratamento possível das psicoses. Tratamento no sentido de uma ressignificação subjetiva, onde sempre se levará em consideração a psicopatologia fundamental de cada sujeito em questão, a partir de sua estrutura clínica e da posição que o mesmo ocupa em relação ao objeto a, ou seja, aos laços sociais que sustenta.

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Referências

CARNEIRO, H. F. (2004). Sujeito, sofrimento psíquico e contemporaneidade: uma posição. In Mal-estar e subjetividade, Fortaleza: 4(2), pp. 277-295, 2004.

FREUD, S. (1895). As neuropsicoses de defesa. In: E.S.B., Vol. III, Rio de Janeiro: Imago, 1990.

FREUD, S. (1923). A perda da realidade na neurose e na psicose. In: E.S.B., Vol. XIX, Rio de Janeiro: Imago, 1976.

FREUD, S. (1923). El “yo” y el “ello”. In: Obras Completas, Tomo III. Buenos Aires: El Ateneo, 2005.

LACAN, J. (1955-56). De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose. In Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor Ltda, 2000.

LACAN, J. (1956-57). Livro IV; A relação de objeto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor Ltda, 1999.

LACAN, J. (1958). A direção do tratamento e os princípios de seu poder. In Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor Ltda, 2000.

LACAN, J. (1960-61). Livro VIII; A transferência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor Ltda, 1992.

LACAN, J. (1971-72). Livro XIX; ...Ou pire. (O saber do psicanalista). Inédito, sessão de 06 de janeiro de 1972.

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