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Instituto Federal de São Paulo IFSP Registro SP Brasil n. 02, out. 2017

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COOPERATIVISMO QUILOMBOLA E PRODUÇÃO DE ALIMENTOS NO VALE DO RIBEIRA: UM ESTUDO DE CASO

QUILOMBOLA COOPERATIVISM AND FOOD PRODUCTION IN VALE DO RIBEIRA: A CASE STUDY

Rafaela Cristine Betim Alves Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia de São Paulo – Registro - Brasil

rafa_cristine_@hotmail.com

Heloísa Santos Molina Lopes Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia de São Paulo – Registro - Brasil

heloisa.molina@ifsp.edu.br

Resumo

O município de Eldorado, no Vale do Ribeira abriga a Cooperativa dos Agricultores Quilombolas do Vale do Ribeira (COOPERQUIVALE), que possui 17 comunidades quilombolas associadas, sendo estas comunidades pertencentes às cidades de Eldorado, Iporanga e Itaóca. A produção de alimentos sempre foi de suma importância para a subsistência dessas comunidades, e, embora as relações comerciais não tenham se mostrado prioritárias ao longo da história, sempre foram importantes. A pesquisa consistiu no levantamento de dados referentes aos produtos comercializados atualmente no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), no mapeamento dos locais de destino e na análise destas informações coletadas. Este processo nos levou a concluir que a comercialização desses produtos é relevante para as famílias quilombolas, tanto na preservação de sua cultura quanto no reconhecimento da importância de sua força de trabalho para a produção de alimentos no Vale do Ribeira.

Palavras-chave: comunidades quilombolas, produção, comercialização, cooperativa.

Abstract

The municipality of Eldorado, in Vale do Ribeira, is the headquarters of to the Agricultural Quilombola’s Cooperative of the Vale do Ribeira (COOPERQUIVALE), which has 17 associated quilombola communities, these communities are located in the towns of Eldorado, Iporanga and Itaóca. The food production has always been very important for the subsistence of these communities, and, although commercial relations have not been a priority throughout history, they have always been important. The research consisted in the survey of data referring to the products currently commercialized in the Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), in the mapping of the places of destination and in the analysis of this collected information. This process led us to concluded that the comercialization of these products is relevant to the quilombola’s families, as in preserving Instituto Federal de São Paulo – IFSP

Registro – SP – Brasil n. 02, out. 2017

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its culture as in recognizing the importance of its workforce for food production in the Vale do Ribeira.

Keywords: quilombola communities, production, commercialization, cooperative.

INTRODUÇÃO

O Vale do Ribeira se encontra no interior do estado de São Paulo, localizado mais especificadamente entre o sudeste do estado de São Paulo e nordeste do estado do Paraná, com uma área de aproximadamente 30.000km² (LOPES, 2016). É uma região de diversas riquezas e dentre elas estão às comunidades quilombolas localizadas nas cidades de Eldorado, Iporanga e Itaóca1.

Estes três municípios foram escolhidos como objeto de uma pesquisa de iniciação científica, pois possuem algo em comum, a união de 17 (dezessete) comunidades quilombolas para a criação de uma cooperativa, a COOPERQUIVALE, Cooperativa dos Agricultores Quilombolas do Vale do Ribeira.

A pesquisa de iniciação cientifica da qual esse artigo é um dos resultados denominou-se “Cooperativismo Quilombola no Vale do Ribeira: o Desafio da Institucionalização de Solidariedades” e foi desenvolvida ao longo do ano de 2016, com dados fornecidos pela COOPERQUIVALE referentes ao ano de 2015. A pesquisa contou com financiamento do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica e Tecnológica do Instituto Federal de São Paulo (PIBIFSP) e foi desenvolvida no âmbito do Projeto Integração Quilombola, do campus Registro do IFSP.

A COOPERATIVA QUILOMBOLA E OS DESAFIOS DA PESQUISA

A COOPERQUIVALE foi criada em 2012, na cidade de Eldorado, São Paulo, com o objetivo de comercializar a produção quilombola de forma direta, saindo do processo histórico de submissão a atravessadores (LOPES e SANTOS, 2016).

Ao longo do desenvolvimento dos trabalhos relacionados ao projeto de iniciação científica foram realizadas pesquisas de campos, com algumas visitas à cooperativa, sendo possível conhecer e entrevistar pessoas que se empenham no trabalho de manter a cooperativa em funcionamento. Houve três momentos de contato direto com a COOPERQUIVALE.

1 Outras cidades que possuem comunidades quilombola no Vale do Ribeira são: Barra do Chapéu, Barra do

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Em um primeiro momento conhecemos a cooperativa e as pessoas nela envolvidas, apresentamos o projeto e iniciamos um diálogo para que os mesmos pudessem conhecer e entender melhor o objetivo da pesquisa.

No segundo momento foi realizada uma entrevista, para que pudéssemos coletar dados relevantes para o projeto. Nesta ocasião havia diversas pessoas de algumas comunidades quilombolas, sendo elas de Pilões, São Pedro, Porto Velho e Nhunguara2. Nesta entrevista todos disseram como é a vida nas comunidades quilombolas, explicaram as formas de plantio e quais são as pessoas envolvidas, a iniciativa de se criar a cooperativa e como ainda passam por dificuldades para serem aceitos na própria região.

Por fim, no terceiro momento, recolhemos dados referentes aos produtos que as comunidades comercializam pela cooperativa, como quantidades, valores e destino dos produtos. Um dos funcionários nos atendeu e nos forneceu todos os documentos necessários à busca dos dados.

Vale ressaltar o quão difícil foi conseguir estabelecer a comunicação com a cooperativa, pois as pessoas que nela estão envolvidasjá passaram por diversas situações de se envolverem em projetos e no fim não verem resultado algum destes projetos, ou nas palavras dos entrevistados, “os pesquisadores apenas vem, coletam os dados que são necessários para si e vão embora sem dar noticias e muito menos um ‘muito obrigado’”.

Constatamos o quanto estavam receosos com nossa proposta de pesquisa, e isto implicou em alguns atrasos, até que uma relação de confiança fosse estabelecida.

A PRODUÇÃO DE ALIMENTOS

A produção de alimentos sempre foi uma prática importante para a subsistência das comunidades quilombolas. Além disso, os produtos agrícolas e os artesanatos eram vendidos na cidade, mas foi a partir da cooperativa que estas produções ganharam maior importância como fonte de renda familiar, pois com a cooperativa passaram a ser vendidos para outras cidades do estado de São Paulo.

São ao todo 69 (sessenta e nove) produtos agrícolas diferentes comercializadas pela Cooperativa dos Agricultores Quilombolas do Vale do Ribeira via Programa de

2 As demais comunidades quilombolas participantes desta cooperativa são: Poça, Sapatu, André Lopes,

Ostra, Ivaporunduva, Galvão, Piririca, Maria Rosa, Bombas, Cangume, Praia Grande, Pedro Cubas e Pedro Cubas de Cima.

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Aquisição de Alimentos3 (PAA), desde abacate até vagem-macarrão, como pode ser visto na tabela a seguir:

Tabela 1: Produtos comercializados pela COOPERQUIVALE no ano de 2015 Produtos Comercializados pela Cooperativa em 2015

Abacate Cará Maná

Abacaxi Pérola Cebola Maracujá Azedo

Abobrinha Brasileira Cebolinha Maxixe

Abobrinha Italiana Cenoura Melancia

Abóbora Japonesa Cheiro Verde Milho

Abóbora Paulista Chicória Mostarda

Abóbora Seca Chuchu Palmito de Pupunha

Acelga Couve Pepino Caipira

Acerola Escarola Pepino Comum

Alface Crespa Espinafre Pimenta Cambuci

Almeirão Feijão Pimentão Verde

Almeirão Pão-de-Açúcar Fruta do Conde Pimentão Vermelho

Banana da Terra Graviola Quiabo

Banana Maça Inhame Raiz de Mandioca

Banana Nanica Jaca Repolho

Banana Ouro Jiló Rúcula

Banana Prata Laranja Bahia Salsa

Batata-doce Laranja Lima Tangerina

Batata-doce Rosada Laranja Pera Tangerina Cravo

Berinjela Laranja Seleta Tangerina Poncã

Berinjela Japonesa Limão Tomate

Beterraba Mamão Tomate Cereja

Carambola Mandioquinha Vagem Macarrão

Fonte: produzido pela autora com base em documentos fornecidos pela COOPERQUIVALE. Estes produtos são comercializados em 5 (cinco) municípios: Eldorado, Embu das Artes, Guapiara, Iporanga e Jandira. Com a finalidade de organização da análise foram realizados mapeamentos utilizando o software Philcarto. A produção foi catalogada em três seguimentos: bananas, palmito e demais produtos.

As cinco variedades de bananas (banana da terra, banana maça, banana nanica, banana ouro e banana prata) foram agrupadas e analisados os valores comercializados e

3O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) foi criado em 2003 como uma ação do Ministério do

Desenvolvimento Agrário e do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome do Governo Federal. Tem por objetivo colaborar com o enfrentamento da fome e da pobreza no Brasil e, ao mesmo tempo, fortalecer a agricultura familiar, utilizando mecanismos de comercialização que favorecem a aquisição direta de produtos de agricultores familiares ou de suas organizações, estimulando os processos de agregação de valor à produção. No PAA há prioridade para aquisição de alimentos produzidos por comunidades tradicionais e assentamentos da reforma agrária (BRASIL, MDA, 2016).

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para quais municípios são enviadas (Eldorado, Embu das Artes, Guapiara, Iporanga e Jandira), como mostra o mapa a seguir:

Mapa 1 - Bananas

Embu das Artes é o município que recebe as maiores quantidades de bananas, enquanto Eldorado é responsável pelas menores quantidades e os menores valores comercializados.

Quanto ao palmito de pupunha, Eldorado novamente recebe as menores quantidades, sendo responsável pelos menores valores comercializados, enquanto Guapiara recebe as maiores quantidades, representando os maiores valores comercializados, como pode ser visto no próximo mapa:

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Por fim mapeamos a distribuição dos demais produtos. Neste mapa a cidade de Guapiara não esta incluída, pois compra apenas bananas e palmito de pupunha da COOPERQUIVALE:

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Neste mapa podemos analisar que Eldorado é a cidade responsável pelos maiores valores comercializados, enquanto Iporanga é responsável pelos menores valores.

A importância econômica destas três categorias, banana, palmito de pupunha e os demais produtos, pode ser comparadano gráfico a seguir:

Gráfico 1 – Valor da Produção por categoria

Ao analisar este gráfico podemos concluir que a comercialização dos demais produtos é responsável por mais de um terço do valor comercializado pela cooperativa.

Com o desenvolvimento da pesquisa chegou-se a conclusão de que as principais fontes de renda dos agricultores quilombolas vêm da banana e do palmito de pupunha, porém, foi possível perceber que os demais produtos são igualmente importantes como fonte de renda, sendo a diversificação da produção uma possibilidade real de ampliação da renda familiar.

Numa região que é tida apenas como produtora de banana e palmito de pupunha, pois acreditam que sejam os únicos produtos que possuem valor comercial e podem ser vendidos, os dados levantados por esta pesquisa nos levam a acreditar o Vale do Ribeira tem capacidade de produzir diversos produtos.

O Vale do Ribeira não vive apenas de banana e palmito de pupunha. A demanda e a comercialização de outros produtos agrícolas são também relevantes, e esta pesquisa é uma amostra disso.

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A produção de alimentos é um elemento essencial na reprodução das famílias quilombolas do Vale do Ribeira (LOPES, BARBOSA e SANTOS, 2017). Sendo importante não apenas para a subsistência e como fonte de renda, mas um fator muito presente para manter suas tradições ancestrais, resgatando os jovens destas comunidades para darem continuidade numa cultura pertencente somente a eles.

Sabendo que as comunidades quilombolas lutaram e lutam até os dias de hoje para ocupar um espaço que lhes é de direito, podemos dizer que estão se tornando um caso simbólico na diversificação das atividades agrícolas e mostrando que é possível mudar a triste realidade de monoculturas do Vale do Ribeira. Mas este é um processo que terá um longo caminho, até provar que a região é capaz de produzir mais do que banana e palmito de pupunha.

Estar em contato com as pessoas destas comunidades, ouvir suas realidades, assistir palestras com seus relatos, trouxe para esta pesquisa uma visão diferenciada. Não apenas informar que os mesmo existem, mas mostrar que devem ser respeitados pela sua riqueza cultural e por sua capacidade de garantir alimentação diversificada para a região e para outros municípios do estado de São Paulo.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Ana Maria; Tatto, Nilto. Inventário Cultural de Quilombos do Vale do Ribeira. Instituto Socioambiental. São Paulo, 2013.

BETIM, Rafaela Cristine. Cooperativismo Quilombola no Vale do Ribeira O Desafio da Institucionalização de Solidariedades. Relatório Final de Iniciação Cientifica. Registro, 2016.

BRASIL. Ministerio do Desenvolvimiento Agrário. Secretaria de Desenvolvimento Territorial. PRONAT – Programa Nacional de Desenvolvimiento Sustentável de Territorios Rurais. Brasília, 2016.

LOPES, Heloísa Santos M; BARBOSA, Rosângela; SANTOS, Kátia Maria P. Reflexões Sobre os Organismos de Controle Social Junto às Comunidades Quilombolas do Vale do Ribeira/SP: O Caso do OCS Pioneiros. SINGA. Curitiba, 2017.

LOPES, Heloísa Santos M; SANTOS, Kátia Maria P. Cooperativismo Quilombola e a Institucionalização de Solidariedades no Vale do Ribeira. XVIII Encontro Nacional de Geógrafos. São Luís, 2016.

Referências

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